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São Carlos – SP
IFSC/USP
2014
© 2014 IFSC/USP
Organização e Edição
Prof. Dr. Osvaldo Novais de Oliveira Jr. – IFSC/USP
Rui Jorge Sintra (Jornalista Mtb 66181)
Textos
Luciana Cristina Sanchez,
Nicolle Casanova
Rui Jorge Sintra
Tatiana Zanon
Diagramação
Rodrigo Rosalis - Rosalis Designer – www.rosalis.com.br
Capa
Criada por Ricardo Rehder Cardoso, adaptando a foto original da autoria de Edison
Santiago de Almeida
F 528
A física a serviço da sociedade/ Osvaldo Novais de
Oliveira Jr, Rui Jorge Sintra, organizadores – São
Carlos: IFSC, 2014.
320p.
ISBN 978-85-61958-03-9
A
gradecemos em primeiro lugar ao nosso diretor do
IFSC, Prof. Antonio Carlos Hernandes, pelo seu
entusiasmo e apoio ao trabalho de comunicação do
IFSC com a sociedade e à edição deste livro em particular.
Nossos agradecimentos aos professores e funcionários do IFSC
que colaboraram com as matérias e textos publicados neste livro.
Como são muitos, não os nomeamos nos agradecimentos, mas
seus nomes aparecem no decorrer do livro. As versões originais
das matérias e textos foram produzidas por um dos editores,
Rui Sintra, e pelas Srtas. Luciana Cristina Sanchez, Nicolle
Casanova e Tatiana Zanon, a quem também agradecemos.
Contribuíram, também, para a edição e publicação deste
livro os funcionários Cristiane Estella, do Setor de Comuni-
cação, Ítalo Celestini, da Gráfica, Maurício Schiabel, do Setor
de Finanças, e a equipe da Biblioteca. A eles, nossos agradeci-
mentos.
Agradecimentos especiais são dedicados aos Professores
Yvonne Primerano Mascarenhas e Sérgio Mascarenhas, que
gentilmente escreveram o prefácio deste livro, e que continuam
a inspirar o trabalho em educação e pesquisa de professores,
alunos e funcionários do IFSC.
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
9 Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
10 Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
P
refaciar este livro “A física a serviço da sociedade” foi para
nós uma grande satisfação ao verificarmos através de sua
leitura, de modo muito objetivo, o que já sentíamos sub-
jetivamente: a pujança desta unidade que ajudamos a formar nos
seus estágios iniciais. Embora nossas atividade estivessem in-
cluídas no âmbito de uma Escola de Engenharia onde a Física
representava apenas uma, assim chamada na época, “cadeira
reunida” de Física Geral e Experimental a ser ministrada nos
dois anos iniciais do curso, nos deparamos com alunos com
grande interesse científico que, se não se tornaram físicos,
acompanharam as aulas teóricas e experimentais com grande
interesse o que nos dava um “feed back” extremamente esti-
mulante. Ainda nas décadas de 1950 e 1960 se incorporaram
ao grupo jovens docentes graduados em Física, Química ou
Engenharia. Nessa época vários intercâmbios, estabelecidos
com apoio da Fundação Fulbright, com professores dos Esta-
dos Unidos que vinham a São Carlos para iniciar a formação
de nossos jovens em nível de pós-graduação, assim como de
membros do grupo que se dirigiram a várias universidades
americanas para estágios de pesquisa, principalmente na área
de Física da Matéria Condensada, muito contribuíram para o
seu aprimoramento. Na década de 1970 novos membros são
contratados mantendo-se a característica interdisciplinar ade-
quada a pesquisas que já se voltavam para áreas de informática
e biofísica. A partir daí, nas décadas de 1980 e 1990 e a primeira
do sec. XXI, consolidam-se cada vez mais as características de
pesquisa interdisciplinar e fortalecem-se áreas de Física Básica.
Assim podemos dizer que, mais do que qualquer prêmio ou honraria, a existência
da atual configuração do IFSC, com seus cerca de 80 docentes exercendo atividades
em nível de graduação e pós-graduação e envolvendo alunos, tanto em ativida-
des didáticas como de pesquisa através dos seus programas de Iniciação Científica,
Mestrado e Doutorado e, dessa forma, contribuindo para a formação de recursos
humanos de alto nível para o país, é a maior recompensa a que poderia aspirar um
casal de professores que ambicionavam se dedicar à docência e à pesquisa e que
deixaram a vida familiar, social e cultural que tinham no Rio de Janeiro, a sempre
Cidade Maravilhosa, para, em 1956, trabalharem na recém criada Escola de Enge-
nharia de São Carlos/USP.
Sérgio Mascarenhas
Yvonne P. Mascarenhas
Apresentação
O
viver da sociedade moderna, o nosso dia a dia, é
fruto dos grandes avanços da ciência no século XX
e da transformação do conhecimento em tecnolo-
gias que nos permitem ter, entre outras coisas, uma expecta-
tiva de vida mais do que o dobro, se a compararmos com o
início do século passado. Mas, como bem sabemos, muitos
ainda são os desafios.
Poderíamos elencar inúmeras questões que permane-
cem sem respostas, seja na física, na biologia, na medicina,
na química, para dizer somente algumas áreas da ciência.
Questões vitais, como a origem da vida, a vida em outros
planetas, ou ainda sobre o clima, a disponibilidade de água,
de energia e de recursos alimentares para as futuras gera-
ções. E assim se poderia seguir questionando. Alguns dos
desafios da física no século XXI são abordados neste livro
por ilustres pesquisadores do Instituto de Física de São Car-
los. Mas não é tudo.
Existe outro tipo de desafio para o século XXI que, de
certa maneira, está vinculado às questões fundamentais para
a humanidade: a necessidade de se ter mais pessoas com gosto
pela ciência, ou com gosto pela descoberta. Para superar mais
rapidamente esses desafios e fazer avançar a fronteira do co-
nhecimento, é obrigatório o trabalho de muitos com certa
dose de genialidade.
Trazer mais pessoas para atuar em ciência não é tarefa
fácil devido a vários fatores, inclusive falta de conhecimento.
Mas é preciso. Para isso, necessita-se de estímulo e de informação. Informação
que deve ser de fácil acesso e atualizada. Em síntese, têm que se providenciar
informações à sociedade numa linguagem que seja capaz de despertá-la para os
avanços da ciência e da tecnologia e com isso estimular mais pessoas a trilhar os
caminhos da ciência, de maneira a criarmos um círculo virtuoso que permita
contribuir para romper os reais desafios do século XXI.
Em 2010, o Instituto de Física de São Carlos – IFSC - iniciou um projeto de
divulgação da ciência em que uma de suas vertentes foi justamente contribuir
para que a sociedade tivesse acesso fácil, rápido e gratuito sobre o progresso das
pesquisas executadas em seus laboratórios. A home-page do IFSC (www.ifsc.
usp.br) passou a disponibilizar textos, entrevistas e informações sucintas sobre
os diferentes temas de pesquisa e as inovações geradas por seus pesquisadores.
Um dos resultados dessa iniciativa é a publicação deste livro Física a serviço
da sociedade. O professor Osvaldo Novais de Oliveira Jr, com o apoio do jorna-
lista Rui Sintra, fizeram uma seleção de entrevistas e textos publicados no portal
do IFSC, que abordam temas como energia do vácuo, matéria exótica, políme-
ros luminescentes, nanomateriais, fontes alternativas de energia e avanços tec-
nológicos em iluminação fria, criptografia, visão cibernética, novos fármacos,
computação quântica e muitos outros. O livro irá surpreendê-lo positivamente
frente à diversidade de temas em pesquisa e inovação que os pesquisadores do
IFSC têm se dedicado.
Editar e publicar o livro Física a serviço da sociedade não é somente mais
uma ação de divulgação científica, que já seria de extrema relevância, mas é
principalmente uma contribuição para a formação do círculo virtuoso para que
mais jovens se sintam estimulados pelo êxtase da descoberta. Tão importante
quanto descobrir, é saber comunicar a descoberta à sociedade. O leitor e a leito-
ra certamente se beneficiarão dos conhecimentos aqui disponibilizados.
A
principal missão do Instituto de Física de São Carlos
da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) tem sido
formar recursos humanos de alto nível na graduação
e pós-graduação, em que o ensino é fortemente acoplado às
atividades de pesquisa. Busca-se formar profissionais que, a
partir de conhecimentos sólidos em física, possam – se assim
o desejarem - atuar em áreas multidisciplinares e com preo-
cupação de servir à sociedade também com desenvolvimento
de inovação e transferência de tecnologia. Essa visão, base-
ada na indissociabilidade de ensino e pesquisa e de atuação
multidisciplinar, acabou por guiar a evolução do IFSC desde a
fundação do Instituto de Física e Química de São Carlos, em
1971, tendo continuado o seu percurso com o desmembra-
mento nos atuais IFSC e IQSC (Instituto de Química de São
Carlos) a partir de 1994.
As consequências mais visíveis dessa evolução estão na cria-
ção, nas últimas décadas, de cursos de graduação e programas de
pós-graduação. Hoje, o IFSC oferece três cursos de bacharelado,
a saber: Física, Física Computacional e Ciências Físicas e Biomo-
leculares, e um curso de Licenciatura em Ciências Exatas, em
parceria com o IQSC e o Instituto de Ciências Matemáticas e de
Computação (ICMC-USP). O programa de pós-graduação em
Física contempla as subáreas de Física Básica e Física Aplicada,
sendo que esta última inclui Física Computacional e Física Bio-
molecular. O IFSC participa ainda do programa Interunidades
em Ciência e Engenharia de Materiais, em parceria com o IQSC
e a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP).
13
Introdução
U
ma preocupação constante dos pesquisadores do IFSC
é se antecipar e eleger problemas científicos com gran-
de possibilidade de impacto. Decorridos pouco mais de
uma dezena de anos no novo século, vale a pena ouvir a opinião
de professores do IFSC, expressa numa reportagem e em textos
específicos, que compõem este Capítulo.
17
Os desafios da física no Século XXI
O
s fenômenos da natureza associados à Vida consti-
tuem, talvez, a última grande fronteira do conhe-
cimento humano ainda em grande parte intocada
pela Física. A alta complexidade, associada aos organismos
biológicos, é certamente a razão principal pela qual as cha-
madas Ciências da Vida adotaram, ao longo de sua história,
uma abordagem sistêmica na descrição e análise dos proble-
mas envolvidos. Este panorama modificou-se drasticamente
nos últimos anos, com o florescimento de novas técnicas ex-
perimentais, tanto físicas quanto bioquímicas e biológicas,
que permitem a interação sistemática e racional com a Ma-
téria Viva. O ímpeto para esta nova abordagem da pesqui-
sa biológica deve-se ao reconhecimento universal de que a
chave para o entendimento da biologia encontra-se nas es-
truturas moleculares e supramoleculares dos sistemas vivos.
Por vários séculos, os assim chamados “filósofos naturais”
buscaram a compreensão da organização, comportamento e
função, na forma que podia ser observada com a visão co-
mum. Mais recentemente, com o advento dos microscópios
ópticos e, nos últimos 100 anos com as microscopias eletrô-
nica e de força atômica, a pesquisa estendeu-se ao domínio
da organização celular e subcelular. Hoje em dia, com as cada
vez mais sofisticadas ferramentas da Física, esta visão alcança
os níveis de moléculas e átomos. Estas ferramentas decorrem
da possibilidade de se estudar a interação da radiação eletro-
magnética com a matéria biológica, particularmente, no caso
cristalográfico, no estado sólido cristalino. Observou-se, as-
A origem da vida
José Fernando Fontanari, Professor Titular
e Chefe do Departamento de Física e Informática
E
m sua fala presidencial no encontro de 1871 da Socie-
dade Britânica para o Progresso da Ciência, William
Thomson (Lord Kelvin) declarou que “a matéria bru-
ta não pode tornar-se viva sem antes ser influenciada pela
matéria viva. Isso me parece um ensinamento da ciência tão
definitivo quanto a lei da gravidade”. Kelvin acreditava que
o universo e a vida eram eternos, ou seja, sempre existiram,
tendo sido um influente defensor da panspermia, uma vez
que ele mesmo havia calculado um máximo de 20 milhões
de anos para a idade da Terra.
Hoje, sabemos que o universo surgiu há mais ou me-
nos 14 bilhões de anos, mas ainda não temos a menor ideia
de como a vida surgiu, onde quer que isso tenha ocorrido.
Entretanto, a conexão entre a gravitação e a vida talvez seja
mais profunda que a sugerida pela frase de Kelvin. Afinal, a
gravitação parece ser a fonte última da informação biológica
e da ordem necessárias à vida. A dificuldade é que essa in-
formação adquire significado (semântica) apenas na presen-
ça de um contexto, tratando-se, portanto, de uma grandeza
global que dificilmente poderá ser explicada ou entendida
através de leis físicas locais.
Atualmente, a vasta maioria da comunidade científi-
ca endossa - mesmo sem que o perceba - a perspectiva do
Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina de 1974, Christian
de Duve, que via a vida como um fenômeno corriqueiro no
universo, como uma consequência inevitável das leis conhe-
cidas da Física e da Química, dadas as condições adequadas.
Não é à toa que a busca pela vida no universo tenha sido re-
duzida à procura por planetas e satélites com água no estado
líquido, embora não haja nenhuma evidência científica da
inevitabilidade da vida no nosso universo. A visão alternati-
va, capitaneada pelo ganhador do mesmo prêmio, em 1965,
Jacques Monod, coloca a origem da vida como um evento
único no universo, resultante de uma sequência de eventos
extremamente improváveis. Apenas a primeira perspectiva
presta-se à aplicação do método científico de investigação
(daí, talvez, sua popularidade entre os cientistas) e o desafio
da Física é a descoberta, caso existam, das leis que governam
a auto-organização da matéria em sistemas fora do equilí-
brio termodinâmico.
A
análise da proposta sugerida pelo título deste livro
“Física e Sociedade” pode ser feita sob vários vieses.
Para fazê-la, sou levada a analisar como a Física,
ou melhor, a Ciência de um modo mais geral, modificou o
homem e a sociedade desde que se estabeleceu o método
científico a partir de Descartes e Galileu.
No século XVII, em 1637, René Descartes publica o seu
livro Discours de la méthode (sous-titré Pour bien conduire sa
raison, et chercher la vérité dans les sciences). Em seu método,
Descartes propõe quatro princípios:
1. Evidência: Nunca aceitar nada como verdadeiro que não
conheça evidentemente como tal;
2. Reducionismo: Dividir cada uma das dificuldades que
encontrar em tantas parcelas quanto possível e necessá-
rio para melhor as resolver;
3. Causalidade: conduzir por ordem os pensamentos, co-
meçando pelos objetos mais simples e mais fáceis de co-
nhecer, até os mais complexos, supondo mesmo a ordem
entre os que não precedem naturalmente os outros;
4. Exaustividade: revisões tão gerais que se fique com a cer-
teza de nada omitir.
Galileu completa em 1630 e publica em 1632 o “Diálogo
sobre os dois principais sistemas do mundo” e estabelece o
Método Científico.
Sir Isaac Newton, com sua monografia Philosophiæ Naturalis
Principia Mathematica, publicada em 1687, definitivamente
estabeleceu o heliocentrismo e a teoria da gravitação.
O grande desafio
Prof. Dr. Luiz Nunes de Oliveira,
Professor Titular – Grupo de Física Teórica
N
o final do segundo milênio, ouvia-se frequente-
mente que o Século XX tinha sido da Física, mas
que o próximo seria da Biologia. Assim como
ocorria com as profecias do Oráculo de Delfos, na Grécia
antiga, constata-se que o significado dessa previsão fica mais
claro à medida que o tempo passa. A interpretação que hoje
se tem é bem distinta da compreensão mais superficial que
prevalecia no ano 2000. Os maiores triunfos do Século XX
foram a Mecânica Quântica e a Teoria da Relatividade, co-
lhidos nos mundos microscópico e cósmico, e que revolu-
cionaram a Física, a Química e a Astronomia. Já no Século
XXI, a grande batalha científica será travada no domínio da
Biologia, nas escalas de tempo e distância que caracterizam
as macromoléculas, tais como a insulina, a hemoglobina ou
o DNA. Como em qualquer disputa ainda por começar, o
resultado é imprevisível, mas o desafio já se apresenta.
De que desafio falamos? Para responder, precisamos
prestar atenção à Física dos objetos que nos cercam. Parte
deles é descrita pela Mecânica de Newton; a outra parte, pela
Mecânica Quântica. Se os engenheiros eletrônicos que pro-
jetaram o telefone que espera chamadas na bolsa da leitora
tivessem tentado trabalhar com as Leis de Newton, prova-
velmente teriam concluído que um celular é um sonho im-
possível. No entanto, os engenheiros civis responsáveis pela
edificação do prédio onde a bolsa se encontra puderam dar-
-se ao luxo de ignorar a Mecânica Quântica e trabalhar ex-
clusivamente com a de Newton.
O
s desafios para a Física são inúmeros, mas vamos
nos concentrar em alguns relacionados aos funda-
mentos desta ciência. As interações fundamentais
da natureza conhecidas até o momento são quatro: gravita-
cional, eletromagnética, nucleares fraca e forte. As teorias
que descrevem estas interações são baseadas em princípios
de simetria, a saber: o princípio de equivalência, no caso da
Teoria Geral da Relatividade que descreve a gravitação, e o
princípio de gauge no caso das chamadas Teorias de Gauge,
ou Teorias de Yang-Mills, que descrevem as outras três.
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popular- physicsprize2011.pdf>.Acesso em:29 jan.2014.
A
onipresença da física com o desenvolvimento de abor-
dagens e metodologias teóricas e experimentais para
lidar com problemas científicos e tecnológicos, das
mais diversas naturezas, vem sendo confirmada com a atua-
ção de pesquisadores do IFSC ao longo de décadas. Duas áre-
as principais têm sido as relacionadas a aplicações de física em
biologia, medicina e ciências da saúde, e em computação, que
se desenvolveram desde os primórdios do então Instituto de
Física e Química de São Carlos, e culminaram com a criação
de cursos de graduação em ciências físicas e biomoleculares e
em física computacional, além de subáreas correspondentes na
pós-graduação.
O uso de física para tratar a matéria viva iniciou-se em São
Carlos, numa iniciativa do Prof. Sérgio Mascarenhas, com a
criação do Grupo de Biofísica, e da Profa. Yvonne Primerano
Mascarenhas, com a criação do Grupo de Cristalografia. Os
participantes do primeiro utilizando técnicas espectroscópicas
e fenomenológicas que permitem elucidar a natureza do en-
torno de átomos e/ou defeitos estruturais, e o segundo usando
técnicas de espalhamento e difração de Raios X para obter ima-
gens de baixa resolução (espalhamento) ou alta resolução (di-
fração) de moléculas e macromoléculas com resolução atômica.
Pode-se afirmar que tal conhecimento é indispensável para o
entendimento das transformações moleculares que têm lugar
39
Integração de áreas de pesquisa e iniciativas multidisciplinares
nos seres vivos e nos mais variados sistemas naturais ou sintéticos da matéria.
Do interesse em cristalografia de proteínas, derivaram estudos de bioquímica,
genômica e química medicinal, com a formação de um grande consórcio de
pesquisadores, como ficará claro em reportagens a seguir. Ainda no que concer-
ne à biologia e medicina, a partir de aplicações de lasers em terapias formou-se
novo núcleo de pesquisadores, também gerando centros de pesquisa.
Já a atuação em computação foi pioneira em São Carlos e em muitos tópicos
também no Brasil, surgida no início do Instituto de Física e Química de São
Carlos decorrente da compra de um difratômetro automático de monocristais,
que era automatizado por um computador de razoável capacidade de cálculo
para a época. Um pouco dessa história será contada no Capítulo VII, dedicado
à Física Computacional.
Dessa atuação multidisciplinar se originaram os centros de pesquisa e difu-
são (CEPID’s), financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP), os institutos de ciência e tecnologia (INCT’s), mantidos
pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e pela FAPESP, as redes de
nanobiotecnologia, mantidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
soal de Nível Superior (CAPES), e os núcleos de apoio à pesquisa, criados pela
Pró-Reitoria de Pesquisa da USP. Uma lista dessas redes de pesquisa sediadas
no IFSC é apresentada a seguir.
nológico do país. O grupo começou a es- televisão ainda mais finas e flexíveis, bem
tudar propriedades elétricas e orgânicas como painéis de iluminação de altíssima efi-
de polímeros- macromoléculas sintéticas ciência, por exemplo, conta.
e naturais-, com propriedades eletrônicas,
desde a década de 1970 e a partir de então
tem sintetizado tais polímeros e estudado
suas aplicações: Do ponto de vista econômi-
co, essa nova eletrônica movimentará cente-
nas de bilhões de dólares a partir da década
de 2020 e a tendência é aumentar cada vez
mais sua inserção na economia do planeta.
Nesse mercado global, o Brasil deve agregar
conhecimento para uso interno e sair do
papel de comprador, apenas, para se tornar
também um vendedor dessa nova tecnolo-
Célula fotovoltaica produzida no laborató-
gia, completa Faria.
rio do INEO-IFSC.
O Grupo de Polímeros conta com par-
cerias de empresas, sendo a CSEM, empre- Já Alexandre de Castro Maciel trans-
sa suíça que implantou uma unidade em forma a solução polimérica em filmes mui-
território brasileiro, uma das que estão dis- to finos, que se tornam o elemento ativo de
postas a financiar os estudos realizados no um transistor: Com um transistor feito de
Instituto. Um dos orientandos do Prof. Fa- polímeros, que será fino, leve e de baixo cus-
ria, Giovanni Fornereto Gozzi, desenvolve to, é possível o descarte. Assim, ele pode ser
seu doutorado na área de luminescentes, usado em embalagens, substituindo o tradi-
onde faz uso de polímeros específicos ca- cional código de barras, explica Alexandre.
pazes de emitir luz. O conceito de eletrolu- Essa troca pode trazer o supermercado
minescência é trabalhado pelo aluno, num do futuro, em que através dos dispositivos
processo da geração de luz, utilizando-se poliméricos nas embalagens, em conjun-
de fontes limpas para isso: Os polímeros são to com outro dispositivo instalado em um
processados em solução, que são como uma carrinho de supermercado, a soma das
tinta. Ou seja, você transforma energia elé- mercadorias no carrinho vem pronta, eli-
trica em luz, usando processos semelhantes minando a fila nos caixas e o estresse do
ao de impressão com tinta. Aqui, o grande comprador.
desafio é transformar o processamento atual As telas extremamente flexíveis, estu-
no processamento em solução, utilizando-se dadas por Pedro Henrique Pereira Rebello
apenas de materiais orgânicos, explica Gio- e Josiani Cristina Stefanelo, trarão facilida-
vanni. A tecnologia orgânica abrirá a pos- de. A televisão do novo século poderá ser
sibilidade de serem desenvolvidas telas de impressa: seus circuitos eletrônicos serão
como a do Drugs for Neglected Diseases Ini- Durante o tempo de duração do projeto,
tiative (DNDi), grupo de pesquisa indepen- tentaremos identificar as melhores oportu-
dente que trabalha em novos tratamentos nidades dentre as pesquisas que estão sendo
para a Doença de Chagas, Leishmaniose feitas e para isso contaremos com o suporte
e Tripanossomíase Africana, entre outras: de um comitê científico internacional.
Uma característica especial do CIBFar é a De acordo com Adriano Andricopulo,
reunião de pesquisadores seniores que con- estudos em andamento serão aprimorados
tam com vasta experiência e liderança nas no CIBFar. A duração total do programa
áreas de biodiversidade, síntese orgânica e é de onze anos, tempo que deve ser sufi-
química medicinal, o que nos coloca em uma ciente para desenvolver candidatos a fár-
posição privilegiada, diz Adriano. macos capazes de combater algumas das
Embora as doenças tropicais negli- doenças que são o foco do projeto: Ainda
genciadas sejam a menina dos olhos do que não estejamos saindo do zero, os resul-
projeto, outras doenças serão alvo de estu- tados de pesquisa são demorados. Logo nos
dos do CIBFar, inclusive o câncer: Temos primeiros dois anos planejamos estruturar
pesquisas em desenvolvimento relacionadas bons projetos que possam agregar o uso de
a uma diversidade de doenças, mas algu- moléculas promissoras, tanto a partir da
mas delas, que têm moléculas mais promis- biodiversidade brasileira como da síntese
soras, serão prioritárias, explica o docente: orgânica, conclui o docente.
Ele afirma também que no CEPOF an- novos planos estão incluídos o lançamen-
terior diversas metas foram atingidas e os to de terapias para onicomicose (mico-
resultados são visíveis, com benefício di- se de unha) e o tratamento de infecções
reto para a sociedade. Dentre os exemplos, infantis de garganta sem o uso de antibi-
Vanderlei cita a implantação de terapias óticos, em parceria com a Faculdade de
de combate ao câncer e tratamentos na Ciências Médicas da Unicamp. Em pes-
área odontológica realizados em parceria quisa básica, as perspectivas voltam-se
com universidades estaduais: A Unesp de aos experimentos com fluidos quânticos
Araraquara colabora em trabalhos de con- e nanoestruturas.
trole microbiológico com técnicas de terapia O prazo de duração do atual CEPID
fotodinâmica que o CEPOF ajudou a im- é de onze anos, mas as expectativas são
plementar, e a Faculdade de Medicina de grandes e, nas palavras do próprio Van-
Ribeirão Preto [FMRP/USP] realizou mui- derlei: A intenção é que os estudos reali-
tas cirurgias experimentais utilizando-se de zados deem uma personalidade especial à
técnicas desenvolvidas no CEPOF. Produzi- pesquisa realizada nessas áreas na cidade
mos um trabalho com o grupo de transplan- de São Carlos.
te de fígado, que foi destaque da revista Liver ___________________
Transplantation, relembra. *área que estuda os efeitos básicos da inte-
Com um passado tão profícuo, o fu- ração luz/matéria
turo do CEPOF não será diferente. Nos
serviu, acima de tudo, para conhecer as o cientista: Uma das realidades atuais é
pesquisas dos diferentes laboratórios do a utilização, em larga escala, das baterias
Centro, em que estágio se encontra o tra- de lítio, que têm um componente líquido
balho de pesquisa de cada membro, detec- no seu interior, o eletrólito; há muitos anos
tando-se, a partir daí, as possibilidades que se pesquisa uma forma de substituir
de cooperações. A partir desse levanta- esse líquido por um componente sólido, de
mento, serão definidos os tópicos mais tipo vítreo. Ainda existe mais um degrau
relevantes, tendo em vista concentrar os nessas pesquisas, que é a possibilidade
esforços da equipe em direção a resulta- de substituição do lítio por sódio, algo
dos inovadores. que poderia ser concretizado num futuro
Segundo Schneider, o workshop mos- próximo.
trou a multiplicidade das pesquisas desen- Além de proporcionar mais autono-
volvidas nos grupos que formam o CEPIV mia, esse novo tipo de bateria será mais
e as oportunidades para expandir a fron- barato que a de lítio e menos agressiva
teira do conhecimento e gerar inovação: para o meio-ambiente. O lítio existe em
Existem muitos desafios para vencer, prin- pouca quantidade, em determinadas regi-
cipalmente para dar uma resposta eficaz a ões do globo – Bolívia, Argentina e Chi-
trabalhos que, por não serem executados le -, requerendo investimentos altos para
ainda por uma equipe interdisciplinar, têm poder ser extraído e transformado, en-
algumas questões para serem resolvidas: quanto o sódio (do sal) existe em todo o
por isso, vamos ter que atuar em conjunto, planeta, principalmente na água do mar,
para que esses trabalhos possam ser conclu- sendo relativamente barata sua transfor-
ídos, menciona o docente do IFSC. mação para o fim em vista: O desenvol-
Embora seja prematuro identificar a vimento de novos materiais funcionais é
área considerada prioritária no CEPIV, de grande relevância e é uma experiência
José Fabián Schneider afirmou que o gru- estimulante formar parte desta equipe de
po recebeu com especial interesse alguns pesquisadores de nível de excelência mun-
dos trabalhos apresentados no workshop, dial. O CEPIV é uma grande oportunida-
principalmente em materiais biocompatí- de, não só para os pesquisadores do IFSC
veis, indicados para aplicações em odon- envolvidos diretamente, como também para
tologia e substituição óssea, que se encon- os estudantes que se incorporem nesta área,
tram em estágios avançados de pesquisa e cujos resultados despontarão num futuro
são considerados altamente promissores. próximo, pontua Schneider.
Outra das grandes apostas do CEPIV O CEPIV congrega laboratórios em
será focar os esforços dos cientistas várias instituições de pesquisa e tem sua
em uma área que, para Schneider, é de sede institucional no Departamento de
grande importância – a de materiais em Engenharia de Materiais da UFSCar.
estado sólido para baterias, como explica
U
ma dificuldade na elaboração deste Capítulo foi a es-
colha do título e a seleção de reportagens, pois muito
se faz no IFSC com pesquisas em física teórica e física
experimental em tópicos da fronteira do conhecimento. Para
distinguir de pesquisas de caráter mais multidisciplinar, como
abordado nos demais capítulos, escolhemos o presente título,
sendo que o Capítulo trará uma miscelânea de matérias. Ressal-
te-se que muitos trabalhos em física fundamental acabaram por
ser retratados em outros capítulos, na medida em que estavam
relacionados a alguns dos tópicos de aplicação e de atuação in-
terdisciplinar.
51
Explorando os fundamentos da Física
A acústica do violino
09 fevereiro 2010
cópias em um intervalo menor de tempo. cem entre si: A produção de vida artificial
Além disso, as que sofrem mais mutações em laboratório, que seria um feito inédito
no sentido de agregar mais minerais que na História e mudaria completamente nosso
auxiliem na replicação, e na estabilização entendimento da espécie humana, eventual-
frente à radiação ultravioleta, resistirão mente acontecerá, afirma Fontanari
com mais eficiência por um período maior O entendimento destes mecanismos de
de tempo. Portanto, produzirão mais có- desenvolvimento da vida pode auxiliar na
pias durante sua existência. É da combina- compreensão da estrutura de organismos
ção destes processos – replicação e seleção básicos, como arquéias, bactérias e euca-
natural - que pode surgir um sistema mais riontes mais simples. Neste sentido, as teo-
complexo, como uma célula. rias sobre a origem da vida podem até mes-
Fontanari, que hoje pesquisa a coe- mo contribuir com a eliminação de certos
xistência de vários replicadores através de tipos de vírus da face da Terra, através da
cinética química artificial (ciência que se produção de substâncias que agem quando
debruça sobre as reações químicas), traba- injetadas no vírus, enfraquecendo seus me-
lha em cooperação com biólogos teóricos canismos de prevenção de erro da replica-
do país. Eles compartilham o interesse de ção e aumentando suas taxas de mutação.
investigar a existência dessas moléculas re- Desta forma, o vírus apenas produzirá có-
plicadoras, sob a perspectiva de sua dinâ- pias errôneas de si mesmo até que se perca
mica de evolução, considerando as relações sua informação genética e não exista mais
de competição e cooperação que estabele- um corpo similar ao seu.
vezes maior do que a do Sol. Essa estrela entendia, por exemplo, o funcionamento
possui um campo gravitacional muito forte, do Sol, de onde se tirava sua energia. Esse
a ponto de induzir um crescimento muito esclarecimento ajudou bastante no enten-
rápido da energia de vácuo. Na estrela de dimento da astrofísica. A mensagem prin-
nêutrons, pode atingir proporções capazes de cipal que queremos passar é que apesar de
competir com a energia da própria estrela, o a energia do vácuo ser normalmente des-
que quebra o conceito de que a energia do prezível, existem situações em que ela pode
vácuo seja desprezível, explica o professor. sair do papel de coadjuvante para tornar-
Ainda não é possível antever como a -se protagonista. Nossa ideia é explorar
descoberta de Daniel poderá influenciar esses efeitos, pois é possível trazer algum
nosso cotidiano: É como tentar prever o entendimento sobre a própria natureza,
futuro, diz: No começo do século não se conclui o pesquisador.
A ideia da fotônica é fazer com que esse pro- atuais, exemplifica Cléber: Esses processos
cesso seja integralmente óptico, o que trará não-lineares vêm sendo empregados com
aumento de velocidade do mesmo, explica: outros objetivos: para fazer sensores, por
Para tornar isso possível, primeiro é necessá- exemplo. Eles também podem ser emprega-
rio entender como esses processos funcionam dos para detectar reações fotoquímicas de
e é o que fazemos aqui: pesquisa fundamen- interesse biológico.
tal, para entender como se dá essa interação Embora possa servir ao desenvolvi-
da luz com esses materiais, conta. mento tecnológico, Cléber deixa claro que
Sobre as vantagens de processos in- o interesse em estudar os processos não-
tegralmente ópticos, Cléber afirma que -lineares é voltado ao aspecto fundamen-
o menor tempo de resposta é a principal tal, para entender como ocorrem e qual
vantagem: O tempo de resposta de sinais a relação entre esses processos e proprie-
elétricos está na faixa de nanossegundos dades moleculares: Existe uma motivação
(10-9segundos), enquanto nos ópticos está tecnológica, mas minha curiosidade nessa
na faixa de femtossegundos (10-15segundos). área é mais a vontade de fazer física do que
Em princípio, computadores que viriam a produzir, de fato, algum produto tecnológi-
usar esse tipo de dispositivo, puramente óp- co, conta Cléber, que pesquisa o assunto há
tico, seriam muito mais rápidos do que os mais de dez anos.
tural, com suas peculiaridades, já que as para entender seu processo de degradação –
combinações não são repetidas, mas aleató- um problema sério do dispositivo, já que é
rias, unindo diversos tipos de ingredientes, preciso protegê-lo para que não se degrade em
como aminoácidos e proteínas. poucas horas, explica o pesquisador.
O foco do Grupo de Pesquisa do IFSC Um projeto de pesquisa recente rela-
são os polímeros sintéticos e um grupo es- cionado com fenômenos de interface, no
pecial de polímeros que tem importância qual se encontra envolvido o Prof. Paulo
para a eletrônica: A maioria dos polímeros Barbeitas Miranda, investiga diversos tipos
que citamos são moléculas que não condu- de moléculas, inclusive polímeros e lipídios
zem eletricidade; pelo contrário, são isolan- (presentes em membranas celulares). Estas
tes. De fato, os isolantes elétricos são fabri- últimas moléculas têm a característica de
cados a partir de plástico. Aqui, procuramos não serem solúveis em água, organizando-
trabalhar com polímeros que são condutores -se em sua superfície: Se despejarmos uma
de eletricidade e alguns também são emisso- solução de lipídios e água em um recipiente,
res de luz, conta Miranda. vamos observar que essas moléculas rapida-
Este tipo de semicondutores pode ter mente se organizam como um fino carpete
aplicações importantes em nosso cotidiano, de lipídios – o filme – na superfície da água,
pois além de servir a dispositivos eletrôni- explica o pesquisador. O objetivo é des-
cos e para iluminação básica, já está sendo vendar as formas de interação destas mo-
utilizado na produção de telas de câmeras léculas com a água e os mecanismos de sua
fotográficas, aparelhos celulares e telas de organização neste filme. Muitas técnicas
pequeno porte. Inclusive já existem protóti- já investigam este tipo de filme fino, mas
pos de telas de grande porte baseados nesta os pesquisadores do IFSC se interessam
tecnologia, o que os colocam em posição de por esta interação no nível molecular, um
fortes candidatos para substituir a tecnolo- conhecimento importante para inferir as
gia de LCD utilizada em eletroeletrônicos. forças que levam a um arranjo específico
Noutra linha de pesquisa mais específica das moléculas na superfície da água: Que-
estuda-se como se dá o arranjo das molécu- remos entender quais forças dominam o
las na interface entre materiais. São estuda- processo de interação nesta interface, que
dos os chamados fenômenos de interface, em determinam que o filme tenha essa ou
que se procura desvendar o movimento das aquela propriedade, conta ele.
moléculas dos polímeros em contato com Outro tipo de filmes que o pesquisa-
materiais, como o vidro ou metal: Os disposi- dor investiga são filmes automontados,
tivos eletrônicos utilizam metais em sua com- ou seja, que se agrupam espontaneamen-
posição e é de suma importância aprender te, formados por polímeros chamados
como o polímero vai reagir nessa interação, polieletrólitos - moléculas que possuem
para entender como as cargas elétricas vão muitas cargas elétricas, solúveis em água
entrar em contato com o material e também e que interagem de maneira muito forte
sistema não é alterado. Estes sistemas foram entendimento destes fenômenos e possi-
chamados de quase-integráveis. bilitar a modulação da fibra, a fim de ter
O professor Luiz Agostinho Ferreira, uma previsão e um controle muito maio-
do Grupo de Física Teórica do IFSC, autor res de seu comportamento.
da pesquisa, juntamente com o Professor Os pesquisadores pretendem continuar
Wojtek J. Zakrzewski, do Departamento de investigando outros tipos de sistemas para
Ciências Matemáticas da Universidade de verificar o poder da teoria, mas já se sabe que
Durham (Inglaterra), afirma: Essa descober- sendo eficaz ela poderá ser aplicada em um
ta é altamente não trivial, pois estes sistemas número muito maior de sistemas do que a te-
estão muito mais próximos de descrever fe- oria das integráveis: Nossos resultados analíti-
nômenos físicos reais e não idealizados. Por cos ainda são aproximados, mas temos argu-
isso, pode ter muitas aplicações. mentos de simetria que mostram que a teoria
Um exemplo destas aplicações está no funciona, comenta o docente: Também neste
novo trabalho dos pesquisadores, que es- trabalho ainda há muitos fenômenos não-line-
tuda uma equação integrável cujas modifi- ares que a ciência básica não entendeu e pede
cações conseguem descrever o comporta- por maiores investigações, completa ele.
mento dos pulsos de luz numa fibra óptica. O pesquisador aproveita para enfatizar
Não existem equações que governem a a importância da Ciência Básica que leva a
maneira como a fibra óptica interage com aplicações muito importantes: As aplicações
a luz, mas há equações aproximadas, mui- tecnológicas são originadas a partir de fenô-
to difíceis de serem resolvidas, que possi- menos físicos e leis físicas e por isso entender
bilitam que se descrevam numericamente estes aspectos é muito importante, afirma: Não
as reações que acontecem ali: Nós quere- basta dominar a tecnologia existente, porque
mos saber se estas modificações, que não a inovação vem da ciência básica, completa.
são integráveis - são quase-integráveis -, O artigo científico foi publicado em
pois descrever este sistema analiticamen- maio deste ano, no Journal of High Physics
te seria algo muito significativo, explica Energy (JHPE), sob o título O conceito de
Agostinho. Se o sistema realmente for quase-integrabilidade: um exemplo concreto,
quase-integrável, pode haver um melhor de autoria de ambos os pesquisadores.
em descobrir a partícula de Deus. Esta é este campo: Quanto mais perto chegamos
a intenção nos grandes aceleradores de da desintegração total das partículas que
partículas do mundo: chocar as partículas conhecemos, mais perto chegamos a des-
e desintegrá-las até que reste apenas um cobrir como a energia é transformada em
elemento, responsável pela existência de massa e vice-versa, e podemos ficar mais
todos os outros. A partícula comprovaria próximos de entender como tiveram origem
a existência do campo de Higgs, uma ener- todas as coisas do Universo, explica ele.
gia que preenche o vácuo do Universo e Com estas reflexões, fica fácil não fi-
que pode ser responsável por dar massa às car desapontado com a distância entre
partículas subatômicas. Crê-se que, após o realidade e ficção. O teletransporte pode
Big Bang, nenhuma partícula teria massa ser o ápice do desenvolvimento tecnológi-
a não ser que entrasse em contato com o co com o qual a humanidade sonha, mas
campo de Higgs. Exceto pelos fótons, que avanços científicos e benefícios práticos
não têm massa, todas as partículas que podem ser gerados a partir da pesquisa e
formam a matéria têm íntima relação com discussão sobre o tema.
referência de tempo, com precisão melhor eficiente: Atualmente, discute-se qual seria o
que bilionésimos de segundo: melhor átomo a ser usado. Mas, pergunta-
No laboratório, chamamos de ‘relógio’ mos: ‘Vale a pena? Será que na hora de fazer
para simplificar, já que na realidade ele é a divisão teremos perdas? Será que consigo
um ‘padrão atômico de frequência’. O re- ‘rodar’ esse sistema ininterruptamente por
lógio é um sistema que contém um padrão vários meses?’ A elegibilidade não leva em
de frequência e um elemento de contagem, conta apenas a medida de alguns minutos,
este último para contar o número de ‘tiques’ diz Daniel.
desse padrão e realmente marcar a hora, O metro é a medida utilizada para a ve-
explica o docente. locidade da luz. Aqui, tem-se uma medida
O objetivo principal do relógio atô- de tempo junto com outra de deslocamento.
mico é criar parâmetros de freqüência Estamos traçando rotas para buscar unida-
cada vez melhores: isso quer dizer que se des cada vez mais bem estabelecidas, base-
buscam formas para medir o tempo com adas numa unidade de referência, no caso a
maior precisão. No caso em questão, uni- do tempo, conta Daniel.
dade de tempo é definida como a frequ- A título de comparação, um relógio
ência associada à energia de transição dos baseado no movimento de rotação da Terra
dois níveis do átomo de césio 133. Embora atrasaria um segundo por ano. Já o relógio
seja o elemento mais popular para o reló- atômico levaria 30 milhões de anos para
gio atômico, nem sempre o césio é o único atrasar um segundo. Isso foi o que pesqui-
utilizado. Estrôncio, cálcio e rubídio, por sadores europeus e americanos descobri-
exemplo, também são usados para realizar ram no ano passado, quando mediram a
as transições. Porém, o césio ainda é o mais precisão do relógio atômico denominado
CsF2 (chafariz de césio), localizado na Grã- O mundo todo abriga cerca de 400
-Bretanha, que acabou ganhando o título relógios atômicos. Nove deles estão locali-
de mais preciso do mundo. Alguns cui- zados no IFSC: seis comerciais (utilizados
dados precisam ser tomados para que um nos experimentos), um de feixe térmi-
relógio atômico se mantenha em funciona- co de átomos (atualmente com operação
mento. Vibrações mínimas podem causar suspensa), o chafariz de átomos frios e o
danos elevados à sua precisão. (denominado pelos pesquisadores do Ins-
Redes de telecomunicação têm seu tituto) compacto. Este último, em futuro
funcionamento cada vez mais eficiente próximo, será transportável ou móvel: Ele
graças aos relógios atômicos: Se quero que poderá funcionar durante o trajeto, inclu-
a velocidade da Internet em minha casa seja sive. Pode ser colocado em um submarino
de 10 Gb/s, é preciso qualidade no sinal ou avião. É nisso que temos trabalhado ul-
de referência. Se não tiver, a informação timamente, conta o docente.
chega incorreta ou o filtro não deixa essa O chafariz, por outro lado, não pode
informação passar, o que, além de tudo, ser movimentado. Foi construído para
pode tornar a Internet mais lenta. estar fixado em algum lugar. É mais pre-
No final das contas, tudo tem a ver ciso do que o compacto: Com o chafariz,
com uma boa referência. Um avião, ao se podemos chegar a uma resolução quase mil
deslocar, precisa saber as posições exatas vezes melhor do que os relógios comerciais e
nas quais deve navegar. Se um sinal de cinquenta vezes melhor do que o compacto,
satélite chega ao seu GPS com três nanos- compara Daniel. Portanto, o foco do tra-
segundos de atraso, significa erro de um balho desses pesquisadores é juntar a pre-
metro em sua posição. cisão e mobilidade em um único relógio.
fotossíntese com alta eficiência. Caio ten- prêmio de melhor apresentação de pôster
ta fazer algo parecido: tornar possível essa na II Conferência USP de Nanotecnologia,
mesma lógica do polímero semicondutor outorgado pela prestigiosa American Che-
criado por Marletta, trazendo um caminhar mical Society. O prêmio destaca sua partici-
dos elétrons nas camadas de valência do re- pação na montagem da estação experimen-
ferido material mais previsível e definido: tal criada por Marcelo Faleiros e o fato de
Estamos verificando se esse material é capaz a estação poder ser usada por outros pes-
de canalizar energia de maneira não tão ale- quisadores.
atória. Conseguindo controlar essa guia de Ele afirma que dará continuidade à pes-
energia, você pode tornar um material mais quisa na pós-graduação planejada para co-
eficiente e construir novos dispositivos, con- meçar num futuro próximo, esperando re-
ta o estudante: Se a natureza evoluiu de tal sultados ainda mais promissores: Pretendo
forma a selecionar organismos que têm esse aprender mais sobre técnicas ópticas, sobre-
tipo de mecanismo fotofísico, provavelmente tudo aquelas que permitem um estudo mais
ele deve fazer a diferença, opina. detalhado de interfaces. Ainda dá para
Quando esse objetivo for alcançado e aproveitar muito do que aprendi na minha
se o conceito de guia de energia se mos- iniciação científica e há vários fenômenos
trar mais eficiente, essa metodologia (ou interessantes com aplicação industrial que
outras análogas, baseadas nela) poderá ser tenho interesse em estudar, conclui Caio.
usada para criar novos dispositivos optoe-
_______________
letrônicos. Assim, possivelmente o mundo
Imagem 1: Estação de espectroscopia ultrar-
digital (TVs, celulares, sensores ópticos,
rápida de bombeio-e-prova
câmeras digitais, vídeo games, tablets etc.)
Imagem 2: Ilustração dos bandgaps dos na-
poderá usufruir dessa tecnologia. nofilmes de PPV sintetizados por Caio
Graças aos resultados de sua pesquisa, *ligações simples-duplas consecutivas
no final do ano passado Caio foi contem- **quantidade de energia necessária para a
plado com uma menção honrosa e com um transição eletrônica
Esse algoritmo foi proposto com im- no algoritmo. Antes de se criar uma me-
portantes propósitos. No que se refere todologia capaz de ensinar robôs a asso-
à pesquisa básica, será uma maneira de ciar imagens e palavras, outros desafios se
elucidar mecanismos utilizados pelos hu- colocam, uma vez que diversas caracterís-
manos para aprender o vocabulário e se ticas desse aprendizado são inerentes aos
comunicar. Cria-se, simultaneamente, humanos e em alguns casos sem explica-
uma metodologia capaz de ensinar o uso ção lógica: Como sabemos o que é um obje-
da linguagem para robôs: Simplesmente to? Como damos nomes a um objeto geral e
observando o mundo, um robô será capaz nomes diferentes a seus componentes? Ensi-
de fazer associações objeto-palavra e muito nar essas diferenciações a um robô é mate-
mais rapidamente do que um ser humano, maticamente impossível, pois abre-se uma
afirma o docente. infinidade de possibilidades, diz Fontanari.
Embora pareça futurista, já existe uma
____________
pesquisa na Universidade de Plymouth, li-
* Um algoritmo é uma sequência finita de
derada pelo pesquisador e também cola-
instruções bem definidas e não ambíguas,
borador de longa data de Fontanari, An-
cada uma das quais pode ser executada me-
gelo Cangelosi, na qual se procura ensinar
canicamente num período de tempo finito e
um robô-bebê a falar.
com uma quantidade de esforço finita (fon-
A pesquisa de Fontanari ainda precisa
te: Wikipedia)
aperfeiçoar alguns pontos, inclusive intro-
duzir o vínculo da exclusividade mútua
ouvisse um estalar de dedos. Perito crimi- matérias estarem bem presentes na minha
nal: eu poderia fazer pesquisa aplicada e memória e aí, sim, foi muito mais fácil: dos
dedicá-la ao bem comum, ao cidadão. Co- 17 mil inscritos apenas passaram 350 para a
lher evidências, analisar provas, trabalhar fase seguinte. A segunda fase do concurso foi
com DNA e decodificar questões laborato- constituída por provas psicológicas, que para
riais complexas, tendo como finalidade a mim foram fáceis, e a terceira e última fase foi
apuração da verdade: tudo isso me pareceu a prova de resistência física: tive que treinar
intrinsecamente ligado à minha graduação e quase três meses, já que muito raramente faço
ao meu mestrado no IFSC – pesquisar! A pe- esportes, relata Érica, sorrindo.
rícia é para mim uma das aplicações diretas Quase no final deste desafio, Érica está
da ciência em prol da sociedade, comenta a entre os primeiros cinquenta classificados
jovem estudante. do concurso, ou seja, está praticamente
Sem qualquer problema em se con- aprovada para assumir seu cargo de Perita
frontar com cerca de 17 mil candidatos para Criminal, com um salário inicial de cerca
apenas 103 vagas, em janeiro deste ano Éri- de R$ 6.000,00, esperando apenas saber
ca prestou o concurso público e conseguiu para que cidade do Estado de São Paulo
chegar no topo: A primeira fase do concurso ela será destacada. Uma pergunta se co-
foi dividida em duas partes: a primeira foi loca a esta jovem: e o Mestrado ficará no
um teste geral, que incluiu português, lógica, meio do caminho? Terá que interrompê-
informática, direito e criminologia: foi difí- -lo? Nada disso! – responde Érica. Seja em
cil, principalmente no que diz respeito a di- que cidade eu ficar, virei para o IFSC nos
reito e criminologia. A outra parte foi uma finais de semana para fazer meus trabalhos
prova específica, com questões relacionadas à no laboratório e escrever minha tese e para
física, química, matemática e biologia, áreas defendê-la em tempo oportuno. O mestra-
que para mim eram familiares graças às par- do poderá ser um diferencial para a minha
ticularidades do meu curso e ao fato de essas profissão, conclui a jovem.
A
pesquisa em física nos primeiros anos do campus de
São Carlos e depois no então Instituto de Física e Quí-
mica de São Carlos incluiu, desde o início, estudos de
matéria condensada, o que não era muito comum no Brasil nas
décadas de 1950 e 1960. Em São Carlos, entretanto, criou-se
uma tradição com estudos teóricos em física do estado sólido,
semicondutores, mecânica estatística, além de várias áreas ex-
perimentais. Praticamente todos os tipos de matéria condensa-
da são representados hoje na pesquisa do IFSC. Com a evolução
de tecnologias e possibilidade de estudar e manipular materiais
na escala nanoscópica, no que se tornou a área denominada na-
nociência e nanotecnologia, esses diversos grupos passaram a
contribuir com pesquisas em nanotecnologia. De certa manei-
ra, atualmente as pesquisas no IFSC em materiais e nanotecno-
logia são indistinguíveis, pois análises sofisticadas de materiais
acabam quase sempre por envolver a escala nanoscópica.
Neste capítulo, são apresentadas reportagens sobre pesqui-
sas em materiais e nanotecnologia, também incluindo as apli-
cações em biologia e medicina, com a chamada nanomedicina.
A escolha das reportagens foi, em alguns casos, arbitrária, pois
é difícil distinguir nanotecnologia ou nanomedicina de aplica-
ções em saúde ou dos trabalhos em ciências físicas e molecula-
res, tratados em outros capítulos.
107
Materiais e Nanotecnologia
Filmes nanoestruturados
09 janeiro 2010
16 de novembro de 2010
nos sensores de gás e células solares, conta Os sensores de gás são dispositivos
o docente. utilizados para detectar a quantidade de
O projeto, que completa seu segundo gases em um ambiente. No caso de um
ano, é promissor. Em maio deste ano, Val- vazamento de gases tóxicos, esses senso-
mor levará até a França a primeira amos- res poderiam acusar tal vazão, evitando
tra de nanomateriais produzida por seu acidentes. Nos carros mais modernos já
grupo: Agora poderemos ver os primeiros existe um sensor de oxigênio, conhecido
resultados, porque são materiais novos. Os também por sonda lambda. O sensor faz
primeiros testes serão feitos para os sensores parte do sistema de controle de emissões e
de gás. envia dados para o computador de geren-
ciamento do motor. O objetivo é ajudar o
motor a funcionar da forma mais eficien-
te e produzir o mínimo de emissões: Esse
tipo de sensor já existe e é comercializado
há anos, mas o que se busca são sensores
mais sensíveis e rápidos, que possam detec-
tar, de uma maneira mais eficiente, a pre-
sença destes gases, explica Valmor: O que
desenvolvemos aqui será comparado com o
que já se tem no mercado, para verificar-
Resultado final do nanomaterial, que bus- mos se nosso material atende às melhores
cará trazer melhor eficiência nos sensores
condições de rapidez e sensibilidade exigi-
de gás.
das, conclui o docente.
zido, possuem variação estrutural grande. incorreto pode causar danos, inclusive à
Um exemplo são as moléculas de sal (clo- saúde: Imagine que você respira uma na-
reto de sódio): As ligações entre sódio (Na) nopartícula e ela vai parar no seu pulmão.
e cloro (Cl) são satisfeitas, internamente, Se ela começa a interagir com as membra-
mas as moléculas da superfície não se ligam nas do pulmão isso pode gerar problemas,
a nada, o que causa um estado de muita pois o agitamento dessas partículas é muito
agitação e maior energia em toda nanopar- alto! A nanopartícula é mais ativa, ela tem
tícula, esclarece. capacidade de interagir com qualquer sis-
tema que se junte, explica: É preciso fazer
O boom do mundo nano
uso responsável das nanopartículas. Um
e a ética no uso levantamento de dados, para saber onde se
O assunto parece recente, mas estu- encontra a nanotoxicidade dos materiais, é
dos nessa área já são realizados há algum muito importante! adverte Yvonne.
tempo: Desde a descoberta dos Raios X, Com bom uso, os benefícios são in-
medimos a distância entre as moléculas por contáveis. Segundo a professora, a genéti-
escala nanométrica. O que faltava era ma- ca terá grande salto com estudos em escala
nipular em escala nanométrica. Essa é a nano: A área de manipulação genética é a
novidade! Hoje em dia, temos recursos para grande aposta! Por exemplo, se uma crian-
esse manuseio e ao chegar nesse ponto cria- ça foi gerada com defeito genético, pode-se
-se uma imensa área de pesquisa, explica fazer o conserto desse gene, diz: No âmbi-
Yvonne. Ela conta que máquinas biológi- to de bactérias, essas intervenções já são
cas- onde se inclui o corpo humano - fun- muito bem feitas. Ela finaliza com a ideia
cionam em escala nanométrica: A parede de que todo conhecimento pode ser usado
celular, que permite a entrada e saída de nu- para o bem ou mal. É preciso que ao longo
trientes na célula, é nanométrica, esclarece. do desenvolvimento tecnológico cresça uma
Por outro lado, a nanotecnologia deve ser população crítica e ética para que se faça a
usada com responsabilidade, pois seu uso utilização responsável dessa novidade.
O plástico do futuro
13 de Dezembro de 2011
Grande parte do desenvolvimento tecno- bem em temperaturas mais altas, por exem-
lógico depende do acúmulo de conheci- plo, pois o material será mais resistente, ex-
mentos. plica Osvaldo.
A pesquisa prevista na parceria com a O Grupo preocupa-se com a aplicação
Argentina busca várias vantagens: políme- das técnicas desenvolvidas. Mas o foco ini-
ros para armazenamento óptico em sua for- cial é provar as possibilidades de melhora
ma original não são flexíveis nem resistentes. das propriedades do polímero e explicar
Quando se fabricam os filmes finos com o os fenômenos envolvidos em sua aplica-
copolímero, combinando propriedades ção: O desenvolvimento de produtos muitas
mecânicas e ópticas no mesmo material, vezes só é possível a partir de pesquisas bá-
aumenta-se a possibilidade de aplicação: sicas, geradas, em princípio, sem preocupa-
Poderemos ter materiais que funcionem ção com a aplicação.
que se distinga nuances destes sabores bá- análise de alguns tipos de materiais. Contu-
sicos, por isso a importância de ter vários do, é possível que a sensibilidade do sensor
sensores. seja menor: Para aplicações comerciais, se-
Os sensores são fabricados a partir de ria a melhor saída, vislumbra o pesquisador
filmes poliméricos ou filmes de biomolé- do IFSC.
culas, e em nenhum destes casos é possí-
vel conseguir uma reprodutibilidade alta,
Dez anos de pesquisa
ou seja, duas unidades sensoriais nomi- O primeiro trabalho da equipe brasi-
nalmente idênticas – produzidas com os leira foi publicado em 2002, relatando os
mesmos materiais e nas mesmas condições sucessos do dispositivo com base na técni-
– não apresentam propriedades iguais. Su- ca de espectroscopia de impedância. Esta
ponhamos que seja necessário comparar é uma inovação que se mostrou superior
dois sabores em que apenas a acidez va- às técnicas utilizadas em outros projetos
ria muito pouco. O ideal seria um sensor internacionais e gerou grande repercussão
com material cujas propriedades elétricas na imprensa global, como a primeira língua
dependessem muito da acidez, ou seja, do eletrônica de grande capacidade, que podia
pH. Alguns polímeros condutores são ex- distinguir todos os sabores básicos, além
tremamente sensíveis a mudanças de pH, de águas de coco e amostras de água com
então estes materiais são ideais para detec- pequenas quantidades de poluentes. Des-
tar sabores ácidos. Entretanto, no caso de de essa época, muitos avanços têm sido
duas substâncias com pequenas variações alcançados através do esforço conjunto
nos sabores doce ou amargo, não haverá de pesquisadores brasileiros, que hoje in-
grandes mudanças no pH ou na quantidade clui a Escola Politécnica da USP, Embrapa
de íons da amostra e portanto o uso de po- Instrumentação, Unesp de Presidente Pru-
límeros condutores pode não ser eficiente. dente, UFSCar de Sorocaba, Faculdade de
Não há um estudo que pré-determine o Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
número de sensores necessários para se ob- Preto, Universidade Federal de Rondônia,
ter a variedade de resposta desejável e gerar ICMC e o IFSC. Em 2004, um artigo foi
algo como uma impressão digital de cada publicado apresentando a capacidade da
amostra de alimento estudado, reprodu- língua eletrônica brasileira de distinguir
zindo a combinação de sabores da maneira complexas amostras de safras de vinhos:
como o cérebro a capta: Podemos utilizar o Conseguimos descobrir se o vinho, que era
mesmo material, com sensores de caracterís- feito da mesma uva e pelo mesmo produtor,
ticas diferentes, como a espessura e a técnica provinha de uma safra diferente, explica o
de fabricação do filme, explica Osvaldo. Os professor. Para atingir uma precisão tão
sensores de materiais inorgânicos, uma op- grande com uma amostra tão complica-
ção a ser explorada pela equipe, pode apre- da, como é o vinho, é necessário tratar os
sentar maior reprodutibilidade e otimizar a dados com métodos especiais: neste caso,
por que a sensibilidade é tão alta. Para Segundo, porque a aplicação ainda não está
isso, o grupo tem aplicado metodologias disponível e difundida no mercado. Nas
teóricas e experimentais para desvendar aplicações mais nobres, a alta sensibilidade
o mistério da alta sensibilidade. Dentre as dos sensores é o próprio calcanhar de Aqui-
técnicas experimentais, eles têm utilizado, les do projeto, porque qualquer mudança
em parceria com a Unesp de Presidente do material significa mudança nas proprie-
Prudente, a espectroscopia Raman, que dades, o que exige a substituição de alguma
serve para sensoriamento de moléculas unidade sensorial. Então, para obter dados
isoladas entre um grande conjunto de de uma série de amostras, seria necessário
outras moléculas. Pôde-se verificar como recalibrar todo o sistema, ou a língua ele-
esta técnica poderia auxiliar no entendi- trônica forneceria resultados diferentes:
mento das alterações das propriedades Ainda precisamos resolver este problema
elétricas das amostras de interesse bioló- para colocar uma língua eletrônica de alto
gico do projeto. nível no mercado, conta Osvaldo. Como
Além da possibilidade de aplicação, é impossível ter dados idênticos, devido
neste último trabalho tentamos explicar a à variabilidade intrínseca aos sistemas, é
sensibilidade para mais bem manipulá-la, preciso lidar tanto com as amostras quan-
mas não esperávamos respostas definitivas to com os materiais através de métodos
porque não há instrumentos disponíveis computacionais. Isso ressalta a importância
para isso, reflete Osvaldo. No entanto, o da parceria com o ICMC, já que uma das
trabalho já aponta para uma adsorção das possibilidades mais fortes de solução deste
moléculas nos filmes, responsável por parte problema é fazer o mapeamento de dados
das alterações das propriedades elétricas e de amostras, que são semelhantes, mas não
pela detecção dos sensores. Não resolvemos idênticas, através de software, para não ter
todos os problemas, de origem na Física e na que refazer todas as medidas. Segundo Os-
Química básica, mas é um passo, completa. valdo, sua maior colaboração no projeto
Mesmo depois de dez anos de pesquisa, é trazer uma perspectiva interdisciplinar:
o assunto permanece atual. Primeiro, devi- Acho que é essencial combinar diferentes tec-
do à dificuldade de predeterminar os ma- nologias, para obter resultados mais signifi-
teriais que devem ser usados nos sensores. cativos, finaliza ele.
básicos: um com nanopartículas sólidas po- preços menores, gerando um produto final
liméricas e outro com nanopartículas lipídi- mais barato aos consumidores, afirma. O
cas sólidas, adianta a pesquisadora. Photoprop (embalagem de 40 ml), por
O projeto financiado pela FAPESP no exemplo, tem custo médio de R$72,00.
programa Pesquisa Inovativa em Pequenas O Active Dermato Sistema (O Boticário),
Empresas (PIPE) deve apresentar resulta- R$52,00. As nanocápsulas do LNN serão
dos concretos até o final do ano, incluindo vendidas às empresas interessadas, que
a comercialização das nanocápsulas. Em poderão baratear seus produtos.
relação ao custo do produto, Paula não _______________
arrisca valores: Hoje, no Brasil esse tipo de * empresa nascida a partir de um grupo de
insumo é em sua maioria importado. Pre- pesquisa.
tendemos, como empresa nacional, produ- ** área da ciência farmacêutica que pesqui-
zir tais insumos com a mesma qualidade sa, desenvolve, elabora, produz, comerciali-
e segurança que as estrangeiras, mas com za e aplica produtos cosméticos.
143
Energia e meio ambiente
aprova quase metade. Ter sido aprovado em do que estas biomoléculas. As enzimas são
segundo lugar foi uma grande satisfação, co- especializadas na catálise de reações bio-
menta Polikarpov, coordenador do projeto lógicas, com desempenho muito superior
de pesquisa. a qualquer catalisador já produzido pelo
A proposta brasileira, enviada ao homem.
BBSRC (Biotechnology and Biological O fator que mais impede o aprovei-
Sciences Research Council) em outubro tamento pleno desta capacidade das en-
do ano passado, pode ser resumida como zimas é o procedimento normalmente
uma nova abordagem para investigar enzi- aplicado na distinção, caracterização e
mas na degradação do bagaço da cana-de- posterior cultivo da enorme quantidade
-açúcar, pesquisa que complementa uma de micro-organismos para degradar qual-
proposta inglesa liderada pelo professor quer matéria. Segundo Polikarpov: Os mi-
Neil Bruce, da Universidade de York, cujo cro-organismos não conseguem transferir
objeto de pesquisa é um produto parecido biomassa para dentro das células, mas eles
com o feno. A ideia central deste projeto convertem-na em açúcar para energizar a
de pesquisa é encontrar enzimas capazes célula; então, essas proteínas que investi-
de degradar biomassa para a produção de gamos são excretadas para fora da célula.
combustível e energia elétrica, em substi- Assim, no genoma das células existem
tuição às formas convencionais derivadas apenas aproximadamente 5% de enzimas
do petróleo. que de fato interessam aos pesquisadores.
Segundo Polikarpov, os cientistas A novidade do projeto é que tendo
atualmente conseguem cultivar em labo- conhecimento da potencialidade destas
ratório apenas 1% dos micro-organismos enzimas e compreendendo seu funciona-
presentes no Universo, o que significa di- mento, os pesquisadores desenvolveram
zer que 99% destes micro-organismos não uma tecnologia que permite uma marca-
podem ser apreendidos: são perdidos e ção mais exata de enzimas extracelulares.
morrem. Por essa razão, o procedimento O segredo é a exploração de um mecanis-
mais comum é selecionar um conjunto mo de afinidade proteica que não atravessa
destes micro-organismos, sem distingui- membranas biológicas e, por isso, apenas
-los ou caracterizá-los, e sequenciar seu acessa e marca proteínas extracelulares:
DNA – a chamada atitude metagenômica. Com essa marcação podemos ‘purificar’
No entanto, esta técnica revela-se pouco parcialmente enzimas, ou seja, enriquecer a
eficiente quando o objetivo não é estudar concentração das enzimas naquilo que você
todos os genes, mas sim enzimas específi- está extraindo da biomassa, neste caso a lig-
cas e, como é o caso desta pesquisa espe- nocelulose (princípio do bioetanol) e a cul-
cífica, enzimas que os micro-organismos tura microbiana, sequenciando pequenos
secretam. No que diz respeito à produção pedaços destas proteínas – a que chama-
de energia, nada pode ser mais eficiente mos de procedimento proteômico, explica
ainda como as propriedades destes mate- que não podemos manipular com faci-
riais podem ser utilizadas, então pode não lidade: A relação sensitiva se dá através
ser uma boa ideia fazer um grande investi- de um equipamento tecnológico, de um
mento para esconder elementos preciosos, ponteiro, e nós tememos muito aquilo so-
estima o docente. bre o qual não temos um controle natural,
Os medos decorrentes dos perigos do reflete o pesquisador. Mas a defesa con-
lixo não são meros frutos da imaginação tra estas ameaças não é impossível; pelo
do ser humano. Na modernidade, aquilo contrário, pode ser bastante eficaz quan-
que mais tememos é o inimigo invisível, do encarada com a gravidade que lhe é
silencioso, aquele que não podemos ver, devida, com seriedade e profissionalismo.
O
pioneirismo do IFSC deixou sua marca também na
computação do Brasil. Com a motivação na década
de 1970 de prover infraestrutura computacional para
algumas das pesquisas em física no então IFQSC, professores
do IFSC acabaram por contribuir de maneira decisiva para a
consolidação de um polo de computação em São Carlos. Ape-
nas a título de ilustração, muitos docentes do atual ICMC de-
senvolveram seus projetos de mestrado e doutorado no IFSC,
criando uma parceria que cresceu com o tempo e hoje permite
a realização de pesquisas inovadoras e multidisciplinares. São
também produtos desse trabalho a modalidade de física com-
putacional na pós-graduação em física aplicada e o bacharelado
em física computacional.
Este capítulo traz uma amostra das pesquisas em física
computacional, iniciando-se com um depoimento do Prof. Jan
Slaets, pioneiro da computação em São Carlos.
169
Física Computacional
Computação e Informática
em São Carlos
Prof. Dr. Jan Slaets – IFSC/USP
D
esde sua criação em 1971, os dirigentes do en-
tão Instituto de Física e Química de São Carlos
(IFQSC) se dedicaram em criar uma ampla infra-
estrutura para viabilizar a realização de pesquisas. Assim,
foram criadas oficinas com equipamentos e funcionários es-
pecializados nas áreas de mecânica, criogenia, vidros, eletrô-
nica, além da biblioteca. Esta infraestrutura foi fundamental
para que o IFQSC desenvolvesse pesquisas, criando e man-
tendo equipamentos experimentais em funcionamento.
Com esta visão, os fundadores do Instituto plantaram
também as primeiras sementes para realizar pesquisas in-
terdisciplinares, construir equipamentos próprios para pes-
quisa e formar recursos humanos com bons conhecimentos,
não somente em física, mas também em áreas aplicadas e
interdisciplinares. Com a aquisição do computador Digital
PDP11/45, em 1974, adquirido para realizar cálculos para
determinar estruturas moleculares a partir de dados obti-
dos por difração de Raios X, o Instituto iniciou sua própria
infraestrutura de computação. Tratando-se de um sistema
interativo e permitindo acesso via terminais, foi possível
utilizá-lo para efetuar outros cálculos e simulações. Assim
iniciou-se a utilização de softwares - principalmente a lin-
guagem FORTRAN - em várias pesquisas.
O surgimento dos microprocessadores no final da déca-
da de 1970 permitiu o desenvolvimento de projetos de har-
dware baseados em microprocessadores, tornando possível
controlar e adquirir dados experimentais de modo digital,
podem ser evitadas utilizando um conjunto esquema perturbativo que facilita a aplica-
de funções básicas. Isso requer que se apro- ção do método para neurônios fracamente
xime a sequência de disparos de funções de correlacionados.
quatro pontos em combinações de funções O artigo foi publicado no periódico
de dois pontos, o que seria verdadeiro para Neural Computation, do MIT Press Jour-
processos estocásticos gaussianos. No caso nals.
presente, a aplicação desta aproximação
não diminuiu a qualidade da reconstru- Referência:
ção. A contribuição dos kernels de segun- FERNANDES,N.M.;PINTO, B. D.
da ordem na reconstrução do estímulo é L.;ALMEIDA, L.O.B.; SLAETS,J.F.W.;
de apenas 5%, quando comparado com a KÖBERLE,R. Recording from two neurons:
contribuição de primeira ordem. No en- second- order stimulus reconstruction from
tanto, representando um estímulo visual spike trains and population coding.Neural
rotacional, a adição dos kernels de segunda Computation,v.22, n.10, p.2537-2557, Oct.
ordem pode representar uma melhora de 2010.
até 100%. No artigo, foi apresentado um
a forma das mitocôndrias e usa conceitos utilizamos são da Análise de Imagem, que é
de redes complexas, que é uma versão mo- uma parte do estudo da visão, explica Fon-
dernizada da teoria dos grafos. Um grafo toura.
é uma estrutura importante, pois pode re- Apesar de todos os avanços, ainda há
presentar quase qualquer tipo de sistema. É muitos desafios para a visão cibernética. O
composto por nós que se conectam através maior deles é o reconhecimento automáti-
de ligações, arestas. Uma rede social, por co de padrões - a identificação de catego-
exemplo, pode ser representada por um rias de objetos: Se os objetos são bastante
grafo, em que cada indivíduo é um nó que diferentes, é fácil distingui-los. Mas isso não
estabelece ligações através de suas relações ocorre para objetos com características se-
com outros indivíduos. Esse tipo de estudo melhantes, conta o pesquisador. Este tipo
pode ser aplicado, novamente, à transmis- de procedimento é base de, por exemplo,
são de doenças: é possível verificar de que diagnóstico automático de exames médi-
maneira as doenças se propagam em tipos cos, nos quais é preciso procurar por do-
diferentes de estruturas. enças nos padrões e muitas vezes não há
Estas pesquisas visam ao estudo da uma diferença óbvia.
forma, que é fundamental para a visão: Isso Já a área de redes tem revolucionado
tudo se refere à caracterização automática as ciências e pode ser aplicada em quase
das formas: dimensão fractal, alongamen- todas as áreas. É o caso de uma tese de
to, complexidade, ou seja, as características doutorado que desenvolveu um trabalho
geométricas dos objetos. Estes conceitos que relacionado à leucemia.
e aquisição dos sinais enviados por seus estímulos e a aquisição de dados dos sinais
neurônios durante experimentos, explica o neurológicos exigem equipamentos espe-
pesquisador. ciais, não disponíveis no mercado. Nesse
Diversos grupos se uniram para desen- aspecto, métodos computacionais são fun-
volver pesquisas semelhantes à citada. No damentais, conta Lírio.
caso do estudo do cérebro da mosca, no Essa área fascinante de pesquisa foi
IFSC, além dos próprios físicos, grande motivada por um período sabático de dois
parte dos pós-graduandos veio do curso anos do Prof. Roland no Centro de Pesqui-
de Ciências Físicas e Biomoleculares, mas sas NEC Worldwide, em Princeton (EUA),
engenheiros eletrônicos e físicos compu- onde trabalhou com Rob de Ruyter van
tacionais do Instituto também participam Steveninck, um dos grandes estudiosos do
do projeto: A precisão para geração dos assunto.
Dois anos após o lançamento do TI- redes de fibra óptica, tanto no campus da
DIA, vários projetos de pesquisa (incluindo USP quanto na cidade de São Carlos, onde
o Kyatera) receberam as verbas para serem qualquer usuário interessado em trabalhar
concretizados: A FAPESP financiou nosso com redes pode usufruir: Essa rede liga pro-
projeto com R$1 milhão, mas o total de in- fissionais da Física, Engenharia Elétrica e
vestimentos foi muito maior, no valor de R$8 Computação da USP, além do Departamen-
milhões, conta o docente. to de Computação da UFSCar, acrescenta
Através do Kyatera, uma rede de fibra Ruggiero.
óptica foi disponibilizada para ser instala- Assim, o número de fibras ópticas no
da em todo o Estado de São Paulo. Foram campus foi significativamente ampliado:
definidos três polos principais, para serem Temos aqui no campus cabos passando com
as espinhas dorsais da rede: São Paulo, cento e quarenta e quatro fibras e o Cen-
Campinas e São Carlos foram as cidades tro de Informática da USP de São Carlos é
escolhidas por concentrarem maior volu- responsável por algumas dessas fibras, com-
me de tráfego: Pelo fato de os cursos de ci- plementa o docente.
ências exatas da USP, fora de São Paulo, es- De acordo com Carlos Antonio, desde
tarem em São Carlos, o tráfego aqui sempre seu projeto inicial, o TIDIA objetiva chegar
foi muito alto, quase igual ao de Campinas, a toda comunidade - embora até o momen-
explica Carlos Antonio. to seja somente utilizado por pesquisadores:
Com essa rede a velocidade da inter- Inicialmente, o TIDIA foi projetado para o
net nas três cidades chegava a 10 Gigabi- uso daqueles que trabalham com redes e é ób-
tes por segundo, com o adicional de 10 vio que isso será repassado a todos, mas esse
Gigabites (previstos pela redundância), processo atrasou, conta.
somando uma velocidade de conexão im- Ele afirma que em 2012 há grandes
pensável para grande parte dos usuários chances de o projeto poder ter um rápido
comuns: Essa é uma rede voltada a pesqui- progresso e todos possam usufruir da velo-
sadores, especialmente aqueles ligados com cidade de transmissão de informações atra-
pesquisa em rede de computadores, conta vés das fibras ópticas: A infraestrutura está
Ruggiero. pronta, mas para fazer essa transferência à
A consequência disso, especificamen- comunidade é preciso que ela esteja funcio-
te para São Carlos, foi a construção de três nando perfeitamente, conclui o docente.
À esquerda, planta da espécie Passiflora Caerulea, ao lado de imagem gerada a partir de seu
escaneamento pela equipe do IFSC.
pode acessar todas as informações do pro- uma foto e enviar para um software, ou
duto que está cultivando. um endereço online, o biólogo pode obter
informações sobre as prováveis espécies às
quais pode pertencer a folha, de maneira
muito mais prática e rápida. Para identifi-
car uma espécie de planta encontrada em
campo, atualmente um biólogo tem que
consultar um herbário, onde plantas são
catalogadas secas por muitos anos – um
processo que pode levar muitos dias.
Contudo, Odemir afirma que o pro-
blema encontrado na Biologia é extrema-
mente difícil e sofisticado: Estamos traba-
lhando nisso há dez anos, mas é possível
que daqui a mais dez anos ainda estejamos
Projeto Visão Artificial do Milho: escanea- aprimorando nossa solução para esta pro-
mento das folhas de milho permite a identifi- blemática, porque atualmente, nem a Ma-
cação das deficiências nutricionais da planta. temática, Física ou Computação têm ferra-
mentas prontas para solucioná-la. Por isso,
O docente conta que uma versão a equipe usa este problema para tentar de-
mais sofisticada do dispositivo pode ser senvolver algoritmos que possam fornecer
integrada a um telefone celular. Ao obter a solução em futuro próximo.
A (r)evolução da informática
30 de Janeiro de 2012
poderia estar nesse patamar, afirma o do- uma velocidade de transmissão de dados
cente: Sempre se teve pouco desenvolvimen- muito maior do que atualmente. Quanto
to de tecnologia no Brasil. Mesmo sendo ao tamanho dos computadores, se cami-
país em desenvolvimento, a indústria bra- nharmos do desktop ao iPad, poderemos
sileira sempre foi de montagem e raramente perceber que a tendência é que encolham
desenvolveu produtos, lamenta. cada vez mais.
A escolha com a qual o Brasil pode se A computação em nuvem, de acordo
deparar, nesse sentido, é caminhar para o com Guilherme, já é uma realidade. Fun-
desenvolvimento de softwares livres (que ciona da seguinte forma: qualquer docu-
não exigem o pagamento de licença de mento, dado ou informação armazenada
uso, por parte dos usuários) ou na direção em uma máquina, poderá ser acessado de
capitalista, desenvolvendo programas cuja qualquer outra, em qualquer lugar do pla-
licença de uso é paga: Com softwares livres, neta: ou seja, qualquer suporte físico terá
as pessoas aprendem mais e, no caso bra- acesso à informação virtual.
sileiro, talvez fosse melhor caminhar nessa As evoluções e facilidades que teremos
direção e dar liberdade aos programadores. em áreas como saúde e educação também
Quando as pessoas se veem obrigadas a são significativas: A Google comprou uma
aprender por conta própria, podem apren- empresa de DNA e utilizará as técnicas de
der mais e os brasileiros são muito criativos, banco de dados para sequenciar o DNA,
diz Guilherme. conta Guilherme: Por trás disso está o de-
Grandes empresas, como Google ou senvolvimento de bons softwares, diz.
Yahoo, trabalham no desenvolvimento de _____________
novas tecnologias. Em um futuro próxi- ** Traduz-se “aglomerado” e, na prática,
mo, teremos diversas máquinas em uma significa o trabalho de vários computadores
só, fazendo a computação nas nuvens, com juntos.
A teoria do caos, ou a ciência não linear, está mais presente em nossas vidas e em nossos
arredores do que podemos imaginar. Segundo o professor Odemir, a própria natureza pode
ser modelada como um autômato celular, pois o funcionamento biológico dos seres vivos se
dá através da interação de células que podem ser vistas como indivíduos que, quando em
conjunto, dão origem a uma folha ou a algum órgão do corpo humano, por exemplo. Os
fractais, objetos geométricos que podem ser divididos em partes idênticas ou similares ao objeto
original, compõem uma parte importante na investigação dos pesquisadores e podem ser
encontrados na natureza de diversas formas, desde a cauda de um pavão até a forma de uma
couve-flor e a costa fragmentada de países como a Inglaterra.
projeto já em desenvolvimento pela equipe de uma floresta. Aí sim, ela é melhor que um
de Odemir Bruno, imagens médicas e mo- ser humano – sublinha Odemir Bruno.
nitoramento de imagens urbanas via satéli- No monitoramento de imagens ur-
te. Na saúde, o trabalho de Backes poderá banas via satélite, a ferramenta é capaz de
auxiliar a diagnosticar precocemente a for- fazer uma análise do grau de desenvolvi-
mação de tumores: repare que refere-se à mento de uma cidade – de qualidade de
formação de tumores, ou seja, tumores que vida, assimetrias arquitetônicas, déficits de
ainda não existem: Essa ferramenta propicia espaços verdes e de lazer, amplitude e qua-
que a máquina veja coisas que o homem não lidade de vias de comunicação, dimensão
consegue enxergar. Por exemplo, se houver e aproveitamento de quadras e praças pú-
alguma combinação celular numa imagem blicas. Esses dados podem ser comparados
de formação de um tumor, que aos olhos hu- com os de outras fontes (por exemplo, do
manos passa completamente despercebida, IBGE) para auxiliar órgãos públicos a rea-
a máquina detecta e informa. Nessa linha lizarem correções: Eu diria que é um olhar
de visão computacional com a qual traba- matemático sobre a urbe. Resumidamente,
lhamos, mais do que fazer o computador neste momento esta nova ferramenta está
enxergar o mundo como um ser humano, apta a fazer identificação, mapeamento e
do ponto de vista da versatilidade – obser- reconhecimento de plantas nas florestas e
var uma obra de arte, dirigir um carro, jo- em imagens médicas: quanto às imagens
gar futebol ou ver um filme, por exemplo -, urbanas, ainda vai demorar algum tempo
o ponto fulcral é poder criar nas máquinas – conclui Odemir Bruno.
uma visão específica: daí que a ferramenta é O trabalho de André Backes já foi
capaz de diagnosticar a futura existência de mencionado em dez das mais importantes
um tumor, ou reconhecer e mapear plantas revistas científicas de sua área de pesquisa.
A solidariedade da levedura
14 de Dezembro de 2012
nossos dados on-line, tanto na transmissão ao manipular o sistema físico sem permitir
como no armazenamento. Hoje, o princi- que ocorram transições entre seus estados
pal protocolo utilizado para criptografar a quânticos, explica Frederico.
informação utiliza-se de uma codificação De acordo com Frederico, a maior
baseada em números primos. Até agora, parte da comunidade científica continua
ninguém mostrou algum algoritmo clássico trabalhando com computação quântica
capaz de quebrar essa criptografia de ma- utilizando somente o modelo de circuito.
neira eficiente, explica o docente. A base de dados e descobertas são muito
Em 1994, o matemático do Massachu- maiores e há elementos que indicam ser
setts Institute of Technology (MIT), Peter possível implementar computação quân-
Shor, demonstrou que se um dia con- tica através do modelo existente. No en-
seguíssemos construir um computador tanto, uma parcela crescente considera
quântico, ele seria capaz de implementar a computação adiabática tão interessante
um algoritmo que poderia quebrar facil- (e promissora) quanto a quântica usual. A
mente a criptografia atual, de maneira efi- chave para o sucesso da computação adia-
ciente. Na prática, isso significa que, caso bática é conseguir manter o sistema no seu
a criptografia se mantenha da forma como estado fundamental durante a implementa-
está, um computador quântico poderá ção do algoritmo e, para que isso seja possí-
muito facilmente desvendar os códigos vel, os desafios são grandes. Primeiramen-
já existentes. No entanto, se a tecnologia te, é preciso evitar transições entre os níveis
quântica for dominante, consequente- de energia quânticos: Todo sistema físico
mente a criptografia quântica é que toma- interage com seu ambiente. Portanto, não
rá conta, tornando os códigos muito mais há controle sobre essa interação e ela pode
seguros. gerar erros e induzir transições no sistema,
Uma variação da computação quân- exemplifica Frederico: Mas, pressupondo-se
tica, menos conhecida, é a computação que o sistema seja isolado, o que vai determi-
quântica adiabática. Enquanto o modelo nar a rapidez com que virá a resposta será a
de circuito se utiliza de portas lógicas para distância entre os níveis de energia do siste-
realizar suas tarefas, a adiabática força uma ma, chamada de ‘gap’: quanto maior o gap,
evolução contínua do sistema. Numa defi- menor a chance de se cometer um erro na
nição mais simples, a computação quântica computação.
adiabática faz com que o sistema trabalhe Outro problema é que quanto maior
no menor nível de energia possível: Trata- o tamanho do sistema menor o gap. Isso
-se de um paradigma diferente para a rea- é ruim, pois quanto maior a quantidade
lização da computação. Deixamos de proce- de dados inserida no sistema, menor será
der à computação através de uma sucessão seu gap e, portanto, o tempo de resposta
de várias operações, para uma situação na será longo e a eficiência baixa: Com isso,
qual obtemos a resposta do nosso problema o tempo de resposta é muito longo! Essa é a
Quantificação da interdisciplinaridade em
revistas científicas e campos de pesquisa
29 de Julho de 2013
Descobre-se de onde vêm as citações para podem ser importantes até para mostrar
uma determinada revista ou campo do seu perfil. Se esse perfil não está adequa-
conhecimento: se elas vierem de campos do, o comitê editorial pode fazer ajustes. A
muito distantes, muito diferentes, isso dará ciência de computação, central nos nossos
uma entropia alta, ou seja, aquela revista ou dias para o desenvolvimento tecnológico,
campo tem alta interdisciplinaridade. tem revistas com baixa multidisciplinari-
Osvaldo dá alguns exemplos: É dade. Isso é surpreendente porque a com-
óbvio que temos uma ideia do mapa putação está inserida em todas as áreas do
do conhecimento, só que neste trabalho conhecimento. Na opinião do pesquisa-
podemos quantificar como as áreas são dor, as revistas apresentam entropia baixa
conectadas. O mais importante é que a (baixa interdisciplinaridade) devido a suas
partir da entropia podemos saber quão políticas editoriais que privilegiam con-
diversificada é uma área, qual a natureza tribuições mais dedicadas à computação
interdisciplinar de uma área científica ou propriamente dita, não dando destaque às
de uma revista: isso pode servir para o es- aplicações de computação em outras áre-
tabelecimento de políticas editoriais para as. Ou seja, essas revistas privilegiam tra-
revistas ou para áreas de pesquisa, ou para balhos que não são multidisciplinares: A
agências de fomento, a partir das intercone- impressão que tenho é que as revistas de
xões identificadas. computação são extremamente herméticas:
O grupo responsável pelo trabalho ob- se os corpos editoriais dessas publicações
servou a evolução da rede num período de acreditarem que elas podem e devem ser
onze anos. A partir da linha do tempo da mais multidisciplinares, serão obrigados a
interdisciplinaridade, percebeu-se que essa mudar a política editorial para atingir esse
é uma medida crescente, ou seja, as áreas fim, pontua o autor.
estão se tornando ainda mais interdiscipli- As sociedades científicas e editoras
nares: Neste trabalho, mostramos em gráfi- podem pressionar os corpos editoriais
cos uma análise quantitativa da interdisci- para que a política seja alterada, embora
plinaridade. Além de ser útil para subsidiar isso exija uma mudança de cultura nas
políticas, esta quantificação de interdiscipli- próprias áreas: em geral, isso também de-
naridade pode servir para futuros projetos. pende dos árbitros, que são independen-
Por exemplo, com o mapa do conhecimento tes. Aparentemente, os árbitros das prin-
descobrem-se as conexões em determinadas cipais revistas da área de computação não
áreas e naqueles casos em que houver intui- são favoráveis a trabalhos muito multidis-
ção de que as conexões deveriam ser feitas, ciplinares.
mas ainda não o foram, podem-se induzir Além das revistas da área de compu-
políticas para fazê-las, explica Osvaldo. tação, as dedicadas à matemática também
Para uma revista em particular, ou possuem baixa interdisciplinaridade. Os-
para um conjunto de revistas, as métricas valdo Novais afirma que este resultado é
compreensível, já que o rigor que se exige que na rede tridimensional das revistas no
no tipo de contribuição que se espera dos nosso artigo, quando se observa a posição
pesquisadores dessa área é diferente do e as características do conjunto, a Nature
que em uma aplicação da matemática em e a Science se confundem em um só ponto.
qualquer área do conhecimento. Isso significa que as duas revistas têm ca-
Outro dado importante é que o im- racterísticas muito similares, o que sabemos
pacto de uma revista tem correlação po- ocorrer, explica Osvaldo.
sitiva com a interdisciplinaridade, ou seja, Este trabalho de quantificação tam-
as revistas mais multidisciplinares são as bém pode influenciar a qualidade dos
que têm maior impacto - embora existam artigos que os pesquisadores enviam
exceções. Exemplos marcantes da correla- para publicação nas revistas, principal-
ção com o fator de impacto são as revistas mente aquelas que têm grande impacto,
mais genéricas, como a Nature, que tem até porque as grandes revistas já têm
a maior entropia, seguida da Science e da nas suas instruções para submissão de
Proceedings of the National Academy of trabalho, instruções de como elas espe-
Sciences: Nesse caso, é interessante verificar ram que os trabalhos sejam redigidos. A
que se você fizer a pergunta para qualquer escrita científica está sendo muito valo-
grupo de cientistas sobre quais são as revis- rizada porque se espera que os autores
tas que têm mais entropia - depois de lhes sejam capazes de transmitir suas contri-
explicar os conceitos -, todos irão apontar buições para uma audiência mais geral,
estas três. Também é interessante verificar mais abrangente.
Inteligência artificial
30 de agosto de 2013
ser diferentes das de hoje: Quando com- possível, atualmente, com hardware espe-
pramos um computador, o hardware vem cífico e mobilidade da máquina, como um
acompanhado de uma série de softwares, robô. Podemos imaginar a máquina fun-
sendo o principal o sistema operacional. cionando com bateria recarregável, que
Além disso, muitos programas já vêm ins- buscará fonte de energia quando necessá-
talados, de maneira que cada máquina já rio. Imagina-se, também, um robô dotado
tenha dezenas ou centenas de programas. de visão e uma série de sensores que per-
Uma característica interessante é que as mitam sentir e avaliar o ambiente.
máquinas são quase iguais para todos. Há, A decisão, ou desejo, de adquirir no-
obviamente, uma particularização da lín- vos conhecimentos – da Internet, de al-
gua natural para comunicação com o usu- gum repositório ou de outras máquinas
ário, há diferentes sistemas operacionais e – será dada pelo programa que gerencia
algumas outras especificidades. Mas só. Pre- as ações da máquina. Como, obviamente,
vejo que, em décadas, os usuários acharão o programa foi escrito por um humano,
bizarro que todos tenhamos computadores aparentemente a máquina não tem inde-
quase iguais, “sem personalidade”, e com pendência. Mas a dependência pode ficar
um número pequeno de programas. Para invisível quando não mais for possível des-
esses usuários do futuro, que receberão um cobrir qual dos milhões de programas que
computador com milhões ou bilhões de pro- vieram com o computador é responsável
gramas, será difícil imaginar o nosso tempo, pelo gerenciamento geral. Ou mesmo se
assim como os jovens agora se divertem em tal programa não foi – ele próprio – pro-
saber que já usamos computador sem disco duzido por outra máquina, a partir de mo-
rígido, pontua Osvaldo. dificações de um programa originalmente
Em suma, o computador no futuro já escrito por humanos.
terá muito mais conhecimento embutido
A educação de uma máquina
e provavelmente contará com estratégias
que permitam aumentar esse conheci- Este é um ponto interessante, devi-
mento automaticamente com aprendizado do à analogia com educação de crianças
de máquina. Hoje, o acréscimo é muito tí- numa sociedade. Mesmo considerando
mido a partir da instalação, pelo usuário, que cada máquina já poderá vir persona-
de programas, bibliotecas e funcionalida- lizada a partir das escolhas do comprador,
des. Tudo em pequena escala e de forma o que ela aprenderá vai depender das ins-
manual. truções do dono e do ambiente. Se o dono
A possibilidade de aprendizado contí- usar duas ou mais línguas, por exemplo, a
nuo do computador suscita a necessidade máquina adquirirá conhecimento nessas
de independência, para que a aquisição de línguas.
informação (ou conhecimento?) se dê sem Para um dono que trabalha no merca-
intervenção de um humano. Isso já seria do financeiro, a máquina deverá se tornar
especialista em estatística, ações, câmbio - será muito mais complicado, pois o ce-
e acompanhar todo o noticiário de negó- nário é completamente distinto do atual,
cios: Imagino que a máquina possa ser au- em que um humano especialista localiza o
xiliar, cuidando dos diversos assuntos que problema, conserta ou substitui um com-
o dono definir. Pode fazer gerenciamento ponente (programa ou elemento de har-
de contas bancárias, cuidar da agenda do dware).
dono, preparar material de suporte para o Aqui surge uma possibilidade interes-
trabalho do dono, etc. Por exemplo, fazer sante: Suponhamos um casal recém-casado,
pesquisa na literatura e preparar material cada qual com seu agente (robô ou só agente
didático para um dono que exerça a ativi- de software). Esses agentes terão sido treina-
dade de professor. Obviamente, para reali- dos de acordo com os gostos e necessidades
zar a maioria das tarefas estou supondo que dos donos. Ao iniciar a nova vida juntos, o
a Internet será acessível para as máquinas, casal percebe que seria mais eficiente conci-
o que ainda não é possível. Mas, há propos- liar agendas e aplicativos, e decide adquirir
tas nesse sentido, como a Web Semântica, uma nova máquina (novo agente). Para se-
comenta Osvaldo. lecionar a especificação inicial, como men-
cionado acima, e posteriormente treinar a
Gestação de uma máquina nova máquina, será necessária a atuação
Para o pesquisador do IFSC, a aqui- conjunta das máquinas do casal. Ou seja,
sição de uma máquina será um processo a nova máquina herdará características da
muito mais complicado do que comprar máquina do marido – chamemos máquina-
um computador hoje. Para personalizar -pai – e da esposa, a máquina-mãe. Seria
a máquina (robô) há que se decidir como como receber o código genético dos pais
selecionar os milhões ou bilhões de pro- (máquinas neste caso); a propósito, a me-
gramas e aplicativos, o que deverá levar táfora que deu origem aos algoritmos gené-
muito mais tempo e, provavelmente, terá ticos provavelmente já estará sendo usada
que ser feito com apoio de uma (outra) para a herança de características. Incompa-
máquina. Não se pode esperar que um tibilidades poderão aparecer na junção des-
humano vá saber em detalhe o que sele- sas características e imagino que devamos
cionar. É esta dificuldade de identificar a esperar que a máquina-filha seja diferente
origem das decisões que dá o aspecto de das que lhe deram origem, apesar da he-
independência para as máquinas. Elas pa- rança. Fenômenos, como mutações, pode-
recerão ter vontade própria, simplesmente rão ocorrer, de maneira muito semelhante
porque não saberemos explicar como as ao que acontece em biologia. E o que é mais
decisões são tomadas. relevante: quando quisermos descobrir
Neste contexto, reparar uma máqui- a razão para certos comportamentos da
na avariada – ou que simplesmente esteja máquina, como abordagens para resolver
se comportando de maneira inesperada problemas ou como decisões são tomadas
pode não ser fácil determinar a origem. O nossa percepção de uma reação da pessoa,
comportamento pode ter sido adquirido das o pesquisador do IFSC acredita que as má-
máquinas-pais ou aprendido no processo de quinas podem ter sentimento. As reações
aquisição de conhecimento da nova máqui- das máquinas atuais são muito artificiais e
na, esclarece o pesquisador. facilmente descobrimos que elas se devem
a estímulos previamente programados por
Máquina pode ter sentimento? humanos. Mas, e quando não for possível
determinar a origem das decisões das má-
Um argumento comum daqueles que quinas? E se estas usarem uma lógica fu-
não acreditam que o computador pode su- zzy para alguns tipos de decisão, dando a
perar o humano é de que uma máquina ja- impressão de serem irascíveis? Quando as
mais terá sentimento. Parece verdade. Mas reações das máquinas puderem ser muito
o que é sentimento? Como se sabe que as variadas e não formos capazes de compre-
pessoas têm sentimento? Ora, sabemos que ender sua origem, atribuiremos a elas senti-
elas têm sentimento, por sua reação ao in- mentos! A máquina então passará no teste
teragir conosco. Usando essa definição de de Turing, sem que consigamos distinguir
sentimento, ou seja, o que é inferido por sua reação da de um humano.
A
pesquisa em biofísica, que data dos primórdios do
IFQSC, e o interesse pela cristalografia de proteínas
nos anos 1980, culminaram na formação de um centro
de pesquisas em diversas áreas das ciências biológicas, da vida e
da saúde, que talvez seja único no Brasil. Esta conquista se ma-
terializou em um CEPID da FAPESP, num INCT, e fizeram do
IFSC um centro de excelência em biologia estrutural, em do-
enças tropicais e nanomedicina, para mencionar algumas das
áreas de atuação. Tais iniciativas foram também acompanhadas
da criação do bacharelado em Ciências Físicas e Biomolecula-
res e da modalidade de Física Biomolecular no programa de
pós-graduação de Física Aplicada. A imensa variedade das pes-
quisas nessas áreas está retratada nas reportagens deste Capí-
tulo, sendo que essas pesquisas também foram relevantes para
as aplicações em saúde no Capítulo IX e em muitas inovações
mencionadas no Capítulo X. Este capítulo se inicia com uma
reportagem que traz a opinião do Prof. Richard Garratt sobre a
importância da física para a biologia, nos mesmos moldes dos
textos sobre a física no Século XXI do Capítulo II.
211
Ciências Físicas e Biomoleculares
O biólogo do futuro
07 outubro 2013
são algumas das perguntas que as pesqui- organismos, desde leveduras até animais,
sas de Ana Paula buscam responder. De- incluindo seres humanos. Sua função é
pois de estudar a toxidade da proteína, ela desconhecida, embora se saiba que ela
poderá ser usada no combate de células possui um papel na divisão celular: As sep-
tumorais, por exemplo: Com a Nanocore, tinas já foram encontradas no cérebro de
uma empresa de biotecnologia brasileira, pessoas que sofrem da doença de Alzheimer.
temos trabalhado com essa proteína em for- Nossas pesquisas, que trabalham com essa
mulações farmacêuticas para aplicação em proteína in vitro, buscam entender o papel
certos tipos de câncer superficial, como o de das septinas, começando pelos seres mais
pele, menciona a pesquisadora. primitivos, explica Ana Paula que, atual-
mente, tem estudado uma septina encon-
trada em algas, além das humanas.
A biofísica na física
No IFSC, o corpo docente inter e mul-
tidisciplinar trabalha com diversas ver-
tentes: Temos um grupo muito heterogêneo
de professores, como químicos, cientistas
moleculares, biólogos, engenheiros e, obvia-
mente, físicos. Todos têm um tema comum
Estudos de organismos menos complexos, de trabalho, que envolve proteínas e outras
como algas, podem ajudar no entendimento macromoléculas biológicas. Trabalhamos
sobre a relação do septinas com doenças gra- com proteínas de interesse biotecnológico,
ves como a de Alzheimer. ou como fármacos, fazendo a sua produ-
ção, caracterização, estudos estruturais e de
O segundo estudo, envolvendo ou- aplicação, em geral, conta Ana Paula. Essa
tros docentes do IFSC - Richard Charles multidisciplinaridade permite que novas
Garratt e Ricardo De Marco -, é direcio- técnicas sejam trazidas e as antigas sejam
nado ao estudo de uma proteína humana, continuamente aprimoradas.
chamada septina. Ela aparece em diversos
ças. Os tratamentos desenvolvidos estão Para que essa inibição seja possível,
ficando obsoletos porque o parasita cau- é necessário produzir uma molécula com
sador da doença já aprendeu a driblar os grande afinidade para se ligar à enolase do
medicamentos capazes de exterminá-lo. Plasmodium, impedindo que esta realize
Para resolver esse problema, pesquisa- sua principal função - a produção de ener-
dores do Grupo de Cristalografia do IFSC gia no parasita. Ainda não existem fárma-
realizam há alguns anos pesquisa sobre cos que atuem pela inibição da enolase.
alternativas para o tratamento da malária. No entanto, Rafael e seus colaboradores
Dos conhecimentos já adquiridos no estu- conseguiram determinar a estrutura tri-
do, sabe-se que o Plasmodium falciparum dimensional em alta resolução da enolase
(agente causador da forma mais severa de (algo inédito no mundo**), uma etapa im-
malária) possui diversas proteínas-chave, portante para desenvolver novos medica-
com destaque para enolase, vital para o mentos.
organismo do parasita. A proteína, per-
tencente à via glicolítica, é uma das res-
ponsáveis pela produção de energia: Se
inibirmos enzimas relevantes da via glico-
lítica do Plasmodium, ele fica sem energia e
morre, explica o docente e coordenador do
Projeto, Rafael V. C. Guido.
_______________________
*No relatório Derrotando a malária na
Ásia, no Pacífico, nas Américas, Oriente
Médio e Europa, produzido pela ONU em
2010, foram registrados 34 milhões de casos
da doença no continente africano.
** Por esse trabalho, intitulado Estudos es-
truturais da enzima enolase de P. falcipa-
rum: alvo molecular para desenvolvimento
de novos agentes antimaláricos, de autoria
de Fernando V. Maluf; Evandro J. Mulina-
ri; Eduardo A. Santos; Glaucius Oliva; Celia
R. S. Garcia e Rafael V. C. Guido, a equipe
coordenada por Rafael foi premiada na 36ª
Reunião da Sociedade Brasileira de Quími-
ca, ocorrida entre 25 e 28 de maio deste ano
A ilustração da figura mostra o longo
*** O docente Adriano Andricopulo, o
caminho que se percorre para obter um
doutorando do GC, Ricardo N. Santos, e a
fármaco. Após determinada a estrutura da
docente do Instituto de Química da Unesp,
enolase, o próximo passo será identificar
Vanderlan Bolzani, criaram uma base de
moléculas capazes de inibi-la. Isso implica
dados on-line sobre 640 compostos quími-
encontrar uma molécula que ocupe o sítio
cos extraídos da biodiversidade brasileira, e
ativo da proteína, bloqueando sua ação e
que será utilizada nessa etapa de pesquisa
impedindo que ela produza energia para
do Projeto discutido no texto.
sobrevivência do Plasmodium falciparum:
Começaremos a trabalhar agora com o
‘processo de triagem’, para encontrar essas
moléculas. Precisamos explorar a diversi-
dade química, investigando moléculas de
origem natural, como as de plantas***, ou
sintéticas que possuam atividade biológica
frente à enolase, conta Rafael.
Para determinar a estrutura da enolase,
gastaram-se dois anos de pesquisa. Para en-
contrar moléculas promissoras candidatas
a novos fármacos contra a malária, ainda
P
esquisas dedicadas a aplicações de técnicas da física em
medicina e odontologia, aliadas à pesquisa básica em
ciências físicas e biomoleculares, fizeram do IFSC um
importante centro na geração de inovações para a saúde. Isso
se reflete na longa série de reportagens deste capítulo, numa
clara demonstração da qualidade da pesquisa multidisciplinar
que aqui se faz. Mencione-se a conexão com muitas inovações
abordadas no Capítulo X.
237
Saúde
P esquisadores do IFSC e da
UNICAMP descobriram
uma série inédita de macrolac-
tonas sintéticas com potente ati-
vidade anticâncer, mostradas na
Figura 1.
Esses compostos são eficazes
na inibição da migração celular,
como mostrado na Figura 2A.
Um dos compostos possui ativi-
dade biológica mil vezes maior
do que a migrastatina, compos-
to de origem natural. O efeito
promissor dos compostos foi
confirmado em ensaios de inva-
são celular in vitro, que simula o
processo in vivo, como mostra a
Figura 2B.
Referencia: DIAS, Luis et al.Synthesis Figura 2. Efeito das macrolactonas sobre o ensaio de
of the macrolactone of migrastatin migração celular (A) e de invasão celular (B), utilizando
and analogues with potent cell- linhagem celular MDA-MB-231, de carcinoma de
migration inhibitory activity. mama humana.
European Journal of Organic
Chemistr, v.35, p.6748–6759, 2010.
paciente que entra nesse hospital pode estar pendências do campus I do IFSC: Com esse
trazendo uma linhagem diferente, mesmo financiamento, estamos comprando diversos
que, aparentemente, pareça a mesma, por equipamentos. Essa é uma grande oportuni-
ser da mesma espécie, conta Ilana: A disse- dade, pois nosso grupo terá um laboratório
minação de uma ou mais linhagens multir- de nível II de biossegurança, o que permitirá
resistentes no ambiente hospitalar pode ser a expansão dos estudos, conta Ilana.
responsável pelos surtos de infecções hospi- No LEMiMo, o grupo coordenado
talares, tão noticiados na mídia. Em geral, pela docente estuda o Staphylococcus au-
este tipo de pesquisa só é realizado em la- reus, resistente à meticilina (MRSA) e o
boratórios de referência, com profissionais e Enterococcus resistente à vancomicina
equipamentos especializados. (VRE). A parte de epidemiologia visa a
Outro agravante é a alta mobilidade de descrever a linhagem das bactérias encon-
indivíduos pelo mundo. Um exemplo é o tradas nos hospitais e pesquisar seu perfil de
de indivíduos que viajam de um país para resistência aos medicamentos. Outra linha
outro após um período de convalescência, de pesquisa no Grupo de Cristalografia
pois podem trazer bactérias multirresis- consiste em elucidar os mecanismos de re-
tentes adquiridas durante a internação: sistência e virulência de bactérias, a partir
Durante meu mestrado, um paciente que da determinação de estruturas de proteí-
tinha feito tratamento de uma doença nos nas relevantes para a resistência aos medi-
Estados Unidos veio infectado por uma camentos: A partir da descrição da estru-
bactéria daquele país. Existem perfis bac- tura destas proteínas, verificaremos de que
terianos que já são de nosso conhecimento; forma se pode intervir, o que abre espaço
no entanto, a linhagem encontrada naquele para desenvolvimento de novas alternativas
paciente era totalmente diferente das linha- de tratamento, explica Ilana. Pretende-se
gens estudadas nos hospitais brasileiros da- também identificar o papel biológico de
quela época, esclarece Ilana. Outro grave algumas proteínas nas bactérias.
problema brasileiro é a automedicação: A pesquisadora se integrou ao Insti-
Ainda é fácil conseguir antibióticos sem tuto Nacional de Biotecnologia Estrutural
receita médica e ao ingerir o medicamento e Química Medicinal em Doenças Infec-
incorreto as pessoas podem ajudar a sele- ciosas (INBEQMeDI), que congrega pes-
cionar bactérias resistentes, problema que quisadores de várias universidades brasi-
seria menor se só ingerissem remédios re- leiras: A aliança do LEMiMo com o Grupo
ceitados pelos médicos, afirma a docente. de Cristalografia do IFSC permite interação
No início de 2011, a FAPESP concedeu entre a microbiologia molecular de patóge-
financiamento para a implantação do Labo- nos - agentes que podem causar doenças -
ratório de Epidemiologia e Microbiologia bacterianos e as técnicas da física, que nos
Molecular (LEMiMo), no Grupo de Crista- auxiliam a resolver os problemas levanta-
lografia instalado provisoriamente nas de- dos. Esta aliança não poderia ser melhor.
Diversas proteínas vêm sendo estuda- Giard, da Université de Caen e Pascale Ser-
das por Ilana e colaboradores, com desta- ror, do INRA, Jouyen Josas, ambos da Fran-
que para GraR, uma proteína de Staphylo- ça, além de Nathan Shankar, da University
coccus aureus: Queremos ver até que ponto of Oklahoma Health Sciences Center (UO-
esta proteína está envolvida na resistência HSC), de Oklahoma, e Michael S. Gilmo-
da bactéria, conta. Em âmbito nacional, re, da Harvard Medical School, de Boston,
além dos colaboradores do Grupo de Cris- ambos dos Estados Unidos: Estas colabora-
talografia, Ilana tem colaboração com a ções visam ao estudo de diversas proteínas
docente Ana Lúcia da Costa Darini, da envolvidas nos mecanismos de virulência
Faculdade de Ciências Farmacêuticas de em Enterococcus faecalis, bem como a troca
Ribeirão Preto (FCFRP), enquanto outra de informações pertinentes à pesquisa.
parceria vem de Belo Horizonte (MG), Sobre projeções futuras, Ilana adianta
com amostras enviadas pelo Laboratório que: Quando mudarmos para o campus II,
Geraldo Lustosa: Já entramos em contato que será o novo local do LEMiMo, podere-
com hospitais da nossa região para o envio mos ampliar a parte de epidemiologia mole-
de amostras, mas isso ainda está em anda- cular e a diversidade das bactérias estudadas
mento, conta Ilana. será maior. Queremos fazer do LEMiMo um
Em âmbito internacional, a docente laboratório de referência no Estado de São
conta com a colaboração de Jean-Cristophe Paulo, finaliza a docente.
a leishmaniose, que são causadas por vírus dos grandes desafios é desenvolver um tra-
ou por organismos unicelulares, o Schistoso- tamento e sobretudo uma prevenção contra
ma mansoni é um parasita multicelular visí- a doença. Isso tem inspirado projetos espe-
vel a olho nu, que circula na corrente san- cíficos para doenças negligenciadas, como
guínea. Por essa razão, o Schistosoma está é o caso de pesquisas no IFSC relativas à
constantemente exposto à ação do sistema doença de Chagas, leishmaniose e esquis-
imunológico de seu hospedeiro, mas ain- tossomose.
da assim resiste. A esquistossomose pode O docente Ricardo de Marco, do grupo
ser infecção crônica, existindo relatos de de Biofísica Molecular Sérgio Mascarenhas,
pessoas que padeceram desta enfermidade dedica-se aos estudos do genoma e do trans-
durante décadas. criptoma do parasita, além de proteínas im-
Há um medicamento para o tratamento portantes na sua relação com o hospedeiro.
da esquistossomose, considerado bastante
eficaz e barato, custando apenas US$ 0,20
Duas facetas da pesquisa
por pessoa por ano. Então, por que a doença Na primeira linha de pesquisa, De
não é erradicada? O problema fundamental Marco desenvolve um estudo bioinformá-
é que a droga apenas elimina a forma adul- tico do genoma e do scriptoma deste para-
ta do parasita, mas o meio ambiente ainda sita. Um dos principais objetivos é enten-
continua contaminado, principalmente as der a organização do genoma do parasita
águas. Sem modificar este ambiente, o ser para identificar elementos de transição,
humano voltará a ser infectado. elementos autônomos que vão criando
Além disso, como existe apenas um várias cópias de si dentro do genoma: É
medicamento, é grande a possibilidade de quase como se fosse um parasita dentro do
que o organismo causador adquira imuni- genoma, compara o pesquisador.
dade contra esse medicamento, principal- Segundo De Marco, quando a ciência
mente se empregado constantemente. Um descobriu estes elementos no genoma, os
pesquisadores acreditaram tratar-se de um
parasita dentro do genoma. Entretanto,
ao comparar com outros organismos,
perceberam que todos os eucariontes têm
estes elementos e que eles têm um caráter
parasitário, mas ao mesmo tempo existe a
hipótese de que eles gerem uma dinâmica
dentro do genoma.
No caso específico do Schistosoma,
analisando a evolução de seu genoma, De
Reação inicial à penetração de várias larvas Marco observou que a atividade destes ele-
na pele do braço. mentos é grande em termos de transcrição.
Daí decorre a hipótese de que seu funcio- dados. No nível molecular, para entender
namento oferece certa flexibilidade evolu- o organismo do parasita, deve-se primei-
cionária ao parasita, até porque sobrevive ro caracterizar os genes. Nisso, já houve
em ambiente com alta pressão evolutiva, grandes avanços com relevantes projetos,
exposto ao sistema imune do ser huma- contando com importante participação
no: Para o Schistosoma, é necessário ter um brasileira: hoje, os transcritos do parasita
genoma que se modifique com o passar do são descritos muito mais facilmente. No
tempo, explicou o pesquisador. E completa: entanto, ainda existe uma lacuna que o es-
Isto é negativo, por um lado, já que é maior forço de sequenciamento do grupo de De
a probabilidade de ter indivíduos morrendo Marco tenta suprir.
por causa de defeitos nos genomas, enquan- Pesquisam-se, também, proteínas en-
to do outro lado tem-se a facilidade para se volvidas na relação entre parasita e hospe-
adaptar a desafios do ambiente em que vive, deiro. Ricardo de Marco, com a colabora-
o que significa uma vantagem em termos de ção de grupos do IQ-USP e da University
população do parasita. of York (Inglaterra), descreveu um grupo
Do ponto de vista da ciência aplica- de genes que possuem exons (regiões co-
da, a heterogeneidade descoberta pode dificantes do RNA mensageiro, que com-
vir a prejudicar a tentativa de erradica- põem o gene com os intros, as regiões não
ção do parasita e consequentemente da codificantes do RNA) muito pequenos,
doença, já que a população dos parasi- denominados micro-exons. Este sistema
tas terá indivíduos diferenciados em seu genético complexo não havia sido des-
genoma: Mesmo havendo um tratamento crito em nenhum organismo e permite
mais eficaz, existe alguma probabilidade a produção de proteínas secretadas pelo
de que uma parcela da população sobre- parasita que possuem alto grau de varia-
viva aos efeitos do medicamento, devido ção. O Schistosoma é o único organismo
às características diferenciadas, e poste- que teve esta classe de genes descrita. O
riormente se reproduza novamente, ex- interessante deste sistema é que o parasita
plica De Marco. pode retirar qualquer um dos exons ali
Uma segunda etapa da pesquisa com presentes, formando uma nova proteína
Schistosoma mansoni é a análise informá- sem afetar o resto da proteína, que
tica de transcritos de genoma. Em uma permanece idêntica: Isso é um mecanismo
colaboração com o Instituto de Quí- de variação proteica, explica De Marco:
mica da USP, em São Paulo, sequencia- Outros parasitas, como o tripanosoma,
-se o RNA – o ácido ribonucleico, uma também possuem mecanismos de variação
molécula em cadeia simples com estru- antigênica, mas utilizando mecanismos
tura semelhante ao DNA – utilizando completamente diferentes – mecanismos
sequenciadores de última geração que clonais, com várias cópias do mesmo gene,
oferecem uma quantidade enorme de mas nada igual ao schistosoma, completa.
gerando uma co-cultura de bactérias e pa- clones em meio líquido. Durante seu cres-
rasitas. Os pesquisadores observam os lo- cimento, a bactéria produz substâncias e as
cais onde a bactéria tiver produzido uma joga no meio. Esperamos cinco dias e depois
substância que mata a leishmania, pois es- separamos o líquido das bactérias e o colo-
ses locais conterão um candidato à produ- camos na cultura de leishmania.
ção de fármaco: Ao redor da bactéria que O resultado foi muito mais animador.
matou a leishmania podemos observar uma Dos cento e noventa e dois clones, treze
região mais translúcida, explica Izaltina. deram ótima atividade, ou seja, depois
de testado e re-testado, cerca de 50% das
A difícil busca por candidatos a leishmanias foram mortas pelas substân-
fármaco cias produzidas pelas bactérias e mistura-
das ao líquido.
Um ano é o tempo médio para formar
O próximo passo é isolar todas as
a Biblioteca Metagenômica, mas a colabo-
substâncias encontradas no líquido para
ração entre pesquisadores pode acelerar
descobrir a responsável pela morte da
o processo. Na biblioteca de trezentos
leishmania: Quando isolamos essas subs-
mil clones (fragmentos de DNA) analisa-
tâncias, temos que isolar suas estruturas
da por Izaltina e construída pela docente
químicas e aí poderemos saber de ‘quem’ se
Mônica Tallarico Pupo, da Faculdade de
trata, afirma Izaltina.
Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto
O DNA dos treze clones positivos
(FCFRP/USP), trinta e cinco clones foram
também será sequenciado: Nesse sequen-
capazes de matar a leishmania. No entan-
ciamento, podemos por vezes identificar de
to, devido a algumas interferências (como
qual tipo de bactéria veio a substância, para
a bactéria ter crescido sob estresse), pode
chegarmos a um produto único que poderá
ser que ocorram equívocos em relação a
ser usado como remédio.
sua eficiência em matar o parasita.
Em outro trabalho de colaboração
com pesquisadores da UFPR, em Curitiba,
Izaltina teve acesso à Biblioteca metagenô-
mica cedida pelo Dr. Emanuel Maltempi
de Souza, onde encontrou cento e noven-
ta e dois clones de amostras de micro-
-organismos de solo da Mata Atlântica e
outras regiões, já isolados, mas dessa vez
em meio líquido: Mudamos nossa técnica.
À esquerda, clone positivo (halo de inibição
Em vez de formar a cultura de bactérias e
bem visível ao redor da colônia) e à direita,
esperá-las crescer para incluir a leishmania, clones negativos.
fizemos diferente. Deixamos crescerem os
A ameba fatal
11 de Maio de 2012
que ela use selenoproteínas para se defender independentemente. Tais domínios foram
desse ambiente estressante, elucida Tulio. separados usando-se técnicas de biologia
Os pesquisadores do GC isolaram o molecular e estão sendo estudados sepa-
gene da Naegleriagruberi, que sofreu uma radamente. Agora tentaremos entender a
provável fusão de dois genes. Como pro- estrutura desses domínios isoladamente e
duto observou-se uma proteína com dois em conjunto, explica Túlio. Esse tipo de
domínios (diferentes regiões da proteína), estudo, que possibilita a visualização de
cada um com uma função específica. Um regiões diferentes da proteína, permite
deles estava envolvido na produção de se- inferir inibidores à doença: Embora este-
lenocisteína e o outro auxiliaria na retirada jamos em uma etapa preliminar, podemos
do selênio da célula: Organismos de vida desenhar inibidores que não interfiram na
livre podem passar, em algum momento, a célula humana.
viver numa região rica em metal pesado, e Pesquisas anteriores já trazem dados
o selênio em excesso, mesmo sendo muito interessantes sobre a Neagleria: 60% da
importante para o organismo, pode causar poeira doméstica têm cistos de amebas de
danos grandes. vida livre, só não se sabe se são da Neagle-
riafowleri, sua versão mortal.
Próximos passos
As infecções causadas por amebas de
A pesquisa visa à identificação da es- vida livre - caso da Naegleria - não deve-
trutura da proteína e de seus domínios, riam ocorrer no organismo humano. Por
___________
*moléculas presentes em plantas, animais e
micro-organismos.
ela obteve bom rendimento na produção contato direto com o inglês foi muito im-
da proteína Sel-T. Além de ter consegui- portante. Finaliza, dizendo que o melhor
do descobrir o melhor detergente para resultado dessa experiência foi a parceria
isolamento e purificação de proteínas de surgida entre os pesquisadores: A parceria
membrana, Jaqueline pôde observar a es- está feita e a porta aberta. Esta é a maior
tabilidade da Sel-T, o que permitiu que ela conquista que eu trouxe, finaliza.
seguisse à etapa de caracterização: Agora,
tentaremos produzir e cristalizar a proteína ________________
para resolução de sua estrutura tridimen- *Informação retirada do site Médicos sem
sional. Assim, poderemos visualizar seu sí- Fronteiras.
tio ativo, como ela se aloja na membrana, e ** Essa nova cadeia é o resultado da expan-
deduzir a sua função no Trypanosoma. são do código genético de 20 para 22 ami-
Sobre seu contato com um labora- noácidos.
tório de pesquisa no exterior, ela destaca *** Um dos aminoácidos codificados pelos
que alguns procedimentos futuros talvez genes e parte das proteínas dos seres vivos.
tenham que ser feitos em Harwell, mas **** O estágio de Jaqueline foi financiado
que uma colaboração já foi firmada entre pelo financiado pelo Grupo de Cristalogra-
o IFSC e o MPL para dar continuidade à fia (CG), pela Pró-reitoria de Pós-gradua-
pesquisa. Já sobre o retorno individual, ção (PRPG/USP) e pela Comissão de Rela-
ela conta que a oportunidade de poder ções Internacionais do IFSC (CRInt).
visitar o exterior pela primeira vez e ter
vivo. Em outras palavras, embora a SEPT2 de PI, a SEPT2 interagiu, mas não manteve
tenha se comportado da maneira descrita sua estrutura, iniciando a formação de fila-
acima, não significa que no corpo huma- mentos amiloides, descreve a docente: Isso
no tal processo ocorra da mesma forma: acabou se tornando mais um elemento que
Temos uma proteína isolada em condições aproxima a formação de filamentos amiloi-
muito particulares. Nas células, será que des in vitro de SEPT2 ao que pode ocorrer
isso pode acontecer? questiona a docente. numa célula.
Até o momento, técnicas de biofísica
Uma primeira resposta e bioquímica foram utilizadas para fazer
Para descobrir o que pode disparar a a maioria das análises descritas acima. O
formação de filamentos amiloides na au- próximo passo é investigar a interação da
toassociação da SEPT2, Ana Paula, com SEPT2 usando microscopia eletrônica, o
a colaboração do Grupo de Polímeros do que permitirá a visualização do desenho
IFSC, iniciou experimentos usando um completo dessas interações.
sistema que imita parte de uma membra- Esses trabalhos estão disponíveis via
na, incluindo uma molécula de fosfatidi- SIBI:
linositol (PI), um dos componentes da DAMALIO, J. C. et al. Lipid interaction
membrana celular com o qual a SEPT2 triggering Septin2 to assembly into street
interage: Ao entrar em contato com essa structures invetigated by Langmuir
membrana mimética, a SEPT2 interagiu monolayers and PM-IRRAS. Disponivel
com o PI e manteve sua estrutura normal. em:<http://www.sciencedirect.com/
Porém, ao colocar a SEPT2 em contato com science/article/pii/S0005273613000394.
uma membrana mimética sem a presença Acesso em: jan.2014.
A
o longo de décadas, os professores e pesquisadores do
IFSC têm feito questão de valorizar a pesquisa aplica-
da, desenvolvida em sinergia com os vários projetos de
pesquisa básica. O objetivo primordial é gerar conhecimento,
soluções e tecnologias que sejam passíveis de transferência para
a indústria e empresas, com isso servindo a sociedade. Como
resultado dessa filosofia e dos inúmeros projetos de inovação
desenvolvidos no IFSC, pode-se afirmar que nosso Instituto
contribui decisivamente para a criação de várias empresas de
alta tecnologia em São Carlos, transformando nosso município
num centro de inovação e tecnologia no Brasil.
273
Inovação
diversas críticas, ele ressalta sua impor- Para essa mudança de cenário, várias
tância para a internacionalização do ações foram implantadas no IFSC e Jarbas
país. Não sei o custo exato do programa destaca a criação dos CEPIDs da FAPESP,
aos cofres públicos, mas acredito que ele dois dos quais estão sediados no IFSC: Os
terá um impacto de longo prazo nos bra- CEPIDs têm enfoque científico de divulgação
sileiros. Afinal, para ter uma ciência in- e inovação. Há vinte anos, o foco seria
ternacional é preciso ter uma experiência somente na publicação de artigos científicos,
internacional. afirma.
Ainda sobre o IFSC, Jarbas faz uma
A inovação no IFSC última consideração no que se refere à
Docente no Instituto há trinta e sete inovação tecnológica: embora afirme que
anos, Jarbas afirma que durante esse o IFSC tenha evoluído significativamente,
tempo acompanhou grandes evoluções ele diz que ainda há muito a ser feito. Mas
no IFSC: Duas ou três décadas atrás, o os passos estão sendo dados na direção
Instituto era fechado internacionalmente. correta, o que é um ponto positivo: O se-
No começo, a resposta que se preocupava gredo é não ter medo de dizer que inovação
em dar à sociedade com as pesquisas fei- é riqueza e incentivar as pessoas a buscarem
tas aqui era, somente, através da explica- isso. No Instituto, ainda que timidamente,
ção dos impactos sociais da ciência para o isso está sendo feito e em alguns anos estará
país, relembra: Agora, o cenário é diferente. consolidado, conclui.
A cidade de São Carlos está vivencian- Outra notável vantagem é a vida útil
do, desde o mês de janeiro, uma nova do emissor LED, que pode funcionar por
experiência na área de trânsito: um novo até cinquenta mil horas, enquanto as lâm-
modelo de semáforo construído a partir padas incandescentes funcionam por, no
de um conjunto de diodos emissores de luz máximo, quatro mil horas. Ainda segundo
(LEDs) de alta potência e com grande efi- Galli, depois de seis anos de funcionamen-
cácia óptica. to, o LED perderá apenas 25% da sua ca-
O equipamento, construído pela em- pacidade inicial.
presa DirectLight em parceria com o Cen- Outros países também utilizam o se-
tro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CE- máforo à base de LED, mas a vantagem do
POF) do IFSC, é forte candidato a resolver sistema brasileiro está no inovador sistema
problemas dos semáforos convencionais. óptico. O modelo brasileiro utiliza apenas
Estes incluem o chamado efeito fantasma sete diodos emissores de luz, enquanto os
(reflexo de raios solares, dando a impres- antigos, desenvolvidos na década de 1960,
são de falso aceso das luzes), além de pa- utilizam uma centena de LEDs. Os diodos
nes devido à falta de energia e diminuir do novo semáforo são mais modernos,
o gasto de energia. Os novos semáforos mais confiáveis e têm maior potência,
podem, também, evitar a necessidade de além de consumirem menos energia.
descarte de lâmpadas incandescentes no Para conseguirem chegar a este nível,
meio ambiente. os pesquisadores empenharam-se nos úl-
O coordenador do projeto, Luís Fer- timos dois anos para desenvolver um con-
nando Bettio Galli, contou à Agência FA- junto de três tipos de lentes que, disposto
próximo aos LEDs, ocasiona melhor apro- de baterias, que deve funcionar por 40 mi-
veitamento e distribuição da luz emitida nutos, tempo suficiente para que guardas
pelos diodos, além de melhor direciona- de trânsito passem a controlar a situação.
mento. Isso reduz significativamente a Segundo Galli, já existem em outros países
quantidade necessária de LEDs e dispensa semáforos alimentados por energia solar e
refletores – o que elimina o efeito fantasma que funcionam mesmo com blecaute, mas
que tanto engana os motoristas. nenhum conseguiu integrar as três formas
Outra inovação é o sistema eletrônico de alimentação empregadas pelo equipa-
embarcado, que permite alimentar o se- mento brasileiro.
máforo tanto pela rede de energia conven- Os semáforos testados em três lu-
cional como por energia solar ou por um gares de São Carlos estão operando ini-
conjunto de baterias, em caso de emergên- cialmente apenas com energia elétrica. O
cia. A cada milissegundo, um sistema de equipamento está em fase de avaliação,
gerenciamento inteligente faz uma ava- mas os testes indicam um funcionamen-
liação e decide a melhor maneira de ali- to próximo do esperado. Mesmo nesta
mentar o semáforo, naquele momento. A fase, anterior à obtenção de certificados e
prioridade do equipamento é o trabalho distribuição para comércio, os semáforos
com energia solar, mas caso isso não seja já despertam interesse de prefeituras de
possível ele é programado para receber outros municípios: Os resultados dos tes-
energia elétrica. Se acontecer um blecaute, tes em campo estão sendo muito positivos,
ele começará a operar a partir do sistema completa Galli.
Para conciliar pesquisa e atendimento programas como esse, todos saem ganhan-
a pacientes, em 2000 o Grupo optou por do: as empresas, que têm oportunidade de
uma nova diretriz. Com o CInAPCe, di- realizar consultoria para desenvolvimen-
recionou a pesquisa para imagens e espec- to de um novo produto, contribuindo com
troscopia in vivo em sistemas biológicos, apenas uma contrapartida proporcional ao
particularmente em modelos animais. Já o seu faturamento; as Instituições, que ga-
desenvolvimento tecnológico ficou a car- nham recursos, inclusive na forma de equi-
go do Centro de Ciência, Inovação e Tec- pamentos e consultoria; e a sociedade, com
nologia em Saúde de São Carlos (Citesc), o novo produto lançado.
esforço regional convertido em modelo Tal projeto se inclui na onda empreen-
nacional por recomendação do Ministé- dedora que tem crescido vertiginosamen-
rio da Ciência e Tecnologia (MCT), jun- te no Brasil. Como no exemplo citado, os
to ao Ministério da Saúde: Esse projeto pesquisadores não terão seu espaço físico
vem criando uma infraestrutura em São ou intelectual limitado aos muros das uni-
Carlos para atender à região e também versidades e laboratórios de pesquisa: Para
possui abrangência nacional. O Citesc é os estudantes do IFSC, é uma oportunidade
consequência das pesquisas tecnológicas de serem expostos a esse ambiente de inte-
desenvolvidas nos Institutos de Ciência e ração entre centros de desenvolvimento e
Tecnologia que possuem características de empresas, além de uma oportunidade de
extensão e inovação. Ele abriga diversos emprego, uma opção além da academia,
projetos, além de ter espaço físico e recur- afirma o docente: Esta é uma aposta para
sos, esclarece Tannús. tornar os cursos do IFSC mais atraentes
Outro órgão que tem apoiado pesqui- para bons estudantes e aumentar a com-
sas relacionadas à RMN é a FINEP, através petitividade, criando uma alternativa de
do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Si- mercado de trabalho para os egressos destes
bratec), programa do MCT que compre- cursos, complementa.
ende três modalidades de redes: uma de
serviços, outra de extensão e a de centros
Mas, afinal, o que é a Ressonância
de inovação, esta última ligada diretamen-
Magnética?
te aos interesses do Grupo de RM do IFSC: Primeiramente, define-se o objeto de
Essas redes têm orientação para diversas te- estudo. No caso do Laboratório de RM do
máticas, entre elas a que nos concerne dire- IFSC, o núcleo do átomo seria esse obje-
tamente, que é a de Equipamentos, Insumos to: A energia usada não inclui as normal-
e Processos de Uso Médico, Odontológico e mente empregadas nas reações nucleares,
Hospitalar. O propósito é atender deman- mas aquela envolvida na interação entre o
das de empresas para desenvolver equipa- momento magnético do núcleo e um campo
mentos ou processos, dos quais as próprias magnético aplicado à região. Esse campo
empresas carecem, diz Tannús: Através de externo provoca um torque, que seria uma
testes mais concretos: No final do ano preten- armas eletrônicas, Mário conta que uma
do ir a Belo Horizonte para fazer testes com a etapa pode levar algum tempo para ser ul-
parte mecânica da arma, já que a eletrônica, trapassada: A última fase envolverá a esfera
relacionada ao chip, funciona perfeitamente. política, para aprovação de um projeto de lei
Em relação à definitiva concretização que autorize o uso desse tipo de arma, levan-
do projeto, ou seja, a comercialização das do-se em conta todas as suas consequências.
Arma de brinquedo simula modelo de pistola Colt. No interior, os locais para serem inseridas
a bobina (em bronze) e a micro solenoide (logo acima, em prata e amarelo).
de fluorescência disponível no mercado para próxima etapa desta pesquisa, após a finali-
diagnóstico de cáries e placas bacterianas. O zação do tratamento dos pacientes em São
equipamento permite localização mais exata Paulo, a equipe pretende montar uma in-
dos fungos causadores da infecção através fraestrutura em Ribeirão Preto. Isso porque
da fluorescência característica do próprio uma empresa especializada na área médica
micro-organismo. Dois protótipos vêm sen- e odontológica, sediada em Ribeirão Pre-
do usados para tratar a unha, com irradiação to, manifestou interesse em transformar o
em dois comprimentos de onda para ativar protótipo em equipamento, produzindo-o.
diferentes substâncias nos medicamentos, Assim, haveria uma colaboração com uma
que absorvem em comprimentos diferentes: podóloga para o tratamento de um grupo
São compostos fotossensíveis bem diferentes, de pacientes, do qual sairiam resultados a
comenta Natalia Mayumi Inada, especia- serem enviados à Agência Nacional de Vigi-
lista em laboratório do Grupo de Óptica e lância Sanitária para a aprovação do equipa-
orientadora do projeto: O intuito é comparar mento e desenvolvimento do produto final.
a eficácia de cada composto e para isso uti- Outra parceira em potencial é uma
lizamos uma fonte de luz específica: uma na indústria de cosméticos localizada em São
região do vermelho e outra na região do azul, Paulo, que pretende tratar mais um gru-
completa. Assim, o equipamento, liberando po de pacientes na capital e desenvolver o
a luz em um comprimento de onda específi- equipamento de maneira comercial: Para
co, tem a função de ativar o composto fotos- nós, essa parceria com indústrias é impor-
sensível que, já em contato com a unha da- tante para tornar a técnica acessível na co-
nificada, gera espécies reativas de oxigênio munidade, porque sabemos que o projeto de
que são prejudiciais aos micro-organismos: pesquisa vai chegar ao fim, ao contrário do
Estas espécies reativas de oxigênio são tóxicas número de pacientes sofrendo desta doença.
para o fungo ou para a bactéria e acabam por Estamos trabalhando para que a técnica seja
eliminá-los, esclarece Natalia. A medicação difundida, sobretudo de maneira economi-
fica em contato direto com a lesão durante camente acessível, comenta Natalia.
apenas uma hora, iluminada por vinte mi-
nutos. Com a rapidez da ação, Ana Paula
conta que consegue tratar de dez a quinze
pacientes por dia.
Tanto o protótipo do equipamento
quanto a técnica da inativação fotodinâmica
já estão patenteados. As medicações usadas
são comerciais, já aprovadas para estudos
clínicos experimentais – uma de origem
russa e outra nacional, sintetizada por uma
indústria farmacêutica de Ribeirão Preto. Na
restaurações muito grandes, conta. Além da grande e os sistemas de LED são aperfeiçoa-
vantagem estética que esse material oferece, dos continuamente, afirma Alessandra. O
a melhor adesão às estruturas dentais tam- trabalho da docente visa não só à cura,
bém é um diferencial: Ele une-se microme- mas também à prevenção. Atualmente
canicamente às estruturas do dente, o que trabalha com terapia fotodinâmica para
não acontecia com o amálgama dental, uma redução antimicrobiana: A ideia é que a
vez que se tratava de um material metálico. terapia fotodinâmica tenha outras aplica-
Dessa forma, é possível preparar uma ca- ções na odontologia, quem sabe de uma
vidade em tamanho menor, ou seja, não é forma mais preventiva de doenças bucais.
preciso deixar um grande curativo odonto- A parceria entre Alessandra e o IFSC
lógico em nossos dentes, como antigamen- vem sendo ampliada, pois além do Grupo
te: Com o amálgama, tínhamos que fazer de Óptica, hoje ela também colabora com
um preparo com características específicas o Grupo de Crescimento de Cristais e Ma-
para que ele ficasse retido no interior da ca- teriais Cerâmicos (CCMC), com o docente
vidade, mecanicamente, elucida Alessandra. Antonio Carlos Hernandes. Neste caso, o
Mesmo já utilizado há algum tempo, foco é o desenvolvimento de nanomate-
esse tipo de restauração é até hoje a mais riais para odontologia: A ideia é continuar
popular entre os cirurgiões-dentistas. os estudos, sempre tendo em vista novos ho-
Novos tipos de LEDs são estudados para rizontes, tanto através da terapia fotodinâ-
também viabilizar outros tratamentos: mica, com o aperfeiçoamento das técnicas
Meu mestrado foi o primeiro trabalho - ou que já temos e aplicação das mesmas em
talvez um dos primeiros - a apresentar o pacientes, como para desenvolvimento de
uso do LED na fotoativação, mas se fizer- novos materiais, podendo apresentar ma-
mos um comparativo daquela época - em teriais com propriedades antimicrobianas,
2000 - até hoje, houve uma evolução muito por exemplo, conta.
matéria em estado sólido) em contato com a tal existe uma organização sequencial de
solução, pois a taxa de dissolução e de forma- átomos em uma rede cristalina, razão pela
ção de óxido difere significativamente da que qual é comum encontrar na natureza cor-
ocorre nas fases monocristalinas, esclarece o pos sólidos cerâmicos que são constituídos
pesquisador. de uma infinidade de micro-cristais, o que
mascara as suas propriedades e inviabiliza
muitas vezes suas aplicações tecnológicas.
Já um monocristal, como o diamante, apre-
senta organização atômica quase perfeita:
A preparação de um monocristal em labo-
ratório é normalmente muito mais difícil do
que a preparação de um material cerâmico,
porque muitos parâmetros devem ser con-
trolados, comenta Andreeta. É por esta ra-
zão que eles raramente são encontrados na
Natureza e têm um custo tão elevado. Do-
Fibra monocristalina de antimônio com minando a técnica de produção destes mo-
dimensões apropriadas para aplicações em nocristais em laboratório, foi produzido um
sensores de pH no esôfago humano. sensor para aplicação possível no esôfago,
através de um cateter. A partir da monitora-
Os monocristais, por sua vez, são de- ção, um dispositivo eletrônico se encarrega
senvolvidos a partir de processos que dis- de produzir laudos médicos que oferecem
pensam cortes e polimentos pós-preparação, um diagnóstico de fácil leitura, com base
o que além de custar caro ocasiona defeitos em métodos pré-estabelecidos de cálculo
indesejáveis no material: Os monocristais de pH, como as pontuações de DeMeester e
foram crescidos em forma de fibras, com di- de Boix-Ochoa.
mensões apropriadas para aplicação nos ele- O software consegue fazer outros cál-
trodos, sem prévia manipulação, conta An- culos com base nos dados medidos pelo
dreeta. Este processo está sendo patenteado sensor, como a Probabilidade de Associa-
pela USP, em parceria com a Alacer Bio- ção com Sintomas, Índice de Sensibilidade
médica, indústria eletrônica que atuou no a Sintomas e Índice de Sintomas, o que fa-
financiamento da pesquisa e já manipula a cilita o diagnóstico no caso do paciente que
técnica, transformando-a em um produto sofre de refluxos de diversas origens. Além
final acessível e disponível no mercado. disso, o equipamento eletrônico permite
Andreeta explica, em detalhes, o por- associação com diversos outros softwares,
quê da necessidade de desenvolvimento de feito inédito na substituição de equipa-
uma técnica de crescimento dos monocris- mentos completos de exames e diagnósti-
tais de antimônio. Segundo ele, num cris- cos. Isso facilita o trabalho do profissional
Para produzir as pontas cristalinas, o pequenos tumores: Ainda não sabemos to-
doutorando prepara uma mistura de alu- das as potencialidades de uso da ponta cris-
mina e óxido de neodímio na forma de talina e estamos entrando em contato com
um bastão cerâmico. Este é aquecido com profissionais da área de saúde para avaliar
radiação de um laser de CO2 de alta potên- esse potencial, frisa Hernandes. Os resulta-
cia para atingir a temperatura de 2.000º C e dos são promissores: Essas pontas, por pos-
obter a fase líquida que será transformada suírem efeito térmico indireto, em tese po-
em um material eutético – a ponta crista- dem evitar efeitos secundários em pacientes.
lina. O formato e a dimensão da ponta são Por exemplo, em um sistema de aquecimen-
controlados alterando-se os parâmetros de to por rádio-frequência é muito mais difícil
fabricação. O diâmetro da ponta de cristal controlar a região aquecida, podendo atingir
é de 300 a 600 micra (1 mícron equivale a tecidos vizinhos, explica Andreeta.
10-6m). A ponta acoplada a uma fibra óptica Ele cita o sistema de aquecimento por
bombeada com um laser de comprimento meio de interação laser-tecido, afirmando
de onda de 808 nm permitiu atingir tem- que este também é de difícil controle, pois
peraturas superiores a 200º C, muito acima os diferentes tecidos possuem diferentes
do necessário para tratar o tecido humano. absorções ópticas, ou seja, para certa re-
Nos testes emprega-se um elemento gião do tecido, a potência do laser pode ser
inusitado: claras de ovo, usadas para que adequada, para outra não: O aquecimento
os pesquisadores determinem a região que com as pontas que estão sendo desenvolvidas
pode ser aquecida: O uso da clara de ovo poderia evitar estes problemas, por se tratar
facilita a visualização do campo de aque- de um aquecimento por condução e, portan-
cimento produzido por cada ponta e sua to, muito mais localizado, evitando danos
relação com a potência do laser usado para nos tecidos vizinhos ao tecido a ser tratado,
acoplar com a fibra. Esse procedimento expe- afirma. Com esse dispositivo, um médico,
rimental é rápido, simples e permite definir conhecendo a potência do laser, poderá
qualitativamente o efeito de cada ponta cris- controlar a temperatura na ponta de cristal
talina, afirma Hernandes. em contacto com a pele.
Após a construção do protótipo, o pró-
ximo passo é fazer testes de variação de
temperatura na ponta cristalina: Estamos
estudando a melhor composição de neodí-
mio, ou seja, qual a quantidade ideal que
deve ser adicionada à alumina para compor
a ponta de cristal, conta Sérgio. Os pesqui-
sadores ainda não conseguem identificar
todas as possíveis aplicações das pontas,
Na figura, equipamento utilizado para produzir
mas enfatizam que podem ser usadas em ponta cristalina. No destaque, a ponta.
microcauterizações e para tratamento de (Imagens: Sérgio Marcondes)
principalmente em comum com as rochas ou seja, quanto óleo cabe nela, o que in-
de petróleo a porosidade e permeabilida- forma o quanto de partes vazias existe: Isso
de, são ocas. Por isso, são saturadas com me informa a capacidade da rocha em ar-
salmoura (água e sal), para deixá-las ainda mazenar o petróleo. No quesito porosidade,
mais parecidas com as rochas de petró- quanto mais permeável for a rocha mais
leo: Também podemos enchê-las com óleo, fácil será extrair o petróleo armazenado,
que imita o petróleo, conta: Mas o que nos explica André.
importa é o óleo e não a rocha. O tipo de Tais informações são úteis à indústria,
rocha reservatório é que determinará se a que poderá usá-las para aprimorar técni-
extração em uma determinada jazida será cas de extração de petróleo ou criar novas:
economicamente viável. Daí a importância O resultado de minha tese é uma melhoria
em se estudar rochas porosas. do modelo existente de RMN para a carac-
A grande questão é como a medida de terização de rochas porosas.
RMN possibilita que se conheça a rocha,
tudo indica - eliminar a doença. A SM14 SM14: Poder identificar as diferenças signifi-
(como foi batizada por Tendler) é uma das cativas entre as proteínas de parasitas e seres
moléculas encontradas no organismo do humanos reforça novamente a importância
parasita, responsável pelo transporte de da pesquisa básica, pois é preciso saber se uma
lipídios. No organismo humano, a SM14 molécula que cria anticorpos no organismo
gera uma resposta imune, incitando a pro- humano não será prejudicial a ele próprio.
dução de anticorpos: O hospedeiro [orga- Outra docente do IFSC, Ana Paula
nismo humano] é capaz de reconhecer essa Ulian Araújo, também em conjunto com
molécula e montar uma resposta imune Tendler, está trabalhando na criação de
contra ela. Então, se ele entrar em contato uma ferramenta capaz de avaliar o grau
com o parasita, o sistema imune já está pron- de eficácia da vacina em cada indivíduo:
to para reagir contra ele. Tal descoberta abre Cada pessoa reage de uma forma diferente
inúmeras possibilidades, além da produção à mesma vacina, pois os genes de cada ser
de uma vacina contra esquistossomose. humano são diferentes uns dos outros. Por
Essa é a primeira vez que o processo de isso, seria muito interessante ter uma ferra-
desenvolvimento de uma vacina é feito in- menta que permitisse o acompanhamento
tegralmente no Brasil. Vários colaboradores da vacina, explica Richard.
estiveram envolvidos, entre eles o próprio Durante o desenvolvimento da vacina
Richard, que também foi o braço direito de contra a esquistossomose, os pesquisadores
Mirian. Ele empregou seus conhecimentos tiveram mais uma surpresa: a SM14 gera
em biologia estrutural para modelar a SM14, uma reação cruzada com outro parasita - o
identificando as regiões mais importantes da Fasciola hepática - que afeta principalmen-
molécula para gerar a resposta imune: Esse te bois e ovelhas. Ou seja, o Fasciola, que é
é um exemplo muito claro de como a ciência um problema sério nos países de economia
básica e a aplicada podem - e devem - andar baseada na criação de ovelhas (como a Ho-
juntas. Todo cientista sabe que é fundamental landa), também poderá ser combatido pela
investir nessas duas frentes, pois a pesquisa vacina. Por exemplo, ovelhas já receberam as
básica traz os fundamentos. Mas, investir so- vacinas e ficaram protegidas contra o Fascio-
mente na ciência básica não gerará produtos. la: Isso é o que chamamos de vacina bivalente.
O segredo é encontrar o equilíbrio entre elas, Novamente, é algo que teve um apoio muito
destaca Richard: Se a Miriam (Tendler) não importante do IFSC, com o papel de estudar a
tivesse a preocupação de entender a molécu- estrutura da molécula e explicar esse aconteci-
la que ela tinha em mãos, o projeto teria tido mento, conta Garratt.
outro percurso. Conhecer a estrutura da mo- A fase 1, em que a segurança da vaci-
lécula é importante por diversos motivos, na é testada, já foi completada, em que vinte
entre eles saber se a vacina não criará anti- homens saudáveis receberam a vacina e não
corpos contra o próprio organismo, uma vez apresentaram reações ou efeitos colaterais:
que temos moléculas muito parecidas com a Essa fase deve ser realizada obrigatoriamente
diabetes, cujo protótipo está sendo desen- A preocupação de Izabela foi confir-
volvido no IFSC, propicia a resposta em mada por pesquisas do Prof. Dr. Wan-
poucos minutos. derlei Pignati da UFMT, especialista que
A equipe de pesquisadores procura observou vários pesticidas nos principais
agora uma indústria nacional de biotecno- rios, poços artesianos e, inclusive, em ani-
logia que compre a ideia para comerciali- mais, no Mato Grosso. Outro trabalho de
zar o aparelho, que poderá custar entre R$ Pignati comprovou índices de pesticidas
100,00 e R$ 200,00 cada unidade. no leite materno. Sabe-se que a ANVISA
Izabela Gutierrez de Arruda está en- está com processo aberto para banir esse
tusiasmada pelo âmbito social e impacto pesticida do mercado, tal como já aconte-
ecológico do projeto: Este pesticida é uti- ce em vários países da União Europeia:
lizado em larga escala no Estado de Mato O desenvolvimento desse trabalho in-
Grosso e em muitas regiões do país: quan- cluiu conhecimentos das áreas da física,
do penso que a região do Pantanal poderá química, biologia, e ciência e engenharia de
ser ameaçada por este pesticida, logo penso materiais, valorizando a interdisciplinari-
que, pela sua localização, outros países que dade, comentam Izabela e Nirton.
fazem fronteira com o Brasil poderão sentir Além do registro de patente, um arti-
também esse perigoso efeito, até porque a go foi aceito e outro enviado para revistas
contaminação pode chegar aos reservató- especializadas nas áreas de biossensores e
rios de água potável e aos grandes rios do nanotecnologia.
Estado, comenta a cientista.
T
emos a expectativa de que o material compilado neste li-
vro forneça um panorama da pesquisa que se tem realiza-
do no IFSC nos últimos anos, confirmando a vocação do
Instituto em produzir ciência multidisciplinar com a preocupa-
ção de transferir conhecimento e tecnologia para outros agentes
do sistema científico-tecnológico do Brasil. Justifica-se, a nosso
ver, a escolha do título do livro, na medida em que as pesquisas
em física têm sido colocadas a serviço da sociedade. Embora
sem muitas menções implícitas, das matérias e reportagens fica
clara a preocupação com a formação de alunos com espírito
inventivo e base sólida em física e áreas correlatas. Este tipo
de formação de recursos humanos é, também, essencial para o
IFSC cumprir sua missão. A variedade e qualidade da pesquisa
gerada por nossos alunos é demonstração da decisão acertada
de expandir os cursos de graduação do IFSC nos últimos anos,
pois permite hoje uma ação integrada de nossos pesquisadores
usando conhecimentos de física e áreas afins.
Nota-se na cobertura das atividades de pesquisa uma pre-
dominância pela ciência mais utilitária, principalmente con-
siderando-se as diversas tecnologias e aplicações advindas da
pesquisa no IFSC. Há várias possíveis razões para esse desequi-
líbrio na cobertura. Talvez a mais importante seja que é mais
fácil cativar o público em geral, e mesmo especialistas, com
resultados de pesquisa cuja aplicação é claramente identifica-
da. Não deve ser surpreendente, portanto, que se interesse por
divulgar as excelentes contribuições do IFSC com novas tecno-
logias terapêuticas, estudos de doenças importantes e produção
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de dispositivos, entre outras. Outra possível razão é a menor disponibilidade
de nossos colegas que trabalham em pesquisa de física fundamental, inclusive
advinda da dificuldade em usar uma linguagem simplificada para suscitar inte-
resse de um público não especialista. A constatação desse desequilíbrio na co-
bertura pode ser usada como um desafio para nosso setor de comunicação nos
próximos anos. Ressalte-se, de toda forma, que a importância de fazer pesquisa
básica, principalmente empregando os fundamentos da física foi enfatizada di-
versas vezes nas reportagens. Mesmo com o risco de parecer por demais repe-
titivo, mantivemos esses diversos depoimentos de nossos colegas. Pois parece
haver consenso no IFSC de que só se pode fazer ciência aplicada se houver boa
ciência para aplicar.
Para o público externo ao IFSC, esperamos que o livro sirva para ilustrar
o compromisso do IFSC com o ensino integrado à pesquisa e ao trabalho de
extensão. Ênfase especial foi dada à importância de parcerias, nacionais e in-
ternacionais, sem as quais dificilmente se pode obter contribuições científicas
ou tecnológicas relevantes. Já para o público interno, esperamos que o livro
represente uma síntese de nossa capacidade de comunicação com a sociedade,
servindo para traçar rumos e metas para o futuro.