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tiKit do Gestor

cas
Políticas de
Juventude
Kit do Gestor
Políticas de
Juventude

Agenda Pública - 2015

Direção Executiva: Sergio Andrade

Direção de Projetos: Bruno Gomes

Coordenação de Projetos: Wenderson Gasparotto,


Cassiele Moraes Chagas, Francisco Mendes e Rubens Souza

Ações Educativas: Cícero Nogueira Marra, Walkíria Tércia Siqueira,


Grazielly Ribeiro

Sobre esta publicação

Coordenação editorial: Sergio Andrade e Cassiele Moraes Chagas

Edição: Simone Bega Harnik

Texto: Flávia Sanches de Carvalho e Lisian Migliorin Lasmar

Revisão Técnica: Carlos Odas

Projeto gráfico e diagramação: Ricardo Hurmus

Patrocínio desta publicação:


Sobre a
Agenda Pública

A Agenda Pública é uma Organização da Sociedade Civil


de Interesse Público (Oscip), sem fins lucrativos, criada por
um grupo de profissionais ligados à universidade e ao setor
público, com o intuito de aprimorar a gestão pública, a
governança democrática e incentivar a participação social.

Defendemos um ideal de governo mais responsivo,


inovador, democrático e eficiente politicamente. Para
isso, trabalhamos pela construção de uma agenda
coletiva, pautada no estabelecimento de parcerias para a
formulação e a implementação de políticas públicas, e pelo
aperfeiçoamento das capacidades e do desempenho dos
governos locais.

3
Missão
Contribuir para o aprimoramento da gestão pública e a
ampliação da participação social por meio da construção de
capacidades para que governos e sociedade civil desenvolvam
políticas públicas mais democráticas e eficazes.

Princípios
Os fundamentos que norteiam nossa atuação baseiam-se
nos Princípios de Istambul, criados a partir do Open Forum
for CSO Development Effectiveness, o qual definiu parâmetros
mundiais de atuação para as Organizações da Sociedade
Civil que trabalham pelo desenvolvimento. São eles:

• Reflexão permanente sobre o interesse público


e sobre inovações sociais e institucionais.
• Respeitar e promover os direitos humanos
e a justiça social.
• Incorporar a equidade e a igualdade de gênero e ao mesmo
tempo promover os direitos das mulheres e das meninas.
• Foco no empoderamento, na apropriação democrática e na
participação de todas as pessoas.
• Promover Sustentabilidade Ambiental.
• Praticar a transparência e a prestação de contas.
• Estabelecer alianças equitativas e solidárias.
• Criar e compartilhar conhecimentos e comprometer-se
com a mútua aprendizagem.
• Comprometer-se com a conquista de mudanças
positivas e sustentáveis.

4
Su Apresentação 06


1 - A realidade da juventude brasileira: 09
entre os dados e os fatos
Caracterizando a juventude 10
Políticas para os jovens 14
Juventude: um debate sobre conceitos e direitos 15
A juventude em números 18

rio
Os jovens e a violência 21
Reflexões para o município 23
2 - Estatuto da Juventude: avanços e possibilidades 26
Ejuve: direitos e relações 26
O jovem e a comunidade internacional 30
Políticas de juventude nos municípios: 32
a institucionalização
Criação de uma unidade administrativa 35
3 - O Jovem e o Mundo do Trabalho 37
Escolaridade, renda e trabalho 37
A trajetória do ensino técnico no país 45
Aprendizagem profissional 48
Projovem 53
Pronatec 58
4 - O Programa de Mentoria da Agenda Pública 68
A experiência de Santos, Cubatão e Guarujá 72
A Proposta e seu percurso 74
Os mentores 77
O Programa de Voluntariado em Mentoria e o E-Mentoria 78
5 - Medidas para a implantação de políticas de juventude 82
Diagnóstico (eu observo) 83
Priorização das necessidades (eu priorizo) 88
Decisão do que fazer (eu decido) 90
Planejamento das ações decididas (eu planejo) 91
6 - Uma visão sobre a juventude da América Latina – 93
entrevista com Alejo Ramírez, secretário geral da OIJ
Referências 98
Referências - Sites 109
Apresentação

Esta obra faz parte da coleção Kit do Gestor, iniciativa da


Agenda Pública (www.agendapublica.org.br) para levar refle-
xões e experiências práticas sobre temas da administração aos
dirigentes públicos e às suas equipes. O objetivo é fornecer, de
modo direto e aplicado, instrumentos e referências para a ro-
tina da gestão.

Cada livro do Kit oferece informações sobre o contexto da


área abordada, seus conceitos essenciais, legislação comenta-
da, indicadores, histórico e retrato da estrutura institucional
da política em questão.

Como complemento, são apresentadas ferramentas pertinen-


tes à área discutida em cada publicação, a fim de facilitar o
diagnóstico, o planejamento, o monitoramento e a implemen-
tação de ações.

Em Políticas de Juventude, a Agenda Pública traz elementos da

6
Apresentação

realidade do jovem no Brasil, com dados relevantes para o de-


senho de iniciativas municipais.

Inclui ainda uma memória sobre a criação do Estatuto da Ju-


ventude, vislumbrando suas potencialidades, e aponta pro-
gramas e ações voltados à inserção da juventude no mundo
da educação e do trabalho.

A expertise da Agenda Pública com o Programa de Mentoria,


desenvolvido em parceria com os municípios de Santos, Gua-
rujá e Cubatão, e patrocinado pela Petrobras, foi motivadora
desta obra. No trabalho de sucesso com esses municípios do
litoral paulista, 415 jovens puderam participar ativamente e
obtiveram evolução de escolaridade (42% deles) e inserção no
mercado de trabalho (43%).

A Agenda Pública também auxiliou as prefeituras no estabe-


lecimento de redes intersetoriais para tratar da temática de
juventude pelos mais distintos prismas da gestão e apoiou o
fortalecendo da participação social por meio dos Conselhos
Municipais de Juventude.

Outras publicações específicas sobre a realidade do jovem e


das políticas para o segmento produzidas pela Agenda Pública
também podem ser acessadas na biblioteca de nosso site. Por
fim, vale registrar que o trabalho de mentoria nos municípios
do litoral redundou no Programa de Voluntariado em Mento-
ria e na plataforma de mentoria online, que proporcionam às
empresas uma solução para o engajamento de seus colabora-
dores de forma estruturada focada em ampliar os horizontes
de vida de jovens no Brasil e em Portugal.

7
Apresentação

A principal vantagem aqui é que todas as iniciativas propos-


tas dialogam com políticas públicas e, por isso, são capazes de
transformar realidades, ultrapassando atividades meramente
pontuais ou assistencialistas.

Para os que quiserem um mergulho ainda mais profundo, fica


o convite para o curso online de Políticas Municipais para
Juventude, disponível no site da Escola de Políticas Públicas
(www.ep.org.br).

Nesta formação, o internauta encontrará situações concretas


do dia a dia de um gestor, com metodologia inovadora de en-
sino-aprendizagem e conteúdo assinado pela Agenda Pública
com a participação de Gabriel Medina, atual secretário nacio-
nal de Juventude.

A Agenda Pública espera que a obra Políticas de Juventude


possa auxiliar a gestão e amadurecer o debate nos municípios
sobre a situação do jovem.

Boa leitura.

Sergio Andrade
Diretor Executivo
Agenda Pública

8
1 A realidade da
juventude brasileira:
entre os dados e os fatos

O objetivo deste capítulo é sistematizar um conjunto de infor-


mações que contribuam para a elaboração de políticas públi-
cas destinadas aos jovens. Espera-se que os gestores públicos
possam, com o panorama fornecido, atuar para reduzir o grau
de vulnerabilidade socioeconômica desta parcela significati-
va da população brasileira, implementando políticas públicas
locais conectadas às normas e às instituições nacionais e, com
isso, possam gerar sinergias a serem apropriadas por toda a
sociedade brasileira.

Antes de nos determos no tema das políticas da juventude na


atualidade, é necessário recuperar a sua trajetória na agenda
das políticas públicas, desde a gênese como ação afirmativa
até a efetivação como meta de governo, passando pela criação
do Estatuto da Juventude.

Como democracia jovem, ratificada pela Carta Constitu-


cional de 1988, em curto período de tempo o Brasil assistiu

9
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

a grandes transformações sociais, econômicas e institucio-


nais, especialmente nos anos posteriores à redemocratização.
Parte das mudanças se reflete nas concepções de Estado e de
seu papel.

Nos últimos anos, o Estado brasileiro foi marcado por seu re-
torno à coordenação e ação proativa na economia, por forte
viés social alicerçado em programas de redistribuição de ren-
da, a exemplo do Bolsa Família, e pelo incentivo à participação
cidadã, como com a Política Nacional de Participação Social.
Nesse Estado, o debate sobre a juventude e suas especificida-
des ganha relevo, entrando na agenda de discussão nacional.

Caracterizando a juventude
Para o desenvolvimento de qualquer política pública, é neces-
sário clareza sobre o segmento sobre o qual ela deverá incidir
e sobre os atores sociais que envolverá. Em nosso caso, é pre-
ciso ficar explícito o que define legalmente um jovem, uma
criança e um adolescente – e essa conceituação vem mudando
no decorrer da história. Nas palavras de Rocha (2012, pág. 40):

A visão de que o termo juventude poderia ir além da adoles-


cência em risco e para além dos setores de classe média é mais
recente; esse movimento se iniciou na década de 1990. A am-
pliação da preocupação das autoridades públicas e, sobretudo,
de ONGs (Organizações Não Governamentais) com a adolescên-
cia em risco levou a uma preocupação com os jovens após eles
passarem da idade formal da adolescência, isto é, dos 18 anos.

10
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

Foi no conjunto das discussões do Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA), no fim dos anos 1980, que a questão do
limite tênue entre juventude e adolescência ganhou impor-
tância. Desde então, intensificou-se o debate específico so-
bre a juventude brasileira (SPOSITO e CARRANO, 2003 e
ABRAMO, 2003).

As discussões culminaram, em 2005, com a definição de jo-


vem como o público com faixa etária entre 15 e 29 anos (Lei
nº 11.129). Já em 2013, foi criado o Estatuto da Juventude, que
passou a determinar os direitos a serem garantidos aos jovens
(Lei nº 12.852). O box traz a cronologia detalhada dos marcos
legais e dos fatos até a instituição da Política Nacional de
Juventude.

Para dimensionar esse segmento demográfico, segundo o Ins-


tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil, em
2012, tinha 52.237.849 jovens de 15 a 29 anos, o que equivale a
aproximadamente 27% de toda a população.

Cronologia dos marcos e fatos


até a instituição da Política
Nacional de Juventude
2003
Criação da Comissão Especial de Políticas Públicas
para a Juventude 1

11
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

2003 (23 a 26 de setembro)


Realização da Semana Nacional da Juventude
na Câmara dos Deputados

2003/2004
Projeto Juventude. O Instituto Cidadania organizou
um processo de concertação amplo sobre juventude e
políticas públicas, com coordenação de Paulo Vannuchi,
posteriormente ministro da Secretaria Nacional dos Direitos
Humanos 2

2004 (março)
No dia 4 de março foi instalado o Grupo de Trabalho
Interministerial de Juventude, coordenado pela Secretaria
Geral da Presidência da República e composto por 19
ministérios. O grupo trabalhou durante dois meses e, em seu
relatório final, recomendou a criação da Secretaria Nacional
de Juventude (SNJ), do Conselho Nacional de Juventude e do
Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem)

2004 (16 a 18 de junho)


Conferência Nacional de Juventude, organizada pela
Comissão Especial de Políticas para a Juventude da Câmara
dos Deputados

2004 (novembro)
Apresentação do Relatório Final da Comissão Especial
3
de Políticas Públicas para a Juventude . A Comissão
recomendou a apresentação de projetos de lei criando
o Plano Nacional de Juventude e o Estatuto da Juventude,
bem como Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
caracterizando o jovem na Carta Magna. Em 25 de novembro

12
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

de 2004, a Comissão apresentou o PL 4529, que viria a se


tornar, em 2013, a Lei nº 12.852, que institui do Estatuto da
Juventude

2005 (2 de fevereiro)
O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva envia ao
Congresso Nacional a Medida Provisória (MP) nº 238, criando
a Secretaria Nacional de Juventude, o Conselho Nacional de
Juventude e o Projovem

2005
Em 30 de junho, a MP nº 238 é convertida na Lei nº 11.129

2007
Acontece a primeira atualização da Política Nacional de
Juventude. Seis programas de diferentes ministérios,
incluindo o PNPE (Programa Nacional do Primeiro Emprego),
passam a integrar o Projovem (que se chama, a partir de
então, de Projovem Integrado e é constituído de quatro
modalidades: Projovem Urbano, Projovem Trabalhador,
Projovem Adolescente e Projovem Saberes da Terra)

2008 (27 a 30 de abril)


É realizada a 1ª Conferência Nacional de Juventude,
organizada pelo Governo Federal

2010 (13 de julho)


É aprovada a Emenda Constitucional nº 65, que insere o
termo “jovem” na Constituição

2011
O Projovem deixa de ser executado na Secretaria Nacional

13
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

de Juventude e passa para o Ministério da Educação.


O Projovem Integrado é descontinuado.

2011 (9 a 12 de dezembro)
É realizada a 2ª Conferência Nacional de Juventude
em Brasília

2013 (julho)
O Estatuto da Juventude é aprovado pelo Congresso Nacional.
Em agosto é sancionado pela presidenta Dilma Rousseff

Políticas para os jovens


A evasão escolar, dificuldades para a qualificação profissio-
nal, o contato com as drogas, o elevado número de mortes por
homicídios configuram quadro de vulnerabilidade social dos
jovens, que deve ser enfrentado em todas as escalas de gover-
no pelos gestores públicos.

Incorporar, no conjunto das políticas, esta faixa etária expres-


siva é um desafio para o poder público. Alguns dos marcos
importantes são a Política Nacional de Juventude, o Estatuto
da Juventude e o Sistema Nacional de Juventude (Sinajuve).
Esse último pretende garantir efetividade das ações governa-
mentais, atribuindo responsabilidades ao governo federal, às
Unidades da Federação e aos municípios quanto às políticas
públicas para a juventude.

Para Severine Macedo, ex-secretária nacional da Juventude, o

14
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

Estatuto detalha as garantias previstas na Constituição e as


especificidades da realidade do jovem. Em sua opinião, uma
ação importante é popularizar o conhecimento do Estatuto, a
fim de que a sociedade o entenda como instrumento legal de
reivindicação (SNJ, 2014).

No entanto, é necessário ponderar que, apesar do marco legal,


ainda há baixa institucionalidade para o tema. Essa dificulda-
de se soma à baixa capacidade dos municípios para formula-
rem projetos – seja por problemas financeiros, seja por neces-
sidade de pessoal com formação para articular, implementar
e monitorar programas.

Juventude: um debate sobre


conceitos e direitos
Juventude é um termo carregado de polissemia, mas, para o
exercício pleno de direitos, há uma definição associada à fai-
xa etária – no Brasil, jovem é o indivíduo que tem entre 15 e 29
anos. Entretanto, o recorte etário não suprimiu um importan-
te debate sobre a identidade do jovem:

Definir o que seja jovem ou juventude é um exercício complexo,


pois corresponde a construções sociais nem sempre presentes
nas sociedades nem manifestadas da mesma forma ao longo da
história de uma dada sociedade. (CARVALHO, 2004, p. 3)

Ao longo do tempo, muitas áreas do conhecimento contri-


buíram, com suas especificidades, para o entendimento do

15
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

termo juventude. Castro e Abramovay (2002) sinalizavam para


a necessidade de considerar não somente a idade cronológica,
mas também os fatores e a diversidade social. Abramo (2008),
por sua vez, avança na dimensão histórico-geracional, consi-
derando que a forma com que o jovem vive essa fase da vida
está relacionada ao somatório de sua condição e de suas dife-
renças sociais.

Para Bourdieu (1983), a juventude é o contraponto das outras


classificações geracionais e, por isso, existe uma dificuldade
em fazer um recorte etário e defini-lo como sendo de jovens.
Ou seja, para o autor, juventude não pode ser um conceito en-
gessado. Assim, a divisão de idades da vida (criança, jovem e
idoso) é feita de acordo com as diversas relações que são cons-
tituídas entre gerações, que podem variar em sua constituição
pela cultura e pela sociedade.

As posições aqui apresentadas são apenas ilustrativas de um


debate muito maior e mais complexo sobre a juventude. No
entanto, cabe ressaltar que a definição etária de jovem carre-
ga, em si, um grau de arbitrariedade.

A diversidade de formas de expressão, organização e identida-


de é caraterística da juventude brasileira, e reflexo de fatores
determinados pela condição social, de gênero, de raça e etnia
ou pela identidade regional. Diante disso, afirma-se que não
há maneira de pensar, trabalhar, fazer políticas públicas e ga-
rantir bem-estar social para o jovem, se mantivermos a visão
da juventude no singular. Portanto, é preciso compreender as
juventudes no plural (SNJ, 2014).

Ao mesmo tempo em que a gestão precisa compreender as

16
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

diferentes manifestações da juventude, deve evitar caracteri-


zar por demais o que seriam “comportamentos juvenis”. Isso
porque, muitas vezes, as políticas de juventude exacerbam as-
pectos relacionados a características dos jovens, tornando-se,
na prática, subprodutos da política cultural do Estado ou do
município.

Uma alternativa é a afirmação da temática da juventude, o


que resulta em uma concepção mais abrangente e, com isso,
em um escopo de ações que reconhece legitimamente o jovem
como ator social.

Hoje, o desafio que tem sido especialmente difícil de superar é


a relação entre as políticas de juventude e as políticas de edu-
cação, trabalho, esporte, inclusão social e desenvolvimento
nacional e local. Ainda não há uma compreensão definida do
papel das instituições dedicadas à temática da juventude den-
tro das gestões.

Além disso, o debate é contaminado pela visão de “tutela”,


originária do debate sobre infância e adolescência. Por isso,
é fundamental conceituar as diferenças: a criança e o adoles-
cente, segundo entendimento social consagrado em nosso or-
denamento jurídico, requerem tutela e proteção para garantia
de seus direitos; a juventude poderia ser, para efeito de polí-
ticas públicas, o momento de construção de autonomia. No
entanto, o que se verifica em muitos casos é a tentativa de ex-
tensão de políticas protetivas da criança e do adolescente para
o público jovem.

Abramo (2003), apud Rocha (2012), trata a juventude como:

17
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos
(...) um momento de preparação para um exercício futuro da ci-
dadania dado pela condição de adulto, quando as pessoas podem
e devem (em tese) assumir integralmente as funções sociais, in-
clusive as produtivas e reprodutivas, com todos os deveres e di-
reitos implicados na participação social. Tal preparação deve ser
realizada em espaços separados do mundo produtivo, do mundo
adulto, da algarvia social; e esse espaço é, por excelência e em
primeiro lugar, a escola. (ABRAMO, 2003, pág. 220)

Do ponto de vista das políticas públicas, o fundamental está


definido: que é entender o jovem como o indivíduo pertencen-
te à faixa etária entre 15 e 29 anos. A discussão acadêmica,
contudo, pode contribuir para que, no futuro, se redefina o
alcance das ações governamentais para a juventude.

A juventude em números
Os jovens entre 15 e 29 anos somam, segundo o IBGE, 52.237.849
cidadãos: 50,04% de mulheres e 49,96% de homens. Em 2013,
a Pesquisa Nacional sobre Perfil e Opinião da Juventude Bra-
sileira, organizada pela Secretaria Nacional de Juventude
(SNJ) em parceria com a Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com amostra de
3.300 entrevistados em áreas urbanas e rurais de 187 muni-
cípios das 27 unidades da federação, ofereceu um retrato do
jovem brasileiro.

Segundo o estudo, três em cada cinco jovens ainda moram


com os pais; 40% já têm filhos e destes, 28% são homens e 54%

18
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

mulheres. Além disso, a maioria acredita que pode mudar o


mundo e que, nos próximos cinco anos, o Brasil e suas vidas
vão melhorar. As maiores preocupações do jovem são a segu-
rança, a violência, o emprego e a profissão.

Quanto à cor ou raça, seis em cada dez jovens responderam


ser pretos ou pardos (denominação utilizada pelo IBGE e ado-
tada na pesquisa), conforme a Figura 1.

Figura 1
Distribuição dos jovens do Brasil
segundo cor/raça
Cor/Raça

15%
45% Preto

Branco

6%
Amarelo/Indígena

34%
Pardo

Fonte: Agenda Juventude Brasil, 2013, SNJ

Aproximadamente 16% dos jovens estão em estado de vulne-


rabilidade; 9% na faixa da pobreza; e 4% na pobreza extrema
(Figura 2). Segundo a classificação da Secretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE) do governo federal, é considerada baixa a
renda per capita de até de até R$ 290 por mês. Ainda de acordo

19
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

com a SAE, um jovem com renda igual ou superior a R$1.018 se


encontra nos estratos econômicos de mais alta renda do país.

Figura 2
Distribuição dos jovens
do Brasil segundo renda mensal
domiciliar per capita
Rensa mensal domiciliar per capita
Estratos Médios: 49
17% 9% Estratos Altos: 11

Médio alto Alto baixo

2%
15% Alto alto
Médio médio
4%
Extremamente Pobre

9%
Pobre

17% 16%
Estratos
Baixos: 29
Médio Baixo Vulnerável

Fonte: Agenda Juventude Brasil, 2013, SNJ

Quanto à presença no mercado de trabalho, a Pesquisa Na-


cional sobre o Perfil e Opinião dos Jovens Brasileiros de 2013,
trouxe as seguintes informações:

• 40% trabalham e não estudam


• 14% dos jovens trabalham e estudam
• 8% estão desempregados e estudam
• 12% estão desempregados e não estudam
• 15% não têm idade para trabalhar e estudam
• 11% não têm idade para trabalhar e não estudam

20
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

Pelos dados, pode-se inferir que são muitos os jovens que in-
gressaram no mundo do trabalho, mesmo sem a qualificação
que permita extrair uma renda maior.

Outra informação relevante é que 56% dos jovens não têm co-
nhecimento sobre políticas públicas voltadas à juventude. En-
tre os 44% que conhecem algum programa do governo, este
pertence à área da educação. A maioria não conhece políticas
de emprego e renda específicas para sua faixa etária.

A maioria dos entrevistados já tomou contato com a violência


(51%), com a perda de amigos e parentes. A maior parte dos
pesquisados possui título de eleitor antes dos 18 anos, e 54%
acham a atividade política muito importante, embora 38%
não gostem e não se envolvam.

Por fim, a maioria dos jovens possui aparelhos de telefone ce-


lular e acesso à internet, que, somados à televisão aberta, cons-
tituem os principais meios de informação e comunicação.

Os jovens e a violência
Publicações do Ministério da Justiça dão conta de que, em
2008 e 2009, mais de 50% da população carcerária era com-
posta por jovens de 18 a 29 anos (Figura 3).

21
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

Figura 3
População carcerária por faixa
etária no Brasil (2008-2009)

31%
18 a 24 anos

4%
Não
1% informado
61 anos e
mais
Ano de 26%
6% 2008 25 a 29 anos
46 a 60 anos

15%
35 a 45 anos
17%
30 a 34 anos

32%
18 a 24 anos

4%
Não
1% informado Ano de 27%
61 anos e 25 a 29 anos
2009
6%
mais

46 a 60 anos

15% 18%
35 a 45 anos 30 a 34 anos

Fonte: Ministério da Justiça (2008). Os dados referem-se apenas à população


carcerária custodiada no sistema penitenciário. Estão excluídos os presos em
unidades policiais

Em 2014, o governo federal lançou a publicação Mapa da Vio-


lência: os Jovens do Brasil, na qual Waiselfisz traça o seguinte
panorama:

22
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos
Os 52,2 milhões de jovens que o IBGE estima que existiam no
Brasil em 2012 representavam 26,9% do total da população. Mas
os 30.072 homicídios de jovens que o Datasus [Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde] registra para esse ano
significam 53,4% do total de homicídios do país, indicando que a
vitimização juvenil alcança proporções extremamente preocu-
pantes. (WAISELFISZ, 2014, p. 41)

Quanto à análise por gênero, os homens de 15 a 29 anos são


os mais afetados pelos homicídios. Entre eles as taxas são de
107,5 homicídios por 100 mil, frente aos 7,7 homicídios por
100 mil mulheres jovens. (WAISELFISZ, 2014, p. 71)

Para a compreensão destes homicídios é importante observar


o recorte de cor:

(...)[De 2002 a 2012,] o número de vítimas brancas cai 32,3%. O


número de vítimas jovens negras aumenta 32,4%: o diametral-
mente oposto. As taxas brancas caem 28,6% enquanto as negras
aumentam 6,5%. Com isso, o índice de vitimização negra total
passa de 79,9% em 2002 (morrem proporcionalmente 79,9%
mais jovens negros que brancos) para 168,6% em 2012, o que re-
presenta um aumento de 111% na vitimização de jovens negros.
(WAISELFISZ, 2014, p. 184)

Reflexões para o município


Uma das primeiras ações para reconhecimento das especifi-
cidades municipais é traçar um diagnóstico da situação da

23
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

juventude local, levando em conta a história, a estrutura e a


realidade socioeconômica dada. A partir dessa avaliação ini-
cial, cabe ter em vista na gestão local que:

• A temática da juventude exige ação integrada de diversas


áreas de governo (e, por isso, é fundamental que o “lugar da
juventude” esteja bem definido de um ponto de vista político
e dentro do organograma geral da administração).
• O tratamento do jovem deve estar associado à opção pelo
estatuto conceitual da emancipação, em oposição às ações
tutelares e protetivas.
• A pluralidade de identidades juvenis não deve justificar a
fragmentação das ações e políticas.

Em suma, o papel principal das políticas de juventude, levan-


do-se em conta o cenário da condição juvenil no Brasil, é cons-
tituir suporte para a diminuição das desigualdades entre os
jovens e para a construção de trajetórias de vida autônomas.

Não se pode mais negligenciar a situação paradigmática da ju-


ventude que, atualmente, conforme Abramo (2014), se expres-
sa em dez paradoxos:

1. Mais acesso à educação e menos acesso ao trabalho


decente.
2. Muito acesso à informação e pouco acesso ao poder.
3. Mais expectativas de autonomia e menos opções para ma-
terializá-la.
4. Maior acesso aos equipamentos de saúde e maior inci-
dência de uso nocivo de drogas, doenças sexualmente

24
A realidade
da juventude
brasileira: entre
os dados
e os fatos

transmissíveis, gravidez indesejada e agressões físicas.


5. Maior mobilidade e mais possibilidade de circulação, mas
afetadas por trajetórias incertas e migrações.
6. Maior identificação “para dentro” (entre jovens) e maior
permeabilidade “para fora” (entre jovens e adultos, no in-
terior das instituições escolares).
7. Os jovens parecem ser mais aptos para responder às mu-
danças do setor produtivo atual, onde se destaca a centra-
lidade do conhecimento como motor do crescimento, mas
tem sido os maiores excluídos do ingresso no mundo do
trabalho.
8. A juventude ocupa um lugar ambíguo entre os receptores
de políticas e protagonistas da mudança.
9. Os jovens vivem maior expansão do consumo simbólico e
grande restrição do consumo material.
10. Os jovens vivem com expectativas de autodeterminação e
protagonismo, mas experimentam situações de precarie-
dade e de desmobilização.

25
2 Estatuto da Juventude:
avanços e possibilidades

Buscamos, neste capítulo, comentar os referenciais norma-


tivos e instituições que constituem o pano de fundo para as
políticas públicas para a juventude. Abordaremos aqui alguns
pontos específicos da Lei nº 12.852, de 2013, que institui o Esta-
tuto da Juventude (Ejuve) e apresentaremos também um pou-
co da importância da implantação de órgãos voltados a ações
para o jovem nos municípios.

Ejuve: direitos e relações


O Ejuve, instituído pela Lei nº 12.852, de 2013, oferece parâme-
tros para a proteção e o desenvolvimento do jovem. Ele esta-
belece os seguintes direitos para a população da faixa etária
entre 15 e 29 anos:

• Direito à diversidade e à igualdade

26
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

• Direito ao desporto e ao lazer


• Direito à comunicação e liberdade de expressão
• Direito à cultura
• Direito ao território e à mobilidade
• Direito à segurança pública e ao acesso à Justiça
• Direito à cidadania, participação social e política e a repre-
sentação juvenil
• Direito a profissionalização, ao trabalho e a renda
• Direito à saúde
• Direito à educação
• Direito à sustentabilidade e ao meio ambiente

É interessante observar que, em princípio, o Estatuto não cria


direitos novos, diferentemente do Estatuto da Criança e do
Adolescente, no contexto histórico em que foi criado. Contu-
do, o Ejuve faz uma grande contribuição ao instar o poder pú-
blico, sobretudo a União, a constituir o Sistema Nacional de
Juventude, que deverá coordenar ações para a juventude com
gestões dos três níveis da federação, com recursos técnicos,
humanos e financeiros.

Os princípios expressos no Ejuve são oito, encabeçados pela


valorização da autonomia do jovem, e não de sua tutela:

I promoção da autonomia e emancipação dos jovens;

II valorização e promoção da participação social e política,


de forma direta e por meio de suas representações;

III promoção da criatividade e da participação no desenvol-


vimento do País;

27
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

IV reconhecimento do jovem como sujeito de direitos uni-


versais, geracionais e singulares;

V promoção do bem-estar, da experimentação e do desen-


volvimento integral do jovem;

V respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva


da juventude;

VII promoção da vida segura, da cultura da paz, da solidarie-


dade e da não discriminação; e

VIII valorização do diálogo e convívio do jovem com as de-


mais gerações. (BRASIL, 2013)

Assim como as demais leis que regem o país, o Ejuve não deve
ser analisado isoladamente. Conhecer as relações e tangências
que ele estabelece com outras leis ou fontes do direito é con-
dição para a construção de políticas públicas com objetivos e
direcionamentos bem estruturados (LÉPORE, 2014). O Quadro
1 elenca os principais estatutos, leis e convenções associados
ao tema da juventude.

28
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

Quadro 1
Principais estatutos, leis e
convenções relacionados à
temática da juventude no Brasil

Estatutos, leis e convenções

4
Constituição Federal

5
Estatuto da Criança e do Adolescente

6
Código Civil

7
Lei de diretrizes e bases da educação nacional

8
Consolidação das leis do trabalho

9
Lei de aprendizagem

10
Lei de estágios

11
Convenção sobre o direito da criança

12
Convenção Internacional sobre o direito
da pessoa com deficiência

Destacamos alguns dos trechos de interesse, como o artigo 227


da Constituição Federal, no qual se lê, conforme redação dada
pela Emenda Constitucional nº 65 de 2010, que:

29
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, à crian-


ça, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
a vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profis-
sionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, vio-
lência, crueldade, e opressão. (BRASIL, 1988)

A Emenda ainda previu a criação do Estatuto da Juventude e


do Plano Decenal de Juventude, este que deve visar à articula-
ção das várias esferas do poder público para a implementação
de políticas para a juventude. O artigo também abre impor-
tante e consistente leque de direitos, tais quais o acesso amplo
a saúde, inclusão e profissionalização.

A Lei nº 8.069, de 1990, que instituiu o Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA), por sua vez, é ponto de contato com o Eju-
ve, pois entende como adolescente a pessoa com idade entre
12 e 18 anos (faixa etária que se sobrepõe à dos jovens – estes
caracterizados por idades entre 15 e 29 anos).

O jovem e a comunidade
internacional
A Organização Ibero-Americana da Juventude (OIJ) é um dos
órgãos representativos dos direitos dos jovens na comunidade
internacional. Seu principal objetivo é a inclusão e integração
do jovem por meio de políticas públicas de juventude.

30
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

A entidade é formada atualmente pelos países: Argentina, Bo-


lívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador,
Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai, Ve-
nezuela e Brasil, que passou a integrar o grupo em 2010.

Para cumprir seus objetivos, a OIJ, em outubro de 2005, orga-


nizou a Convenção Ibero-Americana dos Direitos dos Jovens
(CIJ), estruturando 44 artigos, que abrangem o direito dos jo-
vens abarcando as dimensões de suas vidas.1 Embora o Brasil
não tenha formalizado adesão à Convenção, por ela estar in-
ternalizada em mais de cinco países que compõem os mesmos
fóruns multilaterais que o Brasil, um cidadão brasileiro pode
invocá-la.

É importante ressaltar que essa convenção se aplica a jovens


residentes em países Ibero-americanos com idades de 15 a 24
anos – no Brasil, como já foi mencionado, o jovem é o cidadão
com idade entre 15 e 29 anos. Já a Convenção Internacional
sobre o Direito da Criança (CSDC) protege e considera criança
toda pessoa com menos de 18 anos de idade. Como os indi-
víduos de 15, 16 e 17 anos são considerados crianças para a
CSDC e jovens para a CIJ, então, o cidadão nessa faixa etária
goza de direitos e proteções expressas em ambas as conven-
ções (LÉPORE, 2014).

13 1. Para acesso ao conteúdo completo da Convenção Ibero-Americana dos Direitos dos


Jovens.

31
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

Políticas de juventude
nos municípios: a
institucionalização
A inserção do jovem na sociedade, de modo geral, e no mundo
produtivo, de modo específico, não está naturalmente garan-
tida. Diante disso, políticas públicas para a juventude podem
facilitar sua participação de modo ativo, autônomo e transfor-
mador da realidade.

O contexto demográfico do Brasil, país que tem um número


cada vez maior de idosos, é outro argumento importante para
a ação dos governos locais. Assim, é indispensável pensar e
implantar políticas específicas para a juventude, com acesso à
cidadania e ao trabalho, de modo a garantir um processo en-
velhecimento mais tranquilo do que teve a geração anterior.

Aos gestores municipais cabe, inicialmente, o trabalho de lei-


tura e diagnóstico das realidades locais, avaliando as condi-
ções e as peculiaridades dos grupos sociais, culturais, espor-
tivos, econômicos e todo universo que cerca a juventude na
escala municipal.

Uma dificuldade comum identificada nos municípios é a vi-


são consagrada de que o espaço da temática de juventude nos
governos é transitório como seria, em tese, a própria juventu-
de como fase da vida. Com isso, muitas vezes, criam-se espa-
ços praticamente mirins, ora “minigovernos” completamente
desconectados da realidade e perdidos em meio a um sem nú-
mero de iniciativas pontuais e de pequeníssimo alcance, ora

32
espaços de militância social ou partidária, sem efetividade.

Portanto, a partir da avaliação do cenário local, algumas dire-


trizes podem facilitar a implementação de políticas de juven-
tude efetivas. São elas:

• A temática de juventude não é assunto apenas para jovens,


pois, se assim fosse, a política de criança a adolescente de-
veria ser gerida por uma criança, a de idosos somente por
idosos, brancos seriam inaceitáveis na política de igualdade
racial e homens não poderiam estar presentes na gestão de
políticas para a as mulheres.
• O gestor de juventude, seja ele um único assessor no gabi-
nete do prefeito ou o coordenador de toda uma equipe dedi-
cada ao tema, não é um representante dos jovens dentro do
governo. Essa visão confunde papéis entre sociedade civil e
governo e enfraquece o gestor, que, em geral, se torna um re-
fém de demandas de difícil pactuação interna nos governos
e, por isso, um foco de tensão, quando deveria ser um media-
dor na busca de soluções exequíveis.
• Tão importante quanto o diagnóstico é caminhar para a ins-
tituição de uma agenda de ações intersetoriais, com fases
bem definidas para sua implantação e execução e análise de
indicadores de sucesso para avanço ou correção de rumos.
A agenda de juventude deve estar conectada à agenda de go-
verno para ter recursos, respaldo político e sucesso.
• A transversalidade é conceito fundante das políticas seto-
riais. No entanto, ela pode se tornar um entrave ao não se
definir bem o espaço da temática de juventude. A materia-
lização da transversalidade é a ação finalística integrada
entre diversas áreas. E aí é importante compreender que a

33
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

integração com a composição de grupos matriciais ou câma-


ras técnicas, por exemplo, não é suficiente para garantir a
integração na ponta.
• A experiência vem demonstrando que a melhor chave de
compreensão das ações intersetoriais tem sido o território.
Trata-se de reconhecer o jovem como ator essencial ao de-
senvolvimento local e à construção de coesão social no nível
dos territórios por meio de ações que busquem a melhora
global de condições de vida locais e que, portanto, requerem
esforço multissetorial. Nesse aspecto, o da integração de
ações no território, justifica-se, por exemplo, a ideia de um
equipamento público específico, como os Centros de Refe-
rência da Juventude.
• Cada jovem tem todo o potencial necessário para melhorar
seu perfil social e cultural, inserindo-se de forma ativa em
sua comunidade.

É fato que a emancipação dos jovens pode parecer difícil


quando se constata o elevado grau de vulnerabilidade em que
muitos deles se encontram, especialmente os de mais baixa
renda. Para promover este processo, há ações simples, como a
implantação dos Conselhos Municipais da Juventude.

Nesse contexto, é possível citar o exemplo do governo do


Estado de São Paulo, que lançou um projeto de ciclo de ges-
tão com o foco na criação dos Conselhos Municipais da Ju-
ventude. O material, produzido e divulgado em agosto
de 2013, é um possível guia para a implementação desses
conselhos2.

2. O material pode ser consultado na íntegra em: 14 Acesso em: 9.jun.2014.

34
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

Criação de uma unidade


administrativa
Nos governos locais, a agenda da juventude terá papel deter-
minante para o estabelecimento da estrutura adequada para
a consecução dos objetivos de governo. Se a concepção for de
mero assessoramento, aconselhamento e acompanhamento
das ações de outras áreas, uma assessoria é suficiente.

Há que se observar, no entanto, que uma agenda importante


para o governo, seguramente, reunirá tanto ações de caráter
“meio” – as de assessoramento técnico, por exemplo –, como
um conjunto de possíveis ações finalísticas novas, que são
complementares ou suplementares àquelas de caráter univer-
salista determinadas pela Constituição (saúde, educação e se-
gurança pública) ou pela Lei Orgânica local (esporte e lazer,
cultura etc.). Nesse caso, é possível criar um departamento,
coordenadoria ou secretaria.

Como passo posterior à definição da agenda de juventude


no município está a definição do formato pelo qual se dará a
gestão da política de juventude na esfera organizacional da
prefeitura (competências, responsabilidades e recursos). Para
avanço efetivo nas ações, a participação do gestor nas defini-
ções de prioridades, no acompanhamento e na avaliação dos
resultados é fundamental.

Para que seja criada a unidade administrativa, o prefeito tem


de definir suas competências e as atribuições da equipe. O
processo de criação de cargos deve observar a Lei Orgânica do

35
Estatuto da
Juventude: avanços e
possibilidades

Município, pois, em alguns casos ela expressa como um cargo


ou secretaria podem ser designados, autorizando o Executivo
a fazê-lo, por meio de decreto, desde que não eleve a despesa
do município. Em caso de necessidade de custeio da máqui-
na pública, o Legislativo pode autorizar novas despesas, desde
que sejam observados os dispositivos da Lei de Responsabili-
dade Fiscal.

Por outro lado, se a Lei Orgânica do Município não expressa a


autorização, é necessário que o trâmite passe pela aprovação
do Legislativo ou ainda que o tema seja incorporado por um
grupo ou câmara de um consórcio intermunicipal ou público.

Por meio de portaria, o prefeito pode nomear um assessor ou


designar um profissional do quadro da prefeitura para exer-
cer as funções de articulação e implementação das políticas
de juventude, desde que o cargo de assessor e a função gratifi-
cada existam. Caso não existam, é necessária a criação por lei.

36
3 O Jovem e o Mundo
do Trabalho

Este capítulo pretende apresentar informações sobre o traba-


lho e a renda, e suas correlações com a escolaridade dos jovens,
bem como retrospecto do ensino técnico no país e os progra-
mas específicos de formação destinados a jovens, tais quais o
Programa Aprendizagem, o Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e o Programa Nacional
de Inclusão de Jovens (Projovem).

Escolaridade, renda e trabalho


Um aspecto da vida do jovem é a construção de sua trajetória
autônoma. No entanto, o desenvolvimento rumo à cidadania
plena encontra bloqueios que são potencializados na juventu-
de. Alguns deles são associados à escolaridade, ao ingresso no
mercado de trabalho e à renda.

37
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Entende-se que o acesso à educação de qualidade e a inserção


no mercado de trabalho segura e qualificada são os principais
mecanismos de promoção da inclusão social, da autonomia
dos sujeitos e de socialização para a vida adulta, e o poder pú-
blico tem a capacidade de promover políticas e alternativas
neste sentido (LOBATO e LABREA, 2013, p. 37).

Dados do Censo Demográfico 2010 mostram que 30% dos jo-


vens ou não tem instrução nenhuma ou não terminaram o en-
sino fundamental, e 40,5% dos jovens só trabalham (Figura 4).

38
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Figura 4
Escolaridade e ocupação
dos jovens brasileiros

Nível de escolaridade dos jovens

35,0%
nível médio

6,0%
nível superior

1,0%
não determinado
30,0%
nível fundamental
completo

30,0%
fundamental
incompleto ou
sem instrução

Posição de ocupação dos jovens


segundo a situação de estudos

13,0%
23,7% Estuda e trabalha
Não trabalha e
nem estuda

40,5%
Só trabalha
22,8%
Só estuda

Fonte: Censo Demográfico 2010, IBGE

39
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Além disso, conforme a Pesquisa Nacional sobre Perfil e


Opinião da Juventude Brasileira, organizada pela Secreta-
ria Nacional de Juventude (SNJ) em 2013, a educação apa-
rece em quarto lugar na ordem das prioridades dos jovens
(Figura 5). Já emprego e profissão aparecem em segundo lugar.
É possível inferir, portanto, que a percepção do jovem é a de
que a escola não garante preparação para mundo do trabalho.

Figura 5
Problemas que mais
preocupam os jovens do Brasil
Problemas que mais preocupam atualmente -
síntese
24
Segurança/violência 43
19
Emprego/profissão 34
7
Saúde 26
9
Educação 23
8
Drogas 18
9
Crise econômica/financeira 18
8
Família 17
2
Administração política do Brasil 8
2
Assuntos pessoais 8
2
Meio ambiente/infraestrutura 6
1
Questões sociais 6
2
Moradia 4
2
Fome/miséria 3
0
Transporte 1
0
Relacionamentos íntimos/amizades 1
0
Gravidez 1
1º lugar
3 Soma das menções
Nenhum problema me preocupa 3
1
Não sabe/não lembra 1

(Espontânea e múltipla, em %)

Fonte: SJN (2013)

40
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Abramovay (2002) classificava o acesso e o aperfeiçoamento


ao trabalho e a educação como insumos fundamentais para
que o jovem possa gozar das oportunidades oferecidas pelo
Estado, pelo mercado e pela sociedade para ascender social-
mente. Contudo, um paradoxo enfrentado pela juventude é o
fato de ter mais acesso à educação e menos acesso ao traba-
lho, conforme Abramo:

Os jovens de hoje têm mais educação formal que seus pais, mas
vivenciam mais insegurança no mundo do trabalho. Isto porque o
progresso técnico exige mais anos de educação para se ter acesso
aos empregos e, ao mesmo tempo, provoca uma “desvalorização
educativa” (a mesma quantidade de anos de escolaridade “valem
menos” hoje do que no passado). (ABRAMO, 2014, p. 15)

A publicação da SNJ aponta ainda que, para jovens de baixa


renda e baixa escolaridade, mulheres, negros e moradores de
áreas urbanas metropolitanas a taxa de desemprego é mais
elevada. Esses jovens, então, acabam na informalidade ou em
trabalhos com vínculos precários, com baixa remuneração e
menos possibilidades de desenvolvimento profissional, inser-
ção e permanência no mercado de trabalho (SNJ, 2013).

Na pesquisa, também foram elencadas palavras para que os


entrevistados as relacionassem com sua percepção sobre tra-
balho. Pela Figura 6, verifica-se que o jovem entende, majori-
tariamente, o trabalho como necessidade e forma de conquis-
tar sua independência:

41
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Figura 6
Palavras que mais
aparecem quando o
jovem pensa em trabalho

32
Necessidade
50

25
Independência
31

20
Realização pessoal 42

14
Crescimento
33

4
Obrigação
13

4
Direito 10

0,35 1º lugar
Exploração Soma das menções
1

Fonte: Agenda Juventude Brasil, 2013, SNJ


Base: Total – Estimulada
P62a. Falando de trabalho, qual das seguintes palavras se aproxima mais
do que você pensa sobre trabalho. Para você, trabalho é: 1º lugar
p62a/b. Falando de trabalho, qual das seguintes palavras se aproxima mais
do que você pensa sobre trabalho. Para você, trabalho é:
1º e 2º lugares

Políticas públicas voltadas para a qualificação, como ensino


técnico, podem aumentar as oportunidades futuras de traba-
lho e incremento de renda, com foco na ascensão profissional.
Hoje, a competitividade do mercado de trabalho e a deman-
da por experiência e qualificação são as principais dificulda-
des do jovem para galgar o primeiro emprego. No entanto,

42
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

a entrada mais tardia no mercado é defendida por especialistas:

O adiamento do ingresso dos jovens adolescentes no mundo do


trabalho, a princípio, pode ser considerado um fato positivo.
Um grande número de pesquisadores e gestores argumenta jus-
tamente que é fundamental postergar a entrada no mercado de
trabalho para permitir a estes jovens, sobretudo, a permanência
na escola e a aquisição de diplomas escolares de nível mais alto,
com vistas à obtenção de melhores postos de trabalho, tanto em
termos de remuneração como de possibilidade de realização
pessoal. (ANDRADE, 2008)

A realidade, entretanto, dá conta de que 65% dos jovens se in-


serem no mercado de trabalho antes de completarem 18 anos.
A Tabela 1, a seguir, apresenta o detalhamento por recortes de
gênero, cor/raça e área urbana ou rural:

Tabela 1
Idade do primeiro
emprego (em %) do jovem

Homem Mulher Branco Negro Urbano Rural

Até 15 anos 40 30 34 36 33 47

16 a 17 30 29 32 29 31 22

18 a 21 24 34 28 29 30 23

Mais de 22 anos 3 5 3 3 3 4

Fonte: Agenda Juventude Brasil, 2013, SNJ


Base: Entrevistados (as) que trabalham ou já trabalharam. Estimulada.
P70. Que idade você tinha quando fez seu primeiro trabalho remunerado

43
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Alguns dados sobre os jovens e


o mercado de trabalho
48% dos jovens têm o emprego ou o trabalho como principal
fator de realização profissional

35% começaram a trabalhar com 15 anos ou menos.

53% exercem alguma atividade remunerada

50% dos que trabalham recebem mais de R$ 290


e menos de R$ 1.018

46% dos jovens que trabalham cumprem uma jornada de


trabalho de mais de 40 horas semanais

56% não tiveram mobilidade social geracional, enquanto


36% tiveram ascensão em sua condição social

63% dos jovens acreditam que um dos pontos mais positivos


no Brasil é a possibilidade de estudo

91% acreditam que podem mudar o mundo

56% dos jovens entrevistados não têm conhecimento de


nenhum programa de governo dirigido à juventude

Entre 25 e 29 anos, 19% cursam o ensino superior.

44
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

A informalidade, nos recortes de gênero, raça/cor e renda é de-


talhada na Tabela 2:

Tabela 2
Perfil da população
economicamente ativa,
segundo estrato de renda,
cor/raça e sexo (em %)

Homem Mulher Branco Negro Ex. Baixo Ex. Médio Ex. Alto

Formal 49 35 49 39 22 49 65

Informal 26 22 19 27 32 23 16

Outros 3 2 2 2 4 1 2

Fonte: Agenda Juventude Brasil, 2013, SNJ


Base: Total da amostra/Estimulada e única, em %
* Outros – situações de Assalariado no campo/boia fria/sazonal
e estagiário (a) (formal ou informal)

A trajetória do ensino
técnico no país
As demandas por profissionais que soubessem ofícios remon-
tam ao Brasil Colônia: com a descoberta de ouro em Minas Ge-
rais, houve necessidade de mão de obra capaz de trabalhar com
os metais. Então, as Casas de Fundição passaram a ensinar a
fabricação de moedas, oferecendo a primeira configuração de
ensino certificado no país.

45
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Nesse mesmo período, surgiram os Centros de Aprendizagem


de Ofício nos arsenais da Marinha, que tinham como professo-
res portugueses natos. Porém, é a partir da chegada da família
real lusitana, em 1808, que se vê uma contínua evolução das
instituições e dos processos de ensino técnico no Brasil.

A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica foi cria-


da em 1909, com a implantação das Escolas de Aprendizes Ar-
tífices, posteriormente transformadas nos Centros Federais de
Educação Tecnológica (Cefets), com a atribuição, entre outras,
de apoiar o processo de industrialização do país.

Até 2002, a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológi-


ca contava com 140 instituições espalhadas em todas as unida-
des da federação. O Plano de Expansão da Rede, implementa-
do entre 2005 e 2010, levou à criação de 214 novas unidades. O
crescimento expressivo leva em conta a necessidade de traba-
lhadores qualificados para os diversos segmentos da economia,
mas também o fato de a formação técnica promover a inserção
dos jovens no mundo do trabalho.

O Estatuto da Juventude (Ejuve) ratifica o que já foi estabele-


cido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) quanto à
educação profissional e tecnológica, garantindo formação ini-
cial e continuada ou qualificação profissional, além da educa-
ção profissional técnica de nível médio e educação profissional
tecnológica de graduação e pós-graduação.

Além da profissionalização, ao jovem também é garantido, por


lei, o direito ao trabalho e à renda, desde que exercido com li-
berdade, segurança, remuneração adequada e proteção social.
O Ejuve apresenta em seu artigo 15, a relação entre educação e

46
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

o mundo do trabalho:

I - promoção de formas coletivas de organização para o traba-


lho, de redes de economia solidária e da livre associação;

II - oferta de condições especiais de jornada de trabalho por


meio de:

a) compatibilização entre os horários de trabalho e de estudo;

b) oferta dos níveis, formas e modalidades de ensino em horá-


rios que permitam a compatibilização da frequência escolar
com o trabalho regular;

III - criação de linha de crédito especial destinada aos jovens


empreendedores;

IV - atuação estatal preventiva e repressiva quanto à exploração


e precarização do trabalho juvenil;

V - adoção de políticas públicas voltadas para a promoção do


estágio, aprendizagem e trabalho para a juventude;

VI - apoio ao jovem trabalhador rural na organização da produ-


ção da agricultura familiar e dos empreendimentos familiares
rurais, por meio das seguintes ações:

a) estímulo à produção e à diversificação de produtos;

b) fomento à produção sustentável baseada na agroecologia, nas


agroindústrias familiares, na integração entre lavoura, pecuá-
ria e floresta e no extrativismo sustentável;

c) investi mento em pesquisa de tecnologias apropriadas à agri-


cultura familiar e aos empreendimentos familiares rurais;

d) estímulo à comercialização direta da produção da agricultura


familiar, aos empreendimentos familiares rurais e à formação
de cooperativas;

e) garantia de projetos de infraestrutura básica de acesso e

47
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

escoamento de produção, priorizando a melhoria das estradas e


do transporte;

f) promoção de programas que favoreçam o acesso ao crédito, à


terra e à assistência técnica rural;

VII - apoio ao jovem trabalhador com deficiência, por meio das


seguintes ações:

a) estímulo à formação e à qualificação profissional em ambien-


te inclusivo;

b) oferta de condições especiais de jornada de trabalho;

c) estímulo à inserção no mercado de trabalho por meio da con-


dição de aprendiz. (BRASIL, 2013)

Para jovens de 15 a 17 anos, o direito à profissionalização e à


proteção no trabalho é regido pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e por leis específicas, e não pelo Ejuve. Este
somente é aplicado ao adolescente jovem quando não conflitar
com as normas de proteção integral do adolescente.

Aprendizagem profissional
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 4293,
expressa a determinação para que os estabelecimentos de qual-
quer natureza sejam obrigados a empregar e a matricular nos
cursos do Sistema S (vide quadro na página 49), um número de
aprendizes equivalentes a 5%, no mínimo, e 15% no máximo,
dos trabalhadores registrados.

3. Disponível em: 15 Acesso em: 19.jun.2014

48
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

O Sistema S
A gênese do Sistema S se dá pela criação da escola de ofício
e politécnica, em meados dos anos 1940. Mas foi com a
Constituição Federal de 1988 que ele se consolidou e tomou a
forma atual.

As organizações que fazem parte desse sistema não são


públicas, mas recebem subsídios do governo. O Sistema
S é amparado pelo artigo 149 da Constituição, que rege
a destinação de recursos da União em “contribuição de
interesse das categorias profissionais ou econômicas”
(CARVALHO et al., 2014).

Atualmente o Sistema S é composto por: Serviço Nacional


de Aprendizagem Rural (Senar), Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Social do Comércio
(Sesc), Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo
(Sescoop), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai), Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Social de
Transporte (Sest), Serviço Nacional de Aprendizagem do
Transporte (Senat) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae).

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a aprendi-


zagem cria oportunidades tanto para o aprendiz quanto para as
empresas. Prepara o jovem para desempenhar atividades profis-
sionais e para ter capacidade de discernimento para lidar com

49
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

diferentes situações no mundo do trabalho. Ao mesmo tempo,


permite às empresas formarem mão de obra qualificada, cada
vez mais necessária em um cenário econômico em permanente
evolução tecnológica (MTE, 2012).

Pela Lei nº 10.097, de 2000, todas as empresas de médio e


grande porte estão obrigadas a contratar, como aprendizes,
adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos. A aprendizagem é en-
tendida como formação técnico-profissional direcionada aos
jovens e adolescentes por meio de contrato de aprendizagem,
com a finalidade de ampliar as possibilidades de inserção no
mundo do trabalho.

O Quadro 2 apresenta as transformações sobre o conceito de


aprendizagem no ordenamento jurídico.

50
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Quadro 2
A aprendizagem na lei brasileira

16
Constituição Federal de 1988
Destaca a possibilidade do ingresso do adolescente
de 14 anos no trabalho na condição de aprendiz.

17
Lei nº 10.097, de 2000
Altera dispositivos da CLT, aprovada pelo Decreto-lei
nº 5.452, de 1943.

18
Lei nº 11.180, de 2005
Institui o Projeto Escola de Fábrica, autoriza a
concessão de bolsas de permanência a estudantes
beneficiários do Programa Universidade para Todos
(Prouni), institui o Programa de Educação Tutorial
(PET), altera a Lei nº 5.537, de 21 de novembro de 1968,
e a CLT.

19 Lei nº 11.788, de 2008


Dispõe sobre o estágio de estudantes; altera a redação
do art. 428 da CLT, e a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996; revoga a Leis nº 6.494, de 7 de dezembro
de 1977, e a Lei nº 8.859, de 23 de março de 1994, o
parágrafo único do art. 82 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, e o art. 6º da Medida Provisória nº
2.164-41, de 24 de agosto de 2001.

20
Decreto nº 5.598, de 2005
Regulamenta a contratação de aprendizes.

51
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Na prática, a aprendizagem consiste em realizar atividades


com grau de dificuldade progressivo, de acordo com o ramo da
empresa contratante. Ao fim do período de contrato, o jovem
deve ter construído uma formação profissional que lhe servirá
de base para novas atividades e como transição do mundo da
escola para o mercado de trabalho.

O aprendiz deve ter contrato especial de trabalho, com duração


máxima de dois anos e garantia dos direitos especificados na
lei de aprendizagem, quanto à forma, ao método e à rotina de
trabalho. Em contrapartida, deve se comprometer a executar as
tarefas empenhadas no contrato com zelo e diligência.

O contrato4, que tem de coincidir com o início e o término do


curso de aprendizagem, precisa das seguintes informações,
conforme as diretrizes de aprendizagem:

• Curso em que o aprendiz está matriculado


• Jornada de trabalho diária e mensal
• Definição de horas teóricas e práticas
• Remuneração mensal
• Termo inicial e final do contrato

Todas as empresas com pelo menos sete funcionários são obri-


gadas a contratar aprendizes. É facultativa a contratação para
as microempresas e empresas de pequeno porte, incluindo as
optantes pelo regime do Simples Nacional, entidades sem fins
lucrativos que tenham por objetivo a educação profissional,
respeitando os critérios de percentual máximo que o artigo 429
da CLT estabelece.

4. Um modelo de contrato de aprendizagem pode está disponível em: 21


Acesso em: 29.mar.2015.
52
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Empresas públicas também estão obrigadas a ter aprendizes


em seus quadros. A título de exemplo, pode-se citar o Ministério
Público brasileiro que, em 2011, editou a resolução 76, implan-
tando o Programa Adolescente Aprendiz, como instrumento
de profissionalização de adolescentes de 14 a 18 anos, especial-
mente de famílias de baixa renda.

Estudo de Corseuil et al. (2013) demonstrou que a aprendiza-


gem tem a capacidade de elevar a empregabilidade dos apren-
dizes em empregos não temporários, e que o programa tem um
grande impacto sobre salários reais. Também demonstrou que,
entre os jovens, a rotatividade de emprego é menor para os par-
ticipantes do programa.

Projovem
O Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem) tem
como objetivo reintegrar à educação e à formação profissional
jovens de 18 a 29 anos que não tenham concluído o ensino fun-
damental e estejam em situação de vulnerabilidade social. Ele
é resultado da unificação de programas anteriores e tem foco
na mudança do perfil de empregabilidade dos jovens, uma vez
que, segundo Crispin:

Observa-se que a realidade sociocultural e político-econômi-


ca do jovem em situação de vulnerabilidade, é permeada pela
entrada precoce no mercado de trabalho para que possa ga-
rantir a sua subsistência (e às vezes de sua família), enquan-
to os jovens das classes média e alta possuem condições para

53
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

dedicarem mais tempo aos estudos. Assim, estes possuem


uma formação profissional mais ampla e condizente com as
exigências do mercado de trabalho. É para a juventude em situ-
ação de vulnerabilidade que se destinam o Programa Nacional
de Inclusão de Jovem (CRISPIN, 2009 p. 2)

A atual configuração do Projovem é resultado de um processo


de construção continuada. Algumas iniciativas o antecederam,
a saber: i) o próprio Projovem (que até 2011 foi executado pela
Secretaria Nacional de Juventude, vinculada à Secretaria Geral
da Presidência da República e migrou, em 2012, para o Minis-
tério da Educação); ii) Agente Jovem (Ministério do Desenvolvi-
mento Social e Combate à Fome); Saberes da Terra (Ministério
da Educação); iii) Escola de Fábrica (Ministério da Educação); iv)
Juventude Cidadã (Ministério do Trabalho e Emprego) e, v) Pro-
grama Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (Ministério
do Trabalho e Emprego).

Em seu primeiro desenho, o Projovem tinha a finalidade


de oferecer a jovens de 18 a 24 anos formação associada à ele-
vação da escolaridade por meio da conclusão do ensino fun-
damental e do acesso à qualificação com certificação. O jovem
que permanecia na escola recebia R$ 100, como bolsa-auxílio
(CRISPIN, 2009).

O programa buscava atingir, majoritariamente, os jovens de fa-


mílias beneficiadas pelo Bolsa Família e os em situação de risco.
Para sua atualização e ampliação, o programa passou por ava-
liações e modificações, houve alteração do teto de faixa etária
do programa de 24 para 29 anos e também uma subdivisão em
quatro modalidades:

54
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

• Projovem Adolescente: formação de coletivos de 15 ou 30 jo-


vens no máximo, acompanhados por profissional com nível
superior do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS),
responsável pela orientação e acompanhamento do grupo e
das famílias. Sua metodologia prevê a abordagem de temas
que perpassam os eixos estruturantes, denominados temas
transversais, necessários para a compreensão da realidade e
para a participação social.

O objetivo é promover o desenvolvimento de habilidades,


como a inclusão digital e a capacidade comunicativa, a fim de
guiar o jovem a uma escolha profissional consciente, evitan-
do as distorções da entrada antecipada do jovem no mercado
de trabalho.

• Projovem Urbano: tem como finalidade alcançar jovens de 18


aos 29 anos alfabetizados, mas que não concluíram o ensino
fundamental.

Desde 2013, essa modalidade teve um complemento com a


parceria entre o Mistério da Educação e o Ministério da Justi-
ça, que é o Projovem Urbano Prisional, voltado para melhorar
a escolaridade e incentivar a participação social do jovem pri-
vado de liberdade.

• Projovem Campo: também chamado de Saberes da Terra, tem


como objetivo atingir jovens agricultores que, de alguma for-
ma, acabaram sendo excluídos do sistema formal de ensino.
O objetivo geral é melhorar o grau de escolaridade do jovem
do campo, unindo saberes básicos para que sejam desenvolvi-
das as atividades profissionais do mundo rural.

55
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

O Ministério da Educação (MEC) é o responsável por levar as


ações à juventude campesina por meio da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) integrada à qualificação social e profissional. A
duração dos cursos é de dois anos, em sistema de alternância.

• Projovem Trabalhador: busca atender jovens de 18 a 29 anos


membros de família com renda per capita de até um salário
mínimo, cursando ou tendo finalizado o ensino fundamen-
tal ou médio. O objetivo geral é qualificar e fomentar a gera-
ção de oportunidades de trabalho, negócios e inclusão social
e também estimular a visão empreendedora, com posterior
inserção dos jovens qualificados no mercado de trabalho.

O Projovem Trabalhador está vinculado ao Ministério do Tra-


balho e Emprego. A divulgação das vagas e dos períodos de
inscrições ficam a cargo dos Estados e municípios. Os cursos
oferecidos têm carga horária de 350 horas, divididas entre
qualificação profissional e social. O auxílio financeiro é ofer-
tado em seis parcelas de R$ 100 para alunos com frequência
mínima de 70% no período.

56
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Figura 7
Resumo das modalidades
do Projovem

Projovem Adolescente
Jovens de 15 à 17 anos. Tem o objetivo de inserção,
reiserção e manutenção do aluno no sistema
educacional.

Projovem Urbano
Jovens de 18 à 29 anos que apesar de
alfabetizados não terminaram o ensino
fundamental. Oferece também vagas para jovens
privados de liberdade.

Projovem Campo
Dá a possibilidade de jovens agricultores
concluirem o ensino fundamental na modalidade
de Educação de Jovens e Adultos, integrando
qualidade social e profissional.

Projovem Trabalhador
Atende jovens que estão cursando ou que
finalizaram o ensino fundamental ou médio com
renda mensal per capta de até um sálario mínimo.

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2014

57
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Pronatec
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(Pronatec) foi criado pelo governo federal em 2011, no conjunto
de ações do programa Brasil sem Miséria, com o objetivo de am-
pliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica.
De acordo com dados do MEC, há cerca de 350 unidades em
funcionamento. Dados do balanço Pronatec 2013 mostram que
57% dos matriculados no programa são jovens.

Figura 8
Matrículas por idade
no Pronatec - 2013

25% 12%
40-49 anos
30-39 anos

5%
50-59 anos

1%
Mais de 60 anos

47% 10%
18-29 anos 16-17 anos

Fonte: Sistema de Pré-matrículas do Pronatec/MEC

58
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

A rede atual conta com cerca de 500 cursos em diversas moda-


lidades, que vão desde a formação inicial até os programas de
pós-graduação. Eles são divididos em 13 grandes áreas (SETEC/
MEC apud Cassiolato e Garcia, 2014):

1. Ambiente e saúde
2. Controle e processos industriais
3. Desenvolvimento educacional e social
4. Gestão e negócios
5. Turismo, hospitalidade e lazer
6. Informação e comunicação
7. Infraestrutura
8. Militar
9. Produção alimentícia
10. Produção cultural e design
11. Produção industrial
12. Recursos naturais
13. Segurança

Segundo o MEC5, entre as finalidades do programa estão: ex-


pandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de edu-
cação profissional técnica de nível médio e de cursos de for-
mação inicial e continuada ou qualificação profissional
presencial e a distância; construir, reformar e ampliar as es-
colas que ofertam educação profissional e tecnológica nas re-
des estaduais; aumentar as oportunidades educacionais aos
trabalhadores por meio de cursos de formação inicial e con-
tinuada ou qualificação profissional; aumentar a quantida-
de de recursos pedagógicos para apoiar a oferta de educação

5. Disponível em : 22 Acesso em: 7.jun.2014.

59
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

profissional e tecnológica e melhorar a qualidade do ensino


médio.

Podem ser beneficiários do programa os jovens e adultos de bai-


xa renda com idade superior a 16 anos6 que tenham a família
cadastrada no Cadúnico – ou em processo de cadastramento.
A participação é aberta a quem recebe Bolsa Família ou outros
benefícios de transferência de renda do governo federal.

Os cursos e o material são gratuitos. Para alunos de institui-


ções públicas também é oferecido vale transporte e alimenta-
ção, além de bolsas-auxílio, de acordo com as especificidades
de cada curso. O quadro 3 resume as ações do Pronatec:

Quadro 3
Ações do Pronatec

Programa Brasil Profissionalizado


Envolve as redes de educação estaduais e o governo
federal com o objetivo de ampliar e fortalecer a educação
profissional e tecnológica integrada ao ensino médio
estadual.

Rede E-Tec Brasil


Cursos técnicos e de formação continuada e formação
profissional na modalidade à distância.

6. No ato da pré-matrícula deve ser observado pelo interlocutor municipal o Decreto nº 6.481,
de 12 de junho de 2008, para que os adolescentes de 16 e 17 anos de idade em cursos de quali-
ficação relacionados a atividades econômicas vedadas a menores de 18 anos. (BRASIL, 2012).
Disponível em: 23 Acesso em: 6.jul.2014.

60
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Quadro 3 - Ações do Pronatec (continuação)

Acordo de gratuidade com os


Serviços Nacionais de Aprendizagem
Acordo que transforma recursos recebidos em
contribuições compulsórias pelas instituições do Sistema
S em vagas gratuitas de qualificação profissional para
pessoas de baixa renda, priorizando o estudante e
trabalhador.

Bolsa-Formação
Oferta de cursos técnicos para os que já terminaram o
ensino médio, estudantes matriculados no ensino médio
e cursos de formação inicial e continuada ou qualificação
profissional

Fies Técnico e Empresa


É um financiamento dos cursos técnicos e de formação
inicial e continuada para trabalhadores, inclusive no
local de trabalho. Os cursos podem ser feitos em escolas
privadas ou nas de serviço nacional de aprendizagem.

Como resultado dessas ações conjuntas e vagas pactuadas, em


2014, o programa teve um número recorde de adesão em re-
lação aos anos anteriores. Alguns dados são apresentados na
Figura 9:

61
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Figura 9
Dados gerais sobre o
Pronatec Nacional

PRONATEC - NACIONAL (Referência 25/02/2014)

5.847.595 matrículas
em 3.535 municípios
Iniciativas: Bolsa Formação, Acordo de Gratuidade
com Sistema S, Expansão da Rede Federal, E-Tec Brasil
e Brasil Profissionalizado.

Evolução anual das matrículas totais

Meta acumuluda
Matrículas acumuladas 7.944.775

5.622.969 5.847.595

2.769.002

966.967
2011 2012 2013 2014

Estados com os maiores números


876.078 de matrículas totais

610.579

382.280 364.033 321.162

SP MG RS RJ BA

Fonte: Brasil, 2014 7

7. Disponível em : 24 Acesso em: 9.jul.2014.

62
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Figura 9 - Dados gerais sobre o Pronatec Nacional


(continuação)

Matrículas totais por tipo de curso

28,7%
Técnico

71,3%
FIC

Matrículas totais por rede ofertante

12%
Outros

41%
Senai
17%
Rede Federal

30%
Senac

Fonte: Brasil, 2014 7

7. Disponível em : 24 Acesso em: 9.jul.2014.

63
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

Figura 9 - Dados gerais sobre o Pronatec Nacional


(continuação)

Municípios com
Principais cursos -
os maiores números
Bolsa Formação
de matrículas -
CURSOS FIC Bolsa Formação
1 Auxiliar administrativo 1 São Paulo
2 Operador de computador 2 Recife
3 Eletricista instalador predial de baixa 3 Salvador
tensão
4 Cuiabá
4 Recepcionista
5 Auxiliar de recursos humanos 5 Brasília

6 Inglês básico 6 Belo Horizonte


7 Auxiliar pessoal 7 Maceió
8 Almoxarife 8 Fortaleza
9 Manicure e pedicure 9 Rio de Janeiro
10 Costureiro 10 Natal

CURSOS TÉCNICOS 11 Manaus

11 Técnico em Segurança do Trabalho 12 Rio Branco


12 Técnico em Administração 13 São Luís
13 Técnico em Informática 14 Porto Alegre
14 Técnico em Mecânica 15 Boa Vista
15 Técnico em Eletrotécnica 16 Aracaju
16 Técnico em Contabilidade
17 Goiânia
17 Técnico em Logística
18 João Pessoa
18 Técnico em Enfermagem
19 Belém
19 Técnico em Eletromecânica
20 Técnico em Edificações 20 Macapá

Matrículas Bolsa Formação por gênero

60% 40%
Feminino Masculino

Matrículas Bolsa Formação por nível de escolaridade

8,5% 7,5% 40,5% 41,1% 1,4% 1%


Fundamental Fundamental Médio Médio Superior Superior
incompleto completo incompleto completo incompleto incompleto

Fonte: Brasil, 2014 7

7. Disponível em : 24 Acesso em: 9.jul.2014.

64
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

No município, é importante a articulação do órgão gestor da te-


mática de juventude com os órgãos demandantes do Pronatec.
Uma alternativa é que a própria assessoria, coordenadoria ou
secretaria de Juventude pode vir a se tornar um órgão deman-
dante, determinando a grade de cursos e selecionando alunos.

O essencial a dizer sobre o Programa é que ele é bastante fle-


xível, pois se baseia na ideia de levar a qualificação aonde ela
ainda não chegava – e não fazê-la somente em sala de aula. Há,
por exemplo, possibilidade de levar cursos aos espaços de asso-
ciações e organizações da sociedade civil, como cooperativas de
catadores.

Em geral, quem coordena o programa nos Estados são os Insti-


tutos Federais de Educação Tecnológica (IFETs), que pagam os
professores, o material didático e as bolsas dos alunos. Os ór-
gãos locais, por sua vez, entram com espaço físico e os insumos
para as aulas. Trata-se de arranjo em que o gestor de Juventude
pode ter protagonismo como articulador junto às organizações
da juventude e diante do diagnóstico de público jovem.

As vagas pactuadas do programa são resultado de acordos


entre unidades ofertantes e municípios, que juntos negociam
os tipos de curso. Para que haja a pactuação, é necessária uma
análise prévia do mercado de trabalho local, assim os cursos
ofertados dentro do município atenderão a demanda de mão
de obra local.

Procedimentalmente, o gestor interlocutor do programa pode


fazer o cadastramento junto ao Ministério do Desenvolvimento
Social (MDS), por meio de um formulário eletrônico ou solici-
tação de formulário próprio por e-mail. A Figura 10 apresenta o

65
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

passo a passo:

Figura 10
Passo a passo para o
cadastramento junto ao MDS

1. acesse: www.brasilsemmiseria.gov.br

2. clique: “Inclusão Produtiva,


Pronatec/BSM”

3. clique: “Formulário eletrônico


de Adesão ao Pronatec”

4. inserir: CPF e senha do


Sistema CADSUAS

Fonte: MDS, 2014

A prefeitura deve, então, preencher os dados de designação do


interlocutor municipal, e o termo de adesão deve ser assina-
do pelo prefeito. Todos os municípios, independentemente da
quantidade de habitantes, podem ofertar o Pronatec.

66
O Jovem e o
Mundo do Trabalho

São atribuições do interlocutor:

• Realizar primeiro acesso no sistema e criar sua senha.


• Cadastrar assessores no sistema.
• Negociar com as unidades ofertantes vagas e cursos de quali-
ficação para o município, com apoio do governo estadual.
• Elaborar, em conjunto com os ofertantes, o cronograma de
execução dos cursos.
• Estabelecer os critérios de priorização dos que serão pré-ma-
triculados.
• Elaborar e executar estratégias de mobilização do
público-alvo.
• Realizar pré-matrícula no sistema do Pronatec.
• Apoiar, em parceria com a unidade ofertante, a realização de
aula inaugural.
• Acompanhar a trajetória dos beneficiários no curso de quali-
ficação profissional.
• Articular políticas para os beneficiários dos cursos (saúde
oral, correção visual, elevação da escolaridade).
• Promover a inscrição do beneficiário do Pronatec no sistema
Mais Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego, para a
intermediação de mão de obra.
• Articular junto com o empresariado local, com o Sebrae e de-
mais secretarias municipais relacionadas com o desenvolvi-
mento econômico, empreendedorismo e associativismo a in-
serção dos alunos no mundo do trabalho.

67
4 O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

As especificidades dos jovens, suas características pessoais,


suas competências já desenvolvidas e outras latentes, seus in-
teresses e desejos são pouco considerados em políticas públi-
cas. Há o desafio de entender as demandas dos jovens de for-
ma coletiva, mas também como indivíduos únicos.

Algumas perguntas sintetizam o desafio dos municípios:

• Como tratar a vocação do município para nortear, por exem-


plo, a criação de cursos profissionalizantes que atenderão a
demanda do mercado sem ignorar a “vocação” do jovem?

• Como quebrar a reprodução do ciclo de vulnerabilidade


social, se os jovens nessa condição desconhecem as
políticas públicas existentes, não se apropriam dos espaços
onde se produz e se consome cultura, onde se constroem
conhecimentos e consequentemente não ampliam sua rede
de relacionamentos? 


68
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

• Como conciliar políticas públicas para os jovens, extrema-


mente focadas em geração de renda, com o seu desenvolvi-
mento integral?

• Como preparar o jovem para fazer escolhas conscientes a


partir do conhecimento de seus potenciais e limites, direi-
tos e deveres e evitar assim que seja apenas treinado para
ser escolhido?

Um primeiro passo, complementando as políticas públicas


que já são desenvolvidas para a juventude, é pensar em es-
paços de diálogo e orientação para esses jovens que, em sua
maioria, alcançaram um nível de escolaridade maior que o de
seus pais, e que, portanto, precisam de apoio qualificado para
nortear suas escolhas futuras.

O Programa de Mentoria desenvolvido pela Agenda Pública


busca preencher lacunas na formação do jovem ao disponi-
bilizar um espaço de mediação, no qual mentores adultos ex-
perientes e com maior nível de escolarização interagem com
os jovens. Estes têm como expectativas conhecer as diversas
opções para continuidade da sua formação, conquistar postos
de trabalho mais qualificados, mas não têm informações so-
bre como iniciar sua caminhada.

O principal objetivo do Programa de Mentoria é ampliar os ho-


rizontes dos jovens “mentorandos” por meio de um olhar aten-
to do mentor às suas demandas e questões individuais, bem
como às competências e habilidades, potenciais ou já desenvol-
vidas. O autoconhecimento orientado e a busca conjunta das
oportunidades disponíveis dão ao jovem um olhar mais amplo
e ao mesmo tempo focado para a construção 
do seu futuro.

69
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

No processo de mentoria são trabalhadas as dimensões pes-


soal, profissional e educacional em um processo dinâmico,
pois não é possível nem desejável segregar cada um desses
aspectos. Os mentores, após uma fase de construção de vín-
culos com seus mentorandos, são orientados a dar início à
construção conjunta de um plano de vida. Neste processo, as
perguntas certas são o grande trunfo do mentor, pois é o que
moverá o jovem em direção à reflexão e à busca de novas res-
postas e possibilidades.

Figura 11
Esquema para o plano de
vida do Programa de Mentoria
da Agenda Pública

Sonhos de
Objetivos infância e
Profissionais atuais Influências

Objetivos Planos para


Educacionais o futuro
Interesses

Objetivos Pessoais
Jovem
(Mentorando) Habilidades
Oportunidades
e Pontos de
Atenção

Planejamento

Fonte: Elaboração Lisian Migliorin Lasmar – Agenda Pública

70
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

A trajetória individual do jovem é um percurso multideter-


minado por fatores sociais, econômicos e culturais nos quais
estão inseridos. Neste contexto, o mentor exerce grande influ-
ência ao estimular a busca de novos percursos que passam,
necessariamente, por ampliar a rede social dos mentorandos
e desenvolver competências pessoais.

Aumentar a rede de sociabilidade e apropriar-se de


novos espaços é um dos objetivos primordiais deste
Programa e deve estar presente de forma transver-
sal nas ações propostas aos mentorandos.

Fases da Mentoria
A duração total do projeto somando as três fases
é de seis meses em média

Fase 1:
Construção de vínculos entre mentor e mentorando

Fase 2:
Mapeamento de interesses

Identificação de competências e habilidades


já construídas e a construir

Registro de objetivos de curto, médio e longo prazos

Atividades para a ampliação da rede de relacionamentos do jovem

Fase 3:
Plano de melhoria contínua e fechamento

71
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

Elencamos, a seguir, os objetivos específicos do Programa de


Mentoria.

• Fomentar novos olhares e experiências


• Ajudar a definir prioridades
• Apoiar e estimular o autoconhecimento e o desenvolvimen-
to da autonomia
• Dar suporte à identificação de novas oportunidades, 
sejam
elas educacionais, profissionais, ou culturais
• Apoiar a inserção do jovem em novas redes sociais e na iden-
tificação de oportunidades
• Oferecer referências sobre o mundo do trabalho
• Estimular o resgate e a busca dos sonhos

A experiência de Santos,
Cubatão e Guarujá
Com o objetivo de otimizar as políticas públicas já desen-
volvidas nos municípios de Santos, Guarujá e Cubatão, a
Agenda Pública, em parceria com a prefeitura desses muni-
cípios, desenvolveu o Programa de Mentoria. Esse programa,
aliado aos cursos profissionalizantes e demais oportunidades
já oferecidas pelo Estado, permitem a ativação das potenciali-
dades do jovem e o seu desenvolvimento mais amplo, comtem-
plando não só o campo profissional, mas também a educação
para 
além da formação técnica e ainda a autonomia do jovem
e uma postura empreendedora na condução da sua própria
vida e construção do seu futuro.

72
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

Encontramos, de um lado, jovens em situação de vulnerabi-


lidade social que buscam geração de renda imediata, identi-
ficados, neste Programa, por meio dos registros dos Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS) dos municípios. De
outro, políticas de educação, emprego e renda que visam pre-
parar o jovem para a rápida inserção no mercado de trabalho.

Aparentemente, teríamos problema e solução em sintonia. No


entanto, esta combinação tem como consequência jovens de
muito pouca idade rapidamente inseridos no mundo profis-
sional com baixa qualificação. Observam-se horas de trabalho
exageradas, o que gera evasão escolar e falta de tempo e orien-
tação para ocupar espaços de participação social e de cultura
e lazer que trariam para o jovem a ampliação da sua rede de
sociabilidade.

O resultado da combinação de baixa qualificação, muitas ho-


ras de trabalho e ausência de formação mais abrangente é a
perpetuação do ciclo de vulnerabilidade social, o que impede
que o jovem:

• conheça e se aproprie de uma gama de políticas públicas já


oferecidas pelo Estado,
• transite em novos espaços de cultura, lazer e participação
social,
• conquiste um nível de escolaridade mais alto e de acordo
com seus interesses,
• amplie sua rede social.

Importante destacar que este cenário contraria os prin-


cípios da “Agenda Nacional de Trabalho Decente para a

73
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

Juventude8 que preveem:

• maior e melhor educação,


• conciliação dos estudos, trabalho e vida familiar,
• inserção ativa e digna no mundo do trabalho,
• diálogo social com o intuito de aprimorar a discussão de
questões e problemáticas dos jovens.

A Proposta e seu percurso


A primeira versão do Programa de Mentoria foi desenvolvida
como ação complementar ao Projeto Escola Cidade Sustentá-
vel - Juventude e Trabalho9. Iniciado em 2011, o Juventude e
Trabalho oferecia aos jovens de 18 a 24 anos, no primeiro ciclo
do projeto, formação para qualificação profissional em turis-
mo sustentável, gestão de negócios sustentáveis e gestão am-
biental. Os cursos tinham duração de 12 meses e precederam
o Programa de Mentoria. 
O segundo ciclo do projeto incorpo-
rou a nova diretriz do Estatuto da Juventude, que considera
jovens as pessoas entre 18 e 29 anos. O curso, oferecido de for-
ma simultânea à Mentoria, foi dividido nos seguintes eixos e
temáticas:

• Cultura geral: artes, Brasil e mundo contemporâneos, políti-


ca e sociedade, consumo, espanhol e inglês.
• Mundo do trabalho: vocação profissional, diversidade,

8. Disponível em : 25 Acesso em: 15.jun.2014.

9. Conheça os detalhes do primeiro ciclo do projeto em: 26

74
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

redação, responsabilidade social empresarial, comunicação


interpessoal, empreendedorismo.
• Mundo digital: mídias sociais e ferramentas digitais.

Com a preocupação de complementar as políticas públicas


para a Juventude ofertadas pelos três municípios participan-
tes, as temáticas elencadas para cada um dos eixos tinham
como objetivo desenvolver competências pessoais e profissio-
nais mais amplas, que visam à formação integral do jovem. No
segundo formato, a Mentoria acontecia uma vez por semana
com duração de três horas complementando o curso.

Com base nos resultados obtidos nos dois primeiros ciclos do


projeto e na percepção de mentores e jovens sobre pontos for-
tes e sensíveis dos cursos e da mentoria, observou-se que era o
processo desta que causava mais impacto e influência positi-
va na trajetória dos participantes. Com isso, houve uma rees-
truturação para o terceiro ciclo do projeto.

Na nova fase, educadores e mentores trabalham conjunta-


mente com seus mentorandos em uma perspectiva de projeto
na qual o jovem se torna agente do seu próprio conhecimento.
Os mentores/educadores atuam como mediadores, e os men-
torandos assumem, logo no início, seu papel de protagonistas
do processo de aprendizagem ao decidirem em conjunto os
temas que serão trabalhados, metas, etapas do plano de ação,
cronograma e resultados esperados. A pedagogia de projetos
induz o jovem a trabalhar a autonomia, a pró-atividade e o
protagonismo, além da habilidade do trabalho em grupo com
foco em resultados concretos.

75
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

Os jovens trazem, a partir de instrumentais de observação dos


seus espaços de convivência (rua, bairro ou escola), dificulda-
des e problemáticas coletivas que devem ser tratadas pelo bem
comum. Definido o tema, constroem um projeto para trans-
formar a realidade com apoio de uma equipe multidisciplinar
de educadores.

Na perspectiva de projetos, os mentorandos são o ponto cen-


tral e estão em evidência durante todo o percurso, o que per-
mite que mentores observem competências e habilidades in-
dividuais a serem trabalhadas, bem como estimulem aquelas
que já se apresentam mais claramente. A atuação prática do
jovem nas atividades em grupo serve como situação de apren-
dizagem significativa, uma vez que tem como ponto de parti-
da assuntos e problemáticas de interesse do jovem elencados
a partir de sua realidade.

Um ponto importante identificado na avaliação do Projeto


Escola Cidade Sustentável – Juventude e Trabalho foi a ques-
tão da faixa etária atendida. Avaliamos que, aos 18 anos, idade
mínima exigida para participar do projeto, muitos dos jovens
já haviam iniciado sua trajetória profissional. Entendemos,
então, que era desejável iniciar o processo de mentoria mais
precocemente, antes do fim do Ensino Médio – fase de muitos
questionamentos e pressões externas que dificultam as deci-
sões conscientes.

Em seu terceiro ciclo, o projeto também foi desenvolvido com


jovens da Fundação Casa de Santos, sendo avaliado positiva-
mente pelos jovens participantes, gestores da unidade e mães
que acompanharam o trabalho. Essa experiência exitosa
mostrou que a mentoria atinge seu maior potencial quando

76
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

vinculada a outros programas institucionais.

Os mentores
Nos dois primeiros ciclos do Projeto Juventude e Trabalho os
mentores do Programa de Mentoria eram profissionais de di-
ferentes áreas contratados para orientar até cinco jovens. Al-
guns desses mentores eram também educadores nas temáti-
cas do projeto. Já no terceiro ciclo, com o objetivo de dar maior
ênfase ao processo de mentoria, optou-se por trabalhar apenas
com o conceito de mentores. Com isso, foi possível trabalhar
a Mentoria e as temáticas oferecidas nos dois primeiros ciclos
de forma integrada.

A parceria com a iniciativa privada para a inclusão do pro-


grama de Mentoria como parte das ações de voluntariado da-
empresa também é possível. Seja qual for o perfil do mentor,
deve ser dada grande ênfase à sua formação inicial, além de
acompanhamento durante todo o processo.

A primeira etapa de formação deve focar na desconstrução da


visão do jovem como problema ou fase de simples transição
para a vida adulta. A percepção do jovem sob essas duas óticas
pautou o desenvolvimento de políticas de controle e políticas
de profissionalização que visavam transmitir conhecimentos
suficientes apenas para a obtenção do primeiro emprego e o
ingresso definitivo na vida adulta.

A visão do jovem como sujeito de direitos, garantidos pelo Es-


tatuto da Juventude, e com demandas específicas é condição
fundamental para o mentor.

77
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

No segundo momento, os mentores são orientados sobre o


contexto em que se inserem os jovens participantes do Pro-
grama, a metodologia adotada e os objetivos a serem alcança-
dos. Ao longo do processo, os mentores são acompanhados e
recebem orientações adicionais, de acordo com o desenvolvi-
mento do seu grupo.

São atividades esperadas para um mentor:

• Praticar a escuta atenta com o intuito de conhecer e compre-


ender o jovem.
• Participar com uma postura aberta despojando-se de ideias
pré-concebidas sobre o que é juventude e sobre o que é bom
para o jovem.
• Proporcionar um espaço confiável de diálogo, sem julga-
mentos de valor.
• Apresentar situações desafiadoras que estimulem o pensa-
mento crítico.
• Perguntar mais do que responder.

O Programa de Voluntariado em
Mentoria e o E-Mentoria
Em 2014, a partir da experiência de sucesso da Mentoria na
Baixada Santista, a Agenda Pública desenvolveu o Programa
de Voluntariado em Mentoria e o E-Mentoria10, visando pro-
porcionar às empresas um programa estruturado de volun-
tariado que permitisse que seus colaboradores se engajassem

10. Saiba mais sobre o E-Mentoria em: 27

78
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

em uma iniciativa com meta de promover a transformação de


realidades, transcendendo ações assistencialistas e pontuais.

O tempo escasso para o trabalho voluntário é o primeiro de-


safio para ações de médio e longo prazos nos programas de
voluntariado empresarial. Somam-se à falta de tempo a difi-
culdade de deslocamento, principalmente nos grandes cen-
tros, e o desejo das empresas de levar os programas de forma
padronizada a todos os territórios nos quais atuam.

Com base nessas peculiaridades do trabalho voluntário cor-


porativo, foi desenvolvido o E-mentoria: ambiente virtual com
recursos de interação e informações, orientações e cursos para
a formação de mentores e mentorandos que permitiram que
a metodologia do Programa de Mentoria presencial fosse de-
senvolvida à distância.

Na plataforma, utilizada também de forma complementar no


Projeto Juventude e Trabalho, são oferecidos espaços para in-
serção de conteúdo de apoio a mentores e mentorandos, di-
ário de bordo para registro das etapas do processo com suas
dificuldades, avanços e conquistas, calendário com datas de
encontros, eventos e ferramentas de interação como chat,
fórum e videoconferência.

79
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

Figura 12
Reprodução da interface
do E-Mentoria

Fonte: Plataforma online do projeto

A primeira experiência do Programa de Voluntariado em Men-


toria foi desenvolvida em parceria com uma empresa privada.
Iniciado em junho de 2014, o Programa contou com 20 volun-
tários dessa empresa e 28 jovens participantes do Projeto de
uma ONG. Os encontros de Mentoria, que ocorrem por um pe-
ríodo de seis meses, foram realizados semanalmente à distân-
cia por meio da plataforma E-Mentoria.

Os mentores, voluntários da empresa parceira, receberam


treinamento inicial e foram acompanhados pela supervisora
do Programa que, a cada semana, após análise dos registros

80
O Programa de
Mentoria da
Agenda Pública

dos participantes sobre os encontros, adicionava orientações


e materiais para subsidiá-los no processo.

Além disso, são realizados encontros presenciais mensais de


supervisão com os mentores para avaliação do trabalho e do
progresso dos mentorandos. Os encontros de supervisão vi-
sam também à troca de experiências entre mentores.

Para apoiar o processo de escolha profissional e o caminho


mais apropriado para a continuidade dos estudos, foi integra-
do ao Programa de Voluntariado em Mentoria o “NetWork on-
line”. Nesta ação, os mentores convidam um profissional da
área de interesse do jovem para uma conversa que acontece
também por meio da plataforma de E-Mentoria.

São muitas as ações do Programa de Mentoria que, integra-


das, apoiam o resgate dos sonhos dos jovens, estimulam seu
autoconhecimento e fortalecem o protagonismo.

81
5
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Este capítulo tem como objetivo mostrar algumas ferramen-


tas de planejamento e gestão para auxiliarem na efetivação da
gestão setorial da agenda da juventude nos municípios. Para
tanto, lançaremos mão de instrumentos básicos de gestão
para o tema da juventude de maneira mais geral, a saber:

• Diagnóstico (eu observo)


• Priorização das necessidades (eu priorizo)
• Decisão do que fazer (eu decido)
• Planejamento das ações (eu planejo)

Quando tratamos da gestão da juventude, inevitavelmente,


falamos de questões transversais que envolvem temas como:
segurança pública, educação, saúde e desenvolvimento social.
Por conseguinte, nas ações que trabalhem o tema da juventu-
de há de se ter participação de várias secretarias, coordenado-
rias, membros da sociedade civil e cidadãos.

82
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Para ilustrar o processo de articulação de várias pastas e ór-


gãos, no exemplo do Plano Juventude Viva – iniciativa inter-
ministerial como resposta aos altos índices de homicídios de
jovens negros do sexo masculino –, a recomendação da Secre-
taria Nacional de Juventude é que a coordenação seja feita por
secretarias responsáveis pela pauta da igualdade racial ou ju-
ventude11.

Além de designar a secretaria responsável pelo desenvolvimen-


to de projetos para a juventude, o prefeito deve indicar os pon-
tos focais em cada secretaria envolvida, tais como: Igualdade
Racial, Educação, Saúde, Cultura, Esporte, Desenvolvimento
Social, Justiça, Direitos Humanos, Trabalho e Mulheres.

O envolvimento de representantes da sociedade civil também


deve ser buscado, a fim de legitimar com a participação social
as decisões e políticas, aproximando-as dos anseios da comu-
nidade. Seminários e oficinas podem ser, por exemplo, espa-
ços para debates envolvendo toda a gama de atores interessa-
dos nas políticas da juventude.

A partir destes valores, passamos ao detalhamento das medi-


das para a gestão.

Diagnóstico (eu observo)


O diagnóstico deve ocorrer da observação da situação do
município e da realidade da juventude municipal e, a partir
daí, os objetivos, metas e resultados esperados passam a ser

11. Mais informações consultar 28 Acesso em: 7.ago.2014.

83
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

traçados, pois um bom planejamento depende de objetivos


claros e consistentes.

Atualmente os municípios têm a seu alcance um volume re-


levante de dados sobre vários aspectos da realidade brasilei-
ra. Porém, há uma preocupação em como esses dados serão
tratados para que se transformem em informações úteis para
orientar a gestão municipal na implementação e acompanha-
mento de políticas e programas (MDS, 2008).

A escolha dos temas a serem abordados para elaboração


do diagnóstico é um grande desafio e parte fundamental. A
seguir apresentamos umas estrutura para o diagnóstico:

Quadro 4
Estrutura para a elaboração
de diagnóstico

Análise do público-alvo a atender


• Tendências do crescimento demográfico
• Perspectivas de crescimento futuro da população
e do público atendido
• Características educacionais, habitacionais
e de saúde da população
• Condição de atividade da força de trabalho, de ocupação
e de rendimentos
• Beneficiários de outros programas sociais

84
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Quadro 4 - Estrutura para a elaboração de diagnóstico


(continuação)

Análise do contexto econômico regional


• Tendências do desenvolvimento regional (indústria,
comércio, agropecuária)
• Perspectivas de investimento público e privado
• Infraestrutura viária, transporte e comunicações
• Estrutura do emprego e ocupações mais e menos
dinâmicas

Análise dos condicionantes ambientais


• Identificação de áreas de proteção e restrições
• Passivos e agravos ambientais
• Oportunidades de exploração do turismo e
desenvolvimento sustentável

Análise da capacidade de gestão local


• Estrutura administrativa já instalada
• Quantidade e características do pessoal técnico
envolvido ou disponível
• Experiência anterior na gestão de programas

Análise da participação social


• Comissões de participação popular/social existentes
• Histórico/cultura de participação

Fonte: MDS (2008)

85
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Para complementar o diagnóstico, podem ser utilizadas al-


gumas bases de dados públicas, com informações estatísticas
de um município ou região. Os dados podem ser associados a
pesquisas locais, com vistas a aferir outras percepções.

Como ferramenta prática, a equipe de trabalho pode se valer


ainda da Matriz SWOT-FOFA, utilizada para analisar aspectos
do ambiente interno e externo (forças e oportunidades/ fra-
quezas e ameaças).

Figura 13
Resumo explicativo sobre
a Análise SWOT - FOFA

Fatores Positivos Fatores Negativos


Fatores Internos

S - Strengths W - Weaknesses
F - Força F - Fraquezas
SWOT
FOFA
Fatores Externos

O - Oportunities T - Threats
O - Oportunidades A - Ameaças

Fonte: Adaptado de Chiavenato e Sapiro (2003, pág. 188)

86
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Chiavenato e Sapiro (2003), entre outros autores, apontam que


a função desta matriz é cruzar as oportunidades e ameaças
externas à organização com seus pontos fortes e fracos. O cru-
zamento dessas variáveis serve como indicador da situação da
organização e ajuda na tomada de decisão.

Com base no trabalho de Daychouw (2007), essa ferramenta


pode ser usada na construção de diagnósticos que sirvam de
base no planejamento estratégico do setor público. Para o au-
tor, a matriz é uma ferramenta simples, mas eficaz para verifi-
car a posição estratégica da organização no ambiente em que
ela está inserida. A matriz pode ser empregada no município
ou a partir da territorialização da política, seja por bairros,
setores ou zonas, de acordo com a divisão feita pela gestão.

Figura 14
Matriz SWOT

Análise Externa

Oportunidades Ameaças

Política de ação ofensiva Política de ação defensiva


Pontos
Fortes

ou Aproveitamento: ou Enfrentamento:
Análise Interna

Área de domínio da organização Área de risco enfrentável

Política de manutenção Política de saída


Pontos
Fracos

ou Melhoria: ou Desativação12:
Área de aproveitamento potencial Área de risco acentuado

Fonte: Adaptado de Chiavenato e Sapiro (2003, pág. 188)

12. Nas empresas privadas, esse item da matriz se refere ao diagnóstico entre continuar no
negócio ou encerrar as atividades da empresa. Para o setor público, quando se fala em desati-
vação, pensa-se na extinção de um programa, secretaria ou até mesmo na migração de política
de uma secretaria extinta para outra.
87
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Priorização das necessidades


(eu priorizo)
A relação entre projetos existentes e orçamento disponível
é ponto fundamental para que o resultado seja alcançado a
contento. Assim, a priorização tem como objetivo ordenar os
projetos, grupos de projetos ou ações, a fim de identificar os
mais relevantes segundo algum critério. A identificação de
prioridade deve ser conduzida pelo grupo gestor, no caso das
políticas de juventude.

A Matriz GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) é uma ferra-


menta aos gestores para o processo de priorização. A constru-
ção pode ser feita em três passos13:

Passo 1: Listar todos os problemas relacionados as atividades


que deverão ser realizadas.

Passo 2: Atribuir notas para cada problema listado de acordo


com os princípios da matriz: Gravidade, Urgência e Tendência.

A gravidade deve ser entendida como o impacto do problema


analisado, caso ele venha a acontecer. Essa análise deve ser
feita de acordo com os efeitos que esses eventos possam cau-
sar a médio e longo prazos, na hipótese de que o problema não
seja resolvido. Esses aspectos podem ser considerados como:
tarefas, pessoas, resultados, processos e assim por diante.

Já a Urgência está relacionada com tempo disponível ou neces-


sário para a solução de um dado problema analisado: quanto

13. Passo a passo disponível em: 29 Acesso em: 7.ago.2014.

88
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

maior a urgência, menor o tempo disponível.

A Tendência está relacionada com o crescimento do problema


ou com a probabilidade de que um problema venha a crescer
com tempo. Em resumo, é a avaliação do crescimento, redu-
ção ou extinção de uma questão.

Após elencar as variáveis, o grupo gestor deve escolher notas de


1 a 5 de forma crescente para cada item. No fim da atribuição
das notas, é feito o cálculo do resultado de toda a análise, defi-
nindo o grau de prioridade de cada problema do seguinte modo:

(G) x (U) x (T) = grau de prioridade do problema


Ex: (5) x (5) x (5) = 125

A comparação entre os resultados é que dará a prioridade do


problema. Para que a elaboração da matriz seja feita de forma
eficiente, as notas podem ser atribuídas da seguinte forma:

Figura 15
Atribuição de notas
para a Matriz GUT
Tendência
Nota Gravidade Urgência
(Se não for feito)
5 Extremamente grave Ação imediata ...irá piorar rapidamente

4 Muito grave Urgente ...irá piorar em pouco tempo

3 Grave Mais rápido possível ...irá piorar

2 Pouco grave Pouco urgente ...irá piorar a longo prazo

1 Sem gravidade Pode esperar ...não irá mudar

Fonte: SGC (2014)

89
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Passo 3: Após elencar os problemas e atribuir notas a cada um


deles, soma-se cada item. O resultado possibilita a visualiza-
ção das prioridades e das ações a serem tomadas.

Apresentamos, a seguir um exemplo de matriz:

Figura 16
Exemplo de atribuição de
notas para a Matriz GUT
Grau crítico Grau de
Problema G U T
total priorização
Atraso na entrega de suprimentos 4 4 3 48 Segundo

Capacitação da equipe 3 3 1 9 Terceiro

Defeito no prédio do projeto social 5 5 5 125 Primeiro

Aumento do consumo de água 3 2 1 6 Quarto

Fonte: Adaptado de SGC (2014)

Decisão do que fazer (eu decido)


Feita a priorização das demandas ou problemas, é momento
de decidir. Uma das estratégias que podem ser adotadas é a ve-
rificação e confronto das informações, a fim de definir quais
prioridades se enquadram na gestão da prefeitura.

Uma proposta é que o grupo de gestão da juventude faça reu-


niões focadas no resultado e, a partir delas, leve para a práti-
ca as decisões tomadas, apresentando respostas sobre como,
quando e o que fazer.

90
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

Planejamento das ações


decididas (eu planejo)
O planejamento das ações é um momento de organizar as
ações, considerando os recursos necessários, responsáveis e
tempo de realização, por exemplo. Para isso, a matriz 5w2h
pode ser uma referência. Trata-se de um instrumento no qual
são listadas as ações a serem desenvolvidas e as informações
básicas sobre elas, tais como os custos envolvidos e prazo para
finalização da ação.

O nome da ferramenta 5w2h deriva de cinco perguntas em


inglês, conforme o Curso de Metodologia de Análise e Solução
de Problemas da Escola Nacional de Administração Pública
(ENAP). São elas:

5w2h
• What? (O quê?)
O que será feito?

• Why? (Por quê?)


Por que esta solução será implementada?

• Where? (Onde?)
Onde a atividade será executada?

• When (Quando?)
Quando a atividade é executada?

• Who? (Quem?)
Quem será responsável por executar a atividade?

• How? (Como?)
Como esta solução será implementada?

• How much? (Quanto?)


Quanto custará a implementação da atividade?

91
Ferramentas
para auxiliar
na implantação
de políticas

É importante destacar que toda política deve considerar o pla-


nejamento estratégico municipal, que determinará as estraté-
gias, metas e ações do município e da prefeitura. As técnicas
que serão empregadas nesse processo vão envolver diversos
atores que compõem a base de sustentação do município (CFA,
2012) e as fontes de informação que servirão para a elabora-
ção de qualquer política no município são:

• Plano Diretor Municipal


• Plano Plurianual Municipal
• Planos setoriais (saúde, educação, juventude, etc)
• Programas e projetos previstos e/ou implantados
• Orçamento participativo

Para o Conselho Nacional de Administração (2011/2012), um


planejamento adequado permite:

• Controle efetivo
• Coordenação das interfaces das ações municipais
• Resolução antecipada de problemas e conflitos
• Elevar o número de acertos na tomada de decisão

A Agenda Pública entende que a capacidade de planejar e co-


ordenar diferentes áreas da administração para a consecução
de objetivos de governo – neste caso, os voltados para a temá-
tica da juventude –, é crucial. Por isso, vem se utilizando das
técnicas e abordagens aqui descritas no trabalho com os mu-
nicípios parceiros.

92
Uma visão sobre a

6
juventude da América
Latina – entrevista
com Alejo Ramírez,
secretário geral da OIJ

Alejo Ramírez é o secretário geral da Organização Iberoame-


ricana de Juventude (OIJ), organismo internacional criado em
1992 para promover a cooperação internacional em questões da
juventude em 21 países membros.

Filho de um desaparecido político da ditadura militar argenti-


na, Alejo Ramírez se envolveu desde cedo com a atividade po-
lítica. Em 1999, assumiu pela primeira vez um cargo público
no governo de Buenos Aires, para os temas de juventude. Em
2003, compôs o governo argentino no mesmo tema e em 2006
assumiu a responsabilidade pelo escritório da OIJ para o Cone
Sul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Chile). Em 2010, foi
eleito para o Conselho Diretivo como secretário geral da OIJ.

Até hoje são 16 anos de trajetória na temática de políticas para


a juventude. Veja a entrevista concedida à Agenda Pública
com sua visão sobre a temática:

93
Uma visão sobre
a juventude da
América Latina –
entrevista com Alejo
Ramírez, secretário
geral da OIJ
Agenda Pública - Há uma década, no Brasil, vivíamos uma
agitação muito grande em torno da temática de juventude. No
entanto, após dez anos de implantação da Política Nacional
de Juventude, os diagnósticos ainda são muito desfavoráveis
para a maioria dos jovens, sobretudo negros e pobres, e o grau
de institucionalização das políticas é baixíssimo. Em sua opi-
nião, o que é preciso para avançar, tanto no reconhecimento
desse ator social, o jovem, quanto na estruturação das políti-
cas de estado com interesse nele?

Alejo Ramíres - O grande desafio das políticas de juventude é


integrar as ações de diversas áreas para que a chamada agen-
da transversal se materialize em resultados concretos. Temos
nos deparado com situações muito difíceis, em que os órgãos
responsáveis pela temática de juventude são “ilhas” isoladas
dentro dos governos, sem comunicação com as demais áre-
as. O maior desafio, portanto, é esse: integrar os temas da ju-
ventude às estratégias globais, e criar instrumentos de gestão
compartilhada entre a juventude e as demais áreas.

Agenda Pública - A OIJ tem feito regularmente investigações


sobre a condição juvenil nos continentes de sua abrangência.
Qual é a realidade da juventude na América Latina hoje?

Ramírez - A realidade na América Latina é que os investimen-


tos sociais sobem (hoje representam 23% do Produto Interno
Bruto da região), mas os jovens recebem apenas 10% desses
investimentos, apesar de representarem 26% da população. É
difícil mudar a realidade da maioria dos jovens, se não alte-
rarmos essa equação.

94
Uma visão sobre
a juventude da
América Latina –
entrevista com Alejo
Ramírez, secretário
geral da OIJ
Agenda Pública - Os governos têm correspondido satisfato-
riamente a esse quadro? Quais iniciativas você destacaria, em
qualquer dos 22 países em que a OIJ atua?

Ramírez - Há governos que, sem dúvida, têm feito muito, mas


podemos dizer que, de modo geral, não têm dado resposta à
altura dos desafios; há bons programas e boas iniciativas, mas
sem perspectiva universalista, e boas políticas universalistas
que desconsideram a perspectiva juvenil. Em resumo, não há
o reconhecimento adequado desse ator social, o jovem. Inte-
grar, para materializar ações transversais, é a resposta para
esse dilema.

Agenda Pública - No Brasil, por suas dimensões geográficas e


pelo caráter federativo de suas esferas governamentais, tem
sido um grande desafio a implantação de uma agenda de po-
líticas de juventude nos municípios. Mesmo sendo um órgão
dedicado ao assessoramento de governos nacionais, o que a
OIJ tem a dizer sobre esse desafio de articular os gestores lo-
cais (ou subnacionais)?

Ramírez - Em geral, há qualidade nas políticas em nível local,


mas falta articulação, de fato, entre os distintos níveis admi-
nistrativos. Essa realidade não é exclusiva do Brasil, infeliz-
mente. O desafio de promover essa articulação está no reco-
nhecimento da importância dos atores locais, em valorizar as
identidades territoriais e as realidades locais. Há o risco de o
governo nacional preferir implantar as políticas verticalmen-
te – “de cima para baixo” – e, em geral, esse modelo não dá
certo. O grau de institucionalidade do tema cresce à medida
que as ações vão se justificando em cada uma das realidades
presentes num mesmo país – nos casos de Brasil, Argentina

95
Uma visão sobre
a juventude da
América Latina –
entrevista com Alejo
Ramírez, secretário
geral da OIJ
ou México, as dimensões geográficas já determinam uma di-
versidade muito grande entre essas realidades. Mas mesmo
em países pequenos de um ponto de vista territorial, a diver-
sidade pode ser encontrada. Outra dimensão fundamental,
principalmente para as iniciativas locais, é a participação dos
jovens. Quando eles lutam por essas políticas, elas têm muito
mais chance de acontecer e de darem certo.

Agenda Pública - Você conhece alguma experiência local que


mereça destaque e que possa ser replicada, respeitando-se as
realidades de outras regiões ou cidades latino-americanas?

Ramírez - Em geral, os orçamentos participativos funcionam


muito bem em nível local, porque a dimensão do município
permite dialogar melhor com os cidadãos. A participação dos
jovens nesse processo é uma oportunidade a ser explorada
para ampliação e consolidação de ações na temática de ju-
ventude. Uma cidade que eu destacaria, nesse contexto, é Me-
dellín, na Colômbia.

Agenda Pública - Há pouco, o Congresso Nacional brasileiro


aprovou o Estatuto da Juventude. Qual o estado da arte em
relação à Convenção Ibero-americana dos Direitos do Jovem
(CIDJ)? Você considera que o documento já está devidamen-
te reconhecido no ordenamento interno dos países da região?
Quais os próximos passos em relação a isso?

Ramírez - Em outubro de 2014, o Brasil firmou a CIDJ, o que


representa um grande avanço para nós. Neste ano, trabalha-
remos com a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) para
avançar na ratificação da Convenção, que deve ser feita pelo
Congresso Nacional. Há muitos vínculos entre o Estatuto da

96
Uma visão sobre
a juventude da
América Latina –
entrevista com Alejo
Ramírez, secretário
geral da OIJ
Juventude e a CIDJ, e será maravilhoso podermos trabalhar
conjuntamente para a implantação plena de ambos os marcos
institucionais.

Agenda Pública - Quais as prioridades da OIJ para 2015?

Ramírez - Em tempos de crises e mudanças, como os que esta-


mos vivendo, o desafio da OIJ é consolidar um modelo de atu-
ação sustentável na temática de juventude, tanto em termos
políticos quanto econômicos. Em 2011, estávamos dependen-
tes dos recursos espanhóis que representavam, à época, 85%
de todo o orçamento da OIJ (hoje, a Espanha contribui para
33% do orçamento); até 2011, somente 10 países assumiam sua
cota regimental de participação orçamentária para funciona-
mento da OIJ, hoje são 20 os que o fazem; em 2011, tínhamos
apenas três parceiros internacionais (organismos financiado-
res ou cofinanciadores de atividades da Organização) e todos
os três europeus. Hoje temos 15 grandes parceiros, 14 deles na
América Latina. A partir, então, desta nova realidade institu-
cional, em que a presença da OIJ na América Latina e de re-
presentantes do continente na OIJ cresce de forma notável, o
desafio é qualificar os vínculos com a ONU (a OIJ é vinculada
à Organização dos Estados Ibero-Americanos e não faz parte
do Sistema ONU) e fortalecer os processos de gestão de conhe-
cimentos. Para isso, estamos organizando segunda rodada da
Pesquisa Ibero-Americana de Juventudes.

97
Referências

ABRAMO, H.W. Estação juventude: conceitos fundamentais –


pontos de partida para uma reflexão sobre públicas. Brasília:
SNJ, 2014. 128p. Disponível em: 30
. Acesso em: 28.mar.2014.

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72 http://www.faculdadeparque.com.br/ebooks/Tecnologia_e_
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73 h t t p : / / w w w. c c h l a . u f r n . b r / c n p p / p g s / a n a i s / A r t i g o s % 2 0
REVISADOS/JUVENTUDE%20E%20TRABALHO%20
DECENTE%20os%20desafios%20na%20contemporaneidade.pdf

113
Referências
- Sites

74 h t t p : / / w w w 4 . t c e . s p . g ov. b r / s i t e s / d e f a u l t / f i l e s / i m a g e s /
manual-gestao-financeira-prefeitura-municipal.pdf

75 h t t p : / / w w w. f e . u n i c a m p . b r / g e p e j a / a r q u ivo s / Jove n s _ e _
Juventudes-questoes_frutiferas.pdf

76 http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2013/mapa2013_
homicidios_juventude.pdf

77 http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_Jovens-
Brasil.pdf

114
Kit do Gestor
Políticas de
Juventude

Esta obra faz parte da coleção Kit do Gestor, iniciativa


da Agenda Pública (www.agendapublica.org.br) para
levar reflexões e experiências práticas sobre temas da
administração aos dirigentes públicos e às suas equipes.
O objetivo é fornecer, de modo direto e aplicado,
instrumentos e referências para a rotina da gestão.

Cada livro do Kit oferece informações sobre o contexto


da área abordada, seus conceitos essenciais, legislação
comentada, indicadores, histórico e retrato da estrutura
institucional da política em questão.

Como complemento, são apresentadas ferramentas


pertinentes à área discutida em cada publicação, a fim de
facilitar o diagnóstico, o planejamento, o monitoramento
e a implementação de ações.

Em Políticas de Juventude, a Agenda Pública traz


elementos da realidade do jovem no Brasil, com dados
relevantes para o desenho de iniciativas municipais.

Patrocínio desta publicação:

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