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Musicalização - Abrindo Governança econômica Fórum econômico USP cria centro de

portas para uma educação - Uma pedagogia da mundial - Davos se pesquisa na área de
musical economia prepara para ajudar a inteligência artificial
lançar uma nova década

Educação, pedagogia, psicologia, nutrição e saúde. N º 03 | A B R2020


Educação um direito de todos - um dever do Estado.

EDUCAÇÃO 4.0 E A
SOCIEDADE BIT. PAG. 22

MOMENTO DE
AÇÃO GLOBAL. RACISMO,
PAG. 5 .

INFÂNCIA
E ESCOLA.
PAG. 33

O PEDAGOGO
E SUAS
TECNOLOGIAS
DIGITAIS. EDUCAÇÃO 4.0 -
PAG. 8 . O BRASIL ESTÁ
PRONTO PARA
O FUTURO?
PAG. 28 .

A relação entre família- Uma década de estatística O que podem fazer Fronteiras da Biologia
escola e o impacto no na USP São Carlos: curso arquitetas e arquitetos Hightech
desenvolvimento do ganha destaque na era da pela sua cidade?
aluno ciência de dados
4 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

Expediente – Æscola Legal nº 3 – março de 2020


Publisher – Diretor de Redação:
Volmer Silva do Rêgo – Jornalista responsável
MTB 16640-85/SP – ABI 2264/SP – MS 11714
ORCID: 0000-0002-6064-3791
volmersr@aescolalegal.com.br
Arte: Alescio Vieira - alescio@gmail.com

Colaboram nesta edição:


Miguel Angelo L Nicolelis – Dr. Pesquisador Bioengenharia Médica Duke Univesity (USA)
Marcelo Gleiser – Físico Astrônomo – Dr. profº. Darthmouth College – Hannover (USA)
Ladislaw Dowbor – Economista – Dr. Professor (PUC/SP) – Conselheiro ONU
Paulo Feldman – Economista – Dr. Professor (USP)
Daniel Vecchio Alves – Pedagogo – Dr. Professor - USP
Ana Carolina B.A. Farias - Mestra em Sociologia /USP – Professora Ens. Médio SESP
Denise Casatti – ICMC/USP
Gabriela Bidin – ICMC/USP
Paulo Tiné – Professor Dr. Música – UNIFESP
Paolo Colosso – Arquiteto - Br Cidades - Dr. Filosofia - Professor (UFSC) Pesquisador USP
Viviane Flores – Pedagoga - Diretora educacional da Rede Marista de Colégios (RMC)
Jorge Abrahão - Coordenador Geral da Rede Nossa São Paulo
Hernane Rosas – Ms. Nutricionista\USP – Presidente do Sindinutrisp
Adriana Cruz - Redação - Jornal da USP

Conselho Administrativo:
Eusiel Rego - MS Arte USP – Toronto – Ca.
Jeasir Rego – MS Arte/Educação - UESC/SC
Rita J Leria Aires – Psicóloga/Mediadora de Conflitos – PUC/SP

Conselho Editorial:
Alberto Carlos Almeida – Cientista político
Alfredo Attié Jr. - Advogado – Pres. APD
Fabiano Trigo Romagnol – Prof. Literatura Portuguesa\Brasileira – Sec. Est. de Educação
Jorge Tateishi - Jornalista
Moacir Bueno Arruda - Biólogo
Valeria Sanchez - Psicanalista

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Æscola Legal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre
o universo multi e transdisciplinar que a envolve. Os artigos aqui expostos refletem a opinião destes profissonais, baseada em seus estudos e
pesquisas e estão, no mais das vezes, intrinsecamente relacionados aos conceitos expendidos por este periódico.
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 5

ÍNDICE
06 45 64
ODS DO MILÊNIO - ONU/UNESCO MAPA DA DESIGUALDADE DE O ENSINO E DESENVOLVIMENTO
Da Redação AEL SÃO PAULO - CAPITAL (2019) DO DESENHO ATRAVÉS DA ARTE
BR São Paulo (Jorge Abrahão) VISTO POR UMA PERSPECTIVA
07 PEDAGÓGICA SÓCIO
EDUCAÇÃO ODS NÚMERO 4 46 CONSTRUTIVA
Da Redação AEL FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL Simone Garcia
- DAVOS SE PREPARA PARA
09 AJUDAR A LANÇAR UMA 67
O PEDAGOGO E SUAS NOVA DÉCADA O QUE PODEM FAZER
TECNOLOGIAS DIGITAIS Assessoria de Imprensa Pavel ARQUITETAS E ARQUITETOS
Daniel Vecchio Alves Osipyants - Zurich Insurance Group PELA SUA CIDADE?
Paolo Colosso
20 48
EDUCAÇÃO DIGITAL, GOVERNOS UMA DÉCADA DE ESTATÍSTICA NA 69
ANALÓGICOS USP SÃO CARLOS: CURSO GANHA USP CRIA CENTRO DE PESQUISA
Genivaldo Monteiro e DESTAQUE NA ERA DA CIÊNCIA NA ÁREA DE INTELIGÊNCIA
Jaqueline Quaresemin DE DADOS ARTIFICIAL
Denise Casatti Adriana Cruz
23
A EDUCAÇÃO 4.0 E A SOCIEDADE 50 70
BIT MAIS RÁPIDO DO QUE UMA BALA UNIPERMACULTURA - CURSOS
Marisa Batista Yuri Vasconcelos DE PERMACULTURA/EAD
Da Redação AEL
29 52
EDUCAÇÃO 4.0 - O BRASIL ESTÁ USP LIDERA FORÇA-TAREFA PARA 71
PRONTO PARA O FUTURO? DESCOBRIR AS CONEXÕES ENTRE ESTRATÉGIAS ANTIBULLYNG
Da Redação AEL AS ESPÉCIES PARA O AMBIENTE ESCOLAR
ASCOM USP (Denise Casatti) Loriane Frick, Maria Menin, Luciene
33 Tognetta, Cristina Del Barrio
A RELAÇÃO ENTRE 54
FAMÍLIA-ESCOLA E O IMPACTO FRONTEIRAS DA BIOLOGIA 73
NO DESENVOLVIMENTO HIGHTECH SESSÃO LIVROS/LITERATURA
DO ALUNO Miguel Nicolelis - Duke University/USA Da redação AEL
Viviane Flores
56 75
34 MUSICALIZAÇÃO - ABRINDO OS PROFESSORES E OS
RACISMO, INFÂNCIA E ESCOLA: PORTAS PARA UMA EDUCAÇÃO ESTUDANTES
A QUEM SERVE ESTE DEBATE? MUSICAL Professor anônimo português
Ana Carolina B. A. Farias Jeasir S. Rego
76
38 59 PIB CRESCE 1,1% EM 2019 FECHA
IPCA (ÍNDICE DE PREÇOS AO BIG BANDS NOS CÉUS O ANO EM R$ 7,3 TRILHÕES
CONSUMIDOR AMPLO). VOCÊ EDUCAÇÃO MUSICAL - Da redação AEL
SABE O QUE É INFLAÇÃO? UM FORTE ACRÉSCIMO
Da Redação AEL COGNITIVO
Paulo Tiné

39 61
GOVERNANÇA ECONÔMICA - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
UMA PEDAGÓGICA DA SOBRE AS FILOSOFIAS DA
ECONOMIA EDUCAÇÃO MUSICAL
Ladslaw Dowbor ESTÉTICA E
PRAXIAL
42 Jeasir S. Rego
BRASIL PRECISA DE
EMPREENDEDORES E A ESCOLA
PODE AJUDAR MUITO
Paulo Feldmann

44
DÉCADA INTERNACIONAL DE
AFRODESCENDENTES epi
k
Da Redação AEL Fre
de
a gem
Im
6 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

ODS DO M ILÊ NIO – ONU/ UNESCO


MOMENTO DE AÇÃO
GLOBAL PARA AS
PESSOAS E O PLANETA

O
ano de 2015 apresentou uma oportunidade ACOMPANHE - Relatório Especial sobre os Direitos
histórica e sem precedentes para reunir os países e da Criança e o Meio Ambiente - baixe no seguinte
a população global e decidir sobre novos caminhos, e n d e r e ç o : h t t p s : / / u n d o c s . o r g / A/ H R C / 37/ 58
melhorando a vida das pessoas em todos os lugares.

Essas decisões determinarão o curso global de ação


p ara aca ba r co m a p o b rez a, p ro m o ve r a p ro s p e r i da de
e o bem-estar para todos, proteger o meio ambiente
e enfrentar as mudanças climáticas. Em 2015, os
países tiveram a oportunidade de adotar a nova
agenda de desenvolvimento sustentável e chegar
a um acordo global sobre a mudança climática.

As ações tomadas em 2015 resultaram nos novos


Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) , que
se b aseia m no s o ito O b j eti v o s d e D es en v o l v i m e nt o do
Milênio (ODM). As Nações Unidas trabalharam junto
aos governos, sociedade civil e outros parceiros para LEIA - Cartilha dos Direitos da Criança ao
aprov eitar o impuls o g e rad o p e l o s O D M e l e var à f r e n t e Meio Ambiente – baixe o PDF completo:
u m a age nd a d e de s en v o l v i m en to p ó s - 2015 amb i c i o s a . w w w . a e s c o l a l e g a l . c o m . b r / a s s e t s / p d f / o d s _ c a r tilha .pdf

A Revista AEscola Legal está seriamente engajada no


Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e
de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem
ao longo da v ida para to d as e to d o s .

Acesse: https://nacoesunidas.org/pos2015/
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EDUC AÇ ÃO ODS NÚMERO 4


para complementar o produto interno
bruto (PIB) destas sociedades.

4.1 Até 2030, garantir que todas


as meninas e meninos completem
o ensino primário e secundário
livre, equitativo e de qualidade,
que conduza a resultados de
a p r e n d i za g e m r e l e v a n t e s e efica zes.

Objetivo 4. 4.2 Até 2030, garantir que todos as


m e n i n a s e m e n i n o s t e n h a m a cesso a
um desenvolvimento de qualidade na
A ssegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, primeira infância, cuidados e educação
e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida pré-escolar, de modo que eles estejam
prontos para o ensino primário.
para todas e todos
4.3 Até 2030, assegurar a
AEscolaLegal apoia e está comprometida com este projeto igualdade de acesso para
todos os homens e mulheres à
ambicioso, mas per feitamente exequível da ONU pela educação técnica, profissional e
construção do um mundo melhor para todos, mais humano, superior de qualidade, a preços
com mais justiça social e respeito pelos direitos humanos e acessíveis, incluindo universidade.

o desenvolvimento harmonioso com meio ambiente. 4.4 Até 2030, aumentar


substancialmente o número de

O
jovens e adultos que tenham
s ODS e metas são integrados sustentável, e ressaltamos os habilidades relevantes, inclusive
e indivisíveis, de natureza desafios especiais que enfrentam. competências técnicas e
global e universalmente profissionais, para emprego, trabalho
aplicáveis, tendo em conta as Indicadores estão sendo decente e empreendedorismo.
d ife rentes rea lida des , c ap ac i d ad e s e desenvolvidos para ajudar neste
níveis de desenvolvimento nacionais e trabalho. Dados desagregados de 4.5 Até 2030, eliminar as disparidades
respeitando as políticas e prioridades qualidade, acessíveis, atualizados de gênero na educação e garantir
nacionais. As metas são definidas e confiáveis serão necessários para a igualdade de acesso a todos os
como aspiracionais e globais, com ajudar na medição do progresso níveis de educação e formação
cada governo definindo suas próprias e para garantir que ninguém seja profissional para os mais vulneráveis,
metas nacionais, guiados pelo nível deixado para trás. Esses dados são incluindo as pessoas com deficiência,
global de ambição, mas levando em a chave para a tomada de decisões. povos indígenas e as crianças
conta as circunstâncias nacionais. D ad o s e i n f o r m a ç õ e s d i s p o n í v e i s e m em situação de vulnerabilidade.
Cada governo também vai decidir mecanismos de comunicação devem
como essas metas aspiracionais e ser usados sempre que possível. 4.6 Até 2030, garantir que todos os
globa is devem ser i nc o rp o rad as no s jovens e uma substancial proporção dos
processos, políticas e estratégias Concordamos em intensificar a d u l t o s , h o m e n s e m u l h e r es est eja m
nacionais de planejamento. nossos esforços para reforçar as alfabetizados e tenham adquirido o
É importante reconhecer o capacidades estatísticas nos países conhecimento básico de matemática.
vínculo entre o desenvolvimento em desenvolvimento, particularmente
sustentável e outros processos os países africanos, no Brasil e 4.7 Até 2030, garantir que todos os
relevantes em curso nos campos nos países menos desenvolvidos, alunos adquiram conhecimentos
econômico, social e ambiental. os países em desenvolvimento e habilidades necessárias para
sem litoral, os pequenos Estados promover o desenvolvimento
56. Ao decidir so bre e s s e s O b j e ti vo s insulares em desenvolvimento e sustentável, inclusive, entre
e metas, reconhecemos que cada os países de renda média. Estamos outros, por meio da educação para
país enfrenta desafios específicos comprometidos em desenvolver o desenvolvimento sustentável e
para alcançar o desenvolvimento medidas mais amplas de progresso e s t i l o s d e v i d a s u s t e n t á v e i s , direit os
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“A escola , não só no
Brasil, mas no mundo,
ainda está prepa-
rando os alunos para
e m p r e g o s d o sé cu lo
20, como se estivesse
parada no tempo.
Precisamos preparar os
jovens para um mundo
que está mudando
muito rápido“

Foto de National Canc er Institute do Unsplash

humanos, igualdade de gênero, gov.br/component/tags/tag/50121 - críticas públicas como Educação,


promoção de uma cultura de paz e Saúde, Transporte e Infraestrutura
não violência, cidadania global e Ministério da Educação e Cultura e, mais recente ainda, a cessão das
valorização da diversidade cultural em reunião junto a empresários transferências da obrigatoriedade
e da contribuição da cultura para do setor educacional ligados ao p o r l e i – d e c r e t o a s s i n a d o pelo a t ua l
o desenvolvimento sustentável. atual governador do estado de presidente - que prevê o repasse
São Paulo e do setor educacional da União para os estados da verba
4 .a Co nstruir e melho rar i ns tal aç õ e s sinalizam na direção de recursos da Educação pública, deixando para
físicas para educação, apropriadas e incentivos para área privada. cada ente federativo o ônus de
para crianças e sensíveis às cuidar da questão da forma que for
deficiências e ao gênero, e que A presidente do Instituto Ayrton p o s s í v e l ( n a L e i d e r e s p o n s a bilida de
proporcionem ambientes de Sena, Viviane Senna, alertou para fiscal havia o compromisso de que
aprendizagem seguros e não violentos, a necessidade de mudança na 18% do orçamento da União fosse
inclusivos e eficazes para todos. educação. “A indústria 4.0, que não destinado à Educação pública, mas
é só indústria, é todo um cenário os estados devem investir 25%
4.b Até 2020, substancialmente de mudança em diversas áreas, e os municípios também 25%).
ampliar globalmente o número de traz de novo esse fantasma que
bolsas de estudo para os países as s us ta a h u m a n i d a d e d e t e m p o s e m E m n ú m e r o s i s s o s i g n i f i c a US$ 4.318
em desenvolvimento, em particular tempos, quando há grandes saltos (mas a média da OCDE é de US$
os países menos desenvolvidos, de mudança. Setores e profissões 9. 317, 00 p o r a l u n o ) , o u s e j a, o B ra sil
pequenos Estados insulares em inteiros desapareceram no passado não estava nem na metade, embora
desenvolvimento e os países durante esses saltos. E o que importa os gráficos* mostrem uma acentuado
africanos, para o ensino superior, ho j e é ana l i s a r a v e l o c i d a d e c o m q u e crescimento nos investimentos
incluindo programas de formação isso acontece, assim como qual será o comparativamente aos primeiros
profissional, de tecnologia da papel da escola na preparação dessas anos da década de 2000. Este fato
informação e da comunicação, no vas g e r a ç õ e s . A e s c o l a , n ã o s ó n o indica que empresas de capital
t é c n ic o s, de engenha ri a e p ro g ram as Brasil, mas no mundo, ainda está privado poderão assumir grande
científicos em países desenvolvidos preparando os alunos para empregos parte dos projetos de educação
e outros países em desenvolvimento. do século 20, como se estivesse vindouros, deixando a educação na
parada no tempo. Precisamos m ã o d o m e r c a d o q u e t e m , dent re a s
4.c Até 2030, substancialmente preparar os jovens para um mundo suas prioridades – a mais importante
aumentar o contingente de que está mudando muito rápido.” – lucrar com seu negócio. http://
professores qualificados, inclusive educacaoconectada.mec.gov.br/
por meio da cooperação internacional Entretanto, esta situação ainda não
para a formação de professores, é uma realidade para as escolas *gráficos - Fonte: https://www.
nos países em desenvolvimento, públicas do estado ou do país, a politize.com.br/quanto-governo-
especialmente os países menos d e s p e i to da p u b l i c i d a d e d o M E C . Na i n v e s t e -s a u d e -e d u c a c a o /
desenvolvidos e pequenos Estados realidade, existe um barreira criada
insulares em desenvolvimento. a partir dos decretos recentes dos
úl ti m o s gov e r n o s – q u e v ã o d e s d e o
A POSIÇÃO DO MEC – http://portal.mec. congelamento de gastos nas áreas
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O PEDAGOGO E SUAS
TECNOLOGIAS DIGITAIS
Foto de digitalleraningmagazine-Elets

Resumo: Diante da busca de um modelo especializado e colaborativo do papel do pedagogo nas escolas, como pensá-lo

hoje, no contexto das novas TIC ( Tecnologias da Informação e Comunicação)? Quais são as melhores tecnologias digitais para

utilizar em suas tarefas e como utilizá-las com vista a integrar e, também, especializar os seus trabalhos de coordenação,
super visão e orientação pedagógicas? Tais são as questões nor teadoras deste presente ar tigo. Não pretendemos dar aqui

uma resposta acabada para cada uma das questões, mas apenas suscitar ref lexões acerca da integração das tecnologias nas

funções do pedagogo, tendo em vista repensar e atualizar suas práticas no ambiente escolar. Sendo assim, nos atentaremos

às possibilidades de desenvolvimento das ações do pedagogo a par tir do uso de tecnologias digitais, especialmente a par tir

do uso dos Sistemas de Gestão (SIG) que potencializa suas tarefas, pois implica em novas formas de comunicar e perceber o

espaço escolar de modo a orientar um trabalho pedagógico sempre em busca das estratégias de formação e aprendizagem

mais adequadas a cada contexto.

Palavras - chave: Pedagogo. Educação e Tecnologia. Sis temas de Ges t ão.

uma organização complexa (Ferreira, de estruturas organizacionais


1. A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR POR 2017), que necessita ser analisada propostos por Mintzberg (1995). Na
MEIO DAS TIC atendendo à sua estratificação sua abordagem, Mintzberg estruturou
e estruturação institucional com as organizações gerais em cinco

A
s escolas, constituídas por vista a um melhor entendimento estruturas principais: o vértice
equipes de gestão escolar e dos seus processos de trabalho. estratégico, a linha hierárquica, o
gestão pedagógica, reúnem c e n t r o o p e r a c i o n a l , a t e c n oest rut ura
diversos elementos organizacionais, Neste capítulo, com o intuito de e o pessoal de apoio. Segundo o
que são chave para um bom analisarmos a atuação do corpo de mesmo autor, tais estruturas estão
funcionamento da instituição. A pedagogos de escolas nacionais, interligadas e relacionadas por dois
esc ola é pr o fissio na l e p o l i ti c am e nte recorremos inicialmente aos modelos tipos de fluxo: o de informação e o de
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p rocesso s de decisã o . C ab e re s s al tar a realizar uma ação com vista a Antes de tudo, é preciso ressaltar
que ambos os fluxos são muito alcançar um objetivo comum que está que, na maior parte dos programas
importantes para a estruturação p ara al é m d o s o b j e t i v o s e i n t e r e s s e s de informatização educacional
organiza cio nal e func i o nal d a e s c o l a, particulares de cada indivíduo que faz das escolas públicas, não se
influenciando diretamente as áreas parte desse coletivo” (Santos, 2018, registram muitos movimentos de
funcionais relacionadas com a p. 35). Por isso, recomenda-se que os apoio e estímulo ao envolvimento
gestão, como a comunicação e a pedagogos se envolvam nos programas e responsabilização dos gestores
organização da instituição educadora. de desenvolvimento profissional pedagógicos pelo processo de
dos seus professores e, ainda, que integração das TIC nas escolas.
Nesse sentido, tanto no plano procurem constituir nas suas escolas Isso pode ser confirmado pelo fato
administrativo quanto no pedagógico, equipes de professores com potencial do programa Currículo+ (2014) da
as tecnologias de informação e para promover estratégias de Secretaria de Educação do Estado
comunicação podem ser tomadas ap re nd i z a g e m e l i d e r a r a i n t e g r a ç ã o d e S ã o P a u l o ( S E E / S P ) , p o r exemplo,
como um importante instrumento das tecnologias durante as aulas. focar no uso das TIC apenas por
a serviço da educação, sendo o docentes e discentes. Tal iniciativa
pedagogo o profissional que tem o P ara o c ump r i m e n t o e f e t i v o d e t o d a s visa incentivar a utilização da
papel preponderante na integração e s s as m e t a s , t e r í a m o s q u e p a r t i r d e t e c n o l o g i a c o m o r e c u r s o p eda gógico
ed uc a tiv a da s TIC no e s p aç o e s c o l ar. o utra re al i d a d e e s t r u t u r a l q u e n ã o a articulado ao currículo escolar
Embora a mudança implique no que encontramos na atual situação e s t a d u a l d e S ã o P a u l o , p a r a inspira r
esforço conjunto de toda uma escolar do Brasil, cujas escolas práticas docentes inovadoras, não
comunidade, segundo Piedade e públicas são compostas, em sua fazendo qualquer alusão aos gestores
Pedro (2014, p. 112), “o papel dos maioria, por poucos profissionais pedagógicos, que, por sua vez, devem
líderes escolares é imprescindível habilitados, acumulando em apenas auxiliar os professores na construção
[para tal mudança]. Os líderes um age nte ( c o o r d e n a d o s , s u p e r v i s o r de todo processo de aprendizagem.
escolares serão os responsáveis e o ri e ntado r p e d a g ó g i c o s ) a s t a r e f a s O mesmo foco ocorre no ambiente
pela identificação e definição de de todas as habilitações do pedagogo. virtual de formação da mesma
estratégias de mudança que serão Ne s te q ua d r o d e d e s e s t r u t u r a ç ã o d a secretaria, cujas atividades estão
necessárias nos seus contextos prática do pedagogo nas escolas, concentradas nos cursos da Escola
educativos para que qualquer to rna- s e f u n d a m e n t a l a u t i l i za ç ã o d e de Formação de Professores (EFAP).
mudança de práticas se instale”. sistemas de informação gerencial que
oferecem relatórios-padrão e reúnem Todavia, em muitas escolas, a
Nesse sentido, o pedagogo precisa e q ui p am en t o s , p e s s o a s e p r o g r a m a s utilização dos meios digitais na
cuidar dos elementos principais com o objetivo de facilitar e de otimizar gestão tem constituído um dos pilares
da organização e da gestão do os resultados, auxiliando no processo para a organização pedagógica da
processo de ensino oferecido pela de planejamento das atividades e i n s t i t u i ç ã o . A r a p i d e z n a s opera ções
escola: do planejamento escolar de organização do espaço escolar. administrativas, por exemplo,
e pedagógico, da organização que na velocidade do preenchimento
sinaliza recursos para a realização No geral, a implementação das plataformas digitais como os
do que foi planejado, da coordenação de tecnologia digital para o S i s t e m a s In t e g r a d o s d e G e s t ã o (SI G ),
que desenvolve e orienta recursos aprimoramento da organização t o r n a m m a i s e f i c a z a g e r e n cia de um
humanos e equipes de trabalho, escolar apresenta um quadro de local ou uma equipe de trabalho:
e da avaliação que consiste no benefícios e vantagens que visa a “As plataformas electrónicas na
acompanhamento, na orientação e eficiência, produtividade e qualidade medida em que se revestem de
na comprovação do rendimento do dos serviços prestados. Ao longo precisões e detalhes, estatísticas
trabalho realizado. É preciso defender deste capítulo, perceberemos o significativas e prazos inadiáveis,
a autonomia e a liderança da ação quanto as várias versões do SIG preenchem os factos de credibilidade
pedagógica, principalmente com (Sistema Integrado de Gestão ou [...], criando um mecanismo
base na “liderança transformacional” Sistema de Informação Gerencial), de sugestão ao utilizador das
(Piedade, 2017), em que o pedagogo se são importantes para uma plataformas [...]” (Meira, 2017, p. 79).
dispõe a refletir sobre o desempenho organização, não só escolar, mas
dos professores e demais agentes tam b é m pe d a g ó g i c a d a s i n s t i t u i ç õ e s A partir desses e outros dados,
escolares, propondo melhoramentos. de ensino. Se bem implementados, as plataformas digitais podem
tais sistemas trazem excelência na proporcionar aos pedagogos a
Portanto, o pedagogo, enquanto líder qualidade do trabalho escolar, com possibilidade de pensar novas
“transformacional” deve ser aquele melhoria no acesso a informações formas e novas perspectivas de
profissional “capaz de projetar o e serviços educacionais prestados. realizar suas tarefas, aumentando
coletivo para o futuro, levando-o exponencialmente as capacidades

1 Para saber mais sobre o programa Currículo+, acesse http://curriculomais.educacao.sp.gov.br/.


Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 11

de cálculo e de registro. Mas, a como a ambiguidade na leitura dos p e r m i t e u m a g e s t ã o m a i s eficient e e


gest ão pedagó gica ef e tuad a p o r m e i o dados destas provenientes, podem inovadora, ou seja, as potencialidades
das TIC, tende a individualizar-se e af e tar nã o s ó o t r a b a l h o p e d a g ó g i c o informáticas aprimoram as dinâmicas
reduzir-se aos níveis superiores da dos pedagogos, como também o d e c o m u n i c a ç ã o i n t e r n a e ext erna da
gestão, dependendo cada vez mais das trab al ho d o c e n t e . escola.
in t e rvençõ es técnicas d e um núm e ro
restrito de profissionais que controlam Esse processo demonstra o problema A partir do redimensionamento do
os dados da plataforma, limitando a decorrente do uso não colaborativo e s p a ç o e s c o l a r d e v i d o a t a i s a va nços
c olab oraçã o entr e o s d e m ai s age nte s das TIC, implicando na “incapacidade tecnológicos e científicos, os gestores
na organização do processo de ensino. p ara e s p el h a r a d i l u i ç ã o d o p r o c e s s o pedagógicos também ganham novos
decisório num conjunto de p e r f i s e n o v a s a t r i b u i ç õ e s , pa ssa ndo
Em muitos casos os agentes intervenções decisórias através das “a reorganizar o contexto escolar
educacionais são beneficiados variadas operações técnicas enquanto como criar parcerias, romper com a
com o funcionamento de um bom actos de microgestão quotidianos” forma bancária do ensinar e aprender,
sistema, mas perdem efeito porque, ( M e i ra, 2 017, p . 102) . N e s s e s e n t i d o , mudar [...] a prática pedagógica”
facilitando as tarefas, a tecnologia o gestor pedagógico não deve se (Gomes, 2017, p. 157). Ao explorar as
pode tornar tais agentes meros apropriar das decisões que devem ser potencialidades das TIC no seu
sujeitos distantes das tomadas de to m ad as d e n t r o d a e s c o l a , v i s t o q u e , cotidiano, a escola abre-se a novas
decisão que afetam seus próprios no contexto escolar, são os processos experiências, vivenciando uma
ofícios. Logo, frente às medidas de colaborativos de organização, comunicação partilhada que gera alta
m od e rniza ção peda g ó gi c a e m m ui tas planejamento e ação que dão base troca de informações com outros
escolas, ao mesmo tempo em que para que os exercícios de formação e espaços de conhecimento: “Essa
at en d em uma necess i d ad e , ac e ntuam de aprendizagem sejam de fato abertura à articulação com diferentes
o problema do distanciamento dos p ro m o vi d o s . espaços potencializa a gestão escolar
agentes educacionais das questões e p r o v o c a m u d a n ç a s s u b s t ancia is no
que são comuns a toda comunidade C o m o ráp i d o a v a n ç o d a t e c n o l o g i a e interior da instituição, ao ponto da
escolar, como os processos avaliativos o crescente valor das informações, as aprendizagem e a gestão participativa
e o gerenciamento dos espaços instituições de ensino se viram poderem se desenvolver em um
educativos. A ação gestora dos pressionadas a adotar meios que processo colaborativo com os setores
pedagogos, portanto, por meio de possibilitassem o melhor internos e externos da comunidade
tecnologias digitais, pode “adquirir gerenciamento dessas informações. escolar” (Almeida e Rubim, 2007, p.
uma crescente centralidade no Mas, como afirma Piedade (2017, p. 1) .
processo decisório, acabando, muitas 76), “é efetivamente ao nível da
vezes, por delimitar os termos nos comunicação com as estruturas de A contemporaneidade digital exige
quais as decisões acabam por ser gestão, com alunos e com c a d a v e z m a i s u m a c o m u n i ca çã o em
t om ada s, impo ndo a q ue m d e c i d e ( o u encarregados de educação que os t e m p o r e a l e d e r e a ç ã o i n s t a nt â nea .
d e c id i ndo po r eles) e ao s uti l i z ad o re s p ro f e s s o r e s t e n d e m a u s a r m e n o s a s Por isso, os desafios gerenciais da
das plataformas as suas próprias tecnologias”. O mesmo também se escola demandam por uma ferramenta
definições da realidade” (Meira, 2017, verifica ao nível da comunicação que possibilite o acompanhamento da
p . 82). e ntre agen t e s e d u c a t i v o s , e m q u e h á r e a l i d a d e e s c o l a r t a m b é m em t empo
uma utilização limitada de tecnologia, real. Isso credibiliza e facilita a
fator cujas consequências iremos execução de ações educacionais,
Por isso , o ca so da mo d e rni z aç ão d a considerar como um dos objetos cobrindo as funcionalidades mais
gestão pedagógica dos pedagogos não d e s te tó p i c o d e e s t u d o . básicas como o cadastro de alunos,
depende da qualidade ou da controle de fluxo (matrículas,
quantidade de tecnologia utilizada, O recurso a uma rede interna, por transferências, evasão), geração de
mas do papel que ela exerce na outro lado, pode intensificar a documentos (declarações, histórico
intercomunicação entre esses e outros comunicação entre órgãos, cargos e escolar, diário de classe),
profissionais. Os mecanismos digitais secretarias, envolvendo mais cadastramento de professores e
de gestão só serão eficazes na medida diretamente diretor, pedagogos, funcionários, até suas funcionalidades
em que “encontram num sistema de professores, secretários, alunos e mais complexas e qualitativas como
relações humanas os meios adequados pais nos processos da educação. Além o p l a n e j a m e n t o e o d e s e n v olviment o
que lhes permitam tirar partido das disso, a rede interna, quando ligada pedagógico.
potencialidades técnicas [...]. Assim, à Internet, amplia as pontes escolares,
mais que plataformas electrónicas que ligando-a, institucionalmente, a Logo, existe uma necessidade
funcionam, existem actores outras escolas, bem como a outras e m e r g e n t e d e a v a n ç a r c a d a vez ma is
organizacionais que as fazem secretarias municipais e estaduais de nos processos de organização escolar
funcionar” (Meira, 2017, p. 95). Sendo educação. Portanto, o acesso à e d e a p r i m o r a m e n t o t e c n o lógico por
assim, o mau uso das plataformas informação, armazenamento e meio de ferramentas específicas de
digitais de gestão pedagógica, bem processamento em tempo real gestão de pessoas e processos,
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Foto de Fred Kloet do Unsplash

visando o trabalho colaborativo, à em ferramenta de caráter Frente a esse interesse, os programas


partilha de documentos, o uso de interdisciplinar que proporciona uma de informatização da escola pública
plataformas e de ferramentas digitais nova abordagem e organização do proposta pelas secretarias de
em geral. Existem tecnologias no trabalho do pedagogo. educação do Brasil não têm dado o
âm b it o da gestã o de i nf o rm aç ão q ue devido respaldo, dirigindo ações
faz em o trata mento e a o rgani z aç ão 2. O USO COLABORATIVO DAS TIC somente em âmbito docente e
de todos esses dados. São ferramentas NA G E S TÃ O PEDAGÓGICA discente². A exemplo dessa tendência,
de organização de informação (acesso em 2007, o Governo Federal cria o
e partilha), mas que também exercem 2.1 . FORMAÇÃO E ENSINO COM ProInfo (Programa Nacional de
influência na área mais qualitativa da T E C N O L O G I A S D I G I TA I S : O T e c n o l o g i a E d u c a c i o n a l ) e m pa rceria
educação, como averiguaremos PEDAGOGO 2.0 com as secretarias estaduais e
p ost e rio r mente. municipais de educação, que teve
A g e s tão pe d a g ó g i c a d o s p e d a g o g o s como proposta introduzir as TIC no
Por meio da adoção e da utilização de tem assumido um papel de crescente c o n t e x t o d a s s a l a s d e a u l a de escola
tecnologias digitais, portanto, as relevo, sendo considerada uma das pública. Desde então foram
estruturas escolares têm ao seu bases para que a mudança dos construídos laboratórios de
d ispor um mais fácil e ráp i d o ac e s s o sistemas educativos e das informática na maioria das escolas de
à documentação e à informação, organizações escolares se torne todos os Estados brasileiros, com o
prevendo com isso uma melhoria melhor e mais eficaz. Com a relevância i n t u i t o d e f o r m a r c i d a d ã o s crít icos e
tanto da administração quanto da d as TI C e m d i v e r s a s á r e a s , e m q u e a incluídos digitalmente no mundo.
gestão pedagógica dos pedagogos. e s c o l a não é e x c e ç ã o , i m p o r t a s a b e r
Com o auxílio de alguns exemplos, especificamente a partir daqui quais E m c o n t r a p a r t i d a , a t é 2010 , “ a pena s
veremos a seguir que o recurso à rede são as melhores ferramentas 2% dos profissionais que atuavam
de intranet e internet assume-se tecnológicas na área da gestão como coordenadores pedagógicos
como um instrumento valioso de pedagógica praticada pelos p a s s a r a m p o r f o r m a ç õ e s s o bre o uso
troca de informações e de construção p e d ag o gos . das Novas Tecnologias” (Szabo, 2013,
dos espaços escolares, constituindo-se p. 3). Diante dessa falha técnica na

² Exemplos dessa distanciação tecnológica na parte gestora também ocorre em outros países, como em Portugal, onde “os diretores escolares, por exemplo, até apresen-
tam um grau de proficiência e um índice de utilização das TD favoráveis, nas várias dimensões da sua atividade profissional. Contudo, a utilização de formas de comuni-
cação com recurso às novas tecnologias, como forma privilegiada de contacto entre os vários agentes educativos (pais, professores, alunos e órgão de gestão), apresenta
um score médio relativamente reduzido e que, consequentemente, se entende por favorável estimular” (Piedade e Pedro, 2014, p. 125).

³ Ver http://portal.mec.gov.br/proinfo/proinfo para mais informações.

4 Apesar de, nas tecnologias existentes, haver certa ênfase na gestão administrativa em detrimento da gestão pedagógica, sendo aquela mais permeável ao predomínio da
lógica centralista, veremos que o SIG também permite uma maior capacidade de estruturação do campo da ação do pedagogo.
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 13

Por meio das TIC , os trazem novos desafios para todo o as habilidades de cada profissional
coordenadores e super- contexto escolar e em particular para d a e s c o l a , d i r e c i o n a n d o a s t a ref a s e
as atividades desenvolvidas pelos definindo prioridades de acordo com
viso re s p o d e m utilizar pedagogos, proporcionando um os dados fornecidos por um bom
f e r r a m e n t a s e s p e c í f i- conjunto de possibilidades sistema de gerenciamento.
cas para suas funções , organizativas e orientacionais que
ainda não foram exploradas de modo P o r t a n t o , o u s o d a t e c n o l ogia digit a l
como as plataformas significativo. Essa iniciativa visa, mais apropriada não é só para
de gestão de alunos, sobretudo, provocar novas pesquisas melhorar a produtividade educacional,
de atividades, de faltas, relativas à formação de professores aumentando a aprendizagem e a
e à elaboração do planejamento motivação dos alunos, mas também
e de avaliações . Assim, p e d ag ó gic o d e m o d o a r e v e r o p a p e l se reflete na satisfação e na formação
com relatórios e dados do pe dag o g o c o m a c l a r a c o ns c i ê n c i a d o s p r o f e s s o r e s . E x i s t e , n o ent a nt o,
de análise computador- de valorizar esse profissional da p o u c o i n v e s t i m e n t o e m i n vest iga çã o
educação e sua atuação num ambiente na área dos líderes tecnológicos, que
iz a d o s , o g e s to r p e d- escolar renovado e promissor. através dos seus órgãos de gestão,
agógico pode participar podem reforçar o processo de
efetivamente na produ- Atualmente são diversas as aprendizagem por meio de uma
plataformas de gestão que podem utilização mais qualitativa das TIC em
tividade dos professo- f ac i l i tar e p o t e n c i a l i za r a e l a b o r a ç ã o suas tarefas.
res e estudantes , veri- das práticas gerenciais e pedagógicas
ficando o cumprimento da escola, possibilitando um O trabalho pedagógico informatizado
arquivamento e um processamento designa toda forma de organização
de prazos e de metas, e de dados mais eficiente, bem como com intenção educativa que utiliza
se há algum funcionário um planejamento de ensino mais dispositivos tecnológicos seja ele
sobrecarregado. interativo e construtivo. A pertencente aos recursos tradicionais
informatização da gestão pedagógica como a televisão e o vídeo ou inovador
em específico permite que um c o m o a r e d e d e i n t e r n e t e a pa relhos
coordenador pedagógico, por móveis. Com o advento do uso desses
formação dos pedagogos e que se exemplo, maneje de forma rápida, dispositivos pela sociedade, é preciso
reflete na formação dos docentes, organizada e produtiva os importantes que grande parte dos profissionais da
seria de suma importância rever os relatórios que possibilitam aos educação (diretores, pedagogos e
processos formativos desenvolvidos pedagogos um conhecimento da professores) ultrapasse as
nas licenciaturas e na área da o rgani z aç ã o e d o n í v e l d e q u a l i d a d e dificuldades em explorar
pedagogia, de modo a considerar a d o s re s ul t a d o s e s c o l a r e s , a o m e s m o pedagogicamente as TIC.
informatização do ensino o caminho te m p o e m q u e f u n c i o n a c o m o p o n t o
m ais efetiv o pa ra r o m p e r p arad i g m as de partida para a reflexão e a Tal ruptura pode fazer da escola do
e criar novas oportunidades de discussão da educação no seio da início do século XXI um modelo de
aprendizagem, uma vez que a c o m uni d a d e e s c o l a r , t e n d o e m v i s t a gestão com caráter democrático e
tecnologia está cada vez mais presente à promoção do desenvolvimento da participativo, no qual o
e m n o s s o c o t i d i a n o . ap re nd i z a g e m . assessoramento pedagógico com
tecnologias passa a ser um
Logo, os profissionais da educação P o r m e i o d a s T IC , o s c o o r d e n a d o r e s compromisso a ser assumido por
d e ve m r ev er e lev ar o s p ro g ram as d e e supervisores podem utilizar todos os agentes que integram o
formação continuada a sério, de modo ferramentas específicas para suas processo de aprendizagem. Em outras
a se familiarizar gradativamente às funções, como as plataformas de palavras, as TIC podem promover a
ferramentas tecnológicas das gestão de alunos, de atividades, de liderança e o compartilhamento de
diferentes áreas, bem como aos faltas, e de avaliações. Assim, com ideias e de instrumentos que, “sendo
domínios diversos da gestão relatórios e dados de análise utilizados no âmbito de uma visão
p e d agó gica. A pa rtir d e s s a p e rc e p ç ão computadorizados, o gestor estratégica, podem implicar ainda
identifica-se a necessidade de pedagógico pode participar u m a m u d a n ç a d o p a r a d i g ma , ou pelo
mudanças na forma de manuseamento efetivamente na produtividade dos m e n o s d o d i s c u r s o . P o d e m , t a mbém,
e no foco da inserção da tecnologia no professores e estudantes, verificando instituir uma escola [...] que se
setor público da educação. Além disso, o cumprimento de prazos e de metas, a p r o x i m a d o m u n d o , [ . . . ] p orque t em
percebe-se a demanda por ferramentas e se há algum funcionário i n c o r p o r a d o o g e n e i n f o r má t ico que
digitais que permitam e não limitem sobrecarregado. Com um rápido marca o código genético do nosso
o aperfeiço amento do s p ro c e s s o s d e relatório em mãos, o coordenador t e m p o ” ( S a n t o s , 2018, p . 67 ).
en sin o o ferecido à p o p ul aç ão . pedagógico pode estabelecer
estratégias mais imediatas e 2. 2. O T R A B A LHO P EDAG ÓGICO V IA
As tecnologias digitais, ademais, as s e rti va s , d e a c o r d o c o m o s p e r f i s e S I S T E M A I N T E G R A D O D E G E S TÃ O
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( SI G) usem o mesmo ambiente virtual para de gestão empresarial adaptado para


agirem colaborativa e o ambiente escolar. Nossa atenção
A gestão pedagógica procede de simultaneamente, ou em momentos recai sobre o SIG pelo fato de que
diversas maneiras conforme a diferentes, utilizando as mesmas essa ferramenta tem sido mais
concepção que se tem dela e os i nf o rm aç õ e s p a r a e l a b o r a r p l a n o s d e utilizada nas escolas brasileiras por
objetivos que se acredita ter a aç ão e p ro j e t o s e d u c a c i o n a i s . diretores, pedagogos e professores.
ed uc a ção par a a so ci e d ad e . Um a d as
concepções do trabalho do pedagogo, A contemporaneidade digital exige No geral, tal sistema integrado de
como explicitado por Rangel (2007), cada vez mais comunicação em tempo gestão possui a potencialidade de
é a gestão participativa ou real e com uma reação instantânea, melhorar a percepção dos gestores,
colaborativa organizada nas três por isso o aprimoramento nos últimos pois serve de instrumento que auxilia
habilitações essenciais do pedagogo: anos do Sistema Integrado de Gestão na organização das instituições,
a coordenação, a supervisão e a Escolar (SIG), que abrange proporcionando um movimento de
orien ta ção pedagó gic as . Es s e ti p o d e funcionalidades tanto administrativas reorganização das normas e das
gestão busca objetivos em comum (como enturmação, controle de faltas regras advindas das secretarias de
entre a direção e toda a equipe de e d i ári o e s c o l a r ) q u a n t o p e d a g ó g i c a s educação, visto que o sistema
profissionais de uma escola. As (como mapa de desempenho docente evidencia problemas internos e não
d e c isõ es sã o to madas c o l e ti vam e nte e discente, cadastro de projetos, somente as metas administrativas e
e cada membr o da equi p e , ap e s ar d e aulas de reforço etc). Trata-se, avaliativas estipuladas pelas
visar um pr o jeto pedag ó gi c o c o m um , sobretudo, da oportunidade de obter, secretarias. O efeito desse sistema de
deve se responsabilizar com via TIC, um olhar mais minucioso rede para a gestão escolar e
diferentes competências diante das sobre o contexto escolar e, pedagógica é a realização de uma
d e c isõ es to madas. consequentemente, para a gestão local e compartilhada, que
implementação de um trabalho instaura uma nova perspectiva no
Embora haja gestão pedagógica pedagógico que atenda as sistema de ensino.
p art ic ipativa em mui to s c as o s , ai nd a necessidades e defasagens das
assim é necessária a diferenciação de i ns ti tui ç õ e s : Apesar desse sistema virtual de
competências e a presença de uma gestão abranger ações tanto voltadas
c oordena ção , uma sup e rvi s ão e um a O Sistema Integrado de Gestão para a gestão escolar (administrativa)
orientação pedagógicas eficientes. ( Ente rp ri s e R e s o u r c e P l a n n i n g - E RP ) q u a n t o p a r a a g e s t ã o p e d a g ógica (de
Para tanto, tecnologias podem ser tornou-se uma ferramenta comum no ensino), a parte pedagógica do
implementadas para atingir tais meio escolar privado e que tem s i s t e m a g e r a l m e n t e a i n d a n ã o é bem
propósitos que, comumente, são trazido resultados significativos às desenvolvida ou mesmo muito
colocados em oposição: a organizações escolares, possibilitando utilizada, mas já abre um leque de
especialização e o trabalho a integração das informações numa possibilidades para analisar mais
c olab orativo . E is o d e s af i o d e p e ns ar b as e úni c a d e d a d o s e a g e r a ç ã o d e aprofundadamente os dados de
o trabalho do pedagogo de modo relatórios em todos os níveis desempenho e rendimento dos
atento e equilibrado, desenvolvido profissionais e escolares da estudantes, entre outros aspectos
adequadamente com ferramentas organização, utilizando o cruzamento voltados para o processo de
in ovado ras. digital de dados (Cavalcante et al., a p r e n d i za g e m ( L i m a , 2017) .
2016, p. 2).
Quanto à adequação tecnológica para A partir dos problemas diagnosticados
o cumprimento desse desafio que, na C o m b as e n e s s e c o n t e x t o t é c n i c o d o pelos próprios órgãos reguladores de
maioria das vezes é responsabilizado trabalho escolar, apresentamos ensino, perceberemos que os gestores
a um único profissional, não temos algumas dessas ferramentas de Open s e a p r o v e i t a m d o r e c e n t e s i st ema de
d úvida s em a fir ma r q ue o s trab al ho s S o ur c e ( c om o o S c h o o l t o o l , S i s L AM E forma não qualitativa e não
colaborativos desenvolvidos em rede e S I GA - EPC T ) v o l t a d a s t a n t o à g e s t ã o colaborativa, usando-o apenas para
(intranet ou internet) incluem e s c o l ar q u a n t o à g e s t ã o p e d a g ó g i c a , obter um diagnóstico quantitativo da
mecanismos de comunicação que tendo o objetivo de identificar as escola, deixando de lado as micro-
permitem às pessoas ver, ouvir e características mais adequadas dessa t r a n s f o r m a ç õ e s , o u s e j a , a ba ndona a
en viar ar quiv o s, víde o s e m e ns ag e ns ferramenta para estruturar o trabalho chance de propor ações específicas e
com mais rapidez. Como observado do pedagogo de forma estratégias pedagógicas que visam
em tópico anterior, é por meio da simultaneamente especializada e assegurar a qualidade e a equidade
informatização da comunicação colaborativa. Cabe ressaltar que o SIG do sistema integrado de gestão
escolar que os trabalhos pedagógicos não é um sistema de gestão de pedagógica. Essa forma superficial de
mais complexos e colaborativos aprendizagem, ou seja, não é um utilização do SIG, que foca nos
podem começar a ser realizados, visto L e arni ng M a n a g e m e n t S y s t e m ( L M S ) , aspectos administrativos em
que o compartilhamento da mesma como o Moodle, embora compartilhem detrimento do pedagógico, evidencia
p lat afo rma o u do me s m o s i s te m a d e alguns conjuntos de recursos, como a hipótese de que o pedagogo se
trabalho garante que os profissionais o l i vro d e n o t a s , m a s s i m u m s i s t e m a p r e o c u p a m a i s c o m a o r g a n iza çã o da
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escola, deixando à deriva os docentes com poucas operações, pode fazer Com esse e outros
e se u s pr o cesso s de e ns i no . com que o uso do sistema caia em
desuso nas instituições. Dentre as exemplos tecnológicos
Soma-se a isso o fato de muitas metas versões do SIG, selecionamos algumas percebemos o quanto
e objetivos educacionais serem daquelas que possuem potenciais
insistentemente impostos pelas para o desenvolvimento das tarefas
o uso de um sistema
secretarias de educação, eliminando de todas as habilitações do pedagogo. de gestão escolar pode
a poss ibilidade de um us o autô no m o O SisLAME, por exemplo, criado em
ser inovador para a
dessa ferramenta. Talvez por isso, até 2004 pela Universidade Federal de
h oje , não se tenha um us o e f e ti vo d o Juiz de Fora (UFJF), é um sistema organização e o desen-
SIG pela gestão pedagógica das estruturado em rede com dados e volvimento do trabalho
instituições educacionais, já que, “por elementos sobre aspectos
m ais que a esco la sai b a q uai s s ão as d e te rm i n a d o s d o p r o c e s s o e d u c a t i v o
pedagógico das institu-
dificuldades de aprendizagem dos e da gestão escolar. A criação desse ições de ensino, tendo
discentes e as necessidades de sistema se deu a partir,
m e lh o r ia s na a uto no m i a d a g e s tão d a principalmente, da proposta de
em vista uma maior
própria escola, seu foco principal é c o e xi s tê n c i a d e f u n c i o n a l i d a d e s q u e agilidade e par ticipa-
m an t er o s r esultado s ” ( L i m a, 2 0 1 7 , p . atendem igualmente as dimensões ção nas ati v i d a d e s a
3). pedagógicas e administrativas das
Por outro lado, o SIG é um instrumento e s c o l as . serem promovidas.
d ivers ificado , que inc o rp o ra tanto as
normas e as regras educacionais Segundo o portal virtual desse
vigentes quanto serve de apoio s i s te m a d a U F JF , o S i s L AM E t e m p o r
O sistema Schooltool, por sua vez,
qualitativo ao trabalho pedagógico, objetivo facilitar a participação do
criado ainda na segunda metade da
p art ic ular mente pa ra a e f e ti vaç ão d e gestor em todas as atividades
década de 1990 pela Mindex
um processo educacional que vise relacionadas à organização escolar,
Technologies de Nova Iorque, permite
elevar a aprendizagem dos estudantes. permitindo o desenvolvimento de
acesso virtual às funcionalidades
N e sse caso , o pró pr i o us o d o S I G te m tarefas que vão do cadastramento ao
programadas. Além das
sid o repensa do a pa rti r d a e s traté gi a acompanhamento pedagógico do
funcionalidades quantitativas, há
de recentralização das decisões e trabalho docente. O Portal ainda
inúmeras ferramentas qualitativas
ações pedagógicas locais em permite o gerenciamento de todas as
como o sistema de intervenção que
detrimento do monitoramento do informações lançadas no sistema,
possui como colaboradores os pais,
rendimento do corpo discente (Lima fazendo seus utilizadores interagirem
os alunos e os professores, permitindo
2017). Em o utr as pa l avras , p ara um a de maneira compartilhada e mais
a criação colaborativa de metas
reutilização qualitativa do SIG é p ró xi m a c o m o s d a d o s e d u c a c i o n a i s
educacionais para os estudantes.
preciso deslocar o foco do rendimento da escola. É claro que as
Dentre outras funções diferenciadas,
escolar dos estudantes e recentralizar funcionalidades ainda são poucas
o sis tem a a inda per m ite gerencia r os
seu interesse na construção frente à diversidade dos LMS e frente
contatos entre diretores, pedagogos,
colaborativa dos espaços e das aos problemas pedagógicos
p r o f e s s o r e s , a l u n o s e f a m i lia res.
competências educativas, para que, enfrentados no cotidiano escolar,
por consequência, o foco recaia na m e s m o as s i m t a l f e r r a m e n t a j á p o d e
Já o SIGA-EPCT (Sistema Integrado de
q ualidade de ensino . ser considerada um instrumento de
Gestão Acadêmica da Educação
apoio ao trabalho dos profissionais
P r o f i s s i o n a l C i e n t í f i c a e T e cnológica )
Tomando conhecimento das d a e d uc aç ã o , p o i s p e r m i t e a o m e n o s
c o r r e s p o n d e a u m s i s t e m a cria do em
tendências e das necessidades de uso o p e d ag o g o t o m a r d e c i s õ e s p o r m e i o
2010 pelo Ministérios da Educação do
do SIG na gestão pedagógica praticada das informações extraídas da base
Brasil, cujo principal foco está em
pelos pedagogos, veremos, a partir unificada da rede, o que lhe possibilita
atender as necessidades gerenciais
d aq ui, qual é a ver sã o d e s s e s i s te m a definir políticas e estratégias
d o s In s t i t u t o s F e d e r a i s d e E duca çã o,
mais adequada para o cumprimento específicas de ação, principalmente
sendo para isso inteiramente
efetivo das tarefas do gestor em relação às defasagens dos
desenvolvido em rede:
pedagógico. A demarcação dessa estudantes e à educação especial, e
adequação requer certo cuidado, visto emitir relatórios que dão suporte a
Trata-se de um sistema de código
que a escolha de um sistema ruim, d i ve rs as a ç õ e s p e d a g ó g i c a s .
aberto e colaborativo, onde as

5 Acessar https://portalsislame.caedufjf.net/portalsislame/portal.jsf para mais informações.

6 Para acessar informações sobre essa empresa acesse o endereço http://www.schooltool.com/about-us/our-team.

7 Acessar interface em https://sigaedu.ifba.edu.br:8181/sigaept-edu-web-v1/pages/inicio.jsf.


16 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

Instituições Federais de todo o Brasil pode ser inovador para a organização


contribuem com o mesmo, além de e o desenvolvimento do trabalho Tais possibilidades de análise
receber apoio do Ministério da pedagógico das instituições de qualitativa de dados evidenciam que,
Educação do Brasil (MEC), através da ensino, tendo em vista uma maior embora o SIG apresente uma estrutura
Secretaria de Educação Profissional e agilidade e participação nas atividades básica que possa auxiliar a
Tecnológica (SETEC). O SIGA-EPCT foi a serem promovidas. Portanto, esta compreender o planejamento, as
desenvolvido para atender todo o investigação conclui que o contínuo m e t a s e o d e s e m p e n h o d o s docent es
processo de gestão escolar de uma aprimoramento do sistema de gestão e dos discentes, os pedagogos
instituição federal de ensino. Neste escolar (SIG), desde que siga parecem ainda não reconhecer essa
caso o projeto foi dividido em dois avançando no aprimoramento das tecnologia como fonte de informação
s i st em as: o SIGA- E DU re sp o n sáv e l p e la operações pedagógicas, é uma e ferramenta de análise do
aut oma tizaç ão de todas as ativ id ad e s ferramenta que pode ser aproveitada desempenho pedagógico. As
de cunho pedagógico e o SIGA-ADM que p ara ate n d e r p a r t e d a s e x p e c t a t i v a s tecnologias ainda permanecem
atua nos procedimentos administrativos e d as ne c e s s i d a d e s t e c n o l ó g i c a s d o s distantes do contexto educacional
das instituições (Cavalcante et al., p e d ag o gos . brasileiro, sendo subutilizada em
2016, p. 160). relação às necessidades dos
Não podemos abandonar a pedagogos e, consequentemente, em
Quanto às funcionalidades oferecidas, possibilidade de tratamento dos relação à qualidade do trabalho
é importante ressaltar o fato de o dados proporcionados por tais d e s e n v o l v i d o p e l o s d o c e n t es.
SIGA-EPCT ser dividido em dois outros sistemas, que possibilita ao utilizador
subsistemas que visa atender as múltiplas perspectivas de análise e de 2 . 3 . O O R I E N TA D O R P E D A G Ó G I C O
atividades administrativas e elaboração de relatórios para os COMO MEDIADOR DE NOVAS
pedagógicas das instituições diferentes setores ou funções T ECNO LO G I A S
escolares cadastradas. Quanto ao pedagógicas. Em relação ao uso do
SIGAEDU, trata-se de um sistema que SIG na atuação do coordenador É mais do que evidente que em muitos
conta com interfaces em que são pedagógico, por exemplo, destaca-se países o professor não é dotado de
especificados a estrutura de imediato a evolução tecnológica preparo suficiente para um bom
organizacional e os ambientes de na ati vi d a d e d e c o n t r o l e d o s d i á r i o s manuseio do aparato tecnológico.
aprendizagem de uma instituição. Há, e ntre g ue s p e l o s p r o f e s s o r e s : “ N e s t e Apesar da vulgaridade com que se
por exemplo, módulos voltados c as o anal i s a v a -s e a n o t a d o a l u n o d e exalta a utilização das novas
exclusivamente aos procedimentos acordo com o diário do professor tecnologias em sala de aula, a
pedagógicos que envolvem a para depois incluir a nota de cada realidade demonstra a clara
construção do período letivo, a disciplina, aluno por aluno. Tal i n e x p r e s s i v i d a d e q u e e s s a exa lt a çã o
realização da matrícula, dos registros processo era realizado todo bimestre, tem nas práticas educativas das
acadêmicos e dos registros de diários sendo impresso e entregue aos escolas. Isso só significa que a
de classe. Nesses módulos, o sistema responsáveis pelos alunos” modernidade tecnológica por si só
permite reelaborar detalhadamente (Cavalcante et al., 2016, p. 162). O ainda não garantiu nada:
os períodos letivos, as grades extenso material, anteriormente
horárias, as propostas curriculares, produzido e revisto manualmente, era Na França, durante os anos oitenta,
as propostas avaliativas, entre outros um processo lento que demandava q u a n t i a s c o n s i d e r á v e i s f o r am ga st a s
re c u rs o s. muito tempo da coordenação, mas p a r a e q u i p a r a s e s c o l a s e f orma r os
atualmente essa tarefa é facilitada professores. Apesar de diversas
Dentre várias opções, destacamos a com os procedimentos digitais de experiências positivas sustentadas
operação de “Manutenção de matrizes acesso e controle dos dados. pelo entusiasmo de alguns
curriculares”, em que se propõe professores, o resultado global é
manter “informações a respeito de Além disso, no que tange às práticas deveras decepcionante. [...]. O
elem e nto s curricula re s d e um c urs o , colaborativas de acompanhamento da governo escolheu material da pior
gerenciando pré-requisitos e supervisão pedagógica, há operações qualidade, perpetuamente defeituoso,
co-requisitos para cada eixo da matriz digitais que podem agilizar a fracamente interativo, pouco
d e u m curso ” ( SIGA-E PC T, 2 0 1 0 , p . 4 ) . discussão sobre o desempenho de adequado aos usos pedagógicos
Tendo acesso a essas e outras professores e estudantes em reuniões ( L é v y , 2004, p . 5) .
informações do sistema, todos os pedagógicas, de modo a propor
integrantes da equipe escolar estratégias para melhorar o processo A pressão social levou muitas escolas
poderão melhor se inteirar e colaborar de aprendizagem. Tais oportunidades públicas, como na França, a inserir
na construção das práticas d e l e i tura e a n á l i s e p o d e m f a v o r e c e r u m l a b o r a t ó r i o d e i n f o r m á t ica como
p e d agó gico - administ rati vas . os agentes pedagógicos na realização um apêndice de sua estrutura, um
de um planejamento de iniciativas diferencial a mais para atrair novos e
Com esse e outros exemplos mais assertivas e fundamentadas, que c o n v e n c e r v e l h o s a l u n o s . A propost a
t e c n ol ó gico s per cebe m o s o q uanto o re al m e nte a j a m c o m b a s e n a s c a u s a s curricular das escolas, no entanto,
u so d e um sistema de g e s tão e s c o l ar d o b ai xo d e s e m p e n h o e s c o l a r . não se beneficiava dessa inserção:
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“Mesmo nas escolas pedagogicamente proposta de aprendizagem com poderão ter impacto na diferenciação
mais avançadas, raras são as tentativas tecnologias ao desenvolvimento de métodos de ensino através da
de interação e de realização de profissional dos seus professores. planificação e do desenvolvimento de
propostas interdisciplinares que aulas em formatos digitais.
envolvessem eficazmente as atividades As ferramentas tecnológicas que os
d e in fo rmá tica rea li z ad as no c o l é gi o ” orientadores podem utilizar são as Na verdade, o uso da plataforma
(Ken ski, 2 0 0 5 , p. 7 4 ) . re d e s , o s s i s t e m a s d e g e s t ã o e s c o l a r Moodle, muito difundido no meio
Só a par tir de um trab al ho p l ane j ad o , como o SIG, os sistemas de gestão de e s c o l a r i n t e r n a c i o n a l , é a i nda pouco
organizado e mediado aprendizagem como o LMS, ou os explorado pelas instituições escolares
colaborativamente pelo orientador s o f tw ares d e p r o d u t i v i d a d e c o m o o s b r a s i l e i r a s . D e s e n v o l v i d a por Ma rt in
pedagógico, visando o auxílio dos processadores de texto, programas Dougiamas em 2002, na Austrália,
demais gestores e por meio da curriculares virtuais, entre outros. essa ferramenta visa a oferta de
form açã o co ntinua d a d o s d o c e nte s , é I nd e p e n d e n t e d o t i p o d e t e c n o l o g i a , cursos não presenciais auxiliados
que as TIC serão efetivamente o importante é que as ferramentas p e l a r e d e m u n d i a l d e c o mput a dores.
incorporadas no projeto político sejam exploradas como apoio Em função do fácil manuseio e
pedagógico das escolas. As atividades didático-pedagógico à prática de controle das ações desenvolvidas
promovidas isoladamente “mostram ensino dos professores. Por isso, o pelos utilizadores, tal sistema vem
q ue a esco la não tem i nc o rp o rad o no desafio máximo dos orientadores sendo explorado pelas escolas de
seu cotidiano as mídias como maneira pedagógicos está em auxiliar os vários países. Esse fato ganha mais
de fomentar a educação ou como p ro f e s s or e s , m e d i a n t e u m e s p a ç o d e importância em função de ser um
est ratégia par a fav o re c e r, e nri q ue c e r formação, na utilização de ambiente gratuito e disponível na
e t orna r o pr o cesso d e ap re nd i z age m ferramentas curriculares próprias de w e b . O M o o d l e f o i d e s e n volvido com
significativo” (Gomes, 2017, p. 155). cada disciplina, melhorando, assim, o base em princípios pedagógicos,
aprendizado dos cursos oferecidos p o s s i b i l i t a n d o a p a r t i c i p a çã o de uma
Portanto, o significado do trabalho da ao s e s tu d a n t e s . grande comunidade de utilizadores
orientaçã o pedagó g i c a f ac e às no vas que contribui para a melhoria do
tecnologias é de suma importância, Considerando que vivemos numa ambiente com a exposição de notas
visto que “deve apresentar o seu época marcada pelo imediatismo do explicativas, abertura de debates e
conhecimento mediante ao uso online, o orientador pedagógico deve t r o c a d e t e x t o s , p o r e x e mplo.
tecnológico, propiciando assim, e s ti m ul a r m a i s o u s o d e f e r r a m e n t a s
conjuntamente com os educadores, síncronas de comunicação como chats O Moodle é reconhecido como uma
estratégias de ensino e aprendizagem e redes, de modo a estimular mais as ferramenta para produzir cursos e
mais eficazes por meio das mídias” atividades colaborativas entre páginas pedagogicamente mais
(O liveir a, 2016, p. 24 ) . Parti nd o d e s s a profissionais da educação e complexas por meio da web 2.0,
constatação, a direção e a coordenação estudantes. Cabe assinalar ainda que facilitando a comunicação (síncrona
da escola devem oferecer a espaços virtuais assíncronos, como o ou assíncrona) e permitindo a
infraestrutura, enquanto a orientação e-mail, também podem ser utilizados gerência, a organização e a partilha
p e d agó gica dev e garanti r a f o rm aç ão para requerer respostas mais dos conteúdos e dos materiais de
p e rmanente e o est í m ul o p ara q ue o elaboradas e menos espontâneas a p o i o à s a u l a s p o r p a r t e de t odos os
p rofesso r utilize co l ab o rati vam e nte a sobre determinados assuntos que utilizadores. Nesse sentido, podemos
internet em sua prática, pois “essas e xi g e m u m o l h a r a p r o f u n d a d o . afirmar que esse sistema marca
ferra menta s amplia m , ante s d e tud o , efetivamente a aplicação de um novo
a oportunidade de conhecer o trabalho Sendo assim, a criação de espaços de paradigma de ensino e aprendizagem
do outro e aprimorar o próprio i nte raç ã o a s s í n c r o n o s ( c o m o f ó r u n s , por meio das TIC, fundamentado
t rabalho ” ( D e To ni, 2 0 1 3 , p . 6 0 ) . wikis e blogs) favorece a discussão numa filosofia pedagógica
ap ro f unda d a d e t e m a s e a p r o d u ç ã o construtivista segundo a qual o
Se bem utilizada, “a s TI C p o s s i b i l i tam coletiva de conhecimento, não conhecimento é construído
uma diversificação de atividades deixando de suscitar um ensino colaborativamente.
propostas, possibilitando mudanças baseado em trocas de informação,
metodológicas ao criar novos cenários com seus desafios críticos e reflexivos. Para Alves e Brito (1998, p. 39), essas
que facilitam a aprendizagem [...]” Há também, nesse tipo de ferramenta s ã o a s v a n t a g e n s d o M o o dle, pois se
(Santos, 2018, p. 68). Desse modo, pedagógica, a possibilidade de utilizado adequadamente para o
c om as tecno lo gias d e ap re nd i z age m , utilização de outros instrumentos que ensino, proporcionam “o aumento da
temos a possibilidade de deixarmos favorecem mais a comunicação motivação dos alunos; maior
de ser meros consumidores de ap ro f unda d a e a p a r t i l h a s i s t e m á t i c a facilidade na produção e distribuição
informações e conteúdos para ocupar de conteúdos, como fóruns de d e c o n t e ú d o s ; p a r t i l h a d e cont eúdos
o patamar de produtores e discussão e plataformas de gestão de entre instituições; gestão total do
distribuidores. Eis o que os conteúdos LMS, a exemplo do Moodle ambiente virtual de aprendizagem;
orientadores pedagógicos devem (Modular Object-Oriented Dynamic r e a l i za ç ã o d e a v a l i a ç õ e s de a lunos; e
perceber, agregando e motivando essa Learning Environment), as quais suporte tecnológico para a
18 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

Foto de Helloquenc e do Unsplash

TABELA 1 – AS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS DOS PEDAGOGOS

T IC / Ha b ilit a ç ã o Co o rd en a d o r P ed ag ó g i co S upe r vi s o r P e da g ó g i co O r i e nt a do r P e da góg ic o

S c ho o l to o l Schooltool

Si stem a s d e Ge st ão SisLAME S i s L AM E -

E s co la r (SI G) S I GA - EPC T S IG A-E P C T

S ED SED

Moodle Moodle

Si stem a s d e Ge st ão d e Chamilo Chamilo

Apr end iza ge m (L MS ) - TelEduc TelEduc

eLML eLML

Am a d e u s Am a d e u s

- Softwares executores de - Softwares de transcrição

reunião (Google Reunião, Zoom) automática (Google Speech

- Softwares de análise de dados Transcription) Bl o g s

e estatísticas (Knime, Open - Softwares capturadores de Wikis

So ftwa re s e We b Refine) imagens de operações com- Chats

s o f twa re s - Softwares produtores de lista putacionais em EAD (Snagit) Of f i c e

(Trello e Excel) -Softwares de análise de dados Google Doc

- Softwares de relatório (Canvas, e estatísticas (Knime, Open P r e zi

Dashgoo, Google Data Studio) Refine)

- Softwares de comunicação -Softwares de relatório (Canvas,

(Skype e Whatsapp) Dashgoo, Google Data Studio)

8 Obter mais informações em: moodle.org

9 Sobre a ferramenta Google Docs acesse: google.com/docs


Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 19

disponibilização de conteúdos de o ri e ntad o r p e d a g ó g i c o t e m o d e s a f i o p r e c i s a m t e r p o s s i b i l i d a d e e vont a de


acordo com o modelo pedagógico e de perceber as dimensões mais d e a c e s s o à s T IC , o q u e n e m sempre
design institucio nal; [...]”. significativas da atuação e da c o n d i z c o m a r e a l i d a d e e s c ola r.
f o rm aç ão d o s d o c e n t e s , t e n d o a s T IC
Além de r edes e siste m as d e ge s tão , como instrumentos usados em Em síntese, o pedagogo precisa ter
os orientadores pedagógicos ainda diferentes perspectivas para a consciência de que a prática da gestão
t êm a po ssibilidade d e m o ti var o us o construção de diversas técnicas de p e d a g ó g i c a n ã o s e r á s u b s t i t uída por
de softwares de produtividade em ap re nd i z a g e m . tecnologias, ao contrário, as
geral, que é um tipo de tecnologia t e c n o l o g i a s e x i s t e m p a r a melhora r e
mais básico que pode proporcionar De qualquer forma, aprender por ampliar o seu campo de atuação para
inúm er o s benefício s às atividade s de meio do auxílio das novas tecnologias além da prática tradicional de
orie n ta ção e, co nseq ue nte m e nte , ao significa proporcionar outra forma de gerenciamento do ensino: “Não são
trabalho docente. Os programas ad q ui ri r i n f o r m a ç ã o , d e s e n c a d e a n d o as tecnologias que vão revolucionar
prod uto r es de tex to , d e i m ag e ns , d e uma nova organização do trabalho o e n s i n o e , p o r e x t e n s ã o , a educa çã o
t rad uçõ es e de so m p o d e m s e rvi r e m pedagógico. Assim, a relação c o m o u m t o d o . M a s a m a n eira como
várias situaçõ es de ens i no . O Go o gl e pedagogo-professor-estudante pode esta tecnologia é utilizada para a
Docs, por exemplo, pode se tornar ser profundamente alterada pelo uso mediação entre [pedagogos,]
uma exímia ferramenta para o das tecnologias, bem como a p r o f e s s o r e s , a l u n o s e a i n f orma çã o”
desenvolvimento da produção textual resolução de problemas, a realização ( K e n s k i , 2008, p . 9) . C o m b a se nesse
colaborativa nas aulas de redação, de projetos, e a coleta e analise de princípio, as tecnologias como
provocando uma aula de escrita mais dados sobre um determinado assunto. instrumentos de informação e
e xperi menta l. comunicação são elementos que
Dentre tantas opções, a tecnologia p o d e m e d e v e m a u x i l i a r a dina miza r
Por outro lado, experiências mostram deve estar presente sempre de forma as ações educativas dos pedagogos,
que atividades didáticas podem ser crítica na escola. Os recursos digitais implicando em novas formas de
t ão m o nó to nas co m o u s e m us o d as devem ser aliados às práticas de comunicar e perceber o espaço
novas tecnologias apresentadas na ensino e aprendizagem, bem como ao escolar, orientando um trabalho
tabela acima. Nesse sentido, para projeto pedagógico da instituição pedagógico sempre em busca das
um a bo a utiliza ção das TI C , é p re c i s o e d uc ac i o n a l . C o n t u d o , u s a r o u n ã o a estratégias de formação e de
de uma orientação pedagógica que te c no l o gi a n a g e s t ã o d a e d u c a ç ã o j á aprendizagem mais adequadas a cada
não apenas se dirija às mídias, mas não é mais tema de debate. A questão contexto escolar.
que também seja capaz de encaminhar ag o ra é s a b e r q u a l é a m e l h o r f o r m a
transformações na unidade escolar, de usufruir desses recursos para
modificando e inovando as ações e os melhor gerenciar uma instituição Daniel Vecchio Alves
espaços educativos. Desse modo, o escolar. Mas, para isso, todos Dr. Pedagogia - UNICAMP

Referências
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Rio de Janeiro-RJ, 1998.
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- SIGA-EPCT. Processo de Implantação, Concepção, Diretrizes, Cronograma e Instrumento de Avaliação. Brasília: CONIF, Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, 2010.
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Educativa, Santiago, v. 12, 2016, pp. 157-166.
- FERREIRA, L. M. F. As tecnologias de informação e comunicação nos processos de trabalho da escola: gestão, estruturas intermédias e professores. Tese de Doutoramento em Ciências da Educação da Universidade
Nova de Lisboa, 2017.
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- LÉVY, P. As tecnologias da inteligência. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 2004.
- Kenski, V. (2008). Novos processos de interação e comunicação no ensino mediadas pela tecnologia. Cadernos de pedagogia universitária, n. 7, pp. 7-22.
- Kenski, V. (2005). Das salas de aula aos ambientes virtuais de aprendizagem. In: Relatório de Pesquisa. Anais do 12º Congresso ABED, Florianópolis, pp. 71-80
- LIMA, C. Uso das TDIC na gestão escolar: o caso do sistema SisLAME. Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación, v. extra, n. 13, 2017, pp. 1-4.
- MEIRA, M. do V. F. A Burocracia Electrónica: Um Estudo sobre as Plataformas Electrónicas na Administração Escolar. Tese de Doutoramento em Ciências da Educação Especialidade em Organização e
Administração Escola do Instituto de Educação da Universidade do Minho, 2017.
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do Maranhão. São Luís-MA, 2016.
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especialidade de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação da Universidade de Lisboa, 2017.
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ação. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2007, pp. 69-96.
- SANTOS, J. R. L. dos. As TIC na escola pública portuguesa e a sua relação com as lideranças. Doutoramento em Educação Especialidade de Liderança Educacional da Universidade Aberta de Lisboa, 2018.
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EDUCAÇÃO DIGITAL , GOVERNOS ANALÓGICOS


NOTAS SOBRE O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCESSO DE UMA EDUCAÇÃO CADA VEZ MAIS DIGITAL

E
m n e n h um m o m e n to d e g r a n d e s t r a ns f o r m a çõ e s econômicos da educ aç ão, considera à docência como uma
te cnológ ic as a e duc aç ão foi t ão a fe t ada como no das áreas pr i v ilegiadas de análise sobre a prof undidade e
século X X I. Desde a invenç ão da escr it a até o surg- ex tens ão da inf luência da técnic a na contemporaneidade.
imento dos comput adores , a educ aç ão sempre foi v is t a
co m o c a m p o i n d i s s o c i á v e l e a f e t a d a p e l a s n o v i d a d e s Par tindo de t ais considerações , o presente tex to apresent a
te cnológ ic as de c a da ép o c a . A s sim , à me dida que t ais algumas obser vações em torno da atual condição da docên -
mudanç as inf luenciam a c ul t ura , a v ida s o cial , a a t i v i - cia frente às consequências relativas às mudanças tecnológi-
dade econômic a e polític a, as escolas s ão solicit adas a c as em cur so. O c aráter breve dess a exposiç ão é result ado
repens ar suas concepções pedagógic as. do seu modes to propósito – mas , não menos impor t ante:
lançar alguns elementos para a ref lexão e debate sobre
Os professores, como aqueles que se encontram no a relaç ão atual entre a docência e as trans for mações tec-
c ampo nev rálgico do binômio aluno -s aber, s ão chama - nológicas. O mesmo, vale dizer, constitui-se como fragmento
dos a re conduzir e rep ens ar suas prá t ic as e concei tos d e u m a p e s q u is a m u i to m a is a m p l a , d e s e n v o l v i da a t ua l -
sobre o conhecimento, a aprendiz agem, a sociedade e a mente pelos seus respec ti vos autores.
cultura. Na tent ati va de atender às exigências da forma -
ç ão e acompanhar às trans for mações de c ada contex to Os dados do es tudo abaixo realiz ado pela parcer ia CE T IC.
tecnológico, prof issionais da educação atravessam diver- br (Centro Regional de Es tudos para o Desenvol v imento da
s as dif iculdades , comprometendo, na maioria das vezes , S o cie da de da Infor maç ão) , NI C .br (Núcle o de Infor maç ão
diferentes dimensões de sua v ida e atuaç ão. e Co o r d e n a ç ã o d o Po n to B R ) e CG I . b r (Co m i t ê G e s to r da
Internet do Brasil), di v ulgados em julho de 2019, mos tram o
O argumento aqui defendido de que as transforma- quanto o tema do uso e inserç ão das tecnologias na docên -
ç õ e s t e c n o l ó g i c a s p r o d u ze m a l t e r a ç õ e s n o s p r e s s u p - cia poderá nos ser v ir, inicialmente, como um ter mômetro
o s to s e p is te m o l ó g i co s , s o c ia is , co g n i t i v o s , c ul t ur a is e desse impac to.

Fon t e: CGI.BR /N IC.BR , C en tr o R eg i o n a l d e E s tu d o s p a r a o D es en v o l v i m en to d a S o c i ed a d e d a I n f o r m a çã o (C e t i c. b r )

Realizado desde 2005, a amostra do estudo de 2018 entrevistou 11.142 alunos do 5º e 9º ano do Ensino Médio e 2º ano do Ensino Médio, mais 1.807 professores de
Língua Portuguesa e Matemática, além de quase 2.500 Coordenadores pedagógicos, Diretores e/ou Responsáveis do escolas urbanas e rurais.

Analisando os dados acima, obser va-se que tanto às p ara além da e sp aço e s colar (a ‘ in di v idualiz aç ão ’ da pro -
ins tituições públicas como às par ticulares se aproximam f iss ão docente) , diferente de outras prof issões (coleti v iz a -
no percent ual quanto ao uso ou aces so indi v idual dos das) , cons tituem uma das razões da dedic aç ão e envol v im -
docentes aos recursos tecnológicos, sinalizando para um en to p e s s o al de s s e s prof is sionais na c ul t ura dig i t al p ara
grande envolvimento dos prof issionais da educação com realiz aç ão de ati v idades di ver s as como pesquis a didátic a,
as tecnologias. A ex tens ão de suas jor nadas de trabalho planejamento de aulas, concepções de aprendizagem,
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atualiz aç ão científ ic a, entre outros. conhecimento e aprendiz agem que, inf luenciados pelas
transformações tecnológicas, ressignif icam as atividades
Os dados do gráf ico, referente ao processo de ‘ indi v idual - cogni t i vas e didát ic as des s a prof is s ão. Ou seja , o pro -
ização ’ do trabalho docente através do uso das Tecnologias ce s s o de acomp anhar t udo que é pro duzido, e s cr i to e
da Infor maç ão e Comunic aç ão ( T ICs) , t al como denomina - ge r a d o p e la re v o lu ç ã o e m c ur s o, p õ e e m um p a t a ma r
mos , t ambém mos tra que os prof issionais das ins tituições mais ‘ tenso ’ o his tór ico e tradicional ato de ensinar. Não
escolares públicas (92%) fazem uso ‘solit ário ’ das TICs , sem há mais a sens aç ão de seguranç a garantida do profes-
o auxí lio ou a presenç a dos demais prof issionais da ins ti - sor ser a pr incipal fonte do conhecimento. Is to é ótimo,
tuiç ão que atuam. e n t re t an to, c aus a ansie da de, que dian te de t al ‘c r is e ’,
para os envol v idos no processo, é apenas uma das con -
Ainda sobre os dados do gráf ico, obser va-se que 75% (média sequências das trans for mações tecnológic as.
en t re e s cola públic a e pr i v a da) dos profe s s ore s u t iliz am
“ v ídeos ou tutor iais online ” como plat afor mas e fontes de Esse cenár io cogniti vo avoluma, c ada vez mais , os req -
pesquis a e aprendizagem. Tal percentual indic a, segundo a u i s i t o s e a t r i b u t o s d a p r o f i s s ã o. O q u e a n t e s e r a u m
hipótese defendida nesse tex to, que, c ada vez mais , a for- c ampo concebido de um ponto de v is t a ‘es t ático ’ (minis-
mação docente ou a atualização dos seus saberes se encon - trar aulas, preencher cadernetas, realizar avaliação etc.),
tram em progressi vo v ínculo. hoje amplia o elenco das ati v idades que compõe o seu
metiê. A ssim, a “ formaç ão continuada ” e a “c apacit aç ão ”
A o a f i r m a r- s e c o m o e l e m e n t o i n q u e s t i o n á v e l d a n o v a se af irmam como verbetes recorrentes no dicionário ped-
condiç ão do s aber docente, a cul t ura digi t al e as T IC s se agógico das sociedades tecnológic as , t al como pode ser
inscrevem no elenco dos temas caros ao debate atual sobre v is to no gráf ico que segue:
a for maç ão docente. A começ ar pelo própr io conceito de

Fon t e: CGI.BR /N IC.BR , C en t ro R egion a l d e E s tu d o s p a r a o D es en v o l v i m en to d a S o c i ed a d e d a I n f o r m a ç ã o ( C eti c . b r ) , j u l h o d e 2019

Os dados acima mos tram que professores e professoras se O gráf ico mos tra ainda que professores das ins tituições
equi valem na busca por formação através do uso de tecno - pr i vadas (26%) continuam inves tindo mais em for maç ão
logias. Há, entret anto, predominância nas faixas acima de em TICs do que professores da rede pública (24%), no com-
3 0 anos , com maior percentual nos que se encontram com parati vo com o ano anter ior. A lém do que já fora obser-
4 6 anos e mais , e signif ic ati vo dentre os prof issionais de vado acima, possi velmente, t al fato deva -se ao enor me
ins tituições par ticulares. Diante des te result ado mos trado grau de competiti v idade nas escolas pr i vadas , diferente
no es tudo, duas s ão as hipóteses aqui relacionadas: a pr i - das públicas, com avaliações de alto desempenho, muitas
meira, refere -se ao fato de que, nas ins tituições públic as , vezes , com v is t as ao mar keting no ‘merc ado da educ a -
os supor tes e a es trutura para o uso de tecnologias digit ais ção ’. Diante da desproporção entre as ins tituições públi-
sempre foram secundar iz adas ou concebidas como ‘mero ’ c as e par ticulares , c abe indagar : qual tem sido o papel
ins tr umentos da ati v idade docente; a segunda, de c aráter dos governos mais recentemente? Uma breve verif icação
pedagógico, es t á v inculada à ‘ indi v idualiz aç ão ’ e intensi - nas ações dos gover nos Temer e Bolsonaro pode trazer
f ic aç ão do trabalho dos prof issionais da educ aç ão dess as uma luz para ref letir sobre t al ques t ão.
ins t i t uiçõ e s , ent reg ue s às suas própr ias condiçõ e s ( indi -
v iduais) de trabalho. Com a cr iaç ão das Diretr izes para uma Polític a Nacional
d e I n o v a ç ã o e Te c n o l o g i a E d u c a c i o n a l ( 2 0 17-2 0 21) -
22 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

ht tp: //w w w.consed.org.br/media/download/5adf 3c4 e10120.pdf , sequência de uma pesquisa mais ampla, mas é possível

no gover no Temer, é possí vel obser var uma v is ão mais obser var que à medida que os anos avançam as concepções

ampliada sobre tecnologia no seu conteúdo, porém, bas- retrocedem. O Programa em ques t ão ter mina por reduzir

tante relacionadas às atividades administrativas das a relaç ão ent re te cnolog ias e e duc aç ão a uma concepç ão

ins tituições. A menç ão sobre a ‘cultura digit al ’ impr ime unic amente ins tr ument al. Des te modo, e considerando as

a o d o c u m e n to u m a a t ua l i da d e d e co n ce p ç ã o s o b r e o o b s e r v a çõ e s a n t e r i o r e s , n e g l i ge n c i a o a t u a l e s t á g i o t e c-

fenômeno tecnológico contemporâneo. Entretanto, nológico, sua enor me relevância e inf luência educ acional

embora sinalize uma concepç ão ampliada do papel da para além de sua dimens ão ins tr ument al. A inda que enfa -

te cnolog ia na prát ic a e duc at i va , t ais Dire t r ize s ( idem) tize a impor t ância das tecnologias na ges t ão e, sobretudo,

avanç am, na teor ia e na prátic a, em favor da superaç ão na docência , es vazia o signi f ic ado epis temológico, social,

sobre as dif iculdades e crises do trabalho docente diante cogniti vo e pedagógico contido na atual relaç ão entre tec-

das e x igências p e dagóg ic as de cor rente s das t rans for- nologia e educ aç ão.

mações ad v indas das tecnologias digit ais. Deixa, assim,

uma enor me lacuna que, até o momento, não tem sido Recentemente o Governo Federal lançou o Programa Ciência

preenchida pelo atual gover no. na Escola (PCE ) com aç ão conjunt a de quatro Minis tér ios:

C i ê n c i a , Te c n o l o g i a , I n o v a çõ e s e Co m u n i c a çõ e s ( M C T I C ) ,

Já o gover no Bolsonaro, através do Programa Educ aç ão Ed u c a ç ã o ( M E C ) , Co n s e lh o Na c i o n a l d e D e s e n v o l v i m e n to

Conec tada (2017-2024), ao centralizar o foco na atividade C i e n t í f i c o e Te c n o l ó g i c o ( C N P q ) e C o o r d e n a ç ã o d e

d o ce n te , a p re s e n t a co m o p r in c ip a l m e t a a a m p lia ç ã o A per feiçoamento de Pessoal de Ní vel Superior (Capes), que

do acesso à inter net , t al como se encontra no tex to do busc a aprimorar o ensino de ciências nas escolas de ensino

Programa: “A Educação Conec tada é o nome do Programa básico. A pes ar das propos t as , de efeti vo não há qualquer

de Inovaç ão propos t a pelo Minis tér io da Educ aç ão para mudança para os prof issionais da educação que, imersos na

ace lerar a incor p oraç ão de te cnolog ia e inov aç ão nas cultura digit al, além da ausência de ações e de propos t as

escolas públicas brasileiras por meio de uma ofer t a bal - condizentes ao conte x to cul tural, social e tecnológico em

anceada de conexão à internet , conteúdos educ acionais que v i vem e trabalham, ainda têm que lidar com o acir ra -

digit ais e for maç ão de professores (MEC , 2018).” mento da ‘cr iminaliz aç ão ’ de sua prof iss ão, dos cor tes sub -

sequentes e abusi vos dos recur sos para educação e do con -

Não c abe aqui (o espaço é cur to) uma análise aprof un - sequente e progressivo desmonte do seu espaço de atuação:

d a d a d o r e f e r i d o P r o g r a m a , e e s p e r a m o s f a zê - l a n a a escola, pr incipalmente a públic a.

Genivaldo Monteiro
Professor de Filosofia da Educação na UEPB-CH e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da FEUSP.

Jacqueline Quaresemin
Historiadora, Mestre em Sociologia UFRGS e Professora de Opinião Pública na Pós-Graduação da FESPSP.
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 23

A EDUCAÇÃO 4.0 E A
SOCIEDADE BIT
Macrossistema do mundo trazendo tempo real. Hoje através do
crises consideráveis nos Messenger, Hangouts, WhatsApp,
microssistemas de saúde, financeiro, Twitter dentre outros possibilitam às
educacional e em todo o bem-estar pessoas de receberem mensagens até
do Ecossistema planetário que dos famosos e das celebridades.
al te ram c o m p o r t a m e n t o s , a t i t u d e s e Estabelecer a Educação 4.0 é
padrões nas pessoas, segundo o fundamental na Sociedade da
p s i c ó l o g o U r i e Br o n f e n b r e n n e r . Informação que influi na formação da
Sociedade Bit, termo criado pelo
premiado jornalista português
O mundo hoje é interdependente com Reginaldo Rodrigues de Almeida em
economias regidas pela dinâmica dos 2004.
países e informações voláteis, as
i m age ns g a n h a m e s p a ç o n o d i a -a -d i a A escola enquanto organização,
e todos tornam-se cada vez mais r e s p o n d e à s d e m a n d a s e n ua nces do
competitivos. Por outro lado, as c e n á r i o d e s t a s o c i e d a d e g l oba liza da
conectividades provocam cidadãos e desigual já que toda informação
planetários dependentes uns dos deve ser transformada em
o utro s . E q u e m n ã o e s t á i n t e r l i g a d o conhecimento. As novas
s e nte - s e e x c l u í d o d o m u n d o e d e s u a representações simbólicas com os
f l ui d e z . seus novos códigos orientados por

A
Geopolítica atual não identifica dígitos binários 0 e 1 que fazem parte
o progresso sem crescimento A língua global, a linguagem do dia-a-dia é sintetizado por
económico. Por outro lado, o cibernética e suas abreviações que se Reginaldo Almeida (2004, p. 11)
pico evolucional nas ciências e nas espalham pelo mundo através da « c o m o o Bi n á r i o d a In f o r m a çã o e da
tecnologias faz-nos chegar a quarta Internet com códigos emocionais Tecnologia, o Binómio da Informação
revolução industrial. Intitulada (emoticons) traz dependência do e da Tecnologia, a Bilateral da
I n d úst ria 4 .0 desenv o l ve f ác i l ac e s s o Homem diante das tecnologias na Informação e da Tecnologia, a
à conectividade, à informação com complexidade de assimilação dos Bagagem da Informação e da
armazenamento de dados e às valores, de tolerância e de T e c n o l o g i a , a Ba t e r i a d a In forma çã o
ferramentas virtuais na incerteza do interculturalidade. Nesse processo e da Tecnologia».
tempo-espaço que em frações de re ve l a- s e à S o c i e d a d e d a In f o r m a ç ã o
segundos se transformam. As que é quantitativa, fomentando a 1 . A N OVA E R A , A E D U C AÇ ÃO 4.0 E
tecnologias habilitadoras não Sociedade Bit. Ademais, a própria O S DI R EI TO S HUM A NO S
conseguem dar conta de todos os linguagem utilizada pela geração de
acontecimentos simultâneos de Polegarzinha como define Michel O anúncio de uma nova era com a
informação. Esse processo rápido Serres em 2013 «jovens e crianças inserção em massa dos cobots - robôs
altera ânimos e comportamentos às q ue e nvi a m m e n s a g e n s v e l o ze s c o m colaborativos que interagem com
organizações, inclusive à escola que os polegares nos telemóveis» muda a humanos num mesmo espaço - traz
sofre com o estado de tensão relação com o mundo e a faculdade um avanço à integração de técnicas e
const ante. de atenção dessa geração prendem-se divisão de tarefas entre homens e
p o r p o uc os s e g u n d o s . máquinas nas indústrias.
As operações financeiras são
vu ln eráv eis, eletró nic as , não uti l i z am Durante muitos anos, o homem usava Contudo, a internacionalização de
o papel moeda, além de serem meios convencionais para comunicar empresas na fixação de multinacionais
volumosas e trilhonárias. Na como o telefone, as correspondências e m d i v e r s o s p a í s e s t r o u x e à t ona os
instabilidade do novo ano que abala e o te l é g r a f o . H o j e f o r a m c r i a d o s o s apátridas que representam uma
a estrutura social e monetária do ICQ’s que são os comunicadores miscigenação cultural em uma
planeta está o novo coronavírus 2019- i ns tantâneo s t a m b é m c o n h e c i d o s d e expansão nunca dantes vista. O
nCoV co m sur to o rig i nári o na c i d ad e mensageiros. Esses aplicativos mundo dissemina as riquezas da
chinesa de Wuhan, que interfere no enviam e recebem mensagens em diversidade cultural. De qualquer
24 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

ponto do planeta consegue-se


vislumbrar a multiculturalidade e a
pluralidade de cores, cheiros, sabores,
opiniões, costumes, etnias e
c re n ç a s.

No ato de ensinar é necessário


aprender na diversidade, na
c u riosida de do s temas , nas q ue s tõ e s
ou dilemas que se tornam objeto
in ve stigativo na s salas d e aul as e no s
espaços públicos. Aprendemos e
ensinamos com todas as coisas e
pessoas o tempo inteiro. As
metodologias ativas são usadas nas
resoluções de problemas, com
soluç õ es sustentá vei s e hum ani tári as
no reconhecimento e olhares para o
outro instituindo-se a ética planetária
e postulados coletivos construídos em
c olab oraçã o .
Foto de Florian Olivo on Unsplash

As tragédias das Guerras Mundiais


d e n u ncia da s no Mo vi m e nto M o d e rno security. Movimentos artísticos e dentárias, mamárias e outros
através das artes expressam dor e literários destacam-se rompendo implantes que causam Autoconstrução
compaixão aos genocídios, às velhos paradigmas como o Cyberpunk- ou Autodestruição. Hábitos
intolerâncias e aos nacionalismos movimento futurista relacionado com alimentares baseados em fast food, a
regados de debilidades humanas. o cyberspace derivado da palavra conectividade em tempo real entre
Milhares de atos de repúdios, cibernética. Hoje os laços sociais pessoas de diferentes espaços do
consternações e pesares surgiram e s tão f o r t a l e c i d o s a t r a v é s d a s R e d e s globo, a insensibilidade humana
com movimentos civis e sociais. Os Sociais na febre informática ‘posto, questionada nos medias, a
Governos proclamaram em 1948 a logo, existo’ justificando-se a substituição dos governos pelos
Declaração dos Direitos Humanos disseminação das selfies e desmandos das multinacionais e o
construída coletivamente em resposta performances individuais próprio capitalismo perverso é
aos massacres humanos - promulgada construtoras de personalidades e enxovalhado pela literatura que ele
em 1948 reitera a liberdade e a justiça. i d e nti d ad e s d o s s u j e i t o s . próprio criou.
A população mundial quer a igualdade
d e dir eito s entre to d o s /as ap e s ar d a O fascínio das imagens, games dos Na Sociedade Bit o mundo das
pluralidade cultural como único cyborgues e ações misturam humanos imagens e interações possuem
subterfúgio de garantir a paz entre os com máquinas. Princípios éticos e ferramentas imprescindíveis ao
p ovos. d i l e m as d u e l a m e m e s f e r a s d o b e m e conhecimento. A sinfonia do Universo
do mal. O debate expande-se em é e x p l o r a d a c o m a T e o r i a da s Corda s
A cosmovisão futurista engloba longa metragens como: Metropólis e suas fórmulas disseminadas com
literatura, música, cinema, teorias, as (1927), Blade Runner (1982), precisão na série televisiva The Big
tribos juvenis e os vídeos-clipes Inteligência Artificial (2001), Matrix Bang Theory com James Joseph
musicais. As indústrias ganham em (1999), Minority Report (2002) e P a r s o n s o n d e a F í s i c a é e n sina da de
produtividade, personalização e Ex- M ac hi n a ( 2014) d e n t r e o u t r o s q u e uma forma divertida com piadas de
customização de produtos e procuram retratam o mundo dos sonhos nas excelência que leva o telespectador a
cooperar com a conservação ambiental telas dos cinemas e no mundo virtual. refletir e absorver os conceitos. As
reduzindo gastos de produção e Formam-se redes e estruturas de imagens, as músicas e os ritmos
desenvolvendo ações de rac i o c í ni o s e m d i v e r s a s á r e a s d e s d e f a ze m p a r t e d o s a p a r a t o s i nt era t ivos
re sp onsabilidade so ci al . A s p e s s o as e a religião até os modelos matemáticos p a r a o s j o v e n s e a s c r i a n ç a s, dent re
as organizações rendem-se e usam as de redenção. Enxergamos nós elas o YouTube, plataforma conectiva
tecnologias das empresas Apple, mesmos em realidades virtuais que d e c o m p a r t i l h a m e n t o d e v ídeos com
Alphabet, Microsoft, Facebook e por vezes causa-nos desconfortos e sede em San Bruno nos Estados
Am az o n. c o nf l i to s i n t e r n o s . Unidos. A Netflix provedora global de
filmes e séries de televisão por
N asc em implementaç õ e s d e m e d i d as Recentes pesquisas divulgam streaming sediada no território norte-
d e se gurança e legisl aç õ e s uni ve rs ai s características da nova era consumista a m e r i c a n o e m L o s G a t o s p ossui ma is
de proteções de dados com a Cyber em utilização desenfreada de próteses d e 200 m i l h õ e s d e a s s i n a n t es.
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 25

É necessário misturar culturas através é irreversível. Com o advento desta dimensão pedagógica incluindo
das interações e intercâmbios Nova Era o mundo passou a ser oportunidades digitais enquanto
culturais que podem começar na integrado em uma cultura planetária. g a r a n t i a d e : i g u a l d a d e d e c ondições,
escola não apenas na semana das As novas tecnologias precursoras no respeito às diferenças e ao bem
Nações, já que o mundo por excelência deste momento corroboram à c o m u m , n a p a r t i c i p a ç ã o d e mocrá t ica
está emaranhado. O hibridismo interação multicultural - via de e no respeito aos direitos humanos
cultural nunca foi pacífico e como transformação rebanhando os sustentados pela ética do
toda a relação de poder demanda excluídos - quando a desigualdade de comprometimento de elevação social.
várias posições e conflitos. A classe cresce vertiginosamente. A
globalização aqueceu a mobilidade pobreza é auferida pela não “ É ne ces s ário misturar
entre todos os países. Ruturas se alimentação constante e digna das culturas através das
fazem necessárias e novos olhares às p o p ul aç õ es e a e r r a d i c a ç ã o d a f o m e interações e intercâmbios
problemáticas, às fenomenologias e no mundo é uma das metas das culturais que podem
às relações sociais devem urgir no Nações Unidas nos objetivos do começar na escola não
cenário de emergências que desenvolvimento sustentável à ap enas na semana das
determinam a repercussão e ag e nd a 2 0 30. Nações, já que o mundo
construção dos sujeitos que integram por excelência está
as e sco la s e que v ali d am a Ed uc aç ão Por outro lado, a espionagem de emaranhado. O
atual. Esse cenário informatizado informações, a competição hibridismo cultural
refém hoje das Redes Sociais tecnológica e a fragmentação dos nunca foi pacífico e
circunscrevem escolhas e o empenho produtos pelas empresas como toda a relação de
em p olítica s públicas . transnacionais contribuíram nas p o d e r d e m a n d a v á ri a s
aç õ e s d e u m a r e d e p r o t e t i v a l i g a d a à p o s i ç õ e s e c o n f l i to s .“
Os medias «meios de comunicação Cyber-Segurança. Compreende-se
social» denunciam violações aos que essa globalização e suas múltiplas A justiça e a inclusão social
direitos humanos fundamentais como facetas influenciam todo o sistema estabelecem-se na sociedade
a desigua ldade de gêne ro s , s o c i ai s e educativo mundial, reproduzindo cosmopolita com vozes, cores e
de raça. Cria-se um coro coletivo com exclusões, xenofobias e culturas entrelaçadas. Essa sociedade
m archa s e pr o testo s i nvo c ad o ras d e desigualdades, assim como numa que se expande com as grandes
igualdade de direitos nas diversas contradição insanável traz uma navegações abrange o mundo do
franjas sociais em torno do acesso às globalização cultural que é rica, nobre trabalho. No desenvolvimento
oportunidades democráticas e e d i ve rs a. pedagógico devemos formar seres
participativas, com efeito é nesta com competências e capacidades
corrente que está a organização Atina-se que a escola que quer c r i a t i v a s e p r o a c t i v a s p a r a comba t er
esc olar . cumprir o seu papel com boa a proliferação das desigualdades
qualidade de ensino deve estabelecer sociais. A justa distribuição de
No entanto, o fenômeno globalizante em seu ambiente a justiça social na tratamentos opera no direito de ter
direitos com a cidadania do mundo,
c o n h e c i d a c o m o c o s m o p o l i ta .

Aq u e l e q u e m m a n d a t e m o dever de
garantir na dimensão pedagógica a
emancipação e a participação de
t o d o s n a c o n s t r u ç ã o d a e s c ola dest a
Nova Era influindo em sua qualidade.
Corrobora-se na perspetiva de
Thomas Popkewitz que o
cosmopolitismo inclui a ação, a
participação, as ciências e as
tecnologias enquanto emancipação
humana na formação de pessoas que
sejam razoáveis e atuem na sociedade
c i v i l .

Na pesquisa realizada na educação


comparada entre Brasil e Portugal na
tese de doutoramento que corre a
termos intitulada O cidadão do mundo
e a organização ética da escola
Foto de NESA by Makers on Unsplash
demonstra segundo a bibliografia
26 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

existente e os estudos empíricos re s p o ns ab i l i d a d e s s o c i a i s ; na s ala de aula res ult am em Nota 1 0 ! ( … ) O


realizados em escolas eficazes - indicativos de chefes(as) e Brasil enfrenta um dos piores índices de
integradas na Educação 4.0 que essas empreendedores responsáveis e avaliação no Ensino Fundamental, mas é
possuem uma liderança proactiva, re s p e i táv e i s ; possível mudar esse quadro, veja só esse
professores comprometidos com a - m e m b ros d e i m p o r t a n t e s e m p r e s a s exemplo [Apresentadora Madeleine Alves,
mudança da nova era, espaços e o rgani z a ç õ e s . 2012, int roit o].
democráticos de atuação e projetos
autónomos e empreendedores dos O premiado ex-aluno Marcello Farias, Uma das linguagens utilizadas pela
alun os e pro fesso r es . p ub l i c i tár i o , p r o f e s s o r e m e s t r e p e l a gestão escolar são as expressões
Universidade São Caetano do Sul artísticas direcionando os alunos à
2. PROJETO GESTOR NA ÉTICA DA atinge um alto patamar académico proatividade. O palco da escola foi
ED UC AÇÃO 4.0 distante da realidade de muitos remodelado e equipado, iluminação
al uno s d a s e s c o l a s p ú b l i c a s e n a r r a : de última geração, cortinas
A gestão da Escola Estadual Professor eletrónicas, instrumentos musicais.
Ant ón io Jo sé Leite lo c al i z ad a na Zo na (…) Uma escola que fornecia atividades Acontecem apresentações do
N ort e da Cida de de S ão Paul o - B ras i l extracurriculares. Fornecia curso de idiomas, r e n o m a d o P r o j e t o Jo v e m E m Cena . O
possui um projeto gestor humanista curso de teatro, uma escola que fornecia microfone é dos alunos e fazem ecoar
do qual a investigadora participou todo um amparo social para aquela s u a s v o ze s ! As s a l a s d e a u l a s cont a m
durante seis anos que emancipa vidas comunidade escolar. [Era] voltada para o com 35 a 45 alunos, profissionais
e com eço u a ser des e nvo l vi d o no ano desenvolvimento pessoal e profissional do estão comprometidos com a
de 2008. Apesar da alteração no aluno. (…) Essa escola foi transformadora na organização e o projeto gestor
q uadro de gesto res p o r d uas ve z e s , a minha vida eu saí do José Leite e fui o baseia-se na humanização,
filosofia do trabalho continua a ser primeiro colocado no vestibular de uma empolgação e solidariedade incluindo
desenvolvida. Muitas escolas Instituição em São Paulo chamada Faculdade os diferentes num movimento de
periféricas do Brasil estão em locais Oswaldo Cruz. Consegui bolsa por isso, me elevação social.
violentos com atuação do tráfico de formei e me pós-graduei atualmente faço A n a r r a t i v a e o d e p o i m e n t o do a luno
drogas. Os alunos dessa escola não mestrado e sigo no ramo Académico (…). Hoje Carlos Daniel que hoje conhece 14
respeitavam os horários, eram so u Co n cu rs ado no Cent ro Paula Sous a (…), países, empresário e informático
resistentes às solicitações, dou aula em Pós-Graduação em Universidade demonstram que a escola recebia
desanimados, agressivos, não e no SENAI. No final do ano passado eu alunos provenientes de outras
colaboravam com as aulas e o p ar ti ci p e i de um realit y s how na B and [Rede organizações com históricos de
funcionamento da escola era irregular Bandeirantes] sobre empreendedorismo e i n d i s c i p l i n a e o a c o l h i m e n t o, diá logo
e a dir eto r a r ecém-em p o s s ad a f o rm a publicidade e eu fui vencedor. E eu posso e o a m o r t r a n s f o r m a m v i d a s:
uma equipa e convence os garantir que tudo o que eu desenvolvi [no
encarregados de educação, programa] eu aprendi na escola: a falar, a (…)Ouvi dos meus professores que eu era uma
professores e outros parceiros p ô r as mi nhas ideias em prát ic a, t rabalhar pessoa inteligente que eu teria um futuro
institucionais de suas em equipa então eu sou muito grato! brilhante mas eu tinha que deixar o meu
responsabilidades civis para elevarem (Mar ce l l o F arias , ex-aluno, s et embro/2019). problema disciplinar que era muitas vezes
a qualidade do ensino ofertado e as ‘bagunç a’, muit a c onv ers a na s a la e s emp re
condições locais. As modificações tive esses problemas e acabava não dando
c om eçam a a co ntece r. O embelezamento e funcionalidade t ant a at enç ão para realment e os es tu d os e
da escola, a eleição do Grémio quando entrei nesta escola eu tive sim alguns
Identifica-se na pesquisa que Estudantil, a Associação de Pais e problemas como eu já havia tido e mas, com
ocorreram movimentações sociais M e s tre s At i v a e o C o n s e l h o d e E s c o l a a paciência e com o trabalho psicológico que
resultantes de ações democráticas, Democrático definiam prioridades, t ev e a [diret ora] c omigo eu ac red ito q u e eu
tecnológicas e participativas que criaram o regimento, escolheram consegui desenvolver bastante e me tornar
possibilitam na escola a coesão social. membros da Equipa Gestora e outra pessoa acreditando que eu poderia ser
Evidencia-se com os resultados optaram por compras de s im alguém na v ida e poderia t er u m fu tu ro.
colhidos agregação de valores e a equipamentos das NTIC’s. Esses Como eu vim de uma comunidade e nunca
re est rutur açã o física e m d o i s p ré d i o s parceiros trouxeram virtuosismo à tive muita esperança de um futuro (…) eu
do estabelecimento. Os índices do e s c o l a ref e r e n c i a d o s n a R e p o r t a g e m nunca tive muita vontade de estudar e de ser
desenvolvimento educacional da TV-Cultura sobre a escola em alguém eu não tinha muitos espelhos na
aum e nta ram ( SA RESP / S A EB / ENEM ) e 0 1 /1 2 /2 0 1 2: minha f rent e para is t o. E quando eu c on h ec i
os aluno s: a [diretora] depois de muitas idas à sala dela
Valorizar os professores e dividir e muita conversa a gente acabou se tornando
- ingressam em universidades inclusive responsabilidades com os alunos, dessa amigos e não era só o relacionamento de
est rangeiras; forma as escolas públicas podem ter bom diret or e aluno, mas de amigos … eu p erc eb i
- p art icipam em ativi s m o s p o l í ti c o s e desempenho nas avaliações oficiais e no o carinho que ela tinha por mim e queria que
am b ienta is; vestibular. O Jornal da Cultura edição de eu fosse alguém na vida! Depois de três anos
- sujeitos de direitos com sábado mostra que respeito e criatividade es t udando nes t a es c ola ent rei n a fac u ld ad e
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 27

( … ) m e f orm e i e p a ra a mi n h a fo r matu r a e u organizado, planeado, seguro e


fui na e s cola e p rocu re i p e l a [d i r e to r a] p o r disciplinado é reconhecidamente Foram mudanças que foram feitas para
um só objetivo de agradecê-la e por quão humano. Nesta escola todos possuem melhor [no atendimento] e melhora dos
importante ela foi nesta caminhada. Eu responsabilidades, tolerância e alunos e eu pas s ei dois anos f ora em 2 0 0 9 e
lembro que a gente conversou bastante e ela valores regulados na ética, longe dos 2010 e quando eu voltei no 8º ano notei tudo
ficou muito feliz! (Carlos Daniel Soares m al f e i to res t r a f i c a n t e s e d a s d r o g a s . diferente tínhamos trabalho muitas coisas
J úni o r - I rla n d a - Du b lin / se te mb r o , 2016). Es s e s s ão i n s u m o s i n d i s p e n s á v e i s n a que f azia c om que f ôs s emos para fren te ( . . )
formação (in) alienavelmente humana. centrados nos estudos, motivados para fazer
Um dos projetos gestores Impulsionar, democratizar e aquilo (…) c omec ei a f azer c urs o téc n ic o n o
im plementa do s nesta e s c o l a al é m d o incentivar ações culturais garantem SENAI foi o estudo da escola que me fez
Projeto Jo vem Em Cena f o i o Pro j e to a veiculação da liberdade de passar entre os melhores eu tinha pessoas
Fala Sério. A equipa gestora reunia-se expressão no equipamento que estudavam em escolas particulares e em
uma vez por semana com todos os educacional. Henrique Paulino, escolas de renome em lugares nobres da
alunos em todos os períodos no notável informático, formado na Cidade, mas a es c ola da Zona Norte, ali n a
anfiteatro. A diretora trabalhava a Faculdade de Informática e Vila Amália no extremo Norte, no meio da
sensibilização, elevação sociocultural, Administração Paulista e excelente Comunidade f ez c om que eu c heg as s e até o
a motivação, autoestima e o senso de f i l ho , i rm ã o e c h e f e d e f a m í l i a : Técnico. Chegasse no meio daquelas pessoas
responsabilidade com sociodramas. importantes, daquelas pessoas que tinham
Os alunos interagiam e falavam dos Eu estudei na Escola Estadual António José muit os es t udos . F oi a f é que a dir etora, q u e
conflitos, dos problemas, das l e i te d a 4ª s érie do Ens ino F undament al at é os prof es s ores t inham e os es t ud os tin h am,
informações da comunidade, o 3º ano do Ensino Médio na conclusão do a dedicação de todos com os estudos e
d e b at i a m pequena s c urta- m e trage ns Ensino Médio e eu me sinto privilegiado neste quando eu pensei em desistir por conta de
no empoderamento e na p e r í o d o n o c olégio. F oi not ório t odo mundo horários a escola não deixou e a escola
conscientização das crianças e jovens viu a progressão que a escola teve, a esteve comigo e me deu total apoio e suporte
a respeito da mundividência. Nikholas visibilidade. Com muita disciplina, ética, e foi muito importante para mim. Vi que
Magalhães, líder e influenciador de se gu r an ça. O aluno s ent ia-s e s eguro dent ro t inham pes s oas ali para me ajud ar ( Mayara
vidas, exerce a responsabilidade da escola reduzindo o uso de drogas é comum Rodrigues , ex-aluna, out ubro, 2017 ) .
social co m o grupo de e s c ute i ro s no vermos isso. Aproximou o aluno do desporto,
Rio de Janeiro e graduando de da cultura fez projeto. Autorizou o uso de Outro contexto diferenciador nesta
Enfermagem na Universidade Estácio teatro e de cinema dentro da escola. Uma escola foi aprimorá-los no
d e Sá na rra: gestão excelente de todos nós e todos que p o s i c i o n a m e n t o d e e s c o l h a do bem e
ti ve r am co m a gent e nes t a c aminhada nes t e do mal. O Grêmio Estudantil elo entre
A diretora tinha um programa no período, todas as pessoas de bem só tem todos os stakeholders possui ativismo
Anfiteatro chamado Fala Sério, os elogios e coisas boas, sempre muito presente. enquanto organismo político,
p roblemas da esco la o u al gum avi s o (…) Agradeço tudo o que a escola participação democrática, interação
que ela pudesse explicar para todo proporcionou (Henrique Paulino, ex-aluno, e a reivindicação dos direitos,
mundo, isto era muito bom porque se te mb r o d e 2016). liberdades e garantias dos estudantes.
aproximava os alunos deixava que os A agremiação teve importância na
alun os falassem so br e a e s c o l a. Te ve A e s c o l a cu m p r e s u a m i s s ã o q u a n d o vida do Ex-aluno hoje integrante da
um Fala Sério que ela falou sobre uma insere cidadãos no mundo com Polícia Militar de Elite do Estado de
música do Chico Buarque de Holanda visibilidade, confiança, autoestima, São Paulo - exemplo de discernimento
chamada Cálice que ela conseguiu satisfação e bem-estar. Os desafios h u m a n o , r e s p o n s a b i l i d a d e , ca rá t er e
transpassar para todo o mundo o que são lançados dia-a-dia e a determinação:
as p e sso a s na D itadura p as s avam , o responsabilização é transferida aos
que acontecia naquela época a alunos. As mudanças organizacionais F oi de grandes s ís s ima import ância a min h a
repressão e a falta de liberdade de são necessárias à emancipação dos pas s agem nes t a es c ola onde eu de s tac o d ois
expressão e isso foi muito bom al uno s – a l b a t r o ze s d a E d u c a ç ã o . As pont os : o primeiro f oi a minha pa rtic ip aç ão
porque pôde mostrar aos alunos da interações sociais, as expressões no G rêmio Es t udant il is t o me aju d ou mu ito
escola o quão bom era ter essa artísticas e o diálogo são estimulados porque na époc a eu era muit o t ím id o. E is s o
liberdade que a gente tem hoje em como forma primeira de garantir a me ajudou a lidar melhor com o público,
dia e por mais que ela fosse rígida ela construção do conhecimento com fazer novas amizades me soltar mais
deixava muito claro que os alunos experiências cotidianas. A aluna conversar mais. Inclusive foi na gestão da
poderiam ser bem ativos, era uma vi to ri o s a M a y a r a R o d r i g u e s f o r m a d a diretora (…) que tivemos muita chance de
escola que tinha muitos projetos… em Gestão Financeira pela Faculdade fazer gincanas, festas, encontros e isto foi
(Nikholas Magalhães – Ex-aluno, Anhanguera em 2019 retrata o grau muito agregador para a minha vida. O
out ub ro / 2 0 1 7 ) de tolerância, confiança e segundo ponto importantíssimo foi no
responsabilidade, além do moment o que eu lev ei ao c onhec i men to d os
O grupo gesto r br asi l e i ro d e m o ns tra compromisso desenvolvido em meus prof es s ores que eu t inha ess a von tad e
a parceria, a justiça e a coesão social. alcançar o mais alto patamar num de em ser Policial Militar eles trouxeram para
Est u d ar num a mbiente d i g no , l i m p o , m und o d e p o d e r e s d e s i g u a i s : mim livros, resumos e matérias que serviu
28 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

c o m o b a s e d e e s t u d os e e u co n se gu i p r e star eu faço isto por amor! (Willian H. Costa, grémio - um papel muito próximo da direção
o concurso em 2014 (…) e passei sem maiores j u n h o / 2019). e de acompanhar essas ações. Foram muitas
dificuldades tomando posse em 2015 e desde ações pedagógicas positivas e em contacto
então eu sou soldado da Polícia Militar do A liderança escolar como estratégia c om out ros alunos da époc a t odo mu n d o s ó
E st a do d e S ã o P a u lo. Uma p r o fi ssão q u e e u deve ser usada para atingir objetivos, t em elogios para f alar s obre e s en tem falta.
sempre admirei, sempre quis não me vejo mas não é um fim em si mesma, A escola tinha teatro O Jovem Em Cena
fa z end o ou t ra cois a e u amo o q u e e u faço . A delega poderes e a coesão social é referência na Cidade e na Região [com]
m ensage m q u e e u d e ix o é q u e n ão é o l o cal sinonimo de unidade na coletividade. atuação dos alunos através no Grémio.
que faz a p e s s oa , p a ra q u e m n ão co n h e ce a A cultura escolar é impregnada de Depois que eu terminei a escola em 2011 teve
E sc o l a E s t a d u a l P rof e s so r A n tó n i o Jo sé Le i te sentidos: formal e informal. Na um concurso do Governo do Estado para
fi c a si t u a d a n u m a re gião p e r i fé r i ca, fi ca n a narrativa preciosa de Ewerton Agente Escolar do qual eu prestei e passei.
Zona Norte de São Paulo, um local de Fernandes (2019) identifica-se que ele M inha 1ª opç ão f oi o Jos é L eit e ( … ) . E u p u d e
altíssima criminalidade e mesmo assim eu enquanto ser ontogénico convence-se ver a outra visão [da direção]
não me corrompi eu não me deixei corromper da importância daquela escola em sua administrativamente. Temos boa recordação
ingressei na Carreira da Polícia Militar e hoje c o ns ti tuiç ã o h u m a n a p o s s u i n d o d o i s como lembramos da escola e todo o
essa mesma criminalidade que assolava a olhares: de aluno (processo adquirido) c onhec iment o e bas e no âmbit o p rofis s ion al
região ali da escola eu combato em outros e funcionário (processo doado) eu adquiri na época da escola do Ensino
l o c a i s, m a s e u com b a t o n ão me co r r o mp i e concluindo que é preciso sair da zona M édio e do F undament al. H oje, es s e an o em
não faço parte desta criminalidade (...) Para d e c o nf or t o e d e f i n i r u m a t i v i s m o d e 2019 t erminei o Ens ino Superior e h oje s ou
mim não existe essa de eu não tive « q ue m s a b e f a z a h o r a e n ã o e s p e r a formado em Publicidade e Propaganda
oportunidade eu não tive chance. Eu quis, eu ac o nte c er » . também (Ewerton Fernandes, ex-aluno,
consegui e eu conquistei. Hoje eu sou Policial s et embro/2019).
Militar eu combato a criminalidade e eu Aos poucos passámos a perceber as mudanças
de fe nd o p e s s oa s q u e e u n e m co n h e ço . Mas, q u e a e scola t ev e. Eu f ui v ic e-pres ident e do

Marisa Batista
Doutoranda no CEIED, Instituto de Educação, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - Lisboa - Portugal
marisa.investigadora@yahoo.com

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Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 29

EDUCAÇÃO 4.0
O BRASIL ESTÁ PRONTO PARA O FUTURO?
PESQUISAS RECENTES MOSTR AM DADOS QUE CONFIRMAM , MAIS UMA VEZ , A DESIGUALDADE
ENTRE BR ANCOS E NEGROS NO BR ASIL - POLÍTICA , CRIME , ESCOL A , TR ABALHO E RENDA .
O PAÍS SEGUE DIVIDIDO E ATR ASADO PELO RECISMO E POR PRECONCEITOS SECUL ARES.
Da Redação - A EL

O
Brasil es tá reconhecidamente entre os dez países Ao de s cont ar as v í t imas cuja infor maç ão de raç a /cor não
mais desiguais do planeta, e uma das dimen- e s t a v a d i s p o n í v e l , o r e l a t ó r i o i d e n t i f i co u q u e 76 , 2 % d a s
sões ou razões para ess a desigualdade é racial. vítimas de atuação da polícia são negras, ou seja 7,6 pessoas
A maior par te dos dados ness a matér ia s ão das pesqui - em c ada dez ass assinadas s ão negras ou pardas.
sas PNAD (Pesquisa Nacional por A mos tra de Domicí lios)
realiz adas pelo IBGE (Ins tituto Brasileiro de Geograf ia e ( N o t a d o e d i t o r. : o s i t e d o F ó r u m N a c i o n a l d e
E s t at ís t ic a) de c ampos di ver sos como t rabalho, renda , Segurança Pública, de onde estes dados foram colhi-
educ aç ão, cr ime e par ticipaç ão polític a. O racismo é um dos , es tranhamente es teve fora do ar até es t a dat a.)
c âncer que pre cis a ur gentemente ser vencido no p aís ,
es t a e uma conclus ão básic a a qual chegou o pesquis a - Outra pesquis a feit a pelo IBGE apont a que o desemprego
dor Jessé de Souza, escancarada em seu li v ro polêmico A é maior entre nordestinos, mulheres e negros. O insti-
Elite do atraso – da escravidão à Lava Jato. A ssista o vídeo tuto infor mou ainda que, no terceiro tr imes tre de 2018 , o
em: ht tps: // w w w.youtube.com / watch? v = 9 x g Ghy nmTms número de des alent ados somou 4 ,78 milhões de pessoas.
Des alent ados s ão aquelas pessoas que desis tiram de pro -
Já o Anuário Brasileiro de Segurança Pública anali- curar trabalho ou emprego, e pararam t ambém de es tudar
sou 5. 89 6 bolet ins de ocor rência de mor tes decor ren - por razões diversas, mas pode -se imaginar que o cus to para
t e s d e i n t e r v e n çõ e s p o l i c i a i s e n t r e 2 015 e 2 016 . I s s o quem não tem renda é alto para procurar emprego e manter
represent a 78% do universo das mor tes no período. os es tudos.

EDUCAÇÃO E ECONOMIA: ligeiras variações a par tir de 2018 e 2019 onde se constatram
reveses nas projeções e no apor te de recur sos por par te da
A t axa de analfabetismo é mais que o dobro entre pretos União que cor tou o orç amento da Educ aç ão e at acou pro -
e pardos (9,9 %) do que entre brancos (4 , 2%) , de acordo gramas que es t avam dando cer to desde o Pátria Educadora!
com a PNAD Contínua de 2016 (um bloco especial das pes- A inda que publiquem matér ias que dizem que o o número
quisas feit as pelo IBGE ). Es t as t axas se manti veram com de negros e pardos lriundos das escolas públicas aumentou
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na educação superior, não há evidências que isso signif ique No F ór um inter nacional de Davos , pesquis as e análises
melhor ias efeti vas e duradouras , dado que a maior par te feit as por ins titutos especializ ados da Europa mos tram
des te contingente es t á matriculada em faculdade pri vadas as tendências do f u turo para o trabalho. Os relatór ios
cujos objetivos, enquanto empresas, diferem da verdadeira mos traram que es t as serão as 9 6 prof issões do f uturo,
f unç ão da educ aç ão e das necessidades do país. segundo o F ór um Econômico Mundial.

Q uan do s e fala no ace s s o ao ensino sup er ior, a cois a s e O relatór io “ Jobs of Tomor row : Mapping Oppor tunit y in
complic a mais ainda: de acordo com a PN A D Contínua de the New Economy ” (ht tps: // w w w.wefor um.org /repor t s /
2017, a porcent agem de brancos com 25 anos ou mais que jobs- of-tomorrow-mapping- oppor tunit y-in -the -new-
te m e nsin o sup e r io r co m p l e to é d e 2 2 ,9 % . É ma is q u e o economy) af irma que prof issões emergentes podem criar
dobro da porcent agem de pre tos e p ardos com diploma: até 1,7 milhão de novas opor tunidades de emprego em
9, 3%. Já a média de anos de es tudo para pessoas de 15 anos 2020. 1,7 milhões dees t as novas opor tunidades possivel-
ou mais é de 8 ,7 anos para pretos e pardos e de 10, 3 anos mente assim coloc ados: 35% na A mér ic a do Nor te, 31%
para brancos. Ou seja, as diferenças estão sendo retratadas na Europa, 28% na Á sia e 6% res t antes para serem dis-
de forma clara nos estudos e pesquisas feitas pelo instituto, tribuídos entre Áfria e América do Sul. O mesmo relatório
e c aberia aos governos dos es t ados , municípios e da União analis a e infor ma que até 202 2, devem ser cr iados 6 ,1
a apresent aç ão de polític as públic as c apazes de rever ter e milhões de empregos. Quais as chances de o Brasil entrar
equilibrar es t as números. Educ aç ão é juma ques t ão es tra - def initivamente nes te território de riquezas se consider-
tégica – tratá-la ideologicamente, par tidariamente ou como ar mos os atuais quadros de Educ aç ão Públic a (e mesmo
ques t ão de merc ado é empur rar o país para o os tracismo, a educ aç ão pr i vada) e das condições do nosso merc ado
para a lat a de lixo da his tór ia. de trabalho? Ele o fará pela por t a da f rente, pela por t a
dos f undos ou tent ará entrar por uma janela?
O Brasil não pode aspirar entrar no clube seleto dos países
ricos e desenvol v idos , OCDE, OMC , Conselho de Seguranç a Habilidades digitais e humanas para o futuro do trabalho
Mundial etc, se não resol ver es t a ques t ão primária – é uma s ão o foco. Eis uma lis t a das 10 principais habilidades:
condiç ão sine qua non. Deixar de fora do merc ado produ -
tivo e da economia produt yiva uma população (mais de 50% 1. Mar keting Digit al - 2. Mídia S ocial - 3. Adminis traç ão
da populaç ão é cons tituída de pardos e pretos – IBGE* *) de negócios - 4 . A lfabetiz aç ão Digit al - 5. Publicidade -
e co n o m i c a m e n te a t i v a e f o r te q u e co n t r ib u i r ia e n o r m e - 6. Mar keting de Produto - 7 Vídeo - 8 . Design Gráf ico - 9.
mente para a geraç ão de r iquez a e sua jus t a dis tr ibuiç ão é Lideranç a - 10. Escr it a
uma sandice sem precedentes , calcada em preconceitos de
raç a e cor da pele, e obv iamente um dos mais impor t antes E todas estas prof issões estão irremediavelmente ligadas
moti vos , senão o mais noci vo deles , para a noss a condiç ão às T ICs.
atual de mero fornecedor de alimentos para os países ricos.
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 31

ht t ps: //e xame. abr il.com.br/c ar reira /e s t as - s ao - as - 9 6 - pro - educ aç ão públic a através do Fundeb. Mas em dezembro
f issoes- do -f uturo -segundo - o -for um - economico - mundial / de 2020, o atual modelo se ex tingue. Foi vetada a estima-
ti va de recur so ex tra de R$ 1, 5 bilhão para o programa.
A grande ques tão é: C abe aqui um e sp aço p ara uma pe quena dig re s s ão de
c unh o ‘ ma te má t i co ’ e d e p e s quis a: A l e i o rç a m e n t á r ia
A Educ aç ão públic a, not adamente volt ada para as classes prev iu despes as da ordem de R$ 3 , 5 tr ilhões em 2018 –
menos favorecidas , é cus teada pelos impos tos recolhidos Quanto será ent ão que o Brasil ar rec adou de impos tos?
pela União, não é por tanto, gratuita! Ainda que se encontre S egundo o própr io gover no a ar rec adaç ão chegou a R$
nes te uni ver so um padrão, às vezes até super ior ao ensino 1, 242 tr ilhão em 2018 .
oferecido pelas ins tituições pr i vadas , ela es t á sendo pau -
latinamente defenes trada em relaç ão aos recur sos materi - (ht tp://w w w.brasil.gov.br/economia- e- emprego/2018/01/
ais e humanos que lhes dever iam ser des tinados. Isso sig- saiba- quanto - o -pais-arrecadou- em-impostos-no -ano -
nif ica, em resumo, que mais de 90% da população brasileira pass ado ) *5
es t ará despreprarada para exercer as prof isões do f uturo,
dado que é notór io o desmonte das es tr uturas educ acio - A E DUC AÇ ÃO SE GUN D O A CONST I T U IÇ ÃO
nais nos di ver sos ní veis – da escola básic a a super ior, aos FEDER AL DE 1988 (*4)
centros de doutoramente, pós doutoramento e pesquisa da
uni ver sidades públic as sejam, elas federais , es t aduais ou Eis aqui um grande marco para a his tór ia do Brasil e da
municipais que cont am com es tes recur sos recolhidos dos E d u c a ç ã o B r a s i l e i r a . Em 5 d e o u t u b r o d e 19 8 8 , s o b a
impos tos pelos municípios , es t ados e da união. presidência de Sarney, foi promulgada a até ent ão, Car t a
M a g n a d o p a ís , Co n s t i t u i ç ã o F e d e r a l d e 19 8 8 (C F/ 8 8) .
O IBGE sis tematiz a todas ess as infor mações , monitorando Com a queda do Regime Milit ar, o país em processo de
e v e n t ua is a l te r a çõ e s n a D i v i s ã o Po l í t i co - A d m i n is t r a t i v a , redemocratização e uma nova Cons tituição promulgada,
através de atualiz ações anuais e realizou mais uma atual - a educação ganhou seu devido destaque como um direito
ização na lista de subdivisões municipais do país. A s tabelas social. É o que es t á dispos to no A r t . 6º da CF/198 8:
com essas informações estão disponíveis no Por tal do IBGE.
A Di v is ão Ter r itor ial Brasileira det alha a es tr utura ter r ito - A r t . 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimen -
r ial do país , enumerando as Macror regiões , Unidades da tação, o trabalho, a moradia , o transpor te, o lazer, a segu -
F ederaç ão, Mesoregiões , Microrregiões e Municípios , além rança , a previdência social, a proteção à ma ternidade e à
de suas subdi v isões internas , os dis tritos e subdis tritos ou infância , a as sis tência aos desamparados , na forma des ta
re g iõ e s a dminis t r a t i v as . O I B G E sis te m a t iz a to da s e s s a s Cons tituição. Redação dada pela Emenda Cons titucional nº
informações , monitorando eventuais alterações na Di v isão 9 0 , de 2015 . (BR A SIL , Cons tituição F ederal, 1988)
Político -Administrativa, através de atualizações anuais. (*2)
Além do acima mencionado, Ar t. 6º da Cons tituição
No levant amento referente a 2018 , a es tr utura ter r itor ial F ederal de 198 8 , o c apitulo abrangido pelos ar tigos 205
brasileira tinha 5. 56 8 municípios , mantendo es t a quanti - a 214 da mesma, trouxe a ideia da educ aç ão como um
dade desde 2013. Somam -se a esses municípios um dis trito comple xo de direi tos de to dos , e de vere s do E s t a do e
fe deral ( B rasí lia) e um dis t r i to e s t a dual em Per nambuco da famí lia a serem promov idos e incenti vados por toda
( F e r n a n d o d e N o r o n h a) . J á a s s u b d i v i s õ e s t o t a l i z a v a m a sociedade:
10. 49 6 dis tr itos municipais e 6 8 3 subdis tr itos ou regiões
a dminis t ra t i v as municip ais . Cont udo, a t ualmente o IB G E A r t . 205 . A educação, direito de todos e dever do Es tado e
refez c álculos e suas pesquis as e relatór ios indic am 5570 da família, será promovida e incentivada com a colaboração
municípios! (*3) da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o e xercício da cidadania e sua qualif ica -
A má notícia é que dos municipíos brasileiros , es tima -se ção para o trabalho. (BR A SIL , Cons tituição F ederal, 1988)
que menos de 5% tenham recur sos suf icientes para manter
os níveis de Educação necessários e suf icientes. Outra situ- Ressurgiu t ambém a ideia de uma lei contendo o Plano
aç ão bas t ante comple xa, resul t ante das recentes modi f i - Nacional de Educ aç ão, e uma di v is ão de competências
c a çõ e s qu e o a t ua l minis té r io da Eco n o mia f e z , a l é m d o p r e v i s t a n o A r t . 2 2 , i n c i s o X X I V (Co n s t i t u i ç ã o F e d e r a l
co r t e e d o co n ge l a m e n t o d e i n v e s t i m e n t o s p o r 2 0 a n o s de 198 8) na qual “c abe pr i vati vamente à União legislar
em áreas pr ior it ar iamente sociais como S aúde e Educ aç ão sobre as diretr izes e bases da educ aç ão nacional e con -
públic as já feit as no gover no Temer, e que vai deter iorar cor rentemente a ela, aos Es t ados e ao Dis tr ito F ederal,
ainda mais o quadro sofrível da educação pública brasileira, l e g i s l a r s o b r e a e d u c a ç ã o ”. Po r o u t r o l a d o, o a r t . 211
porque atinge diretamente os recursos e suas fontes prevê um regime de colaboraç ão entre os entes da fed -
para a Educ aç ão é o f im anunciado do Fundeb - Fundo de eraç ão de modo a assegurar a uni ver s alizaç ão do ensino
Manutenç ão e Desenvol v imento da Educ aç ão B ásic a e de obr igatór io.
Valor iz aç ão dos Prof issionais da Educ aç ão - (ht tp: // w w w.
f utura.org.br/ f undeb - o - que - e - e - para - que -ser ve / ). F ic a ent ão à União f inanciar ins t i t uições públic as bem
c o m o r e d i s t r i b u i r e s u p l e m e n t a r, a f i m d e g a r a n t i r
S ó e m 2 0 18 , R $ 15 7 b i l h õ e s f o r a m d e s t i n a d o s p a r a a p a drõ e s m í n im o s d e q ua li da d e d o e nsin o e i g ua l da d e
32 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

na opor tunidade de ensino, dando assistência aos e da c ategor ia prof issional dos professores , indo na contra
Es t ados e Dis tr ito F ederal técnic a e f inanceiramente, e mão da his tór ia.
aos Municípios , que f ic aram respons áveis pela atuaç ão
preferencial à educ aç ão infantil e f undament al. Des t a forma, o que f ic a para 2020? O Brasil possui quase 12
milhões de analfabetos e mais da met ade dos adultos entre
Entre os pontos pr incipais relati vos a educ aç ão, elenc a - 2 5 e 6 4 a n o s n ã o co n c l u í r a m o Ensin o M é d i o. S ã o q ua s e
d o s na C F d e 19 8 8 , p o d e m o s c i t ar o a ce s s o a o e nsin o dois milhõ e s de cr ianç as e jovens de 4 a 17 anos fora da
público obrigatório e gratuito pass a a ser direito público escola e 6 , 8 milhões de cr ianç as de 0 a 3 anos sem vaga em
subjetivo, o que impor t a responsabilidade da autoridade creche. Esse cenár io cr ítico é f r uto de anos de desc aso, em
públic a c aso o mesmo não seja oferecido ou seja ir regu - um país que nunca colocou a Educação entre as prioridades
lar a sua ofer t a (CF, 198 8 , A r t . 20 8 , 1º e 2 º ) , a obr igaç ão da agenda polític a nacional. Esse é o legado que f ic a para
da União a inves tir anualmente na educação, um mínimo 2020 e que o novo gover no tem a obr igaç ão de modif ic ar.
de 18% da receit a result ante de impos tos , bem como um
mínimo de 25% aos es t ados e municípios; a f ixaç ão de Para A less andra Got ti f undadora e presidente - execu -
conteúdos mínimos ao ensino f undament al em âmbi to ti va do Ins tituto A r ticule. Ad vogada e Doutora em Direito
nacional (CF, 1988, A r t. 210); a educação como um direito Constitucional pela PUC /SP. Consultora da Unesco e Conselho
de todos , dever do es t ado e da famí lia, devendo ainda Nacional de Educ aç ão, em entrev is t a a uma rev is t a, disse:
cont ar com a colaboraç ão de toda a sociedade (CF, 198 8 , “ o s d e s a f i o s s ã o m u i to s , a t é p o r q u e s ã o v á r i o s o s p r o b -
Ar t. 205); a atuação dos municípios no ensino fundamen - lemas da Educ aç ão e não é possí vel abordá - los de uma só
t al e na educ aç ão infantil; o ensino de 1º grau pass a a vez ness a entrev is t a. A brangem a equit ati va uni ver s aliz a -
denominar-se ensino fundament al e o ensino de 2 º grau, ç ão do acesso, da Educ aç ão Infantil ao Ensino Médio, tran -
ensino médio. si t an do p e lo direi to à apren diz agem e a garan t ia de p er-
m a n ê n c i a e s c o l a r. D i ze m r e s p e i t o à r e g u l a m e n t a ç ã o d o
De tudo isso aqui apresent ado algumas dúvidas, incer te - Sis tema Nacional de Educ aç ão, t ão necess ár ia para a ar tic-
zas e também cer tezas surgem, mas, ao que tudo indica a ulação e colaboração entre os entes federativos, à discussão
que mais incomoda é imaginar que o país , seguramente, do f inanciamento da Educ aç ão B ásic a (o prazo de v igência
entrará numa rot a descendente em relaç ão à Educ aç ão do Fundeb expira -se em 2020) , a for maç ão e atrati v idade
Pública a par tir dos cor tes que vem sendo feitos, compro - da c ar reira de professor. E faz par te t ambém da agenda da
metendo ainda mais e efeti vamente a qualidade (que já educação a melhoria da infraes trutura das redes de ensino,
es t ava c aindo), os necess ários e imprenscindí veis inves- já que, em pleno século X XI, 14 , 3% das escolas não possuem
timentos na es tr uturaç ão do parque tecnólgico – infor- energia elétr ic a, esgoto, água e banheiro dentro do prédio
matização - que deveria acompanhar o seu desenvolv im - e 55, 2% não possuem bibliotec a ou s ala de leitura! ” (*6)
ento, a v ida de milhões de jovens e cr ianç as , de famí lias

Fontes:

(*1) https://exame.abril.com.br/carreira/estas-sao-as-96-profissoes-do-futuro-segundo-o-forum-economico-mundial/

(*2) https://mundogeo.com/2019/02/04/ibge-atualiza-lista-de-municipios-e-distritos-do-brasil/

(*3) https://cidades.ibge.gov.br/brasil

(*4) https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988

(*5) http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2017-12/orcamento-de-2018-e-aprovado-com-previsao-de-gastos-de-r-357-trilhoes

(*6) https://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-educacao-brasileira-em-2019-linhas-e-cores

(**) https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/21206-ibge-mostra-as-cores-da-desigualdade

https://www.todospelaeducacao.org.br/

https://articule.org.br/

https://www.todospelaeducacao.org.br/
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 33

A RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA-ESCOLA


E O IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO DO ALUNO
e n t r e f a m í l i a e e s c o l a . E s s a presença
deve ser constante desde a Educação
Infantil, passando pelo Ensino
Fundamental e chegando ao Ensino
Médio - quando o adolescente
apresenta outras necessidades de
acompanhamento.

Muitas famílias acreditam que no

A
período da adolescência é possível
família é o nosso primeiro laço sujeito. Então acredito que aquilo se afastar da escola, dando mais
social, ocupando um lugar q ue a e s co l a p r o c u r a d e s e n v o l v e r d o autonomia aos filhos. Isso pode
especial na vida de qualquer ponto de vista de conduta, de valores ser entendido por muitas famílias
indivíduo, exercendo influência precisa ser compartilhado. O mais como sinônimo de afastamento do
significativa desde o nascimento. adequado é que esses dois campos cotidiano escolar e da presença física
É ela que oferece o primeiro andem paralelamente e construam n a e s c o l a . N o e n t a n t o , é i mport a nt e
am b iente de so cia liz aç ão d a c ri anç a, parcerias, possibilitando cada vez ressaltar que a mãe, o pai ou o
onde ela cresce segundo padrões, m ai s o d e s e n v o l v i m e n t o e m t o d o s o s r e s p o n s á v e l s ã o s e m p r e b em-vindos
comportamentos e influências aspectos, especialmente no que diz e d e v e m e s t a r p r e s e n t e s , nã o só em
culturais particulares. Dessa forma, re s p e i to à v i d a e s t u d a n t i l . reuniões ou festas do calendário
é p e rcebida co mo um s i s te m a s o c i al letivo. É importante se aproximar
responsável pela transmissão de Muitas vezes, é na escola que a dos pais, conscientizá-los por meio
valores, crenças, ideias e significados criança expressa determinados de momentos formativos, afinal
q ue estão presentes nas s o c i e d ad e s . comportamentos, alguns, inclusive, são em momentos como este que
que não são percebidos em casa. comunicamos o trabalho que está
A escola também cumpre um lugar Nesses momentos é possível sendo feito.
primordial para o ser humano. É o b s e rvar , p o r e x e m p l o , a h a b i l i d a d e
nela que o indivíduo dará início à d e ne g o c i a ç ã o e o r e s p e i t o , e o u t r a s D e s t a f o r m a , é p o s s í v e l q u e t oda s a s
socialização com outras pessoas, q ue s tõ e s q u e v ê m à t o n a q u a n d o e l a partes tenham voz e ajam dentro dos
que extrapola o círculo familiar. está em grupo. Além da dimensão s e u s l i m i t e s , r e s p e i t a n d o o luga r do
Nesse contexto, a escola surge formativa, situações como essa outro. No cotidiano da vida escolar,
como uma instituição que ajuda a precisam ser trabalhadas dentro da vão revelando crenças, valores e
moldar a constituição do aluno e, por e s c o l a, a s s i m c o n s e g u i m o s p e r c e b e r c o s t u m e s . A c r i a n ç a p a s s a a receber
consequência, influencia diretamente quando é preciso amparar e dar influência de ambas as instituições
na evolução da sociedade e da acolhimento a uma necessidade e a influenciá-las também. Assim, é
h u m anidade. do aluno, que muitas vezes não é f u n d a m e n t a l q u e a e s c o l a e a f a mília
i d e nti f i c a d a p e l a f a m í l i a . se alinhem às necessidades do aluno,
Assim, a fa mília e a e s c o l a c um p re m colocando estes como foco principal.
dois papéis que se complementam no É também nesse momento que
contexto da educação. O envolvimento o professor se coloca como um Sabemos que existem desafios a
de ambas afeta diretamente o orientador, oferecendo, além de serem enfrentados, mas quando o
desempenho escolar e a qualidade conhecimento, conselhos, limites e b i n ô m i o f a m í l i a -e s c o l a e s t á a linha do
das relações que o aluno mantém regras, abrangendo a totalidade do e m t o r n o d e u m m e s m o o bjet ivo, os
c om a esco la. No entanto , ai nd a s ão indivíduo. Neste ponto, a família pode la ç os s e for ta lec em . As s im , a brem-se
m uit os o s desa fio s enc o ntrad o s p ara se fazer presente no sentido de auxiliar n o v o s h o r i zo n t e s e p o s s i b i lida des de
essa a pr o xima ção , o q ue p o d e e s tar no atendimento à criança, trazendo melhora no desempenho acadêmico e
ligado intrinsecamente às divisões de a experiência familiar e podendo social do aluno e da atuação na escola
responsabilidades de cada instituição, dialogar sobre o melhor caminho a p a r a o p o r t u n i za r e s s e r e s u lt a do.
questão crucial para sustentar uma s e gui r. A s s i m , a e d u c a ç ã o , d e f o r m a
vida esco lar fav o ráv e l . m ai s am pl a , é u m a r e s p o n s a b i l i d a d e
conjunta, que se complementa e se
Existe a expectativa de que a escola se to rna m a i s e f i c a z c o m a p a r t i c i p a ç ã o
responsabilize pelo que a família não d e am b as e m p a r c e r i a . Viviane Flores
daria conta, que é a função acadêmica. Diretora educacional da Rede Marista de
Porém, há uma camada compartilhada, P ara q ue e s s a p a r c e r i a s e j a f l u i d a , é Colégios (RMC)
que diz respeito à formação do desejável proximidade e integração www.colegiosmaristas.com.br
34 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

RACISMO, INFÂNCIA
E ESCOLA: A QUEM
SERVE ESTE DEBATE?
Desenho dado de presente. De acordo com
uma criança esta sou eu (mesmo não sendo
loira). Segundo a criança, “loira eu fico
muito mais bonita”.Folha A4, caneta hidro-
cor e lápis de cor, 2014*.

professoras e da cultura escolar, crian-


ç as negras de c abelo crespo deveriam
se enquadrar nas nor mas da branqui -
tude. A inda que as professoras , coor-
denadoras não falassem sobre isso
comigo de maneira explicita isso
e s t a v a da d o n e s t e s m o m e n to s e e m
t an to s o u t ro s . Eu , e n quan to mulh e r,
professora e pesquisadora branca
t ambém só f ui atent ar a isso uma vez
qu e m e u o lhar foi re f ina d o p ara t al ,
pois , nunc a sof r i es se t ipo de agres -
s ão na minha v ida pessoal. Por isso é
impor t ante um ref inamento do olhar

S
ou professora da rede es t adual a t e n ç ã o e m 2 010 q u a n d o t r a b a l h e i (que pass a por um letramento
de S ão Paulo desde 20 07 da dis- com assessor ia pedagógic a e for ma - racial).
ciplina de Sociologia e passei por ç ão de professora de creches e EMEIs
vários segmentos na área da educação em Os asco. A par tir des te momento Par tindo des te cenário, desenvolvi
(professora de Ensino f undament al e percebi que as cr ianç as negras rece - uma disser t aç ão de mes trado conclu -
médio, o trabalhei com adolescentes biam um tratamento diferenciado das ída n o a n o d e 2016 n a Fa c ul da d e d e
na Fundação Casa, como formadora de professoras, sobretudo quando Educação da USP dentro de uma escola
profe s s ore s e coordenadore s na Dir. envolvia o trato com os cabelos públic a na cidade de S ão Paulo, com
de Ensino de Osasco, e atualmente c re sp o s (que e ram p e n tea do s sis te - cr ianç as de 4 e 5 anos. Busquei com -
como for madora de ge s tore s e s cola - mática e dolorosamente nos f inais da preender como as cr ianç as lidam com
re s e e duc a c ionais em um prog rama tarde, antes da mãe chegar para o racismo e utilizei os desenhos como
de alcance nacional que visa melhorias busc ar). Todas as cr ianç as (branc as e ar tefatos culturais para aproximar
na e d u c a ç ã o d e di v e r s o s m uni c í p io s n e g r a s) p a s s a r a m p o r e s t e r i t u a l , d e s t a r e a l i d a d e. Pa r a t a n t o, r e a l i ze i
pelo Brasil). porém, as negras sem dú v ida sofriam um trabalho de obser vação que durou
mui to mais com a e xper iência , pois , 18 meses, cujo alguns result ados com-
A temática racismo me chamou a de acordo com as normas padrões das par tilho nes te mater ial.

1 Letramento racial refere-se a um termo semelhante ao letramento na alfabetização. Profissionais da educação teriam maior sensibilidade
e empatia para lidar com as diferenças no que tange as questões étnico raciais caso conheçam e se apropriem dos debates raciais que estão
acontecendo na contemporaneidade. A partir daí será possível identificar e pensar sobre nossas atitudes racistas (e naturalizadas) do dia a
dia e parar de reproduzir isso com as crianças e com seus pares.
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 35

“As conversas sobre os


cabelos com as meninas
se toraram tão im p or-
tantes para pensar e
escrever sobre a questão
é tn i c o -r a c i a l q u e n ã o
poderiam passar “em
branco”, mereceram um
capítulo inteiro para que
a que st ão fos se p rob-
lematizada de modo
mais aprofundado. “

F o to d e E y e f o r E b o n y d o Un s p l a s h

Desenvolvimento - A nalis ar as repre - ções do trabalho de campo. não s ão apenas coincidências quando
sentações sobre negros e negras as cr ianç as fazem, major it ar iamente,
encontradas em desenhos elaborados Outra questão importante que traçados de cabelos lisos em seus
por crianças da educação infantil, aparece de maneira constante é o não desenhos ou não preenchem a cor de
pode indic ar que di ver sos elementos preenchimento da cor da pele nos pele.
fundamentais para o debate étnico desenhos colet ados. Isso pode inferir
racial, este para além das minhas que para as cr ianç as não é necess á - A s conver s as sobre os c abelos com as
expec t ati vas , ex trapolavam as barrei - rio pint ar a cor da pele em seus dese - meninas se toraram t ão impor t antes
ras das representações gráf icas – n h o s , p o r a c r e d i t a r e m q u e a co r j á para pensar e escrever sobre a questão
apontando para outros caminhos está ali subentendida – o branco – étnico -racial que não poderiam passar
como o que diz respeito à relação pois o próprio papel branco já é o pre - “em branco ”, mereceram um c apítulo
entre as crianças, as quais exibem enchimento da cor da pele nos dese - inteiro para que a ques t ão fosse pro -
pontos de vista e maneiras de compre- nhos de uma sociedade que se bran - b l e ma t iz a da d e m o d o ma is a p rof un -
ender e express ar o que é ser negro e queia socialmente. Es te debate sobre d a d o. O s d e s e n h o s , c o m p r e e n d i d o s
negra, que transpõem os traçados dei- a suposta neutralidade do branco como ar tefatos culturais, indicaram de
xados sobre papel; de como os cabelos está presente nos estudos sobre maneira incisi va como as represent a -
p o s s u e m u m a r e p r e s e n t a ç ã o i m p o r- branqui t ude (como já ci t ado acima) , ções de negras e negros ainda
t ante dentro e fora dos traç ados grá - e que se referem, essencialmente, ao merecem mais atenç ão sejam em pos-
f icos; e como a atuaç ão da escola e da imens o p e s o s ocial implíci to de que teriores pesquisas ou com o olhar
professora da turma (que era uma pro - brancos não per tencem a alguma a ten to de profe s s oras e profe s s ore s
fessora negra e ati va dentro do mov i - raça, mas são o padrão a ser em suas práticas cotidianas, sendo
mento negro) pesquisada andavam em seguido. necessário sua inclusão nas escolas de
dissonância, quando o assunto tratava e duc aç ão infant il p ara s erem pens a -
de ques tões étnico - raciais. Os desenhos estão em conjugação das de maneira trans versal e coti-
com as histórias contadas pelas crian- diana. A penas se elei t a pau t a pr ior i -
A temática dos cabelos foi uma das ç as ao realizá - los , por t anto, obser vei t ár ia podemos come ç ar a pens ar em
questões fundamentais, sobretudo em diversas vezes as mesmas não superar o caráter racista de tão impor-
p ara as m e ninas . Tan to nas image ns dando impor t ância a pint ar a cor da t ante ins tituiç ão.
gráf icas, quanto na relação entre elas, pele, ou quando quer iam fazê - lo, uti -
nas br inc adeiras com seus pares e na liz avam o famoso “ lápis cor de pele ” Em b o r a m u i to s p e n s e m q u e d is c u t ir
relação com adultas e adultos do para o preenchimento. A cor da pele questões étnico-raciais no Brasil
e sp aço. E s te elemento nos mos t rava e o c abelo revelam -se como elemen - es teja superado (de v ido à per sis tên -
com nitidez que seria um dos mais tos signif ic ati vos ao toc ante da pes- cia do mito da democracia racial na
impor t antes ícones no entendimento quis a.192 desenhos foram colet ados a t u a l i d a d e) , r e a l i z a r u m a p e s q u i s a
acerc a do que as cr ianç as compreen - dos quais 92 trazem a temática cuja proposta investigativa esteve
diam sobre ques tões étnico -raciais, c abelos lisos e apenas 3 contém pre - No cot idiano e s colar mais amplo, ou
estando em muitos momentos no enchimento da cor da pele em seja, no res t ante do cor po docente e
centro das discussões e das obser va - mar rom. Es tes números indic am que discente, o diretor e f uncionár ios da
36 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

centrada nas crianças de 4 e 5 evi- “Não é justo, nem tam- apenas em datas especiais dedica-
denciou que questões étnico-ra- das ao combate ao racismo (como por
ciais não se cons tituíram como temá - pouco eficaz, que a e xemplo o 20 de Novembro – D ia da
tica relevante e generalizada na responsabilidade dessas Consciência Negra), e sim em todos os
E M E I p e s q u i s a d a: s e j a n a s r e l a ç õ e s dias , inclusi ve levando sua bibliotec a
entre elas, ou ainda na obser vação mudanças profundas par ticular para dentro da s ala.
sobre o que elas desenham. de p endam unicamente
A f igura de professora heroína, se por
Modif icar esse quadro atual, no Brasil, da ação de docentes um lado, mos tra o quanto iniciati vas
to r n a - s e in d is p e ns á v e l p e l o r a c is m o conscientes e engajados simples e individuais podem ques-
estrutural com o qual convivemos tionar/modi f ic ar dinâmic as f undadas
diar iamente. Nes te trabalho di ver s as na luta antirracista.“ em preconcei tos at áv icos , por outro,
questões se entrelaçam, e algumas denota que a lei não é efetiva, pois não
delas ganharam des t aque pela for ma se tornou (ainda) norma, diretriz geral
em que aparecem ao longo des t a dis- identif ic ar como a socializ aç ão infan - na e s cola inteira . Por is s o, é imp or-
ser t aç ão. De for ma mais ev idenciada til acontece dentro de uma sociedade t ante que noss a análise não se limite
cit amos três , a s aber, o racismo ins ti - racista, patriarcal e capitalista. A s ap enas a um tom celebra t i vo de s s as
tucional, o qual se ref lete nas repre - crianças, sujeitos que of icialmente in i c ia t i v a s c r ia t i v a s e t r a ns f o r m a d o -
sentações dos desenhos das crian- não es t ão inseridas no sis tema capit a- r a s d e p o u co s p r o f e s s o r e s , p o i s , n o
ças; o modo como o cabelo crespo lista de maneira rígida (por não produ- f im das cont as , t al v iés respons abiliza
das cr ianç as negras s ão compreendi - zirem) , além de es t arem sob cuidados únic a e indi v idualmente os professo -
dos dentro e fora da turma pesquisada cons t antes - na maior ia das vezes de res no combate ao racismo no âmbito
e a maneira como a Lei 10.639\ 20 03 mulheres , sejam elas mães e no c aso e s c o l a r, t a n t o n o q u e s e r e f e r e a o s
foi, ou não, efeti vada dentro da EMEI. do ambiente escolar de profes soras conteúdos e também a socialização
A s que s tõ e s co l o c a das n e s te e s t u d o mulheres e especif ic amente da tur ma de cr ianç as negras e branc as. Ora, se
remetem, por t anto, ao tr ipé (patr iar- pesquis ada professoras negras. a escola se cons tituiu his tor ic amente
c a l , r a c i s t a e c a p i t a l i s t a) , n o q u a l como uma ins tituição racis t a e na qual
nossa sociedade foi fundada e cuja A s p r á t i c a s p e d a gó g i c a s a f r o ce n t r a - apenas a epis temologia eurocêntr ic a
ordem atual es t á assent ada. das realizadas pela professora da era e é valorizada, cabe também à
turma obser vada se constituem em escola combater o racismo ins titucio -
Numa tentativa de subver ter esta uma pedagogia antirracis ta que no nal e contr ibuir ati vamente na for ma -
ordem essencialmente desigual, ao contex to da EMEI é t ambém solit ár ia, ção de cidadãos. Não é justo, nem tam-
longo da pesquis a, f iliei - me às lógic as uma vez que, apenas ela e a professora pouco ef ic az , que a respons abilidade
que busc am a contes t aç ão e supera - do período da manhã es t avam atent as dessas mudanças profundas depen-
ção de tais estruturas. A s crianças e comprometidas com a efeti vaç ão da dam unic amente da aç ão de docentes
foram ou v idas como informantes legí- L e i 10 . 6 3 9 / 0 3 n o c o t i d i a n o e s c o l a r. conscientes e engajados na lut a antir-
timas, a par tir das quais seria possível Desta maneira, ela não trabalha racis t a.

F o to d e b r u c e m a r s d o Un s p l a s h
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 37

EMEI pesquis ada e não encontramos ins t i t ucional p o de imp a c t ar e con di - “No âmbito da
indícios de efeti vaç ão da propos t a da cionar a vida social desde muito cedo.
referida lei. Neste sentido, no con- Impondo lugares a serem ocupados escola investigada,
texto da não aplicação da lei hierarquicamente por crianças e constatamos que a
1 0 . 6 3 9 \ 2 0 0 3 n a u n i d a d e e s c o l a r, adultos, negros e brancos. Mesmo
m e s m o i n i c i a t i v a s i s o l a d a s co m o d a assim, as cr ianç as busc am, no seu dia omissão dos ges-
professora pesquis ada s ão prejudic a -
das. O racismo ins titucional prejudic a
a dia, saídas para compreender tal rea-
lidade, transgridem e reagem de diver-
tores da EMEI foi
iniciativas individuais, pois estas sas maneiras quando o mundo oferece a princip al caus a
acabam tornando -se “ilhas ” antirracis- espelhos nos quais muit as não conse -
t as numa ins tituiç ão racis t a. guem se en xergar. A par tir do uso de
para que a temática
cer tos termos, de compor tamentos étnico-racial fosse
Como o exemplo de uma menina negra que apont am para padrões es téticos
que foi de c abelo solto para a escola únicos que aprisionam e violentam escamoteada
e passou por uma situaç ão cons tran -
ge d o r a: a p ó s co n s e g u i r o re s p e i to a
cr ianç as cujos processos de subjeti v i -
dade a par tir de uma auto -imagem
n a q u e l a co m u n i-
seus cabelos crespos, dentro da turma, des valorizada considerada errada, dade escolar.“
a menina (ao pis ar para fora da s ala) falhada s ão impac t ados de modo v io -
foi hostilizada por funcionárias e pelas lento e cr uel desde a pr imeira infân -
outras crianças. A ssim, es t a “ ilha ” que cia. Embora atualmente poss amos ver
se faz presente na tur ma da s ala pes - movimentações em coletivos de da escola interessam pensar sobre
quisada, tende a submergir aos mulheres negras que têm promov ido ques tões étnico raciais? Professoras e
poucos, desaparecendo eventual- desloc amentos no toc ante à compre - professores negros (apenas) necess a -
mente, pois , a falt a de apoio e incen - ens ão do que é ser mulher negra no riamente precisam dar conta desta
ti vo por par te da ges t ão escolar tende Brasil, o c aso da EMEI analis ada é um temátic a de maneira isolada? Qual é a
a gerar desânimo e frustração ou indício de que t al compreens ão ainda parcela de corresponsabilidade de
mesmo um cer to isolamento no que se não per pass a as diferentes es feras e pessoas brancas (sobretudo que es tão
refere à relaç ão da professora com o setores sociais brasileiros a ponto de a frente da gestão escolar e em
res t ante do corpo docente porque, na atingir as meninas da referida espaços for mati vos) de coloc arem em
m a i o r i a d a s v e ze s , e l a é v i s t a co m o escola. paut a es t a temátic a dentro das s alas
uma das “professoras chat as ”, que só de aula, nos espaços for mati vos junto
falam do mesmo assunto. Vale ress al - Dentre di ver sos desenhos colet ados e a professoras e professores e na abor-
t ar que esse aspec to nada mais é do conver sas com as crianças foi possível d a g e m c o m a c o m u n i d a d e e s c o l a r?
que outro sintoma de que o problema compreender que ainda não existe Para além de uma educ aç ão inclusi va
do racismo não é v is to como um pro - uma representatividade da f igura é preciso pensar em uma educação
blema coleti vo o qual dever ia interes- negra que seja satisfatória para antirracis t a, pois , es te é um problema
s a r a t o d a c o m u n i d a d e e s c o l a r. meninos e meninas de 4 e 5 anos. Es te de toda a sociedade: de quem pratic a
trabalho que valor iz a a obser vaç ão, o e de quem sofre o racismo. Minha
Considerando que at ualmente e x is te olhar e os relatos das cr ianç as como experiência (como professora, ges tora
far to mater ial que auxiliam os prof is- informantes legítimos para tecer o e f o r m a d o r a d e ge s t o r e s e s c o l a r e s)
si o n a is da e d u c a ç ã o n o p ro ce s s o d e panorama de como as ques tões étni - que es t a ainda é uma temátic a ex tre -
seu próprio letramento racial e co -raciais estão sendo tratadas dentro mamente invisibilizada , de menor
indicam variadas estratégias para a da ins tituiç ão educ acional, revela que impor tância ou que só interessa a
efet i vaç ão da Lei 10.6 39, concluímos para além de boas prátic as exercidas quem sofre com isso. A pesquisa
que não é por falt a de supor te peda - por docentes como a professora supra- cit ada nes te ar tigo foi realiz ada entre
gógico ou acesso à conteúdos concer- cit ada, elas não devem ser isoladas da os anos de 2013 e 2014 , uma época em
nentes à África e ao afro -brasileiro. No ins tituição, pois não consolidam, a Lei que hav ia um outro contex to político
âmbito da escola inves tigada, cons t a - 10 . 6 3 9 \ 2 0 0 3 n a p r i m e i r a e t a p a d a no âmbito municipal, estadual e
t amos que a omiss ão dos ges tores da educ aç ão básic a, falhando, por t anto, federal. O cenário político atual indica
EMEI foi a pr incipal c aus a para que a na superaç ão do racismo brasileiro. uma intenção de deslegitimar o debate
temát ic a ét nico - racial fos se esc amo - étnico-racial, porém, como houve
teada naquela comunidade escolar. Co n s i d e r a ç õ e s f i n a i s - D i a n t e d e s t e avanços até o presente momento,
cenár io, é impor t ante parar mos para retroceder t al vez não seja uma opç ão
No tocante à infância esse estudo p ens ar a quais a tore s s o ciais dent ro v iável.
t ambém des vendou cer t as for mas de
compreender o mundo a par tir de uma
supos t a neutralidade que, por muit as
vezes , paut am t anto a ideia de infân - Ana Carolina B.A. Farias
cia pura , que não e s t á cone c t ada ao
Mestra em Sociologia pela USP. Professora do Ens. médio da Rd Pública de SP.
que acontece na sociedade, quanto
para perceber que o racismo anacarolsa@gmail.com
38 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

IPCA
(ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO)
VOCÊ SABE O QUE É INFLAÇÃO?
EDUCAÇÃO E ECONOMIA

N
o dicionário de eti-
mologia – que explica
como se formam as
p a l a v r a s (d e r i v a ç ã o, j u s t a -
posiç ão, etc) e de onde vêm
(or igens la t inas , g re gas ,
persas, árabes, orientais,
e t c) o t e r m o i n f l a ç ã o v e m
d e i n c h a r, i n f l a r, e n t r e
outras definições. E no
dicionário comum, aquele
que diz o que c ada palav ra
significa, inf lação é, em
s e n t i d o e c o n ô m i c o , p o r-
tanto o que impor ta aqui
e agora, o desequilíbrio
carac terizado pela alta de
p r e ço s e p e l a d e s v a l o r i z a -
ç ã o da m o e da – o cor ren do
ao mesmo tempo.

Ela se calcula a par tir dos


dados e result antes de pes-
quis as co mp ar a t i v a s f e i t as
em períodos específ icos
sobre as variações que os

preços dos produtos de consumo sofrem em função de de seu dia-a- dia. O entendimento é básico – se não
fatores que, em tese, fogem do controle humano. Em seguida e s t á na lis t a nã o tem con t role de pre ços , e p or t an to,
se faz uma análise do valor e da c apacidade da moeda cor- sua var iaç ão não impac t a os c álculos do índice. F eijão
rente – nosso c aso o Real – de comprar aqueles produtos – e a r r oz , p o r e xe m p l o , n ã o e s t ã o n a l i s t a , p o d e m s e r
com a mesma quantidade de dinheiro (a moeda) o consumidor a s s i m co n s i d e r a d o s v i l õ e s e c a u s a r r o m b o s n o o r ç a -
continua comprando a mesma quantidade de deter minado mento das famí lias , as sim como c ar ne s (e xce to
produto? Eis o fator índice de var iaç ão de preços (I V P). p i c a n h a e c u p i m) e o v o s , p ã e s e l e i t e , a ç ú c a r, c a f é ,
m a c a r r ã o co m u m , e n e n h u m j o r n a l v a i co m e n t a r (o u
A base para a escolha dos produtos e ser viços que vão s e j a , s e m p r e d i r ã o q u e a i n f l a ç ã o e s t á c o n t r o l a d a) .
compor a cesta de consumo do IPC A - e que terão seus
preços monitorados para o c álculo do índice - é a Pesquis a A ques tão é: com base em quais cr itér ios de realidade,
de O rç amen tos Familiare s ( P O F ) . É e la que apura os i tens necessários e suf icientes, este conjunto de fatores
mais consumidos pela populaç ão e quanto do rendimento e produtos entrou na composição desta cesta, e se
familiar é gas to em c a da um de le s . “ Ent ão, a quele s i tens ele ref lete, verdadeiramente, a condição de vida de
q u e tê m ma is p e s o n o o rç a m e n to da s f a m í lia s v ã o e n t r a r grande par te da população brasileira e seus hábitos
com mais força no cálculo da inf lação” diz Gus t avo V it ti, para reais de consumo de acordo com seus ganhos mens ais ,
comp or o ín dice IP C A que mensura a ele v aç ão dos c us tos mas que vê seu poder de compras diminuindo cada
das famí lias que ganham de um a 4 0 s alár ios , desde 198 0. vez mais, sem que haja a reposição efetiva destes.

Des t a for ma, conv ido o leitor a ler com atenç ão es t a t abela Fonte: IBGE - ht tps:// w w w.youtube.com/ watch? v =LYokQ7iT-
e ver quais s ão os produtos que ele consome com regular i - sI0&fea ture = youtu.be
dade e que es t ão presentes na lis t a de suas necessidades ,
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 39

GOVERNANÇA ECONÔMICA -
UMA PEDAGOGIA DA ECONOMIA
POR UMA ECONOMIA
A SERVIÇO DO
BEM COMUM

O
mundo está mudando
rapidamente, estamos
evoluindo para um novo
sist e ma de o r ganizaç ão e c o nô m i c a e
social. O que se torna evidente, é a
busca de novos caminhos. O Papa
Francisco chamou uma reunião
mundial para março 2020, na linha da
Economia de Francisco*¹, visando
uma economia que volte a nos
servir .

Jun t ar am- se já A ma rtya S e m , J o s e p h


Stiglitz, Mohammad Yunus, Jeffrey
Sac h s, Ka te Ra wo rth e o utro s no m e s
de primeira linha mundial. Em
setembro, 181 das maiores
corporações mundiais, Amazon,
Johnson&Johnson, Apple e outros
gigantes, firmaram um pacto de
mudança de rumos, com o
c om pr o misso de pa s s ar a re s p e i tar o
meio-ambiente, o interesse dos
trabalhadores e das comunidades e razoavelmente distribuído, 206 bilionáros do Brasil têm um
assim por diante. Em outubro 130 asseguraria 3700 dólares por mês por patrimônio de 1,2 trilhão de reais em
bancos de grande porte assinaram um família de quatro pessoas, 2019, isso que representam 0,00001%
compromisso semelhante em seis e q ui val e n t e s a 15 m i l r e a i s . O Br a s i l da população. São essencialmente
eixos, basicamente visando servir a esta precisamente nesta média manejadores de bancos, fundos,
economia real. A OCDE está mundial, não há nenhuma razão p a r t i c i p a ç õ e s , h o l d i n g s f i n a nceira s e
elaborando um primeiro pacto, o econômica para não assegurarmos outras formas de acumulação
BEPS (Base Erosion and Profit uma vida digna e confortável para financeira, contam-se nos dedos os
Shifting), que permita ter algumas todos. Nosso problema não é de que efetivamente produzem algo. A
regras de jogo básicas na economia capacidade de produção, e sim de desigualdade está explodindo no
m un dial. A busca de no vo s c am i nho s s ab e r o q u e p r o d u zi m o s , p a r a q u e m , m u n d o , e p a r t i c u l a r m e n t e no B ra sil.
é hoje geral. Como escreve Paulo e com que impactos ambientais. O
K liass , há um cheir o d e m ud anç a no grand e d e s a f i o é o d a g o v e r n a n ç a d o No plano ambiental, a mudança
ar. s i s te m a. climática, a liquidação da vida nos
mares e em terra – perdemos 52% dos
O “Norte” é relativamente claro. O mundo que enfrentamos se vertebrados em apenas 40 anos – a
B usc amo s uma eco n o m i a q ue s e j a a caracteriza por crescente e dramática perda de cobertura florestal, a
serviço do bem comum, o que implica d e s i g ual d a d e , c o m 1% d e t e n d o m a i s c o n t a m i n a ç ã o q u í m i c a g e n era liza da ,
que seja economicamente viável, mas riqueza do que os 99% seguintes, e a poluição da água doce, a inundação
também socialmente justa e 26 famílias com mais do que a metade dos plásticos e tantos outros
ambientalmente sustentável. Este mais pobre da população, 3,8 bilhões p r o c e s s o s d e s t r u t i v o s e s t ã o leva ndo
triplo objetivo define um novo de pessoas. No Brasil 6 famílias a uma catástrofe ambiental
equilíbrio e uma outra forma de ac um ul ar a m m a i s r i q u e za d o q u e o s generalizada. E não se trata de futuro
organizaçã o . O pro b l e m a não é o d e 105 milhões na base da pirâmide. A distante, está acontecendo. A
falta de recursos. No mundo se desigualdade atingiu níveis destruição da Amazônia em curso
produz anualmente 85 trilhões de eticamente, politicamente e representa um aspecto apenas do
bens e serviços por ano, o que, economicamente insustentáveis. Os drama global.
40 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

Assim, o desafio está no próprio de uma visão geral de que algumas


“ Te m o s , a s s i m , d e processo decisório, em como coisas não podem faltar a ninguém,
enfrentar o duplo definimos, regulamos e orientamos o uma forma simples e direta, em
uso dos nossos recursos. A economia p a r t i c u l a r c o m a s t é c n i c a s moderna s
desafio da redução te m d e vo l t a r a s e r v i r o b e m c o m u m . de transferência, é assegurar um
da desigualdade, por- Não se trata de elencar as nossas mínimo para cada família. Não se
desgraças, mas de nos concentrarmos trata de custos, pois a dinamização
tanto de uma democ- nos desafios organizacionais, de do consumo simples na base da
ratização da economia, governança, que permitam resgatar sociedade dinamiza a economia,
os rumos, de parar de destruir o restabelecendo o equilíbrio
e da redução do ritmo p l ane ta em p r o v e i t o d e u m a m i n o r i a o r ç a m e n t á r i o , c o m o s e v i u no B ra sil
de destruição da base que acumula capitais improdutivos. A e em outros países.
mudança de rumos, ou resgate do
natural da nossa sobre- mínimo necessário, pode ser 5) Políticas sociais de acesso
vivência, evoluindo d e s e nhad a e m a l g u n s p o n t o s c h a v e : universal, público e gratuito: o
acesso à saúde, educação, cultura,
para uma economia segurança, habitação e outros itens
circular sustentável. “ 1) Democracia econômica: trata-se básicos de sobrevivência devem fazer
de resgatar a governança corporativa, parte das prioridades absolutas. Não
sistemas transparentes de se trata de custos, e sim de
Temos, assim, de enfrentar o duplo informação, e de gerar maior investimentos nas pessoas, que
d e safio da r eduçã o d a d e s i g ual d ad e , equilíbrio entre o Estado, as dinamizam a produtividade e liberam
p ort a nto de uma de m o c rati z aç ão d a corporações e as organizações da recursos das famílias para outras
ec ono mia , e da reduç ão d o ri tm o d e sociedade civil. Não haverá formas de consumo. O acesso aos
d e st ruiçã o da ba se natural d a no s s a d e m o c rac i a p o l í t i c a s e m d e m o c r a c i a b e n s p ú b l i c o s d e c o n s u m o colet ivo é
sobrevivência, evoluindo para uma econômica. A desigualdade, a partir tão essencial como o dinheiro no
economia circular sustentável. O de um certo nível, torna as bolso.
nosso Titanic planetário tem esses s o c i e d ad a d e s i n g o v e r n á v e i s .
d ois i ceber gs pela f re nte , m as q ue m 6) Desenvolvimento local integrado:
está pilotando o navio são alegres 2) Democracia participativa: os somos populações hoje
banqueiros, bêbados de dinheiro, processos decisórios sobre como essencialmente urbanizadas, e o
gritando “Greed is Good”, como vimos definimos as nossas opções, como essencial das políticas que asseguram
em Wall Street. Até eles, priorizamos o uso dos nossos o bem-estar da comunidade e o
aparentemente, estã o ac o rd and o . recursos, não podem depender manejo sustentável dos recursos
ap e nas d e u m v o t o a c a d a d o i s o u a naturais deve ter raízes em cada
Sab e mo s o que deve s e r f e i to : o s 1 7 cada quatro anos. Com sistemas município, construindo assim o
objetivos do desenvolvimento adequados de informação, gestão equilíbrio econômico, social e
su st e ntáv el ( Agenda 2 0 3 0 ) o d e f i ne m descentralizada e ampla participação ambiental na própria base da
claramente. Temos os recursos da sociedade civil organizada
financeiros: apenas nos paraísos precisamos alcançar um outro nível
fisc ais , o s 20 tr ilhõ es d e d ó l are s q ue de racionalidaded na organização
re su lta m de evasão f i s c al , c o rrup ç ão econômica e social. As novas
“A economia tem de
e lavagem de dinhei ro , re p re s e ntam tecnologias abrem imensos potenciais voltar a ser vir o bem
200 vezes os 100 bilhões que na q ue s e tra t a d e e x p l o r a r .
Conferência de 2015 em Paris se
comum. Não se trata
decidiu alocar para as políticas 3) Taxação dos fluxos financeiros: de elencar as nossas
ambientais. Temos grande riqueza de essencial para assegurar a informação
informações sobre cada problema do sobre os capitais especulativos, e
desgraças, mas de nos
p lan eta , o s dr amas es tão l o c al i z ad o s para que os recursos financeiros concentrarmos nos
e q ua ntifica do s. E tem o s tam b é m as sirvam para financiar tanto a redução
tecnologias que hoje permitem da desigualde como para estimular
desafios organizacio-
transitarmos para outras matrizes de processos produtivos sustentáveis. nais , de governança,
transporte, de energia, e dos próprios Na re al i da d e o s s i s t e m a s t r i b u t á r i o s
processos produtivos. Não é, no seu conjunto devem servir ao
que permitam resgatar
p ort a nto , po r falta de m e i o s q ue no s maior equilíbrio distributivo e à os rumos, de parar de
afundamos, e sim pelas deformações p ro d uti vid a d e m a i o r d o s r e c u r s o s . A
p olít icas de co mo ge ri m o s as no s s as política tributária constitui uma das
destruir o planeta em
ec ono mia s. A quest ão c e ntral é um a principais ferramentas de resgate dos proveito de uma minoria
questão de poder. No poder estão e q ui l í b ri o s .
justamente os grupos que estão
que acumula capitais
gerando o s pro blemas . 4) Renda básica universal: no quadro improdutivos. “
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 41

sociedade. O Brasil, com 5.570


municípios, não pode ficar esperando
d e c isõ es de nív el mi ni s te ri al , e o nd e
fu n c io nam, as po líti c as p úb l i c as s ão
fort e mente descentr al i z ad as .

7) Sistemas financeiros como


serviço público: o dinheiro que
manejam os sistemas financeiros tem
origem nas nossas poupanças e
impostos, constituem recursos do
público, e neste sentido devem
responder às necessidades do
desenvolvimento sustentável. Bancos
públicos, bancos comunitários,
cooperativas de crédito e outras
soluções, como moedas virtuais
diversificadas, são essenciais para
que as nossas opções tenham os
recursos correspondentes. Os
atravessadores financeiros e
comerciais paralizam o
desenvolvimento, como estamos
ve n d o no Brasil no s úl ti m o s 5 ano s .

8) Economia do conhecimento: o de comunicação gera deformações análise do mundo econômico real, de


conhecimento hoje constitui o insustentáveis, climas de acerbamento maneira a formar gestores
principal fator de produção. Sendo de divisões e aprofundamento de competentes de uma economia
imaterial, e indefinidamente ódios e preconceitos. Uma sociedade v o l t a d a p a r a o b e m c o m u m.
reproduzível, podemos gerar uma informada é absolutamente essencial
sociedade não só devidamente para o próprio funcionamento de uma Os pontos acima constituem eixos de
informada, mas com acesso universal economia a serviço do bem comum. mudança para uma outra economia,
e gratuito aos avanços tecnológicos Tanto a i n d ú s t r i a d e f a k e -n e w s c o m o m a s n ã o p a r t i m o s d o ze r o . I númera s
mais avançados. Temos de rever o o fake-jornalismo da grande mídia e x p e r i ê n c i a s p e l o m u n d o a fora , com
conjunto das políticas de patentes, comercial têm de dar lugar à bancos ou sistemas produtivos
copyrights, royalties de diversos tipos informação aberta e diversificada. organizados em cooperativas,
que travam desnecessariamente o dinâmicas de colaboração como a
acesso a o s a vanço s. O c o nhe c i m e nto 10) Pedagogia da economia: a Wikipédia, publicações e pesquisas
é um fator de produção cujo uso, economia consiste essencialmente com acesso aberto, iniciativas de
contrariamente aos bens materiais, em regras do jogo pactuadas pela economia solidária, já constituem um
n ão reduze o esto que . sociedade ou impostas por grupos de acervo sobre o qual podemos
interesse. A democracia econômica construir o novo. O espírito geral é
9) Democratização dos meios de d e p e nd e v i t a l m e n t e d a c o m p r e e n s ã o de que nesta pequena espaço-nave
comunicação: os recentes avanços genralizada dos mecanismos e das terra, todos somos, de uma forma ou
do populismo de direita e a erosão regras. Os currículos obscuros e outra, tripulantes, ainda que alguns
dos processos democráticos mostram falsamente científicos têm de ser s e j u l g u e m p a s s a g e i r o s d e luxo.
a que ponto o oligopólio dos meios substituídos por ferramentas de

Ladslaw Dowbor
Formado em Economia Política pela Universidade de Lausanne, Suiça - Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e
Estatística de Varsóvia, Polônia (1976). Professor titular no departamento de pós-graduação da PUC/São Paulo, nas áreas de economia e admin-
istração. Consultor das Nações Unidas, governos, municípios, e Senac. Conselheiro na Fundação Abrinq, Instituto Polis e outras instituições. www.
dowbor.org

*¹ https://ecofranbr.org/

Economia de Francisco - Assista online pelo Canal da TV Puc :


- 18 de novembro – abertura e mesas: https://www.youtube.com/watch?v=z6A0MEG-xi8&t=2646s
- 19 de novembro – mesas da manhã: https://www.youtube.com/watch?v=F5G5zjcbETg&t=1657s
42 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

BRASIL PRECISA DE
EMPREENDEDORES
E A ESCOLA PODE AJUDAR MUITO
principalmente educar e capacitar
essa imensa massa de brasileiros des-
validos , para que poss am ter e admin -
is trar o seu próprio empreendimento.

Nosso ensino médio precis a ser ade -


quado aos novos tempos e considerar
que hoje é mui to raro o prof is sional
que pode dispensar conhecimentos de
ges tão ou de adminis tração de empre -
s as. Ent ão, por que não incluímos no
currículo mínimo do ensino médio
disciplinas que deem ao jovem uma
formação básica em assuntos como
contabilidade, es tudos de mercado,
ges t ão de RH , conceitos de lideranç a
e empreendedor ismo? Nossos jovens
deveriam sair do colegial estimu-
lados a criar suas próprias empre-
s as e já tendo adquir ido os conceitos
A penas para incorporar o contingente Br uto (PIB). Esse índice é um dos mais m í n i m o s p a r a t a l . I s s o é co m u m e m
de jovens que vai entrar no merc ado baixos do mundo. Na grande maior ia vários países europeus como Itália,
de trabalho nos próximos cinco anos dos países elas têm uma par ticipaç ão Grécia e Espanha. Essa formação
s erá n e ce s s ár io gerar 6 0 milh õ e s de muito maior e, na It ália e na Espanha, s er ia ú t il não ap enas p ara e s t imular
novos empregos. E isso acontecerá em por exemplo, respondem por mais de o sent ido empreendedor dos jovens ,
um momento em que a grande maioria 6 0 % dos respec ti vos PIBs. Mesmo na co m o t amb é m o s c ap a c i t ar ia a t rab -
das empres as es t ará preocupada em A mér ic a L atina a média é de 35% . S e alhar como adminis tradores , se es se
reduzir custos e eliminar mão- de- obra. olharmos para sua par ticipação nas fo r o s e u de s ejo n o f u t uro, t an to na
Uma forma inteligente para se resolver n o s s as e x p o r t a çõ e s o s núm e ro s s ã o grande como na pequena empres a.
esse dilema é es timular a c apacidade ainda piores: enquanto na Itália as
empreendedora do brasileiro dando - micro e p e quenas empre s as re sp on - Segundo o SEBR AE* tem divulgado
lhe condições de cr iar e manter o seu dem por 43% destas expor tações, já há a lg um te m p o a p r in c ip a l ra z ã o
própr io negócio, ev it ando que ele vá no Brasil elas são responsáveis por p a r a a a l t a m o r t a li da d e da p e q u e n a
tentar se colocar como empregado nas apenas 1, 2% . empresa brasileira é justamente a
grandes ou médias empresas. Mas, m á ge s t ã o e o d e s c o n h e c i m e n t o d o
para isso, muit a cois a precis a mudar O momento econômico no Brasil é e m p r e s á r i o e m r e l a ç ã o a co m o u m a
no mundo das p e quenas e micro em - muito ruim: o desemprego atinge mais empre s a de ve s er a dminis t rada . S ão
pres as e no mundo da Educ aç ão. 12 m i l h õ e s d e p e s s o a s , e s e co n s i d - conhecimentos muito básicos para
erar mos os que já nem emprego pro - quem estudou administração como
A começ ar pelo fato de que hoje nada curam mais e os que trabalham por f luxo de caixa, cont abilidade de
menos que 75% dos novos empreen - cont a própr ia, mas de for ma absolu - cus tos , es tudos de merc ado e outros ,
dimentos brasileiros sucumbem em tamente precária, chegamos a 4 4 mas que precisam ser obtidos por
menos de cinco anos. Algo errado milhões de pessoas. Alguém ainda quem v ai c uidar de empre s as . Como
está acontecendo com o universo acredita que seria possível gerar os países mais avançados resolv-
d e 7, 8 m ilh õ e s d e m i c ro e p e q u e na s empregos para todos esses excluídos eram es t a ques t ão? Coloc ando es tes
e m p re s a s q u e s ã o 9 9,1% d o tot a l d e que queremos incorporar à nossa eco - temas no curriculum do ensino médio.
empres as regis tradas no Brasil. Pois , n omia? A s aída e s t á e m de s e nvo l ve r O u s e ja , o j o v e m a n te s d e e n t r a r n a
apesar delas gerarem 53 milhões o e m p r e e n d e d o r i s m o. I s s o s i g n i f i c a Uni ve r sida d e, já ap re e n d e co n ce i to s
d e e m p r e go s , s ã o r e s p o n s á v e i s p o r eliminar a burocracia, facilitar o acesso de empreendedor ismo e ges t ão.
apenas 27 % do nosso Produto Interno ao crédito, reduzir taxas de juros, mas,
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 43

que o habilitem a poder trabalhar no dia do Professor foram anunciados


“...a crise é mundial e decorre em quando for ao mercado de trabalho os nomes dos vencedores do Prêmio
grande parte dos avanços tec- que es t ará c ada vez mais res tr iti vo. N o b e l d e Eco n o m ia e o in te re s s a n te
é que os 3 vencedores s ão economis-
nológicos que eliminam necess-
O desconhecimento de técnicas de t as que pesquis aram a relação entre a
idade de mão-de-obra como os ges t ão de empres as e a falt a de apoio educ aç ão das cr ianç as e a superaç ão
robôs, as impressoras 3D e o uso às pequenas e micro empresas são d a p o b r e z a e m p a ís e s co m o Q u ê n i a
c a u s a s i m p o r t a n te s p e l a s q ua is te m e Í n d ia . A co m p a n h a r a m a s c r ia n ç a s
intenso da inteligência artificial.
aument ado mui to o número de trab - p o r m a i s d e 2 0 a n o s e co n f i r m a r a m
alhadores precários em nosso país. o que todos desconf iavam mas ainda
Essas tecnologias tornam o O que acontece é que muitas das nunca havia sido comprovado por uma
pessoas que perderam seus empregos pesquis a empír ic a: quanto o melhor
ser humano desnecessário em
nes tes últimos 4 anos de recess ão ou o ní vel de escolar idade e aprendiz ado
inúmeras atividades. Esta é uma c re s c im e n to p í f io o p t a ra m p o r t ra b - das cr ianç as melhores opor tunidades
razão importantíssima para que o alhar cone c t ados aos A pps . É o c as o de trabalho elas encontraram. Essa
dos motoristas de UBER , entrega- cons t at aç ão tem muito a ver com es te
jovem na faixa dos 15 aos 20 anos
dores de comida e t antos outros que n o s s o a r t i go p o i s a n o s s a p r o p o s t a
passe a adquirir conhecimentos ac abam engross ando a mass a de tra - é que através do ensino adequado
profissionais básicos...” b a lh a d o re s p re c á r i o s e m n o s s o p a ís d a s t é c n i c a s b á s i c a s d e ge s t ã o e d e
que já atinge a c as a dos 3 0 milhões de empreendedor ismo iremos conseguir
pessoas. Poder iam ter opt ado fazer com que nosso país passe a ser
p o r e m p re e n d e r, m a s p a r a is s o p re - um impor t ante prot agonis t a mundial
O fato é que não apenas o Brasil cisariam ter os conhecimentos básicos na área de pequenas e micro empre -
atravess a uma cr ise sér ia em relaç ão e claro, ser ia impor t ante que exis tis- sas. A economia brasileira es t á es t ag-
ao mundo do trabalho: a crise é sem es t ímulos e incent i vos para que n a d a h á p e l o m e n o s 5 a n o s . Vá r i a s
m u n d i a l e d e co r r e e m g r a n d e p a r t e a pessoas se sentissem es timuladas a medidas tem sido tent adas , mas não
dos avanços tecnológicos que elim- abr ir uma nova empres a. sur tiram efeito. Não seria a hora de se
inam necessidade de mão de obra apostar na força da pequena empresa?
com o os rob ôs , as impre s s oras 3 D e No último mês de Outubro, justamente
o u s o i n t e n s o d a i n t e l i gê n c i a a r t i f i -
c ia l . E s s a s t e c n o l o g ia s to r n a m o s e r
humano de sne ce s s ár io em inúmeras
a t i v i da d e s . E s t a é u m a r a z ã o i m p o r- Paulo Feldmann - Doutor e Professor da Faculdade de Economia da USP. Foi presidente do Conselho da
t antíssima para que o jovem na faixa Pequena Empresa da Fecomércio SP. paulo.feldmann@fia.com.br
d o s 15 a o s 20 a n o s p a s s e a a d q uir ir
conhe cimentos prof is sionais b ásicos *https://www.portaldoempreendedor.gov.br/parceiros/sebrae

QUER E MPREE NDER?

F
aça de forma segura. Realize um teste para
entender suas vocações e se conhecer melhor -
https://testevocacionalgratis.com.br/como-fazer-teste-vocacional/

Mas, antes de se lançar como empreendedor organize bem as suas


ideias – faça um mapa mental do que quer, onde conseguir, por onde
caminhar, com quem caminhar, como e quanto investir, onde conseguir
investimentos e outras dúvidas que surgem e que requerem respostas
c oe re ntes par a seu e m p re e nd i m e nto . C o nve rs e c o m q u e m p o d e t e a j u d a r .

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44 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

A CAMPANHA
R
eafirmando o compromisso de implementação Acesse: h t t p s : // v i d a s n e g r a s . n a c o e s u n i d a s .o r g /
da Década Internacional de Afrodescendentes, Para ter aceso aos documentos da
( h t t p s : // w w w . d e c a d a - a f r o - o n u . o r g / ) o S i s t e m a UNICEF sobre a condição das mulheres
ONU Brasil lançou no Mês da Consciência Negra de e d a s m e n i n a s n e g ra s n o B ra s i l a c e s s e :
2017, a c ampanha nacional “ V idas Negras ”. h t t p s : //d e c a da - a f ro - o n u .o r g /d o c um e n t s . sh t m l

A iniciativa busca ampliar, junto à sociedade, gestores públicos, “ Q uando o gênero, a raç a , a et nia , a clas se, a religião
sistema de Justiça, setor privado e movimentos sociais, a visi- ou crenç a, o s t atus de migraç ão ou outros moti vos de
bilidade do problema da violência contra a juventude negra no discr iminaç ão se encontram e se cr uz am, cr iam intr in -
país. O objetivo é chamar atenção e sensibilizar para os impac- c a das re de s de pr i v aç ão, de ne gaç ão de direi tos , que
tos do racismo na res tr iç ão da cidadania de pessoas negras , impedem, minam e opr imem. Nes t a dinâmic a sórdida,
inf luenciando atore s e s t ratég icos na produç ão e apoio de muit as mulheres e meninas af rodescendentes s ão mais
ações de enf rent amento da discr iminaç ão e v iolência. p r o f u n da m e n t e a f e t a da s . P r e c i s a m o s t o m a r m e d i da s
urgentes para pôr f i m a ess as injus tiç as...”
NÃO PERMITA QUE O RACISMO DEIXE A
JUVENTUDE NEGRA PARA TRÁS

No Brasil, sete em cada dez pessoas assassinadas são negras.


Na faixa etária de 15 a 29 anos, são cinco vidas perdidas para a
violência a cada duas horas. De 2005 a 2015, enquanto a taxa de
homicídios por 10 0 mil habit antes teve queda de 12% para os
não -negros, entre os negros houve aumento de 18,2%. A leta-
lidade das pessoas negras vem aument ando e is to exige polí-
tic as com foco na superaç ão das desigualdades raciais.

S e g u n d o d a d o s d i v u l g a d o s p e l o U N I C E F e m 2 0 14 :
( h t t p s : //s e c u r e . u n i c e f. o r g . b r/c a m p a n h a s / i h a -2 014 / ) , d e
cada mil adolescentes brasileiros, quatro vão ser assas-
s i n a d o s a n t e s d e c o m p l e t a r 19 a n o s . S e n a d a f o r f e i t o ,
serão 4 3 mil brasileiros entre os 12 e os 18 anos mor tos de
2015 a 2021, três vezes mais negros do que brancos. Da redação de Æscola Legal

ELA CRIOU O EMPREGUEAFRO PARA CAPTAR


VAGAS PARA NEGROS E “MUDAR O SISTEMA”

A
Empregueafro é uma consultoria de recur sos humanos exclusiva para o público negro. A demanda
surgiu há cerca de seis anos, quando as empresas referências dos mais diversos mercados começa-
ram a perceber seus quadros internos e perceberam a necessidade de incluir negros, homossexu-
ais , transexuais e pessoas com def iciência, entre outros gr upos sociais minor it ár ios e minor iz ados.

- ht tps: // w w w.geledes.org.br/ela - cr iou - o - empregueaf ro - para - c apt ar-vagas- para - negros- e - mudar- o -sis tema /
- ht tps: // w w w.uol.com.br/uni ver s a /noticias /redac ao/ 2020/01/0 6 /ela - cr iou - o - empregueaf ro - para - c apt ar- vagas - para -
- negros- e - mudar- o -sis tema.htm
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 45

M APA DA DESIGUALDADE DE
SÃO PAULO - C APITAL (2019)
Aces se a ve r s ã o digit al com to dos os da dos a qui:
h t t p: // w w w. a e s c o l a l e g a l . c o m . b r/m a p a d e s

Mais do que conhecer a sua cidade, seus distritos e bairros, os locais onde você vive, estuda, trabalha e se
diverte, importa procurar entender as razões, os motivos históricos, políticos, psicossociais e econômicos
que conduziram a maior cidade da América do Sul a estas condições, e, fundamentalmente, pensar em
como se integrar de forma coerente com forças progressistas e democráticas para resolvê-las.

P
ublicado desde 2012, o trabalho consiste no
levantamento d e um a s é ri e d e i nd i c ad o re s d e c a d a
um dos 96 distritos da capital, em 32 subprefeituras*¹
(que em teoria têm o papel de receber pedidos e
reclamações da população, solucionar os problemas
apontados; preocupam-se com a educação, saúde e cultura
de cada região, tentando sempre promover atividades
para a população. Além disso, elas cuidam da manutenção
do sistema viário, da rede de drenagem, limpeza urbana,
vigilância sanitária e epidemiológica, entre outros papéis
que transformam, a cada dia, essas regiões da cidade
e m loca is mais hum ani z ad o s e c he i o s d e vi d a) , d e m o d o
qu e s e po ssa co mpa rar d ad o s e ve ri f i c ar o s l o c a i s m a i s
desprovidos de serviços e equipamentos públicos. Em
muitos casos, a enorme distância entre o melhor e o
pior indicador – que determina o “Desigualtômetro”
que aparece nas páginas de cada tema – dá uma boa
dimensão dos desafios que precisam ser superados.

O mapa utiliza fontes públicas e oficiais - Contribui para


a e labo raçã o de po l í ti c as p úb l i c as q ue vi s am a r e d u ç ã o
das D E S IGUALD AD E S - Tra z d ad o s s o b re o s 9 6 d i s t r i t o s
da capital - Auxilia a gestão e o planejamento municipal -
Preenche uma lacuna na difusão de informações - Aborda
53 indicadores nas várias áreas da administração pública
- Identifica prioridades e necessidades da população
em seus distritos - Amplia o conhecimento sobre os
VOCÊ PRECISA CONHECER. PARTICIPE. A CIDADE É SUA!
territórios da cidade. A Partir dos seguintes indicadores
sociais: População - Meio Ambiente - Segurança Viária
- Direitos Humanos - Habitação - Saúde - Educação - Capela do Socorro com 594 mil e 300 habitantes. Os dois,
Cult ur a - E spo rte - Trab al ho e R e nd a. É, p o r tant o , u m a isoladamente, são maiores do que muitas cidades médias
ferramenta indispensável para entender, planejar e d o e s t a d o ( d a s 645 c i d a d e s c o n h e c i d a s , a p e n as dez sã o
resolver a s questõ es d a c i d ad e .C ad a um d o s 9 6 di s t r i t o s maiores do que os 2 maiores distritos da capital*²). O
da ca pital é um peque no “m uní c i p i o ” - o m ai s p o p u l o s o m e n o s p o p u l o s o é o d i s t r i t o d e P a r e l h e i r o s c o m 139 mil
Cam po Limpo , co m 6 0 7 m i l e 1 0 5 hab i tante s , s e g u i d o d e e 441 h a b i t a n t e s .

Jorge Abrahão – Rede Nossa São Paulo - Coordenador Geral


https://www.nossasaopaulo.org.br/2019/10/16/mapa-da-desigualdade-2019-sera-apresentado-em-novembro/

*¹ https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758

*² https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sp.html
46 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

FÓRUM ECONÔM ICO MUNDI AL


DAVOS SE PREPAR A PAR A A JUDAR
A L A NÇ AR UM A NOVA DÉC ADA

O
fundador e presidente documento divulgado pelo Fórum em
executivo do Fórum dezembro, descrevendo o novo “O relatório também
Econômico Mundial convocou conceito de capitalismo na era observa que, entre os
todos os participantes e parceiros do moderna. O ano de 2020 marca o
fórum a se comprometerem a alcançar quinto aniversário do Acordo de Paris
governos, apesar de
as emissões líquidas de carbono zero (https://www.politize.com.br/acordo- 121 terem declarado
no mais tardar em 2050. Em carta de-paris/ ) sobre as mudanças uma ambição de
en viada po r Klaus Sc hw ab d e s tac a o climáticas. No entanto, os anos
tom urgente da reunião deste ano, anteriores foram marcados pelo baixo
atingir a meta em
que visa implementar medidas desempenho nos níveis governamental 2050, apenas sete até
concretas para um mundo coeso e e empresarial na implementação de agora desenvolveram
sustentável. A mudança ocorre políticas de descarbonização. A
quando os stakeholders do Fórum s o l i c i taç ã o d e S c h w a b c o n s t i t u i r á u m
a e strutu ra p o lític a
im plementa m uma s é ri e d e m e d i d as elemento-chave para discussões necessária para que
para promover as agendas sociais e entre cada setor e grupo comunitário isso acontecesse.“
ambientais Para mais informações, na Reunião Anual, com a esperança
visit e www.wefo rum.o rg. de dar impulso aos esforços contínuos
dos líderes governamentais, Davos. 3. Plataforma possível de
Davos-Klosters, Suíça, 20 de janeiro empresariais e financeiros no início missão: uma parceria público-privada
de 2020 - O fundador e presidente d e s ta d é ca d a c r í t i c a . destinada a ajudar indústrias que
executivo do Fórum Econômico dependem fortemente de
Mundial, escreveu uma carta (veja Espera-se que várias iniciativas sejam c o m b u s t í v e i s f ó s s e i s - c o m o a via çã o,
abaixo) a todos os participantes e l anç ad as o u a v a n c e m n e s t a s e m a n a : marítimo, caminhões, produtos
parceiros do fórum, pedindo-lhes químicos e ferro e aço - a fazer a
p ara enfr entar a que s tão urg e nte d a transição para um futuro líquido zero.
m u d a n ç a c l i m á t i c a , 1. Relatório ESG: Um desafio comum Os diretores executivos dessas
comprometendo-se a zero com para empresas que buscam agir sobre indústrias se reunirão em Davos para
emissões de carbono até o mais o clima é a falta de um padrão de discutir as intervenções de tecnologia,
tardar em 2050. O movimento medição aceito globalmente. A financiamento e políticas necessárias
acontece dias antes do início da comunidade internacional de para uma transição de baixo carbono.
Reunião Anual do Fórum Econômico negócios, com 140 participantes, se 4. 1t.org: (https://www.1t.org/)
Mundial 2020, que se reúne sob o reúne nesta semana para revisar e Enquanto a batalha contra as
tema Stakeholders por um Mundo adotar propostas que possam levar a mudanças climáticas só pode ser
Coeso e Sustentável. Na carta, Schwab questão climática para um outro vencida a partir de mudanças
disse: “A oportunidade e a necessidade p atam ar. 2 . A l i a nça Ne t -Z e r o A s s e t sistêmicas nos setores financeiro,
de empresas e investidores mostrarem Owners: Uma coalizão de investidores industrial e de energia, é possível
liderança em mudanças climáticas são institucionais com quase US $ 4 obter apoio vital no esforço de reduzir
mais eminentes do que nunca.” Ele tri l hõ e s s o b g e s t ã o s e c o m p r o m e t e u os níveis de gases de efeito estufa na
acrescentou que o compromisso de a mudar suas carteiras para emissões a t m o s f e r a c o m a a d o ç ã o d e soluções
enfrentar a questão urgente das líquidas zero até 2050. Os baseadas na natureza. Para apoiar
mudanças climáticas também está p arti c i p an t e s d a a l i a n ç a s ã o a l g u m a s isso, uma nova plataforma, 1t.org,
alinhado com o imperativo dos das maiores seguradoras e fundos de será lançada para coordenar e ampliar
st akeho lder s do Ma ni f e s to d e D avo s pensão do mundo. A aliança fará uma os esforços para plantar ou restaurar
2020 ( https:// www.w e f o rum . o rg /the - atualização das suas atividades 1 trilhão de árvores até o final da
davos-manifesto/manifesto), durante uma coletiva de imprensa em d é c a d a .
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 47

A Reunião Anual do Fórum Econômico


Mundial 2020 ocorre de 21 a 24 de
j a n e i r o e m D a v o s -K l o s t e r s , na Suíça .
A reunião reúne cerca de 3.000 líderes
globais da política, governo, sociedade
c i v i l , a c a d e m i a , a r t e s e c u l t u ra , a lém
da mídia. Os participantes se
concentrarão na definição de novos
modelos para a construção de
s o c i e d a d e s s u s t e n t á v e i s e i nclusiva s
em um mundo plurilateral.

A CARTA

O F ó r u m E c o n ô m i c o M u n d i a l pede a
t o d o s o s p a r t i c i p a n t e s d e Da vos que
estabeleçam uma meta climática
l í q u i d a ze r o · A m u d a n ç a c l imá t ica é
um tópico importante em Davos 2020.
· Os l í d e r e s d e a l g u m a s d a s ma iores
empresas do mundo estarão lá. · O
anfitrião da Reunião Anual convida
Foto de Evangeline Shaw do Unsplash
todos a estabelecer a meta de 2050
de emissões líquidas zero. Todas as
De acordo com o Net Zero planos para, entre outras coisas,
e m p r e s a s q u e v e m p a r a D a v os f ora m
Challenge,um relatório publicado encerrar investimentos com alto risco
convidadas a se comprometerem a
p e lo Fó r um E co nô mi c o M und i al e s te relacionado à sustentabilidade.
a t i n g i r e m i s s õ e s l í q u i d a s d e ca rbono
mês, 7.000 empresas no mundo agora
zero até 2050 ou antes. Em uma carta
divulgam voluntariamente dados A M i c ro s of t r e v e l o u u m a a m b i ç ã o d e
enviada aos líderes da empresa a
relacionados ao clima. No entanto, atingir emissões líquidas zero até
caminho da cúpula na Suíça, Klaus
destes, apenas uma pequena maioria 2 0 3 0 e c o mp e n s a r t o d a s a s e m i s s õ e s
Schwab, fundador e presidente
adotou metas baseadas na ciência q ue p ro d u zi u e m t o d a a s u a h i s t ó r i a
executivo do fórum, e os chefes do
que visam combater as mudanças até 2050. A Nestlé anunciou que
Bank of America e da Royal DSM,
climáticas. O relatório também i nve s ti rá ma i s d e U S $ 2 b i l h õ e s e m
dizem que a reunião deste ano é uma
observa que, entre os governos, uma mudança para embalagens
oportunidade perfeita para mostrar
apesar de 121 ter em d e c l arad o um a sustentáveis de qualidade na sua
liderança na mudança climática.
am b ição de a tingir a m e ta e m 2 0 5 0 , l i nha al i me n t a r .
Enquanto o mundo continua a
apenas sete até agora desenvolveram
aquecer, as emissões de gases de
a estrutura política necessária para “A i nd a é mu i t o c e d o p a r a f a l a r s o b r e
efeito estufa continuam a aumentar
que isso acontecesse. Embora o p o nto s d e i n f l e x ã o , m a s 2020 t r o u x e
em 1,5% ao ano, enquanto devem cair
p rogresso a té o mo m e nto te nha s i d o consigo uma mudança perceptível no
d e 3 a 6% a o a n o e n t r e a g o r a e 2030,
inegavelmente insuficiente, o momento em que as empresas
para limitar o aquecimento global a
relatório também constatou que re c o nhe c e m q u e a s u a c o n t i n u i d a d e
1,5-2 ° C, segundo ao Painel
vários CEOs agora veem a ação a longo prazo depende delas tomarem
Intergovernamental de Mudanças
climática como uma oportunidade. As ações coletivas e decisivas sobre o
C l i m á t i c a s . A a ç ã o c l i m á t i c a será um
notícias do setor privado até o c l i m a. A pr i o r i d a d e d a Re u n i ã o An u a l
tema-chave da reunião deste ano,
momento parecem apoiar isso, com é transformar essa energia em um
com o título de uma sessão colocando
vários anúncios feitos na semana movimento, não apenas dos que
o desafio sem rodeios.
passada, incluindo: A Blackrock, a adotam precocemente essa estratégia,
maior administradora de ativos do mas de toda a comunidade
mundo, anunciou uma nova estratégia empresarial”, disse Dominic
Assessoria de Imprensa Pavel
q ue c o lo ca o clima n o c e ntro d e s ua W aughray , d i r e t o r a d m i n i s t r a t i v o d o Osipyants - Zurich Insurance Group
estratégia de investimentos, com Fó rum Ec o n ô m i c o M u n d i a l . - para Æscola Legal
48 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

UMA DÉCADA DE ESTATÍSTICA NA


USP SÃO CARLOS: CURSO GANHA
DESTAQUE NA ERA DA CIÊNCIA
DE DADOS
Cri a d o p a r a su p rir a cre sce nte d e m a n d a d o m e rc a d o d e tr a b a lh o p o r e s t atí s ticos ,
o B a ch a re l a d o e m E s t atí s tic a d o I CM C co m p let a 10 a n os e m s into n i a co m re ce nte s
m u d a n ç a s n a á re a; e n co ntro co m e m o r ati vo se r á re a liz a d o n os d i a s 25 e 26 d e o utu b ro

c o bi ç a do s pe l o m e r c a do de t ra ba lho.

Já em 2009, o grupo de professores


do ICMC que escreveu o projeto
político-pedagógico do Bacharelado
em Estatística vislumbrava que as
instituições de ensino superior não
d a v a m c o n t a d e f o r m a r a qua nt ida de
necessária de profissionais para
atuar nesse campo. “A crescente
p r o c u r a p o r e s t a t í s t i c o s n o merca do
de trabalho em diversas áreas,
tais como indústrias, instituições
financeiras, empresas de pesquisa de
mercado, instituições governamentais


e de pesquisa relacionadas à saúde
Acho que a beleza da estatística é fez com que os departamentos de humana, agricultura e pecuária, entre
que seu alcance é ilimitado, assim e s tatí s ti ca n o m u n d o r e f o r m u l a s s e m outras, foi a principal motivação para
como a maioria das ciências. Mas, a estrutura dos cursos de graduação, a proposta de criação de um curso
para mim, tem um significado especial: incluindo conhecimentos mais sólidos d e Ba c h a r e l a d o e m E s t a t í s tica ” , lê-se
estatística é sobre a incerteza que em programação e inteligência no projeto. Depois de 10 anos, a
governa a natureza. Pode ser usada arti f i c i al . É m u i t o i m p o r t a n t e o IC M C d e m a n d a s ó a u m e n t o u e a t endência
para pedir uma pizza ou modelar o ter sido pioneiro no Brasil a fazer é que continue a crescer nos próximos
preço de uma ação no mercado”. É essa modificação no curso”. Helton se anos. “Em 2009, essencialmente
assim que Helton Graziadei define refere à alteração na grade curricular eram as grandes instituições que
o significado da estatística, uma do curso oferecido pelo Instituto. tinham banco de dados de seus
área com a qual teve contato ao A partir do ano que vem, serão clientes e baseavam suas decisões
ingressar na primeira turma do adicionadas disciplinas específicas nas análises estatísticas desses
c u rso de Bachar elado e m Es tatí s ti c a, a fim de preparar os alunos para os dados. Hoje, mesmo as pequenas
oferecido pelo Instituto de Ciências d e s af i o s d a e r a d a c i ê n c i a d e d a d o s . empresas dispõem de dados sobre
Matemáticas e de Computação (ICMC) A m ud an ç a i m p a c t o u a t é o n o m e d o seus produtos e públicos com os
d a U S P, em S ão Car l o s , d e s d e 2 0 0 9. curso, que, a partir de 2020, passará a q u a i s s e r e l a c i o n a e b u s c a m a na lisá -
se chamar Bacharelado em Estatística los para tomada de decisões”, diz
Diferentemente da maioria de seus e Ciência de Dados. A reformulação Mariana Cúri, uma das professoras
c ole ga s de turma , q ue e s tão atuand o e s tá e m s i n t o n i a c o m o n o v o c e n á r i o que contribuiu para a criação do
em empresas nos mais diversos te c no l ó g i c o , q u e e s t á m o d i f i c a n d o a c u r s o d e E s t a t í s t i c a n o IC MC.
ramos de atividades, Helton optou f o rm a c o m o n ó s n o s r e l a c i o n a m e n t o
por seguir carreira acadêmica: uns com os outros e com o mundo “As grandes massas de dados
completou o mestrado no Instituto de a nosso redor. Nos últimos anos, disponíveis hoje requerem
Matemática e Estatística (IME) da USP, c ad a s e r h u m a n o c o m u m d i s p o s i t i v o profissionais preparados para
onde, agora, faz doutorado. Nesses móvel em mãos se tornou um analisar e interpretar informações
dez anos, ele viu acontecer mudanças produtor de dados, os quais são presentes em problemas de diferentes
relevantes no campo da estatística: gerados em velocidade, volume e naturezas. Nesse cenário, as melhores
“ A área se reno va co ns tante m e nte e variedade cada vez maiores. Não é soluções costumam surgir a partir
quem não se atualiza corre o risco à toa que, hoje, aqueles que sabem da cooperação entre estatísticos e
de perder a dinâmica da profissão. e xtrai r c on h e c i m e n t o s ú t e i s a p a r t i r p r o f i s s i o n a i s d a á r e a d e c omput a çã o
O surgimento da ciência de dados desses dados tenham se tornado tão e isso justifica as mudanças
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 49

c u rricula res”, diz a pro f e s s o ra C i b e l e ICMC e o Departamento de Estatística para germinar, era preciso contar
Russo, que atualmente coordena o da Universidade Federal de São Carlos com estudantes e pesquisadores
c u rso de Estatística d o I C M C . “A s s i m , ( UF S C ar) . Os p r o j e t o s d e m e s t r a n d o s p r o n t o s p a r a t r a b a l h a r e m projet os.
a p ropo sta é ter um p ro f i s s i o nal q ue e doutorandos contribuíram para O cenário se concretizou em
d om ine ta nto as técni c as e s tatí s ti c as f o rtal e c e r o s g r u p o s d e p e s q u i s a e m 2017, quando o NEA passou a
quanto algoritmos eficientes e e s tatí s ti c a d a s d u a s i n s t i t u i ç õ e s . desenvolver soluções estatísticas
eficazes, considerando custos para problemas apresentados por
computacionais e diversas outras Dois anos depois, no dia 5 de dezembro empresas, fundações, indústrias,
variáveis, para extrair de forma de 2015, aconteceu a primeira edição instituições de maneira geral, do
ótima as informações dos dados”, do Encontro de Experiências em setor público ou privado, assim
completa a professora. Cibele usa um Estágios e Projetos. A iniciativa, criada como de pesquisadores ou pessoas
exemplo do cotidiano para explicar para propiciar o compartilhamento físicas. “Nosso objetivo é levar
o p apel do esta tísti c o : “S e vo c ê e s tá de informações sobre estágios e problemas reais da sociedade para
cozinhando, é comum pegar uma projetos, entre alunos e ex-alunos do que nossos alunos possam resolvê-
colher para experimentar a comida. c urs o , p a s s o u a s e c h a m a r E n c o n t r o los, sob a orientação do professor,
Estatisticamente, o que você está de Experiências em Estatística. Este interagindo com o pesquisador e
fazendo? Ora, está retirando uma ano, em comemoração aos 10 anos usando a metodologia estatística
amostra e, a partir dessa pequena do Bacharelado, haverá uma edição adequada a cada caso”, explica a
quantidade de alimento, vai conseguir especial do evento, nos dias 25 e professora Mariana Cúri. O ano de
inferir se toda a comida da panela 26 de outubro, no auditório Fernão 2017 t a m b é m m a r c o u o i n í cio do uso
está boa ou não”. Usando ferramentas Stella de Rodrigues Germano (sala de uma metodologia alternativa de
est at í stica s, o pr o fis s i o nal c o ns e g ue , 6-001) do ICMC. Para participar, ensino e aprendizagem em algumas
a partir de uma a m o s tra, e xtrap o l ar b as ta s e i n s c r e v e r e p a g a r a t a x a d e d i s c i p l i n a s d o c u r s o d e E s t a t íst ica : o
os resultados obtidos a toda a inscrição por meio deste link: icmc. Problem Based Learning (PBL). Com
p op ulaçã o . us p . b r/e / 0f d d 1. Ou t r o f a t o m a r c a n t e o método, professores trouxeram
dessa história foi a realização da p a r a a s a l a d e a u l a c a s o s rea is a fim
Amadurecimento – “Se olhar para Semana da Estatística em 2016. A de que os estudantes debatessem e
m im 10 ano s a trás e o q ue s o u ho j e , iniciativa já era tradicional na UFSCar i n v e s t i g a s s e m p o s s í v e i s s o luções.
considerando o que evoluí como e estava em sua sexta edição, mas
ser humano, o que aprendi, o que foi apenas em 2016 que a comissão P o r ú l t i m o , e m 2018, o c u r so pa ssou
amadureci, todas as dificuldades e organizadora do evento, composta a oferecer uma ênfase em ciência
também as voltas por cima, verá o apenas por estudantes, resolveu de dados. Com o crescimento
q uanto isso tudo imp ac to u na m i nha convidar os alunos do ICMC para da demanda por uma formação
vida. S e nã o fo sse tod a e s s a hi s tó ri a, p arti c i p ar . R e s u l t a d o : d e s d e e n t ã o , a específica, o ICMC decidiu ampliar
eu não seria quem sou, não faria S e m ana d a E s t a t í s t i c a é r e a l i za d a e m o escopo do curso e adicionar
o que faço, não teria o que tenho. conjunto pelos estudantes da UFSCar mais disciplinas de programação –
Então, o que mudou? Mudou tudo e do ICMC. a b a r c a n d o o e n s i n o d a l i n gua gem de
para melhor”. É assim que José programação Phyton e de técnicas
Fernandes de Almeida Junior resume o No ano seguinte, em 2017, foi lançada de aprendizado de máquina, por
significado de sua trajetória no ICMC. a primeira chamada do Núcleo de exemplo. Resultado: a partir de 2020,
Hoje, ele atua como estatístico na Estatística Aplicada (NEA). Desde o s a l u n o s q u e i n g r e s s a r e m no curso
empresa Cred-System Administradora 2009, a semente do Núcleo constava se tonarão Bacharéis em Estatística e
de Cartões de Crédito. Assim como no projeto do curso, no entanto, Ciência de Dados.
o curso mudou a vida de José, os
alunos e suas diversas demandas
também ajudaram a lapidar o próprio
curso. Ao longo desses 10 anos, o
ICMC formou um total de 75 alunos www.icmc.usp.br/e/ac6b3
estatísticos e, hoje, 173 estudantes
Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
estão matriculados no curso. Nesse
tempo, diversos acontecimentos
contribuíram para o aprimoramento Mais informações:
do projeto colocado em prática em
VI Encontro de Experiências em Estatística do ICMC: icmc.usp.br/e/0fdd1
2009.
Site do curso de Estatística do ICMC: www.icmc.usp.br/graduacao/estatistica-bacharelado
Entre os principais marcos dessa
trajetória está a criação, em 2013, do Leia mais sobre a área de ciência de dados:
Programa Interinstitucional de Pós- https://www.icmc.usp.br/noticias/4525-faltam-profissionais-no-mercado-usp-oferece-curso-em-
Graduação em Estatística, resultado
estatistica-e-ciencia-de-dados
de uma união de esforços entre o
50 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

CIÊNCIA E TECNOLOGIA | ENGENHARIA AERONÁUTICA

MAIS RÁPIDO DO QUE UMA BALA


Pesquisadores brasileiros desenvolvem veículo aéreo
que se deslocará em velocidade hiper sônica

Modelo de laboratório do vant 14X (foto: Léo Ramos Chaves)

S
e tudo correr como planejado, o vant empregará o conceito de VANT 14-X
a Força Aérea Brasileira (FAB) waverider, no qual uma onda de Comprimento 4 m
realizará dentro de dois anos, choque gerada abaixo dele, em Envergadura 1 , 2 m
no máximo (graças aos incentivos e razão de sua alta velocidade, lhe Peso cerca de 750 kg
recursos destinados pelo governo até fornece sustentação. É como se, Velocidade 12.000 km/h
2015), o ensaio em vôo do primeiro durante o vôo, o veículo “surfasse” Altitude de voo 30.000m a
m ot or aero ná utico hi p e rs ô ni c o f e i to na o nd a i n d u zi d a p o r e l e . 40.000m
no país. O teste integra um projeto
mais amplo cujo objetivo é dominar “Ainda não há aeronaves hipersônicas d o v o o . N o p r i m e i r o e n s a i o, previst o
o ciclo de desenvolvimento de em operação rotineira no mundo. para 2020, o motor scramjet será
ve íc u lo s hipersô nico s , q ue vo am , no Essa tecnologia simboliza o estado da instalado em um foguete de sondagem
mínimo, a cinco vezes a velocidade arte mesmo para países como Estados d o In s t i t u t o d e Ae r o n á u t i c a e E spa ço
do som, ou Mach 5. Mach é uma Unidos, Rússia e China”, informa (IAE), unidade do DCTA voltada ao
unidade de medida de velocidade o coronel Lester de Abreu Faria, desenvolvimento de tecnologias para
correspondente a cerca de 1.200 engenheiro eletrônico e diretor do IEAv. o s e t o r a e r o e s p a c i a l . O p r ojet o t eve
quilômetros por hora (km/h). O “Todos buscam esse conhecimento a p o i o d a F AP E S P .
programa é coordenado pelo Instituto e, apesar do longo tempo de
d e Estudo s A vançado s ( I EA v) , um d o s desenvolvimento, não estamos muito Já o veículo aéreo hipersônico
centros de pesquisa do Departamento atrás d o s l í d e r e s m u n d i a i s . ” i n t e g r a d o a o m o t o r s c r a m j et poderá
d e Ciência e Tecno lo g i a A e ro e s p ac i al ser usado como avião de passageiros
(DCTA) da FAB, em parceria com a De acordo com Israel Rêgo, engenheiro ou para fins militares. Em 2018,
empresa Orbital Engenharia, ambos espacial e gerente do projeto Rússia e China testaram com sucesso
d e São Jo sé do s Ca m p o s ( S P ) . PropHiper, o motor hipersônico em os mísseis hipersônicos Avangard
desenvolvimento no país, do tipo e Xingkong-2, respectivamente.
Além do motor hipersônico, o scramjet (supersonic combustion Nos Estados Unidos, a Lockheed
projeto Propulsão Hipersônica ramjet), também poderá ser Martin está construindo um veículo
14-X (PropHiper), iniciado em 2006, empregado como segundo ou terceiro h i p e r s ô n i c o p a r a v o o a M a ch 6.
prevê a construção de um veículo estágio de propulsão de foguetes –
aéreo não tripulado (vant), onde e s s e s ve í c u l o s e s p a c i a i s s ã o d o t a d o s Desde o início do projeto, já foram
o motor será instalado. Batizado de vários estágios (ou motores), investidos R$ 53 milhões no 14-X,
de 14-X, em homenagem ao 14-Bis, acionados sucessivamente ao longo programado para voar a Mach
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 51

B a t i z a d o d e 1 4 -X ,
em homenagem
ao 14-B is , o vant
empregará o con-
ce ito d e wave ri d e r,
no qual uma onda de
choque gerada abaixo
dele, em razão de sua
alta velocidade, lhe
fornece sustentação.
É como se, durante o
voo, o veículo “sur-
fasse” na onda indu-
zida por ele.

e n q u a n t o a s m a i s f r i a s d e v em ser de
aço ou alumínio aeronáutico”, explica
o coronel Marco Antônio Sala Minucci,
engenheiro aeronáutico e consultor de
10 (12 mil km/h) (infográfico). ao contrário dos motores dos aviões, h i p e r s ô n i c a d o p r o j e t o 14-X.
“Metade do tempo do programa o do 14-X não tem partes móveis,
destinou-se à capacitação de pessoal como compressores e turbinas. Por fim, é preciso fazer a perfeita
e à implantação da infraestrutura “Na combustão supersônica, o ar i n t e g r a ç ã o e n t r e o m o t o r e o veículo
laboratorial, com destaque para o capturado deve ser desacelerado, hipersônico, já que o arrasto (força
t únel de cho que hipe rs ô ni c o T3 o nde pressurizado e aquecido antes de contrária ao deslocamento) no voo
são feitos os ensaios aerodinâmicos*, entrar na câmara de combustão, hipersônico é muito alto. “A parte
c ont a Rêgo . “O gran d e s al to ag o ra é onde é injetado o combustível. frontal do veículo deve funcionar
‘sair’ do laboratório e operacionalizar E isso depende da perfeita como entrada de ar [no motor],
em voo as tecnologias do g e o m e tri a d o m o t o r ” , d i z R ê g o . produzindo sua compressão,
waverider e do mo tor.” enquanto a parte traseira deve operar
Outra dificuldade do projeto é como uma tubeira, transformando
Alguns desafios, no entanto, ainda fazer com que o veículo resista ao a alta temperatura e a pressão da
precisam ser superados. O primeiro atrito gerado pelo voo à velocidade câmara de combustão supersônica em
é a finalização do scramjet. Assim hipersônica. “As partes que sofrem empuxo. Assim, o motor e o veículo
como os motores de jatos comerciais, maior aquecimento por fricção com tornam-se indistinguíveis, atingindo
o scramjet usa o ar da atmosfera para o ar devem ser feitas de materiais velocidades de voo extremamente
a queima do combustível. No entanto, resistentes a altas temperaturas, a l t a s ” , c o n t a Is r a e l Rê g o .

Projeto - Investigação experimental preliminar em combustão supersônica (nº 04/00525-7);

Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular;

Pesquisador responsável Paulo Gilberto de Paula Toro (IEAv);

Investimento R$ 2.206.289,32.

*Pesquisa FAPESP nº135

https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/01/10/mais-rapido-do-que-uma-bala/

Especial para a revista AEscola Legal


52 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

BIOLOGIA – CIÊNCIA/VIDA

USP LIDERA FORÇA-TAREFA PARA DESCOBRIR


AS CONEXÕES ENTRE AS ESPÉCIES
D o is p rofe s so re s d a U S P se u n ir a m a p e sq u is a d o re s b r a s i le iros e e s tr a n g e iros p a r a co n s tr u ir
u m n ovo m o d o d e co m p re e n d e r a te i a d a v i d a; e s tu d o p o d e r á p reve r co n se q u ê n ci a s
d e d e s a s tre s e co ló g icos co m o o q u e e s t á o co rre n d o n o N o rd e s te d o B r a s i l .

aves, os corais e os demais animais


que habitam as áreas contaminadas
do litoral do Nordeste ao longo de
muitos anos. Ora, eles poderiam
utilizar as mesmas ferramentas
empregadas no estudo sobre
morcegos e plantas. Assim, seriam
c a p a ze s d e p r e v e r a s c o n s equência s
que o óleo traria à teia da vida
nordestina, incluindo aí os seres
humanos.

Uma teia com muitas camadas –


“Com efeito, um dos aspectos
inovadores do trabalho é analisar a
miríade de relações entre espécies de
morcegos e plantas com ferramentas
computacionais, mais ou menos como

O
que leva um grupo de i nte raç õ e s e n t r e m o r c e g o s e p l a n t a s quem estuda as múltiplas conexões
pesquisadores das re g i s trada s a o l o n g o d e 70 a n o s p o r entre pessoas num aplicativo de rede
instituições mais qualificadas c e nte nas d e n a t u r a l i s t a s , q u e d e r a m social”, escreve o jornalista José
d o planeta a se unire m p ara e s tud ar origem ao estudo Compreendendo as Reinaldo Lopes no artigo Morcegos
morcegos e suas relações com regras de montagem de uma rede são cruciais para a saúde dos
plantas? As descobertas desses multicamadas continental (Insights ecossistemas em que vivem. Publicado
cientistas – à primeira vista, sem on the assembly rules of a continente- pela Folha de S. Paulo dia 3 de
muita importância – ganharam as w i d e m ul t i l a y e r n e t w o r k ) . novembro, o artigo destaca como
páginas de uma das revistas mais f u n c i o n a a t e i a q u e u n e 73 espécies
relevantes do mundo nas áreas de “No s s o es t u d o m o s t r a q u e é p o s s í v e l de morcegos e 439 espécies de
ecologia e evolução, a Nature Ecology anal i s ar co m o a e x t i n ç ã o d e e s p é c i e s plantas, estudadas pela equipe de
& Evolutio n *¹. de animais e plantas afeta o equilíbrio pesquisadores de que Mello e
de um ecossistema, alterando a Ro d r i g u e s f a ze m p a r t e . * ²
Para compreender o trabalho dessa biodiversidade em diversas regiões O jornalista conta que os
forç a - tar efa da ciênc i a, f o rm ad a p o r do planeta”, explica o professor pesquisadores usaram dados
d ois pro fesso r es da US P e m ai s o i to Marco Mello, do Instituto de coletados em campo sobre a dieta dos
pesquisadores, três brasileiros e Biociências da USP, que liderou a bichos para montar as várias camadas
cinco estrangeiros, basta esquecer os f o rç a- tare f a d o e s t u d o . de redes de interação: “Uma dessas
morcegos e as plantas camadas corresponde às mais de 900
(temporariamente), e pensar no “As ferramentas computacionais e interações morcego-planta em que há
desastre ecológico que está ocorrendo matemáticas que desenvolvemos para frugivoria (consumo de frutas); outra
agora no lito r al do N o rd e s te . H o j e , é estudar as relações entre os morcegos e q u i v a l e a 301 i n t e r a ç õ e s em que há
impossível calcular as consequências e as plantas podem ser aplicadas a consumo de néctar; e assim por
que o óleo pode trazer ao ecossistema qualquer outro ecossistema”, diante.” Para relatar esses processos,
d a região . No enta nto , o i m p ac to d a completa o professor Francisco os pesquisadores consideram, ainda,
contaminação poderia ser calculado Rodrigues, do Instituto de Ciências a história evolutiva, o grau de
se ho uv esse um ba nc o d e d ad o s c o m M ate m áti c a e d e C o m p u t a ç ã o ( IC M C ) parentesco e a distribuição geográfica
informações sobre os animais que d a US P , e m S ã o C a r l o s . das diferentes espécies.
vivem no lo ca l bem c o m o as re l aç õ e s
que são estabelecidas entre as Então, imagine se esses cientistas “O mapeamento multicamadas que
diferentes espécies. Foram dados tivessem à disposição dados sobre as r e s u l t o u d e s s e e s f o r ç o m o s t ra , ent re
d e sse tipo , nesse cas o m o s trand o as tartarugas-marinhas, os peixes, as o u t r a s c o i s a s , q u a i s a s e s pécies que
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 53

funcionam como as figuras mais pesquisadores intitulado An (isto é, comunidades) e hoje


“populares” da “rede social” ecológica Introduction to Multiplex Networks: analisamos também sistemas no
– m ais o u meno s co mo o s uj e i to c o m Basic Formalism and Structural sentido estrito, formados por
milhares de amigos ou seguidores P ro p e rti es . interações entre esses organismos
cuja conta conecta as pessoas mais (isto é, redes). Entender essas regras
disparatadas entre si”, escreve Lopes. U m c a m i nh o co m m u i t a s r e de s – “ A é crucial para compreendermos a
Nesse caso, vale lembrar que os ciência das redes complexas tem mais arquitetura da biodiversidade,
m orcego s mais po pu l are s s ão o s q ue de 300 anos, mas foi em 2016 que melhorarmos a produtividade de
estão no centro da rede. “Isso significa nosso grupo de pesquisa, hoje na sistemas agroflorestais e
que os animais dessa espécie se USP, publicou um dos primeiros controlarmos doenças emergentes,
alimentam de uma variedade maior e s tud o s n a á r e a d a e c o l o g i a l e v a n d o entre muitas outras aplicações”,
de frutos e propagam uma maior em conta múltiplas camadas de escreve Mello na introdução da sua
diversidade de sementes pelo redes”, destaca Mello. A equipe de tese de livre-docência apresentada
ecossistema. Se essa espécie é cientistas lideradas pelo professor em agosto deste ano à USP.
ext in ta, a feta rá ma i s o to d o , p o rq ue têm na bagagem várias pesquisas
esses animais têm u m a f unç ão m ai s anteriores publicadas ao longo dos No texto, o professor faz uma síntese
relevante na manutenção do últimos dez anos. Para chegar este do caminho que percorreu ao longo
ecossistema. Por isso, é fundamental ano às páginas de uma das revistas de suas descobertas científicas. Um
d e t e rmina r quem são e s s as e s p é c i e s científicas mais importantes do c a m i n h o q u e é s i m i l a r a o percorrido
porque elas podem levar à extinção mundo nas áreas de ecologia e por tantos outros pesquisadores na
de outras”, conta o professor evolução, a Nature Ecology & extensa e gratificante jornada da
Fran c isco Ro drigues . “C o m a anál i s e Evolution, foram necessários três c i ê n c i a : “ E m u m a f l o r e s t a , ou mesmo
dessas redes complexas anos de pesquisa. O início dessa e m u m a l a v o u r a o u j a r d i m urba no, o
multicamadas, o que estamos trajetória está registrado em uma que começa com um par de
mostrando é como as conexões entre i m ag e m da t a d a d e 2016, q u a n d o s e i s organismos escalona para múltiplos
as espécies são fo rm ad as , c o m o s ão pesquisadores que estavam na pares, chegando ao nível das
as estruturas dessas redes e qual Conferência Internacional de Pesquisa respectivas populações. E delas, ao
impacto pode ter a extinção de sobre Morcegos (International Bat nível de todo o ecossistema. Isso é
algumas espécies”, adiciona Research Conference), em Durban, na q u e o p o e t i c a m e n t e c h a m amos de ‘a
Rodrigues. Áfric a do Sul, for a m a lm o ç a r junt os e teia da vida’. O mais incrível é que
se propuseram a construir um diferentes cientistas ao redor do
Ele foi um dos responsáveis por projeto. Ao longo do caminho, mais mundo, ao longo de séculos e
desenvolver as soluções matemáticas quatro cientistas se uniram ao perpassando diferentes gerações,
e c omputa cio nais qu e p o s s i b i l i tam a g rup o . encontraram padrões muito
análise de redes multicamadas interessantes nessa teia. Ou seja,
juntamente com a pesquisadora Nessa época, já fazia cerca de sete coisas que se repetem regularmente,
iraniana Nastaran Lotfi. Vinda da anos que Mello havia pedido d e s d e a f o r m a d e p a r t e s d ela a t é os
Universidade de Zanjan, Irã, Nastaran autorização para usar o banco de processos que geram essas formas. É
foi aluna visitante de doutorado no dados on-line criado pela extremamente empolgante tentar
ICMC, sob orientação de Rodrigues, e pesquisadora Cullen Geiselman, do entender o que mantém unidos esses
hoje é pós-doutoranda na C e ntro d e C o n s e r v a ç ã o d e M o r c e g o s emaranhados de organismos e
Universidade Federal de Pernambuco. de Austin, nos Estados Unidos. Ao interações, também conhecidos como
Já os doutorandos Rafael Pinheiro, da longo desse tempo, o pesquisador sistemas complexos.”
Universidade Federal de Minas Gerais, b ras i l e i ro e s u a e q u i p e r e f i n a r a m a s
e Gabriel Félix, da Unicamp, informações disponibilizadas por Para finalizar, Rodrigues destaca que
desenvolveram novos métodos para Geiselman e adicionaram estudos os sistemas complexos são estudados
entender a estrutura de cada camada brasileiros. Esses dados, que n o IC M C t a n t o n o c a m p o d a ecologia
das redes. Segundo Rodrigues, a compreendem cerca de 70 anos de como em medicina, epidemiologia,
análise de redes multicamadas é trabalhos de campo feitos por ciências sociais e economia. Em todas
bastante nova e os primeiros estudos centenas de pesquisadores na região, essas áreas, os pesquisadores buscam
começaram a ser produzidos há cerca f o ram uti l i za d o s n o a r t i g o p u b l i c a d a entender, por exemplo, como os
de seis anos. No ano passado, o na Nature Ecology & Evolution. neurônios estão organizados no
professor lançou um livro sobre o “Começamos estudando conjuntos de cérebro ou como as doenças se
assunto em parceria com mais três organismos de diferentes espécies p r o p a g a m e m n o s s a s o c i e da de.

Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP para AEscola Legal

*¹ https://www.nature.com/natecolevol/

*² https://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldojoselopes/2019/11/morcegos-sao-cruciais-para-a-saude-dos-ecossistemas-em-que-vivem.shtml
54 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

FRONTEIRAS DA BIOLOGIA
HIGHTECH
Pesquis as conduzidas p elo Neurocientit s a Miguel A ngelo L . Nicolelis
chefe do depar tamento de Bioengenharia me dica D uke Univesit y indicam
que os cérebros dos macacos são sincronizados enquanto colab oram
para exe cutar uma tarefa motora . O s níveis de sincronicidade no
cór tex motor são influenciados p ela proximidade e status social .

Foto da tela do c omputador medindo as ondas c erebrais dos mac ac os duante os testes. (cedida)

D
URHAM, N.C. - Embora seu em 29 de março na revista Scientific fortemente influenciadas pelo tipo de
o bjetivo e funç ão ai nd a s e j am R e p o rts s u g e r e q u e o e s p e l h a m e n t o relacionamento social entre os animais
amplamente desconhecidos, em macacos também é influenciado participantes”, disse o autor sênior
alguns neurocientistas acreditam por fatores sociais, como proximidade Miguel Nicolelis, MD, Ph.D.
que os neurônios-espelho no com outros animais, hierarquia social
cérebro sejam centrais para a e competição por alimentos. Anteriormente, os neurocientistas
maneira como os seres humanos A equipe da Duke descobriu que, haviam limitado seus estudos a
se relacionam. Deficiências nos quando pares de macacos interagiam registrar a atividade cerebral em
neurônios-espelho também durante uma tarefa social, os cérebros u m a n i m a l p o r v e z. O q u e t orna essa
podem desempenhar um papel no dos dois animais mostravam episódios pesquisa única, disse Nicolelis, é que
autismo e em outros distúrbios que de alta sincronização, nos quais a equipe da Duke criou um sistema
afe t am a s habilidade s s o c i ai s . grupos de neurônios no córtex motor sem fio multicanal para registrar a
de cada animal tendiam a disparar atividade elétrica de centenas de
Os cientistas mostraram ao mesmo tempo. Esse fenômeno é neurônios nos córtices motores de dois
anteriormente que, quando um animal conhecido como sincronização cortical macacos simultaneamente, enquanto
observa outro executando uma tarefa e ntre o s c é r e b r o s . “ Ac r e d i t a m o s q u e i n t e r a g i a m n o m e s m o e s p a ço.
motora, como buscar comida, os nosso estudo tem o potencial de
neurônios-espelho no córtex motor abrir um novo campo de investigação “ D u r a n t e d é c a d a s , o s p e s quisa dores
do cérebro do observador começam completo na neurociência moderna, s u s p e i t a r a m q u e a s i n c r o n ia cort ica l
a disparar como se o observador demonstrando que mesmo as funções pode desempenhar um papel nas
também estivesse procurando comida. mais simples do córtex motor, como a funções perceptivas e cognitivas”,
Uma nova pesquisa da Duke publicada criação de movimentos corporais, são disse Daofen Chen, Ph.D., do
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 55

Os cientistas mostraram
anteriormente que, quando
um animal observa outro exe-
cutando uma tarefa motora,
como buscar comida, os
neurônios-espelho no
córtex motor do cérebro do
obser vador começam a dis-
p arar com o se o obse r va-
dor também estivesse pro-
curando comida.
Foto de Chromatograph do Unsplash

Instituto Nacional de Distúrbios c o nvi nc e n t e , d i s s e r a m e l e s , f o i q u e o condições em que o espelhamento


N e u roló gico s e D erram e ( NI ND S ) , um ICS poderia prever outro parâmetro neuronal pode não seguir padrões
dos financiadores da pesquisa. “ Este social chave - a classificação típicos, como sugerido no autismo,
estudo introduziu um novo paradigma d o s m ac a c o s n a c o l ô n i a . disseram eles. Medir o ICS em
e abre as po r tas pa ra a c o m pre e ns ão h u m a n o s t a m b é m p o d e r e v ela r quã o
de uma nova dimensão social da D urante a s t a r e f a s e m q u e o m a c a c o bem os grupos trabalham juntos
função dos circuitos cerebrais mais dominante da colônia estava e até que tipos de treinamento
p or t rá s dessa sincr o ni a “. viajando em direção à recompensa melhoram a sincronia cerebral
sob a observação de um animal de e o trabalho em equipe.
Durante uma tarefa, um macaco, classificação inferior, a magnitude do
c h am a do pa ssageir o , e s tava s e ntad o ICS crescia constantemente à medida “Usando uma versão não invasiva
em u ma cadeira de ro d as e l e trô ni c a que o passageiro se aproximava do dessa abordagem, podemos
programada para receber uma observador. A sincronização atingiu quantificar o quão bem atletas
recompensa do outro lado da sala, o pico quando os animais estavam profissionais, músicos ou dançarinos
uma uva fresca. Um segundo macaco, a cerca de um metro de distância estão trabalhando juntos ou se
o observador, também estava na sala - perto o suficiente para que um uma audiência está envolvida
assistindo a trajetória do primeiro pudesse esticar um braço para no que está vendo, ouvindo ou
macaco em direção à recompensa. arrum ar o o u t r o , o u a t a c a r . imaginando”, disse Nicolelis. “Isso
A at ivida de elétrica no c ó rte x m o to r Mas quando um macaco de baixo pode ser valioso para qualquer
do cérebro de cada macaco foi e s c al ão f o i o p a s s a g e i r o e o m a c a c o tarefa social que exija a sincronização
re gistrada simultane am e nte . dominante estava observando, de muitos indivíduos para
Uma análise mostrou que, quando o ICS não aumentou à medida melhorar a coesão social”.
o passageiro viajava pela sala sob que os macacos se aproximaram,
o olhar atento do observador, sugerindo que a classificação Nicolelis planeja explorar a
grupos de neurônios em seus social desempenha um papel na sincronia cerebral em pessoas
córtices motores mostravam s i nc ro ni z a ç ã o c e r e b r a l . através de ensaios futuros na Duke
ep isódio s de sincro ni z aç ão . usando ressonância magnética
Os pesquisadores acreditam que funcional e capas de eletrodos.
Os pesquisadores descobriram que e p i s ó d i o s d e IC S f o r a m g e r a d o s p e l a Além de Nicolelis, os autores do
esses episódios de sincronização ativação simultânea de neurônios- estudo incluíram Po-He Tseng,
cortical entre os cérebros (ICS) espelho no cérebro do passageiro Sankaranarayani Rajangam, Gary
poderiam prever a localização da e do observador. Eles propõem L e h e w e M i k h a i l A. L e b e d e v.
cadeira de rodas do passageiro na sala, correlações semelhantes entre a
bem como sua velocidade. A atividade sincronia cerebral e a interação social, A pesquisa foi apoiada pela Fundação
cerebral também poderia prever a q ue tam bé m p o d e m o c o r r e r d u r a n t e Hartwell, NINDS (R01NS073952) e pelo
p roximidade do s a ni m ai s , b e m c o m o as interações sociais humanas. As Instituto Nacional de Saúde Mental
a proximidade do passageiro com descobertas podem levar a novos (DP1MH099903), ambos parte dos
a recompensa. A descoberta mais diagnósticos ou tratamentos para In s t i t u t o s N a c i o n a i s d e S a úde.

• Nicolelis Laboratory Webpage - https://bme.duke.edu/faculty/miguel-nicolelis

• Esta pesquisa: Interbrain cortical synchronization encodes multiple aspects of social interactions in monkey pairs., pode ser lida na íntegra (em

inglês) no endereço eletrônico da Revista Nature: https://www.nature.com/articles/s41598-018-22679-x


56 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

MUSICALIZAÇÃO
ABR INDO PORTA S PAR A
UM A EDUC AÇ ÃO MUSIC AL

Foto de Arseny Togulev do Unsplash

O
momento espontâneo, aud i ç ão , e m c o n j u n t o c o m o g e s t u a l com a intenção de construção de uma
oportunizado geralmente pelo na manipulação de materiais sonoros, prática cada vez mais consciente
educador, no qual a criança se o u i ns tru m e n t o s m u s i c a i s . (prática pedagógica), tem fundamento
depara com uma folha de papel em em concepções teórico-metodológicas
branco e uma dúzia de lápis ou giz de A musicalização infantil, atividade c o m f o c o n o s p r o c e s s o s d e educa çã o
cera coloridos, resulta, normalmente, músico-pedagógica organizada dos sentidos, possível pela integração
nas chamadas “garatujas” – um para que a criança, entre outras do sujeito, pela ação organizada como
emaranhado de rabiscos coloridos experiências sonoro-musicais, um princípio básico, pela interação
ou m ono cro má tico s q ue , no m í ni m o , manipule instrumentos sonoros, c o m s e u m e i o f í s i c o e s o c i al. Sã o os
d e m onstr a a o educa d o r a p e rc e p ç ão m us i c ai s o u n ã o , t a m b é m r e s u l t a n o métodos ativos2, onde criança tem
do espaço, do material, cores e gestos que podemos chamar de “garatujas voz ativa e participa intensamente
aind a ‘desengo nçado s ’ d a c ri anç a ao s o no ras ” e n ã o r a r o , m u s i c a i s . Ai n d a d a c o n s t r u ç ã o d e s e u c o n heciment o,
exper imentar tal at i vi d ad e . q ue c o m g e s t o s d e s c o n e x o s , p o u c a s sendo centro da atividade,
noções espaciais, sem sentidos favorecendo a sua produção, para
Est e ensa io não pre te nd e anal i s ar o s formais e continuidade discursiva, construir uma compreensão da
impulsos neurológicos e cognitivos do tal atividade pretende enfatizar a arte como cultura, do artista como
processo de formação e construção e s c uta at i v a , a a t e n ç ã o a o s s o n s q u e ser social e de si mesmo como
dos sujeitos, mas de propor um ela mesma, a criança, produz, as suas produtores e apreciadores.
paralelo com atividades em que a c arac te rís t i c a s e p r o p r i e d a d e s .
visão, o campo visual perceptivo do Na perspectiva de Keith Swanwick
esp aço ( fo lha de pap e l ) e d as c o re s , Em qualquer destas atividades citadas, (2003) o aprendizado musical só é
ceda lugar a outro sentido, o da a manipulação do material disponível possível se há na manipulação dos
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 57

A musicalização musicais, brincadeiras de roda com Suas percepções, suas críticas,


que tem como base c anti gas , o u t o c a d a s , c o n f i g u r a m u m incluindo os conflitos do grupo
universo sonoro de invenções, que são explicitados e resolvidos sob a
a experimentação p o d e m vi r a r C o m p o s i ç õ e s . mediação do educador.
sonora, Performance
- a manipulação Nos estágios iniciais, o objetivo Reconhecer que as ‘garatujas sonoras’
deve ser brincar, explorar, descobrir são resultado musical do trabalho
d e i n s t r u m e n to s e possibilidades expressivas dos sons e criativo coletivo dos alunos, sob a
objetos que produ- sua organização, e não dominar técnicas mediação do educador, exige uma
zam sons , e que se complexas de composição, o que poderia mudança de perspectiva, um novo
resultar em um esvaziamento do seu paradigma, que embora colida com
faça de forma lúdica, po te n c ial ed u ca t i vo . N a s a u l a s , m u i t a s os princípios tradicionais da música
exploratória, tem oportunidades para compor podem tonal, vai ao encontro de uma nova
como elemento, não surgir a p a r t i r d a e x p er i m e n t a çã o q u e estética musical, que chamada de
demanda ouvir, selecionar, rejeitar e contemporânea, música concreta,
único, mas também controlar o material sonoro (FRANÇA; e l e t r o a c ú s t i c a , a l e a t ó r i a , e nfim, seja
central, o brincar. S WA NWI CK , 2 0 0 2 , p . 1 0 ) qual for o rótulo, utiliza-se de qualquer

A re inc i dê nc i a de s t e br inc a r di r igi do ,


m at e ria is so no ro s, i nte nc i o nal i d ad e , pedagógico, é importante para a
imprimindo caráter expressivo, fixação dos jogos, brincadeiras, e
As crianças são
atribuindo valor e dando forma ao todas as atividades estão voltadas estimuladas a ouvir e
material, fator preponderante para para que os conceitos musicais comentar sobre o que
a existência do discurso. Assim, sejam incorporados; para que se dê
Swanwick apresenta um modelo para a o p ro c e s s o d e a s s i m i l a ç ã o 3.
elas mesmas produ-
compreensão da experiência musical, ze m . S u a s p e r ce p -
aprendizagem das modalidades e Na construção de sujeitos capazes çõ e s , suas crític as ,
desenvolvimento dos processos de apreciar o objeto artístico de
psicológicos, também conhecido forma consciente e crítica é que as
incluindo os conflitos
como parâmetros de Composição, práticas de Audição se apresentam do grupo são explic-
Apre ciaçã o e Per fo rm anc e – C ( L ) A ( S ) de forma sistemática, (o que não it a d o s e r e so lv i d o s
P – que permitem e facilitam o acesso quer dizer enfadonha). As crianças
dos alunos à experiência musical. são estimuladas a ouvir e comentar
sob a me diação do
A sigla, em inglês, faz referência s o b re o qu e e l a s m e s m a s p r o d u ze m . educador.
a três atividades principais da
música, a letra “C”, de Composition,
propõe ênfase à capacidade
c riat iva do educa ndo , a l e tra “A ”, d e
Audition se refere ao cuidado com
a audição, prezando pelo caráter
crítico deste sentido, a letra “P” de
Performa nce, pr o põe a p e rf o rm anc e
responsável e comprometida. No
que se refere às iniciais “L” e “S”,
respectivamente, Literatura e Skill
(esta compreendida como habilidades,
ou seja, técnica instrumental), o
autor as considera material de
su p or te à s o utras cate go ri as .

Deste modo, a musicalização que


tem como base a experimentação
sonora, Performance – a manipulação
de instrumentos e objetos que
produzam sons, e que se faça de
forma lúdica, exploratória, tem como
elemento, não único, mas também
central, o brincar. A brincadeira
séria, o u seja , co m f i ns p e d ag ó gi c o s ,
p lan ejada e ar ticula d a ao s c o nc e i to s
fundantes da música, como jogos Foto de William Rec inos do Unsplash
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objeto sonoro como som musical, A musicalização se mostra eficaz e oportuna


p assív el de o rganicid ad e .
em diversos aspectos que vão desde o musical
Se os conceitos da música tradicional até o social. A continuidade do processo de
(sistema tonal) podem ser abordados musicalização deve ser uma meta, sem a qual a
através das práticas de composição de experiência musical se esvazia e torna-se sem
est é t i ca co ntempo r âne a, o nd e to d o s
os sons podem ser musicais, portanto
sentido, perdendo-se no tempo.
passíveis de organização e dotados de Foto de Irina Murz a do Unsplash
significação visando a formação de
u m discurso co er ente , s uas re l aç õ e s
com as técnicas tradicionais de
composição são apenas primárias,
embrionárias para lograr um
conhecimento mínimo dos mesmos
conceitos fundantes da música tonal,
que invariavelmente ainda é a música
q ue s e o uv e, canta e f az .

A musicalização se mostra eficaz e


oportuna em diversos aspectos que
vão desde o musical até o social.
A continuidade do processo de
musicalização deve ser uma meta,
sem a qual a experiência musical
se esvazia e torna-se sem sentido,
perdendo-se no tempo. O caráter
cumulativo deste aprendizado aponta
sempre para novos caminhos e trilhá-
los implica em decisões, cabendo
o olhar crítico, investigativo e
p ropo sitivo do educ ad o r.

Jeasir S. Rego - Músico, Bacharel pela ULM-SP, licenciado e Mestre em Música pela UDESC, Educador e Pesquisador em Educação Musical.

2- Para saber mais: História das ideias pedagógicas no Brasil - Coleção Memória da Educação. Dermeval Saviani. Ed.4. Editora Autores Associados,

2007. 472 páginas

3- A Assimilação é o processo pelo qual a criança torna sua alguma informação, relacionando-se com o objeto de conhecimento para retirar dele

informações que irá reter em função de uma organização mental. Para saber mais leia: MUNARI, Alberto. Jean Piaget. Tradução e organização:

Daniele Saheb. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores).

Livros recomendados

- A Linguagem e o Pensamento na Criança. Trad. Manuel Campos. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959.

- O Nascimento da Inteligência na Criança. Trad. Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.

- Aprendizagem e Conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979.

- História das ideias pedagógicas no Brasil - Coleção Memória da Educação. Dermeval Saviani. Ed.4. Ed. Autores Associados, 2007..

REFERÊNCIAS

FRANÇA, C. C.; SWANWICK, K. Composição, apreciação e performance na educação musical: teoria, pesquisa e prática. In: Em Pauta, v. 13, n. 21,

dezembro/2002.

SWANWICK. K. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003. Trad. Alda Oliveira e Cristina Tourinho.
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BIG BA NDS NOS CÉUS


EDUC AÇ ÃO MUSIC AL - UM FORT E
ACRÉSCI MO COGNIT I VO
F o to d e Peter O k wa r a d o Un s p l a s h

P
ra quem não sabe, Big Band é com a figura do Band Leader (neste Portanto, somente em um período
um tipo de conjunto musical caso, Severino Araújo), seu repertório mais recente que o termo Big Band
que foi criado pelo jazz naquela e ra b as ta n t e b r a s i l e i r o . V a l e l e m b r a r se firmou, possivelmente por tentar
que veio a ser conhecida como a que as primeiras gravações da trazer mais precisão e, de certa
Era do swing, período histórico orquestra traziam os clássicos forma, se ligar a apreciação da
que compreende mais ou menos a ‘Espinha de Bacalhau’, um choro do música instrumental pura, com muito
d é c ada de 1 9 3 0 no s EUA . p ró p ri o Se v e r i n o e , p o s s i v e l m e n t e , a e s p a ç o p a r a i m p r o v i s a ç ã o (um t ra ço
p ri m e i ra g r a v a ç ã o d e ‘ V a s s o u r i n h a s ’ , característico do jazz) e se desvincular
Uma Big Band envolve os naipes o frevo mais conhecido do Brasil. d o s b a i l e s p o i s , a f i n a l , m u i t a s dessa
de saxofones, metais (trompetes e Assim, quando as gravações orquestras trabalhavam como bandas
trombones) e a chamada cozinha, musicais no Brasil se expandem, de baile. É por isso que modernamente
mais especificamente seção rítmico com o surgimento dos Long Plays e, a s Ba n d a s M a n t i q u e i r a , S pock Frevo
– harmônica (piano, baixo, bateria ao mesmo tempo, com a expansão Or q u e s t r a , S o u n d S c a p e , N a G a vet a ,
e guitarra). Muito embora norte- dos programas de rádio brasileiros, e muitas outras se autodenominam
americana, sua presença no Brasil através da Rádio Nacional, percebe-se p o r Bi g Ba n d s .
n ão t arda ria a a pa re c e r. Po ré m , s ua que o formato Orquestra (Big Band
p rim eir a deno mina ç ão não f o i us ad a ) teve lugar permanente como tipo No Brasil, de uma forma geral, parece
em língua inglesa, e por aqui foi de entretenimento. É interessante que alguns avanços ocorreram em
simplesmente chamada de Orquestra. comparar, por exemplo, com o caso governos progressistas e depois, à
argentino que em seu principal gênero duras penas, se mantêm como espaço
Uma das Big Bands mais importantes de música popular teve nas orquestras p a r a p o l í t i c a s c u l t u r a i s d e s t ina da s à
do Brasil foi a Orquestra Tabajara, típicas seu principal veículo, população mais vulnerável ou para
cuja a fundação remonta à 1938. Nesse normalmente formada por bandoneon a produção acadêmico-científica.
p on t o há uma cur io s i d ad e , tal ve z um e cordas arcadas (violinos, violas, Os exemplos dos CIEPs (Centros
traço característico de nossa cultura: violoncelos e contrabaixos) fazendo In t e g r a d o s d e P ú b l i c a ) , C É Us (Cent ro
em bo ra a Ta ba ja ra s e gui s s e q uas e a q ue q ue a s Bi g Ba n d s s e d e d i c a s s e m de Educação Unificadas), e da
rigor a formação americana, inclusive e xc l us i va m e n t e a o j a zz. e x p a n s ã o d a s u n i v e r s i d a d e s federa is
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De outra maneira, e oral. Parece que o que o idealizador usado como critério de valor como se
acredito que a aqui- tinha em mente era o modelo de a música escrita tivesse maior valor do
conservatórios norte-americanos que a intuitiva. No Brasil é fato que as
sição do domínio onde há departamentos de jazz ao bandas militares e civis preenchiam
da le itu ra e e scrit a l ad o d o s c l á s s i c o s . T a i s p a r a d i g m a s , esse lugar e as Big Bands, então, já
musical ocidental é bem verdade, não deixaram de no contexto do século XIX trariam
não deixa de trazer e s tar no h o r i zo n t e d o p r i m e i r o c u r s o uma prática mais atual.
superior de música popular da América
u m e n o r m e a c r é s- Latina, o da UNICAMP. Entretanto, O fato é que, findada a gestão
cimo cognitivo, não as primeiras turmas desse curso já progressista, a Big Band apareceu
necessariamente começaram a discutir e se polarizar de outras formas como nas escolas
àqueles dotados de e ntre “b ra zu c a s ” e j a zzi s t a s . s u p e r i o r e s d e m ú s i c a e n o s projet os
G u r i e G u r i S a n t a M a r c e l i n a . Nesses
m u ito t a l e nto m a s , Por outro lado não existe no Brasil casos, já não se trata de uma Big Band
exatamente, àqueles algo sistemático no sentido de um em cada polo (que reúne os CÉUs e
com maiores dificul- material pedagógico para as Big Bands outras unidades) mas, sim, de uma
dades na intuição. como nos EUA, até porque lá as Big Big Band central na qual alguns
B and s f aze m p a r t e d o e n s i n o m é d i o , alunos seletos dos diferentes polos
trazendo uma demanda enorme se juntam para realizar a temporada.
de publicações para a formação Além disso, houve a sensibilidade
que, alguns casos ocorreram em p o r ní ve l d e d i f i c u l d a d e . de que somente essa formação não
estados que sequer tinham tais faria jus a uma realidade complexa
universidades e, por outro, tinha O que se nota é, também, a valorização como a da música popular e houve
propostas estratégicas como a da do conhecimento da leitura musical também espaço, no caso do Guri
UNILA, das Universidades Rurais, etc. como uma espécie de capital cultural. Santa Marcelina, para um grupo de
O que pareceu singular no primeiro Ou seja, a música popular que se Choro, dentro de uma perspectiva
projeto, idealizada pelo ex-docente permite é aquela minimamente instrumental mais aberta, sem um
da USP Henrique Autran Dourado, vinculada com a escrita o que, de instrumental fixo, ainda que o gênero
en t ão direto r da Esco l a M uni c i p al d e fato, o universo das Big Bands traz, possa ter criado a formação do
Música de SP, de Educação Musical ainda que, aliada à improvisação e chamado Regional.
para os CÉUs, em sua primeira gestão, a convenções de acompanhamento
foi a presença das Big Bands, ou seja, como as cifras de violão também Aparentemente, se pensarmos no
dessa formação singular dentro de us ad as p a r a o p i a n o . contexto sóciocultural onde muitos
t ais u nidades que, c o m o s e s ab e , s e polos se inserem, constata-se um
localizam em regiões afastadas do De outra maneira, acredito que a abismo entre o que se propõe e a
c en t ro da cidade, e te m p o r o b j e ti vo aquisição do domínio da leitura e realidade instaurada. Claro que, de
atender como forma de educação escrita musical ocidental não deixa de certa forma, o que se pretende é
complementar para a população trazer um enorme acréscimo cognitivo, transformar essa realidade, e escutar
dessas regiões a promoção de espaços não necessariamente àqueles dotados as comunidades é fundamental. Um
e eventos de cultura, esporte e lazer. de muito talento mas, exatamente, dado, para ilustrar, é que o samba
àq ue l e s c o m m a i o r e s d i f i c u l d a d e s n a e o c h o r o h á m u i t o d e i x a r am de ser
Percebe-se, nesse movimento que intuição. A racionalização de padrões gêneros ligados às comunidades da
o primeiro espaço educacional de execução, aliado às convenções p e r i f e r i a , o q u e e r a c a r a c t e r íst ico do
em termos de política públicas de estilos musicais parece ser a Rio de Janeiro na primeira metade do
para a formação musical, do grande contribuição ao fazer musical século XX, mas sofreu uma espécie
ponto de vista da música popular, dos seres humanos “normais”. de ‘restrição territorial’ e passou a
se dá de uma forma enviesada Talvez até por isso o entendimento ser cultuado em guetos musicais mais
tendo na Big Band uma espécie racional possa até banalizar o fato específicos, ao mesmo tempo em que
de paralelo popular da Orquestra quando passa de misterioso para foi sendo substituídos por outras
Sinfônica na música c l ás s i c a. s e r c l as s i f i c a d o e , a o m e s m o t e m p o , m a n i f e s t a ç õ e s d e c u l t u r a d e ma ssa .

Esse pensamento traz no seu bojo


o fat o de que o a gen te q ue l e g i ti m a
a música popular foi, em primeiro
lugar, o músico de formação
clássica. Desse modo a sua visão Paulo Tiné
se dá a par tir de um ti p o d e m ús i c a Dr. Profº Musicólogo - UNIFESP - Trabalha com Big Bands há quase 30 anos.
que se legitimou na história pela
originalidade e singularidade mas,
t am bém se co lo co u c o m o um c ó d i g o Para ouvir Espinha de Bacalhau de Severino de Araújo:
m ist o entre a cultur a m ús i c a e s c ri ta https://youtu.be/fryPISqGOYM
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE


AS FILOSOFIAS DA EDUCAÇÃO
MUSICAL ESTÉTICA E PRAXIAL
musical que evidencia os valores
e x t r í n s e c o s d a a t i v i d a d e musica l

[...] é referida pela literatura como


utilitária e funcional, referencial ou
social e está fundamentada na
p r o m o çã o d a m ú s i c n a e d u ca çã o c om
fins não musicais, ou seja, na educação
por valores instrumentais e não
estéticos... a literatura aponta cinsco
funções utilitárias na música: 1)
desenvolvimento emocional; 2)
universalidade da música como um
meio para a comunicação social; 3)
i n t en çã o m o r a l e p r o m o çã o d e d ire çã o
J ea s i r R eg o - M s M ú s i c a U D E S C
m o r a l p a r a a co n d u t a d i á r i a ; 4) va lor

O
que O ensino de música nas A ab o rd a g e m f i l o s ó f i c a e m e d u c a ç ã o disciplinar; 5) valor espiritual.
esco la s da r e d e d e e ns i no d e musical que enfatiza os valores ( F ERN A N D ES, 2 0 0 4 , p . 8 3 )
nível fundamental, assim intrínsecos da atividade musical é
c om o a educaçã o em g e ral , re g ul ad o discutida por Fernandes (2004), que As abordagens intrínseca e extrínseca
p or leis e o utro s doc um e nto s l e gai s , utiliza referências de Temmerman* das filosofias da educação musical,
apre sentam a spectos q ue p o d e m s e r para situar as questões filosóficas da aqui entendidas e nomeadas como
identificados com as perspectivas educação musical. Tal abordagem, Educação Musical Estética por Bennet
filosóficas de uma é p o c a, d e um a o u que enfatiza os valores intrínsecos da Reimer, e Educação Musical Praxial,
várias tendências pedagógicas, e xp e ri ê n c i a m u s i c a l por David Eliot, apresentam
ideológicas ou de políticas públicas fundamentos definidos a partir de
para a educação de artes. [...] se refere à educação musical como vários teóricos da psicologia, da
educação estética e está baseada na linguística, da sociologia, da filosofia
A pesquisa “Perspectivas curriculares promoção da música por ela mesma, e outros campos do conhecimento.
brasileiras oficiais para a educação não requerendo justificativa externa, Além disso, esses autores investigam
musical nas escolas públicas do ou seja, os valores da educação musical cientificamente a natureza da
ensino fundamental”, realizada por estão contidos no valor próprio da experiência em música, estudo este
Fernandes (2004), em todos os música. Vários autores defendem que q u e s e r v i r á c o m o b a s e p a r a a defesa
estados e nas capitais mais a meta da educação musical é o d e c a d a u m a d e s u a s p e r s pect iva s e
representativas de cada região do desenvolvimento da consciência e da suas aplicações no campo pedagógico
B rasi l, a lém do D istri to F e d e ral , te ve sensibilidade estética, que incui a
p or finalidade anali s ar as p ro p o s tas pe rc e pç ão e a r e s p o s t a à s q u a l i d a d es Reimer justifica a necessidade de uma
c u rricular es de educ aç ão m us i c al d e expressivas da música. Essa filosofia Filosofia da Educação Musical (FEM)
cada uma das unidades federativas. vai além da simples aquisição de que “deve ser uma demonstração
O relatório parcial (junho de 1998), conhecimentos sobre música e da sistemática da natureza e do valor da
no que se refere à análise das habilidade de execução de peças. Ela educação. De acordo com essa
considerações filosóficas dos inclui a completa imersão na música, premissa, esta demonstração deve vir
documentos, aponta para uma suas combinações sonoras, forma e de uma investigação da natureza e do
predominância de fundamentos desenvolvimento, tratando da função valor da música”. (REIMER, 1970, p.1).
filosóficos vinculados a argumentos única da música “como um significante Compreender esses valores e a
intrínsecos – onde os valores da modo simbólico disponível aos natureza da experiência musical é um
ed uc açã o musica l e s tão c o nti d o s no indivíduos, para se expressarem fator preponderante para que
valor da própria música, enquanto simbolicamente, o que não pode ser profissionais apresentem para a
uma minoria (20%) apresentou representado pela linguagem verbal”. sociedade como um todo a
argumentos extrínsecos onde a (TEMMEERMAN, apud FERNANDES, 2004, i m p o r t â n c i a d a e d u c a ç ã o musica l.
educação musical está fundamentada p. 8 3 ) .
em fi ns não musica i s , e s i m s o c i ai s e As t e o r i a s e s t é t i c a s s ã o a mpla ment e
u t ilit ár io s. Já a abordagem filosófica em educação discutidas por Reimer, que aponta
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referências e explica porque adota d o s s e nti d o s . essência relativa à sua estrutura, o


c ada uma delas. São c o ns i d e rad as as p o d er d e s en t i - l a d e fo r m a i n t e lige n t e
correntes denominadas Absolutismo, A questão central da proposta e o crescimento musical é o processo
Referencialismo, Formalismo e filosófica de Reimer é como a g r a d u a l p e l o q u a l a es t r u t u ra mu s ica l
Expressionismo estético. Para que educação musical pode ser também pode ser mais plenamente
tenhamos uma perspectiva inicial uma educação estética. A audição experimentada. (REIMER, 1991,
destas teorias, Reimer apresenta cada como parte inexorável da criação p.130).
u m a dela s: deve ser encorajada e sensibilizada
pela performance, pela composição D a v i d E l l i o t t d e c e r t a f o r m a se opõe
a) O Absolutismo julga que para e, também, pela improvisação. Reimer ao pensamento de Reimer em termos
en t e nder o significa d o d o f az e r arte considera duas categorias de f i l o s ó f i c o s p a r a a e d u c a ç ã o musica l.
(e da obra de arte) é necessário experiência com música, estética e No entanto, este autor também
atentar para as qualidades internas musicais e não estéticas e não apresenta preocupações semelhantes
do criar e do pensamento criativo musicais, podendo ser funcional, às de Reimer ao defender a educação
(artístico). Em música devem-se referencial ou acontecer em nível musical a partir da filosofia Praxial.
perceber os sons, melodia, ritmo, té c ni c o c r í t i c o . F u n c i o n a l é a q u e s e Esta propõe como foco do processo
harmonia, tons, textura, dinâmica, refere ao caráter utilitário da de ensino e aprendizagem, uma
forma e atentar para o resultado experiência estética, ou seja, o uso abordagem ampla e reflexiva, baseada
deles, como agem sobre o ser prático, terapêutico, moral, religioso, nos seguintes fundamentos: a) os
h u m ano . moral, político, comercial, entre trabalhos musicais nos levam a
outros, da arte. Referencial é a que diversos propósitos; b) a ‘inteligência
b) O Referencialismo propõe outra não foca a experiência musical em si, musical’ envolve muitos tipos de
leitura. De acordo com esta apenas aponta esse tipo de pensamentos e conhecimentos que
perspectiva, o significado e os valores experiência. O nível técnico-crítico e s t ã o e s t r e i t a m e n t e r e l a c i ona dos; c)
da obra de arte e do fazer arte existem difere das experiências referenciais o significado da música na vida do ser
fora do ser criativo. Para se entender por seu caráter pré-estético e faz h u m a n o p o d e e x p l i c a r -s e em t ermos
o significado da arte é necessário alusão aos aspectos técnicos da obra, de muitos valores importantes. Do
mergulhar no mundo das ideias, portanto uma preocupação com a ponto de vista cultural, a música é
emoções, eventos; a arte se refere ao obra em si, seus elementos intrínsecos “essencialmente um modo de ouvir os
ser em um mundo fora da obra de f o rm ai s . sons poderosamente moldados sobre
art e . metáforas impostas por nossas
Quando se coloca lado a lado a perspectivas e experiências
c) O Formalismo concentra-se aud i ç ão , p e r f o r m a n c e , c o m p o s i ç ã o e psicofisiológicas” (ELLIOTT, 1990,
exclusivamente nas qualidades i m p ro vi s a ç ã o , p a r e c e f i c a r c l a r a a q u i p . 13) .
intrínsecas da obra de arte. Nega a a correspondência dos conceitos de
existência e o valor de significado valores extrínsecos e intrínsecos Para Elliott o caráter multidimensional
extrínseco (extra-artístico) e valor ou, cidatos por Fernandes (2004) e a d a m ú s i c a e x p l i c a a e s s ê n cia de sua
pelo menos, nega que o mundo preocupação com essas duas filosofia, que traz um conceito
exterior contribua com algo de d i m e ns õ e s d a e x p e r i ê n c i a m u s i c a l , a multidimensional da música e do
im portância pa ra a o b ra d e arte e a estética e a prática. Reimer faz produto musical, da inteligência
experiência dela. As influências referencia a dois pontos de vista musical, dos valores musicais na vida
culturais do artista podem ser muito característicos do pensamento do ser humano e os múltiplos
reconhecidas, mas são insignificantes de James Mursell1 - que foi uma enfoques para se chegar a estes
ou se cundár ia s. re f e re nc ia i m p o r t a n t e p a r a o e s t u d o valores. Sua proposta central é a que
de diversos aspectos da área de o fazer música de qualquer classe,
Reimer defende uma postura educação musical nos Estados Unidos gênero, estilo, seja o cerne de todo
Absolutista-Expressionista, da América – que ilustram sua c u r r í c u l o d e e n s i n o d e m ú sica .
considerando esta vertente c “mais p re o c up a ç ã o e s t é t i c a : Dentro desse conceito de
adequada para a educação das multidimensionalidade de Elliott, não
massas numa sociedade democrática” [...] em filosofia, a noção da essência há como não considerar o da
(REIMER, 1989, p.27). O que distingue da música é de vida interior, e na multiculturalidade, onde encontramos
o t rabalho co m ar te d e vári as o utras psicologia a noção é de crescimento preocupações com a diversidade
experiências é o seu caráter subjetivo; musical. Essas duas ideias, presentes cultural:
portanto sempre haverá respostas em todos os escritos, estão intimamente
subjetivas para estas questões. O ligados ao ensino da música A diversidade de atividades musicais no
sen t ir estético , co m o p arte d o s e r, é (considerando seus desvios ocasionais), mundo exclui-se da dedução de
especialmente difícil de oralizar. devendo-se compreender suas universalidade partindo da estética
N e st e sentido , educ ar m us i c al m e nte interrelações na plenitude das suas ocidental, da musicologia e
é educar esteticamente e isso intenta m uitas im p l i ca çõ es . Em ce r t o s en t i d o , Etnomusicologia descritivas. Estas
tornar mais hábeis para a experiência o conceito é simples e elegante: toda disciplinas tendem a restringir-se na
musical, artística. É uma educação música é caracterizada por uma música como uma história limitada a
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obj et os e prá tic a; so ns c o n ge lado s e m vaz i o , s e m l a s t r o , o u d e u m a p r á t i c a estrutura de linguagem pré-


notações e gravações; valores inconsistente, sem a consciência de estabelecida, ou a própria audição,
metafísicos fixos e acomodados em um sua contextualização. A discussão também são expressões dessas
conjunto de obras; técnicas de execução sobre a experiência estética e a dimensões. Em ambas as filosofias as
s i st ematizadas; peç a s analisadas c o m praxial considera primordial a d i f e r e n t e s d i m e n s õ e s d a e xperiência
metáforas acadêmicas, formas e multidimensionalide da música no m u s i c a l s ã o c o n s i d e r a d a s de gra nde
fórmulas. São precisamente estas que se refere à “dimensão externa ao importância e muito produtivas.
concepções que se opõem, na sua homem, seu sentido social, contextual, Se ndo a s s i m , a e duc a ç ã o e s t ét ica , ou
aplicação, à música de todos os tempos cultural, formal e estilístico e sua o f o c o n a a u d i ç ã o , a p r e c i a çã o, é t ã o
e de todos os lugares. ( E L L I O TT, 1 9 9 0 , dimensão interna, qual seja, seu importante quanto o fazer música,
P .12) sentido emocional, afetivo, tocar um instrumento, compor uma
sentimental, cognitivo, criativo” obra.
A despeito dos conflitantes conceitos (Lazzarin, 2004, p.30). Em vários
acerca de multiculturalismo2 e do momentos encontramos tanto Reimer Q u a n d o n ó s s a b em o s co m o fa ze r a lgo
próprio conceito do que é multicultural quanto Elliott referindo-se a tais de forma competente e proficiente,
Elliott apresenta uma preocupação questões em suas argumentações nosso conhecimento não é manifestado
etnológica ao considerar as várias filosóficas. verbalmente, mas praticamente.
manifestações espontâneas da música Durante a contínua ação de cantar e
em diversos povos. Sua ênfase aponta A multidimensionalidade que cada tocar instrumentos nosso conhecimento
para o único ponto de universalidade filosofia compreende de uma forma m u s i ca l e s t á n a s n o s s a s a çõ e s ; n os s os
da música, que é o simples fato de própria, tem sido uma maneira de p e n s a m e n t o s m u s i ca i s e s t ã o e m n os s o
fazê-la, e todos os povos a fazem, aprender e dominar a complexidade da fa ze r m u s i ca l . ( EL L IO T T , 1 9 95, p .56) .
independente de época, função, credo experiência musical, mais que a
e localização geográfica. Com este tentativa de compreendê-la. Também A reflexão sobre esses conceitos
conceito questiona os padrões e te m , c o ntu d o , a j u d a d o a fr a g m e n t á - l a , filosóficos discutidos por Reimer e
valores da tradição europeia, um a v e z q u e e x i s t e u m a h i e r a r q u i a , o u Elliott a respeito da educação musical,
considerado preconceituosamente seja, sempre uma dimensão é pode trazer contribuições substanciais
como música séria que despreza as privilegiada em detrimento das outras. p a r a a f u n d a m e n t a ç ã o d e currículos
práticas musicais que fogem a seus (LAZZARIN, 2004, p.30). para o ensino de música na escola
padrões, rotulando-as de música brasileira. Na segunda parte deste
p rim itiv a. O ato d e c a n t a r , c o m p o r o u i n v e n t a r artigo, que será publicado aqui em
canções, improvisar, tal qual fazem breve, será apresentada uma breve
As dimensões estética e praxial são os repentistas nordestinos, por discussão sobre documentos legais
multidimensionais por apresentar exemplo, atividades musicais q u e t r a t a m d e a s p e c t o s d a educa çã o
cada uma delas grande complexidade espontâneas e de natureza musical no Brasil e suas possíveis
de desdobramentos que vão do independente da teoria ou da correlações com os fundamentos
filosófico, psicológico, ao prático, musicologia, do ensino e de uma d e s t e s d o i s r e f e r e n c i a i s t e óricos.
social, e não parecem ser metodologia científica, reúne essas
fragmentáveis. “Todas as formas de d i m e ns õ e s . As s i m , t a m b é m , d e o u t r o
fazer musical envolvem uma forma lado, atividades como arranjo ou
m ult idimensio na l de p e ns ar” ( El l i o tt, regência, numa perspectiva
Jeasir S. Rego
1995, 0.33). Não se pode separá-las convencional, que dependem de um Ms Música e Educação UESC
sem o risco eminente de um discurso conhecimento prévio de uma Professor do SESC Florianópolis

1-James Mursell escreveu extensivamente sobre educação musical e o uso da música na sala de aula. Ele enfatizou o papel do aluno na aprendiza-
gem e a importância da motivação intrínseca. Dentre vários escritos, o livro Music In American Schools. New York, NY: Silver Burdett Co. serviu de
base para muitos educadores musicais norte-americanos.

2-O multiculturalismo, de uma maneira geral, vem sendo utilizado para definir uma visão de mundo que respeita a diversidade de modos de vida
de cada uma das sociedades em suas características próprias, seus valores éticos e sua identidade cultural (...) Nas duas ‘filosofias’, música se torna
uma forma de conhecimento do outro, tendo como premissa o caráter ético de respeito a todas as práticas musicais. (Lazzarin, 2204, p114).

REFERÊNCIAS
ELLIOTT, D.J. 1990. El papel de la música y de la experiência musical em la sociedade moderna: hacia uma filosofia global de la educación musical. In.
Gaiza, V.H. Ed. Nuevas Perspectivas de la Educación Musical. Buenos Aires: Guadalupe.

FERNANDES, J.N. Normatização, estrutura e organização do ensino de música nas escolas de educação básica do Brasil: LDBEN/96, PCN e currículos
oficiais em questão. Revista da ABEM, v. 10, 75-78, mar.2004.

LAZZARIN, L.F. Uma compreensão da experiência com música através da crítica de duas ‘filosofias’ da educação musical. Fac. De Educação,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.

REIMER, B. Music Education Philosophy and Psychooogy after Mursell. In Basic concepts in music education. University Press Colorado, 1991, v.II.
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O ENSINO E DESENVOLVIMENTO DO DESENHO


ATRAVÉS DA ARTE VISTO POR UMA PERSPECTIVA
PEDAGÓGICA SÓCIO CONSTRUTIVISTA
Após essa breve contex tualização,
vamos pensar agora, na evolução
do currículo da Rede Municipal de
Educação da cidade de São Paulo.
Desde 20 09, ele passou por vários
e s t á g i o s a t é c h e g a r e m 2 0 17 n o
Cu r r í c u l o d a C i d a d e . O q u e i m p o r t a
é entender que o cur r ículo é f lexí vel,
m o d u l a r, a d a p t á v e l , a r e a l i d a d e d o
aluno e da comunidade são levados em
conta nos planejamentos pedagógicos.
Es t a inserido no conceito da Educação
Integral que não é a escola em tempo
integral, mas, se refere no aluno como
Fo to d e A a r o n Bu r d en d o U n s p l a s h

V
um ser humano complexo, com direitos
a m o s f a l a r d e d e s e n h o? N ã o a 2017, anos em que es ti ve na s ala de d e a p re n diz age m , ins e r id o na s o c ie -
daquele dos grandes ar tis- aula, como ar te educadora da Rede dade e que possui várias inteligências.
t as que vão de Michelangelo, Municip al de Educ aç ão da C idade de Dess a forma, o currículo faz par te das
Pic asso, Tar sila ou um outro que você S ão Paulo. E de 2018 a 2019, como for- propos t as interacionis t as e sócio con -
se recorda. Vamos falar da produç ão ma dora de profe s s ore s , no c ar go de s t r u t i v is t as , en xer gan do no aluno, o
e do ensino de desenho nas escolas e c o o r d e n a d o r a d o p o l o UA B / U n i C E U. cr iador da própr ia aprendiz agem.
você já deve es t ar ques tionando o por Não há a pretensão de instruir e passar
quê e qual a impor tância desse assunto métodos de ensino do desenho, muito Ao compreender essas propos-
para a educação. Para começar, vamos menos de oferecer receitas, a intenção t a s , e n s i n a r d e s e n h o n ã o p o d e co n -
r e co r d a r : co m o f o r a m a s s u a s a u l a s é di v idir, compar t ilhar, cr iar debates tinuar sendo nos moldes da edu-
de A r te? Como foram as ati v idades de sobre esse assunto que ainda parece cação tradicional. Prefiro propor
desenho? Provavelmente não se lem - como “ t abu ” para os professores. o “Desenvolvimento do Desenho
brará do nome dos seus profes sores Culti vado ”, que logo será explic ado. E
de A r te e ainda , re cordará das a t i v i - Pa r a f a l a r d e d e s e n h o é n e c e s s á r i o as propos t as para o ensino de ar te no
dades como des enho li v re, “desenhe compreender o processo da legitima - Cur r ículo da Cidade, s ão trans for ma -
suas fér ias ” e das garatujas. Que você ç ã o d o e n s i n o d e A r t e. S o m e n t e e m doras , interdisciplinares , com conteú -
n ã o t i n h a , o u a té t i n h a t a l e n to p a r a 1996 ela passou a ser obrigatória como dos e s ab ere s própr ios , dialoga com
desenhar, mas que era uma ati v idade disciplina nas escolas, deixando de as necessidades da sociedade con-
sem impor t ância para se dedic ar a ela ser, mais uma atividade como prescre - te mp orân ea: A r te - Ensin o -S o cie da de.
ou foi enc arada como um pass atempo v ia a LDB 4 691. A ntes disso, se ensin - A A r te produz conhe cimento at ravé s
na infância . av a nas aulas de Educ aç ão A r t ís t ic a: de cinco áreas: Ar tes Visuais, Ar tes
cor te e costura, tricô, decoração e Cênic as , Danç a, Músic a e Literatura -
É necessário discutir esses concei- etc - e essas aulas destinava-se ao cada uma delas utiliza suas linguagens,
tos que es t ão enraiz ados na escola e público feminino. Mesmo após a con - elementos , ins tr umentos própr ios , os
na n o s s a c ul t ura . A in da h oje a c re di - quis t a, o ensino de A r te ainda é v is to quais podem se unir para desenvol ver
t am que é pr imordial ter t alento para por alg umas ges tões escolares como uma n ov a pro duç ã o ar t ís t ic a , o qual
desenhar e que o ensino do desenho decoração de fes t as temáticas , passa - chamamos de Linguagens Hí br idas.
não passa de momentos livres de tempo, atividade de relaxamento após
expressão, sem necessitar de uma as aulas “mais pes adas ”. Nesse c alde - Compreendendo isso, por que a A r te
p r o p o s t a o u p r o ce d i m e n to p a r a s e u irão de más opções , o desenho é v is to ainda é ensinada de forma tão rudimen-
desenvol v imento. Por isso, esse tex to como entretenimento: “quem ac abou t ar e ultrapass ada? A nalis ando ess as
tem a propos t a de quebrar esses pre - a p r o v a p o d e d e s e n h a r u m p o u c o ”, mudanças também temos algumas res-
co n ce i to s , o u p e l o m e n o s , ins t igá - l o “ hoje na úl t ima aula poderão de s en - pos tas para esse problema: má forma-
a busc ar conhecer as novas teor ias e har ” ou ainda como se escuta “ tô muito ç ão de professores , a falt a de for ma -
prátic as no que diz respeito ao ensino c ans ado para planejar uma ati v idade, ção continuada e específ ica, a falt a de
do desenho na escola. Será um resumo darei desenho li v re.” especialis t as para c ada área, falt a de
dos meus relatos de prátic as de 2010 professores de A r te já que muitos s ão
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ar tis t as e “ fogem ” da c arreira no mag- O de s enho é uma ling uagem aç ão, imaginaç ão, percepç ão e sen -
i s t é r i o, e n t r e o u t r o s . Co m o u m p r o - que ul t rap as s ou s é c ulos e a t ra ve s s a sibilidade. Através dele, os pro -
fessor do Ensino Fundament al I , ped - tempos históricos, fazendo-nos fessores podem usuf r uir de meios
agogo ou de A r te que não possui uma pensar e t alvez concluir, que o homem para outras áreas do conhecimento.
for maç ão específ ic a em ar tes v isuais sempre desenhou, consequente- Para isso, tem alguns procedimen -
e m u i to m e n o s e m d e s e n h o, p o d e r á mente as cr ianç as t ambém apes ar de tos necess ár ios para o ensino, os
desenvolver atividades enriquece- não exis tirem regis tros. Longe de ser quais serão expos tos. Vamos pens ar
d o r a s e q u e s t i o n a d o r a s? S e n e m a o rabiscos ou pass atempos , o desenho e apresent ar em propos t as de aula
m e n o s h á u m a f o r m a ç ã o co n t í n ua à da criança merece ser estudado, e v iáveis e adapt áveis para a realidade
e l e s? C o m o u m e s p e c i a l i s t a p o d e r á valeremos da professora doutora Rosa escolar, seja ela qual for. E delas , o
desenvol ver A r te para as sér ies inici - Iavelberg, quem pesquisou e criou desejo é que se cr iam muit as outras ,
ais com uma aula semanal? Sendo que mé todos p ara o de s envol v imento do porque o conhecimento é v i vo e se
é ness a idade que inicia o desenvol v i - d e s e n h o c ul t i v a d o. O d e s e n h o c ul t i - trans for ma.
mento cr iador e ar tís tico. vado subs titui o desenho espont âneo
da escola renovada. Ele é inf luenciado Primeiro, todas as propostas estão
S ão di ver sos problemas que de for ma pela cultura, “mantém seu epicen- f undament adas na propos t a tr iangu -
geral, o Brasil enfrenta quando o t ro n a c r ia n ç a , s u j e i to c r ia d o r i n f o r- lar de A na Mae B ar bos a, onde a ar te
as sun to é a Educ a ç ã o, os ap on t a dos mado, que produz como prot agonis t a é ensinada através de três eixos que
s ã o v is to s in l o co n a s e s co la s p úb li - de seus desenhos ” (I AV ELBERG , 20 0 6 , dia l o ga m e n t re si: o f a ze r, o co n te x-
c as e algumas par ticulares da cidade p. 12). Precis a entender a dinâmic a do t u a l i z a r e o a p r e c i a r. S e g u i n d o e s s a
de S ão Paulo na região noroes te. E o ato de desenhar por ser uma aç ão cr i - abordagem, o desenho cultivado
result ado s ão cr ianç as sem es tímulo, ativa. O desenho nessa ação é cria- também será desenvolvido, muitas
auto estima para as aulas de ar te, t i vo, um o bje to simb ó lico e c ul t ural , vezes em um contex to his tór ico. Mas
sem uma v is ão e conhecimento sobre expressivo, construtivo, individual- i n d e p e n d e n t e d e u m t e m a , é i m p o r-
a cultura brasileira, sem criativi- izado e inf luenciado pela cultura. E tante que haja muita apreciação de
da d e, c r i té r io s d e anális e a r t ís t ic a e ainda , de acordo com Ros a ( 20 0 6) , é i m a ge n s , o b r a s , f o t o g r a f i a s , m í d i a s ,
c u l t u r a l e s e m co n h e c i m e n t o b á s i co possível ensinar a desenhar para todas f ilmes entre outros, para que a criança
sobre Ar te em geral. Prevalece o as pessoas, desde que tenham uma c r ie um re p e r tó r io p ró p r io e sig ni f i -
preconceito entre os alunos e pro - or ient aç ão didátic a adequada. cativo, fugindo dos desenhos este-
fessores: para ser “bom nas ar tes é re ot ip a d o s . Há b l o qu e io s c r ia t i v o s e
necess ár io ter t alento e s aber us ar as Para haver o desenvolvimento de estagnação da prática no momento
mãos para produzir coisas bonitas, forma integral, precisa entender e me que as crianças “são expostas a
danç as com passos codif ic ados e dec- co m p r e e n d e r a s f a s e s co g n i t i v a s d a u m e xce s s o d e i m a ge n s v i s ua is p e l a
orados , tocar um ins trumento...” e criança, os contex tos educativos e mídia, sem trabalho orientador de
por aí vai. São poucos os professo - sociais , respei t ando os proces sos de leitura e desenvolvimento de percurso
res que desenvol vem ati v idades com c ada fase: t anto para es timular e não de criação pessoal.” (IAVELBERG, 20 06,
f luiç ão de s aberes , o que é v is to, s ão d e i x a r e s t a g n a r. “A a p r e n d i z a g e m , p. 57 ). É impor t ante respei t ar o rep -
t r a b a l h o s i n d i v i d ua i s e p o n t ua i s e m por tanto, afeta o desenvolvimento er tório trazido pelo aluno, utilizá-
algumas escolas independente da do desenho e é or ient ada por conteú - lo, dialogar porém não aceit á - lo sem
ges t ão escolar. Dentro desse cenár io, dos de diferentes âmbitos (cogniti vo, ques tionamento:
foc aremos nesse momento no ensino f ísico, afeti vo) que se ar ticulam desde
do desenho. Ao pens ar na linguagem, os desenhos pré - simbólicos iniciais .” Partir e/ou considerar o repertório de obras e
sabe -se que é uma das mais antigas do (I AV EL B ERG , 20 0 6 , p. 12). O de s enho conceitos que os estudantes trazem não sig-
mundo. A nte s da fala , os homens da faz par te do caminho simbólico de nifica perpetuar incondicionalmente qual-
Pr é - E s c r i t a s e co m u n i c a v a m a t r a v é s c ada indi v íduo, faz par te da poétic a e quer tipo de produção e repertório – isso não
de ges tos , do cor po e do desenho. A s marc a pessoal, inser indo numa di ver- seria dialógico. Ao professor cabe convidar o
pinturas nas cavernas, principalmente sidade cultural. Por isso é impor t ante estudante a repensar, refazer, refletir, retomar
as de A lt amira na Espanha e L asc aux aceit ar as diferenç as , ensinar a di ver- sua produção e repertório e abrir as possi-
na Franç a , s ão mui to mais que mãos sidade, não moldando e enquadrando bilidades de diálogo a partir de outros ref-
espalmadas e desenhos rupestres. em estilos porque assim, cumpre erenciais e leituras (...). (MARQUES, BRAZIL,
Nelas sabe-se do desenvolvimento t ambém com os propósitos da educ a - 2014, p. 122).
de ins t r um e n to s e ma te r iais p ic tó r i - ç ão integral por ser didátic as inclusi -
cos, da relação ritualística entre o vas e democrátic as. O desenho cultivado se transforma,
Homem, a Representação e os espaços é in f lue n c ia do, é p ro du to da c ul t ura
da c averna. Nada foi por ac aso, hou ve VAMOS PENSAR NO em que o aluno es t á inser ido. Ent ão,
um apr imoramento, desenvol v imento DESENHO NA SALA serão apresent adas as fases es tipula -
das técnic as e há hipótese que até a DE AULA? das pela Ros a Iavelberg :
f igura do “ar tis t a ” foi cr iada naquele De fato, o desenho é uma linguagem
per íodo. que se trans for ma, se desenvol ve 1 – A ç ã o: o s d e s e n h o s s ã o p r é - s i m -
a par tir da integraç ão da cogniç ão, bólicos e progressi vamente se tornam
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s í m b o l o s . É a f a s e d a AÇ ÃO, p o r q u e S ã o n e ce s s á r ias p rá t ic as e sp e c í f ic as outros alunos e de ar tis t as; exercícios


p a r a a c r ia n ç a , d e s e n h a r é r a b i s c a r, e guiadas para não bloquear a cr iati v- com desenho de imaginação, memória
explorar movimentos, planos, agir idade e es timular uma produç ão con - e de o b s e r v a ç ã o (o u t ro s de s e nh o s e
numa super f ície. Ela produz para ser sciente inf luenciada por uma esté- d o m u n d o f í s i c o) . P a r t i n d o d e s s a s
v is to, o ato cr iador é o ges to que aos tic a ins tigante. Nor malmente é a fase dinâmicas e conceitos será expos ta
poucos é coordenado com o olhar e com das cr ianç as do ensino f undament al, uma prática e os result ados das aulas ,
o cor po todo. 2 – Imaginaç ão I: esses e elas s ão bombardeadas por padrões q u e s ã o p r o d u çõ e s d o s a l u n o s . El a s
traços progressi vamente se trans for- adultos. Para que o desenvol v imento p ar te m do p r in c ípio e m de s envol ver
mam em símbolos: casa, bola, sóis etc. do desenho cultivado continue, é e lem en tos g rá f icos e de comp osiç ã o
Para a cr ianç a, desenhar é represen - n e c e s s á r i o e x t i n g u i r a b o r d a ge n s d a d o d e s e n h o, s ó q u e f u g i n d o da p r o -
tar os objetos visíveis, e são feitos li v re express ão, ref letir e pratic ar téc- pos t a te ór ic a e t radicional das aulas
de forma separada, desar ticulada e nic as como for mas de pens ar e habili - de A r te.
jus t ap os t a . É a fas e da IM AG IN AÇ ÃO dades. 5 – Proposição: é a apropriação
1. 3 – Imaginaç ão II: é o momento do do desenho como ling uagem e x pres - A p ro p o s t a é ofe re ce r a o alun o uma
d e s e nh o dia l o ga r e re p re s e n t ar nar- siva, funcional e cultural, e a criança se folha com apenas 4 pontos pretos.
ra t i v as . O de s e nh o tor na - s e image m en xergar como um produtor cultural. Deve orientá-lo a criar algo com a
nar rati va, e nele há uma his tór ia. É a linha utiliz ando, ligando os 4 pontos ,
fase IMAGINAÇ ÃO II, a criança desenha Há três exemplos de ações que auxil - p o d e n d o s e q u i s e r, d e s e n h a r u m
o que quiser, imaginar, objetos reais iam no desenvol v imento do desenho ce n á r i o o u s o m e n t e p i n t a r o f u n d o.
e ir reais. 4 – A propr iaç ão: é quando a c u l t i v a d o: d e s e n h a r co m f r e q u ê n c i a Pode também apresentar apenas
criança deseja e se apropria do simbo - e muito; obser var os desenhos de linhas ou mesclar os dois elementos.
lismo ex terno e social, nesse momento
a mediaç ão didátic a na escola ou em
o u t r o s e s p a ço s é m u i t o i m p o r t a n t e. Simone Garcia - Doutoranda no Instituto de Artes da UNESP - SP - simonecristinag@gmail.com

PROPOSTAS PARA DESENHO CULTIVADO


O assunto é amplo e oferece di ver s as ref lexões , longe
de f inalizar ou concluir, a ideia é discutir e repensar no
desenho da criança e no seu ensino. A compreensão do
desenho cultivado só oferece maior reper tório e ações
para os professores na aplic aç ão de propos t as ar tís ti -
c as . Com or ient açõ e s cor re t as , vê - s e que é p os sí vel
que todos consigam dominar o ato de desenhar. Dessa
for ma, c abe a escola, aos professores e pais , o desen -
volv imento integral do desenho cultivado, sempre dia -
logando e interagindo com a cultura e sua diver sidade.

Referências Bibliográficas

BIRCH, Helen. Desenhar: truques, técnicas e recursos para a inspiração visual. S.Paulo: Gustavo Gili, 2015.
DEWEY, John. Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
GOMPERTZ, W. Pense como um artista... e tenha uma vida mais criativa e produtiva. Zahar, Rio de Janeiro: 2015.
IAVELBERG, R. O desenho Cultivado da Criança. 1 ed. São Paulo: Zouk, 2006.
JENNE, Peter. Como desenhar de forma errada. 1ª ed. – São Paulo: Gustavo Gilli, 2014.
______. Um olhar criativo. 1ª ed. – São Paulo: Gustavo Gilli, 2015.
SÃO PAULO (SP). Secretaria municipal de educação. Currículo da Cidade: ensino fundamental componente curricular: Arte. São Paulo: SME, 2017, p.10 – 26, p. 63-71.
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O QUE PODE M FA ZER ARQUIT ETA S


E ARQUIT ETOS PEL A SUA CIDADE?

O
ano Para pensarmos as possibilidades de atuação Arquitetos foram formados para
de arquitetas e arquitetos, é preciso lidar com atender somente às demandas res-
uma realidade: metade da população brasileira já
construiu ou fez alguma reforma, mas só 15% dessas pessoas
tritas às camadas de alta renda?
utilizaram serviços de arquitetura. Essa mesma pesquisa
registrou, ainda, que 70% das entrevistadas disseram que b á s i c o d o b á s i c o . T a i s n ú m e r o s s ã o g r i t a n t e s e most ra m
t e riam inter esse em c o ntratar e s s e ti p o d e s e rvi ç o . e m q u e m e d i d a , n o Br a s i l d e m u i t a g e n t e , a civiliza çã o
convive com a barbárie.
A q uestã o que se deve f o rm ul ar é a s e g ui nte : arqu i t e t o s
foram formados para atender somente às demandas Por meio do que denominamos de “Assessorias Técnicas”, ou
restritas às camadas de alta renda? Se olharmos ao então “Assistência Técnica para Habitação Social”(ATHIS),
nosso redor, é essa a impressão, pois os profissionais q u e i n c l u s i v e é u m d i r e i t o p r e v i s t o n a l e i 11.888/2008,
c onsider ado s bem-s uc e d i d o s s ão o s q ue p ro j e tam c a s a s arquitetas e arquitetos já trabalham para atender a
em bairros condomínios de luxo, decoram lojas de e s s a s n e c e s s i d a d e s u r g e n t e s e r e v e r t e r t a l q u a dro.
grife ou, os que estavam no lugar certo e emplacaram
c om o ar tistas, ideal i z am grand e s m us e us e e s tá d i o s . Esses arquitetos propõem melhorias e reformas de
baixo custo, constroem casas na forma de mutirões
O fato de, atualmente, o campo de atuação estar em autogeridos e pressionam as prefeituras a executar
gran de par te r esumi d o a s ati s f az e r s up e rf i c i al i d a d e s d o obras viárias e de equipamentos comunitários de
c onsumo e do po der, c ap ri c ho s d e um a e l i te e c on ô m i c a interesse coletivo. Isso se dá através de laboratórios
e de g o ver na ntes pouc o re s p o ns áve i s ( o b ras d e s s a s s ã o universitários, institutos, ONGS, escritórios populares,
sem pre muito dispe nd i o s as ) , não s i g ni f i c a q ue n ã o h a j a cooperativas junto a movimentos sociais e mesmo
u m c ampo imenso d e p o s s i b i l i d ad e s e o p o rtuni d a d e s . em administrações públicas mais compromissadas
com o avanço do todo social. Arquitetas e arquitetos
Nas boas universidades, públicas e privadas, jovens comprometidos com nosso futuro em comum são aqueles
são fo r ma do s par a c o m p re e nd e r e i nte rvi r na re a l i d a d e c a p a ze s d e a t u a r j u n t o a e s s a s n e c e s s i d a d e s rea is.
urbana. E os que se propuserem a enfrentar grandes
t are fas, per ceber ão o s d e s af i o s c o l o c ad o s a nó s . Há outras questões que impactam diretamente
nosso cotidiano urbano, nas quais arquitetos
Atualmente, mais de 6 milhões de famílias ainda não – que são também urbanistas – tem um papel
possuem um lar ou moram em condições precárias. Há 35 f u n d a m e n t a l , e m b o r a n ã o p o s s a m r e s o l v e r s ozinhos.
milhões de pessoas sem acesso a redes de abastecimento
d e água e 1 0 0 milhõ e s – q uas e m e tad e d a p o p u l a ç ã o – Um primeiro é a mobilidade urbana. Atualmente,
não tem acesso a redes de coleta e tratamento de esgoto. os espaços urbanos são pensados majoritariamente
Est es bens e dir eito s , ne g ad o s a g rand e s p arc e l a s , s ã o o para os automóveis – em termos de infraestruturas
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e investimentos--, mas esses não são responsáveis reunir outros setores da sociedade e propor saídas
pelos deslocamentos da maioria da população. Essas p a c t u a d a s , q u e e x i g e m e s f o r ç o s c o l e t i v o s . N u m mundo
mesmas cidades pensadas por carros são espraiadas, onde se valoriza por demais a “inciativa individual”,
c om lo nga s dista nci as e ntre áre as c e ntrai s e p e r i f e r i a s . esquecemos como se pensa coletivamente, mas as
N ão po r a caso , em g rand e s c i d ad e s c o m o s ão P a u l o , ¼ questões mais importantes de nosso tempo exigem
d a po pula ção per de 4 ho ras p o r d i a e m d e s l o c am e n t o s . essa inteligência e envolvimento. É preciso retomar
Isso resulta em um mês do ano; é uma parte da vida a aposta na possibilidade de transformações sociais
p e rdida no trânsito . É urg e nte p e ns ar um o utro m o d e l o efetivas através de ações coletivas. E afirmar alto
de mobilidade que não seja pensado para os carros, e e m b o m t o m q u e o n a t u r a l i za d o é i n a c e i t á v el.
mas priorize – em termos de espaços e investimentos
públicos -- um transporte coletivo eficiente, Como se percebe, a atuação de arquitetos-urbanistas não
acessível, com matriz energética limpa e integrado a d i z r e s p e i t o a i n t e r v i r a p e n a s n o “ a m b i e n t e c onst ruído” ,
outras formas de “mobilidade ativa” para pequenas mas também e sobretudo nas práticas, crenças e
d ist ância s ( isto é, a b i c i c l e ta, o c am i nhar e tc ) . valorações da sociedade urbana; pra falar filosoficamente,
é preciso ter a coragem de propor outras formas
A segunda questão , l i gad a ao ante ri o r, é a d e g r a d a ç ã o de subjetivação e outros modos de viver juntos. Isso
ambiental. Em nossas cidades, há quilômetros de rios porque é próprio de nossa cultura mercantil hegemônica
poluídos e milhões de pessoas sem água potável; a os anseios pelo “exclusivo e diferenciado”, a vontade
poluição do ar se mantem em níveis preocupantes há difusa de distinção social, a reiteração de hierarquias
décadas. Resíduos acumulam-se em áreas indevidas e os injustificadas e estigmas históricos, que se traduzem
ônus desses desastres recaem de modo desigual sobre as n a s c i d a d e s f e i t a s d e m u r o s , c a t r a c a s , c a m a rot es VI P e
populações. Temos legislações ambientais avançadas que o u t r o s e s p a ç o s q u e s ó a c e s s a m q u e m p o d e pa ga r. Nã o
são desconsideradas quando se trata de favorecer setores podemos ter medo de dizer que esse é um quadro em que
econômicos de importância política. Mas as gerações a arquitetura e urbanismo estão rebaixados, submetidos
re c entes já tem mo s trad o um a s e ns i b i l i d ad e e c ol ó g i c a e a v a l o r e s q u e n ã o s ã o o s s e u s . E m v e z d i s s o , a rquit et a s
atenção para o tema; arquitetos-urbanistas tem condições e a r q u i t e t o s p r e c i s a r ã o c u l t i v a r o d e s e j o d e u ma cida de
de trabalhar junto de outros setores organizados para a b e r t a , f e i t a p a r a t o d o s e , m a i s , f e i t a p o r t o d as e t odos.
construir saídas que envolvam o poder público, mas Uma cidade onde as pessoas sejam reconhecidas e
t am bém ex perimento s q ue p o s s am s e r p o p ul ari za d o s – v a l o r i za d a s p e l o s i m p l e s f a t o d e s e r g e n t e .
c om o o s da agr o ecol o g i a e d a p e rm ac ul tura urb a n a . N a
escala do edifício, já há tecnologias de baixo custo no É também tarefa nossa perceber que as cidades
re u so de á gua , siste m as d e m ai o r e f i c i ê nc i a e ner g é t i c a , podem ser o espaço de uma sociedade efetivamente
t é c n ica s co nstr utivas c o m m ate ri ai s re no váve i s e t c . democrática, melhor para todas e todos. Pela maior
proximidade entre governantes e cidadãos, as cidades
Uma terceira questão é a invisibilidade das periferias, podem ser lugar da participação mais direta da população
majoritariamente negras. Por carregarem estigmas na formulação e acompanhamento de investimentos
diversos, são as áreas onde há uma violência institucional e políticas públicas. Por sua própria configuração
indiscriminada, que mata grande parte de nossos jovens socio-espacial e sua formação histórica, as cidades
e c erceia o futuro d e tanto s o utro s , p o i s não s e o f e r e c e r e ú n e m p e s s o a s , c o n c e n t r a m s e r v i ç o s e i n f r a est rut ura s
oportunidades a esses. Tais áreas, carecem políticas f u n d a m e n t a i s e , p o r t a n t o , d e t é m o s r e c u r s o s ma t eria is
de educação, cultura, saúde. Isso porque as periferias e humanos necessários para construção de formas de
são ignoradas em termos de investimentos públicos vida que sejam socialmente justas, economicamente
e não podemos mais esperar a boa vontade de uma d i n â m i c a s e a m b i e n t a l m e n t e s u s t e n t á v e i s . É um gra nde
figu ra sa lv ado ra, o u s e j a, é ne c e s s ári o um a p arti c i p a ç ã o desafio, um desafio geracional, mas é próprio da
direta da população – e arquitetos-urbanistas estão juventude não se contentar com pouco.
in c lu ído s a í – no co ntro l e s o b re o nd e , q uanto e q u a n d o
o dinheiro público será investido. As periferias já são Estas proposições podem parecer utópicas, mas projetar
áreas com vida urbana e cultural diversa, quando tais é um exercício de ampliar as fronteiras do possível. E vale
oportunidades sã o d ad as , o s re s ul tad o s s ão p al pá v e i s . r e p e t i r , a j u v e n t u d e é j u s t a m e n t e a q u e l a q u e a inda nã o
s e c o n t e n t o u c o m o q u e e s t á d a d o . Já t e m o s na hist ória
Muitas vezes tais questões passam desapercebidas e, de nossa disciplina e também em nossa sociedade, forças
outras tantas, são consideradas normais por governantes vivas que são movidas pelo desejo de construir aqui e
e por parte da sociedade. Diante de todas essas, agora o que se deseja para o futuro.
arquitetos-urbanistas terão de saber aglutinar forças,

Paolo Colosso
Arquiteto-urbanista, bacharel em Filosofia pela Unicamp, Mestre e Doutor em Filosofia pela USP. Atualmente, é professor de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo
na Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), pesquisador no Instituto de Estudos Avançados da USP e compõe a coordenação do Projeto
BrCidades – por uma nova agenda para as cidades do Brasil.
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 69

USP CR IA CE N T RO DE PESQUISA NA
ÁRE A DE IN T EL IGÊ NCI A ARTIFICI AL

I l u s tr a ç ã o : F r eep i k v i a A g ên c i a F a p e s p

A
USP irá contar com um novo centro dedicado estratégias de transferência da tecnologia para a
para o desenvolvimento de estudos na área de sociedade. Também estão previstos estudos sobre as
inteligência artificial. O projeto, que nasceu implicações socioeconômicas da inteligência artificial
a partir de uma proposta elaborada pela Pró-Reitoria n a s o c i e d a d e , c o n t r i b u i n d o p a r a d e b a t e s q u e envolva m
de Pesquisa (PRP), foi selecionado pela Fundação de q u e s t õ e s s o b r e é t i c a , r e l a ç ã o , p r i v a c i d a d e e t ra ba lho.
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
e pela empresa IBM e receberá recursos da ordem de Canuto explica que a proposta apresentada à Fapesp e à
US$ 1 milhão anuais durante um período máximo de IBM t e v e o r i g e m e m u m p r o j e t o d e s e n v o l v i d o no â mbit o
d e z ano s. Investime nto – C o m f i nanc i am e nto d e a t é 10 da PRP. Em outubro do ano passado, a Pró-Reitoria lançou
anos, IBM e FAPESP re s e rvarão , c ad a um a, até U S $ 500 u m e d i t a l p a r a o f i n a n c i a m e n t o d e p e s q u i s a s r ea liza da s
mil anualmente para implementar o projeto, que contará por unidades, museus e institutos especializados
c om av alia çõ es peri ó d i c as d as ati vi d ad e s . J á a U S P , p o r relacionadas a essa área, que recebeu 112 inscrições.
sua vez, investirá em instalações físicas, laboratórios, Foram selecionados 43 trabalhos que fazem uso de
professores, técnicos e administradores para gerir sistemas digitais inteligentes (com recursos de inteligência
o centro. O projeto foi desenvolvido para abarcar artificial ou aprendizado de máquina) sobre políticas
aplicações de inteligência artificial em eixos de pesquisa de saúde, medicina de precisão, cidades inteligentes,
envolvendo aprendizado de máquina, processamento sistemas econômico-financeiros, ética e sociedade,
de linguagem natural, recursos naturais (óleo e gás), mobilidade, modelagem molecular, planejamento de
agronegó cio , meio am b i e nte , f i nanç as e s aúd e . fármacos, energias renováveis, avaliação de dados gerais
(incluindo dados científicos), entre outros. A PRP investiu,
Mais de 60 pesquisadores de 14 unidades da USP estarão n e s s e p r o g r a m a , r e c u r s o s d a o r d e m d e R $ 1, 5 milhã o.
envolvidos no projeto, que será coordenado pelo professor
da Escola Politécnica (Poli), Fabio Gagliardi Cozman. O início “A USP se insere fortemente nessa área que é fundamental
d as atividades está p re vi s to p ara o p ri nc í p i o d e 2020. e e s t r a t é g i c a p a r a o f u t u r o d e q u a l q u e r p a í s . P a ra nossa
surpresa, o número de projetos inscritos no edital foi
“Este é um ponto de partida para criarmos um grande m u i t o s u p e r i o r a o e s p e r a d o , o q u e d e m o n s t r a o gra nde
centro na área de inteligência artificial. Estamos no p o t e n c i a l d a U n i v e r s i d a d e ” , c o m e m o r a o p r ó -reit or.
mundo do conhecimento, das grandes informações,
dos grandes dados, do qual a Universidade não
pode ficar de fora”, afirma o pró-reitor de Pesquisa,
Sylvio Roberto Accioly Canuto. O novo núcleo deverá Adriana Cruz
desenvolver pesquisas básicas e aplicadas, além de Redação do Jornal da USP para AEscola Legal
70 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

UNIPER M ACULT UR A
CUR SOS DE PER M ACULT UR A / E AD

A
USPConceitualmente, hoje em dia a permacultura ambiente, em respeito ao planeta e a todas as formas
é considerada uma ciência holística, de cunho de vida. A Universidade de Permacultura deixa de ser
socioambiental, que congrega o saber científico privada e passa a ser uma comunidade de pesquisa e
de algumas áreas (Arquitetura, Ecologia, Agricultura, a p r e n d i za g e m p ú b l i c a e g r a t u i t a . Qu e r s e r n o s so a luno?
entre outras) com a cultura tradicional popular e visa, Os nossos cursos estão sendo oferecidos gratuitamente.
c laro, a no ssa perm anê nc i a c o m o e s p é c i e na Te r r a . G r a ç a s a o s p r o f e s s o r e s , e q u i p e t é c n i c a e n o s s os a lunos
estamos realizando o sonho inicial de democratizar o
Surgiu nos idos de 1970, na Austrália, a partir de acesso a Permacultura de maneira técnica e científica,
investigações e estudos de professores e alunos de p a r a t o d a s a s p e s s o a s e g r u p o s s o c i a i s . E n t r e na nossa
Biologia/Ecologia que se opunham ao modelo capitalista p l a t a f o r m a e v e j a q u a l c u r s o v o c ê q u e r f a ze r . Clique na
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Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 71

EST R AT ÉGIA S A N TIBULLY ING


PAR A O A MBIEN T E ESCOL AR

T o d a a a ten ç ã o n a s es c o l a s é n e ce s s á r i a

R E SUMO: Es t a pesquis a v is a analis ar es tratégias antibul - mul tic aus ais ( AV ILÉ S M A R T INE Z , 2013; DEL B A R R IO; VA N
l y ing , no ambiente escolar, propos t as por pesquis adores DER MEULEN , 2016) , superando a v is ão simplis t a de que o
brasileiros e espanhóis. Trata-se de um estudo descritivo e fenômeno surge por carac terísticas de alvos e autores, que
exploratór io, de c aráter qualit ati vo, e que teve como pro - direcionava, assim, as es tratégias de inter venção somente
ce dim en to m e to do lóg ico a p e s quis a bib liog rá f ic a . A li t- p a r a a d í a d e a u t o r- a l v o. N ã o a p e n a s a s c a r a c t e r ís t i c a s
eratura analis ada foi compos t a por teses e disser t ações in d i v i d ua is d e c a da s u je i to, co nsi d e r a da s co m o f a to re s
brasileiras , public adas de 20 0 0 a 2012, e ar tigos public a - de r isco/ v ulnerabilidade, inf luenciam no surgimento e na
dos de 20 0 0 a 2013 nos dois países. A literatura brasileira manu tenç ão de t ais ag re s s õ e s , mas , s obre t udo, a v is ão
enfatizou ações de infor maç ão, sensibiliz aç ão, cr iaç ão de que o outro, no c aso o gr upo, tem sobre o sujeito que o
re g r a s e c a p a c i t a ç ã o p rof is sio na l , e a li te r a t ur a e sp a n - tor na diferente, e as c arac ter ís tic as das relações que os
hola des t acou ações de melhor ia das relações inter pes- sujei tos mantêm , uns com os ou t ros , naquele momento
soais, desenvolvimento emocional e autoestima, ensino de (S A L M I VA L L I; PEE T S , 2010 ; SU L L I VA N; C L ER Y; SU L L I VA N ,
valores sociomorais , c apacit aç ão docente e das famí lias. 20 05).
Os result ados apont am para uma sér ie de ações , as quais
podem ser inser idas num plano antibull y ing a ser desen - Autores de bull y ing fazem escolhas sutis de suas v ítimas
vol v ido cotidianamente, contr ibuindo para uma mudanç a por vê -las como diferentes e vulneráveis (DEL BARRIO; VAN
d o co m p o r t a m e n t o d e s r e s p e i t o s o e p a r a a co n s t r u ç ã o DER MEULEN , 2016). No bull y ing há t ambém um terceiro
d e r e l a ç õ e s i n t e r p e s s o a i s , n o a m b i e n t e e s c o l a r, m a i s per sonagem além daquele que intimida e o que recebe a
solidár ias , jus t as , cooperati vas e respeitos as , proporcio - intimidaç ão: o público que assis te, que nos per mite con -
nando, assim, mais do que informações sobre o fenômeno. f ir mar a propens ão de poder e per tencimento ao gr upo.
Es te terceiro, por suas reações, enaltece ou diminui a con -
PA L AV R A S - C H AV E : B u l l y i n g . I n t e r v e n ç ã o p e d a g ó g i c a . s agraç ão do autor que busc a o reconhecimento e t ambém
V iolência. Escola. inf luencia demasiadamente a vítima, que se vale da neces-
sidade de per tencimento para situar-se nes t a condiç ão.
INTRODUÇÃO
O f e n ô m e n o b u l l y i n g é co n ce i t ua d o co m o u m co n j u n to I s to p o s t o, é p r e c i s o l e m b r a r q u e p e s q u i s a s a t ua i s , n o
de ações agres si vas , intencionais e nor malmente repet- Brasil, concordam com a c arac ter ís tic a da par idade para
i t i v a s , m a n t i d a s a o l o n go d o t e m p o e o c o r r i d a s n u m a e xplic ar os problemas e xis tentes . A miúde, is to signi f ic a
r e l a ç ã o d e s i g u a l d e p o d e r, p r a t i c a d o p o r u m a o u m a i s q u e h á b ull y in g e n t re s u je i to s c u jo p e s o da a u to r i da d e
pessoas , c aus ando danos f ísicos ou morais (DEL B A RRIO ins titucionalizada seja igual – entre alunos e alunos, entre
et al., 20 05; OLWEUS , 19 9 9, 2013). Trat a -se de um tipo de professores e professores, e assim para outros segmentos
relação, um vínculo mantido no tempo, normalmente entre ( TOG NE T TA ; AV IL É S; ROS Á R IO, 2014; TOG NE T TA ; V INH A ;
sujeitos que interagem muit as vezes, sendo que cada nova AV I L É S M A R T I N E Z , 2014) . Em b o r a , p e l a s c a r a c te r ís t i c a s
interaç ão é inf luenciada pela anter ior e pelas expec t ati - indic adas por Ol weus (19 9 9; 2013) , compreenda -se que o
vas de novas interações (DEL B A RRIO; M A R T ÍN; A LMEIDA ; bull y ing poss a ocor rer em qualquer direç ão, como entre
B A RRIOS , 20 03). alunos ou entre alunos e professores , chefes e subordi -
nados , no Brasil, us a -se a express ão assédio moral para
A literatura científ ica esclarece que o bull y ing tem fatores esse tipo de v iolência, ou seja, quando ela envol ve uma
72 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

autor idade ins tituída. 8 º ano do Ensino Fundament al, das cinco regiões do país.
Nesse es tudo, obser vou -se que cerc a de 20 % dos par tici -
Pe s quis as têm e v idenciado que o bull y ing t ambém e s t á pantes af ir maram que presenciam f requentemente atos
relacionado à busca do autor por status social, poder de v iolência na escola e 10,1% dos es tudantes indic aram
e per tencimento no grupo (DEL BARRIO et al., 20 05; que veem algum colega sendo mal trat ado todos os dias
J U N O V E N ; G A LVA N , 2 0 0 8 ; R O L A N D, 2 010 ; S A L M I VA L L I , (FISCHER , 2010).
2 010 ; S A L M I VA L L I; PEE T S , 2 010) , a l é m d e s e r u m p r o b -
l e m a m o r a l , v i s t o q u e v a l o r e s co m o r e s p e i t o , j u s t i ç a e Na Espanha, dados de um es tudo nacional (DEFENSOR DEL
igualdade es t ão ausentes nes t as ações (MENE SINI et al., PUEB LO, 20 07 ) , realiz ado com 3 0 0 0 e s t udante s de e du -
2 0 0 3; O R T E G A ; S Á N C H E Z ; M E N E S I N I , 2 0 02 ; TO G N E T TA , c ación secundar ia obr igatór ia, com idades entre 12 e 16
2011; TOGNE T TA ; AV ILÉ S M A R T INE Z ; ROS Á RIO, 2014). anos , ev idenciaram que 27% desses es tudantes se consid -
eravam al vos de insultos e 26 ,6% al vos de apelidos ofen -
Pelo expos to, as es tratégias antibullying no ambiente si vos. Insultos e apelidos humilhantes foram obser vados
escolar devem ser direcionadas sobre o gr upo e, pr inci - p o r ce rc a d e 9 0 % d o s a l un o s p a r t i c ip a n te s . A p e s q uis a
palmente, sobre a qualidade das relações que se es t abel - também mos trou índices de quem se reconhece como
ecem no inter ior des te, indo além de ações que incidem autor dos diferentes tipos de bull y ing : 32,7% af ir mou ter
apenas nos alvos, autores e testemunhas de bullying ignorado algum colega; 29, 2% ter coloc ado apelidos ofen -
( N AY LO R ; CO W I E , 19 9 9 ; S A L M I VA L L I , 2010 ; S A L M I VA L L I; si vos e 32, 4% reconheceu ter insult ado algum colega com
PEE T S , 2 010 ; D EL B A R R I O, 2 013; D EL B A R R I O ; VA N D ER f requência.
MEULEN , 2017 ) , promovendo uma educ aç ão mais ampla,
t anto em valores morais (MENIN , 20 02; VA N DER MEULEN; Considerando a complexidade do fenômeno, sua frequên -
GR A NIZO; DEL B A RRIO, 2010) , como em relaç ão aos senti - cia nas escolas e as legislações exis tentes , faz-se urgente
mentos ( TOGNE T TA , 20 03). pens ar sobre inter venções. A ssim, o presente ar tigo tem
co m o o bje t i v o a na lis a r a s e s t r a té g ia s a n t ib ull y in g p a r a
No Brasil, foi aprovada a Lei nº. 13.185 (BR A SIL , 2015) , a prevenção e contenção do fenômeno, no ambiente escolar,
q ua l ins t i t ui q u e to d o s o s e s t a b e l e c im e n to s d e e nsin o, tendo como base as indic ações da literatura brasileira e
públicos ou privados, devem desenvolver medidas de diag- espanhola, public adas entre 20 0 0 e 2013. Tal referencial
nose, prevenção e contenção do fenômeno, indicando pode contr ibuir para a cr iaç ão de novos projetos antibul -
co m o o bje t i vo s de s te p rog rama a p ro m o ç ã o da c ida da - l y ing nas escolas ou até mesmo de polític as públic as em
nia, da empatia, do respeito aos outros. A Lei nº. 13.6 63 ní ve l na c io nal e na c a p a c i t a ç ã o d o ce n te. Para is s o, nas
(BR A SIL , 2018) incor porou o propos to na lei anter ior à Lei discussões , após apresent aç ão das diferentes c ategor ias
de Dire t r ize s e B as e s da Educ aç ão Nacional (L DB) , indi - de es tratégias de inter venções , faz-se uma retomada das
cando a obrigatoriedade de promoção de medidas de con - m e s m a s , e x p l i c i t a n d o - s e co m o o r g a n i z á - l a s n u m p l a n o
scientiz aç ão, prevenç ão e combate às diferentes for mas antibullying. Buscou-se t ambém as contribuições dos pes-
de v iolência, especialmente o bull y ing , no âmbito escolar. quis adores espanhóis , pois o país tem uma trajetór ia de
es tudos sobre a temátic a iniciada na déc ada de 9 0, além
Pe s quis as têm en fa t iz a do que o bull y ing não é “ br inc a - de apresent ar muit as es tratégias antibull y ing que se f un -
deira de idade ”, e sim, uma v iolência que é um fato nas dament am em açõe s ligadas à Educ aç ão em Valore s , ao
escolas; um problema que afet a for temente toda a comu - es tímulo à melhor ia da conv i vência e do clima das rela -
nidade escolar (AV ILÉS M A R TINE Z , 2013; DEL BA RRIO; VA N ções inter pessoais na escola.
DER MEULEN, 2017; DEFENSOR DEL PUEBLO, 2007; FISCHER ,
2010; MENE SINI et al., 20 03; TOGNE T TA ; ROS Á RIO, 2013). A e s co l h a p e l a s p r o d u çõ e s d e s s e s d o i s p a ís e s s e j u s t i -
Embora o bull y ing não seja o único problema das escolas , f ic a pela diferenç a entre o tempo de reconhecimento do
e s t u d o s co m p r o v a m s u a f r e q u ê n c i a n e s t e s a m b i e n t e s . problema em ques t ão. S abe -se que a Espanha há déc adas
No Brasil, por exemplo, a Pesquis a Nacional de S aúde do r e co n h e ce a i m p o r t â n c ia d e u m a co n v i v ê n c ia d e q ua l i -
Escolar - PENSE de 2015, revelou que 7, 2% de uma amos tra dade entre todos nas escolas e vem desenvol vendo pro -
d e 10 2 . 0 7 2 a l u n o s m a t r i c u l a d o s n o 9 º a n o d o E n s i n o gramas t anto de combate e prevenç ão ao bull y ing como
Fundamental no ano de 2015, em escolas públicas e privadas volt ados a outras for mas de v iolência, tendo uma lei para
de todo o país, se sentiram humilhados por provocações, e promoç ão da conv i vência há mais de 10 anos (DEFENSOR
19,8% desta amostra af irmou ter intimidado ou caçoado de DEL PUEBLO, 20 07; DEL B A RRIO; VA N DER MEULEN , 2017 ).
algum de seus colegas (IBGE, 2016). Outro es tudo nacional N o B rasil , o re co nh e c im e n to da g ra v ida de e f re quê n c ia
foi desenvolvido pelo Centro de Empreendedorismo Social de c asos de bull y ing e tomadas de prov idência legais em
e Administração em Terceiro Setor (CE ATS) e pela Fundação relação a esse problema são recentes (BR A SIL , 2015; 2018).
Ins tituto de Adminis tração (FIA), com 5168 alunos do 5º ao

Acesso ao artigo completo: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12380


FRICK, Loriane Trombini.; MENIN, Maria Suzana De Stefano.; TOGNETTA, Luciene Regina Paulino.; DEL BARRIO, Cristina. Estratégias antibullying para

o ambiente escolar. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. 3, p. 1152-1181, jul./set., 2019.

e-ISSN: 1982-5587. DOI: 10.21723/riaee.v14i3.12380. Aut. para a Revista AEscola Legal


Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 73

SESSÃO LIVROS\LITERATURA
LITERATURA - OS CAMINHOS DAS LETRAS QUE LEVAM E TRAZEM À VIDA!

LEIA
LIVROS
A ERA DO CAPITAL IMPRODUTIVO
A Era do Capit al Improduti vo não é um li v ro para economis t as , e sim para todos
nós entender mos o que de economia nos interess a. Porque se trat a do nosso trab -
alho, do nosso dinheiro, do nosso planet a. Caso não tenha not ado, o sis tema es t á
des andando. E não há volt a para um pass ado que alguns vêm como mais seguro e
confor t ável. Ao apresent ar de maneira muito transparente os nossos des af ios , e
as pr incipais trans for mações que o mundo es t á sof rendo nos últimos anos , es te
li v ro é essencialmente uma fer rament a. Traduzido para a língua ingles a, espanhola
e polones a, e é uma das mais impor t antes contr ibuições ao es tudo da Economia
de nosso tempo, segundo Noam Chomsk y do MI T (Mass asshusset s Ins titute of
Technolog y - US A .)

Escrito pelo Professor e Economis ta L adslaw Dowbor es tá disponível nas livrarias, mas
t ambém no blog ht tp: //dow bor.org , gratuito na íntegra online, e você pode assis tir
um v íde o de 10 minu tos re fe re n te a c a da um dos 15 c ap í t ul os e m h t t p: //do w b or.
o r g / 2 018 / 0 8 /c u r s o - p e d a go g i a - d a - e co n o m i a - co m - l a d i s l a u - d o w b o r- i n s t i t u t o - p a u l o -
freire -2018 -15 -aulas.html/ no quadro do programa Pedagogia da Economia que desen -
vol vemos com o Ins tituto Paulo Freire. E se quiser organiz ar um mini - cur so em tor no
dos 15 c apítulos , es t á tudo online e gratuito, e muit as comunidades já o fazem. S e
quiser consulte riccardo.padula1976@gmail.com, de uma comunidade no Rio de Janeiro
que ac abou de realiz ar o cur so na sua região. A ideia básic a é que é possí vel, sim, as
pessoas entenderem o que es t á acontecendo, e região. A ideia básic a é que é pos -
sí vel, sim, as pessoas entenderem o que es t á acontecendo, e reassumirem o controle
das suas v idas.

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO


Edgar Mor in (pdf gratuito)
Diante dos problemas complexos que as sociedades contemporâneas hoje enf ren -
t am, apenas es tudos de c aráter inter- poli - transdisciplinar poder iam result ar em
análises s atis fatór ias de t ais complexidades: “Af inal, de que ser v ir iam todos os
s aberes parciais senão para for mar uma conf iguraç ão que responda a noss as
expec t ati vas , nossos desejos , noss as inter rogações cogniti vas? ”

ht tps: // w w w.skoob.com.br/ li v ro/pdf/os-sete -s aberes- necess ar ios- para - a - educ a /


li v ro:17169/edic ao:353529
74 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

FUNDAMENTOS E PRÁTICAS TRANSFORMATIVAS EM


MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
Ins tituto T HEM: w w w.ins titutothem.com.br

“ Há pouco mais de 20 anos , os M A SCs – Métodos adequados de soluç ão de conf litos


vêm conquis t ando legitimidade e ampliando sua aplic aç ão junto as diferentes ins ti -
tuições que integram nosso sis tema de jus tiç a e à populaç ão em geral. Gos t ar ia de
realç ar a c apacidade des t a equipe! ” ( Vania Cur y Iazbek)

MANUAL GERAL DO DESEMPREGADO – NA ERA DA


GLOBALIZAÇÃO
Volmer Sil va do Rêgo

Uma abordagem sociológica e bem (mal) humorada da condução da coisa pública, de


150 0 até ontem, a crise e o porquê do desemprego ser t ão ‘natualizado ’ no Brasil ...

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Globaliza%C 3% A7%C 3% A 3o -Terceiriza%C 3% A7%C 3% A 3o - ebook /dp/
B 0 0W TGB 0YS

DESPOLUINDO SOBRE TRILHOS


José Manoel F er reira Gonç al ves

A impor t ância dos trens no desenvol v imento do país , levant a uma ques t ão: Por que
es t amos t ão atras ados? Es t amos presos aos automóveis?

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Gon%C 3% A7al ves /dp/859153210 4

MINIMAIS
Hamilton Far ias (Cont ato: 55 11 98 867-714 6)
da coleção POTL ATCH pelo reencantamento do mundo
Editorial Casa do omaguás

No dizer de Nell y Novaes Coelho “minúsculas bolhas poétic as que eter niz am a v is ão
f ugaz de um momento especial, de um pens amento ou de um olhar de s abedor ia,
que, num relance c apt a o essencial do v is to ou pens ado.”
Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020 75

OS PROFESSORES e os Estudantes
A
chei por muito tempo que ia ve ze s m e s en t i o u t ro dep ois de uma Os alunos nascem diante
s e r p r o f e s s o r. T i n h a p e n s a d o aula b r ilhan te. Punha - m e a c aminh o dos professores, uma e outra
em li v ros a v ida inteira, era - me de casa como se tivesses crescido
vez. Surgem de dentro de si
imperiosa a dedicação a aprender um p alm o in te iro duran te c in que n t a
e não guardava dúvidas acerca da m i n u t o s . Co m o s e f o s s e m u i t o m a i s
mesmos a partir do entusi-
impor t ância de ensinar. Lembrava - me ge n t e . C h e i o d e u m o r g u l h o co m o v - asmo e das palavras dos pro-
de alguns professores como se ido por haver tantos assuntos incríveis fessores que os transformam
fossem família ou amores proibi- para se discutir e por merecer que em melhores versões.
dos . T i ve uma profe s s ora t ão b oni t a alguém os discutisse comigo.
e simpátic a que me ser v iu de padrão professores como má gente é des truir
de felicidade absolut a ao menos entre Hou ve um dia, numa aula de his tór ia a noss a própr ia c as a. Os professores
os meus treze e os quinze anos de do sétimo ano, em que falámos das são ex tensões óbvias dos pais, dos
idade, quando es tudante. estátuas da Roma antiga. Respondi encarregados pela educação de algum
à profe s s ora , uma gorduchinha to da miú d o, e mas s a c rá - l o s é co m o p e dir
A escola, como mundo completo, contente e que me dei x av a contente que nã o s ejam c ap aze s de c uidar da
podia ser esse lugar per feito de liber- t ambém, que eram os olhos que indu - maravilha que é a meninice dos nossos
da d e in te l e c t ua l , d e lib e rda d e sup e - ziam a sens aç ão de v ida às f iguras de miúdos, que é pior do que nos arranca-
r i o r, o n d e c a d a i n d i v í d u o s e v o t a pedra. A senhora regozijou. Disse que rem telhas da casa, é pior do que perder
a encontrar o seu mais genuíno, eu es t ava muito cer to. Iluminei-me a c a s a , é p i o r d o q u e co m e r a p e n a s
honesto, caminho. Os professores todo, não por ter sido o estudante mais sopa todos os dias. Es tudantes s ão os
s ão quem ainda pode, por delic ado e rápido a descor tinar aquela soluç ão, f ilhos dos nossos ir mãos.
p re c io s o of íc io, to r nar- s e o c aminh o m a s p o r q u e t í n h a m o s v is to im a ge ns
das pedras na porc ar ia do mundo em das estátuas mais deslumbrantes Es tragar os nossos pequenos é o f im
que o mundo se tem v indo a tor nar e d o m un d o e e u e s t a v a e s m a ga d o d e d o m u n d o. E s t r a g a r o s p r o f e s s o r e s ,
cuidar dos es tudantes. beleza. Quando me elogiou a resposta, e a s e s co l a s , q u e s ã o f u n d a m e n t a i s
a minha profe s sora contente apenas p ara me lhorarem os nos s os miúdos ,
Nunca tive exatamente de ensinar me premiou a marav ilha que era , na é o f im do mundo. Nas escolas reside
ninguém. Or ientei uns cur sos breves , verdade, a capacidade de induzir mara- a esperança toda de que, um dia, o
a mui to cus to, e tento e xplic ar umas vilha que ela própria tinha. Estávamos, mundo seja um condomínio de gente
clarividências ao cão que tenho há naquela sala de aula, não todos os bem for mada , apazig uada com a sua
umas semanas. Sinto-me sempre alunos, mas ao menos nós os dois, condiç ão mor t al mas es forç ada p ara
mais afetivo do que efetivo na pas- felizes. Prof undamente felizes. s e t r a n s ce n d e r n o a l c a n ce d a f e l i c i -
s a ge m d o te s te m u n h o. Q u e r o m u i to dade. E a felicidade, disso já s abemos
que o Freud, o meu c ão, entenda que Ta l v e z e s t a s c o i s a s s ó t e n h a m u m a todos , não é indi v idual. É obr igator i -
es t abeleço regras para que tenhamos im p o r t â n c ia n o s t á lg i c a d o te m p o da amente uma conquis t a para um cole -
u m a v i d a m e l h o r, m a s n ã o s u p o r t o meninice, mas é verdade que quando t i v o . P o r q u e s oz i n h o s p o r n a t u r e z a
a tristeza dele quando lhe ralho ou estive em Florença me doíam os andam os des tituídos de afeto.
o fecho meia hora na marquise. Sei olhos diante das es t átuas que v ira em
per feitamente que não tenho peda- reproduções no sétimo ano da escola. A s e s c o l a s n ã o p o d e m s e r t r a n s f o r-
gog ia , nã o e s t u de i didá t ic a , nã o s o u E o meu coração galopava como se madas em lugares de guer ra. Os pro -
senão um tipo intuitivo e atabal- tivesse a cumprir uma sedução antiga, fe s s ore s nã o p o dem s er re duzidos a
hoado, um es tudante. Mas sei, e disso um amor que começ ara muito antiga - b u r o c r a t a s e n ã o s ã o e l á s t i co s . N ã o
não tenho dú v ida, que há quem s aiba mente, se não inteiramente criado é in di f e re n te e nsina r v in te o u t r in t a
transmitir conhecimentos e que trans- por uma professora, sem dúvida pessoas ao mesmo tempo. Os alunos
mi tir conhecimentos é como cr iar de que potenciado e acarinhado por não podem abdic ar da marav ilha nem
novo aquele que os recebe. u m a p r o f e s s o r a . To d o o a m o r q u e do entusiasmo do conhecimento. E
nos oferecem ou potenciam é a mais um p aís que for ma os s eus cidadãos
Os alunos nascem diante dos professo - precios a dádi va possí vel. e depois os expor ta sem piedade e
res, uma e outra vez. Surgem de dentro por qualquer preço é um país que
de si mesmos a par tir do entusiasmo Dá - m e is to a go r a p o r qu e m e a n d o a enlouqueceu. Um país que não se
e das palav ras dos professores que os convencer de que temos um gover no ocupa com a delicada tarefa de educar,
transformam em melhores versões. que odeia o seu próprio povo. E porque não ser ve para nada. Es t á a suicidar-
De alunos a estudantes. Quantas me p are ce que p er s eg uir e tomar os se. Odeia e se odeia.

Professor anônimo português – residente no Brasil


Professor de nacionalidade e língiua portuguesa, anônimo e que vive no Brasil há 28 anos.
76 Æscola Legal | Nº03 | Abr 2020

PIB cresce 1,1% em 2019 fecha o ano em R$ 7,3 trilhões


e apresentaram variação positiva foram:
I n f o r m a ç ã o e c o m u n i c a ç ã o (4 ,1%) ,
Atividades imobiliárias avançou (2,3%),
Co m é r c i o (1, 8 %) , O u t r a s a t i v i d a d e s
de ser v iços (1, 3%) , Ati v idades f inan -
ceiras, de seguros e ser viços relacio -
nados (1,0 %) e Transpor te, armazen -
agem e correio (0, 2%). A atividade de
Administração, defesa, saúde e educa-
ção públicas e seguridade social (0,0%)
se manteve estagnada*(²) no ano, o que
ref lete de fato uma retração ainda não
medida (e que pode ser transformada em
def lação), promovido pelos cor tes dos
governos central e estaduais em nome
da austeridade e da gestão.

En t re o s co m p o n e n te s da d e ma n da
interna, houve avanço do Consumo das
Famílias (1,8%) e da FBCF (2,2%), segundo
result ado positivo após uma sequên -
cia de 4 anos negativos. O Consumo do
Governo teve variação negativa (- 0,4%).

E
No setor ex terno, as E xpor t ações de
m 2019, o PIB te ve cre s cimento negativa, dado que os aumentos do dito
Bens e Ser viços caíram 2,5%, enquanto
de 1,1% em relação ao ano ante - c re s c im e n to foram re ve r t idos p e l os
as Importações de Bens e Ser viços avan-
r i o r. E s te p e q u e n o c re s c im e n to considerados para a análise.
çaram 1,1%. Ou seja, o país comprou
resultou da expansão de 1,1% do Valor
mais do que vendeu, logo a balança de
Adicionado a preços básicos e da alta A var iaç ão em volume do Valor
comércio permanece desfavorável*( ³),
de 1,5% no volume dos Impostos sobre Adicionado da Agropecuária no ano de
e na soma geral dos dados e números
Produtos líquidos de Subsídios. O resul- 2019 (1, 3%) decorreu do desempenho
a v e r da d e é q u e o p a ís s ó c re s ce u
tado do Valor Adicionado neste tipo de positivo tanto da agricultura quanto da
miseráveis 0,2% em 2019.
co mp a ra ç ã o re f l e t iu o d e s e m p e nh o pecuária, com des t aque para o milho
das três ati v idades que o compõem: (23,6%), algodão (39,8%), laranja (5,6%)
Ent ão vamos às ques tões que impor-
Agropecuária (1,3%), Indústria (0,5%) e e feijão (2, 2%). Na Indús tria (0,5%), o
tam: quanto destes valores vai para a
Ser viços (1,3%). Ou seja, os preços dos des t aque positi vo foi o desempenho
Educação pública no país? Quanto irá
produtos taxados f icaram mais eleva- das atividades em Eletricidade e gás,
para o sistema de saúde pública! Quanto
dos para o consumidor final. á g u a , e sgo t o , a t i v i d a d e s d e ge s t ã o
será destinado às obras de infraestru-
de resíduos , que cresceram 1,9% em
tura? E para a Cultura, ou para as Forças
O PIB per capita variou 0,3% em termos relação a 2018. Já o destaque negativo
Armadas e*(4). Os dados, contudo do
reais, alcançando R$ 3 4.533 em 2019. foi das Indús trias E x trativas (minera -
por tal da transparência não condizem
A taxa de investimento em 2019 foi de ção – e por que água não está aqui já
com os números anunciados pelo IBGE.
15,4% do PIB, acima do obser vado em grande par te dela também é ex traída
E, em complemento: se com a alta taxa
2018 (15,2%). Já a taxa de poupança foi do solo?) que sofreram queda de 1,1%.
de desempregados e desalentados – os
de 12,2% (ante 12,4% em 2018). Frente A Co ns t r uç ã o c re s ce u 1, 6% n o an o,
desinteressados que não procuram mais
ao 3 º tr imes tre, na sér ie com ajus te s e n d o s e u p r im e iro re sul t a d o p o si -
emprego no mercado de trabalho - che-
s azonal, o PIB te ve al t a de 0 , 5% no tivo após cinco anos consecutivos de
gamos a esta quantia, o que significam
4º trimestre de 2019. A Indústria e os queda. As Indústrias de Transformação,
estes números? Maior desemprego mais
Ser viços apresentaram variação posi- por sua vez, apresentaram estabilidade
dinheiro? Quem es t á ganhando com
tiva de 0,2% e 0,6%, respec tivamente, (0 ,1%). O resul t ado foi inf luenciado,
isso e quem está sofrendo?
enquanto a Agropecuária recuou principalmente, pelo crescimento, em
(- 0,4%). Em decorrência des te cresci- volume, do Valor Adicionado da fabri-
Não é preciso ser especialista no assunto
mento, que é pífio, o PIB per capita*(¹) cação de produtos de metal, de produ-
para saber das respostas. *(5)
alcançou R$ 3 4. 533, (em valores cor- tos alimentícios, de bebidas e produ-
rentes) em 2019, um avanço (em termos tos derivados do petróleo.
Da Redação - AEscolaLegal
reais) de 0,3% em relação a 2018. Esta
parece ser uma conta de soma zero ou As atividades que compõem os Ser viços

*(¹) O que é pib per capita e como é medido? https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/bibliotecacatalogo?view=detalhes&id=72121


Para quem sabe ler tabela de dados: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-detalhe-de midia.html?view=mediaibge&catid=2102&id=3574
*(²) Teto de gastos: https://www.politize.com.br/teto-de-gastos-publicos-infografico/
Teto de gastos: - https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/12/13/pec-que-congela-gastos-do-governo-por-20-anos-e-aprovada-em-votacao-final.htm
Teto de gastos: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-38270520
*(³) Balança de Comércio Favorável: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/matematica/balanca-comercial
*(4) – Orçamento da União – 2019 : http://www.portaltransparencia.gov.br/orcamento?ano=2019
*(5) Coisa de especialista: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/04/pib-2019-ibge.htm
IBGE Fonte: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27006-pib-cresce-1-1-em-2019-e-fecha-o-ano-em-r-7-3-trilhoes
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Ma rço de 20 21, Bra sil


S A LÃ O DA
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2021
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E CO N Ô M I C A
Encontro com a Sustentabilidade:
- Empreendedores
Março de 2021 - Investidores Sociais
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Brasil
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