Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Capurro e Hjørland (2007 [2003]), “parece ter perdido sua conexão com o mundo
humano, e passou a ser aplicada, através de uma metáfora mais ou menos adequada,
para todo tipo de processo por meio do qual algo está sendo mudado ou in-formado”.
(1980).
there was a fundamental split between the various concepts of the term information:
according Hjørland and Capurro (2007 [2003]), “it seems to have lost their connection
to the human world, and has been applied through a metaphor more or less suitable for
every type of process by which something is being changed or in-formed”. In this work,
we take this words of Capurro and Hjørland to discuss about some metaphors between
the extremes of the semantic range of information (as FABRICATION and as FOOD),
Johnson (1980).
2
Introdução
Contam-nos Macedo e colaboradores (2009) que, a partir dos anos 70, com o
processamento das informações passando a ser o grande foco de atenção dos estudiosos
da linguagem, o fenômeno das “metáforas” foi um dos temas que mereceu grande
atenção por parte dos estudiosos, em busca de teorias ou soluções que dessem conta do
comum, aquela usada normalmente pelo homem no seu dia a dia, é repleta de metáforas,
e de que não percebemos isto porque seu uso é natural e corriqueiro. Até mesmo a
linguagem técnica e científica, que tantos supunham ser estritamente literal, é rica em
metáforas.
2002 [1980]), a teoria da metáfora conceptual (TMC) provocou uma revolução nas
pesquisa (ZANOTTO et al., 2002, p. 15). Tendo como base resultados acumulados no
âmbito das ciências cognitivas, essa linha teórica desvincula a metáfora da relação
(LAKOFF, 2008). A metáfora deixa de ser entendida não mais como uma questão de
3
conceptual que usamos para pensar e agir, a linguagem é uma fonte de evidência
atividade cotidiana até nos detalhes mais triviais, estruturam o que percebemos, a
maneira como nos comportamos no mundo e o modo como nos relacionamos com
outras pessoas. Eis por que, dizem Lakoff e Johnson, o sistema conceptual “não é algo
do qual normalmente temos consciência”. Na maioria dos pequenos atos da nossa vida
viver ou pensar. Essas expressões, como todas as outras palavras e itens lexicais frasais
da língua, são fixadas por convenção. Além desses casos, que fazem parte de sistemas
Eis o que apresentamos: uma relação das metáforas que são ativadas sempre que
a palavra informação (e cognatos) foi escrita em português, do séc. XIV para cá.
Corpora
Informação é FABRICAÇÃO
(VALPAY, 1816; LEWIS e SHORT, 1879): nos versos de Virgílio (70-19 a.C.) sobre
426; [1]) ou um enorme escudo para Enéas (Eneida 8, 447; [2]); no manual de
[3] Vel si nee lapis erit nee glarea, sarmentis connexus velut funis
informabitur in eam crassitudinem, quam solum fossae possit
angustae quasi accommodatam coartatamque capere (...).
Informar, com esse sentido, seria então um caso de “manipulação direta”, que
Lakoff e Johnson descrevem como “um tipo de experiência fundamental que caracteriza
a noção de causalidade direta”. A maioria das ações de manipulação direta, como, por
1
http://www.corpusdopotugues.org
2
http://purl.pt
3
http://www.europeana.eu
4
http://books.google.com.br
5
orientação dentro-fora sobre outros objetos físicos que são delimitados por superfícies.
Assim, concebemos esses objetos como recipientes com um lado de dentro e outro de
fora, impondo essa orientação ao nosso meio-ambiente natural (p. 81). Experienciamos
muitas coisas, por meio da visão e do tato, como tendo fronteiras definidas e, quando as
coisas não têm fronteiras definidas, frequentemente projetamos fronteiras nelas – por
Tomemos, por exemplo, “his informatum manibus” do token [1]: como observa
mãos”, isto é, pelas mãos dos Cíclopes. O uso adere perfeitamente ao sentido de “dar
mas ela tem uma característica adicional que a diferencia de outras manipulações
diretas: como resultado da fabricação, nós vemos o objeto como um tipo diferente de
coisa, isto é, nós o categorizamos de maneira diferente, com forma e função diferentes.
Por exemplo, dos autores, “o que era um pedaço de papel passa a ser um avião de
papel”. Até mesmo uma simples mudança de estado, como a mudança da água em gelo,
pode ser vista como um exemplo de fabricação, uma vez que o gelo tem forma e função
Lakoff e Johnson nos lembram que, em sua teoria, não há espaço para
modo como concebemos os fenômenos mentais por meio de metáforas (p. 246). Assim,
lado de fora” (p. 130). Nós nos entendemos como seres físicos, demarcados e separados
do resto do mundo pela superfície de nossas peles; experienciamos a nós mesmos como
como algo fora de nós como sendo feitos de vários tipos de substâncias – madeira,
Aquilo a que damos forma não precisa, então, ser algo material: pode ser a
que estabelece uma similaridade entre a mente, alma e o corpo (todos sendo
[2003]) chamam de “intangíveis ou espirituais”, pois dizem respeito aos “usos morais e
pessoas.
também com base em Cícero, temos “dar enformação” com o sentido de docere, isto é
(1697), temos enformador como docens, entis (ou seja, como “professor”); enformado,
como edoctus, a, um; enformar como doceo, es (“ensinar, educar”). Vejamos exemplos
[4] Este rey Recaredo e seu irmãão Hermenegildo, o que matou seu
padre, foron enssynados e doutrinados daquelle sancto Leandre,
arcebispo de Sevylha, que os enformou e fundou na sancta fe
catholica. E esta foy a causa principal por que seu padre o fez
desterrar (Crónica Geral de Espanha, 1344)
[5] Enforma a tua mente tenra com estudos mais ásperos (Boosco
deleitoso, séc. XV)
resultados para o galego – 5,5% de todos os usos entre 1837 e 2002 (SALGADO,
moldes aquecidos”). Esses casos nos remetem, seguindo Lakoff e Johnson, a uma
ENTRA DENTRO DO OBJETO (p. 149), sendo o objeto visto como um recipiente
(fôrma) para a substância, que adquire então uma fórma. Vejamos como ela se
manifesta na língua:
[6] (...)Et auja o nariz alto por mesura et a boca ben feyta et dentes ben
postos et brãcos et o queixo quadrado et o colo longo et as espádoas
anchas et os peytos moyto enformados. Et auja as mãos et os braços
moy ben feytos, et era bentallado ẽna çentura. (Crónica Geral de
Espanha, 1344)
5
http://www.regiaodeleiria.pt
9
recipiente (a mãe). Ao mesmo tempo, a substância da mãe (sua carne e sangue) está no
que tem como essência o conceito de FABRICAÇÃO de um objeto físico, mas que se
em diferentes contextos:
[10] Mas quando Deus cria a alma para que ela informe o feto
preparado, é de necessidade absoluta, pela igualdade e justiça do
Creador, que tôdas as almas entrem nos corpos com as mesmas
numéricas qualidades naturais próprias e constitutivas da perfeição
de uma alma (J. Cunha Brochado, Cartas, 1707)
[11] Tenho lá no Sincorá muitas lavras que comprei por baixo preço,
mas que informam muito bem; estão em abandono por me faltar uma
pessoa de confiança que possa pôr à testa do serviço, e meus
negócios não me deixam tempo para ficar ali preso à cola dos
bateeiros, como é indispensável (Bernardo Guimarães, O
Garimpeiro, séc. XIX)
Informação é COMPONENTE
construir, erguer” (HOUAISS, 2001), daí constructo, indústria, estrutura etc. Dumesnil
(1809) descreve para esse verbo também o sentido de “prover ou suprir com coisas
aqui se baseia em implicações compartilhadas, uma vez que uma CONSTRUÇÃO tem
uma parte mais profunda, da mesma forma que um RECIPIENTE. Uma vez que a
profunda é a parte mais básica. O conceito PARTE MAIS BÁSICA pertence, portanto,
[15] (...) sabendo do que se tratava, quis também das a sua opinião,
fundada em informações verídicas: - Esteja descansado, disse ele ao
Bastos (José de Alencar, Sonhos D'ouro, séc. XIX)
O token [15] nos indica que, quanto mais básica a informação, mais fundada na
podemos encontrar metáforas espaciais: De acordo com Eve Sweetser (1987), su-por (<
lat sub+ponere, “pôr embaixo”) and hipo-tese (< gr hypo+thesi “pôr embaixo”)
6
“Fectos”, isto é, feitos são, para o Direito Processual, “o processo ou o conjunto dos autos da
demanda, da causa ou do pleito” (HOUAISS, 2001)
11
conclusões. Numa construção teórica (“constructo”), quanto mais robusta é a base, mais
alterar o resto da estrutura, da mesma forma que podemos mudar o telhado de uma casa
Pre-sumir (< lat prae+sumere “acatar antes, acatar com antecedência”) sugere
agora linear: nossos processos racionais, aqui, lembram uma jornada mental,
a metáfora continua ativa. Aqui, nosso sistema mental é visto não apenas como um
processo de envio e recepção de pacotes, postulada por Michael Reddy (1979). Trata-se
de uma das mais claras e bem estabelecidas metáforas conceptuais, que exerceu um
A intuição do linguista lhe dizia que havia alguma coisa em frases do tipo “você
me deu uma boa ideia” ou “eu captei a vossa mensagem”. Afinal, observa Reddy,
ninguém realmente crê que alguém dá, literalmente, ideias para os outros: “isto soa
7
Holsbach, Gonçalves, Migliavaca e Garcez, na sua tradução do artigo de Reddy (2000 [1979]),
estruturada por uma metáfora complexa: o falante coloca idéias (objetos) dentro de
cem tipos de expressões em Inglês, as quais representariam, segundo o autor, 70% das
Reddy, por ter contribuído para afastar de uma vez por todas a visão tradicional da
especiais, mas interpretaram os enunciados analisados por Reddy usando suas próprias
convenções.
metáfora do canal como uma metáfora complexa, constituída por uma rede de metáforas
causalidade a cada novo domínio de atividade por meio de intenção, plano, inferências.
argumentam ainda que “uma compreensão adequada da causalidade exige que ela seja
definida como “um todo que nós, seres humanos, consideramos mais básico que suas
partes” (p. 144). Assim, a causalidade não é um termo primitivo inanalisável, porque é
prototípicos”, dizem Lakoff e Johnson, mas “ainda ações ou eventos que apresentam
suficiente semelhança com o protótipo”: eles incluiriam a ação a distância, a ação não
o paciente são eventos, uma lei física assume o lugar de um plano, do objeto e da
acontece como causalidade”. Por exemplo, num caso em que houvesse múltiplos
paciente e em que não houvesse desejo, nem plano, nem controle por parte do agente,
nós provavelmente não consideraríamos esse caso uma instância de causalidade, ou pelo
Informação é ALIMENTO
o: port aluno < lat. alumnus,i “criança de peito, lactente, menino, aluno, discípulo” é
ser “colhidas” ([16]) ou “bebidas” ([17]), mas há que se ter cuidado, porque elas podem
[16] (...) fui de novo colhendo o restante das informações que delles
boamente se podião collegir, isto em Arima, Amacusa, Naingazaqui
(Frois, Historia do Japam 1, 1560-1580)
Segundo Lakoff e Johnson, essas similaridades não poderiam existir não fossem
apresentadas INFORMAÇÕES SÃO OBJETOS (que, nesse caso, são objetos que vem a
RECIPIENTE.
Conclusões
de objetos, parece claro que “verbos de fala” são tomados especialmente de expressões
Há, porém, uma tese (de Claudia Brugman, 1995, apud Grady), baseada em
“meter na fôrma” x informar “dar informação”)? Ao que parece, houve de fato, num
Bibliografia
LAKOFF, G. The neural theory of metaphor. In: R. W. GIBBS JR. (Ed.). The
Cambridge handbook of metaphor and thought. Cambridge: Cambridge University
Press, 2008. p.17-38
REDDY, M. The conduit metaphor: a case of frame conflict in our language about
language. In: A. ORTONY (Ed.). Metaphor and Thought. Cambridge: Cambridge
University Press, 1979. p.284-324
17
ZANOTTO, M. S., et al. Apresentação à edição brasileira. In: (Ed.). George Lakoff &
Mark Johnson, 1980: Metáforas da vida cotidiana (coord. trad. Maria Sophia Zanotto).
Campinas/São Paulo: EDUC/Mercado de Letras, 2002. p.9-38