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compoe-o-clima-escolar

Publicado em NOVA ESCOLA 28 de Junho | 2018

Pesquisa Aplicada

Você sabe o que compõe o


clima escolar?
A maneira pela qual os indivíduos percebem coletivamente o
clima da escola traz significativas influências sobre o
comportamento dos grupos
Adriano Moro

As primeiras pesquisas de referência sobre clima escolar são da década de


1950: para estudos no Brasil, um grupo da Unicamp e Unesp definiu um
conceito Foto: Davidson Luna/Unsplash

Os estudos sobre o clima escolar na Educação Básica são vistos como importantes
nacional e internacionalmente, principalmente, porque o clima escolar seria capaz de
interferir na melhoria das relações sociais, com as famílias e com a comunidade,
auxiliar no processo de inclusão dos alunos, aumento do rendimento acadêmico,
diminuição do abandono escolar e prevenção de situações de bullying, além de
contribuir para uma menor rotatividade dos professores.
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Diversas pesquisas pontuam que a maneira pela qual os indivíduos percebem e


experimentam coletivamente o clima da escola traz significativas influências sobre o
comportamento dos grupos, sugerindo uma associação, principalmente, à qualidade
da aprendizagem e das relações interpessoais na escola. Mas, afinal, o que é clima
escolar e como podemos conceituá-lo?

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A palavra “clima”, como bem sabemos, tem diversos significados. O conceito original
remete aos fenômenos naturais, como frio e calor. No campo das Ciências Sociais,
refere-se à forma como as pessoas se relacionam entre si e às características de um
ambiente social particular. Não raro, ao adentrarmos um local, temos uma percepção
do clima que paira por ali, que pode ser harmonioso, alegre, tenso, etc. Tal percepção
orienta nosso comportamento e interfere diretamente em nosso bem-estar. O
ambiente escolar não é diferente: possui seu clima próprio, que é percebido por todos
os que lá convivem.

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As primeiras pesquisas sobre clima escolar, na década de 1950, consistiram na


transposição para o meio educacional de estudos já desenvolvidos no meio industrial e
militar, em torno da problemática do “clima organizacional”. À época, os americanos
Andrew W. Halpin e Don B. Croft sistematizaram um instrumento de medida chamado
Organizational Climate Descriptive Questionnaire (OCDQ), o qual foi organizado e
direcionado para a análise do ambiente escolar, na perspectiva do professor em
relação ao comportamento de seus gestores.

Anos mais tarde, na década de 1970, o francês Finlayson, prosseguindo com as


investigações, reconheceu a necessidade de incluir a percepção dos estudantes, e não
somente de professores e equipe gestora. Desde então, diversas pesquisas têm sido
estruturadas para avaliar o clima da escola. No entanto, passadas décadas de estudo,
ainda não há consenso entre os pesquisadores do tema, em diferentes países, a
respeito de um conceito único.

Em 2007, o National School Climate Council, juntamente com o National Center for
Learning and Citizenship, Education Commission of the States , nos Estados Unidos,
definiram o conceito de clima escolar baseando-se nas percepções e padrões de
experiências das pessoas sobre a vida escolar, refletindo as normas, metas, valores,
relações interpessoais, práticas de ensino e aprendizagem e estruturas organizacionais.
Este tem sido, desde então, o principal ponto de partida, por meio do qual o clima
escolar vem sendo mensurado.

Embora a relevância do clima para as instituições escolares seja reconhecida


internacionalmente, ainda não contávamos no Brasil com instrumentos de medida
devidamente validados e adaptados à nossa realidade. Com o objetivo de construir o
primeiro conjunto de instrumentos para avaliação do clima das escolas brasileiras e
estabeler um conceito norteador para as pesquisas em nosso país, o Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), da Unicamp/Unesp, do qual faço parte,
realizou, em 2016, uma ampla revisão da literatura nacional e internacional sobre
avaliações do clima escolar.

Verificamos que além do conceito, as dimensões avaliativas e o foco das investigações


também são bem diversos. As pesquisas analisadas centralizam suas investigações em
aspectos específicos da vida escolar e, nesse sentido, elegem dimensões também
específicas para a investigação. Em consequência disto, os estudos focam em
diferentes climas, ainda que voltados para a escola, como por exemplo: o clima social,
em que são abordadas questões referentes às interações entre os atores educativos; o
clima acadêmico, incluindo o estudo das atitudes, valores e expectativas dos indivíduos
da instituição sobre a educação; clima disciplinar, que diz respeito a organização e
condução das aula, e o clima organizacional, no qual são estudados aspectos relativos
às interações entre a gestão e os professores.

Além disso, são raros os instrumentos de medida que mensuram as percepções de


todos os principais atores escolares (alunos, professores e gestores). Por vezes, as
pesquisas analisam as percepções exclusivamente dos gestores, outras, dos
professores e gestores, e outras ainda sobre as percepções dos alunos. Este é um
aspecto importante pois, se estamos interessados em avaliar o clima da escola, de
modo a contemplar os diferentes aspectos do cotidiano escolar, é imprescindível que
possamos mensurar a percepção de todos que fazem parte do processo educativo.

De modo geral, constatamos que a literatura permite afirmar que o clima da escola
compreende a junção das percepções dos alunos, professores, gestores, pais e
funcionários em relação ao universo escolar, tanto sobre a instituição de ensino como
um todo, quanto sobre a sala de aula em específico. Isso inclui desde a organização
administrativa e educacional até as relações entre os que convivem naquele espaço.
Isso posto, após muita pesquisa e reflexão, o GEPEM estabeleceu, também em 2016, o
conceito que passou a balizar os nossos estudos no tema, definindo que o clima é
constituído por avaliações subjetivas e refere-se à atmosfera psicossocial de uma
escola, sendo que cada uma possui o seu clima próprio. Ele influencia na dinâmica
escolar e, por sua vez, é influenciado por ela. Deste modo, interfere na qualidade de
vida e na qualidade do processo de ensino e de aprendizagem.

A partir desse conceito, elaboramos três instrumentos de medidas (disponíveis no site


da biblioteca digital da Unicamp), que envolvem oito dimensões, e são capazes de
avaliar o clima escolar na perspectiva dos alunos, professores e gestores da Educação
Básica. Nos próximos artigos, falarei sobre eles.

*Adriano Moro é doutor em Educação pela Unicamp e mestre em Psicologia da


Educação pela PUC-SP. Ele integra o Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação
Moral (Gepem), da Unicamp/Unesp e atua no departamento de pesquisas da
Fundação Carlos Chagas (FCC).

Para saber mais:

HALPIN, A. W.; CROFT, D. B. Organizational climate of schools. Chicago: Midwest


Administration Center, University of Chicago, 1968.

FINLAYSON, D. S. Comment évaluer le “climat? de l’école. In: BEAUDOT, A. Sociologie de


L’école. Paris: Dunot, 1981. p. 121-135.
NATIONAL SCHOOL CLIMATE COUNCIL. The School Climate Challenge: Narrowing the
gap between school climate research and school climate policy, practice guide lines
and teacher education policy. 2007.

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