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O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em

desfavor de FULANO, devidamente qualificado(a)(s) na inicial acusatória, no


bojo da ação penal 000000-00.2007.000.0000, atribuindo-lhe(s) o(s) fato(s)
delituoso(s) capitulado no artigo. 171, 3º, na forma do artigo 71, ambos do
Código Penal (fls. 419/421). Narra a denúncia que o(a) denunciado(a)
FULANO, no período correspondente ao da entrega de declarações de renda
nos anos-calendário 2001 a 2005 obteve para si ou para outrem, em prejuízo
dos Cofres Públicos da União, induzindo em erro a Receita Federal do Brasil,
mediante o meio fraudulento de forjar declarações de vários contribuintes
desobrigados de sua entrega, gerando uma restituição indevida e causando um
prejuízo de no mínimo R$ 16.365,96 (dezesseis mil trezentos e sessenta e
cinco reais e noventa e seis centavos) aos cofres públicos. Além disso, o MPF
ofereceu denúncia em desfavor de FULANO, devidamente qualificado(a)(s) na
inicial acusatória, no bojo da ação penal 1111111-11.2011.111.1111,
atribuindo-lhe(s) o(s) fato(s) delituoso(s) capitulado no artigo. 171, 3º, na forma
do artigo 71, ambos do Código Penal (fls. 40/42). Narra a segunda denúncia
que o(a) denunciado(a) FULANO, no período correspondente ao da entrega de
declarações de renda nos anos-calendário 2006 a 2008 obteve para si ou para
outrem, em prejuízo dos Cofres Públicos da União, induzindo em erro a Receita
Federal do Brasil, mediante o meio fraudulento de forjar declarações de vários
contribuintes desobrigados de sua entrega, gerando uma restituição indevida e
causando um prejuízo de no mínimo R$ 8.349,07 (oito mil trezentos e quarenta
e nove reais e sete centavos) aos cofres públicos. Conforme consta dos autos
do inquérito policial 1111/2006, no dia 17/11/2006, funcionários da empresa
SEI LÁ INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA se dirigiram ao 3º Distrito Policial de
SPRINGFIELD alegando que no mês anterior foram levados a acreditar, por
uma funcionária da mesma empresa, chamada FULANA, que teriam direito a
restituição de imposto de renda, mesmo que seus rendimentos estivessem
abaixo do limite legal de isenção à época. Para tanto, deveriam comparecer na
sede do escritório de contabilidade DO BATMAN, situado na EM ALGUM
LUGAR, 000, Centro, SPRINGFIELD, de propriedade do acusado, portando os
documentos pessoais, e pagar uma contraprestação (fls. 06/15). No dia
seguinte, FULANOfoi conduzido à presença da autoridade policial, ocasião em
que confirmou ter preenchido e transmitido as declarações de imposto de renda
a pedido dos funcionários da empresa SEI LÁ, mediante contraprestação
financeira, e segundo as informações fornecidas pelos próprios interessados
quanto às respectivas remunerações, negando a inserção de dados falsos nas
declarações de imposto de renda para o fim de gerar o pagamento indevido de
restituições (fls. 26/27). Na ocasião, o acusado entregou espontaneamente o
computador que usava para transmitir as declarações de imposto de renda (fls.
28), que foi submetido a perícia (fls. 75/76 e 238/246).Paralelamente, o
Ministério Público Federal, após receber representação oriunda da Delegacia
da Receita Federal do Brasil em São Bernardo do Campo, em 29/09/2008,
dando conta da prática de crimes de sonegação tributária e estelionato pelos
representantes legais do escritório de contabilidade BATMAN (fls. 03/120, do
Apenso I), requereu autorização judicial para realização de diligência de busca
e apreensão na sede do referido escritório, o que foi deferido (fls. 125/129, do
Apenso I). Após a entrega do material apreendido à RFB, para continuidade da
fiscalização fazendária, o MPF requereu a instauração de inquérito policial.
Sendo assim, foi instaurado o inquérito policial 1947/2010, que inicialmente foi
distribuído à 2ª Vara Federal local e, após, redistribuído a este Juízo.
As denúncias foram recebidas, respectivamente, em
07/02/2011 (fls. 422, processo 000000-00.2007.000.0000) e 28/04/2011 (fls.
52, processo 1111111-11.2011.111.1111).
Citado pessoalmente (fls. 451/452 e 74/75), o acusado
não apresentou defesa nem constituiu advogado. Diante disso, houve
nomeação de advogado dativo (fls. 453 e 76), que apresentou respostas às
acusações respectivamente às fls. 456/469 e 81/84. Em seguida, o MPF se
manifestou no bojo da ação penal 1111111-11.2011.111.1111 requerendo sua
tramitação conjunta ao feito 000000-00.2007.000.0000 (fls. 86/88), o que foi
deferido (fls. 91).Ausentes causas de absolvição sumária, as decisões de
recebimento das denúncias foram ratificadas (fls. 473 e 91), designando-se
audiência de instrução. Sem prejuízo, determinou-se a expedição de cartas
precatórias para a oitiva das testemunhas residentes em São Paulo e em TÃO
TÃO DISTANTE (fls. 527) A testemunha BLA BLA foi ouvida às fls. 546/548
dos autos e afirmou que foi empregada de FULANO, por 3 (três) anos. Nessa
condição, disse que atendia as pessoas interessadas em contratar o serviço de
contabilidade do acusado. Disse desconhecer o fato de o patrão formalizar
declarações de imposto de renda para a obtenção de restituição indevida em
prejuízo da Receita Federal. Disse que recebia a documentação pessoal dos
contribuintes, recebia o pagamento pelo serviço, mas que desconhecia as
irregularidades indicadas na denúncia. Por fim, disse não se lembrar de ter
atendido as pessoas cujos nomes constam da inicial acusatória. Em seguida,
designou-se audiência de instrução (fls. 566), no bojo da qual foram ouvidas as
demais testemunhas arroladas nas denúncias (fls. 581/585). E, tendo em vista
que o acusado não foi localizado no endereço indicado nos autos (fls. 574/575),
foi decretada sua revelia (fls. 581). A testemunha XXXXXXX declarou que na
época dos fatos trabalhava numa farmácia de manipulação, na Rua Graciosa.
Disse que um rapaz chamado HOMMER a abordou dizendo que teria direito a
uma restituição de imposto de renda devida a quem recebesse menos de dois
salários-mínimos, mas que não estava sendo paga pelo governo. Em razão
disso, entregou seus documentos pessoais ao rapaz. Disse que chegou a ir ao
escritório de FULANO, para entregar os documentos pessoais de outras
pessoas conhecidas, mas que não conversou com o réu pessoalmente, apenas
com uma secretária chamada Cida. Segundo Cida, FULANO seria a pessoa
responsável por fazer os pedidos de restituição. Disse que foi orientada a
comparecer a uma agência do Banco do Brasil, portando o CPF, para
conseguir sacar o valor da restituição. Declarou que foi chamada a prestar
depoimento na Polícia Federal, ocasião em que descobriu sobre a
irregularidade na restituição. Disse que também compareceu na unidade da
Receita Federal em Diadema. Declarou que recebeu cerca de R$ 700,00
(setecentos reais) a título de restituição. Disse que, ao que se recorda, pagou
para FULANO R$ 40,00 (quarenta reais) para cada pedido de restituição. Disse
que não chegou a devolver nenhum valor para a Receita Federal. Reconheceu
FULANO na fotografia de fls. 19 do processo 1111111-11.2011.111.1111. A
testemunha Edna Floriano da Silva declarou que não chegou a conhecer
FULANO. Disse que uma colega de trabalho chamada MEG, certa vez, no ano
de 2006, comentou que um advogado, que tinha escritório em Diadema, fazia
pedidos de restituição de imposto de renda em favor de pessoas que não
declaravam o imposto, tratando-se de um direito. Disse que entregou seus
documentos pessoais a MEG, mas não as cópias de holerite ou qualquer
documento que indicasse sua remuneração e, posteriormente, recebeu
efetivamente algumas das restituições, não se recordando dos valores. Disse
que pagou R$ 100,00 pelo serviço, também através de MEG. Disse que
chegou a ser intimada a comparecer na Receita Federal, mas que não foi
obrigada a devolver os valores que recebeu. A testemunha Rosangela Maria
Casimiro declarou que uma amiga do trabalho, chamada MEG lhe disse
certa vez que conhecia um advogado, chamado FULANO, que fazia pedidos de
restituição em favor de pessoas que tinham isenção de imposto de renda.
Disse que entregou cópia dos documentos pessoais e pagou R$ 50,00
(cinquenta reais) para MEG leva-los ao tal advogado. Declarou que não
conheceu FULANO pessoalmente. Disse que não chegou a receber o valor das
restituições. Afirmou que, posteriormente, descobriu através de uma colega de
trabalho, que conhecia uma advogada, que haviam caído num golpe. Assim, se
reuniram e compareceram na delegacia de polícia para denunciar o caso. Isso
aconteceu antes da liberação das restituições. Assim, não chegou a fazer o
saque. Superada a fase do artigo 402, do Código de Processo Penal em
audiência sem requerimento de diligências, o Ministério Público Federal
apresentou seus memoriais às fls. 587/590 pugnando pela condenação do
acusado nos termos da denúncia, ante a comprovação da materialidade e da
autoria delitiva, bem como a fixação da pena-base acima do mínimo legal. Em
seguida, a defesa apresentou memoriais às fls. 597/603 alegando,
preliminarmente a existência de nulidade em razão de cerceamento de defesa,
bem como de ilicitude da prova. No mérito, pugnou pela absolvição do
acusado, em razão da atipicidade da conduta e, em caso de condenação,
requereu a fixação da pena base no mínimo legal. Por intermédio da decisão
de fls. 609/610 o julgamento foi convertido em diligência para o fim de se obter
informações mais precisas quanto à data dos fatos e de efetiva disponibilização
dos valores indevidamente restituídos. Em resposta à requisição judicial, a
Receita forneceu os documentos acostados às fls. 614/775 dos autos. O MPF,
então, ratificou suas alegações finais (fls. 777), enquanto que a defesa deixou
transcorrer in albis o prazo que lhe fora concedido para esse fim (fls.
782/784).Certidões e demais informações criminais relativas ao acusados
foram acostadas nos apensos de antecedentes. É o relatório.

FUNDAMENTO E DECIDO.
DAS PRELIMINARES ALEGADAS PELA DEFESA.
Antes de adentrar ao mérito da ação penal, cumpre
apreciar as preliminares suscitadas pela defesa em sede de alegações finais.
DA PRELIMINAR DE NULIDADE DAS PROVAS
Alega a defesa a nulidade das provas acostadas às fls.
262/410 dos autos, consistentes nas declarações de imposto de renda de
clientes do acusado que, por abarcarem informações protegidas pelo sigilo
fiscal, seu acesso somente poderia ter sido obtido mediante autorização
judicial. A preliminar, no entanto, não merece acolhida. Conforme se
manifestou o MPF às fls. 469/471 dos autos, as declarações de imposto de
renda obtidas pelo Parquet junto à Receita Federal correspondem, na verdade,
à própria materialidade delitiva, na medida em que seu conteúdo é
ideologicamente falso, já que não representa a realidade dos rendimentos
tributáveis dos respectivos contribuintes que, segundo informou a Receita,
estavam desobrigados da entrega das declarações nos anos-calendário 2001 a
2005. Em outras palavras, tais declarações foram geradas e transmitidas à
Receita Federal no contexto da prática dos delitos de estelionato em desfavor
da União perpetrados pelo acusado, e não em razão de regular prestação de
serviço de contabilidade aos contribuintes, ocasião em que, sem dúvida
alguma, as respectivas informações fiscais estariam albergadas pela proteção
constitucional invocada pela defesa. Ainda que assim não fosse, é certo que as
declarações de imposto renda fornecidas pela Receita Federal às fls. 262/410
já haviam sido fornecidas voluntariamente pelos respectivos contribuintes às
fls. 30/34 (), 36/37 (), 38/42 (), 43/47 (), 48/52 (), 53/57 (), 58/61 (), 62/65 (),
66/68 (), 87/91 () e 134/138 (), o que por si só esvazia a alegação defensiva.
DA PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA
Ademais, alega a defesa a ocorrência de cerceamento de defesa em razão da
oitiva de testemunhas sem a ciência da defesa técnica e do réu. Além disso, a
decisão de reunião dos processos 000000-00.2007.000.0000 e 1111111-
11.2011.111.1111 teria sido prolatada à mingua da participação da defesa. Em
relação ao primeiro ponto, de fato, não houve a intimação da defesa a respeito
da expedição de precatórias para a oitiva de testemunhas, conforme
determinado à fls. 527 dos autos. A esse respeito, registro, inicialmente, que a
carta precatória expedida para a comarca de BEM BEM DISTANTE, para a
oitiva da testemunha XXXXX retornou negativa, sendo a sua oitiva realizada
posteriormente nos autos com a participação da defesa (fls. 552/562 e
581/585).No que se refere à falta de intimação da defesa acerca da expedição
de carta precatória para oitiva da testemunha YYYYYY, ressalto que nos
termos da Súmula 155, do Supremo Tribunal Federal, é relativa a nulidade do
processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para
inquirição de testemunha. Tal entendimento jurisprudencial está em
consonância com o disposto no artigo 563, do Código de Processo Penal,
segundo o qual nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar
prejuízo para a acusação ou para a defesa. Nesse ponto, a defesa alega que o
prejuízo é presumido, pois através da audiência realizada no juízo deprecado o
Ministério Público Federal teria logrado produzir prova contrária ao réu. No
entanto, da análise do teor do depoimento da testemunha, conforme acima
consignado, verifica-se que Maria Aparecida Jacinto Ramos, embora tenha
reconhecido ter trabalhado para o acusado e, nessa condição, recebido a
documentação pessoal de contribuintes interessados em contratar os serviços
de contabilidade prestados pelo réu FULANO, declarou desconhecer o fato de
o patrão formalizar declarações de imposto de renda para a obtenção de
restituição indevida em prejuízo da Receita Federal. A esse respeito, disse que
desconhecia as irregularidades indicadas na denúncia e, além disso, afirmou
não se recordar de ter atendido no escritório de nenhuma das pessoas cujos
nomes constam da inicial acusatória, e que lhes foram lidos pelo juízo
deprecado. Como se vê, a ausência de prejuízo à defesa decorre da
constatação de que o depoimento de Maria Aparecida é irrelevante para a
demonstração da materialidade e da autoria delitivas, inclusive porque o
próprio acusado, em seus depoimentos, não negou prestar serviço de
contabilidade no escritório BATMAN. E, nos termos do artigo 566, CPP, não
será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na
apuração da verdade substancial ou na decisão da causa. Confira-se, a esse
respeito, os seguintes precedentes do Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª
Região: PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA (ART. 1º, DA LEI Nº 8.137/1990). PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA. NÃO OCORRÊNCIA. INÉPCIA DA INICIAL. NÃO
OCORRÊNCIA. SÚMULA 273 DO STJ. TIPICIDADE DA CONDUTA. AUTORIA
E MATERIALIDADE. DOLO ESPECÍFICO. DESNECESSÁRIO. DOSIMETRIA.
PRIMEIRA FASE. AUMENTO. REDUÇÃO DA PENA RESTRITIVA DE
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. EXTENSÃO AO CORRÉU COM BASE NO
ARTIGO 580, DO CPP. 1. 1. O delito de sonegação fiscal consuma-se quando,
em decorrência das condutas previstas nos incisos I a V, resultar a supressão
ou a redução do tributo devido, isto é, no momento em que ocorrer efetiva
lesão à Fazenda Pública. 2. Com base na pena máxima em abstrato, não está
prescrita a pretensão punitiva estatal. 3. Atendidos os requisitos elencados no
artigo 41 do Código de Processo Penal, incabível a alegação de inépcia da
denúncia. 4. É pacífico o entendimento de que é necessário cientificar a defesa
acerca da expedição da carta precatória, tornando-se desnecessária intimação
da data da audiência no juízo deprecado (cf. STJ, Súmula 273). 5. O princípio
que norteia o sistema de nulidade do nosso Código de Processo Penal é o de
que elas só devem ser declaradas quando demonstrada a ocorrência de
prejuízo para a defesa (artigo 563, do CPP). 6. Materialidade e autoria.
Configuração. (...). (Ap. 00008070820084036115, DESEMBARGADOR
FEDERAL MAURICIO KATO, TRF3 - QUINTA TURMA, e-DJF3 Judicial 1
DATA:04/07/2018 ..FONTE_REPUBLICACAO:.). Grifei. PENAL. PROCESSO
PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 29, 1º, III, DA LEI N. 9.605/98.
INTIMAÇÃO. EXPEDIÇÃO DA CARTA PRECATÓRIA. INTIMAÇÃO DA
AUDIÊNCIA. INEXIGIBILIDADE. SENTENÇA. FUNDAMENTAÇÃO.
PREJUÍZO. EXIGIBILIDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA
DEMONSTRADAS. DOSIMETRIA. AFASTAMENTO DA CAUSA DE
AUMENTO DO ART. 29, 3º, I, DA LEI N. 9.605/98. JUSTIÇA GRATUITA. 1.
Não é necessária a intimação da data da audiência no juízo deprecado, uma
vez intimada a defesa da expedição da carta precatória (STJ, Súmula n. 273).
2. E a nulidade por falta de intimação da expedição da precatória é relativa
(STF, Súmula n. 155) a exigir comprovação de efetivo prejuízo para a
caracterização de nulidade (CPP, art. 563). 3. No processo penal vige a
máxima pas de nulitté sans grief segundo a qual se exige a demonstração de
prejuízo para a configuração da nulidade, princípio válido também no que toca
à necessidade de fundamentação da sentença. 4. Materialidade e autoria
demonstradas. 5. Defiro o pedido da gratuidade da justiça pleiteada pelo
apelante, salientando que, não obstante sua concessão, há de ser mantida a
responsabilidade do beneficiário pelas despesas processuais e pelos
honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência (CPC/15, art. 98, 2º),
ficando, no entanto, sobrestado o pagamento, enquanto perdurar a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão da gratuidade, pelo prazo
de 5 (cinco) anos, ocorrendo, após, a extinção da obrigação (CPC/15, art. 98,
3º). 6. Apelação parcialmente provida. (ACR 00072809520124036106,
DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW, TRF3 - QUINTA
TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:17/05/2017 ..FONTE_REPUBLICACAO:.).
Grifei. Cumpre salientar, ademais, que a alegação defensiva está acobertada
pela preclusão, na medida em que após a oitiva da referida testemunha, por
precatória, a defesa esteve presente na audiência de instrução realizada neste
Juízo, sem aventar a ocorrência de qualquer nulidade, inclusive na fase do
artigo 402, CPP (fls. 581).No mesmo sentido deve ser decidida a alegação
defensiva de cerceamento de defesa relativo à reunião dos processos para
julgamento conjunto. De fato, a defesa também tem razão quando afirma não
ter sido instada a se manifestar a respeito do pedido formulado pelo MPF às fls.
86/88 dos autos do processo 000000-00.2007.000.0000, e acolhido no bojo da
decisão de fls. 91. No entanto, na oportunidade que teve para se manifestar a
respeito, na audiência de instrução, nada foi requerido ou alegado (fls. 581).
Acrescente-se, ainda, que a reunião dos feitos não trouxe qualquer prejuízo à
defesa, que participou diretamente da colheita da prova oral, tanto em relação
às testemunhas arroladas na denúncia relativa ao processo 000000-
00.2007.000.0000 (Edna Floriano da Silva e Rosângela Maria Casimiro ),
quanto aquela arrolada na denúncia relativa ao processo 1111111-
11.2011.111.1111 (FULANA). Ademais, objeto de ambas as denúncias é
análogo, e a tese defensiva de mérito aventada nas alegações finais aproveita
tanto a um quanto ao outro feito, o que foi feito, inclusive, nas respectivas
respostas às acusações, apresentadas antes da reunião dos feitos. Diante do
exposto, afasto as preliminares suscitadas pela defesa, e passo ao exame do
mérito.
DA MATERIALIDADE.A materialidade do delito de
estelionato em detrimento da União Federal está devidamente comprovada nos
autos pelo boletim de ocorrência de fls. 06/15 dos autos do processo 000000-
00.2007.000.0000, pelos depoimentos dos contribuintes de fls. 85, 92/93, 100,
101, 102, 103, 104/105, 106/107, 109/110, 114/115 dos autos do processo
000000-00.2007.000.0000 e 20/21 e 30/31 dos autos do processo 1111111-
11.2011.111.1111, pelo laudo de exame de dispositivo de armazenamento
computacional de fls. 238/246 dos autos do processo 000000-
00.2007.000.0000, pelos dados fornecidos pela Receita Federal do Brasil a
respeito das declarações de imposto de renda fraudulentas e das restituições
indevidas delas decorrentes de fls. 262/410 e 614/775 dos autos do processo
000000-00.2007.000.0000 e pelos depoimentos colhidos em juízo (fls. 585).
Com efeito, restou apurado que no período compreendido entre 25/10/2006 e
31/07/2007 ao menos 65 (sessenta e cinco) declarações de imposto de renda
ideologicamente falsas relativas aos anos-calendário 2001 a 2006 foram
formalizadas em nome de 15 (quinze) contribuintes distintos e transmitidas à
Receita Federal com o intuito de gerar o pagamento de restituições de imposto
de renda indevidas em prejuízo da União, no valor de pelo menos R$
22.694,09 (vinte e dois mil seiscentos e noventa e quatro reais e nove
centavos), conforme a tabela que segue: Em relação às diversas declarações
de imposto de renda cujos dados foram encontrados nos programas da Receita
Federal, instalados no computador do acusado, mas cujos contribuintes não
foram identificados, não há como se aferir se as respectivas declarações de
imposto de renda tenham sido transmitidas com dados ideologicamente falsos
e, portanto, se as restituições dela decorrentes efetivamente eram indevidas. O
mesmo se diga em relação às declarações de imposto de renda acostadas nos
Apensos I e II dos autos do processo 1111111-11.2011.111.1111.
DA AUTORIA E DO ELEMENTO SUBJETIVO.
Demonstrada a existência dos crimes, é certo que sua
autoria recai parcialmente sobre o acusado FULANO, que voluntariamente
formalizou e transmitiu declarações de imposto de renda em favor de
contribuintes isentos do recolhimento desse tributo, ciente de que seus
rendimentos tributários eram distintos daqueles declarados à Receita, com o
intuito de gerar o pagamento de restituições indevidas de tributo. Com efeito, e
à exceção de OUTROS FULANOS, apurou-se que os demais contribuintes
acima indicados eram empregados da empresa SEI LÁ INDÚSTRIA E
COMÉRCIO LTDA e que em meados de 2006 foram informados por uma
colega de trabalho chamada MEG que um suposto advogado, que tinha
escritório Rua Graciosa, Centro, Diadema, poderia obter restituição de imposto
de renda em favor de contribuintes que gozassem de isenção do pagamento
desse imposto. Para tanto, deveriam simplesmente apresentar cópia dos
documentos pessoais, tais como Cédula de Identidade, cartão de CPF, título de
eleitor e CTPS e pagar pelo serviço, que era medido em razão do número de
declarações geradas e transmitidas à Receita. OUTROS FULANOS, por outro
lado, souberam da oportunidade através de terceiros ou por trabalharem nas
imediações do referido escritório. Esse suposto advogado foi identificado como
sendo o acusado FULANO, que foi conduzido à presença da autoridade policial
para prestar depoimento, na presença de defensor, quando entregou a CPU do
computador instalado no escritório sediado na EM ALGUM LUGAR, e
confirmou a prestação de serviço de contabilidade aos empregados da
empresa SEI LÁ, dentre outros clientes, além de ter sido reconhecido por
alguns dos contribuintes (fls. 26/27 e 150/151). Embora tenha afirmado, nas
ocasiões em que foi ouvido, que fazia as declarações de imposto de renda
segundo as informações relativas aos rendimentos conforme apresentadas
pelos respectivos interessados, a Receita Federal confirmou nos autos que os
referidos contribuintes gozavam de isenção de imposto de renda (fls. 262 e
seguintes), de modo que o valor anual de seus rendimentos era insuscetível de
gerar o direito à restituição de imposto que sequer fora recolhido. Aliás, o dolo
do acusado também pode ser extraído da circunstância de ter angariado
clientes, valendo-se de terceiros, garantindo o direito à restituição para pessoas
isentas do pagamento de imposto de renda, sem antes analisar a situação
fiscal de cada uma, conforme afirmou que supostamente fazia, no depoimento
de fls. 150/151. Além de ter admitido ter transmitido as declarações de imposto
de renda dos funcionários da empresa SEI LÁ, é certo que a perícia realizada
no disco rígido do computador do acusado revelou a presença dos arquivos
gerados e transmitidos à Receita Federal, nas pastas dos respectivos
programas de ajuste anual, inclusive em relação a FULANO 2. No que se
refere a FULANA, embora tenha afirmado em juízo que o acusado tenha sido a
pessoa responsável pela formalização e transmissão das declarações de
imposto de renda que lhe geraram restituições indevidas em relação aos anos-
calendário 2002, 2004, 2005 e 2006, conforme a tabela supra e os dados
constantes dos autos, é certo que não outras provas nos autos, além de seu
próprio depoimento, que revelem a atuação de FULANO nesse sentido, já que
as declarações de imposto de renda de MARIA DAS DORES não foram
localizadas nas pastas de declarações geradas e transmitidas através do
computador apreendido e periciado nos autos (fls. 238/246).O mesmo se diga
em relação a JOSÉ AROLDO MOREIRA DE PAULA (fls. 22), EMY DE
NASCIMENTO SILVA (fls. 23/24) e BART GOMES DA SILVA (fls. 25/26),
mencionados nominalmente na denúncia de fls. 40/42 (processo 1111111-
11.2011.111.1111).EMY, aliás, afirmou em sede de inquérito que suas
declarações de imposto de renda foram realizadas por uma pessoa chamada
ZENILDA, enquanto que BART, que é marido de EMY, afirmou que entregou
seus documentos para que a esposa cuidasse do assunto. Como se vê, o
conjunto probatório amealhado no curso das investigações e da instrução
probatória autoriza a conclusão no sentido de que FULANO, no período
compreendido entre 25/10/2006 e 16/11/2006 formalizou e transmitiu à Receita
Federal ao menos 61 (sessenta e uma) declarações de imposto de renda
ideologicamente falsas relativas aos anos-calendário 2001 a 2006, em nome de
14 (contribuintes) contribuintes distintos e transmitidas à Receita Federal,
obtendo vantagem indevida em prejuízo da União, consistente no pagamento
de restituições de imposto de renda em favor de contribuintes isentos, no valor
de pelo menos R$ 21.602,19 (vinte e um mil seiscentos e dois reais e
dezenove centavos), sendo de rigor a condenação do acusado.
A esse respeito, confira-se o seguinte precedente do E.
TRF-3, relativo a hipótese fática análoga a dos autos: APELAÇÃO CRIMINAL.
ESTELIONATO PRATICADO CONTRA A RECEITA FEDERAL DO BRASIL.
MATERIALIDADE, AUTORIA E DOLO COMPROVADOS. DOSIMETRIA
REFORMADA. 1 - Os réus foram acusados de serem responsáveis pela fraude
em aproximadamente 12.000 declarações de imposto de renda pessoa física,
das quais foram analisadas 176, por amostragem, constatando-se em todas o
ardil. Destas 176 declarações, em 114 declarações houve depósito aos
contribuintes do valor do imposto indevidamente restituído, gerando prejuízo ao
erário na ordem de R$ 103.034,57. Quanto as demais, em 42 declarações
houve bloqueio do valor por parte da Receita Federal, e em 20 não se apurou
se houve ou não o efetivo depósito. 2 - Observa-se que a fraude praticada
pelos réus restou comprovada pela análise da Receita Federal feita por
amostragem das declarações de imposto de renda que estavam
acondicionadas nos computadores dos réus, com a demonstração do ardil em
107 declarações das 6.512 analisadas inicialmente; pelas peças informativas
constantes da "Informação de Pesquisa e Investigação 008/2005"; pelo Laudo
de Exame Econômico e Financeiro, comprovando a ilegalidade de 20
declarações analisadas de um total de 87 declarações; pelas declarações das
funcionárias do escritório de contabilidade em questão, demonstrando a
errônea orientação que lhes eram passadas pelos réus, uma vez que deveriam
sempre colocar valor superior ao imposto ret ido na fonte; além das
declarações feitas pelos contribuintes, no sentido da fraude. 3 - Das
declarações com fraude analisadas, extrai-se as seguintes situações: a) o
contribuinte não teve imposto retido na fonte e mesmo assim restituiu imposto
de renda; b) o contribuinte teve imposto retido na fonte e teve uma restituição
indevida de imposto de renda maior do que efetivamente pagou; c) o
contribuinte teve imposto retido na fonte e restituiu imposto de renda
indevidamente, mas em valor inferior ao que efetivamente pagou. (...). 6 -
Registra-se, por fim, que para a situação em que não houve qualquer tipo de
pagamento ou retenção prévia de imposto por parte do contribuinte, havendo,
mesmo assim, "restituição" desse tributo, é clara hipótese de estelionato contra
a Receita Federal do Brasil. (...). 8 - Feitas essas considerações, a
materialidade do crime de estelionato contra a Receita Federal do Brasil restou
configurada para as situações analisadas em que houve retenção de imposto
de renda e devolução a maior, bem como para os casos em que não houve
retenção de imposto de renda e mesmo assim houve restituição do imposto. 9 -
No que diz respeito à quantidade de declarações ilícitas, entende-se por bem
limitar as hipóteses para aquelas efetivamente analisadas pela Receita Federal
do Brasil, quais sejam, 173 declarações (excluindo-se 03 para as quais
reconheci, em tese, apenas o crime de sonegação fiscal). 10 - Não há dúvidas
também de que as declarações de imposto de renda foram feitas por
orientação, determinação e supervisão dos réus, como responsáveis pela
empresa ORGANIZAÇÃO CONTÁBIL NAÇÕES. Não há também como negar
que os réus tinham absoluta consciência das irregularidades cometidas. 11 - O
dolo é evidente e resta ainda mais óbvio quando se percebe que os réus
providenciaram a "restituição" de imposto de renda para pessoas que sequer
haviam pago imposto de renda. E mais, conscientes da conduta ilícita,
orientavam seus subordinados a preencher de determinada forma a
declaração, com o aventado argumento legal, aproveitando-se das suas
ignorâncias sobre o assunto e obediência aos comandos que lhes eram
repassados. 12 - Dessa forma, resta comprovado que os réus, obtiveram para
si ou pra outrem, vantagem ilícita (restituição de imposto de renda indevida),
em prejuízo alheio (Receita Federal do Brasil), induzindo ou mantendo alguém
em erro (declarações inidôneas), mediante artifício, ardil ou qualquer outro
meio fraudulento (declaração do imposto retido na fonte superior ao
efetivamente recolhido). (...).(ACR 00035708020054036181,
DESEMBARGADORA FEDERAL CECILIA MELLO, TRF3 - DÉCIMA
PRIMEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:14/12/2016
..FONTE_REPUBLICACAO:.). Grifei.

TIPICIDADE
Portanto, restou demonstrado que FULANO, consciente e
voluntariamente, obteve vantagem econômica ilícita em detrimento da União,
para si e para terceiros, consistente na percepção de restituição de imposto de
renda em favor de contribuintes desobrigados do recolhimento do imposto,
induzindo em erro a Receita Federal do Brasil mediante expediente
fraudulento, consubstanciado em declarações de imposto de renda
ideologicamente falsas. Referida conduta amolda-se à descrição típica do delito
previsto no art. 171, 3º, do CP, que é assim descrito: "Art. 171 - Obter, para si
ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa".(...) 3º -" A pena aumenta-
se de 1/3 (um terço), se o crime é cometido em detrimento de entidade de
direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência. "Tendo em vista que o crime foi perpetrado em detrimento de
entidade de direito público, a saber, a Receita Federal, incide a causa de
aumento de pena prevista no 3º do art. 171 do CP.A existência de
disponibilização do valor da restituição aos contribuintes é suficiente à
consumação do crime de estelionato, ainda que eventualmente o respectivo
valor não tenha sido sacado ou que a restituição tenha sido anulada de ofício
pela Receita, após sua indevida concessão (ano-calendário 2002).Ademais,
tendo o agente, mediante mais de uma ação, praticado diversos crimes nas
mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução, devem os
subsequentes ser havidos como continuação dos primeiros, aplicando-se-lhe a
pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços, na forma do artigo
71 do Código Penal. No tocante à pena de multa, é inaplicável a aplicação da
regra do artigo 72 ás hipóteses de crime continuado.
Nesse sentido: PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME
CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA. ARTIGO 1º, INCISO I, DA LEI Nº 8.137/90.
PRELIMINAR DE INÉPCIA DA DENÚNCIA AFASTADA. MATERIALIDADE E
AUTORIA COMPROVADAS. DOLO DEMONSTRADO. DOSIMETRIA. PENA-
BASE MANTIDA. RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO E
REDIMENSIONAMENTO DA PENA DE MULTA DE OFÍCIO. SÚMULAS DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ARTIGO 12 DA LEI N. 8.137 NÃO
APLICADO. OBSERVÂNCIA PRINCÍPIO NON BIS IN IDEM. ARTIGO 72 DO
CÓDIGO PENAL INCABÍVEL NAS HIPÓTESES DE CRIME CONTINUADO.
RECURSOS DA DEFESA E DA ACUSAÇÃO DESPROVIDOS. (...). 5. Pena de
multa redimensionada de ofício. No crime continuado, deve ser seguido o
mesmo critério utilizado para o cálculo da pena privativa de liberdade,
aplicando-se, também, o artigo 71 e não o artigo 72 do Código Penal, o qual se
aplica ao concurso de crimes. Precedentes desta Corte Regional e do Superior
Tribunal de Justiça. (...).(Ap. 00025583320044036127, DESEMBARGADOR
FEDERAL HÉLIO NOGUEIRA, TRF3 - PRIMEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1
DATA:23/05/2018 ..FONTE_REPUBLICACAO:.). Grifei. DISPOSITIVO
Ante o exposto, julgo parcialmente procedentes as ações
penais para CONDENAR o réu FULANO pela prática dos crimes de estelionato
previdenciário narrados nas denúncias, por 61 (sessenta e uma) vezes, na
forma dos artigos 171, 3º e 71, ambos do Código Penal.

DOSIMETRIA DA PENA
Passo, então, à aplicação da pena, conforme o critério
trifásico determinado pelo art. 68 do Código Penal, iniciando-se pela análise
conjunta das circunstâncias judiciais do artigo 59, CP para todos os delitos. A
esse respeito, registro que das informações relativas aos apontamentos
existentes na folha de antecedentes do acusado, constantes do apenso de
antecedentes, não verifico a existência de condenações com trânsito em
julgado. Em relação ao processo 2222222-22.2222.222.2222, que tramitou na
3ª Vara Federal desta Subseção Judiciária, embora o acusado tenha sido
condenado definitivamente, é certo que os fatos a ele atribuídos foram
praticados em 01/10/2008, conforme se verifica da respectiva guia de
recolhimento definitivo, portanto posteriormente àqueles tratados nos autos e,
sendo assim, insuscetíveis de acarretar a exasperação da pena-base. Para
além das anotações criminais na folha de antecedentes do acusado, não há
outros elementos nos autos relativos à personalidade e à conduta social da ré.
A culpabilidade - juízo de reprovação da conduta que lhe foi atribuída - não
desborda da normalidade. Os motivos e as circunstâncias do crime são
próprios ao tipo penal em questão, e não há que se ponderar sobre o
comportamento da vítima. Por outro lado, embora o valor do prejuízo causado
à Receita Federal não seja elevado (R$ 21.602,19), é certo que as
consequências do crime geraram repercussão negativa para os próprios
contribuintes que foram ludibriados pelo acusado. Com efeito, para além da
necessidade de comparecerem na Receita Federal, na Polícia Federal e em
Juízo para prestarem esclarecimentos sobre os fatos, é certo que alguns dos
contribuintes, pessoas de menor poder aquisitivo, tanto é que se situavam
dentro do limite de isenção do imposto de renda, foram responsabilizados, na
via administrativa, pela repetição do valor indevidamente pago a título de
restituição, conforme se verifica dos depoimentos e documentos de fls. 92/93,
99, 114/115 e 122/129.Portanto, elevo a pena-base na fração de 1/6 (sexto) e
fixo a pena-base em 1 (ano) ano e 2 (dois) meses de reclusão e 11 (onze) dias-
multa. Na 2ª fase da dosimetria da pena não há circunstâncias atenuantes ou
agravantes, razão pela qual fixo as penas intermediárias nos patamares
estabelecidos na fase anterior. Na terceira fase de aplicação da pena, verifico a
incidência da causa de aumento prevista no 3º do art. 171, porquanto os crimes
foram praticados em detrimento de entidade de direito público, conforme acima
fundamentado. Por essa razão elevo a pena intermediária em 1/3 (um terço),
de sorte a resultar em 1 (um) ano, 6 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão
e 14 (catorze) dias-multa. Incide, ainda, a causa de aumento de pena da
continuidade delitiva. Considerando que o acusado praticou o crime 61
(sessenta e uma) vezes, faço incidir a fração de 2/3 (dois) terços, e torno as
penas definitivas em 2 (dois) anos, 7 (sete) meses e 3 (três) dias de reclusão e
23 (vinte e três) dias-multa. Cada dia-multa fixado na condenação
corresponderá a 1/30 (um trigésimo) do valor do salário-mínimo mensal vigente
na época dos fatos, pois não verifico nos autos qualquer elemento concernente
à capacidade econômica que seja apto a justificar eventual aumento. O valor
da multa será atualizado a partir da data do fato.Com base nos art. 33, 2º, "c", e
59 do Código Penal, a pena privativa de liberdade será cumprida inicialmente
em regime aberto, observado o disposto no art. 36 do mesmo diploma legal.
Constato que estão presentes os requisitos legais objetivos e subjetivos
constantes do art. 44 do Código Penal, sobretudo em razão de a circunstância
judicial das consequências do crime, valorada negativamente, não constar do
rol do artigo 44, III, CP, razão pela qual SUBSTITUO a pena privativa de
liberdade ora aplicada por duas restritivas de direitos, estabelecidas a seguir:1)
uma pena de prestação de serviços à comunidade ou a entidade pública, a ser
definida pelo Juízo da Execução e que terá a mesma duração da pena corporal
substituída, nos termos do art. 46 e do Código Penal; 2) uma pena de
prestação pecuniária consistente no pagamento de 5 (cinco) salários-mínimos,
em favor da União (art. 45, 1º do CP).Nos termos do artigo 387, 1º, CPP,
reconheço ao réu o direito de recorrer em liberdade. Por outro lado, entendo
ser inaplicável o disposto no artigo 387, inciso IV, CPP, porquanto pressupõe
pedido formulado pela parte legítima e oportunidade de exercício do
contraditório e da ampla defesa acerca do valor mínimo para a reparação do
prejuízo, o que não ocorreu no caso. De qualquer modo, é efeito automático da
condenação tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime,
nos termos do artigo 91, I, do Código Penal. Condeno a ré ao pagamento das
custas (artigo 804, CPP). Após o trânsito em julgado da sentença, oficiem-se
aos departamentos criminais competentes para fins de estatística e
antecedentes criminais (IIRGD e NID/SETEC/SR/DPF/SP), bem como ao
Tribunal Regional Eleitoral, para fins do disposto no artigo 15, III, da
Constituição Federal de 1988, bem como expeça-se a guia definitiva de
cumprimento da pena.
P.R.I.C.
SENTENÇA PUBLICADA DIA: 25/07/2018
TRÂNSITO EM JULGADO PARA O MP: 30/07/2018
INTIMAÇÃO DA DEFESA: 21/05/2019

Diante da sentença e do que pode inferir da interpretação


desta, indique de forma fundamentada o recurso cabível, as teses que
envolvem o caso e a data do último dia do prazo para protocolo da petição.

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