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ARTIGO ARTICLE
Being adolescent with mental disability:
the point of view of the parents
Abstract The purpose of this paper was to unders- Resumo Este trabalho tem como objetivo conhecer
tand the meaning adolescence has for parents of ad- a representação da adolescência para os responsáveis
olescents with mental disability. The methodology por adolescentes com deficiência mental. Como me-
used was the narrative analysis according to the todologia, utilizamos a análise de narrativas de pais
guidelines of Thompson (1998) and Byron-Good de adolescentes com deficiência mental. Baseamo-
(1996). Although the parents identified some typi- nos, principalmente, nas orientações de Thompson
cal characteristics of adolescence in their children, (1998) e Byron-Good (1996). Embora os pais reco-
not always they did in fact consider them adoles- nhecessem nos filhos algumas características própri-
cents due to their lack of autonomy. Quite often the as da adolescência, nem sempre os consideravam como
parents did not meet the family life education needs adolescentes, devido à pouca autonomia que possuí-
of their disabled children helping them to become am. Muito freqüentemente, não propiciavam uma
more independent. The lack of information about educação que contribuísse para uma maior autono-
how to act in face of the behavioral changes in- mia dos filhos, ressentindo-se da falta de referências
volved in adolescence was a source of resentment. In de como se comportar diante das mudanças de com-
view of the importance of greater autonomy, ac- portamento deles. Tendo em vista a constatação da
tions should be developed to help these adolescents importância da aquisição de uma maior autonomia
recognize this stage of human development and to para que os adolescentes tenham o reconhecimento
live this period the best way possible. When- men- deste período do desenvolvimento humano e possam
tally disabled adolescents are given the opportunity vivenciá-lo da melhor forma possível, é neste sentido
to improve their competences and abilities and to que algumas ações devem se desenvolver. Se forem
expand their “horizon”, they will be able to become apresentadas novas oportunidades de aprimoramento
more autonomous and able to live all stages of life in das competências e habilidades dos adolescentes com
a satisfactory way. deficiência mental que ampliem seus “horizontes”,
Key words Adolescent, Family, Mental disability, muitos poderão alcançar uma melhor autonomia
Narratives que possibilite sua participação nas tomadas de deci-
são sobre seu destino e a vivência satisfatória de to-
das as etapas do seu ciclo de vida.
1
Instituto Fernandes Palavras-chave Adolescente, Família, Deficiência
Figueira, Fiocruz. Av. Rui
Barbosa 716, Flamengo.
mental, Narrativas
22250-020 Rio de Janeiro
RJ. olgab@iff.fiocruz.br
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Bastos OM, Deslandes S
Nas entrevistas realizadas, buscou-se conhecer pessoal, mais capacidade de ir e vir sem o acompa-
que fatores simbolizavam a adolescência para os nhamento constante de um adulto e mais desen-
pais e se eles conseguiam identificá-los em seus fi- voltura para realizar as atividades de vida diária.
lhos. Procurou-se identificar nas narrativas as As modificações que estão impressas nas mu-
ambivalências com relação ao crescimento físico e danças do corpo e no comportamento fizeram com
outras questões que se relacionassem com o de- que alguns responsáveis percebessem a necessida-
senvolvimento e o caminho para a vida adulta. de de tratar o filho de forma diferente, embora
O número de entrevistas realizadas permitiu nem sempre sabendo como lidar com as questões
atingir o ponto de saturação necessário à identifi- que se apresentavam durante esta etapa do desen-
cação de enredos recorrentes. volvimento. Na adolescência, principalmente para
os que têm deficiência mental, geralmente predo-
Os sinais do adolescer sob a ótica dos pais mina o medo do desconhecido e do novo, e estudi-
(ou a construção da imagem do adolescente) osos da área reconhecem a importância de uma
educação que propicie alguma autonomia como
Bom, eu no começo ORIENTAÇÃO fundamental para favorecer o desenvolvimento da
eu achei que o Tiago mudou muito, de repente, identidade, abrindo-se a novas potencialidades18,19.
SUMÁRIO Alguns significados atribuídos do que é ser um
Começou a nascer barba, cabelo no peito [...] adolescente estavam presentes nas narrativas, em-
AÇÃO COMPLICADORA bora nem todos os entrevistados percebessem o
Até hoje eu acho isso muito engraçado AVALIA- filho como tal, isto é, não reconheciam neles as ca-
ÇÃO racterísticas consideradas como típicas desta etapa
Hoje mesmo ele estava deitado aqui, eu com ele, do desenvolvimento. As mudanças físicas decor-
ORIENTAÇÃO rentes do desenvolvimento puberal, como o apa-
eu falei: nego, tu ficou homem rapidinho, não é? recimento das mamas nas meninas e o desenvolvi-
AÇÃO COMPLICADORA mento dos órgãos sexuais externos e a distribuição
Neste enredo, como o de alguns outros pais, de pêlos nos meninos, assim como determinadas
apareceu a valorização de determinados aspectos mudanças de comportamento, foram facilmente
que identificavam os filhos como adolescentes, tal identificadas como próprias da adolescência.
como as transformações do corpo, em uma tenta- Por sua vez, a presença da autonomia, por
tiva de aproximá-los dos demais adolescentes sem muitos considerada como característica desta eta-
deficiência. Entretanto, outros pais não consegui- pa, revelou-se especialmente comprometida. Estes
ram observar nenhuma característica considerada adolescentes tinham dificuldade de se equilibrar
como própria desta etapa da vida e por isto não na balança na qual, de um lado, existe a aventura,
reconheciam a adolescência nos filhos, como evi- a busca pelo novo e, do outro, o cuidado consigo.
denciado na fala desta mãe: Se tiver que sair assim Eles tinham poucas condições de sustentar atitu-
nua, ela sai. Ela não se toca que não pode. Então eu des próprias que fizessem confronto com as deci-
acho ela assim, tão infantil, tão infantilzinha, tão sões parentais, não podendo dessa forma respon-
infantil. sabilizar-se por sua própria vida.
O espanto diante do crescimento do filho, su- Por outro lado, as modificações do corpo tor-
gerindo que isto não seria o esperado, como obser- nam um pouco mais visíveis os estigmas que não
vado na primeira narrativa, assim como a negação tinham grande visibilidade na infância e podem ter
na segunda, mostram que a adolescência na pessoa contribuído para que alguns pais não tenham re-
com deficiência mental precisa ser ressignificada conhecido a adolescência no filho. Entretanto, ou-
pelos adultos que a cerca. Como atesta Schneider tros entrevistados se apropriaram das mudanças
et al.17, a deficiência dos adolescentes, independente físicas e das modificações comportamentais, por
do nível de comprometimento intelectual, se so- pequenas que fossem, para alçar o filho à condi-
brepõe às características tidas como próprias desta ção de adolescente, em uma correspondência às
etapa do ciclo de vida, como emancipação, ativida- expectativas sociais.
de sexual, preparação profissional e a busca por Para alguns narradores, a puberdade dos fi-
uma vida independente. lhos funcionou como uma metáfora da saúde. Se
Os enredos contemplavam observações quanto eles estavam apresentando as características pu-
às modificações corporais, poucas vezes associadas bertárias, como deve acontecer aos meninos da sua
às correspondentes alterações comportamentais. Os idade, é porque eles eram saudáveis e a partir desta
entrevistados tinham a expectativa de que esses ado- constatação puderam inferir que seus cuidados
lescentes adquirissem maior destreza para a higiene foram recompensados. Para estes, ficou patente o
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sualidade e a sexualidade21 . O não despertar para Embora este pai acreditasse que o adolescente
os aspectos sexuais ou o não saber se comportar pudesse manter uma relação afetiva, como era seu
diante do “desejo” sexual estão entre os critérios desejo, tem medo de que ele seja discriminado
que interferem na identificação do indivíduo como como conseqüência do preconceito às pessoas com
adolescente, emblemático no encadeamento desta deficiência.
narrativa. Para Rimmerman e Duvdevani23, a puberdade
Mas é isso que eu me preocupo com ele. SUMÁRIO dos adolescentes com deficiência mental agrava a
Porque ele vai crescendo, crescendo e ele não vai. sobrecarga física e mental que os responsáveis por
ORIENTAÇÃO eles já experimentam, especialmente quando têm
Ele fala uma porção de besteira. AÇÃO COM- um comprometimento mais sério.
PLICADORA Compete, principalmente à família, o favoreci-
Que vai comer mulher, que vai fazer. AÇÃO mento do equilíbrio entre a autonomia e a inde-
COMPLICADORA pendência durante a adolescência17. Alguns pais
Mas não, não é uma criança, não é um adoles- avaliaram que a dependência prolongada poderia
cente. AVALIAÇÃO ser conseqüente a suas atitudes e até fizeram uma
Em ocasiões, os pais das adolescentes com de- autocrítica, percebendo que pouco contribuíram
ficiência mental não relacionaram algumas mu- para o desenvolvimento das potencialidades dos
danças comportamentais, como o interesse pelo filhos.
sexo oposto e o auto-erotismo, como parte inte- Neste trecho narrativo, esta mãe atesta que seu
grante do desenvolvimento da sexualidade, deno- cuidado excessivo interferiu de forma negativa para
tando a dificuldade que tinham de vivenciar o fato. o desenvolvimento das potencialidades da filha.
E, quando as filhas demonstravam interesse nos É porque as pessoas costumam falar que a Luzia
meninos, os pais não percebiam qualquer evidên- é uma árvore, e ela quer crescer e eu sempre podan-
cia de erotização, o que caracterizaria a “pureza” do, sempre podando.
das meninas. Por outro lado, entre os pais dos De acordo com Waldman et al. 24, a transição
meninos, encontravam-se aqueles que se orgulha- para a vida adulta pode ser particularmente difícil
vam do interesse dos filhos em querer namorar e para os adolescentes com deficiência mental e para
até mesmo manter relações sexuais, por alguns vis- suas famílias. Os autores acreditam que muitas
to como uma “necessidade” do homem. Deste vezes isto ocorre pela manutenção de intensos cui-
modo, mostravam-se preocupados que a não rea- dados ao filho com deficiência mental. Eles defen-
lização de seus desejos pudesse comprometer sua dem que quando os filhos com deficiência mental
saúde mental, tornando-os agressivos ou mais vul- crescem, seus pais ficam ansiosos com as oportu-
neráveis à exploração sexual. nidades que eles terão no futuro e os cuidados que
Para Giami22, os pais das pessoas com deficiên- irão necessitar. Estas preocupações estiveram pre-
cia mental acreditam que a sexualidade dos filhos é sentes nas narrativas e os pais, principalmente os
revestida somente de afetividade, que seria conside- dos meninos, projetavam o futuro dos filhos, via-
rada “pura” pois estaria separada da genitalidade. bilizando inclusive uma ocupação que pudesse ga-
Entretanto, o autor defende que o senso comum é rantir o seu sustento.
de que a sexualidade destes indivíduos parece ser Se a dependência da infância não afligia os pais,
movida por uma “selvageria libidinal”, ou seja, ela na adolescência passa a ser motivo de inquietação.
ficaria fora de seu controle e de seu domínio. Para Nesta etapa, espera-se que o indivíduo adquira sua
ele, essa atitude de considerar que a sexualidade tem identidade sexual, desenvolva relações sociais e que
esse caráter selvagem e irreprimível. adquira independência social e econômica, o que
raramente se observa nos adolescentes com defici-
Entre o desejo e o medo da autonomia ência mental. A manutenção da dependência pode
do filho ser motivo de frustração tanto para os adolescen-
tes quanto para seus pais. Este sentimento é parti-
Uma vez ele me cobrou: ORIENTAÇÃO cularmente mais significativo nos adolescentes com
Pai, eu vou poder casar? AÇÃO COMPLICA- deficiência moderada, que ao perceberem sua dife-
DORA rença desenvolvem sentimentos de inadequação,
Eu falei: você vai poder casar. AÇÃO COMPLI- ficam desapontados por não conseguirem se rela-
CADORA cionar com seus pares17,25.
Só que é aquele negócio. SUMÁRIO O crescimento dos filhos também os remete à
Os pais e as mães das crianças tiram da cabeça. velhice e à morte. Quem cuidará desses filhos tão
AVALIAÇÃO dependentes? Nas narrativas, ficou manifestado o
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buir para que tenham mais independência nas ati- diversos setores da sociedade, de um modo geral.
vidades de vida diária. A adolescência é uma etapa Muitas vezes lhes é negado o direito de crescer.
fundamental do ciclo de vida dos indivíduos, re- Tendo em vista a constatação da importância
presentando muito mais do que um período de da aquisição de uma maior autonomia para que os
transição entre a infância e a vida adulta. Nesta adolescentes tenham o reconhecimento deste perío-
época do desenvolvimento, se adquirem habilida- do do desenvolvimento humano e que possam vi-
des e competências, que propiciarão a autonomia venciá-lo da melhor forma possível, é neste sentido
necessária para a vida na sociedade. Muitos ado- que algumas ações devem se desenvolver. Se forem
lescentes com deficiência mental, mesmo aqueles apresentadas novas oportunidades de aprimora-
que não apresentam um grande comprometimen- mento das competências e habilidades dos adoles-
to intelectual, têm poucas oportunidades de viven- centes com deficiência mental que ampliem seus
ciar esta etapa de forma mais plena e, conseqüen- “horizontes”, muitos poderão alcançar uma me-
temente, menor possibilidade de transpor os ritu- lhor autonomia que possibilite a sua participação
ais de passagem exigidos para a vida adulta. Esta nas tomadas de decisão sobre seu destino e a vivên-
dificuldade, em muitas situações, relaciona-se à cia satisfatória de todas as etapas do seu ciclo de
falta de estímulo que recebem dos familiares e dos vida.
Colaboradores
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cial e dá outras providências. Diário Oficial da União Aprovado em 08/02/2008
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