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Edição
Ministério da Justiça e Segurança Pública
Secretaria Nacional do Consumidor
Escola Nacional de Defesa do Consumidor
Autoria
Este curso tem como subsídio a obra “Crimes contra as relações de Consumo”, de Marco Antonio Zanellato e Edgar
Moreira da Silva.O texto foi revisado por José Augusto Peres.
Dado a relevância do tema, os autores cederam o texto da obra para este curso. O texto foi adaptado para a
educação a distância.
Coordenação
Andiara Maria Braga Maranhão
Supervisão
Ana Cláudia Sant’Ana Menezes
Marcus Iahn de Souza
Apresentação do Módulo 2
Olá,
Vamos lá?
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
§ 2º - Se o crime é culposo:
Exemplo Art. 63
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
1. Omissão de informações sobre riscos conhecidos previamente pelo fornecedor (antes da colocação
no mercado do produto ou serviço).
2. Tutela-se a relação de consumo com vistas à prevenção de dano à vida, à saúde ou à integridade
física do consumidor.
No caso de serviços, a ação delituosa não se dirige a um número indeterminável de pessoas, pois o
serviço é prestado para uma ou algumas pessoas.
5. Trata-se de crime omissivo puro ou de mera conduta (não é necessária a ocorrência de qualquer
dano, bastando a simples conduta omissiva, pois que essa põe em risco os bens jurídicos tutelados).
Pode apresentar-se sob duas formas: omissão dolosa (art. 63, caput e parágrafo 1º) e omissão
culposa (art. 63, parágrafo 2º). Na segunda hipótese, a pena é menor do que a estabelecida na
primeira, em razão de um menor desvalor da conduta culposa em relação à conduta dolosa.
Observe que a informação exigida pelo CDC refere-se à periculosidade inerente ao produto ou serviço,
ou seja, aos seus “riscos normais e previsíveis” (ex.: fogos de artifício, agrotóxicos, inseticidas, cola
de sapateiro, medicamentos, serviço de dedetização, etc.).
Lembre-se de que os produtos e serviços que apresentam riscos anormais e imprevisíveis não podem
sequer ser introduzidos no mercado de consumo, conforme o caput do art. 8º do CDC.
6. A conduta é punível a título de dolo e culpa.
Dolo (art. 63, caput, e parágrafo 1º): a forma dolosa ocorre quando o fornecedor, estando plenamente
consciente da periculosidade ou nocividade – riscos normais e previsíveis – de seu produto ou
serviço, coloca-o no mercado omitindo deliberadamente (intencionalmente) informação a respeito
dos riscos que apresenta.
Culpa (art. 63, parágrafo 2º): a forma culposa verifica-se quando a informação sobre os riscos não é
transmitida ao consumidor por negligência. Há o descumprimento de uma obrigação imposta pela
lei ou simplesmente o descumprimento de um dever geral de cuidado.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Saiba mais
As formas dolosa e culposa justificam-se porque a gravidade subjetiva da
conduta (desvalor da ação) dolosa é diversa da culposa, embora a gravidade
objetiva de ambas (desvalor do resultado) seja de igual teor.
Observações Importantes!
2. O art. 63, no seu caput (no tocante aos produtos) e no § 1º (no que respeita aos serviços), pune a
conduta do fornecedor que se omite no cumprimento desse dever, pois há a probabilidade de dano
à saúde ou à vida do consumidor.
3. No que tange aos produtos industriais (ou manufaturados), a informação deve ser dada por meio de
“impressos apropriados que devam acompanhar o produto”, segundo dispõe a norma do parágrafo
único do art. 8º do CDC. A nosso ver, se a aludida informação constar da rotulagem ou embalagem
do produto, de maneira ostensiva e adequada, não haverá que se cogitar do descumprimento do
dever em pauta e, por conseguinte, do ilícito-típico sub examine.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
2. Tutela-se a relação de consumo com vistas à prevenção de dano à vida, à saúde ou à integridade
física do consumidor.
3. O fornecedor de produtos.
No caso de serviços, a ação delituosa não se dirige a um número indeterminável de pessoas, pois o
serviço é prestado para uma ou algumas pessoas.
5. O caput do art. 64 pune a conduta do fornecedor que se omite no cumprimento do dever legal
de comunicar à autoridade competente e aos consumidores sobre da nocividade ou periculosidade
de produto que colocou no mercado, de que se deu conta a posteriori, quando o produto já fora
introduzido no mercado de consumo.
Esse é um dever previsto também no art. 10, §1º, do Código de Defesa do Consumidor.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Embora o tipo não especifique como deve ser feita a comunicação dos riscos do produto aos
consumidores, entende-se que ela deve ser operada mediante anúncios publicitários, veiculados na
imprensa, rádio e televisão, conforme se observa no art. 10, §§ 1º e 2º, do CDC.
O sujeito ativo é o fornecedor que entregou o veículo com defeito no sistema de freios e o sujeito
passivo é a coletividade de consumidores, normalmente indeterminada.
Veja que ao contrário do que ocorre com relação ao crime do artigo 63, no artigo 64 a violação do
mencionado dever ocorre a posteriori, ou seja, após a introdução do produto perigoso ou nocivo
no mercado, pois somente após ele ter sido colocado no mercado é que o fornecedor vem a tomar
conhecimento de sua periculosidade ou nocividade.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Ementa: Processual penal – Código de Defesa do Consumidor (art. 64) e Código Penal (art. 132) –
Prescrição – Inexistência.
Fonte: MARQUES, Cláudia Lima. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: RT,
2010.
Parágrafo único
Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente, quando
determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste
artigo.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Saiba mais
O conflito aparente de normas penais ocorre quando há duas ou mais normas incriminadoras
descrevendo o mesmo fato. Sendo assim, existe o conflito, pois mais de uma norma pretende regular
o fato, mas é aparente, porque apenas uma norma é aplicada ao fato concreto.
2. Tutela-se a relação de consumo com vistas à prevenção de dano à vida, à saúde ou à integridade
física do consumidor.
No caso de serviços, a ação delituosa não se dirige a um número indeterminável de pessoas, pois o
serviço é prestado para uma ou algumas pessoas.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Exemplo Art. 65
Saiba mais
A alta periculosidade é um elemento normativo do tipo (o seu conceito deve ser buscado fora
do campo do direito penal, em normas editadas pela Administração). A autoridade competente,
reconhecendo a grande periculosidade do serviço, para prevenir danos à vida ou à incolumidade dos
usuários, estabelece normas relativas à sua execução, de natureza imperativa. A alta periculosidade
não deve ser confundida com serviço de “alto grau de nocividade ou periculosidade” constante
do art. 10, caput, do CDC. Esta regra impede a colocação no mercado de serviço de alto grau de
periculosidade. Contudo, esse serviço é permitido, quando, para a sua execução, existirem normas
do Poder Público e elas são respeitadas pelo fornecedor executor do serviço.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
No caso de serviços, a ação delituosa não se dirige a um número indeterminável de pessoas, pois o
serviço é prestado para uma ou algumas pessoas.
5. O crime é comissivo. A conduta típica verifica-se com a realização de uma conduta positiva do
sujeito ativo. Esse artigo estabelece punição àquele que executa serviço proibido pela autoridade
competente, em virtude de seu acentuado grau de periculosidade à saúde, à vida ou à segurança do
consumidor. Como é um crime de perigo, se dele resultar lesão corporal ou morte, o agente sofrerá
as penas cumulativamente. Ou seja, se, em razão desse ilícito houver morte ou lesão corporal de
pessoas expostas ao serviço, ocorre concurso de crimes (veja art. 65 do CDC e art. 121 ou art. 129
do CP).
É uma norma penal em branco, pois, para se aperfeiçoar, necessita de complementação de outra
norma legal, em que estejam estabelecidos os parâmetros a serem respeitados pelo fornecedor do
serviço. Como, por exemplo, o fornecedor que utiliza, no serviço de dedetização, inseticida de uso
proibido pela autoridade competente.
Ementa: Execução de serviços perigosos – Descaracterização – Norma penal em branco que exige
complementação - Interpretação do art. 65 da Lei 8.078/90 - TAMG – RT 757/651.
ATUALIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA:
DIREITO PENAL. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. Tendo em vista que o crime de uso de documento
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
falso não é definido como uma etapa necessária do crime do artigo 65 do CDC, bem como que
foi cometido a posteriori, não podendo ser considerado crime-meio, não é aplicável o princípio
da consunção. (TRF-4 - ENUL: 50049174220174047207 SC 5004917-42.2017.4.04.7207, Relator:
Revisora, Data de Julgamento: 16/05/2019, QUARTA SEÇÃO).
§ 2º - Se o crime é culposo:
Exemplo Art. 66
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
2. Tutela-se a relação de consumo com vistas à proteção do patrimônio (primeira parte do tipo) e
da segurança do consumidor (segunda parte do tipo). Dessa forma, se protege um direito subjetivo
(básico) do consumidor “à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como
sobre os riscos que apresentam”, previsto no art. 6°, inc. III, do CDC.
5. O art. 66, no seu caput, pune a conduta daquele que descumpre o dever de informar previsto no
art. 31 do CDC, por ação ou omissão. Trata-se, assim, de infração penal intimamente relacionada
com a oferta e apresentação de produtos ou serviços. Não se trata de crime material, com resultado
de dano, em que a consumação somente se verifica com a lesão do bem jurídico tutelado. Trata-se,
sim, de crime de perigo, com possibilidade de resultado de dano. Para a sua consumação basta que,
na oferta, seja feita afirmação falsa ou enganosa sobre o produto ou serviço, ou que seja omitida
informação relevante quanto a algum dos aspectos previstos no tipo de ilícito.
6. As condutas típicas são punidas a título de dolo (art. 66, caput) ou de culpa (art. 66, § 2°).
Patrocinar a oferta significa favorecer, beneficiar, auxiliar, amparar, do ponto de vista financeiro,
aquele que oferta o produto ou serviço. O patrocinador subsidia a oferta, o que se dá, normalmente,
quando o fornecedor não pode arcar com os custos decorrentes da colocação do produto ou serviço
à disposição do público consumidor. O patrocinador só incorrerá na prática desse delito se agir com
dolo, ou seja, com a vontade livre e consciente de patrocinar a oferta que sabe ser falsa ou enganosa.
Se agir com culpa, será passível de enquadramento no § 2º do art. 66.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
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1. Afirmação falsa é a afirmação mendaz, mentirosa, que não condiz com a realidade dos fatos.
Induz o destinatário ao erro.
3. Afirmação enganosa é aquela que, mesmo não sendo falsa, também é suscetível de induzir o
consumidor ao erro, como se dá com a afirmação ambígua ou dúbia ou com a informação deficiente.
Se o agente, gerente de posto de gasolina, a quem cabia sua administração, com o objetivo
promocional, afixa faixa com o objetivo de atrair clientela, se compromete conceder benefício ao
consumidor se atendido por este o requisito exigido para tal e, ao depois, se nega a assim proceder,
apesar de satisfeita a exigência, com esse agir, realiza o tipo incriminado previsto no Código do
Consumidor, face à falsidade da informação sobre serviços, induzindo o consumidor a engano.
Ac. un. da 3ª Câm. do TACrimRJ – Ap. 52.682 – j. 04.08.1994 – Rel. Juiz Oscar Silvares - apud Revista
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Ementa: Tipifica o delito previsto no art. 66, § 1º, da Lei 8.078/90, a conduta do agente que
patrocina a oferta de produtos cosméticos que não contêm em suas embalagens as especificações
exigidas por lei, omitindo, assim, informações relevantes sobre a natureza, característica, qualidade,
segurança, desempenho e durabilidade destes produtos, sendo irrelevante a alegação de distração
na conferência dos mesmos.
Ac. da 8ª Câm. Crim do TACrimSP – Ap. Civ. 896.375/7 – Rel. Juiz Bento Mascarenhas - j. 24.11.1994
– v.u. - apud Revista de Direito do Consumidor n. 20 - outubro/dezembro de 1996, p. 213.
• AGENTE QUE VENDE VIDEOCASSETE COM SISTEMA “BETAMAX” SEM ESCLARECER À VÍTIMA
SOBRE ESSA PARTICULARIDADE
Ementa: Pratica o ato do art. 66 da Lei 8.078/90, o agente que, por ocasião da venda de videocassete,
não esclarece o comprador sobre característica relevante do produto, qual seja, que aparelho somente
usa fitas do sistema “Betamax”, não aceitando aquelas do sistema “VHS”, que é o normalmente
encontrado no mercado.
Ac. da 6ª Câm. Crim. do TACrimSP – Ap. 857.221/5 – Rel. Juiz Rubens Gonçalves – j. 14.10.1994 – v.u.
- apud Revista de Direito do Consumidor n. 20 - outubro/dezembro de 1996, p. 214.
Ementa: Incorre nas penas do art. 66, caput, da Lei 8.078/90, a agente que, na qualidade de
vendedora, faz afirmações falsas para conseguir vender livros, tanto em relação aos autores quanto
a respeito da qualidade da mercadoria vendida, vez que tal procedimento não se trata de mera
técnica comercial de venda, mas de comportamento falso e mentiroso, com o intuito de enganar as
vítimas, que de boa-fé acabam por adquirir o produto.
Ac. da 2ª Câm. Crim. do TACrimSP – Ap. 888.013/0 – rel. Juiz Rulli Junior – j. 20.10.1994 – v.u. - apud
Revista de Direito do Consumidor n. 20 - outubro/dezembro de 1996, p. 216.
Falta de tradução pode constituir infração administrativa, e não crime - Trancamento do inquérito
policial determinado - Voto vencido.
Ementa da redação: A falta de informações em língua portuguesa nos produtos importados pode
constituir infração administrativa, jamais o crime do artigo 66 do C.D.C., e também não se enquadra
em quaisquer das outras normas penais da Lei 8078/90.
Ementa do voto vencido pela redação: É evidente que o fornecedor que traz a informação de seu
produto em língua estrangeira não acessível ao público em geral, acaba por produzir os mesmos efeitos
que produz o fornecedor que omite informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade,
quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos e serviços.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Dessa forma, ainda que em tese, vislumbra-se a configuração do delito previsto no artigo 66 da Lei
8078/90.
Ementa: Incorre nas penas do art. 66 da Lei 8.078/90 o fornecedor de serviços que deixa de esclarecer
minudentemente o consumidor sobre as variáveis envolvidas no cálculo de custo, apresentando-lhe
estimativa que ao final se mostra completamente defasada.
Ap. 295.002.042-RS – 3ª Câm. do TACr do RS - j. 18.04.95 – Rel. Juiz Fernando Mottola - apud Revista
de Direito do Consumidor n.16 - outubro/dezembro de 1995, p.192.
Ementa: Incorre nas sanções do art. 66 da Lei 8.078/90, o agente que vende produto diverso do
anunciado em jornal, induzindo a vítima, que pensa estar comprando coisa de qualidade superior a
que realmente adquire.
Ac. da 2ª Câm. Crim. do TACrimSP – Ap. 876.867/5 – Rel. Juiz Silvério Ribeiro – j. 17.11.1994 – v.u. -
apud Revista de Direito do Consumidor n. 20 - outubro/dezembro de 1996, p. 209.
Ac. un. da 11ª Câm. do TACrimSP – ACR 954.451/3 – Rel. Juiz Wilson Barreira – j. 31.07.95 – DJ SP,
29.08.95, p. 22.
Ementa: Crime de afirmação falsa ou enganosa sobre serviço de turismo. Substituição da pena
privativa de liberdade por multa. Possibilidade. Operação obrigatória, mas que só poderá ser efetuada
em grau de recurso se requerida. Proibição da reformatio in pejus em nulidade, havendo recurso
exclusivo da defesa. Valor da multa. Compatibilidade com as condições econômicas do acusado.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
I – Configura-se crime previsto no art. 66 da Lei n.º 8.078, de 11.9.90 (CPDC), fazer afirmação falsa ou
enganosa ao consumidor a respeito da qualidade de serviço de turismo, prometendo, na assinatura
do contrato, excursão com ônibus de luxo, com ar condicionado, frigobar, TV, vídeo e som, mas
oferecendo, no momento da viagem, ônibus convencional, desprovido daquele serviço. II – (...).
Ac. da Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Distrito Federal – Apelação
Criminal no Juizado Especial n.º 130/99 – Rel. Juiz Roberval Casemiro Belinati – Publicado no DJU de
20.09.1999, p. 25.
Ementa: O tipo referido no art. 66 do Código do Consumidor é doloso e o dolo consiste na consciência
e vontade de oferecer no mercado produtos ou serviços diferentes de sua reais características ou
finalidades.
Ac. da 14ª Câmara do TACrimSP – Apelação n.º 831.353/2 – Rel. Juiz Carlos Bonchristiano - J. em
31.05.1994 – Apud RJDTACRIM 22/125.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
exige-se apenas que o objeto material do delito seja produto de crime e que isso seja de ciência do
agente, não havendo necessidade de se indagar acerca do momento consumativo do crime tido por
“antecedente”. 8. Recurso desprovido.
(STJ - RHC: 37548 ES 2013/0142035-3, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento:
03/04/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 30/04/2014).
Exemplo Art. 67
Dica!
A norma do artigo 67 é um caso típico das chamadas leis penais em branco ou leis penais abertas.
São aquelas em que o preceito estabelece uma proibição genérica, que se completará por definições
da mesma lei, ou de outra, de um regulamento ou uma ordem de autoridade administrativa.
Nesse caso, as definições de publicidade enganosa – inclusive por omissão – e abusiva (esta
meramente exemplificativa) são dadas pela mesma lei (CDC), respectivamente, nos §§ 1º e 2º e 3°
do artigo 37.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
2. Tutela-se a relação de consumo com vistas à prevenção de dano à vida, à saúde ou à integridade
física do consumidor.
4. O sujeito passivo não é o consumidor eventualmente enganado pelo anúncio, mas sim toda a
coletividade de consumidores exposta à mensagem publicitária (enganosa ou abusiva) divulgada
pelo veículo de comunicação de massa.
5. O crime é de mera conduta (ou de mera atividade), com antecipação do resultado, que é um perigo
presumido (abstrato, hipotético). É um tipo penal de perigo de lesão a bens jurídicos do consumidor
difusamente considerado. Para a consumação do tipo basta, portanto, a simples realização da
conduta, presumida, pelo legislador, como suscetível de pôr em perigo bens jurídico-penais.
6. Para a figura da primeira parte do artigo (sabe) o tipo subjetivo é o dolo direto, enquanto para
a figura da segunda parte do mesmo artigo (deveria saber) é o dolo eventual. Quando o sujeito
ativo sabe que a publicidade é enganosa ou abusiva, ele dirige a sua vontade conscientemente
para o resultado de perigo de dano a indeterminado número de consumidores. O crime é de mera
conduta, com antecipação do resultado, que é um perigo presumido. Por outro lado, quando o
agente deveria saber que a publicidade é enganosa ou abusiva, ele age com dolo eventual.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Fique atento!
Tanto o anunciante, a agência de publicidade ou o veículo podem
ser responsabilizados pela divulgação da publicidade enganosa
ou abusiva. Ademais, até mesmo o protagonista da publicidade
criminosa pode por ela responder, desde que fique demonstrado que
tinha conhecimento de sua ilicitude (enganosidade ou abusividade)
e, mesmo assim, aceitou dela tomar parte, no mínimo assumindo o
risco de pôr em perigo bens jurídicos particulares dos consumidores
(responde por dolo direto ou eventual).
Crime contra o consumidor - Propaganda enganosa - Agente que, através de prospectos, oferece
cursos de correspondência - Ausência de veracidade do conteúdo da publicidade - Configuração.
Ementa: Enquadramento da conduta no tipo penal adequado - Incompatibilidade com o princípio
da res in judicium deducta - Inocorrência:
O agente que, usando nome semelhante ao de instituição tradicional de ensino, faz publicidade de
cursos por correspondência, sugerindo através de prospectos que os mesmos se tratam de cursos
oficiais promovidos por aquela escola, incorre nas penas do artigo 67 da Lei 8078/90, pois presente
o intuito de enganar pessoas.
A emendatio libelli, quando se trata de enquadramento da conduta ao tipo legal adequado, mesmo
no Segundo Grau de Jurisdição e no âmbito de recurso exclusivo do réu , não é incompatível com o
princípio da res in judicium deducta, já que o acusado não se defende da capitulação delituosa da
denúncia, mas do fato nela descrito.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Ementa: Incorre nas sanções dos arts. 66 e 67, da Lei 8.078/90, o agente que, após mandar consertar
o veículo sinistrado e tido como perda total, adquirido em leilão, promove publicidade no jornal
para sua venda, fazendo constar a afirmação enganosa de que o carro teve “único dono”.
Ac. da 1ª Câm. Crim. do TACrimSP – Ap. 899.883/8 – Rel. Juiz Eduardo Goulart – j. 22.12.1994 – v.u.
- apud Revista de Direito do Consumidor n. 20 - outubro/dezembro - 1996, p. 211.
Ementa: Não caracteriza crime de propaganda enganosa a conduta daquele que realça, para atrair
consumidores, o preço de produto em promoção, e que realmente encontrava-se à venda no local,
embora, ali também existissem outros tipos do mesmo produto com preços mais elevados.
RT – 731/600 – setembro/1996.
Ac. da 3ª Câm. Crim. do TAPR – Ap. 78716-6 – rel. Juiz Lopes de Noronha – j. 08.08.1995 – v.u. - apud
Revista de Direito do Consumidor n. 19 – julho/setembro 1996, p. 278.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Exemplo Art. 68
2. A objetividade recai em punir quem realiza publicidade abusiva capaz de induzir o consumidor a
se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou à segurança. O bem jurídico tutelado
é a incolumidade física, a vida, a segurança, enfim, desse indefinido número de consumidores
destinatários do anúncio publicitário.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
4. O sujeito passivo não é o consumidor eventualmente enganado pelo anúncio, mas sim toda
a coletividade de consumidores exposta à mensagem publicitária divulgada pelo veículo de
comunicação de massa.
5. Trata-se de crime de mera conduta. Para a sua consumação basta que se demonstre o perigo
de dano ao público-alvo. É indiferente, para tal infração, o resultado danoso ou a efetivação do
prejuízo, como se dá nos crimes de perigo abstrato. Se o dano, porém, ocorrer, estar-se-á diante
de concurso material de infrações, aplicando-se ao agente as penas de ambos os delitos (art. 121
do CP e art. 68 do Código de Defesa do Consumidor).
6. Dolo direto, pois quando o sujeito ativo sabe que a publicidade é abusiva, ele dirige a sua vontade
conscientemente para o resultado de perigo de dano a indeterminado número de consumidores.
O crime é de mera conduta, com antecipação do resultado, que é um perigo presumido.
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ARTS. 7º, IX, DA LEI 8.137/90 E 68
DA LEI 8.078/90. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
2. A mera constatação de que os produtos se mostram impróprios para o consumo não é suficiente
para a configuração do delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/80, sendo necessário laudo pericial
para sua comprovação.
3. Recurso provido para trancar a Ação Penal 00220060128630, em curso na 2ª Vara Criminal de
Ariquemes/RO.
(RHC 24.516/RO, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 06/04/2010,
DJe 03/05/2010)
Exemplo Art. 69
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
3. O sujeito ativo dessa infração penal é o fornecedor-anunciante, tendo em vista que a ele é imposta
legalmente essa obrigação (CDC, art. 36).
4. A não-observância desse dever de cautela, imposto pelo CDC e pelo aludido código de auto-
regulamentação publicitária, gera a probabilidade de dano ao público-alvo da publicidade, à
medida que será ele destinatário de mensagem que, por ausência de suporte fático, técnico e
científico, poderá ser enganosa ou falsa. Esse público-alvo, representado por um sem-número de
consumidores, é o sujeito passivo da infração penal em estudo.
5. Trata-se de crime de mera conduta (ou de perigo abstrato), com antecipação do resultado, que é
um eventus periculi, presumido.
Esse dever, aliás, está previsto, também, no Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária
(v. art. 27, § 2º), que, embora concebido essencialmente como instrumento de autodisciplina
da atividade publicitária, deve ser objeto de consulta dos operadores do direito, como texto de
referência e fonte subsidiária no contexto da legislação sobre a publicidade.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Exemplo Art. 70
5. A consumação desse delito ocorre com o mero emprego de peças ou componentes de reposição
usados na reparação de qualquer produto, sem o expresso consentimento do consumidor que
contratou o serviço. É, assim, um crime de mera conduta ou atividade, que é punida porque é
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Saiba mais
Quando o fornecedor emprega peças usadas ou recondicionadas e afirma
ao consumidor que utilizou peças novas, originais, ludibriando-o, e resulta
demonstrado que o consumidor sofreu prejuízo efetivo, disso se beneficiando
patrimonialmente o fornecedor, estar-se-á diante da figura capitulada no
art. 171, caput, do Código Penal.
Art. 171, caput, do Código Penal: estelionato, punido de forma mais severa que a
do delito do art. 70.
Exemplo Art. 71
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
2. Essa infração foi concebida com a finalidade de evitar práticas abusivas na cobrança de dívidas de
consumo, que se têm tornado comum na vida em sociedade, principalmente por parte de agências
“especializadas” que são contratadas por fornecedores para procederem ao recebimento de seus
créditos de consumidores inadimplentes. Essas práticas compelem os devedores a saldarem suas
dívidas, com prejuízo ao seu trabalho, lazer, descanso e, até mesmo, às vezes, a sua saúde psicofísica.
3. O sujeito ativo do crime em estudo é o credor (sempre fornecedor) ou a pessoa que ele contrata
para realizar a cobrança de forma profissional.
5. É crime de mera conduta. Se da sua prática resultar dano ao consumidor (como lesão corporal,
morte etc.), o agente responderá por ele também. Se o dano configurar crime (homicídio, lesão
corporal, por exemplo), por ele responderá em concurso com aquele delito.
A regra do art. 71 refere-se à restrita à satisfação de pretensão de recebimento de crédito, por parte
de um fornecedor, de um consumidor inadimplente.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Crime contra o consumidor - Agente que submete seu devedor a ridículo e o constrange perante
empregados e clientes - Configuração.
Ementa: Incorre nas penas do artigo 71 do C.D.C. o agente que submete seu devedor ao ridículo,
perante toda a população de determinada cidade e, ainda, procura interferir em seu trabalho, cons-
trangendo-o moralmente perante empregados e clientes, excedendo-se na forma de cobrar seu
crédito.
Crime contra o consumidor- Locatário devedor de alugueres - Locador que expõe o inquilino ao
ridículo, na tentativa de receber o seu crédito - Crime caracterizado - Aplicação do art. 71 do CDC.
Ementa: É certo que o apelante agiu de forma injustificada, pois havia outros meios de cobrar a
dívida inclusive a via judicial.
Crime contra o consumidor - Locatário - Possibilidade de ser sujeito passivo do crime - Admissibili-
dade - Inteligência dos arts. 2 º, 3º, §1º, do CDC.
Locação é o contrato pelo qual alguém cede um bem de sua propriedade a outrem, para que este o
use ou utilize, mediante o pagamento de uma quantia pecuniária, denominada aluguel.
Portanto, o locatário utiliza produto seja móvel (leasing) ou imóvel (locação predial) mediante o
pagamento de aluguel. Assim, enquadra-se na definição do art. 2 º do Código do Consumidor.
Ac. da 15ª Câm. do TACivSP – Ap. 813.383-9 – rel. Juiz Leonel Ferreira – j. 19.09.1994 – v.u. - apud
Revista de Direito do Consumidor n. 19 - julho/setembro de 1996, p.267.
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
Ementa: Inocorre constrangimento moral, na cobrança de devedor através de cartas lacradas cujo
conteúdo é de conhecimento exclusivo do destinatário, ou telefonemas solicitando o compareci-
mento à firma de cobrança, vez que tais avisos, dirigidos apenas e exclusivamente ao devedor, não
o expõem ao escárnio, nem interferem no seu descanso ou atividade laboral.
Ac. da 14ª Câm. Crim. do TACrimSP – Ap. 901.663/6 – Rel. Renê Ricupero – j. 29.11.1994 – v.u. - apud
Revista de Direito do Consumidor n. 20 - outubro/dezembro de 1996, p. 215.
Crimes contra o consumidor - Agente que submete seu devedor a ridículo e o constrange perante
empregados e clientes - Configuração.
Ementa: Incorre nas penas do art. 71 do CDC, o agente que submete seu devedor ao ridículo, peran-
te toda a população de determinada cidade e, ainda, procura interferir em seu trabalho, constran-
gendo-o moralmente perante empregados e clientes, excedendo-se na forma de cobrar seu crédito.
Ac. da 6ª Câm. Crim. – Ap. 824.759/6 – Rel. Juiz Penteado Navarro – j. 31.08.1994 – v.u. - apud Re-
vista de Direito do Consumidor n. 20 - outubro/dezembro de 1996, p. 217.
Ementa: Inocorre a infração prevista no art. 47 da LCP na conduta do agente que realiza cobrança
extrajudicial de débitos sem ser advogado habilitado ou autorizado para tanto, vez que a prestação
de serviços desta espécie não é ato privativo desta classe, sendo que a utilização nos documentos
de expressões como “Depto. Jurídico e Depto. de Cobrança E. Judicial”, quando da realização da co-
brança dá a entender que se cuida de questão judicial, configurando o ilícito previsto no art. 71 do
Código de Defesa do Consumidor, pois constitui meio intimidativo para a obtenção do pagamento
devido.
Ac. da 2ª Câmara do TACrimSP – Ap. n.º 935219 – Rel. Juiz Silvério Ribeiro – j. em 10.08.1995 – v. u.
CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR – AGENTE QUE SUBMETE SEU DEVEDOR A RIDÍCULO E O CONS-
TRANGE PERANTE EMPREGADOS E CLIENTES – CONFIGURAÇÃO: Inteligência: art. 42 do Código do
Consumidor, art. 71 do Código do Consumidor – Incorre nas penas do art. 71 do Código de Defesa
do Consumidor o agente que submete seu devedor ao ridículo, perante toda a população de deter-
minada cidade e, ainda, procura interferir em seu trabalho, contrangendo-o moralmente perante
empregados e clientes, excedendo-se na forma de cobrar seu crédito.
Ac. da 6ª Câmara do TACrimSP – Apelação n.º 824.759/6 – Rel. Juiz Penteado Navarro – J. em
31.08.1994 – Apud RJDTACRIM 23/120.
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Exemplo Art. 72
Fique atento!
O impedimento ou a dificultação do acesso às informações mencionadas levam o consumidor a fazer
com que ele não saiba do motivo, a razão, que levou à sua inscrição em cadastros, fichas, registros,
etc. da entidade de proteção ao crédito (SERASA, SPC, etc.). Consequentemente, ele não tem como
verificar se as informações negativas sobre sua pessoa são ou não corretas. Isso o impossibilita de
exigir sua imediata correção em caso, evidentemente, de serem os dados inexatos. Dessa forma,
estará prejudicado o seu direito de crédito, com sérios transtornos, como não poder comprar a
prazo, pagar por meio de cheque, obter cartão de crédito, etc.
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2. Visa garantir o direito subjetivo conferido ao consumidor de ter acesso às informações existentes
em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como
sobre suas respectivas fontes (vide art. 43 do CDC). Essa garantia objetiva a proteção do crédito do
consumidor e, também, a proteção da própria integridade das relações de consumo.
4. Esse crime é de mera conduta, com antecipação do resultado de perigo, que coincide com a
própria realização da ação típica.
5. Esse crime é de mera conduta, com antecipação do resultado de perigo, que coincide com a
própria realização da ação típica.
Exemplo Art. 73
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
3. O sujeito ativo não é o fornecedor, apesar de se tratar de crime contra as relações de consumo.
A pessoa que realiza a conduta típica é o responsável pelo arquivo que contém o registro dos dados
do consumidor (SERASA, SPC, etc.). Ela inclui os dados do consumidor em seus cadastros, banco de
dados etc. a pedido de um fornecedor, em cumprimento de obrigação resultante de contrato com
ele celebrado.
Ela não pode ser vista como fornecedor, na acepção do art. 3º do CDC, porque não realiza a conduta
típica como fornecedor de um produto ou serviço.
5. Com essa tipificação, obriga-se o responsável pela entidade de proteção ao crédito a corrigir
qualquer informação negativa e inexata que exista em seu arquivo sobre a pessoa do consumidor,
que está ameaçando ou causando dano efetivo ao seu direito de crédito.
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6. Quando o agente sabe que a informação é inexata, é o dolo direto; quando ele deveria saber da
inexatidão, é o dolo eventual.
Dica!
Segundo Leonardo Bessa, capítulo “XIII - Direito Penal do Consumidor”, no livro Manual de Direitos
do Consumidor, p.531: “até a edição da Lei 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo) não havia um
parâmetro objetivo para a compreensão do significado da elementar “imediatamente”, ensejando
incertezas relativas ao prazo para correção da informação. O art.5°, III, da referida norma, que deve
ser interpretada e aplicada em diálogo com o CDC, para o tratamento de informações positivas como
negativas, estabelece que o prazo para correção é, no máximo, de sete dias.
Exemplo Art. 74
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CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - MÓDULO 2
2. Assegura o cumprimento do art. 50, parágrafo único, do CDC, que impõe ao fornecedor o dever de,
no ato de fornecimento do produto, entregar ao consumidor o termo de garantia correspondente,
devidamente preenchido. Protege-se, com o cumprimento dessa obrigação legal, a relação de
consumo econômica (relacionada com interesses meramente patrimoniais do consumidor).
3. O sujeito ativo dessa infração é, via de regra, o comerciante (chamado pelo Código de fornecedor)
que vende o produto diretamente ao consumidor. Somente na hipótese de o consumidor adquirir o
produto diretamente do fabricante, é que este será o agente do delito.
4. O sujeito passivo é o consumidor a quem não foi entregue o termo de garantia nas condições
descritas.
5. É prática comum no mercado - às vezes, até por não ter o vendedor recebido orientação prévia
do comerciante -, a entrega do termo de garantia “em branco” (sem o adequado preenchimento).
Esta situação, a posteriori, poderá inviabilizar ou dificultar o uso da garantia dada pelo fabricante,
com prejuízo econômico ao consumidor porque, sem a cobertura da garantia, terá de providenciar
o conserto do produto às suas expensas.
6. Só se pune o fornecedor que agir com dolo, ou seja, com a vontade livre e consciente de não
entregar o termo de garantia ao consumidor.
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Saiba mais
É importante que você conheça o que dizem os artigos 75 e 76 do CDC quanto a tipificação de crimes.
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste
código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade,
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipicados neste código:
IV - quando cometidos:
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior
à da vítima;
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Para relembrar
Encerramos aqui o nosso segundo módulo de aprendizagem e esperamos que você tenha
compreendido a objetividade jurídica, o sujeito ativo, o sujeito passivo, a classificação do tipo de
ilícito e do tipo de culpa dos crimes apresentados. Esperamos ainda que os exemplos concretos
tenham facilitado sua aprendizagem.
Vamos continuar?
Avaliação de Aprendizagem
Acesse às telas interativas do curso para realizar a avaliação de aprendizagem.
Bibliografia
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jurídico, in Ciclo de Estudos e Direito Penal Econômico. Coimbra: Garcia e Carvalho Ltda., 1985.
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