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João Pessoa
2020
F224r Farias, Jessica Cavalcanti.
RELAÇÃO SAÚDE E TRABALHO DE PSICÓLOGOS HOSPITALARES /
Jessica Cavalcanti Farias. - João Pessoa, 2020.
19 f.
UFPB/CCHLA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES-CCHLA
BIBLIOTECA SETORIAL VANILDO BRITO
____De imediato ____ A partir de 08/05/2020(no máximo até dois anos após a data da apresentação)
Considerando que o trabalho tem representações subjetivas para cada indivíduo e que
este por sua vez se encontra inserido no contexto social e em suas implicações humanas,
o presente estudo foi desenvolvido com Psicólogos hospitalares. Este teve como
objetivo geral, analisar a relação entre saúde e trabalho desta categoria profissional,
tendo em vista que este se trata de um campo relativamente novo da psicologia e,
portanto, pouco explorado. Considerando que essa categoria profissional também atua
em um contexto de vulnerabilidade assim como os outros profissionais da saúde,
buscou-se investigar sobre as vivências de trabalho desta categoria. Para o
desenvolvimento de tal investigação foi utilizada como referencial teórico, a
“Psicodinâmica do Trabalho”, teoria desenvolvida por Christopher Dejours, pois essa
abordagem possibilita compreender as nuances existentes na relação saúde e trabalho.
Com abordagem metodológica qualitativa, foram utilizados como instrumentos de
coleta de dados, um roteiro de entrevista semi-estruturada e um questionário sócio-
demográfico, As entrevistas foram analisadas por meio da análise de conteúdo. A partir
dos resultados foi possível identificar na fala dos entrevistados que o trabalho influencia
diretamente na dinâmica de sofrimento e prazer, o que corrobora com a teoria
anteriormente explicitada. No que se refere à temática das relações referentes à saúde,
se destacau a relevância do autocuidado e a necessidade de se desenvolver mais estudos
e pesquisas, bem como políticas públicas voltados para essa área, na medida em que os
mesmos são escassos. E por fim é perceptível a urgência em trazer uma maior
visibilidade e reconhecimento para esses profissionais com a complexidade que a
dinâmica do trabalho no ambiente hospitalar se apresenta.
2- MÉTODO:
2.1 Participantes
O presente estudo caracterizou-se como qualitativo descritivo. O universo da pesquisa
foi composto de um número de 9 (nove) psicólogos hospitalares.
2.2 Instrumentos
Foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário sociodemográfico,
bem como, uma entrevista semi-estruturada individual, tendo no total 13 perguntas
abertas. A elaboração do instrumento se deu a partir de pesquisas teóricas que serviram
de base para o estudo. O que o instrumento trazia eram temas vinculados ao sofrimento
e prazer, saúde e reconhecimento do psicólogo hospitalar em seu ambiente de trabalho.
2.3 Procedimento
O projeto foi submetido ao comitê de ética do Centro de Ciências da Saúde
(CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por meio do Certificado de
Apresentação para a Apreciação Ética.
A estratégia utilizada para articular os participantes foi do tipo “bola de neve” na
qual os primeiros contatos foram feitos por meio de indicação, que por sua vez, se
desdobraram em outras indicações. As entrevistas foram realizadas de modo voluntário
com os participantes, com duração média de 40 minutos, onde foi solicitado, a partir da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorização para gravação
da entrevista, como forma de obter uma melhor apreensão dos dados e uma análise mais
objetiva do discurso dos entrevistados.
As entrevistas foram realizadas no local escolhido pelos participantes, com
horário determinado a partir da preferência dos mesmos, de maneira previamente
acordada com a pesquisadora, de modo que o entrevistado pudesse se sentir à vontade
durante a entrevista para falar a respeito de suas vivências, além de permitir a
pesquisadora ter uma noção das condições objetivas e organizacionais presentes no seu
processo de trabalho. Em um momento posterior, foi realizada a transcrição das
entrevistas e a categorização dos dados observando a forma como estas condições
impactam no modo de viver, trabalhar, pensar e agir e quais as estratégias adotadas
como forma de enfrentamento a essas questões.
2.4 Análise de dados.
O procedimento de análise dos dados foi realizado através do processo de análise de
conteúdo, temática na qual a estrutura dos elementos do discurso dos participantes é
decomposta, visando compreender os significados existentes na fala. A partir desse
entendimento foi possível realizar deduções sobre o conteúdo registrado. Após a
transcrição das entrevistas foram selecionados trechos das falas dos participantes de
modo associativo as unidades de conteúdo que foram previamente estabelecidas.
3- RESULTADOS E DISCUSSÃO
(...) Tem situações que demandam bastante, que tem uma carga
de sofrimento. E aí atuar no trabalho mental com que tipo de
intervenção? Que tipo de ação adotar para ajudar aquele
paciente? aquela família? lidar também com os próprios
sentimentos para que eles possam entender? Qual é o seu limite
de atuação o que é que é possível ser feito? E aí deve ser feito e
o que está fora do meu controle né? e então lidar com isso. E aí
muitas vezes sair daqui ou de algum plantão lá no hospital além
da hora, envolvido ali naquela situação, o que é meu
compromisso ético (...) (P3)
Cabe aqui ressaltar que o sofrer recai sobre as impressões subjetivas de cada individuo,
bem como o modo criativo de prosseguir na realização das tarefas que lhe são
demandadas.
O sofrimento não é apenas uma conseqüência última da relação
com o real, é ainda proteção da subjetividade rumo ao mundo
em busca de meios para agir no mundo, para transformar este
sofrimento encontrado em meios de superação da resistência do
real. Assim, o sofrimento será ao mesmo tempo impressão
subjetiva do mundo e origem do movimento de conquista do
mundo. O sofrimento, enquanto é afetividade absoluta, está na
origem desta inteligência que parte em busca do mundo para
experimentar-se a si próprio, para transformar-se, para ampliar-
se. (Dejours, 2012, p.26)
A partir dessa relação entre a execução do trabalho e o sofrimento eminente, que a
subjetividade desponta em busca de uma transformação da atividade de trabalho
buscando formas de resistir e existir aquela realidade. Essas observações se configuram
como base da análise da psicodinâmica do trabalho, à medida, em que é possível
compreender que o trabalho não pode ser encarado como uma atividade neutra em
relação à saúde, tendo em vista que este pode ser gerador de sofrimento e também de
prazer.
Os entrevistados trazem em suas falas relativas as questões de relativas ao prazer
e ao sofrimento apontando para a dualidade do trabalho, este pode ser fruto de situações
benéficas ou maléficas a depender das condições e do momento de trabalho que cada
profissional enfrenta. Essas pontuações se referem diretamente a psicodinâmica do
trabalho, sob essa perspectiva é possível compreender que a atividade do trabalho não
pode ser encarada como neutra e sim como um ambiente dual.
3.4 – Saúde
A partir dos relatos, pode se observar as implicações que o exercício da atividade traz
para aspectos que se relacionam com a saúde e a subjetividade de cada trabalhador e na
sua realização pessoal e profissional. Destacou-se então o elevado número de conflitos
com os quais o psicólogo hospitalar se depara, como pode ser visto a seguir:
Foi possível identificar nos relatos a importância do cuidado com a saúde individual do
profissional, bem como um tempo exclusivo para a prática de atividade física, bem
como de convivência com familiares e amigos, observado como extremamente
relevante para a saúde física e psíquica.
Assim como foi apresentado anteriormente, na introdução deste artigo, trabalho e saúde
são duas categorias indissociáveis, na medida em que o primeiro se constitui como
elemento central na vida de um indivíduo; e a saúde por sua vez, diz respeito tanto ao
bem-estar quanto aos processos de adoecimento, que estão relacionadas diretamente ao
trabalho.
O conceito de saúde faz referência direta ao sujeito, pois, diz respeito às pessoas
e a sua individualidade. Sendo assim, esta não se limita a definição de um bem-estar
total do individuo, a saúde diz respeito também a outros aspectos de uma vida, na
medida que, em sua subjetividade, o homem é um ser que deseja, e que promove uma
constante mudança como afirma Dejours (1986) “A saúde mental não é certamente bem
estar psíquico. A saúde é quando ter esperança é permitido. Vê-se que isso faz mudar
um pouco as coisas. O que faz as pessoas viverem é, antes de tudo, seu desejo.” Essas
pontuações culminam na busca por uma compreensão mais profunda sobre a relação
trabalho e saúde, esta se destina a reconhecer o trabalho como meio de construção de
identidade de um sujeito.
A partir da análise é perceptível que os participantes apontam para a necessidade
de promover ações de bem-estar no ambiente de trabalho, o que corrobora com a análise
realizada por Schneider e Moreira (2017) na qual observou-se também neste estudo a
importância de que o psicólogo reserve um tempo para preservar a própria saúde
contemplando os aspectos físicos e emocionais. Compreende-se que por lidar
diretamente com conteúdos emocionais de diversos pacientes o psicólogo hospitalar
deve manter a sua higiene mental a fim que possa executar seu trabalho da melhor
forma, o espaço de autocuidado do profissional da psicologia implica diretamente em
melhores condições de atuação, bem como um atendimento ao paciente realizado com
primor.
3.5 – Reconhecimento
Sendo assim, foi possível observar nas falas dos participantes que se sentiram
reconhecidos por seus pacientes. Os profissionais recebiam esse reconhecimento sob
duas perspectivas, tanto a atuação enquanto psicólogo hospitalar era valorizada pelos
outros profissionais atuantes em sua área, como também recebiam o reconhecimento
dos usuários de seus serviços.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa teve como objetivo analisar a relação saúde e trabalho dos psicólogos
hospitalares. Desse modo, a fim de alcançar esse objetivo, buscou-se observar os
seguintes aspectos do trabalho dos psicólogos hospitalares: as implicações do processo
de trabalho para saúde e subjetividade dos trabalhadores, os sintomas ou adoecimentos
relacionados ao trabalho do psicólogo hospitalar, as vivências de prazer e sofrimento no
exercício do trabalho e a perspectiva dos psicólogos hospitalares acerca do
reconhecimento no exercício de sua profissão.
Os resultados oriundos desse estudo demonstraram que, no que se refere à
relação sujeito e trabalho é notável a importância do trabalho na vida dos entrevistados,
o processo de identificação e escolha pela profissão bem como na satisfação pessoal dos
sujeitos no exercício de suas atividades. Quanto às questões relacionadas a sofrimento e
prazer, foi observado que em sua maioria os psicólogos hospitalares destacaram que a
maior causa de sofrimento seria a precarização do trabalho e no que se refere ao prazer
o que mais se destacou foi a possibilidade de cuidar do outro. No aspecto referente à
saúde, pode se observar as implicações como exercício da atividade traz aspectos que se
relacionam com a saúde e a subjetividade de cada trabalhador e na sua realização
pessoal e profissional. No que diz respeito ao aspecto de reconhecimento foi possível
notar que os participantes se sentiam reconhecidos por seus pacientes, na medida em
que sua atuação enquanto psicólogo hospitalar era valorizada pelos outros profissionais
atuantes em sua área, como também recebiam o reconhecimento dos usuários de seus
serviços.
Por fim, diante das observações apresentadas se concluiu que o tema não se
esgota em si mesmo, mas pelo contrário, aponta outras perspectivas na continuidade
desse estudo como forma de contribuir com a construção de novas elucidações diante de
sua complexidade.
ANEXOS
Roteiro de Entrevista
Dados sócio-demográficos
1. Idade:
2. Sexo:
3. Escolaridade:
4. Possui especialização na área de psicologia hospitalar?
5. Há quanto tempo você atua nessa área?
Questões:
1. Fale sobre sua trajetória profissional e como você se tornou psicólogo hospitalar.
2. O que motivou a seguir um emprego na área da psicologia hospitalar?
3. Quais eram suas expectativas acerca da função e o que de fato você realiza?
4. Quais seriam as principais demandas para a psicologia hospitalar?
5. Quais as condições do ambiente no qual você trabalha?
6. Quais os principais desafios e imprevistos que você enfrenta? E como você lida com
eles?
7. Como você avalia as relações de trabalho? Em quais situações o coletivo viabiliza ou
dificulta a realização do trabalho?
8. Você percebe que o trabalho do psicólogo hospitalar é reconhecido dentro do seu
ambiente de trabalho?
9. Fale sobre o que te traz prazer no exercício da sua profissão e que te traz sofrimento?
10. Em que aspectos você relaciona o trabalho e a saúde mental?
11. Como você avalia essa relação na sua atividade de trabalho?
12. Você acha que o seu trabalho traz implicações para sua saúde e subjetividade?
13. Gostaria de acrescentar algo?
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezada(o) participante,
A Sra. (Sr.) está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa, intitulada “Relação
saúde e trabalho: concepções de psicólogos hospitalares” realizada pela aluna
Jessica Cavalcanti Farias, sob orientação da professora Dra. Thaís Augusta Cunha
de Oliveira Máximo.
Essa pesquisa tem como finalidade analisar as concepções dos psicólogos hospitalares a
respeito de sua atuação, bem como da relação entre saúde, trabalho e doença. A coleta
de dados será realizada por de entrevista não estruturada, com respostas de caráter
individual.
A Sra. (Sr.) será esclarecida(o) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar e é
livre para se recusar a participar, retirar seu consentimento ou interromper a
participação a qualquer momento.
Sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer
penalidade ou perda de benefícios. Sempre que quiser poderá pedir mais informações
sobre a pesquisa por meio do telefone da pesquisadora e, se necessário, através do
telefone do Comitê de Ética em pesquisa - (83) 32167791.
As pesquisadoras irão tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo e a Sra.
(Sr.) não será identificada(o) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo.
Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente as
pesquisadoras e a orientadora terão conhecimento dos dados.
A participação nesta pesquisa não traz complicações legais. A pesquisa obedece às
normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão que regulamenta
as pesquisas com humanos no país.
Consentimento Livre e Esclarecido
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida manifesto
meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de
consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos
neste estudo.
_________________________________________
Assinatura da (o) participante
__________________________________________
Assinatura da pesquisadora
ARAUJO, Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de; ARRAES, Elaine Lima Machado.
Necessidades e expectativas de atuação do psicólogo em cirurgia e procedimentos
invasivos. Estud. psicol. (Campinas), Campinas , v. 17, n. 1, p. 64-73, abr. 2000 .
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
166X2000000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 02 mar.
2020. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2000000100006.