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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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EFEITOS IMEDIATOS DA PRÉ-ATIVIDADE MÁXIMA DOS ANTAGONISTAS SOBRE


A TENSÃO ISOMÉTRICA MÁXIMA E SINAL ELETROMIOGRÁFICO
1
Gabriel Andrade Paz ,
1
Marianna de Freitas Maia ,
1
Felipe Luis dos Santos Santiago ,
1
Priscila Soares do Santos ,
1,2
Vicente Pinheiro Lima

RESUMO ABSTRACT

O objetivo do estudo foi verificar o efeito agudo Acute effects of antagonists maximum pre-
da pré-atividade máxima dos antagonistas activity on isometric maximum tension and
(PA) sobre a tensão isométrica máxima electromyographic signal
(Tmáx) e sinal eletromiográfico (EMG). Foram
voluntários 10 sujeitos do sexo masculino com The purpose of this study was to investigate
23,1±3 anos de idade praticantes de the acute effect of antagonists maximum pre-
treinamento de força há no mínimo 6 meses. activity (PA) on the max isometric tension
No primeiro dia, realizou-se a familiarização e (Tmax) and electromyographic signal (EMG).
teste de Tmáx na célula de carga no exercício Volunteers were 10 male subjects with 23.1 ±
de remada sentada aberta pronada (RA). No 3 years old, practitioners of strength training for
segundo dia, aplicou-se o protocolo de Tmáx at least 6 months. The first day was held
através do apoio de frente (AF), conhecido familiarization on Tmax test on the load cell in
também como, “flexão de braços”, seguido the seated row exercise (RA). On the second
pelo teste de Tmáx no RA. Na estatística day was applied the protocol of Tmax through
descritiva, calculou-se a média e desvio- push-up exercise (PU) followed by the Tmax in
padrão das variáveis e na inferencial aplicou- RA. On the descriptive statistics was
se o Teste T pareado para comparar a Tmáx e calculated the mean and standard deviation of
percentual de root mean square (RMS) do the variables. In the inferential statistics was
sinal EMG dos músculos deltóide porção applied the paired T test to compare the
clavicular (DC) e espinal (DE), latíssimo do percentage of Tmax and root mean square
dorso (LD) e peitoral porção clavicular (PC) (RMS) of EMG activity of the anterior deltoid
adotando-se p<0,05. Nos resultados, não se (AD), posterior deltoid (PD), latissimus dorsi
verificou diferença estatística significativa na (LD) and clavicular pectoralis (CP) by adopting
média de Tmáx em kgf 34,2±11,7 sem pré- a p <0.05. In the results, there was no
ativação (pré) em kgf 32,5±12 após pré- statistically significant difference in mean Tmax
ativação dos antagonistas (pós). Quanto ao 34.2 ± 11.7 kgf without pre-activation (pre) and
sinal EMG, nos músculos agonistas no 32.5 ± 12 kgf after pre-activation of antagonists
exercício da RA verificou-se redução do (post). Regarding the EMG signal, the agonist
percentual de RMS do DE no pré (%) 62±45,8 muscles in the course of RA there was a
e no pós (%) 59,5±40, assim como, para o LD reduction in the percentage of the RMS for PD
no pré (%) 6,5±10% e pós 7,6±17,5%, on pré (%) 62±45.8% and post 59.5±4, as well
entretanto, a redução não foi significativa. as for the LD in pré 6.5±10 and post 17.5±
Logo, a PA parece não interferir na Tmáx e 7.6%, however, the reduction was not
sinal EMG dos agonistas, entretanto, mais significant. Therefore, the PA does not seem to
estudos são necessários para compreender os interfere with the Tmax and EMG of the
mecanismos neurais envolvidos na produção agonists, although, more studies are needed to
de força muscular. understand the neural mechanisms involved in
the power output.
Palavras-chave: Coativação; Antagonistas;
Contração isométrica; Eletromiografia. Keywords: Coactivation; Antagonist; Isometric
contraction; Electromyography.

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INTRODUÇÃO Alguns autores sugerem que a pré-


atividade dos antagonistas pode reduzir a co-
A produção de força muscular é contração e promover ganhos de força dos
resultado da combinação de diversas agonistas (Jeon e colaboradores, 2001, Baker
propriedades que compõe o sistema e Newton, 2005), entretanto, outros estudos
neuromuscular, como, a relação de verificaram nenhuma alteração (Geertsen,
comprimento-tensão do sarcômero, carga- Lundbye-Jensen e Nielsen, 2008, Robbins e
velocidade, força tempo e a arquitetura Colaboradores, 2009) ou redução de força dos
músculo esquelética (Kraemer e Fleck, 2007, agonistas (Maynard e Ebben, 2003).
American College of Sports Medicine-ACSM, Todavia, ainda não estão claros na
2009, Hamill e Knutzen, 2009). Os ganhos de literatura os efeitos potenciais da pré-atividade
força muscular ocorrem principalmente devido dinâmica aplicada sobre os antagonistas na
às adaptações neurais e morfológicas que redução da coativação durante o modelo
ocorrem ao longo do período de treinamento supersérie (Baker e Newton, 2005, Geertsen,
(Seynnes, De Boer e Naraci, 2007). Lundbye-Jensen e Nielsen, 2008, Robbins e
Desta forma, a prescrição de colaboradores, 2009, Robbins e
exercícios com a finalidade de aprimorar a colaboradores, 2010).
força muscular sofre influência direta de Pelo exposto, se faz necessário
alguns fatores, como, número de exercícios, aprofundar constantemente os estudos das
número de repetições, ordem dos exercícios, respostas musculares aos estímulos em
número de séries, intervalo de recuperação propostos, sendo a eletromiografia (EMG) uma
entre as séries e entre os exercícios durante o das instrumentações possíveis de serem
treinamento de força (TF) (Gentil e utilizadas para esse fim (Bolgla e Uhl, 2007).
colaboradores, 2007, Simão e colaboradores, O presente estudo se torna relevante
2010). ao contribuir com evidências científicas sobre
Diversas adaptações neuromusculares as respostas fisiológicas musculares aos
são observadas durante programas de TF, estímulos impostos, permitindo aos
como, a hipertrofia muscular, o aumento da profissionais de áreas relacionadas ao
coordenação dos agonistas, melhora no treinamento e reabilitação melhores
recrutamento de unidades motoras (UM), altas interpretações e proveito dos mesmos.
frequências de ativação de UM e redução na Portanto, o presente estudo teve como
co-contração dos antagonistas, resultando no objetivo verificar o efeito da pré-atividade
aumento da força muscular (Folland e William, dinâmica máxima nos antagonistas sobre a
2007). tensão isométrica máxima e sinal EMG dos
Neste contexto, destaca-se a agonistas e antagonistas.
coativação dos músculos antagonistas, que
produz força em direção oposta à força dos MATERIAIS E MÉTODOS
agonistas promovendo uma desvantagem na
produção de força dos agonistas, e vantagem A amostra foi constituída por 10
auxiliando na estabilidade articular e voluntários saudáveis do sexo masculino com
coordenação do movimento, sofrendo 23,1±3 anos de idade com, pelo menos, seis
interferência direta da velocidade e sobrecarga meses de prática em TF e sem histórico de
nos exercícios (Robbins e colaboradores, lesão nas articulações envolvidas no
2010). movimento. A amostra foi selecionada de
Alguns autores têm recomendado o forma intencional, fazendo parte da mesma
método superset, também conhecido como, sujeitos os quais se teve acesso e voluntários
supersérie, que é caracterizado pela (Thomas, Nelson e Silverman, 2007).
realização de exercícios para os músculos O n amostral foi determinado de forma
antagonistas e agonistas sem intervalo de não probabilística. Como critérios de exclusão
recuperação (Maynard e Ebben, 2003, foram adotados: indivíduos com PARQ
Mackenzie, Rannelli e Yurchevich, 2010), positivo (ACSM, 2009), usuários de
resultando em uma redução significativa no medicamentos sejam estes em prol da saúde
tempo total gasto durante a sessão de ou em benefício do desempenho (recursos
treinamento, sem comprometer o desempenho ergogênicos), e indivíduos que apresentaram
(Robbins e colaboradores 2010, Robbins e qualquer tipo de limitação articular ou
colaboradores, 2010). problemas osteomioarticulares que pudessem
influenciar a realização dos exercícios

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propostos. O estudo foi realizado no extensão e quadril em flexão a 90°,


laboratório de Biodinâmica do exercício do preservando todas as curvaturas fisiológicas
curso de Educação Física da Universidade da coluna vertebral.
Castelo Branco na cidade do Rio de Janeiro Os pés foram apoiados em suporte de
em datas e horários estabelecidos madeira, de forma que durante a AIVM a
previamente com os participantes. postura não fosse alterada. Na posição inicial,
No primeiro dia, foram apresentados os ombros foram mantidos em flexão a 90° e
os objetivos e detalhes metodológicos do cotovelos em completa extensão.
estudo e posteriormente, foi realizada a Na posição final, quando se realizou a
familiarização dos sujeitos com os testes. No abdução horizontal do ombro com flexão do
segundo dia, foram realizadas as medidas cotovelo, os ombros ficaram em abdução a
antropométricas e a aquisição do sinal de 90° e cotovelo em flexão a 90°. No cabo de
EMG no exercício proposto. aço coberto por isolante elétrico, a pegada foi
realizada com a articulação radioulnar em
Ética da Pesquisa pronação e flexão das metacarpofalângicas.
Antes da coleta de dados, todos os Para desenvolver a familiarização com
indivíduos assinaram um termo de o exercício proposto, foram realizadas três
consentimento livre e esclarecido, conforme a ações isométricas voluntárias máximas (AIVM)
resolução do Conselho Nacional de Saúde com duração de 10 segundos e intervalo de
(196/96). Desta forma o projeto de pesquisa foi recuperação de dois minutos entre os
submetido para o Comitê de Ética da exercícios (Brown e Weir, 2001). Durante o
Universidade Castelo Branco e devidamente exercício foi coletado o sinal EMG dos
aprovado sob o número: 2012/002. músculos agonistas na abdução horizontal do
ombro: deltóide porção espinal (DE) e
Procedimentos latíssimo do dorso (LD) e dos músculos
No primeiro dia, foram mensuradas as antagonistas ao movimento: peitoral maior
medidas antropométricas de estatura e massa porção clavicular (PC) e deltóide porção
corporal total dos participantes, e em seguida, clavicular (DC).
os mesmos foram orientados e realizaram o
processo de familiarização com os testes e Pré-atividade dinâmica dos antagonistas
procedimentos propostos para a realização do Para promover a pré-atividade
estudo. Para realizar as medidas dinâmica dos antagonistas foi aplicado o teste
antropométricas de massa corporal, estatura e de apoio frontal conhecido popularmente
cálculo do IMC foi utilizada uma balança digital como, "flexão de braços", que tem como
Techline BAL-150 tipo plataforma com objetivo mensurar a resistência muscular do
capacidade para 150 kg e escala de 100g, membro superior e da cintura escapular
uma trena antropométrica Sanny Medical de (Pollock e Willmore, 1993).
2m e estadiômetro Seca Bodymeter 208. A posição inicial foi em decúbito
ventral no chão. Na fase concêntrica, o corpo
Tensão isométrica máxima deveria ser erguido pela extensão do cotovelo,
No segundo dia, para verificar a sendo que as mãos deveriam estar voltadas
Tensão isométrica máxima (Tmáx), os para frente, na linha dos ombros, e o olhar
voluntários realizaram o exercício de remada direcionado para o espaço entre elas. O tronco
sentada aberta com a pegada pronada (RA) foi erguido até formar uma linha reta, não
em isometria durante 10 segundos utilizando sendo permitido nenhum tipo alteração das
um cabo de aço (Figura 1) não deformável curvaturas da coluna vertebral ou de balanço
acoplado a uma célula de carga (EMG System vertical do corpo. Na fase excêntrica, a flexão
do Brasil, Brasil, com resolução de 1 kgf), ao de cotovelos foi realizada até levar a caixa
cabo do equipamento, a qual possibilitou torácica próxima ao solo. O movimento foi
avaliar a força de tração desenvolvida contínuo e o exercício realizado até a
durantes as ações isométricas voluntárias exaustão, registrando-se o número máximo de
máximas (AIVM). Durante a execução dos repetições completadas sem erro na execução
testes, os sujeitos foram estimulados com do movimento.
encorajamento verbal a produzirem a máxima Imediatamente após o exercício de
força possível. apoio de frente. foi realizada a RA na célula de
Para tal o indivíduo foi posicionado carga com a coleta simultânea do sinal EMG
sentado sobre colchonete com os joelhos em dos músculos agonistas no movimento DE e

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LD e dos músculos antagonistas ao referente ao valor absoluto de todos os


movimento: PC e DC com a finalidade de músculos avaliados, de acordo com os
verificar os efeitos da pré-atividade dinâmica respectivos estímulos.
dos antagonistas na Fmáx e no sinal EMG dos
agonistas e antagonistas do movimento de Figura 1 - Posição de RSA na célula de carga.
abdução horizontal do ombro.

Processamento de Sinais
Todos os sinais EMG foram coletados
no membro dominante e para coleta do sinal
EMG foram realizados os seguintes
procedimentos: Tricotomia nos músculos DC,
PC, DE e LD, limpeza da pele com álcool para
reduzir a impedância elétrica. Posteriormente,
eletrodos de superfície (Ag/AgCl de diâmetro
de 2,2 cm e fixados com fita adesiva) na
configuração bipolar foram colocados nos
músculos supracitados de acordo com as
orientações da Surface Electromyography for
the Non-Invasive Assessment of Muscles
(Seniam, 1999). A impedância intereletrodos
manteve-se abaixo de 3000 Ohms antes do
início de cada coleta avaliada por multímetro
Análise Estatística
digital. O eletrodo de referência foi posicionado
Para a análise estatística das variáveis
no processo estilóide do rádio.
estudadas, foi calculada na estatística
Para a aquisição do sinal EMG foi
descritiva a média e desvio-padrão do RMS
utilizado um eletromiógrafo da fabricante EMG
dos músculos envolvidos no movimento e a
System do Brasil modelo EMG-800C com um
Tmáx em kg/f obtidas através da célula de
amplificador com ganho total de 2000 vezes,
carga. Na estatística inferencial, foi aplicado o
com filtro de hardware no equipamento passa
teste de normalidade de Shapiro-Wilk, e a
alta com frequência de corte de 20Hz e passa
comparação do nível de ativação muscular dos
baixa com frequência de corte de 500Hz,
músculos monitorados e Tmáx, foi realizada a
realizada por um filtro analógico do tipo
partir do Teste T pareado. O nível de
Butterworth de dois pólos. A análise do sinal
significância utilizado em todos os
foi realizada através do software EMGLAB da
procedimentos estatísticos foi de p<0,05,
EMG System do Brasil com frequência de
sendo estes realizados no software SSPS
amostragem de 2000Hz por canal, plataforma
versão 18.0.
Windows. Como transdutor de força foi
utilizado uma célula de carga da EMG SYTEM
RESULTADOS
DO BRASIL.
Para estudo o sinal EMG, foi utilizado
Na Tabela 1, são apresentados os
o root mean square (RMS) do sinal elétrico
valores médios e desvio-padrão das variáveis
dos músculos DC, PC, DE e LD, que
que caracterizam a amostra, como, idade,
configuram um parâmetro confiável para o
massa corporal, estatura, índice de massa
estudo do comportamento da fisiologia da
corporal (IMC) e número máximo de apoios
contração muscular em estudos de EMG. A
frontais completados (AF).
análise do sinal foi realizada através do valor
percentual relativo de RMS de cada músculo,

Tabela 1 - Características antropométricas e composição corporal da amostra


Variáveis N= 10 Min. Máx.
Idade (anos) 23,1 ± 3 20-30
Massa corporal total (kg) 77,7 ± 6,5 68,3-89,2
Estatura (cm) 167,5 ± 4,8 167,5-183
AF (n) 36,8 ± 10,9 25-60
2
IMC (kg/m ) 25,6 ± 2,3 23,5-26,9

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Como visto, a amostra apresentou e 32,5±12 no pós, indicando a redução de


média de 23,1 ± 3 anos de idade, massa 4,9% de Tmáx após pré-atividade dos
corporal (Kg) de 77,7± 6,5, estatura (cm) antagonistas, todavia, o teste T pareado não
167,5±4,8, 36,8±10,9 AF realizados até a indicou diferença estatística significativa entre
exaustão e IMC de 25,6±2,3. os valores obtidos pré e pós-estímulo
Na Tabela 2, são apresentados os considerando valor de p<0,05.
valores médios e desvio-padrão da tensão Na Tabela 3, são apresentados os
isométrica máxima (Tmáx) produzida na célula valores de média e desvio-padrão do
de carga em kilogramas/força (kgf), sem percentual de contribuição dos músculos
estímulo (pré) e após a pré-atividade dinâmica antagonistas: deltóide porção clavicular (DC) e
máxima dos antagonistas no apoio frontal peitoral maior porção clavicular (PC) e dos
(pós). De acordo com os resultados da Tabela agonistas deltóide porção espinal (DE) e
2, verificou-se média de 34,2 ± 11,7 kgf no pré latíssimo do dorso (LD) no exercício de RA.

Tabela 2 - Valores de média e DP da tensão isométrica máxima (kgf).


Pré pós Diferença %
Média e DP (kgf) 34,2 ± 11,7 32,5 ± 12 4,9

Tabela 3 - Percentual de contribuição (média e Desvio-Padrão) de cada músculo


durante a realização dos exercícios analisados.
Músculos pré (%) pós (%)
DC 24,6 ± 36,7 25,4 ± 31,1
PC 6,9 ± 7,4 7,6 ± 11,4
DE 62,0 ± 45,8 59,5 ± 40,0
LD 6,5 ± 10,0 7,6 ± 17,5

De acordo com os resultados da após aplicação dos estímulos supracitados,


Tabela 3, verificou-se aumento no sinal dos todavia, há de se considerar que não houve
músculos antagonistas ao movimento da RA, diferença estatística significativa no RMS dos
como visto, no DC no pós (25,4±31,1) e no músculos DC, PC, DE e LD.
músculo PC (7,6±11,4), em comparação ao Considerando que são escassos na
pré para o DC (24,6±36,7) e PC (6,9±7,4). literatura os estudos que compararam o efeito
Quanto aos músculos agonistas no exercício de pré-atividade ou pré-carga dos
da RSA, verificou-se redução do percentual de antagonistas sobre a Tmáx, foram abordados
RMS do DE no pré (62,0±45,8) e no pós (59,5 estudos que verificaram os efeitos da pré-
± 40%), assim como, para o LD no pré (6,5 ± atividade dos antagonistas sobre a produção
10) e pós (7,6±17,5). Entretanto, o Teste T de força dos agonistas utilizando diferentes
pareado não indicou diferença estatística modelos metodológicos.
significativa entre os músculos estudados pré Em estudo de Bohannon (1986),
e pós-estímulo, considerando o valor de verificou-se que ao realizar uma série com oito
p<0,05. repetições de contrações recíprocas
isocinéticas a 60°/seg, os sujeito foram
DISCUSSÃO capazes de gerar um torque 10% maior do que
gerado na condição sem pré-atividade.
Como observado nos resultados, não No estudo de Grabiner e Hawthorne
se verificou diferença estatística significativa (1990), os participantes realizaram uma série
na Tmáx produzida na célula de carga após o de 10 repetições máximas de flexão-extensão
protocolo de pré-atividade dinâmica máxima concêntrica isocinética do joelho em diferentes
dos antagonistas através do AF. Quanto à velocidades angulares e os resultados
análise do sinal EMG, verificou-se um indicaram que o músculo agonista teve seu
aumento do percentual do RMS do sinal EMG desempenho aumentado quando realizaram a
dos músculos antagonistas e redução do flexão na velocidade rápida (400°/seg),
percentual de RMS dos músculos agonistas seguida de extensão lenta (30°/seg).

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Nesta condição, os autores em estudo de Robbins e colaboradores (2010),


consideraram a hipótese de que a energia que verificou o efeito da pré-atividade
elástica acumulada pelo agonista na rápida dinâmica dos antagonistas sobre a potência
flexão poderia ter sido o mecanismo muscular dos agonista, não foi observada
responsável pela potencialização do torque diferença significativa na potência e sinal EMG
extensor. dos músculos agonistas.
Jeon e colaboradores (2001) Robbins e colaboradores (2010)
avaliaram as ações recíprocas em uma série destacam que os estudos que verificaram o
com cinco repetiçoes máximas, enfocando efeito da pre-atividade dos antagonistas
apenas a compreensão dos efeitos de apresentam diversas limitações como, n
diferentes velocidades (100°/seg, 200°/seg e amostral reduzido, aplicação de alongamento
300°/seg). Neste estudo, os autores como aquecimento, comparações entre
comprovaram que a rápida transição ou diferentes manifestações de força e grande
transição imediata entre flexão e extensão do parte dos mesmos não utilizaram a EMG para
joelho, determinou resultados positivos no associar uma possivel alteração na coativação
torque extensor e ao que parece, a dos antagonistas e melhora do desempenho
potencialização do músculo extensor foi dos agonistas.
resultado de uma facilitação neural advinda
dos fusos musculares, que ocorreu nas CONCLUSÃO
amplitudes iniciais do movimento de extensão.
Roy e colaboradores (1990) sugerem Considerando as condições
que as vantagens advindas das ações experimentais, os resultados demonstraram
recíprocas se devem a um estimulo facilitatório que a aplicação da pré-atividade máxima dos
dos órgãos tendinosos de golgi (OTG) dos antagonistas parece não promover efeitos
músculos flexores e dos fusos musculares dos deletérios na Tmáx dos agonistas, todavia,
extensores atribuídas a flexão previa. Desta verificou-se aumento da co-contração dos
forma, pré-atividade dos antagonistas ativaria antagonistas através do aumento do sinal
os OTGs e sua rede de motoneurônios, EMG e redução da ativação dos agonistas.
enquanto que, concomitantemente, os fusos Contudo, há de se considerar que as
musculares dos extensores (alongados) alterações no sinal EMG não apresentaram
levariam a uma facilitação e melhor diferença estatística significativa. Desta forma,
desempenho na contração subsequente. destaca-se que a aplicação do modelo de pré-
Maynard e Ebben (2003) ativação dos antagonistas seja observada com
demonstraram que cinco repetições máximas cautela durante a prescrição de treinamento,
prévias de flexão do joelho, seguidas pelas considerando que diversos fatores podem
séries de extensão do joelho, causaram efeito interferir nas ações recíprocas de agonistas e
negativo caracterizado pela redução do torque antagonistas, como, tipo de ação muscular,
isocinético extensor e da potência do agonista velocidade de contração, sobrecarga e
quando realizaram a pré-atividade dinâmica amplitude articular do movimento.
máxima dos antagonistas. Portanto, sugere-se a realização de
Entretanto, Baker e Newton (2005) novos estudos que comparem a pré-atividade
relataram que a capacidade de gerar potência dos antagonistas com diferentes
aumentou como resultado de uma intervenção manifestações de força para gerar evidências
com uma série de oito repetiçoes dos que possibilitem compreender este mecanismo
músculos antagonistas, através do exercício neuromuscular que interfere na produção de
de remada sentada, seguida pela série dos força muscular.
agonistas no exercício de supino reto. Os
autores sugeriram a ocorrência de uma REFERÊNCIAS
estratégia neural baseada no incremento da
inibição recíproca entre agonistas e 1- American College of Sports Medicine.
antagonistas. Guidelines for Exercise Testing and
Kisner e Colby (2007), também Prescription. 8ed. Philadelphia. The Point.
sugerem que durante a ativação concêntrica 2009.
de um músculo agonista, o antagonista
apresenta uma inibição recíproca que permite 2- American College of Sports Medicine.
seu relaxamento e, consequentemente, pode Position Stand: Progression Models in
facilitar a ações do agonista. Recentemente, Resistance Training for Healthy Adults.

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156
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

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