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Marina Gadelha

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O artigo de Jean-Claude Bernadet, no jornal Última Hora, em abril de
1978 vai mais além: “Não é à toa que Mazzaropi tem sucesso.
Mazzaropi só tem sucesso porque seus filmes abordam problemas
concretos, reais, que são vividos pelo imenso público que acorre a seus
filmes. Não é só porque é careteiro e tem um andar desengonçado. É
porque põe na tela vivências e dificuldades de seus espectadores, e se
assim não fosse, não teria o sucesso que tem”.
[...]

Jeca Tatu - LEMAD (Laboratório de Ensino e Material Didático)

Mazzaropi em seu filme JECA TATU, de 1960, interpreta esse


personagem que é ao mesmo tempo cômico e sofredor,
transparecendo as dificuldades do campo e concretizando a imagem
do caipira assim como a criada por Monteiro Lobato.

Jeca Tatu de Mazzaropi e de Monteiro Lobato (em sua primeira fase)


se aproximam em praticamente todos os aspectos. Cômico em seu modo de agir, o Jeca representa o caipira,
o camponês que vive com o mínimo necessário, segue um ritmo de trabalho, possui um linguajar, costumes
alimentares e culturais específicos, não seguindo as imposições impelidas pelo avanço tecnológico e
econômico dos grandes centros urbanos.
[...]
Assim como descrito por Lobato, Mazzaropi construiu seu personagem, já que, o Jeca não possui
trabalhadores, tendo somente sua família como força de trabalho, além de ser preguiçoso ao extremo; o Jeca
está sempre “ocupado e cansado”. Sujeito acanhado frente às situações adversas, demora para abrir a boca
ou tomar qualquer atitude, na verdade, o Jeca tem muito medo de enfrentar os problemas.

Sua posição “natural” é ficar de cócoras, e é através dessa posição que o Jeca assiste aos acontecimentos
políticos, sem demonstrar nenhum interesse.

No entanto, o Jeca, assim como está na propaganda do filme “Ele é preguiçoso, mas com bom coração, ele é
JECA TATU”, mostra o outro lado do personagem; o lado explorado no filme dentro da trama que busca
incriminar o Jeca e também expulsá-lo de suas terras. Trama que revela outra face da vida caipira e de
fundamental importância para a manutenção do seu sistema de vida estou falando da vida em comunidade,
bairro, vizinhanças.

Esse aspecto da vida caipira é revelado no momento que o Jeca perde tudo e os seus vizinhos, amigos, o
auxiliam na reconstrução de sua vida. E nessa reconstrução vemos o papel do político, o qual refaz a vida do
Jeca lhe cedendo casa e terras, fazendo com que o Jeca adquira meios mais civilizados para viver, esperando
em contrapartida os votos advindos do apoio desse representante do povo e bem-querido da população local.

Enfim, esse personagem nos mostra bem a imagem que foi fixada no imaginário popular a respeito do caipira,
sendo de forma muito extremada a representação de aspectos como a preguiça, ignorância, maus hábitos,
etc. que sabemos não serem realmente dessa forma, mas sim adaptações ao meio em que vivem e que são
tratadas pelos povos urbanos de forma equivocada.

(retirado de https://makingoff.org/forum//index.php?showtopic=50677)

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