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Weiner, I. B. - Perturbações Psicológicas Na Adolescência
Weiner, I. B. - Perturbações Psicológicas Na Adolescência
LIVRARIA LEITURA
PERTURBAÇões PSICOLóGICAS
NA ADOLESCENCIA
mo
IRVING B. WEINER
Perturbações Psicológicas
Na Adolescência
Traduçäo de
Fátima Andersen
FUNDAÇÄO CALOUSTE GULBENKIAN @ LISBOA
Depósito Legal N.I 93 109195
ISBN: 972-31-0684-1
Traduçäo
do original inglês intitulado:
PSYCHOLOGICAL DISTURBANCES IN ADOLESCENCE
2.a ediçäo, Irving B. Weiner
Copyright @ 1992 by John Wiley & Sons, Inc.
mim
N.T. - Näo queremos deixar de agradecer ao Sr. Prof. Doutor Dando Silva a valiosa
ajuda que nos prestou, ajudando e cooperando no trabalho de traduçäo, cujo
mérito - se algum tiver - a ele se deve.
Prefácio
IX
Tampa, Flórida
Novembro de 1991
Capítulo 1 - NORMALIDADE
E ANORMALIDADE NA ADOLESCENCIA
As crianças agora amam o luxo. Têm más maneiras, desprezo pela autoridade.
Mostram des-
respeito pelos mais velhos e adoram conversar em vez de trabalhar. As crianças säo agora os
tiranos
e näo os criados dos seus lares.
No seu texto pioneiro sobre a psicologia da adolescência, Hall propôs uma teoria
evolutiva do desenvolvimento baseada na «lei da recapitulaçäo». De acordo com a assim cha-
mada lei, os indivíduos desenvolvem-se ao longo de fases predeterminadas, desde o primi-
Hall foi muito explícito na sua convicçäo que a discontinuidade e a ruptura que acom-
panha o desenvolvimento do adolescente produzem um período inevitável de instabilidade
e perturbaçäo em que a principal faceta predizível do comportamento jovem é a sua imprevi-
sibilidade:
Os adolescentes säo emocionalmente instáveis e mórbidos. É a idade do
inebriamento natural
sem necessidade de intoxicaçäo que levou Platäo a definir a juventude como embriaguez
espiritual.
É um impulso natural para experimentar estados psíquicos ardentes e inflamados e
caracteriza-se pela
Hall elaborou entäo uma lista de traços opostos que, na sua opiniäo, caracterizavam
o adolescente normal: alternância de vontade, gosto, entusiasmo e curiosidade intelectual
com apatia, inércia e indiferença propositada; oscilaçöes entre o prazer e a dor, euforia e
melancolia; períodos de egoísmo extremo e também de humildade abjecta; egocentrismo e
altruísmo, conservadorismo e radicalismo, sociabilidade e isolamento alternantes; passagem
da sensibilidade intensa à fleuma imperturbável, à dureza de coraçäo e crueldade; vacilaçäo
entre o conhecer e o fazer e entre a ascendência dos sentidos e do intelecto; e a justaposiçäo
da sabedoria e da loucura (Vol. 2, pp. 75-88).
Considera-se geralmente que a primeira contribuiçäo psicanalítica importante para
a compreensäo do desenvolvimento adolescente é O Ego e os Mecanismos de Defesa de Anna
Freud, publicado pela primeira vez em 1936. A sua descriçäo da adolescência nonnal é extraor-
dinariamente semelhante à de Hafi:
Em obra posterior, Anna Freud afirmou a sua convicçäo que a adolescência quebra
¨ imprevisível:
Freud observou que, por causa desta «interrupçäo do crescimento pacífico», os ado-
lescentes apresentam normalmente pensamentos, sentimentos e acçöes desadaptativas que
sugeririam psicopatologia se ocorressem em adultos: «Considero que é normal para um
O conceito de crise de identidade emergiu das descriçöes de Erik Erikson (1956, 1963)
das tarefas de desenvolvimento e dos riscos que as pessoas enfrentam em diferentes períodos
das suas vidas. No que toca à adolescência, Erikson, tal como Hall, encarava o advento da
puberdade como um tempo em que «toda a singularidade e continuidade säo mais ou menos
postas em causa outra vez» (1963, p. 251). Isto exige que os jovens passem vários anos a
construir pontes entre os papéis e competências que cultivaram em crianças e os papéis e
responsabilidades que teräo como adultos.
Esta transiçäo desenvolvimentista descrita por Erikson, actualmente bastante conhe-
cida como formaçäo da identidade, é o processo pelo qual os adolescentes mais velhos e
os jovens adultos alcançam uma compreensäo bastante clara e estável acerca do tipo de pes-
soas que säo, daquilo em que acreditam e do que querem fazer das suas vidas. É também
muito conhecida a ideia de Erikson de que o processo de formaçäo da identidade implica,
especificamente, episódios de crise de identidade. Os desafios da formaçäo duma identidade
levam a gente jovem a comportar-se, de quando em vez, de maneiras inconsistentes e desa-
justadas, diz Erikson, de modo que os distúrbios e a aparente psicopatologia se tornam carac-
terísticas normativas do desenvolvimento adolescente:
Ao longo dos anos, três proeminentes cientistas sociais contribuíram para o mito da
perturbaçäo normativa da adolescência ponderando que a natureza do desenvolvimento
ado-
lescente, particularmente no ambiente industrializado moderno, conduz inevitavelmente a
conflitos entre os jovens e os pais e entre a geraçäo de adolescentes e as geraçöes adultas.
James Coleman (1961) concluiu em The Adolescent Society que, como os adolescentes
con-
temporâneos têm de suportar uma existência marginal entre a infância e a idade adulta,
ficam
separados da geraçäo dos pais e enredados numa escultura jovem», «alienada» do mundo
adulto.
Do mesmo modo, Kenneth Keniston (1965) em 7he Uncommitted: Alienated Youth in
Ame-
rican Society sustenta similarmente que as sociedades tecnologicamente avançadas
colocam
tantos obstáculos no caminho da obtençäo do estatuto de adulto e da independência que os
jovens näo podem deixar de se alienar dos sistemas de valores dos adultos. A
modernizaçäo
da sociedade americana, em particular, produziu um «síndroma de alienaçäo» adolescente,
diz Keniston, caracterizado por uma procura estéril de valores positivos, uma orientaçäo
exis-
tencialista pessimista, uma desconfiança em relaçäo aos compromissos e uma ruptura com
a condiçäo de adulto.
Os pontos de vista largamente citados de Colernan e Keniston suscitaram uma
quantidade enorme de literatura sobre a alienaçäo dos «teenagers» (ver Weiner, 1972,
1976). O tema recorrente nestes escritos é o de que os tempos modernos estäo a presenciar
uma quebra da organizaçäo familiar e da autoridade parental. A gente nova está a ser
subme-
tida a experiências que os pais nunca tiveram nem podem compreender, dizem os autores
partidários do conceito de alienaçäo, e cresceu desdenhosa de uma geraçäo adulta
que tem provado ser incapaz de eliminar a guerra, a injustiça, a pobreza e a degradaçäo
humana.
Margaret Mead (1970) levou esta preocupaçäo ainda mais além em Culture and
Commitment: A Study of the Generation Gap, onde advertiu que um fosso entre as
geraçöes
de adultos e de adolescentes ameaçava minar os fundamentos da nossa sociedade. A näo
ser
que a geraçäo mais velha encontre melhores meios de comunicar através desse fosso, disse
Mead, a geraçäo mais nova controlará e destruirá muitas das nossas instituiçöes
fundamen-
tais. Ao rever o livro em 1978 para ponderar os acontecimentos que envolveram a
juventude
Ia
dos anos 70 e também a dos anos 60, Mead continuou firmemente convencido que o mundo
moderno está a enfrentar um insidioso e potencialmente disruptivo fosso entre geraçöes:
A geraçäo mais nova, os bem-falantes jovens rebeldes de todo o mundo que atacam
os meios
de controlo a que estäo sujeitos, säo como a primeira geraçäo nascida num novo país...
Säo as duas
geraçöes - os pioneiros duma nova era e os seus antecessores que têm ainda que encontrar
uma maneira
de comunicar acerca do mundo em que ambos vivem. (Mead, 1978, pp. 72, 83).
no tempo de
Shakespeare:
Quereria que näo houvesse idade entre dez e vinte e três, ou que a juventude
dormisse durante
o resto; porque näo há nada neste intervalo a näo ser meter-se com mulheres grávidas,
fazer mal aos
idosos, roubar, lutar. (The Winters Tale, Act III, Scene iii).
No que diz respeito a G. Stanley Hall, com quem esta discussäo começou, a sua pers-
pectiva em 1904 sobre o que estava a acontecer à juventude do seu tempo diz assim: A vida
moderna é dura e, em muitos aspectos, mais ainda para a juventude. A casa, a escola, a
igreja näo conseguem compreender a sua natureza e necessidades e, talvez principalmente,
os seus perigos... Nunca a juventude esteve exposta a tais perigos... O crescimento da vida
urbana com as suas tentaçöes, prematuridades... emancipaçöes precoces e um reduzido sen-
tido do dever e da disciplina... a louca corrida para o enriquecimento rápido (1940, Vol. 1,
pp. xiv-xvi).
Estas e muitas outras expressöes semelhantes de preocupaçäo, que podiam ser extraídas
das páginas da história, levantam alguma dúvida sobre justamente até que ponto «os bons
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velhos tempos» o foram de facto. Com efeito, numa leitura cuidadosa da história, como a
empreendida por Gillis (1974) e Elder (1980) sugerem que as relaçöes entre geraçöes da
juventude contemporânea näo säo muito diferentes das dos tempos passados. Um grau mode-
rado de rebeliäo contra os pais constitui um aspecto da individuaçäo do desenvolvimento
do adolescente que parece ter caracterizado a adolescência normativa através da história escrita.
Do mesmo modo, narrativas do horror dos adolescentes pela estrutura das respectivas socie-
dades têm aparecido e desaparecido, ao longo dos anos, em resposta a ciclos de guerra e
paz, pobreza e prosperidade, liberdade e repressäo, iluminismo intelectual e estagnaçäo.
Implicaçöes clínicas
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perturbado podem ser claramente distinguidos durante a adolescência; e (c) tanto os padröes
de comportamento normal como os de comportamento perturbado tendem a manter-se está-
veis da adolescência para a idade adulta. Estes dados podem ser resumidos fornecendo três
«rectificaçöes» à ideia mítica de perturbaçäo normativa do adolescente.
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revisäo detalhada do problema da continuidade conduziu Rutter (1989) a uma conclusäo seme-
lhante: «O processo do desenvolvimento está conectado com a mudança e näo é razoável
supor que o padräo fique definido cedo na vida... No entanto, ocorreräo continuidades porque
as crianças trazem consigo os resultados da aprendizagem anterior e da anterior mudança
estrutural e funcional» (p. 26).
Em terceiro lugar, algumas características da personalidade säo mais consistentes do
que outras, ao longo do tempo, e as pessoas diferem umas das outras no que diz respeito
à consistência com que se comportam, da adolescência para a idade adulta. Tal como Block
(1 98 1) observa ao comentar os dados de Berkeley, «Alguns indivíduos [säo] impressionante-
mente predizíveis a trinta, trinta e cinco anos das estruturas de carácter no princípio da sua
adolescência ao passo que outros indivíduos säo irreconhecíveis, anos mais tarde, face às
suas descriçöes feitas nos anos de liceu» (p. 36).
Os dados disponíveis documentam, pois, no que diz respeito à continuidade do desen-
volvimento durante a adolescência, näo que as pessoas näo mudam - o que näo é, de todo,
o caso - mas täo só que o seu modo de ser como adolescentes, näo é totalmente indepen-
dente ou näo relacionado com o que foram em crianças e com o que seräo como adultos.
As pessoas mudam com o tempo, especialmente quando säo novas, e uma considerável varia-
bilidade no comportamento é determinada por outros factores que näo os traços persistentes
da personalidade. Por isso, a adolescência nem é tanto um período sem expressäo, em com-
pleta continuidade com os padröes de comportamento infantil e preditor da personalidade
adulta, nem um remoinho inexplicável, sem relaçäo com a latência calma que o antecede
ou com a civilizada idade adulta que lhe sucede.
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em entrevistas, testes psicológicos e a partir de relatórios dos pais, desde o primeiro ao último
ano da escola secundária. Sessenta e um destes jovens foram depois avaliados da mesma
maneira durante 4 anos de universidade. Só raramente estes sujeitos apresentaram sinais de
desorganizaçäo da personalidade, dos 14 aos 22 anos. Em vez disso, tendiam a mostrar um
padräo de progresso adaptativo e razoavelmente sereno, desde a adolescência até ao estado
de jovem adulto; apenas uma quinta parte do grupo revelou inquietaçäo interior ou problemas
manifestos de comportamento dignos de mençäo.
Offer e outros investigadores obtiveram os mesmos resultados, nos últimos 20 anos,
em grandes levantamentos que utilizaram um instrumento de descriçäo pessoal chamado
«Offer SeIf-1mage Questionnaire» (Offer, Ostrov & Howard, 198 Ia). Este questionário de
130 itens foi aplicado a muitos milhares de adolescentes, com muitas amostras diferentes
de rapazes e raparigas que vivem em diversos ambientes. As respostas destes jovens
sugerem fortemente que a vasta maioria dos jovens säo indivíduos felizes, confiantes em si
próprios, optimistas e socialmente bem adaptados, livres de quaisquer dores pungentes de
perturbaçäo adolescente:
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publicou, em 1935, o primeiro livro em língua inglesa sobre psiquiatria da criança, ante-
cipou, há 50 anos, alguma da melhor pesquisa actual:
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que a visäo que os jovens têm de si próprios só muda de maneira gradual e na direcçäo de
uma estabilidade progressivamente maior (Dusek & Flaherty-, 198 1; Protinsky & Farrier,
1980).
Estes dados corroboram as opiniöes expressas, há alguns anos atrás, por Roy Grinker,
outro distinto psiquiatra que, como Leo Kanner, pôs em causa a ideia da perturbaçäo norma-
tiva do adolescente. Tendo como base entrevistas clínicas com estudantes universitários do
sexo masculino, que considerava «mentalmente saudáveis» e que descreveu como «um tipo
de jovem adulto que ainda näo tinha encontrado no meu papel de psiquiatras, Grinker chegou
à seguinte conclusäo: «O crescimento biológico e psicológico ou maturaçäo näo está natural-
mente associado a crises... As mudanças que se tenham dado nos mundos dos nossos sujeitos
foram graduais e puderam ser absorvidas sem demasiado esforço» (Grinker, 1962, p. 449).
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adolescentes e o «fosso entre geraçöes» säo, em grande parte, conceitos míticos, pelo menos
no que diz respeito à esmagadora maioria dos jovens (Conger, 198 1; Manning, 1983; Weiner,
1972, 1976).
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anos guardei rancor contra os meus pais»; «Tento ficar fora de casa a maior parte do tempo»),
e bastante menos probabilidades de subscrever atitudes positivas (por exemplo, «Em geral,
posso contar com os meus pais»; «Os meus pais estäo, em geral, contentes comigo». Na inves-
tigaçäo da ilha de Wight, Rutter e colaboradores (1976) descobriram que um grupo de 156
sujeitos de 14 anos, com perturbaçäo psicológica diagnosticável, tendia muito mais do
que um grupo de comparaçäo, de 123 jovens de 14 anos sem perturbaçäo, a apresentar difi-
culdades de comunicaçäo, alteraçöes e retraimento físico nas suas relaçöes com os pais.
O trabalho de muitos outros investigadores tem confirmado que o conflito, a insatis-
façäo e a escassa comunicaçäo entre os membros da família ocorrem, com muito maior fre-
quência, nos lares de adolescentes perturbados do que nos de adolescentes normativos (Doane,
1978; Petersen, 1988; Schwarz & Getter, 1980). As contendas familiares e os conflitos entre
geraçöes estäo associados com o desenvolvimento adolescente perturbado e a rebeliäo impres-
sionante contra a intimidade no seio da família constitui comportamento desviado. As famí-
lias onde reina o conflito sério tende a ter filhos perturbados no seu seio e os jovens pertur-
bados tendem, muito mais do que os seus pares bem adaptados, a ser oriundos de famílias
que, no seu conjunto, näo estäo a funcionar de maneira satisfatória.
Há, no entanto, dúvidas sobre se as tensöes familiares säo uma causa de os adoles-
centes se tornarem perturbados ou säo, pelo contrário, um resultado do impacto stressante
que os jovens perturbados podem ter nas famílias. Esta importante questäo etiológica está
contemplada em capítulos posteriores, em relaçäo com tipos específicos de perturbaçäo psi-
cológica. O ponto principal da presente discussäo é que os conflitos familiares ocorrem em
associaçäo com o desenvolvimento adolescente anormal, independentemente dos adolescentes
perturbados terem sido a fonte das relaçöes familiares tensas ou se terem tornado pertur-
bados por efeito delas. Os adolescentes que se däo mal com os pais näo säo, geralmente,
adolescentes em desenvolvimento que revelam os problemas comuns do seu grupo etário;
säo, antes muito provavelmente, jovens que se debatem com dificuldades de adaptaçäo.
Além de demonstrar que certas facetas da alteraçäo adolescente diferenciam os ado-
lescentes normais dos perturbados, os estudos clínicos começando com o trabalho de Mas-
terson (1967) identificaram algumas dimensöes específicas da formaçäo de sintomas que ajudam
a precisar esta diferenciaçäo. Em comparaçäo com aproximadamente 60% dos adolescentes
que estäo a desenvolver-se normalmente sem que, no entanto, deixem de apresentar certa for-
maçäo de sintomas, os adolescentes perturbados que necessitam de cuidados profissionais, apre-
sentam um maior número de sintomas que säo mais duradouros e tendem a abranger compo-
nentes cognitivos e comportamentais além de emocionais (Hudgens, 1974; Weiner, 1990).
Estes dados fornecem três linhas mestras para diferenciar o desenvolvimento normal
do anormal, num adolescente com sintomas: (a) quanto mais sintomas um adolescente apre-
sentar, (b) quanto mais esses sintomas implicarem problemas cognitivos e comportamentais,
em vez da ou além da turbulência emocional, e (c) quanto mais tempo persistirem quaisquer
tipo de sintomas, tanto mais provável será que o jovem venha a ser psicologicamente perturbado.
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individuais na eficiência em lidar com as situaçöes, desde a infância até à idade adulta, pas-
sando pela adolescência (Caspi e Bem, 1987; Lerner, Hertzog, Hooker & Hassibi, 1988;
Raphael, 1988, Rutter, 1987).
Avaliaçöes longitudinais de adolescentes perturbados detectaram do mesmo modo
uma consistência ao longo do tempo do nível de adaptaçäo dos jovens relativamente aos seus
pares. Estes estudos indicam que, na sua maioria, os adolescentes que manifestam sintomas
evidentes de perturbaçäo psicológica diagnosticável näo os ultrapassam com o tempo. Aqueles
que parecem perturbados tendem a ser perturbados e a permanecer perturbados a menos que
recebam tratamento adequado. No estudo de Masterson (1967), por exemplo, um seguimento
de 5 anos revelou que quase dois terços da sua amostra de pacientes continuava a ter incapa-
cidades de funcionamento moderadas ou severas. Weiner e Del Gaudio (1976) obtiveram
resultados semelhantes num estudo comunitário, de longa duraçäo, com 1334 sujeitos de idades
entre os 12 e os 18 anos, que tinham sido seguidos, durante um período de 2 anos, numa
instituiçäo de saúde mental ou por um médico. Durante os 10 anos seguintes 54,2% destes
pacientes voltaram, uma ou mais ocasiöes, para receber novos cuidados profissionais. Esta
taxa de dificuldades psicológicas persistentes ou periódicas excede, de longe, o que seria
de esperar, se as perturbaçöes iniciais tivessem sido simplesmente fenômenos da maturaçäo
destinados a passar com o tempo.
Como testemunho final do significado da formaçäo de sintomas, os relatórios de nume-
rosos hospitais psiquiátricos indicam que os adolescentes que carecem de tratamento em inter-
namento correm um maior risco relativo de má adaptaçäo na idade adulta. As avaliaçöes
longitudinais, até 10 anos após a alta hospitalar, revelaram que, apesar destes jovens pertur-
bados quase sempre melhorarem, eles tendem, posteriormente, muito mais do que a pópu-
laçäo adulta em geral, a sofrer de dificuldades psicológicas que interferem nas suas vidas.
Em consistência com outros dados relativos a estabilidade temporal do nível de adaptaçäo
relativa, a gravidade da psicopatologia, apresentada nestes estudos pelos adolescentes per-
turbados, revelou-se preditora do grau de perturbaçäo que apresentam em adultos (Gossett,
Lewis & Barnhart, 1983; Welner, Welner & Fisliman, 1979).
Como a formaçäo de sintomas na adolescência é patológica, enquanto considerada
como desvio em relaçäo às expectativas normativas e pelas suas implicaçöes na desadap-
taçäo posterior, näo pode nem deve ser ignorada. O comportamento desadaptado nos jovens
precisa de ser identificado, avaliado e tratado a fim de se reduzirem os efeitos incapacitantes
e neutralizar a sua contribuiçäo para uma psicopatologia persistente.
CONCLUSöES
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26
Capftulo 2 - CLASSIFICAÇÄO
DA PSICOPATOLOGIA DO ADOLESCENTE
A classificaçäo da psicopatologia do adolescente tem finalidades importantes facili-
tando a exploraçäo científica, guiando intervençöes clínicas e promovendo a comunicaçäo
profissional. No entanto, alguns profissionais das ciências sociais e de saúde mental têm-se
questionado, ocasionalmente, se a classificaçäo dos diagnósticos de distúrbio psicológico cons-
titui um procedimento adequado na sua concepçäo e empiricamente válido. Outros, ainda
que subscrevendo uma classificaçäo, têm discordado quanto à melhor maneira de formular
categorias de diagnóstico e aplicá-las a adolescentes. Este capítulo (a) revê os objectivos
e algumas armadilhas potenciais da classificaçäo dos diagnósticos, (b) descreve as diversas
abordagens da classificaçäo dos problemas de comportamento dos jovens e, (c) indica o modo
como os tópicos foram seleccionados para os capítulos seguintes deste livro.
28
as pessoas com essas características. Para estudar a natureza dos distúrbios psicológicos,
os investigadores necessitam de ser capazes de discriminar entre indivíduos que apresentam
várias espécies de perturbaçöes e indivíduos que näo apresentam nenhuma. Os sistemas de
classificaçäo de tipos de transtornos tornam possíveis estas discriminaçöes e a adequaçäo
dos métodos de classificaçäo ao nosso dispor determina a medida em que a investigaçäo em
psicopatologia pode ser conduzido em linhas científicas.
No que respeita à prática clínica, a identificaçäo de tipos de problemas que as pes-
soas têm fornece uma base útil para determinar que tipos de intervençäo é que poderäo
beneficiá-las. Os profissionais de saúde mental concordam geralmente com a declaraçäo de
1973 da Comissäo Conjunta para «Saúde Mental das Crianças» quanto a este assunto: «O psi-
codiagnóstico individual é encarado como a condiçäo necessária para o encaminhamento para
uma das muitas formas de intervençäo psicoterapêutica» (Joint Conimission on the Mental
Health of the Child, 1973, p. 1 10). Mais recentemente, Klerman (1986) exprimiu do seguinte
modo a contribuiçäo que a classificaçäo pode ter:
Ainda que se espere que os planos de tratamento sejam feitos à medida das
necessidades dos
indivíduos, a idiossincrasia absoluta impöe o preço proibitivo da ignorância. Os clínicos
necessitam
de uma maneira de trazer o seu conhecimento e experiência para aplicar ao problema em
estudo, e
isto requer a apreciaçäo de alguma semelhança ou relaçäo entre a avaliaçäo da situaçäo
actual e o que
se passou antes (p. 1469).
29
Alguns clínicos e cientistas sociais têm vindo a expressar preocupaçäo porque a clas-
sificaçäo de diagnósticos da psicopatologia constitui um procedimento desumanizante, estig-
matizante, que faz mais mal do que bem e que até pode criar perturbaçöes que, de outra
forma, näo existiriam. Quando à desumanizaçäo, os fundadores da psicologia humanística
defenderam que cada pessoa deveria ser considerada na sua própria qualidade de ser único,
único membro da sua classe. Deste ponto de vista, a pessoa ficaria despida da sua dignidade
ou individualidade ao ser-lhe atribuído um rótulo classificatório baseado em características
presumivelmente partilhadas com um grupo de pessoas (Bugental, 1978; Maslow, 1962;
Rogers, 196 1).
Os clínicos têm de dar atençäo a esta preocupaçäo, para evitar a crença errada de
que uma categoria de diagnóstico fornece informaçäo suficiente para formular um plano de
tratamento. A classificaçäo sintetiza as facetas importantes dos problemas de uma pessoa
perturbada, mas näo especifica, necessariamente, o modo como se originaram esses pro-
blemas ou como é que eles se tornaram manifestos numa determinada pessoa. A classifi-
caçäo descreve a perturbaçäo mas diz muito pouco acerca das experiências de vida e das
características adaptativas da pessoa que tem o distúrbio. Esta compreensäo individualizada
30
das pessoas perturbadas e das suas circunstâncias, que vai muito mais longe do que chegar
apenas a uma classificaçäo de diagnóstico, é um ingrediente essencial para um planeamento
eficiente de intervençäo.
Do ponto de vista dos efeitos possivelmente estigmatizantes da classificaçäo de diag-
nóstico, escritores influentes, como Gofiffian (1963), Hobbs (1975) e Rosenham (1973), expri-
miram a preocupaçäo de que o ser-se rotulado como «emocionalmente perturbados pode expor
as pessoas a experiências devastadoras de preconceito e rejeiçäo. As pessoas consideradas
perturbadas estäo em risco de ser rejeitadas pelos outros, afirmam estes autores, e há proba-
bilidades de lhes ser negado o acesso a escolas que desejam frequentar, a carreiras para cujo
prosseguimento têm habilitaçöes, e a bairros onde querem viver. Os outros muitas vezes têm
a expectativa de que estas pessoas se comportam de modos estranhos e des trutivos, mesmo
que nunca o tenham feito, sendo muitas vezes vistas a actuar de modo peculiar mesmo que
näo estejam. Como resultado, concluem aqueles autores e muitos outros com as mesmas con-
vicçöes, as pessoas que tenham tido o azar de serem rotuladas como «perturbadas» säo vítimas
de críticas injustas, castigos injustos e restriçöes injustas naquilo que lhes é permitido fazer.
A vitimizaçäo de pessoas classificadas como tendo uma perturbaçäo psicológica tem
sido um tema frequente dos autores interessados com o impacto dos procedimentos de saúde
mental sobre as liberdades civis (Halleck, 1971; Magaro; Gripp & McDowelI, 1978; Roth-
blum, Solomon & Albee, 1986; Szasz, 1963, 1987). A classificaçäo de diagnóstico atinge
o seu auge pernicioso, dizem estes autores, quando é utilizada como justificaçäo para certas
instituiçöes da sociedade lidar com as chamadas pessoas indesejáveis mandando-as para lugares
indesejáveis - como fechar adultos perturbados em hospitais psiquiátricos ou relegar os jovens
disruptivos para instituiçöes correccionais.
Tal como o estigma e a desumanizaçäo potenciais, a possível vitimizaçäo das pes-
soas com perturbaçöes psicológicas carece da vigilância dos profissionais de saúde. Seja qual
for a situaçäo ou perigo particular ou o simples acaso, a prática ética requer todo e qualquer
esforço, dentro do razoável, que minimize os possíveis efeitos perniciosos da classificaçäo
da perturbaçäo psicológica.
No entanto, há várias razöes para pensar que o dano potencial que advém, da classifi-
caçäo diagnostica é menor do que o que pretendido por alguns críticos preocupados. Em
primeiro lugar, a classificaçäo näo exclui, nem mesmo restringe, a atençäo cuidadosa à indi-
vidualidade. A qualidade única do indivíduo näo tem de ser ignorada para se identificarem
algumas características que tenha em comum com outras pessoas e que sugerem uma certa
classificaçäo diagnostica. Pelo contrário, a compreensäo do comportamento individual
implica o saber como se parece uma pessoa com, pelo menos, algumas outras e em que
difere da maioria delas. De uma perspectiva clínica, as maneiras como os indivíduos se
parecem e diferem uns dos outros constituem porçöes complementares de informaçäo que
podem, e devem, ser utilizados em conjunto nos esforços para compreender e aliviar o sofri-
mento psicológico.
31
Em segundo lugar, no que diz respeito ao exagero provável quanto ao dano potencial
da classificaçäo diagnostica, o público americano desde há muitos anos tem vindo a tornar-
-se progressivamente mais conhecedor e tolerante em relaçäo ao distúrbio psicológico; a tal
ponto de a atitude do cidadäo médio para com'os indivíduos perturbados poder ser descrita
mais rigorosamente como «de aceitaçäo» do que como «rejeitante» (Aviram & Segal, 1973;
Rabkin, 1974). Sinais destas atitudes em mudança incluem a proclamaçäo nacional da Semana
da Sensibilizaçäo à Doença Mental (Mental IlIness Awareness), o crescimento de organiza-
çöes tais como a Associaçäo Nacional para a Doença Mental (National Association for Mental
Health) e a Liga Nacional para a Doença Mental (National Alliance for the Mentally 111),
e o aparecimento generalizado de grupos de auto-ajuda e apoio para doentes e famílias que
enfrentam problemas de saúde mental, como abuso de substâncias tóxicas, esquizofrenia,
distúrbio maníaco-depressivo e autismo. No passado, as famílias muitas vezes negavam ou
escondiam a presença de um membro doente no seu seio, ainda que ao mesmo tempo, subrep-
ticiamente lhe procurassem tratamento. Hoje em dia, as famílias näo só procuram tratamento
psicológico mais abertamente do que dantes mas também saúdam as oportunidades de parti-
lhar experiências e aprender com famílias com afliçöes semelhantes.
Como terceira razäo, há sinais de que o preconceito e a rejeiçäo dirigidos contra pes-
soas perturbadas säo mais baseados no modo como elas se comportam do que no modo como
säo rotuladas (Fernald, Williains & Droescher, 1985; Hemphill & Siperstein, 1990).
Quarto, constata-se que as atitudes negativas e as expectativas criadas pelos rótulos
diminuem em consequência de se conhecer alguém que também tem esse rótulo. A aquisiçäo
de mais informaçäo acerca das condiçöes de limitaçäo resulta geralmente em atitudes mais
favoráveis e receptivas para com a pessoa com rótulo de limitaçäo (Fernald & Geuys, 1980;
HandIers & Austin, 1980; Jones, SowelI, Jones & Bufler, 198 1).
Deixando estes dados da investigaçäo e voltando para a prática clínica, é importante
reconhecer que os casos de classificaçäo diagnostica, que resultaram em estigmatizaräo ou
prejuízo nos indivíduos, implicam geralmente um abuso ou um erro de diagnóstico. Näo há
nada intrinsecamente prejudicial ou destruidor em ser-se classificado: uma classificaçäo ade-
quada fornece meramente informaçäo rigorosa acerca do tipo de problema que o indivíduo
tem e do tipo de ajuda profissional de que pode necessitar. As pessoas que distorcem o signifi-
cado de um rótulo näo estäo informadas e deveriam ser educadas. Os profissionais que
conhecem
melhor mas ignoram ou distorcem as implicaçöes de uma classificaçäo rigorosa com propó-
sitos menos claros, estäo a ser eticamente incorrectos e devem ser sancionados. Mais, aquele
que conscientemente atribui uma classificaçäo errada a uma pessoa, para justificar a tomada
de acçöes deletérias contra ela, está a violar os direitos dessa pessoa e deve ser processado.
olhos dos que querem neles acreditar e raramente constituem características reais das pes-
soas. Desta perspectiva, a classificaçäo diagnostica raramente representa uma resposta válida
ou justificável para provar uma perturbaçäo psicológica. Pelo contrário, tende o mais das
vezes a ocorrer como um juízo pejorativo feito quando membros relativamente influentes
de uma sociedade, achando censuráveis as atitudes ou acçöes de certos indivíduos menos
influentes, decidem rotulá-los de «desviados».
Conhecida como «a teoria do desvio por rotulaçäo» este presumível estado de coisas
é considerado pelos seus proponentes como tendo duas implicaçöes importantes. Primeira,
as pessoas ficam rotuladas como desviadas ou como manifestando um padräo de psicopato-
logia, näo porque estejam de facto diminuídas psicologicamente mas porque o seu estilo de
vida é encarado como nocivo por outros que podem exercer autoridade sobre elas. Segundo,
o acto de rotular e de reagir a uma pessoa como se fosse perturbada contribui para essa pessoa
desenvolver uma identidade como se o fosse e começar a comportar-se desse modo (Sarbin,
1969, Scheff, 1981, 1984; Schur, 1971).
Dito de outro modo, a partir da perspectiva da rotularäo, a psicopatologia näo existe
até ao momento em que é rotulada e a maioria dos casos de comportamento verdadeiramente
desviado seriam transitórios se näo fosse pela reacçäo pública, começando com a classifi-
caçäo, que tende a reforçar e perpetuar o desvio. De acordo com Silverman (1983), por
exemplo, tipos claramente desníveis de psicopatologia «säo virtualmente inexistentes excepto
no espírito e manuais dos profissionais». A crença na sua existência, continua, está incluída
num grupo de «ideologias que mascaram um qualquer programa de intimidaçäo e controlo
dos socialmente poderosos sobre os que näo têm poder» (p. vii-viii).
Gibbs (1982, p. 15) afirma, de um modo semelhante, que «Quando os profissionais
de saúde mental se empenham no processo de rotularäo assumem uma posiçäo reprovadora
e moralista para com a pessoa rotulada, o que dá ênfase à superioridade do juiz, à depen-
dência da pessoa rotulada e que é contrária a um papel de ajuda.» Na opiniäo de Roffilum
e colaboradores (1986, p. 182), «Uma esmagadora maioria de pessoas a quem damos rótulos
psiquiátricos näo säo de uma espécie diferente do resto de todos nós.»
Tal como as preocupaçöes acerca dos efeitos potencialmente desumanizantes e estig-
matizantes da classificaçäo diagnostica, a teoria do desvio por rotularäo levanta problemas
que os profissionais de saúde mental näo devem ignorar. No entanto, revisöes cuidadosas
da literatura parecem indicar claramente que (a) a vasta maioria das pessoas diagnosticados
pelos clínicos como manifestando alguma forma de psicopatologia säo de facto incapazes
de funcionar eficazmente e, (b) säo as suas perdas de funcionamento confirmadas, e näo
julgamentos sociais pejorativos, a principal razäo para lhes ser dado um rótulo diagnóstico
(Eron & Peterson, 1982; Gove, 1982; Robins, 1981; Strauss, 1979).
Para mais, a experiência da maioria dos clínicos sugeriria seguramente que o pro-
cesso de rotularäo, quando implementado cuidadosamente no contexto de uma prática clí-
nica inforinada e responsável, tem mais probabilidades de desencadear intervençöes que limitem
33
34
mais seguras, de padröes de comportamento observáveis (Adanis, Doster & Calhoun, 1977;
Costello, 1970; Goldfried & Kent, 1972).
Ainda que estes acontecimentos produzissem um período de desencorajamento acerca
da classificaçäo, tornou-se necessário um olhar mais atento aos dados. Em primeiro lugar,
a classificaçäo foi abordada de muitas maneiras diferentes e com uma multiplicidade de
esquemas de classificaçäo alternativos. Algumas destas abordagens provaram ter mais garantia
e validade do que outras, e verifica-se também que esquemas alternativos reflectindo a mesma
abordagem geral diferem na sua garantia e validade (Achenbach, 1982; Sprock & Blash~
field, 1983). Consequentemente, qualquer afirmaçäo acerca da justificaçäo empírica da clas-
sificaçäo da psicopatologia necessita de ser qualificada no que diz respeito à abordagem espe-
cífica ou esquema de classificaçäo que está em discussäo.
Em segundo lugar, as categorias individuais dentro de um esquema específico de clas-
sificaçäo tendem a variar nas suas propriedades empíricas. Por exemplo, os estudos de cate-
gorias de diagnóstico alargados têm revelado, consistentemente, que os clínicos conseguem
um melhor acordo no diagnóstico de perturbaçöes orgânicas e psicóticas do que de perturba-
çöes neuróticas e de personalidade (Spietzer & Wilson, 1975). Assim, à medida em que a
classificaçäo diagnostica é segura dependerá näo só da abordagem e do esquema específico
de diagnóstico que se está a utilizar, mas também da psicopatologia que está a ser identificado.
Terceiro, as limitaçöes empíricas, como as consequencias desumanizantes, consti-
tuem uma armadilha potencial da classificaçäo, mas näo um impedimento inevitável. A clas-
sificaçäo da psicopatologia näo é intrinsecamente mais destituída de garantia ou de validade;
täo pouco é intrinsecamente prejudicial ou causadora de danos. Tal como se observou ante-
riormente, as possíveis desvantagens pessoais de ser classificado podem ser reduzidas pela
sensibilidade de clínicos informados e responsáveis. De forma paralela, a garantia e vali-
dade da classificaçäo da perturbaçäo psicológica pode ser melhorada através de uma atençäo
cuidadosa de investigadores sofisticados aos meios de aperfeiçoar os esquemas de classifi-
caçäo e os métodos de avaliaçäo.
Como um exemplo, muitos dos primeiros estudos, em que os clínicos mostravam
fraco acordo quanto ao diagnóstico, envolviam falhas metodológicas que se acumulavam impe-
dindo uízos fidedignos. Estas falhas incluíam (a) pedir aos clínicos que escolhessem entre
categorias de diagnóstico para as quais näo havia critérios claramente definidos ou com muitas
características em comum; (b) fornecer poucas orientaçöes consistentes quanto ao tipo de
dados de diagnóstico que os clínicos deveriam obter e quanto ao modo como deveriam ava-
liar esses dados; e (c) usar, como juízes, clínicos relativamente inexperientes a quem faltava
treino completo de como suscitar e interpretar dados críticos de diagnóstico diferencial num
caso clínico complexo.
A investigaçäo mais recente demonstrou que o acordo de diagnóstico aumenta subs-
tancialmente quando se däo vários passos para corrigir tais falhas metodológicas. Estes incluem
(a) desenvolver critérios claros e explícitos para decidir quando uma determinada condiçäo
35
está presente; (b) reduzir, tanto quanto possível, a sobreposiçäo entre critérios para identifi-
caçäo de condiçöes diferentes; (c) adoptar modos estandardizados de recolher os dados de
diagnóstico, garantindo assim que os clínicos estäo a trabalhar com o mesmo tipo e quanti-
dade de informaçäo, e que essa informaçäo é relevante para os critérios das condiçöes a serem
diferenciadas; e (d) treinar adequadamente os juizes clínicos no modo como relacionar a
informaçäo que obtêm com os critérios estabelecidos para as condiçöes que estäo a tentar
diagnosticar. Quanto mais uma investigaçäo observar estas condiçöes, mais probabilidades
há de fornecer uma avaliaçäo adequada da garantia potencial de um dado esquema de classi-
ficaçäo, e tanto mais se verifica também que os clínicos concordam nos seus juízos de diag-
nóstico (Grove, Andreasen, McDonald-Scott, Keller & Shapiro, 198 1).
Estas consideraçöes gerais deram bastante fruto durante os anos 80, que foi uma década
muito interessante no que respeita à classificaçäo, marcada por avanços importantes para
o desenvolvimento de critérios de diagnóstico de garantia e relacionando-os de uma maneira
válida com as origens, tratamento e evoluçäo das perturbaçöes psicológicas.
Abordagens clínicas
36
Uma vez que säo clinicamente identificados, os síndromas podem estimular especulaçöes
teóricas e tornar-se assunto de estudos sistemáticos de investigaçäo. No entanto, inicialmente,
näo derivam nem da teoria nem da investigaçäo mas sim das observaçöes e descriçöes dos
clínicos que inferem categorias latas de perturbaçäo, a partir dos sintomas apresentados pelos
pacientes.
Como testemunho da importância do clínico individual nas abordagens clínicas à clas-
sificaçäo, temos que os síndromas foram frequentemente designados com os nomes das pes-
soas que os observaram e descreveram em primeiro lugar. Ainda que este tipo de classifi-
caçäo tenha caracterizado mais vezes as doenças físicas do que as psicológicas, os
psicopatologistas desenvolvimentistas têm de estar familiarizados com as condiçöes assim
«chamadas», como o síndroma de Down, o síndroma de Lä Tourrette e o síndroma de Briquet.
Ainda que nenhum síndroma tenha o seu nome, Emil Kraepelin aparece como o pio-
neiro da classificaçäo clínica e sistematizador das perturbaçöes psicológicas. O seu manual
de psiquiatria, publicado em nove ediçöes de 1883 a 1927, estabeleceu os métodos para o
uso de observaçöes clínicas cumulativas do início e evoluçäo da sintomatologia manifesta
como base para diferenciar categorias discretas de perturbaçäo psicológica. Em reconheci-
mento pela sua contribuiçäo, a abordagem clínica à classificaçäo que dá ênfase às descriçöes
dos sintomas, é muitas vezes referida como o «método kraepeliniano.»
A classificaçäo de Kraeplin foi de grande utilidade para os médicos e os investiga-
dores ao pôr ordem no caos que existia antes do seu aparecimento. Tanto do ponto de vista
histórico como na continuaçäo, até aos dias de hoje, as abordagens clínicas säo dignas de
muito mérito por favorecerem as contribuiçöes da classificaçäo para o planeamento do trata-
mento, para o delineamento de investigaçäo e para a comunicaçäo profissional. Especial-
mente significativo tem sido, neste particular, o laço estreito entre a classificaçäo baseada
na clínica e a observaçäo e intervençöes diárias dos clínicos que trabalham com as pessoas
perturbadas. Esta conexäo tem desenvolvido categorizaçöes dos diagnósticos que os clínicos
acham fáceis de utilizar e fáceis de relacionar com as perturbaçöes que encontram na consulta.
No entanto, infelizmente, a classificaçäo clínica tradicional é um sistema aberto em
que há poucas restriçöes ao número e natureza dos síndromas susceptíveis de ser inseridos
na nomenclatura. Como resultado disto, esta abordagem pode falhar na defesa contra a pro-
liferaçäo de síndromas justapostos que podem envolver sintomas semelhantes. Quando mais
justaposiçäo houver num esquema de classificaçäo que tenha muitas perturbaçöes diferentes
com muitas características em comum, tanto mais difícil se torna, para os clínicos, concordar
sobre que perturbaçäo está presente, e, mais difícil é para o esquema alcançar uma garantia
respeitável.
A esta limitaçäo à sua garantia acrescenta-se que os esquemas de classificaçäo clí-
nica têm duas outras armadilhas que podem limitar a sua validade. Primeiro, a classificaçäo
clínico-descritiva pode näo explicar adequadamente o facto de que uma e a mesma condiçäo
pode manifestar-se de diferentes maneiras, em diferentes momentos. Algumas perturbaçöes
37
produzem sintomas que mudam, ao longo da sua evoluçäo, e outras manifestam-se de
maneiras diferentes, em diferentes idades. A estrita confiança nos sintomas manifestos no
momento, para classificar a psicopatologia pode, consequentemente, levar a erros de diag-
nóstico e conceptuais.
Pensou-se, por exemplo, em determinada altura, em relaçäo aos jovens, que a con-
diçäo chamada «síndroma da criança hiperactiva» (HACS) seria ultrapassada na adolescência,
porque a sua manifestaçäo primária - a hiperactividade - diminui à medida que as crianças
amadurecem e passam à puberdade. As conceptualizaçöes posteriores sobre a HACS - pri-
meiro como disfunçäo cerebral mínima (MBD) depois, como distúrbios de atençäo (ADD)
e, mais recentemente, como dificuldades de atençäo-hiperactividade (ADHD) - reconhecem
que ela näo se «cura» por maturaçäo. Muito pelo contrário, na falta de uma intervençäo efec-
tiva, esta condiçäo persiste sob a forma de sintomas que mudam ao longo do tempo. Assim,
as crianças ADHD, tratadas inadequadamente, tendem a apresentar problemas de aprendi-
zagem escolar e/ou comportamento anti-social, quando chegam à adolescência (ver Capí-
tulos 7 e 8).
Do mesmo modo, dado que as crianças e os pré-adolescentes raramente apresentam
os padröes sintomáticos completos que caracterizam a depressäo adulta, afirmou-se, no pas-
sado, que os jovens, especialmente antes do meio da adolescência, näo desenvolvem trans-
tornos depressivos. Provas mais recentes documentam que as crianças e os pré-adolescentes
podem desenvolver e desenvolvem, de facto, perturbaçöes depressivas mas têm tendência
a manifestar a sua depressäo de maneira diferente dos adultos, dada sua fase de desenvolvi-
mento (ver Capítulo 4).
Como uma segunda armadilha à sua validade, a classificaçäo diagnostica baseada exclu-
sivamente na sintomatologia manifesta, pode, por vezes, falhar na prediçäo da resposta ao
tratamento e na identificaçäo de intervençöes eficientes. É muito provável que isto ocorra
quando uma perturbaçäo subjacente produz sintomas que parecem reflectir um outro trans-
torno. Por exemplo, os adolescentes que estäo deprimidos podem, em certas circunstâncias,
manifestar a sua depressäo principalmente através da delinquência. Quando estes jovens säo
tratados por problemas de conduta, apresentam muito pouca evoluçäo, mas, o seu grau geral
de adaptaçäo tende a melhorar e o seu comportamento delinquente tende a desaparecer quando
säo tratados da depressäo subjacente (ver Capítulos 4 e 9).
Como escolhos potenciais da classificaçäo em geral, estas possíveis armadilhas da
classificaçäo de base clínica näo säo intransponíveis. Pelo contrário, os esforços actuais para
melhorar a garantia e a validade dos esquemas de classificaçäo originários da clínica, através
de investigaçäo sistemática, têm sido muito frutuosos. Conhecido como movimento neo-
-kraepeliniano, estes esforços recorrem aos dados empíricos para redefinir as categorias tra-
dicionais de diagnóstico, segundo modos que aumentaräo a sua garantia inter-avaliadores
e se esquematizam categorias distintas, näo-sobreponíveis, da sua etiologia, da sua evoluçäo
e da sua resposta ao tratamento.
38
39
40
constructo de muitos dos síndrornas do DSM-III nos jovens, inclusive o autismo, perturbaçäo
da conduta, distúrbios de atençäo e depressäo infantil.
Os clínicos de crianças, do mesmo modo que os que se preocupam principalmente
com adultos, näo têm sido unânimes em relaçäo à contribuiçäo do DSM-III e DSM-III-R para
a resoluçäo das necessidades dos seus pacientes. Alguns têm chamado o DSM-III «um avanço
importantes (Kazdin, 1983) e outros «um passo atrás» (Rutter & Schaffer, 1980), no que
diz respeito à classificaçäo da perturbaçäo juvenil. Alguns pöem ênfase nas vantagens do
uso do DSM-III com gente jovem, tais como sejam a clareza das definiçöes e a ampla cober-
tura da psicopatologia desenvolvimentista (Hersen & Last, 1989; Mezzich & Mezzich, 1985),
enquanto outros autores concentram-se nas desvantagens de o fazer, como a inclusäo de cate-
gorias de diagnóstico sem garantia e ainda por validar (Bemporad & Schwab, 1986; Tan-
guay, 1984).
Nova investigaçäo, em particular estudos longitudinais sobre a emergência e evo-
luçäo das perturbaçöes psicológicas, terá uma importante palavra a dizer sobre exactamente
quäo bom é o DSM-III-R ou pode vir a sê-lo. A informaçäo actualmente disponível dir-se-ia
indicar que o DSM-III-R é (a) um sistema imperfeito que será aperfeiçoado por dados adi-
cionais e por novas ideias num DSM-IV melhorado e, (b) um bom sistema que constitui uma
melhoria sólida em relaçäo aos seus predecessores e que alcançou uma razoável respeitabili-
dade científica e uma utilidade clínica digna de mençäo.
Abordagens teóricas
41
neamento da organizaçäo da personalidade limite de Kernberg (1977, 1978), essencialmente
em termos de inferências acerca da difusäo da identidade e da confiança na clivagem de objecto,
como uma operaçäo defensiva (ver Capítulo 5). Também dignos de nota nesta tradiçäo, foram
os esforços de Vaillant (1977, 1986) para formular as diferenças entre níveis de psicopato-
logia psicótica, caracteriológica e neurótica, em termos de uma hierarquia desenvolvimen-
tista dos modos preferidos de se defender contra a ansiedade.
As consideraçöes teóricas tiveram uma certa proeminência no DSM-II que precedeu
o DSM-III (Arnerican Psychiatric Association, 1968). Por exemplo, no DSM-III, a neurose
fóbica é definida em termos de «medos de um objecto, de que o paciente näo tem consciência,
deslocados para um outro objecto ou situaçäo fóbica» (p. 40). Como reflexo, no DSM-III,
da mudança da classificaçäo teórica para a neo-kraepeliniana, a neurose fóbica é descrita
sem nenhuma referência a mecanismos de defesa como deslocamento, nem a quaisquer aspectos
inconscientes da perturbaçäo (American Psychiatric Association, 1980, p. 225).
No que diz respeito especificamente à psicopatologia desenvolvimentista, as aborda-
gens teóricas da classificaçäo tiveram em Anna Freud um defensor extremamente firme e
influente. Ela considerava que as categorias clínico-descritivas tradicionais de diagnóstico
serviam de pouco para compreender e trabalhar com gente jovem e que elas «aumentam os
aspectos confusos do quadro clínico, em vez de os diminuir» (Freud, 1965, p. 1 10). Freud
incitou os clínicos a avaliar crianças e adolescentes nos termos das conceptualizaçöes psica-
nalíticas do desenvolvimento da personalidade, como a evoluçäo normalmente esperada do
processo primário de pensamento para o processo secundário e do princípio de prazer em
princípio de realidade.
Até hoje, o único esforço sistemático para desenvolver uma categorizaçäo da psico-
patologia desenvolvimentista de base teórica foi a noticiada, em 1974, pelo Grupo para o
Avanço da Psiquiatria (Group for the Advancement of Psychiatry - GAP). Este relatório
do GAP distingue entre oito amplas categorias de perturbaçöes em crianças e adolescentes:
perturbaçöes reactivas, desvios do desenvolvimento, perturbaçöes psiconeuróticas, pertur-
baçöes da personalidade, perturbaçöes psicóticas, perturbaçöes psicofisiológicas, síndromas
cerebrais e atraso mental. Estas categorias säo definidas em termos psicodinâmicos que têm
muito mais em comum com a abordagem de Anna Freud do que com as descriçöes neo-
-kraepelinianas contidas no DSM-III e DSM-III-R. No que diz respeito às perturbaçöes psi-
coneuróticas, por exemplo, o relatório do GAP afirma que «esta categoria está reservada
para aquelas perturbaçöes que têm por base conflitos inconscientes sobre o manejo dos impulsos
sexuais e agressivos que, embora eliminados da consciência pelo mecanismo de recalcamento,
permanecem activos e näo resolvidos» (p. 57).
Ao concentrar~se mais no funcionamento da personalidade do que nos sintomas obser-
váveis, as abordagens teóricas da classificaçäo podem explicar facilmente padröes mutáveis
de sintomas associados a uma condiçäo única, especialmente porque estes podem ocorrer
durante o processo de desenvolvimento. Do mesmo modo, ao chamar a atençäo para os
42
43
Abordagens empíricas
44
45
No que respeita à colheita dos benefícios potenciais da classificaçäo, cada uma das
abordagens, clínica, teórica e empírica, traz algumas vantagens e algumas desvantagens ao
processo de formulaçäo de categorias de perturbaçäo. Nenhuma proporcionou todas as res-
postas, até agora. O tema mais comum na história dos esforços para melhorar a classificaçäo
das perturbaçöes psicológicas tem sido o vaivém entre a precisäo e a significância; tradicio-
nalmente, ao longo dos anos, os avanços numa têm sido conseguidos a expensas da outra.
Apesar disso, fez-se um progresso incontestável, fundamentalmente em resultado da
influência que as abordagens divergentes tiveram umas nas outras. A classificaçäo clínica
enquanto resumida pelo DSM-III-R exprime, actualmente, um compromisso sólido com as
demonstraçöes empíricas de garantia e validade: os proponentes da classificaçäo empírica
encorajam a formulaçäo de apologias que os clínicos possam reconhecer e aplicar na sua
prática, e as abordagens teóricas ajudaram a injectar na classificaçäo clínica, como na empí-
rica, um reconhecimento de que a perturbaçäo psicológica pode ser mais do que aquilo que
salta à vista.
Independentemente da abordagem da classificaçäo preferida de cada um, também a
solidez e utilidade dos síndromas de perturbaçäo psicológica estäo a ser melhoradas por uma
46
47
zadas no DSM-III-R, säo aplicáveis a este grupo de idade. A primeira destas consideraçöes
seria para discutir se näo fosse ainda a ideia mítica remanescente de que a adolescência é
um tempo de vida turbulento e imprevisível, em que os fenômenos transitórios do desenvol-
vimento passam por perturbaçöes psicológicas. Se, de facto, o tumulto normativo do adoles-
cente produzisse geralmente sintomas de perturbaçäo psicológica, entäo a psicopatologia do
adolescente seria realmente demasiado volátil e mal definida para permitir qualquer classifi-
caçäo sistemática. No entanto, provas imperiosas em contrário, tais como as apresentadas
no Capítulo 1, deixam pouca dúvida de que as perturbaçöes moderadas ou severas na ado-
lescência näo säo nem normativas, nem autolimitativas e podem, e devem, ser classificadas,
quando ocorrem.
Quanto à aplicaçäo das categorias de diagnóstico, a ideia da perturbaçäo adolescente
teve ainda a outra consequência infeliz de encorajar os clínicos a evitar uma terminologia
denotativa e a optar antes por diagnósticos pouco específicos como o de distúrbio situacional
transitório. Como se especifica no DSM-II de 1968, os distúrbios situacionais transitórios
constituem «uma reacçäo aguda a um stress ambiente esmagadoras ocorrendo «em indivíduos
sem qualquer distúrbio mental subjacente aparente» e envolvendo «sintomas que habitual-
mente desaparecem quando o stress diminui» Estes distúrbios dividem-se em cinco catego~
rias de «reacçäo de adaptaçäo» relacionadas com a idade: da lactência, da infância, da ado-
lescência, da idade adulta e dos últimos anos de vida.
Como testemunho da popularidade de atribuir este tipo de diagnóstico näo-patológico
a adolescentes, antes do advento do DSM-III, Weiner e Del Gaudio (1976) verificaram no
seu estudo comunitário mencionado no Capítulo 1, que dos 1.334 sujeitos, com idades com-
preendidas entre os 12 e os 18 anos, que recebiam tratamento psiquiátrico, foram diagnosti-
cados 27,1 % como tendo um distúrbio situacional transitório. A frequência de tal diagnós-
tico näo-específico era ainda mais alta no inquérito nacional do Departamento de Saúde e
Serviços Humanos (Department of Health and Human Services) dos Estados Unidos a todas
as pessoas abaixo de 18 anos que foram vistas em serviços de psiquiatria durante 1975. Em
160.036 pacientes de idades compreendidas entre 10 e 14 anos, foram classificados como
apresentando reacçäo de adaptaçäo de crianças e jovens, 48,2 % dos sujeitos da consulta externa
e 43,6 % dos sujeitos em unidades de internamente. O mesmo estudo verifica que em
149.033 sujeitos de idades compreendidas entre 15 e 17 anos, 37,6% dos pacientes externos
e 25,4 % dos internados receberam aquele diagnóstico (Sowder, Burt, Rosenstein & Milazzo-
-Sayre, 198 1, pp. 50-5 1).
Os estudos longitudinais tornaram patente o erro de encarar uma täo grande proporçäo
de adolescentes, vistos em instituiçöes de saúde mental, como estando essencialmente isentos
de perturbaçäo e apenas a reagir de modo transitório a um stress ambiente agudo. Quando
Weiner e Del Gaudio (1976) examinaram a frequência com que a sua populaçäo de pacientes
reaparecia para tratamento psiquiátrico, nos 10 anos seguintes à sua avaliaçäo inicial, verifi-
caram que os adolescentes que haviam sido inicialmente diagnosticados com um distúrbio
48
situacional transitório (51,9 % do grupo) tinham a mesma probabilidade de procurar cuidados
psiquiátricos posteriores do que os que tinham sido diagnosticados inicialmente com uma
perturbaçäo neurótica (51,7 % taxa de retorno à consulta) ou com uma perturbaçäo de perso-
nalidade (51,3 % taxa de retorno à consulta). Mais ainda, os que foram diagnosticados com
um distúrbio situacional transitório tiveram aproximadamente, em média, o mesmo número
de contactos psiquiátricos subsequentes, durante o período de seguimento do estudo, do que
os que foram diagnosticados com uma perturbaçäo neurótica ou de personalidade. Do grupo
de indivíduos com distúrbio situacional transitório inicial que receberam cuidados posteriores,
85 % deles receberam posteriormente um diagnóstico diferente do de distúrbio situacional
transitório; 21,3 % foram mesmo considerados portadores de um distúrbio esquizofrênico,
nalgum momento dos 10 anos seguintes à avaliaçäo inicial.
Estes resultados levaram Weiner e Del Gaudio (1976) a concluir que a designaçäo «dis-
túrbio situacional transitórios estava a ser utilizada, aparentemente, para descrever um número
substancial de jovens perturbados que, de facto, estavam a desenvolver psicopatologia diag-
nosticável e que estavam destinados a ter um sofrimento psicológico recorrente. Em confor-
midade, aqueles autores advertiram os clínicos para que fossem prudentes em relaçäo à situaçäo
de perturbaçäo transitória como diagnóstico para adolescentes perturbados, especialmente se
o honrar desta maneira a assim chamada noçäo de tumulto normativo da adolescência, mini-
miza a gravidade da perturbaçäo do jovem e subvaloriza a sua necessidade de tratamento.
Dados publicados por Andreasen e Wasek (1980) constituem mais uma prova do uso
insensato da categoria de distúrbio situacional transitório do DSM-II para classificar adoles~
centes cujo percurso e história clínica apontam para distúrbios que säo mais sérios do que
reacçöes agudas autolimitativas ao stress ambiente. Estes investigadores fizeram a revisäo
dos registos de 199 adolescentes vistos nos serviços psiquiátricos dos Hospitais da Universi-
dade de lowa (University of lowa Hospitals) e diagnosticados com distúrbio situacional tran-
sitório. Mais de 40% destes adolescentes foram internados no hospital, após a sua avaliaçäo
inicial, onde dois terços deles permaneceram por mais de 2 semanas e quase um terço ficou
mais de 1 mês. Quase 80% do grupo total parecia ter estado a sofrer perturbaçäo há mais
de 3 meses à data em que foram avaliados, e quase metade tinha aparentemente estado a
sofrer de problemas psicológicos significativos há mais de 1 ano. Dois terços destes adoles-
centes com «distúrbio situacional transitórios foram admitidos para determinada forma de
tratamento e um quarto dos que foram tratados foram medicados.
Um subgrupo destes adolescentes seleccionado ao acaso foi reavaliado por Andreasen
e Hoenk (1 982), 5 anos depois do seu diagnóstico inicial. Só 44 % foram considerados, nessa
altura, como estando psiquiatricamente bem, enquanto 23 % apresentaram uma perturbaçäo
afectiva diagnosticável, 19 % foram considerados com distúrbio anti-social de personalidade
e o restante deu prova de várias outras perturbaçöes actuais ou incidentais.
O significado destes resultados parece claro. Aqui estava um grupo de adolescentes
psicologicamente perturbados, muitos dos quais careceram de hospitalizaräo, tiveram uma
49
50
51
Por outro lado, a maioria dos nosologistas concordaria com que (a) nenhuma abordagem
isolada da classificaçäo da psicopatologia do desenvolvimento conseguiu, só por si, mono-
polizar a verdade total (ver Achenbach, 1988; Cantwell, 1988a) e com que (b) o DSM-III-R
carece ainda de especificidade no que respeita aos problemas do desenvolvimento da infância
e da adolescência (ver Schwab-Stone, 1989; Trad, 1989).
Assim, os capítulos que se seguem estäo organizados à volta de um misto de catego-
rias tradicionais e comportamentais. Os Capítulos 3 a 6 dizem respeito a categorias de per-
turbaçäo que explicam a maioria das situaçöes psicopatológicas observadas nos adolescentes:
esquizofrenia, doenças afectavas, distúrbios limite e perturbaçöes ansiosas. -Os Capítulos 7
a 10 dirigem-se aos problemas do comportamento que cruzam aquelas categorias de diag-
nóstico e explicam as razöes pelas quais os adolescentes säo enviados para ajuda psicoló-
gica: fraco aproveitamento escolar, comportamento delinquente, comportamento suicida e
toxicodependência. O Capítulo 1 1 fecha o livro com uma discussäo geral das linhas mestras
da conduçäo da psicoterapia com adolescentes perturbados.
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1
à
58
59
clínico misto, nas fases iniciais ou calmas do surto esquizofrénico, no qual as características
esquizofrénícas säo secundárias, subtis ou submersas. Por ser necessário um diagnóstico pre-
coce rigoroso, tendo em conta uma atempada intervençäo eficiente, os clínicos devem estar
preparados para identificar indícios de esquizofrenia pouco pronunciada ou incipiente em
jovens que näo apresentam um quadro clínico estabilizado do distúrbio.
Este capítulo dirige-se à psicopatologia, ao diagnóstico diferencial e ao tratamento
da esquizofrenia na adolescência. As primeiras três secçöes deste capítulo fazem a revisäo
dos padröes de perda psicológica associados com a esquizofrenia adolescente, as origens e
evoluçäo deste distúrbio e os preditores do seu prognóstico; as três secçöes seguintes tratam
dos aspectos clínicos do diagnóstico e tratamento de adolescentes esquizofrénicos.
PERDAS PSICOLóGICAS NA ESQUIZOFRENIA DO ADOLESCENTE
Perfis de perda
60
säo igualmente raros outros indicadores patológicos, o que os toma täo significativos de esqui-
zofrenia nos jovens como nas pessoas mais velhas. Estas diferenças variam dentro das quatro
dimensöes mais importantes da perda esquizofrénica, como se verá adiante.
Pensamento desorganizado
61
Percepçäo imprecisa
62
do adulto - e näo em qualquer perda de contacto com a realidade. A este respeito säo con-
clusivas as provas oriundas da investigaçäo da capacidade de testar a realidade, no Rors-
chach. Os estudos previamente citados revelam que os adolescentes de todas as idades revelam
um alto grau de precisäo perceptíva e uma excelente capacidade de reconhecer e subscrever
modos convencionais de resposta. Os jovens têm a mesma frequência que os adultos de res-
postas percepcionadas com precisäo e de respostas convencionais ao Rorschach. Por conse-
guinte, os indícios de percepçäo distorcida, tal como se manifestam em juizos irrealistas e
em comportamento estranho, têm implicaçöes täo sérias para esquizofrenia nos adolescentes
como nos adultos.
Inépcia interpessoal
63
Controlo inadequado
64
básicas. No entanto, näo há quaisquer provas que indiquem que os adolescentes näo-perturbados
têm mais tendência que os adultos para perder o controlo dos impulsos agressivos e sexuais
ou para revelar reacçöes emocionais claramente desapropriadas. Por esta razäo, a perda de
controlo de si próprio e as demonstraçöes afectavas desadequadas podem ter implicaçöes sérias
numa possível esquizofrenia em adolescentes (Delga, Heinssen, Fritsch, Goodrich & Yates,
1989; Inaindar, Lewis & Siomopoulos, 1982). Do mesmo modo, os adolescentes que mos-
tram uma falta de emoçöes ou que däo risadinhas ou choram sem razäo aparente estäo a
manifestar um comportamento inabitual com implicaçöes patológicas.
Por outro lado, muitos jovens näo atingiram ainda o controlo amadurecido do pensa-
mento. Mais do que os adultos, os adolescentes têm tendência para tomar consciência de
pensamentos e imagens perturbadoras que contêm temas agressivos e sexuais. Os dados nor-
mativos do Rorschach confirmam que o controlo enfraquecido da ideaçäo pode ser menos
significativo de incapacidade esquizofrénica nos adolescentes, do que nos adultos. Entre 15
a 20 % das respostas ao Rorschach, dadas por adolescentes näo-pacientes, contêm temas de
conteúdo tais como sangue, tripas, morte, decomposiçäo, destruiçäo e sexo. Mais ainda,
apurou-se que a frequência média de respostas ao Rorschach, com conteúdo sexual e agres-
sivo óbvio, näo difere entre adolescentes esquizofrénicos e näo-esquizofrénicos.
Resumindo, estas semelhanças e diferenças envolvem os mesmos tipos de perda que
define a esquizofrenia adulta - pensamento desorganizado, percepçäo imprecisa, inépcia
interpessoal e controlo inadequado. No entanto, especialmente nas fases iniciais ou mais calmas,
a esquizofrenia tende a produzir alguns padröes distintivos de perda, no grupo de menor
idade. Por outro lado, a dissociaçäo, o bloqueio, as percepçöes distorcidas, o retraimento
social, o comportamento estranho ou näo controlado e as demonstraçöes afectavas desade-
quadas säo igualmente sugestivas de distúrbio esquizofrénico, tanto nos adolescentes como
nos adultos. Por outro lado, o raciocínio circunstancial, a preocupaçäo com abstracçöes e
o conhecimento consciente das imagens sexuais e agressivas cruas têm limites mais amplos
de normalidade nos adolescentes do que nos adultos e têm de estar mais destacadamente em
evidência nos jovens do que no grupo mais velho, para identificar o distúrbio esquizofrénico.
Os clínicos também têm de reconhecer que nem os adultos nem os adolescentes esqui-
zofrénicos teräo necessariamente de manifestar todas as características definidoras deste dis-
túrbio, nem nenhuma destas diminuiçöes do funcionamento é específica da esquizofrenia.
Numerosos relatórios clínicos e de investigaçäo confirmaram a ideia de Mosher e Gun-
derson (1973) de que «nenhum défice caracteriza todos os esquizofrénicos nem se encontra
apenas em esquizofrénicos» (p. 20). índices de pensamento desorganizado näo säo incomuns
em pacientes com perturbaçäo afectiva; o teste da realidade deficiente caracteriza muitas con-
diçöes em que as pessoas se tornam psicoticamente incapacitadas, designadamente as psi-
coses orgânicas e tóxicas; o retraimento social ocorre em indivíduos tímidos, esquizóides;
e o fraco controlo de si próprio e emocionalidade desadequada observam-se, respectivamente,
em casos de personalidade impulsiva ou anti-social e em distúrbio depressivo ou histriónico
65
(Ver Andreasen, 1979b, 1988; Harrow, Grossman, Silverstein & Meltzer, 1982; Millon,
1981; OItmanns, Murphy, Berenbaum & Dutilop, 1985).
Outrossim, cada um dos fenômenos associados com a esquizofrenia pode aparecer,
de modo passageiro, em pessoas normais, durante períodos de stress; e nenhuma caracterís-
tica individual da esquizofrenia é suficiente, em si mesma, para a identificaçäo final do dis-
túrbio. Quando, no entanto, os vários tipos de perdas de funcionamento, descritos nesta secçäo,
ocorrem em conjunto e persistem por um período de tempo, em especial quando o pensa-
mento desorganizado se destaca entre eles, a presença de esquizofrenia é geralmente assinalada.
Apresentaçäo da sintomatologia
66
67
a presença de tais preocupaçöes normativas näo possa excluir a possibilidade de distúrbio
esquizofrênico emergente, a ausência aumenta a sua probabilidade.
Os adolescentes perturbados que estäo a ficar esquizofrénicos têm mais probabili-
dades do que os pares de manifestar uma incapacidade ou relutância para empreender as tarefas
do desenvolvimento da adolescência. As vezes, permanecem extraordinariamente imaturos
nas suas atitudes, interesses e relaçöes sociais. Noutros casos, tentam contornar os problemas
comuns da adolescência subscrevendo, prematuramente, perspectivas e objectivos adultos
e revestindo-se, desse modo, de uma pseudomaturidade.
Os adolescentes imaturos procuram manter, geralmente, o tipo de relaçöes de brin-
cadeira que caracteriza os anos pré-adolescentes. A medida que os pares começam a interessar-
-se por alargar o seu círculo de amigos e pelo começo dos namoricas, eles gravitam à volta
de companheiros de jogos mais novos que näo têm esses interesses. Esta falha em manter
o passo nas relaçöes sociais normais em desenvolvimento acompanhada-se, geralmente, de
fantasias imaturas e de uma conduta e estilo de vida geralmente infantis.
Um rapaz de 15 anos, um citadino que nunca tinha montado um cavalo, revelou que
os seus planos futuros eram «ir para a faculdade e tornar-se um cavaleiro de rodeo.» Uma
rapariga de 15 anos, quando interrogado sobre o que gostaria de ser, depois de sair da escola,
respondeu, «Eu vou para a rua e brinco.» Ambas as afirmaçöes parecem-se com o que se
esperaria de um indivíduo de 8 ou 9 anos.
Os adolescentes pseudomaturos que procuram contornar as tarefas do desenvolvi-
mento da adolescência, tendem a apresentar uma fachada de comportamento calmo, sério
e bem educado, que causa uma boa impressäo nos adultos e raramente sugere dificuldades
psicológicas aos observadores näo-treinados. Estes rapazes e raparigas pseudomaturos säo
responsáveis e conscienciosos, discutem, do ponto de vista dos seus pais ou professores, os
acontecimentos do mundo e o comportamento dos seus pares, e começam, logo aos 12 ou
13 anos, a identificar-se com os adultos.
Um rapaz de 15 anos, filho único, atribuiu o estar constantemente a ser atormentado
pelos seus colegas ao «quanto as pessoas säo indisciplinadas, hoje em dia»; referiu-se aos
compromissos sociais dos pais como «Ontem, recebemos alguns amigos nossos lá em casa. »
A despeito do seu Q1 ser de 90, raramente tomava parte nalguma actividade a näo ser na
companhia dos pais, excepçäo feita à frequência da escola; as diversas pessoas que tinham
discutido com ele as dificuldades do grupo dos seus pares com ele - o director, o conse-
lheiro de orientaçäo, o capeläo - tinham sistematicamente começado o relatório da entre-
vista com frases como esta «este jovem inteligente, atento, com bom aspecto, discutiu a situaçäo
comigo de uma maneira muito aberta, sensata e matura.»
O irregular desenvolvimento psicossocial dos adolescentes pseudomaturos é geral-
mente denunciado, como neste exemplo, pelo testemunho de relaçöes pobres com os seus
pares. Os seus interesses pretensamente maturos e as interacçöes pretensamente fáceis com
os adultos só existem a expensas do empenhamento em actividades e amizades próprias da
68
idade e as suas referências adultas conduzem mais frequentemente à exclusäo dos grupos
sociais de jovens do que ao bom acolhimento neles.
Proeminência das manifestaçöes formais do distúrbio
Os dados disponíveis, obtidos em grande parte pela investigaçäo clínica, revelam uma
relaçäo directa entre a proeminência das manifestaçöes formais do distúrbio e a probabilidade
de esquizofrenia em jovens adolescentes. As manifestaçöes formais do distúrbio referem-se
ao como uma pessoa diz uma coisa que é bizarra ou inadequada; as manifestaçöes de conteúdo
referem-se ao que a pessoa diz. Por exemplo, como foi já referido, os adolescentes esquizo-
frênicos e näo-esquizofrénicos produzem um número semelhante de conteúdos «doentios» no
Rorschach, mas diferem significativamente quanto à frequência com que apresentam, no Rors-
chach, índices formais de pensamento desorganizado. Estudos, que utilizaram também vários
outros instrumentos, promoveram uma longa e sólida tradiçäo que dá ênfase à importância
diagnostica de distinguir entre os aspectos formais e os aspectos de conteúdo dos dados dos
testes psicológicos. Falando dum modo geral, as inferências baseadas apenas no conteúdo verbal
dos protocolos dos testes de adolescentes podem provavelmente exagerar o grau de psicopato-
logia em presença, ao passo que os aspectos formais dos processos de pensamento dos adoles-
centes fornecem estimativas precisas quanto às forças e fraquezas das suas personalidades.
A distinçäo entre manifestaçöes formais e de conteúdo do distúrbio aplica-se aos dados
da entrevista, bem como aos dados dos testes psicológicos. Os adolescentes que descrevem
fantasias bizarras, sonhos realistas ou preocupaçöes pouco habituais, podem estar a sofrer
de um distúrbio esquizofrênico; a probabilidade da esquizofrenia aumenta na medida em, que
tais experiências säo remontadas de uma maneira bloqueada, dissociada ou circunstancial,
o que revela perturbaçäo do pensamento formal.
Por exemplo, um adolescente que diz «Eu näo tenho tempo para fazer os meus tra-
balhos de casa porque estou ocupado a calcular quando é que o mundo vai acabar» está a mostrar
uma preocupaçäo pouco usual que constitui uma manifestaçäo do conteúdo da perturbaçäo;
neste caso, no entanto, o conteúdo é expresso de maneira clara e compreensiva. Pelo con-
trário, um rapaz de 17 anos que disse «Eu näo quero casar-me porque näo tenho a fisicali-
dade para a sexualidades está a exprimir-se duma maneira esquisita e afectada, indicadora
de uma perturbaçäo do pensamento formal. Conquanto tais manifestaçöes de perturbaçäo,
formais e de conteúdo, ajudem a identificar a esquizofrenia, a probabilidade de esquizofrenia
emergente, num adolescente perturbado, aumenta na relaçäo directa da proeminência das
manifestaçöes formais do distúrbio, em oposiçäo às manifestaçöes de conteúdo.
69
70
71
72
tivamente crónica, como acontece com a falta de preocupaçäo com as características esqui-
zofrênicas do seu próprio comportamento e com uma consciência mínima que os seus pró-
prios problemas derivam dessas perdas.
Ao contrário, o distúrbio esquizofrénico relativamente agudo compreende sintomas
moderadamente incapacitantes e, principalmente, sintomas positivos que ocorrem na ausência
de indicadores neuropatológicos e sem uma história anterior de dificuldades mercantes de
adaptaçäo. Caracteristicamente, o comportamento anterior de indivíduos esquizofrénicos agudos
foi sem reparos, pelo menos aos olhos de observadores leigos, e o seu distúrbio emerge subi-
tamente para surpresa da família e amigos. A crise inicial, caracteristicamente, seguiu-se
logo aos acontecimentos precipitantes e a pessoa está geralmente ciente e preocupada com
a natureza rara dos seus sintomas («Eu näo sei o que está mal em mim; parece que já näo
consigo pensar direito e acabo por fazer todo o tipo de coisas estúpidas»).
Estado paranóide
Tal como está descrito e documentado numa extensa literatura, a paranóia consiste
em certas maneiras particulares de encarar e pensar acerca do seu próprio mundo. Os indiví-
duos paranóides tendem a ser pessoas alertas e vigilantes que esquadrinham cuidadosamente
o que os rodeia. Porque, no entanto, também têm tendência para ser rígidos, inflexíveis e
mesquinhos, encontram, caracteristicamente, maneiras de encaixar o que quer que sintam
ou percepcionem nas convicçöes já anteriormente sustentadas. Raras säo as ocasiöes em que
ponderam uma mudança de opiniäo ou alteram os seus pontos de vista. As pessoas para-
nóides vêem o seu ambiente como sendo um lugar hostil e perigoso e, em consequência,
lidam com as pessoas e os acontecimentos, de uma maneira cautelosa e desconfiada. Duvidam
dos motivos dos outros e receiam ser explorados e vitimados pelas circunstâncias. Conse-
quentemente, mantêm-se reservados, evitando um estreito envolvimento em actividades de
grupo e mantendo uma distância formal nas relaçöes. Preferem reflectir sobre a sua própria
experiência do que revelar-se em palavras ou actos, e preferem guardar a sua própria opi-
niäo a partilhar os pensamentos e sentimentos com os outros. Como sentem, constantemente,
uma necessidade de proteger a sua integridade e auto-estima, tendem a ser pretensiosos e
hipócritas, criticando os outros sem peias e culpando as circunstâncias externas pelas suas
dificuldades e falhanços (ver Akhtar, 1990; Magaro, 1980; Meissner, 1978; Millon, 1981,
Capítulo 13; Shapiro, 1965, Capítulo 3).
A combinaçäo destes estilos cognitivos e conjuntos de atitudes com os danos esqui-
zofrénicos de pensamento e de teste da realidade produz sintomas dramáticos de esquizo-
frenia paranóide, como delírios de perseguiçäo («Eu faço parte duma lista para ser morto»),
grandiosidade («Eu tenho uma visäo e audiçäo super-humanas») e alucinaçöes com tintas car-
regadas de perseguiçäo e de grandiosidade («As vozes dizem sempre que me väo acontecer
73
coisas terríveis»; «Disseram-me que me vou tornar um santo»). Quando tais sintomas apa-
recem numa pessoa esquizofrénica, apontam para a presença activa de uma forma paranóide
do distúrbio. Os indivíduos esquizofrénicos que apresentam as atitudes e as tendências asso-
ciadas à paranóia mas que näo manifestam, actualmente, sintomas paranóides evidentes, desen-
volveräo, provavelmente, esses sintomas, se a sua condiçäo persistir ou piorar.
Ainda que ocorram excepçöes, a paranoia e com muito mais frequência uma caracte-
rística potencial dos episódios esquizofrénicos na adolescência do que uma característica já
estabelecido. As formas paranóides da esquizofrenia desencadeiam-se mais tardiamente do
que as formas näo-paranóides e aparecem raramente, antes dos 20 anos de idade (Lewine,
1980; Zigler & Levine, 1981). As perspectivas desenvolvimentistas fornecem duas explica-
çöes plausíveis para esta diferença devida à idade. Primeiro, a complexidade e especifici-
dade de uma tendência paranóide carece provavelmente de um grau de maturaçäo cognitiva
que a maior parte das pessoas näo alcança até atingir o estado adulto. Por exemplo, a rigidez
e inflexibilidade que säo täo centrais para a manutençäo de um estilo paranóide caracterizam
raramente os jovens que, com muito menos probabilidade do que os adultos, iräo estabilizar-
-se nos seus percursos.
Segundo, o desencadear relativamente tardio das formas paranóides da esquizofrenia
pode estar relacionado com os indícios de que os esquizofrénicos paranóides demonstram
maior competência social do que os esquizofrénicos näo-paranóides, antes de se tornarem
perturbados, e que durante os episódios de perturbaçäo permanecem também menos incapa-
citados funcionalmente (Burak & Zigler, 1989; Zigler & Glick, 1986). Tendo melhores recursos
para se desenvencilharem, as pessoas destinadas a desenvolver uma esquizofrenia paranóide
podem ser menos vulneráveis à crise e ser mais flexíveis face ao stress do que as que desen-
volvem esquizofrenia näo-paranoide; por consequencia, podem talvez adaptar-se, durante
um período de tempo mais longo, antes de se tornarem claramente perturbadas. Os esquizo-
frénicos näo-paranóides, sendo menos flexíveis e dispondo de menos recursos para se desen-
vencilharem, estäo predispostos a adoecer mais cedo, o que explicaria a frequência mais baixa
dos estados paranóides entre esquizofrénicos com um início de perturbaçäo na adolescência,
em oposiçäo aos esquizofrénicos com início de perturbaçäo na idade adulta.
ORIGENS DA ESQUIZOFRENIA
74
esquizofrénica também têm identificado alguns dos precursores típicos da sua apariçäo ini-
cial. A familiarizaräo com estes factores causais e os padröes prodrómicos podem ajudar
os clínicos a avaliar a probabilidade futura de esquizofrenia nos jovens que ainda näo come-
çaram a manifestar sinais claros da perturbaçäo.
Os factores genéticos
A esquizofrenia ocorre nas famílias, o que significa que quanto mais próximo for
o parentesco entre duas pessoas tanto mais provável será que elas apresentem concordância
em relaçäo à doença. Quando comparada com a sua prevalência aproximada de 1 % para
a populaçäo em geral, a frequência da esquizofrenia aumenta para aproximadamente 10%
em pessoas que têm um irmäo ou um gêmeo dizigótico esquizofrénico, para de 1 O a 15 %
em pessoas que têm um dos pais com esquizofrenia, para mais de 35 % para pessoas que
nascem de pais ambos esquizofrénicos e para mais de 50 % entre gêmeos monozigóticos filhos
de esquizofrénicos (Eaves, 1988, KendIer & Robinette, 1983; McGue & Gottesman, 1989).
Num estudo bem ilustrativo, KendIer, Gruenberg e Tsuang (1985) encontraram uma fre-
quência 18 vezes mais alta de esquizofrenia em 723 parentes em primeiro grau de pacientes
esquizofrénicos do que em 1.056 parentes em primeiro grau de pacientes de cirurgia empa-
relhados para controlo. Com base nestes dados, a hereditabilidade da esquizofrenia (isto é,
a proporçäo da variabilidade na susceptibilidade que pode ser atribuída a factores genéticos)
tem sido calculada dentro de uma variaçäo que vai de 0,68 a 0,76 - o que torna a esquizo-
frenia uma perturbaçäo com maior grau de hereditariedade do que condiçöes médicas,'como
a hipertensäo e a doença coronária, e quase do mesmo grau de hereditariedade que a dia-
betes mellitus (Kendler, 1983; McGuffin, Farmer, Gottesman, Murray & Reveley, 1984).
Alguns teóricos têm atribuído a incidência familiar da esquizofrenia a um mesmo
ambiente de aprendizagem experimentado por irmäos e irmäos gêmeos, e também a proba-
bilidade dos pais esquizofrénicos criarem os filhos de uma maneira desprendida e desorgani-
zada (por exemplo, Lidz & Fleck, 1985). No entanto, os resultados de investigaçäo de vários
tipos lançam dúvida em toda e qualquer explicaçäo estritamente ambiental.
Em primeiro lugar, os irmäos têm muitas vezes experiências diferentes do mesmo
ambiente e o tipo de experiências que influem especialmente na moldagem das dimensöes
da personalidade tende a näo ser vivido conjuntamente pelos membros da família. Mais
ainda, as semelhanças existentes entre os irmäos resultam principalmente da hereditariedade
partilhada e näo do ambiente familiar partilhado (Daniel & Plomin, 1985; Goldsmith, 1983;
Plomin, 1989).
Em segundo lugar, os gêmeos monozigóticos têm apenas uma probabilidade ligeira-
mente maior do que os gêmeos dizigóticos de serem tratados da mesma maneira pelos pais,
o que torna difícil explicar, em termos de ambiente, a sua muito maior concordância em
75
termos de esquizofrenia (Ainslie, Olmstead & O'Loughlin, 1987; Lytton, 1977). Terceiro,
os gêmeos monozigóticos criados separadamente, em ambientes completamente diferentes,
têm uma concordância täo alta em relaçäo à esquizofrenia como os gêmeos idênticos criados
no mesmo lar (Farber, 1981, Capítulo 6; Kessler, 1980).
Quarto, entre as crianças que säo dadas para adopçäo muito cedo, aquelas cujas mäes
biológicas têm uma história de esquizofrenia têm, elas próprias, muito mais probabilidades
de desenvolver a esquizofrenia do que as crianças dadas para adopçäo, nascidas de pais psi-
cologicamente saudáveis. De modo correspondente, os adaptados que se tornam esquizofré-
nicos têm maior probabilidade do que os adaptados näo-esquizofrénicos de ter pessoas esqui-
zofrénicas entre os seus parentes biológicos, mas näo têm maior probabilidade de ter pessoas
esquizofrénicas entre os seus familiares adoptivos (KessIer, 1980; Kety, 1988; Lowing, Mirsky
& Pereira, 1983).
Os estudos de famílias apontam para um defeito neuro-integrador como a provável
característica herdada que cria uma vulnerabilidade constitucional à esquizofrenia. Muito
antes de se tornarem psicologicamente perturbadas, as crianças em risco de esquizofrenia,
por um dos pais ser esquizofrênico, têm mais probabilidade do que os seus pares de apre-
sentar anormalidades neuromotoras e atraso no desenvolvimento perceptivo-motor, défices
em tarefas que envolvam atençäo, percepçäo e processamento da informaçäo e ainda uma
sensibilidade acrescida à estimularäo aversiva combinada com uma tolerância geralmente
baixa ao stress (Asarnow, 1988; Nuechterlein, 1986). Estes sinais de deficiência aparecem
apenas num pequeno subgrupo de crianças de alto risco (Marcus, Hans, Mednick, Schul-
singer & Michelsen, 1985) mas este pode bem ser um grupo de jovens especialmente vulne-
rável que constitui os 10 a 15 % dos sujeitos que, sendo filhos de um dos pais com esquizo-
frenia, vem a sofrer da perturbaçäo.
Factores de experiência
-moo^
76
A teoria de diátese-stress
77
-stress, de acordo com a qual säo necessários, em conjunto, certos factores constitucionais
e também factores da experiência, para a emergência da esquizofrenia, ainda que nenhum
seja suficiente, só por si (ver Asarnov & GoIdstein, 1986; Mirsky & Duncan, 1986; Same-
roff, Seifer, Zax & Barocas, 1987; Walker, Downey & Bergman, 1989).
Esta teoria pressupöe uma interacçäo aditiva entre a constituiçäo e o ambiente para
detern-iinar se a pessoa se tornará esquizofrênica. Quanto mais forte for a predisposiçäo genética
para a perturbaçäo, tanto mais provável será que ela ocorra no contexto de stress psicosso-
cial, mesmo que mínimo. Por sua vez, quanto mais moderada for a predisposiçäo tanto mais
a pessoa poderá aguentar a desorganizaçäo familiar e outras pressöes do ambiente, sem se
tornar esquizofrénica (Gottesman & Bertelsen, 1989, Pogue-Geile & Harrow, 1987; Zubin
& Spring, 1977).
Os estudos com pacientes esquizofrénicos revelam que acontecimentos de vida stres-
santes se agrupam muitas vezes num período de 3 a 4 semanas precedentes a um episódio
claramente esquizofrénico (Dohrenwend & Egri, 1981; Lukoff, Snyder, Ventura & Nuech-
terlein, 1984; Ventura, Nuechterlein, Lukoff & Hardesty, 1989). Muitas vezes, esses aconte-
cimentos stressantes envolvem mudança de circunstâncias ou de lugares, que retiraram a pessoa
de um ambiente familiar ou de um conjunto de expectativas e a colocaram num novo local,
entre gente diferente ou sob novas directivas sobre o que seja o comportamento apropriado.
Dois desses acontecimentos, enfrentados muitas vezes pelos adolescentes mais velhos,
säo a saída de casa para ingressar na universidade e a entrada no serviço militar, ambos impli-
cados, muitas vezes, na crise psicológica. No entanto, nem estes acontecimentos concretos,
nem outros acontecimentos stressantes respeitantes a estar numa situaçäo nova säo especí-
ficos da precipitaçäo da esquizofrenia. As pessoas diferem na maneira como respondem aos
mesmos tipos de stress de vida, consoante as suas disposiçöes e competências para se desen-
vencilharem nas situaçöes. É entre os que säo especificamente vulneráveis à esquízofrenia
e cuja vulnerabilidade consiste parcialmente em baixa tolerância ao stress e capacidades limi-
tadas de se desenvencilhar nas situaçöes, que os acontecimentos stressantes têm probabili-
dades de produzir uma crise esquízofrénica.
Padröes prodrómicos
78
O padräo esquizóide
O padräo tempestuoso
79
tempestuoso, reflectem em parte uma clara diferença entre sexos nos caminhos de desenvol-
vimento da esquizofrenia. A investigaçäo da história de vida indica que as raparigas pré-
-esquizofrénicas tendem a ser mais caladas do que as outras, mais passivas, com menor matu-
ridade e mais introvertidas socialmente, nos anos de escola primária. Mais tarde, na escola
secundária, tomam-se menos passivas mas ficam ainda mais notoriamente retraídas. Os rapazes
pré-esquizofrénicos mostram poucas diferenças dos outros meninos, enquanto crianças, mas,
quando adolescentes, tornam-se claramente ofensivos, desagradáveis e provocadores (Glish,
Erlenmeyer-Kimling & Watt, 1982; John, Mednick & Schulsinger, 1982; KendIer, Gruen-
berg & Strauss, 1982; Wallace, 1984).
Consequentemente, embora o isolamento ou a agressividade durante a adolescência
possam anunciar a esquizofrenia, é particularmente provável que o primeiro seja preditivo
no sexo feminino e a segunda no sexo masculino. Por outro lado, näo mais do que metade
dos sujeitos esquizofrénicos, nestas investigaçöes, apresentaram um ou outro daqueles padröes,
enquanto adolescentes, o que significa que a possibilidade de esquizofrenia subsequente näo
pode ser excluída só porque näo apareceu nenhum dos precursores.
Quanto mais cedo na vida começa uma perturbaçäo psicológica grave tanto mais pro-
vável é que persista. Por isso, em geral, a esquizofrenia que aparece na adolescência tem
um prognóstico menos favorável do que a esquizofrenia que começa na idade adulta. No
entanto, as circunstâncias e características que predizem o resultado na esquizofrenia säo,
essencialmente, as mesmas em todas as idades.
Resultado geral
80
e tenham alta. Relatórios de alguns hospitais indicam que, em muitos casos, mesmo os
pacientes esquizofrénicos de longa data podem recuperar suficientemente de modo a
retomar o seu nível acadêmico ou a actividade ocupacional anteriores à doença (Helzer,
Kendell & Brockington, 1983; Huber, Gross, Schuttler & Linz, 1980; McGlashan, 1984).
Os adolescentes esquizofrénicos que podem ser tratados numa base de consulta externa, sem
terem de ser hospitalizados, têm, provavelmente, melhores perspectivas de melhoras e de
recuperaçäo do que os que ficaram internados. Infelizmente, näo há dados de confiança no
que diz respeito ao progresso a longo prazo e à adaptaçäo futura de adolescentes ou adultos
esquizofrénicos näo-hospitalizados. Há, no entanto, provas indicadores de que as pessoas
esquizofrénicas, que nunca estiveram hospitalizadas, têm menos probabilidades de vir a
carecer alguma vez de tratamento em internamente do que as que já tiveram pelo menos
uma admissäo num lar de colocaçäo permanente (Engelhardt, Rosen, Feldman, Engelhardt
& Cohen, 1982).
Idade de início
Em consistência com a tendência geral já apontada, quanto mais velha for a pessoa,
no momento do aparecimento do distúrbio esquizofrénico, tanto melhores seräo as perspec-
tivas de recuperaçäo. Inversamente, quanto mais cedo na adolescência um jovem se tornar
manifestamente esquizofrénico, tanto mais probabilidades terá de sofrer de deficiência psi-
cológica persistente ou recorrente. Neste sentido, os dados longitudinais indicam que os
esquizofrénicos que entram no hospital, com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos,
têm duas vezes mais probabilidades de ficar cronicamente hospitalizados do que os que
foram hospitalizados, pela primeira vez, entre os 20 e os 29 anos, e ambos os grupos pas-
saräo menos bem no futuro do que os esquizofrênicos que só foram hospitalizados, pela pri-
meira vez, depois dos 30 anos (Kris, Schiff & McLaughlin, 1971; Pollack, Levenstein &
Klein, 1968).
81
82
o DSM-III, mas näo um prognóstico täo favorável como os pacientes com uma perturbaçäo
afectiva (Harrow & Grossman, 1984; Samson, Simpson & Tsuang, 1988).
História pró-mórbida
Contexto familiar
83
provar ser o melhor preditor duma eventual recaída (Spiegel & WissIer, 1986; Vaughn, Snyder,
Jones, Freeman & Falloon, 1984).
Reaccäo ao tratamento
84
História clínica
Näo pode ser por demais sublinhada a importância das relaçöes com o grupo de
pares na avaliaçäo de possível esquizofrenia num adolescente perturbado. Tal como foi
apontado anteriormente, há alguns jovens esquizofrénicos cujo pensamento desorganizado
e percepçöes inexactas permanecem escondidas, dado o facto de raramente comunicarem
ou interagirem com as outras pessoas. Estes jovens podem evitar fazer alguma «loucura»,
evitando fazer seja o que for, mas os clínicos têm de estar alerta, em tais casos, para reco-
nhecer a ausência de envolvimento no grupo de pares, apropriado à idade, como um índice
potencial de esquizofrenia subjacente. Pelo contrário, há ocasiöes em que os jovens, com
maneiras excêntricas de pensar e de se comportar, podem ser identificados como näo estando
esquizofrénicos, tendo em conta o seu envolvimento pessoal gratificante com os seus pares.
No entanto, toda a avaliaçäo das relaçöes sociais adolescentes tem de distinguir entre
os envolvimentos reais e os envolvimentos aparentes com os pares. Nos envolvimentos reais,
os jovens tomam parte em actividades de grupo de que gostam realmente e nas quais se
implicam activamente. Säo, pelo menos, amigos de várias pessoas diferentes que vêem regu-
larmente e com quem partilham uma diversidade de interesses. As suas amizades assentam
85
em respeito mútuo, nas decisöes tomadas em conjunto, na troca mútua de favores e em inves-
timentos mútuos para manter a relaçäo.
Pelo contrário, alguns adolescentes que parecem envolvidos com os seus pares, so
estäo a deixar-se ir na onda de comportamentos socialmente esperados. As actividades do
grupo foram-lhes impostas pelos pais ou professores e eles participam mais como especta-
dores e observadores passivos do que como entusiastas activos. As suas amizades säo escassas,
passageiras e näo recíprocas. Têm só um amigo de cada vez, amigo que vêem raramente
a propósito de um único interesse comum, ou flutuam entre «amigos» vários, com quem têm
pouco em comum e com quem nunca se tornam íntimos, ou entäo envolvem-se em relaçöes
nas quais säo explorados como preço da «amizade». Ao usar a história do caso para explorar
a adequaçäo do envolvimento de um adolescente no grupo de pares, os clínicos devem ter
o cuidado com näo tomar como prova definitiva a afirmaçäo do adolescente (por exemplo,
«Eu tenho montes de amigos») ou o que os pais dizem (por exemplo, «Ela dá-se bem com
os outros miúdos»). Devem antes formar as suas próprias conclusöes, depois de terem susci-
tado informaçäo específica e detalhada relacionada com (a) quantos amigos há, (b) com que
frequência se vêem, (c) o número e variedade de actividades que partilham com esses amigos
e (d) a medida da reciprocidade existente nessas relaçöes de amizade. Quanto menos favo-
ráveis forem os dados nestes aspectos, tanto mais razäo existirá para a preocupaçäo com
o retraimento interpessoal e com as competências sociais inadequadas; quanto mais favorá-
veis forem as conclusöes, tanto mais justificável será pôr de parte a hipótese de esquizo-
frenia num jovem comportamentalmente perturbado.
Accöes e Ideias
Nas fases iniciais e ainda equívocas do distúrbio esquizofrénico, antes do apareci-
mento de acçöes marcadamente bizarras ou ideias estranhas, podem identificar-se diagnosti-
camente lapsos significativos na capacidade de julgamento e de controlo próprio, prestando
atençäo a acçöes e ideias que parecem apenas ligeiramente fora do habitual. Os exemplos
seguintes ilustram esses indícios iniciais do distúrbio esquizofrénico, posteriormente
demonstrável, em adolescentes que, de resto, se apresentavam de maneira irrepreensível:
Os pais de um rapaz de 13 anos, que procuravam aconselhamento em relaçäo à sua
maneira de ser imatura, comentaram, quase de passagem, que ele andava fascinado por reló-
gios e era capaz de passar horas absorto a olhar para o relógio a andar. Do seu ponto de
vista, a preocupaçäo com relógios de pulso e de parede era apenas um entretenimento impro-
dutivo. Clinicamente, foi identificado como uma run-iinaçäo desadaptativa de abstracçöes (uma
indicaçäo de pensamento perturbado) e como um índice de inépcia interpessoal (já que a sua
preocupaçäo lhe monopolizava o tempo e contribuía para o isolamento social em relaçäo aos
seus pares).
86
Antecedentes familiares
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História do desenvolvimento
Nos casos ambíguos com sintornatologia mista, os subtis elementos estranhos que
ocorrem no comportamento de um adolescente durante a entrevista podem fazer pender a
balança para o lado da impressäo dum distúrbio esquizofrénico. Neste sentido, säo de impor-
tância especial (a) os padröes da fala do jovem, (b) o estilo de relacionamento, (c) a apa-
rência e (d) a qualidade do afecto e do juízo.
88
Padröes da fala
A rapariga de 13 anos mencionada anterionnente que queria ter uma moto, uma águia
e um falcäo, apresentou o seguinte tipo de descontinuidade subtil, em diversos pontos da
sua primeira entrevista:
PACIENTE: Ali, ele levou-nos ao museu e ficou lá connosco para ouvir o homem dar uma
palestra.
TERAPEUTA: Eu perguntei é que o que ele faz.
PACIENTE: Ah, refere-se ao negócio dele.
90
Estilo de relacionamento
O modo como os adolescentes se relacionam com o clínico, durante uma entrevista,
fornece uma amostra representativa da capacidade de se envolverem em relaçöes recíprocas
com as outras pessoas. Para poder utilizar esta amostra com fins de diagnóstico, os clínicos
precisam de examinar a facilidade com que conseguem empreender uma conversa directa
com um adolescente que suspeitam de poder ser esquizofrénico. As vezes, a apreensäo e
o ressentimento diminuem o envolvimento do jovem no processo da entrevista e, outras vezes,
a timidez ou a vergonha impede o jovem de se abrir com o entrevistador. Dados os devidos
descontos em tais circunstâncias, o adolescente que a maior parte do tempo parece näo estar
ali, que evita o contacto visual ou olha sem expressäo para o entrevistador com poucos sinais
de interesse ou de reconhecimento, tem muitas vezes falta de capacidade para um relaciona-
mento interpessoal.
Nalguns casos, os adolescentes que ficam alheados do entrevistador a maior parte
do tempo, com o olhar desviado e falando o mínimo possível, mostram, no entanto, um inte-
ressado relance ocasional, um sorriso apropriado ou uma réplica argumentativa. Estes jovens
têm menos probabilidade de ter distúrbio esquizofrénico do que os que näo conseguem inserir
qualquer destes sinais de resposta numa atitude geral de retraimento. Para muitos dos ado-
lescentes mais seriamente perturbados mas näo esquizofrênicos que vêm assustados e geral-
mente silenciosos para a primeira entrevista, tais lampejos de contacto pessoal podem ajudar
a apontar o caminho de um diagnóstico correcto de näo-esquizofrenia.
Aparência
O modo como as pessoas se apresentam fornece, muitas vezes, pistas quanto à ade-
quaçäo do funcionamento psicológico. Näo se trata de uma questäo de estilo ou de gosto
mas de uma questäo de integraräo e de adequaçäo à idade. Os adolescentes, oriundos de
lugares diferentes e de diferentes ambientes, vestem-se e arranjam-se em muitas modas dife-
rentes e estas modas tendem a mudar rapidamente, de um ano para o outro. Embora algumas
das maneiras como os adolescentes preferem apresentar-se possam chocar os adultos, por
serem excêntricas ou bizarras, essas reacçöes de adultos näo constituem um barómetro seguro
de psicopatologia. O que sim sugere psicopatologia é o aspecto diferente do adolescente em
relaçäo a quaisquer modos como, pelo menos, alguns dos outros jovens se apresentam no
momento ou a ausência de qualquer modelo consistente de vestuário e apresentaçäo. Uma
aparência totalmente idiossincrática indica muitas vezes um afastamento do grupo de pares
e uma aparência desorganizada reflecte muitas vezes uma inadequada atençäo à realidade.
De acordo com isto, devem considerar-se duas questöes no que diz respeito à apa-
rência do paciente adolescente. Primeira questäo, tem aparência de um adolescente?
91
«Ter aparência de um adolescentes cobre muita coisa mas näo inclui o «jovern» cujo ves-
tuário e aparência säo reminiscentes de uma criança muito mais nova ou de um adulto
de meia idade. O rapaz adolescente, que parece um Lobito dos escoteiros, ou a rapariga
adolescente, que parece uma avó, näo têm provavelmente relaçöes sociais satisfatórias com
os seus pares.
Segunda questäo, seja qual for a forma como o adolescente está a tentar parecer,
será que o conjunto é de alguma maneira coeso? Quanto mais misturadas estiverem as peças
de estilos diferentes aparentemente sem a preocupaçäo de conseguir a uma aparência coesa,
tanto mais provável será que o adolescente tenha dificuldade em exercer um juizo realista.
Escusado será dizer que nem todo o jovem de aparência estranha será provavelmente esqui-
zofrênico. No entanto, no contexto de outras provas de incapacidades esquizofrênicas, a inca-
pacidade de apresentar uma aparência organizada, ou apropriada à idade, pode ajudar a iden-
tificar o distúrbio esquizofrénico.
Afecto e Juizo
92
seguinte de um relatório clínico de uma primeira entrevista com um rapaz de 13 anos regista
um comportamento surpreendente que sugeriu dificuldades no teste da realidade e na emo-
cionalidade também.
Desde o princípio da entrevista e várias vezes durante ela, o comportamento de Jack
deixou-me preocupado com o seu nível de juízo e com a adequaçäo das suas respostas afec-
tivas. Inicialmente, näo manifestou nenhum nervosismo, reserva, precauçäo ou defesas óbvias
contra os sentimentos que se poderiam esperar normativamente num adolescente trazido à
primeira consulta com um psicólogo. Pelo contrário, quando comecei a perguntar-lhe por
que razäo, em seu entender, tinha vindo ver-me, ele desatou numa tirada sobre que o pai
estava sempre a gritar com ele e falou, durante toda a entrevista, sem hesitaçäo e sem per-
guntas sobre a razäo de estar ali ou sobre o que iríamos fazer. Em diversas ocasiöes, inter-
rompia abruptamente as suas próprias frases com «Há mais alguma coisa que me queira per-
guntar?», o que estava geralmente muito longe do contexto da nossa interacçäo. De forma
semelhante, o afecto, ainda que quase sempre apropriado, implicava às vezes uma apresen-
taçäo bastante invulgar que dizia e em lengalenga e, esporadicamente, um estilo emocional
demonstrativo que, do meu ponto de vista, nem era apropriado ao conteúdo nem dentro do
âmbito normal para um rapaz adolescente, em situaçäo de entrevista.
93
respeito ao contacto com a realidade, por exemplo, a bateria de testes fornece índices numé-
ricos da capacidade de percepcionar correctamente o ambiente, de reconhecer as modali-
dades convencionais de resposta e de apreender experiências sociais a um nível compatível
com a inteligência demonstrada. Tais índices säo úteis, näo apenas para avaliar a presença
de distúrbio esquizofrénico mas também para ajuizar da sua gravidade e, através do reteste,
controlar a evoluçäo ao longo do tempo.
A extensäo das respostas desviadas aos testes e a medida em que a pessoa parece
näo se importar com elas reflectem até que ponto o distúrbio esquizofrénico se tornou cró-
nico. Para informaçäo detalhada sobre resultados da aplicaçäo de testes no diagnóstico da
esquizofrenia, o leitor é enviado para as contribuiçöes de Archer (1987), de Exner e Weiner
(1982, Capítulo 7), de Jolinston e Holzinan (1979) e de Weiner (1966).
Os dois casos seguintes ilustram padröes comuns de uma perturbaçäo inicialmente
calma ou mista, em adolescentes cuja história clínica, comportamento durante a entrevista
e desempenho em testes psicológicos vieram a indicar uma esquizofrenia. O primeiro caso
implica uma mudança espectacular de personalidade com um desencadear súbito de compor-
tamento agressivo, anti-social; o outro caso ilustra um adoecer gradual implicando, princí-
palmente, depressäo e retraimento.
Até 6 meses antes da hospitalizaräo, com a idade de 16 anos, Donald tinha sido consi-
derado um rapaz inteligente e criativo mas calado e reservado. Ele tinha, no entanto, muitos
amigos, era estimado na escola e nunca tivera dificuldades disciplinares. Pouco tempo depois
de começar o último ano do secundário, ficou ligeiramente ferido num acidente pouco vulgar.
Estando parado à entrada de casa, foi atingido por um carro conduzido por outro «teenager»
que guinou o carro para fora da estrada para o assustar e calculou mal a distância de travagem.
Donald só sofreu pequenas contusöes e näo teve nenhum sofrimento físico que se arrastasse
em resultado do acidente. No entanto, em nítido contraste com o seu anterior controlo caracte-
rístico e humor uniforme, pouco depois daquela experiência assustadora, começou a apresentar
frequentes explosöes de raiva em casa. Gritava e dizia palavröes aos pais à menor provocaçäo
e batia com os pés pela casa fora, atirando com as portas, sempre que os pais discordavam dele.
Ao voltar para a escola no Outono, Donald começou a receber sobretudo notas nega-
tivas, em vez das notas acima da média que obtivera regularmente no passado. Também,
pela primeira vez, tornou-se um problema disciplinar na escola e, uma vez estava num grupo
de rapazes presos, quando tentavam assaltar o edifício da escola à noite. Em Fevereiro desse
ano escolar, após 6 meses de problemas de comportamento em casa e na escola, respondeu
ao director que lhe pedia para cortar o cabelo, saindo da escola como um furacäo e recusando-se
a voltar. Foi nesta altura que os pais procuraram ajuda profissional.
94
Durante a entrevista inicial Donald apresentou um afecto neutro e revelou pouca preo-
cupaçäo com o seu problema de comportamento e as notas negativas na escola. Näo havia
sinais importantes de perturbaçäo de pensamento. No entanto, dada a extensäo da sua falta
de controlo, a recusa em voltar à escola e a relaçäo tensa com os pais, foi decidido interná-lo
no hospital para prosseguir a avaliaçäo e o planeamento do tratamento.
Durante o internamente hospitalar de 1 mês que se seguiu, Donald mostrou-se
refractário aos esforços para o ajudar a controlar o comportamento agressivo e anti-social;
antes pelo contrário, a hostilidade e atitude recalcitrante aumentaram. Insultava regular-
mente o pessoal, particularmente o terapeuta («Você é um doutor de merda»), partia a
mobília, atirava com os sapatos e outros objectos que apanhava à mäo aos outros pacientes
e fugiu duas vezes.
A meio da hospitalizaräo, a persistente incapacidade de se controlar, o juizo fraco
e algumas manifestaçöes ocasionais de aparente dissociaçäo e de bloqueio sugeriram a possi-
bilidade de distúrbio esquizofrénico, tendo sido pedida uma consulta psicológica.
O desempenho de Donald no exame psicológico identificou claramente caracterís-
ticas de distúrbio esquizofrénico. Eram particularmente salientes um fraco teste da realidade
e uma capacidade diminuída de juízos sociais. Quase metade das respostas ao Rorschach
eram perceptivamente incomuns ou mal vistas; näo conseguiu referir a maior parte dos per-
ceptos frequentemente vistos e convencionalmente articulados.
Donald respondeu aos itens de compreensäo social da Escala de Inteligência de
Wechsler para Adultos de maneira irregular e inconsistente, interpretando mal às vezes ou
sugerindo reacçöes impulsivas a situaçöes bastante óbvias e definidas e avançando, outras
vezes, análises sofisticadas, cuidadosamente pensadas, de proclamas complexos.
A hospitalizaräo de Donald num centro médico universitário acabou ao fim de 30 dias,
com o expirar da cobertura do seguro dos pais. Foi-lhe dada alta, com o diagnóstico de esqui-
zofrenia aguda indiferenciada, e foram-lhe recomendados cuidados permanentes num hos-
pital estadual da zona. A família rejeitou esta recomendaçäo e Donald voltou para casa para
continuar o tratamento em consulta externa. Dada a tempestuosa estadia no hospital e o cau-
teloso prognóstico na alta, Donald passou surpreendentemente bem, depois de deixar o hos-
pital. Era quase como se o regime hospitalar tivesse de alguma maneira perpetuado o seu
problema de conduta e, só depois de voltar ao ambiente natural, pudesse mostrar os pro-
gressos que fizera na terapia. A avaliaçäo de evoluçäo, 2 anos mais tarde, indicou que, na
generalidade, tinha retomado o estilo de personalidade calado e controlado que o caracteri-
zara antes da crise súbita do início da doença. Ele continuou a apresentar comportamento
estranho mas voltara à escola sem incidentes, tinha bons resultados nos estudos e tinha evi-
tado mais dificuldades de comportamento.
O caso de Donald ilustra o início súbito e agudo de descompensaçäo da personali-
dade, durante a adolescência, com uma mistura de características esquizofrénicas e anti-sociais.
A utilizaçäo de testes psicológicos ajudou a apontar o diagnóstico diferencial na direcçäo
95
Karen foi vista pela primeira vez aos 16 anos, a pedido do médico da família a quem
tinha referido alguns pensamentos sobre suicídio. Durante uma entrevista psiquiátrica ini-
cial, queixou-se de se ter sentido deprimida durante os 2 ou 3 anos anteriores, a seguir à
morte de dois cavalos que tivera. A impressäo claramente errada de que, de alguma
maneira, tinha sido responsável por essas mortes, levara-a a desistir de montar, até entäo
o seu passatempo favorito. Relatou falta de apetite, dificuldade em dormir, preocupaçäo
exagerada com o significado da vida e uma visäo desoladora do futuro em geral. Descreveu-
-se como «solitária», com pouco interesse em estar com as pessoas e nenhum interesse em
sair com rapazes. Ainda que o seu humor fosse claramente deprimido, falou livremente e
sem incoerência ou circunstancialismo evidente. No entanto, decidiu-se organizar um inter-
namento hospitalar, por causa do possível risco de suicídio.
Durante a primeira semana de hospitalizaräo, o comportamento de Karen e alguns
detalhes emergentes da sua história começaram a sugerir distúrbio esquizofrênico. Ela
tornou-se marcada e estranhamente retraída. Como se para excluir do mundo, tanto quanto
possível, ela aninhava-se num canto do quarto, com as cortinas corridas e as luzes apagadas,
de óculos escuros postos. Queixava-se amiúde de que «a vida é só dor e vazio» e começou
a perguntar se poderia ficar indefinidamente no hospital. Dizia que näo se sentia ligada a
ninguém, particularmente aos pais - «Eu amo-os mas näo me importo com eles.» Dizia
também que, às vezes, principalmente quando estava sozinha, sentia que havia olhos a
observá-la.
Quando a interrogaram sobre o seu desinteresse em sair com rapazes, Karen afirmou
que nunca tinha aceite um convite para sair, porque todos os rapazes estäo na expectativa
de carícias íntimas, ao primeiro encontro, e ela näo queria nem que a tocassem nem ter que
«humilhar os homens». Soube-se no entanto que, entre os 13 e os 14 anos, ela havia sido
abraçada e beijada muitas vezes por um irmäo mais velho, quando os dois ficavam sozinhos
em casa. A razäo apresentada para näo resistir aos avanços do irmäo nem deles ter feito
queixa à mäe foi «Eu näo quero humilhar ninguém».
Informaçäo adicional fornecido pelos pais indicava que Karen tinha sido sempre uma
rapariga tímida, introvertida, com pouca confiança em si. Quando interrogado sobre a sua
timidez, Karen confirmou que nunca se tinha sentido à-vontade ao pé das pessoas da sua
idade e que, a partir dos 7 ou 8 anos, tinha preferido juntar-se aos adultos. As únicas duas
96
actividades organizadas que jamais procurara no grupo dos seus pares foram o Club 4-H
e um club de equitaçäo, de que tinha desistido nos 2 anos anteriores.
O isolamento físico e emocional de Karen em relaçäo aos outros, o comportamento
fora do comum e as ideias irrealistas sobre sair com rapazes e ser observada sugeriam danos
esquizofrénicos. O exame psicológico, na sequência, provou um grau esquizofrénico de racio-
cínio ilógico e de percepçäo imprecisa. Após um mês no hospital, durante o qual perma-
neceu deprimida e retraída mas já näo parecia suicidaria, teve alta, passando para tratamento
em consulta. Três meses depois, estava de volta ao hospital queixando-se «Eu näo sou eu
mesma, mudaram-me no hospital; eu comecei a pensar que alguém me ia matar e agora penso
que toda a gente me quer matar. » Durante o tratamento em consulta externa a situaçäo tinha
piorado e, segundo as suas próprias palavras, näo tinha feito nada senäo «estar para ali sen-
tada e perder toda a esperança. » Duas semanas antes do segundo internamente, tinha desen-
volvido um delírio específico em que um «homem alto com uma faca» andava atrás dela para
a matar. Na readmissäo parecia reservada e retraída, apresentava-se um afecto neutro e com
uma tendência para olhar fixamente em frente, sem expressäo, e ruminava em delírios da
iminência de tornar-se vítima.
Karen passou os 8 meses seguintes no hospital, tempo durante o qual a depressäo
aliviou um pouco e a ideaçäo paranóide diminuiu. Uma vez mais teve alta passando para
terapia em consulta externa e, vários meses mais tarde, foi efectuado um segundo exame
psicológico para avaliar os seus progressos. Desta vez, o exame revelou consideravelmente
menos ansiedade e muito menos ruminaçöes e medos das relaçöes com as outras pessoas
do que tinha aparecido nos testes anteriores. Parecia, no entanto, que o decréscimo da ansie-
dade interpessoal diminuída tinha sido conseguido à custa de um aumento da distância e do
afastamento das outras pessoas. Além disso, os sinais persistentes de raciocínio ilógico e
de perda do teste da realidade prejudicaram o seu desempenho nos testes.
Esta evoluçäo sugeriu que Karen estava a caminho de uma adaptaçäo esquizofrénica
relativamente crónica. Embora o retraimento constituísse um concomitante desadaptativo do
distúrbio esquizofrénico, este também podia ser encarado como um meio de reduzir o nível
de ansiedade e lhe permitir conseguir uma evoluçäo mais estável do que no passado. Assim,
a sua história ilustra o desenvolvimento de um distúrbio esquizofrénico relativamente cró-
nico, com início gradual durante a adolescência e com características depressivas proemi-
nentes, dominando inicialmente a sintomatologia em presença.
TRATAMENTO
97
Psicoterapia individual
Construcäo da relaçäo
98
Isto näo significa que no trabalho com adolescentes esquizofrênicos se seja unifor-
memente aprovador ou propício. Embora uma abordagem tolerante promova muitas vezes
o empenhamento, quando os adolescentes estäo assustados ou deprimidos, ela tem poucas
vezes impacto construtivo quando os adolescentes estäo irados ou em rebeliäo. Os adoles-
centes agressivos ou em rebeliäo reagem caracteristicamente de modo negativo aos adultos
permissivos que se mantêm simpáticos face a abusos. A tolerância benevolente tende a ser
tomada como prova de se estar demasiado desinteressado para levar a situaçäo a sério ou
demasiado fraco e cobarde para se defender a si próprio e à sua dignidade, ou demasiado
ingénuo e estúpido para reconhecer quando se está a ser insultado ou manipulado, ou dema-
siado desonesto para admitir que se sente zangado ou aborrecido. Nenhuma destas impres-
söes ajuda adolescentes hostis ou recalcitrantes a criar entusiasmo por uma relaçäo terapêu-
tica empenhada.
Em vez disso, o que é preciso é uma abordagem que desafie activamente as atitudes
negativas e que imponha limites estritos ao comportamento disruptivo ou destrutivo. Quando
se usam, como deve de ser, a crítica e a firmeza säo usadas, sem raiva nem puniçäo, isso
comunica que o terapeuta se importa o suficiente e é suficientemente forte para tomar uma
posiçäo e persistir, mesmo perante a beligerância, nos esforços para ajudar o adolescente
a ser mais bem sucedido no mundo.
Seja qual for o equilíbrio que pareça mais adequado assumir entre tolerância e fir-
meza, ao procurar estabelecer contacto com um adolescente esquizofrénico, o terapeuta pre-
cisa antecipar que muitos destes jovens entraräo em terapia fortemente precavidos contra
a formaçäo de quaisquer laços emocionais. O medo da intimidade pode levá-los a rejeitar
mesmo as propostas pessoais mais cuidadosamente concebidas e expressas com a maior das
sensibilidades. Pode entäo ser necessário preparar o caminho para a construçäo da relaçäo
interpretando esses medos e diminuindo assim o seu impacto. Para serem eficientes, estas
interpretaçöes podem necessitar de ser fraseadas com um ouvido atento à qualidade frequen-
temente metafórica da linguagem de um adolescente esquizofrénico. Assim, para uma
pessoa que diz «Eu sou uma máquina» uma resposta útil poderá ser «Se fosse uma máquina
näo teria sentimentos e näo teria que se preocupar que alguém o ferisse.» O papel destas
comunicaçöes metafóricas e de outros procedimentos no estabelecimento de uma relaçäo
terapêutica com adolescentes esquizofrénicos, foi elaborado nos bem conhecidos livros de
Beulah Parker (My Language Is Me, 1962) e Hannali Green (I Never Promised You a Rose
Garden, 1964).
Mesmo os psicoterapeutas hábeis e dedicados, que trabalham com técnicas de efi-
cácia comprovada, devem ter paciência ao procurar empenhar um adolescente resistente a
nível interpessoal numa relaçäo terapêutica emocionalmente positiva. Os resultados da inves-
tigaçäo indicam que, mesmo que se passem uns meses sem a formaçäo de uma aliança activa
efectiva, o terapeuta näo deve sentir-se desencorajado sobre o possível benefício que o paciente
venha a retirar da psicoterapia; indicam também que os esquizofrénicos retraídos que even-
99
tualmente melhorem, poderäo levar mais ou menos até 6 meses para encetar uma relaçäo
satisfatória de colaboraçäo com o terapeuta (Frank & Gunderson, 1990; Karon, 1987).
O teste da realidade
de papéis (role-rehearsal) podem ser muitas vezes usadas, com bons resultados, na ajuda
de adolescentes esquizofrénicos a preparar-se para lidar com interacçöes sociais mais capaz-
mente do que o fariam de outro modo. Tal como os elementos de uma relaçäo positiva com
o terapeuta, fragmentos de um melhor teste da realidade conseguidos através daquelas estra-
tégias, suscitam reforços positivos do ambiente que, por sua vez, promovem a generalizaçäo
de comportamento social mais destro a um número crescente de situaçöes. Uma vez conse-
guido, um melhor teste da realidade tem, entäo, boas perspectivas de se manter mediante
a maior satisfaçäo que proporciona à pessoa esquizofrénica.
Tal como no equilíbrio entre tolerância e firmeza para construir uma boa relaçäo tera-
pêutica com adolescentes esquizofrénicos, os esforços para aguçar o teste da realidade têm
de ser empreendidos judiciosamente. Näo é fácil apontar erros à maneira como as pessoas
encaram o seu mundo, sem parecer depreciativo ou hostil, e os adolescentes esquizofrênicos
säo rápidos a interpretar a crítica como significando «Eu näo gosto de ti» ou «Eu näo penso
grande coisa a teu respeito. » Os terapeutas näo se podem permitir ser apóstolos da realidade
à custa da destruiçäo da sua relaçäo com o jovem esquizofrénico. Isto significa que têm de
manter os seus esforços por melhorar o teste da realidade dentro dos limites da capacidade
do jovem para reagir e da sua competência para interpretar estes esforços, mais como uma
ajuda bem intencionada, do que como desamor ou rejeiçäo.
101
Terapia medicamentosa
102
103
Tratamento em internamente
104
1. Quando parece indicada uma avaliaçäo mais profunda do que a que pode ser exe-
cutada com base na consulta externa. Por causa da sintomatologia mista frequente
em adolescentes que estäo a ficar gravemente perturbados, a crise iminente e as
tendências destrutivas podem näo se manifestar imediatamente. Quando se sus-
peita dessas possibilidades, é de longe preferível a observaçäo continuada, dentro
da protecçäo relativa dum ambiente de internamente, até que os riscos tenham
passado, a expor os adolescentes, e os que os rodeiam, a uma calamitosa perda
de controlo.
2. Quando o adolescente já está fora de controlo. Os jovens que têm uma história
de actos destrutivos contra si próprios ou contra outros, e que estejam num risco
actual de tais surtos, necessitam do controlo externo imposto por uma organizaçäo
de internamente. Para além de os proteger e de proteger os outros de maus tratos
físicos, este controlo externo pode ajudar a aliviar o fardo psicológico doloroso
de se sentir incapaz de controlar ou de predizer o seu próprio comportamento.
3. Quando o stress ambiente se tomou intolerável. As pressöes de um ambiente fami-
liar perturbado ou rejeitante, de uma situaçäo escolar demasiado exigente ou de
um grupo desagradável de pares, pode desequilibrar o programa de tratamento
em consulta externa, por mais cuidadosamente planeado que tenha sido. Em tais
circunstâncias, mesmo os jovens que näo estejam muito perturbados, podem neces-
sitar de ser retirados do seu ambiente, a fim de beneficiarem de terapia e apren-
derem modos mais efectivos de lidar com o stress da sua vida real.
105
serviço misto tem a vantagem de manter a comunicaçäo entre adolescentes e adultos, o que
é um dos aspectos da adaptaçäo ao mundo real fora do hospital. Além disso, a presença de
adultos tem sido encarada como uma restriçäo construtiva do mau comportamento que ocorre,
às vezes, quando grupos de adolescentes perturbados estäo isolados num contexto em que
podem estimular-se e encorajar-se mutuamente a passar ao acto (Bond & Auger, 1982; Garber,
1972; Hartrnann, Glasser, GreenbIatt, Solomon & Levinson, 1968).
Opiniöes abalizadas parecem quase igualmente divididas, nesta matéria, pelo menos
no que diz respeito ao tratamento em internamente, em geral (ver Fineberg, Sowards & Ket-
dewelI, 1980). Em termos mais específicos, contudo, há duas outras consideraçöes impor-
tantes a fazer. Primeira: há alguma indicaçäo de que quanto mais gravemente perturbados
forem os adolescentes, tanto melhor responderäo ao tratamento numa unidade mista em vez
de num serviço só para adolescentes, e vice~versa. Os adolescentes com dificuldades neuró-
ticas ou caracteriológicas parecem ter uma tendência relativa para beneficiar de um ambiente
de grupo de gente da mesma idade, ao passo que os adolescentes esquizofrênicos parecem
beneficiar mais do tipo de relaçöes e de controlo fornecido por um meio adulto. Segunda:
um programa feito especialmente para adolescentes hospitalizados aumenta a sua esperança
de recuperaçäo, independentemente de ser administrado num ambiente só de adolescentes
ou numa unidade mista. Isto implica dispor de pessoal treinado e dedicado ao trabalho com
adolescentes perturbados, e de um programa de actividades e procedimentos arquitectado
para responder às necessidades deste grupo de idades, desde a admissäo até ao momento
da alta e para além dela (Garber, 1972; Gossett, Lewis & Barnhart, 1983; Steinberg, 1986).
Ao projectar e implementar um programa especializado para tratamento de adoles-
centes internados deve-se tomar o cuidado de evitar que o programa desenvolva uma vida
autónoma, independente do mundo exterior ao hospital e das necessidades e capacidades do
paciente. Quando o entusiasmo ensombra o juízo clínico e os programas de psicoterapia podem
tornar-se täo intensivos que negligenciem os problemas psicossociais práticos; os programas
de re-socializaçäo podem tornar-se täo intensivos que sejam mais disruptivos do que estabili-
zadores para o funcionamento psicológico dos pacientes. Verificou-se que os dois tipos de
desequilíbrio däo fracos resultados no tratamento de esquizofrênicos hospitalizados (Ryan
& BelI, 1983; Schooler & Spohn, 1982).
Finalmente, sejam quais for as circunstâncias em que um adolescente é internado numa
unidade residencial, devem-se fazer todos os esforços para o implicar num processo de con-
sentimento esclarecido. A discussäo da razäo por que a hospitalizaräo pareceu indicada, de
qual a terapia que vai ser utilizada e do que se pode realisticamente esperar do programa
de tratamento, fornece uma base para suscitar num adolescente a afirmaçäo da sua vontade
em participar. Bastien e Adelman (1984) verificaram que procedimentos de consentimento
esclarecido, combinados com algumas anteriores experiências positivas de tratamento, pro-
movem, nos adolescentes, a percepçäo de terem uma escolha quanto a estar numa unidade
de internamente, mesmo naqueles cuja hospitalizaräo foi, de facto, ordenada por uma sen-
106
tença de tribunal. Em 53 adolescentes hospitalizados, cujo tratamento foi estudado por Bas-
tien e Adelman, a percepçäo de terem uma escolha sobre a sua colocaçäo tendia a estar suces-
sivamente associada com (a) o reconhecimento de necessitar de a uda, (b) as expectativas
de que o programa seria útil e, (c) a antecipaçäo de permanecer no programa o tempo sufi-
ciente para conseguir ajuda - podendo cada um dos quais contribuir para um resultado favo-
rável do tratamento em internamente.
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tivos em adolescentes ainda näo traçaram um quadro claro acerca da frequência com que
119
ocorrem. Numerosos estudos sobre a incidência e prevalência destes estados empregaram
métodos bastante diferentes e, por conseguinte, produziram resultados bastante variáveis (ver
Fleming & Offord, 1990; Strober, McCracken & Hanna, 1989). Com respeito à depressäo,
por exemplo, alguns investigadores interrogaram simplesmente os adolescentes sobre os seus
estados de humor. Nos estudos da ilha de Wight, 47,7 % das raparigas e 41,7 % dos rapazes
de uma amostra de näo-pacientes de 14 a 15 anos de idade responderam «Sim» quando lhes
foi perguntado se «por vezes se sente desconsolado e infeliz», e 23,0 % das raparigas e 20,8 %
dos rapazes concordaram com a afirmaçäo de que «se sente muitas vezes desconsolado e
infeliz» (Rutter, Graham, Chadwick & Yule, 1976). Num levantamento feito por Kandel
e Davies (1982) de 8206 estudantes do ensino secundário, com idades entre os 14 e os 18
anos, 19,7 % declararam-se «muito, incomodados em resposta ao item «sentir-se triste ou depri-
mido durante o ano passado».
Outros investigadores foram além dos estados de humor pedindo declaraçöes pes-
soais ou declaraçöes de colegas, pais ou professores sobre se o jovem apresentava «sintomas
depressivos». Lefkowitz e Tesíny (1985) usaram o Peer Nomination Inventory of Depres-
sion para este fim, com 3020 crianças do ensino básico (9,83 anos de média de idades) e
concluíram que 5,6 % das raparigas e 4,8 % apresentavam depressäo grave. Numa amostra
de 200 jovens enviados para uma clínica de orientaçäo para crianças, Cass e Thornas (1979)
verificaram que 73 % deles eram considerados pelos pais como apresentando sintomas de
depressäo. Num estudo que avaliou 550 adolescentes mais novos, em três ocasiöes diferentes,
no sétimo, no oitavo e no nono ano de escolaridade, com a Centre for Epidemiological Stu-
dies Depression Scale, 8-10% obteve cotaçöes que sugeriam distúrbio depressivo grave, em
cada um dos três anos, embora se verificasse uma flutuaçäo considerável nas declaraçöes
pessoais de depressäo dos jovens em cada uma das ocasiöes (Garrison, Jackson, Marsteller,
McKeown & Addy, 1990).
Outros investigadores ainda orientaram avaliaçöes diagnosticas formais de pacientes
e näo-pacientes utilizando os @-rItèTios do DSM-III e técnicas estandardizadas tais como o
Inventário de Depressäo de Beck (Beck Depression Inventory - BDI). Kaplan, Hong e Wei-
nhold (1984), utilizando o BDI, verificaram, em 385 estudantes da escola secundária, uma
frequência de 13,5 % com depressäo ligeira e uma frequência adicional de 8,6 % com depressäo
moderada ou grave. Ao rever os registos de 302 adolescentes, doentes ambulatórios e pacientes
psiquiátricos hospitalizados, Mezzich e Mezzich (1 979) concluíram que 76 % tinham um dis-
túrbio depressivo diagnosticável ainda que apenas 28% tivessem recebido previamente um
diagnóstico de depressäo feito por pessoal clínico. Num estudo semelhante de 76 adoles-
centes com alta recente de um hospital psiquiátrico, Friedman, Clarkin, Corn, Aronoff, Hurt
e Murphy (1982) concluíram que 59% tinham sofrido de distúrbios depressivos, mas que
apenas 14% recebera um diagnóstico de depressäo no momento da alta.
Tomados no seu conjunto, estes e outros estudos similares significam muito pouco
em virtude das diferenças existentes entre eles, em termos de características da amostra e
120
121
com as hipóteses de Cramer e Carter, ao passo que as raparigas apresentam correlaçöes mais
altas do que os rapazes entre o seu nível geral de depressäo e manifestaçöes dirigidos inter-
namente, como humor disfOrico e visäo negativa de si próprias (Gjerde, Block & Block,
1988; Smucker, Craighead, Craighead & Green, 1986). Num rumo semelhante, Nolen-
-Hoeksema (1987) sugere que os indivíduos do sexo masculino que se deprimem têm mais
tendência do que os do sexo feminino para procurar distracçäo em comportamentos que ate-
nuem o seu estado de humor, diminuindo assim a probabilidade de se sentirem deprimidos
ou de o aparentarem. Por sua vez, os indivíduos do sexo feminino tendem mais a ruminar
no estado de depressäo e a ponderar as suas causas, o que amplifica o seu estado de humor
e conduz a uma maior frequência de depressäo sentida e diagnosticado.
A confirmaçäo destas hipóteses aguarda mais investigaçäo. Entretanto, tal como no
caso de muitas das diferenças entre sexos relacionadas com a psicopatologia e com o funcio-
namento da personalidade, deve pôr-se a questäo de saber se as tendências da sociedade con-
temporânea para um menor sexismo reduziräo essas diferenças de modo correspondente. Num
estudo recente de 498 pacientes adultos com distúrbio depressivo grave, embora se verifi-
casse maior frequência dessa condiçäo nas mulheres do que nos homens, como se esperava,
näo se demonstraram quaisquer diferenças entre sexos no modo como a depressäo se mani-
festava, à excepçäo de um aumento de peso mais frequente nas mulheres (Young, Scheftner,
Fawcett & Klerman, 1990).
Humor
123
por sua vez, reflecte-se em pura alegria, sorriso e riso constantes, bom humor contagioso,
entusiasmo irradiando em todas as direcçöes e prazer sentido em cada passo.
As pessoas deprimidas tendem a retrair-se emocionalmente, säo difíceis ou impossí-
veis de animar e têm geralmente um desagradável efeito de balde de água fria nos que estäo
à sua volta. Ao contrário, os indivíduos maníacos procuram activamente as outras pessoas
e animam os encontros sociais. Mas como a sua alegria borbulhante persiste mesmo quando
as necessidades dos outros requerem um comportamento mais temperado, eles também podem
tomar-se desagradáveis socialmente. Para mais, tanto as pessoas deprimidas como as maníacas
têm probabilidades de passar por episódios de raiva e irritabilidade que tornam difícil,
para eles e para os que os rodeiam, gozar a companhia uns dos outros (ver Coyne, Kessler,
Tal, Tumbull, Wortman & Greden, 1987; Post, Rubinow, Ulide, Roy-Byme, Linnoila,
Rosoff & Cowdry, 1989; Riley, Treiber & Woods, 1989; Yotingren & Lewinsohn, 1980).
Atitudes
124
De certa maneira, cada uma destas atitudes extremas distorce a realidade. Por esta
razäo, tanto a depressäo como a mania podem assumir proporçöes psicóticas se as percep-
çöes actuais e as expectativas futuras da pessoa se desviarem marcadamente daquilo que a
realidade concede. Entäo, tal como os esquizofrénicos, os indivíduos perturbados afectiva-
mente podem desenvolver ideias esquisitas sobre quem säo ou sobre o que podem e näo podem
fazer e podem usar um juízo empobrecido na conduçäo das suas vidas diárias. Para exempli-
ficar, aproximadamente três quartos dos pacientes com distúrbio afectivo bipolar têm proba-
bilidades de ficar delirantes, durante os episódios maníacos. Muitas das opiniöes que formam
nestes momentos envolvem convicçöes infundadas de grandiosidade (Neale, 1988). Quanto
mais seriamente maníacas ou deprimidas as pessoas estiverem, tanto mais provavelmente
sofreräo de uma tal perda psicótica de contacto com a realidade ou revelaräo pensamento
perturbado (Harder, Strauss, Kokes & RitzIer, 1984).
Nível de energia
125
O estado físico
O desencadear de uma perturbaçäo afectiva traz com ele, com frequência, mudanças
no estado físico. Tais mudanças físicas, conhecidas como as características «biológicas» ou
«vegetativas» destas condiçöes, consistem mais frequentemente em padröes perturbados da
alimentaçäo e do sono. As pessoas deprimidas tendem a levar muito tempo a adormecer,
a dormir mal e a acordar facilmente. Quando conseguem evitar a insônia, o acordar muitas
vezes e o acordar muito cedo, poderäo ainda assim levantar-se, após longas horas de sono,
sentindo-se fatigados e näo refeitas. Durante os episódios de depressäo, o apetite das pessoas
torna-se com frequência muito pior ou muito maior do que o habitual. Consequentemente,
as pessoas deprimidas tendem a perder ou a ganhar muito peso e podem até apresentar períodos
alternados do que parece ser uma anorexia ou uma bulimia. Estas mudanças no estado físico
näo acompanham inevitavelmente a depressäo; tendem a estar associadas mais com a depressäo
severa do com a depressäo ligeira e por isso proporcionam um barómetro de quäo deprimida
a pessoa está (Casper, Redmond, Katz, Schaffer, David & Koslow, 1985).
Mesmo a depressäo ligeira poderá estar suplementarmente reflectida numa sensaçäo
geral de mal-estar físico e numa preocupaçäo exagerada com a saúde e com as funçöes cor-
porais. Como um dos aspectos dessa hipocondria, os deprimidos consideram-se frequente-
mente como estando em piores condiçöes do que costumavam estar quando, de facto, sentem
talvez um número pouco usual de achaques, dores e outras queixas somáticas que acrescentam
às suas preocupaçöes com uma saúde em deterioraçäo.
Ao contrário, muitos indivíduos maníacos apresentam tipicamente um quadro de saúde
robusta. Dormem bem e carecem menos sono do que é comum, para se sentirem repousados.
Comem com imenso apetite, descrevem-se como estando «na melhor das formas» e queixam-se
raramente de quaisquer sintomas físicos. Na mania, esta sensaçäo de bem-estar persiste mesmo
em face de sofrimentos físicos que deveriam causar preocupaçäo. É, pois, bem provável que
os indivíduos maníacos negueIn provavelmente situaçöes que requerem tratamento médico
e ignorem sintomas que anunciam o desencadear de doenças.
Dimensöes' de perturbaçäo afectiva em adolescentes
Ainda que estas várias manifestaçöes de transtorno afectivo tenham sido identificados
primeiramente em estudos de pacientes adultos, tem-se demonstrado que cada uma das quatro
dimensöes da depressäo e da mania caracterizam também os jovens. Num estudo ilustrativo,
examinou-se a formaçäo de sintomas, em 92 pacientes adolescentes com um distúrbio depres-
sivo grave (Ryan, Puig-Antich, Ambrosini, Rabinovich, Robinson, Nelson, lyengar &
Twomey, 1987). No que diz respeito ao humor, 95 % desses adolescentes apresentavam humor
deprimido, 86 % demonstravam anedonia e 82 % estavam notoriamente zangados ou irritáveis.
126
No que diz respeito às atitudes, 73 % destes jovens tinham uma imagem de si negativa, 65 %
queixavam-se de desespero e desamparo, e 49% exprimiam sentimentos de culpa. Quanto
ao nível de energia, 86% de um grupo tinha deficiência de concentraçäo, 80% queixava-se
de fadiga e 68 % mostrava lentidäo psicomotora. No que dizia respeito ao estado físico, 71 %
tinham insônia e 63 % queixas somáticas.
Numerosos outros relatórios indicam que os distúrbios no humor, nas atitudes, no nível
de energia e no estado físico, tradicionalmente associados a perturbaçäo afectiva em adultos,
podem ser facilmente identificados e medidos com segurança em adolescentes (Hughes, 1984;
Kaslow, Relim, & Siegel, 1984; Kovacs, 1989; McCauley, MitchelI, Burke & Moss, 1988). De
acordo com isto, os clínicos e investigadores têm vindo a concordar que säo apenas necessanas
modificaçöes mínimas nos critérios usados com adultos para identificar estas condiçöes nos
jovens
(ver KendalI, Cantwell & Kazdin, 1989; Ryan, 1989; Strober, McCracken & Hanna, 1989).
127
anais autónomos em relaçäo aos pais, o alargar e aprofundar as amizades e o aprender a lidar
com os namoricas e a sexualidade - pöem sérios desafios à sua auto-estima. Têm de
confrontar-se regularmente com situaçöes novas e desconhecidas, nas quais o desenvencilhar-se
efectivamente e «parecer bem» pede comportamentos com os quais têm pouca experiência
anterior. Porque têm muitas vezes que confiar em estratégias que ainda näo foram experi-
mentadas e säo incertas, os jovens vivem constantemente com a ameaça do falhanço e da
humilhaçäo. Para se ajudarem a continuar a trabalhar as tarefas do desenvolvimento, a
despeito de tais riscos, os adolescentes recorrem muitas vezes a uma forma de negaçäo.
Recusam-se a admitir para si próprios ou para seja quem for que abrigam atitudes autocrí-
ticas ou preocupaçöes sobre se säo pessoas capazes. Evitam mesmo pensar que seräo inca-
pazes de se desenvencilhar, porque esses pensamentos fazem-nos sentir-se infantis ou depen-
dentes.
Como consequências deste fenômeno do desenvolvimento, é de certo modo impro-
vável que os adolescentes mais novos sintam ou mostrem o mal-estar, a autodepreciaçäo e
os sentimentos de desesperança e desamparo que caracterizam a depressäo nos adolescentes
mais velhos ou nos adultos. Daí que os adolescentes mais novos, com perturbaçäo afectiva
têm mais probabilidades de manifestar sinais facilmente reconhecíveis de mania do que de
depressäo. Quando realmente se deprimem, exprimem muitas vezes a sua perturbaçäo através
de esforços para evitar a depressäo mediante agitaçäo, de um ímpeto em direcçäo às pessoas
ou de uma fuga às pessoas e através de problemas de comportamento.
Agitaçäo
A sabedoria popular diz correctamente que estar-se ocupado é uma boa maneira de
«näo pensar nas coisas» e evitar sentir-se deprimido. Como os jovens adolescentes estäo geral-
mente empenhados em evitar os sentimentos depressivos, tornam-se às vezes, näo menos,
mas mais activos face a circunstâncias deprimentes. Este aumento de energia, contudo, resulta
poucas vezes em realizaçöes que persistam. Em vez disso, essa energia torna os jovens
inquietos, facilmente entediados e em constante necessidade de estimularäo e excitaçäo.
Empreendem novas actividades com grande entusiasmo, só para perder o interesse e as deixar
cair assim que a familiaridade se instala. Qualquer rotina se lhes torna difícil de tolerar, a
contemplaçäo silenciosa e actividades calmas säo insuportáveis e a fome de novidades e aventura
torna-se palavra de ordem.
Nas suas relaçöes com as pessoas, os jovens adolescentes com perturbaçäo afectiva
podem manifestar uma urgente necessidade de companheirismo e uma procura continuada
128
de amigos novos e «mais interessantes». Tal como a inquietaçäo, esse ímpeto para as pessoas
ajuda a manter o indivíduo estimulado e ocupado, um passo aquém de se deixar mergulhar
em pensamentos e sentimentos deprimentes.
Algumas vezes, no entanto, quando estar com os outros evoca o medo de ser criti-
cado ou rejeitado, os adolescentes deprimidos podem fugir das pessoas em vez de correr
em direcçäo a elas. Porque podem ainda sentir uma necessidade de evitar a depressäo através
da actividade, estes adolescentes esquivos podem entäo dedicar-se a ocupaçöes solitárias ou
virar a atençäo para bichos de estimaçäo em relaçäo aos quais podem sentir e mostrar afeiçäo
com pouco risco de rejeiçäo. Na amostra anteriormente mencionada de Ryan e colabora-
dores (Ryan, Puig-Antich, Ambrosini, Rabínovich, Robinson, Nelson, Iyengar & Twomey,
1987), 71 % dos adolescentes deprimidos davam mostras de estar socialmente retraídos. Outras
conclusöes da investigaçäo confirmam que os estudantes da sétima e oitava classes, em luta
contra pensamentos e sentimentos deprimentes preferem mais provavelmente do que os seus
colegas näo deprimidos ficar sós e evitar lugares públicos (Larson, Raffaelli, Richards, Ham
& Jewell, 1990).
Problemas de comportamento
Wilma era uma aluna média da oitava classe, deslavada, de 13 anos de idade, que
vivia à sombra da vida da família e do grupo de colegas. O pai era dono de um pequeno
negócio que monopolizava todo o seu tempo e a mäe - uma mulher jovem, atraente e bem
M1
129
Os finais da adolescência
nos seus sintomas maníacos e também nos sintomas depressivos. Näo obstante, alguns ado-
lescentes mais velhos podem ainda exprimir a depressäo indirectamente, através do compor-
tamento desadaptativo. Os,indices comportamentais mais comuns de depressäo nos adoles-
centes mais velhos säo o abuso de substâncias tóxicas, e o comportamento suicida. Cada
um destes comportamentos-problema pode ter outras causas e nenhum deles aponta, täo só
ou necessariamente, para a depressäo. No entanto, eles podem surgir e surgem de facto,
como reacçöes secundárias à depressäo, o que significa que os clínicos seriam prudentes se
os avaliassem e os tratassem com um olho nas possíveis preocupaçöes deprimentes,que podem
estar na sua origem.
Os media de maior audiência sugerem muitas vezes que o uso regular de drogas se
tornou uma faceta normal e corrente do comportamento contemporâneo dos «teenagers».
Os factos väo exactamente no sentido contrário: o abuso de drogas caracteriza apenas uma
pequena minoria de adolescentes e, quando ocorre, reflecte um sério desa ustamento. Por
exemplo, quanto maior a frequência com que os estudantes do ensino secundário usam drogas,
tanto mais provável será que tenham resultados fracos na escola, näo estejam empenhados
nas actividades escolares, acadêmicas ou extracurriculares, tenham problemas interpessoais
e näo tenham qualquer compromisso com objectivos sociais, ocupacionais ou recreativos
(Kovach & Glickman, 1986; MilIs & Noyes, 1984; Sutker, 1982).
O desinteresse e o baixo nível de energia encontrados nos adolescentes que abusam
de substâncias tóxicas falam, em parte, das possíveis bases depressivas do seu pr , oblema.
Para mais, o uso regular e persistente de drogas pode emergir como um esforço para evitar
os sentimentos deprimentes. Os efeitos inebriantes das drogas podem oferecer escape às preo-
cupaçöes deprimentes, o processo de obter e usar drogas ilegalmente pode satisfazer as neces-
sidades de excitaçäo e estimularäo e a partilha de uma experiência de droga com outros jovens
pode estabelecer um sentido de companheirismo e fornecer uma barreira contra a solidäo.
Por estas razöes, verifica-se o abuso de drogas em cerca de um quarto dos adolescentes depri-
midos, e os adolescentes com distúrbio depressivo têm para cima de quatro vezes mais pro-
babilidades de abusar de álcool do que os colegas näo-pacientes e para cima de três vezes
mais probabilidades de usar outras substâncias potencialmente susceptíveis de criar depen-
dência (Fleming & Offord, 1990; Ryan, 1989). Estes e outros aspectos do abuso de substân-
cias tóxicas em adolescentes seräo desenvolvidos no Capítulo 10.
Promiscuidade sexual
A promiscuidade sexual, tal como o abuso de drogas, é olhada por vezes como uma
característica comum dos «teenagers» de hoje. Contrariamente à crença comum, no entanto,
131
abundante investigaçäo demonstra que näo houve uma revoluçäo sexual nos Estados Unidos,
desde 1920. Os jovens säo mais abertos e sofisticados sobre problemas sexuais do que eram
no passado e tendem mais a uma intimidade física no contexto duma relaçäo próxima, de
confiança e relativamente duradoura. Näo se empenham, contudo, nem concordam mais hoje
do que no passado com uma sexualidade promíscua que consiste na intimidade física sem
a intimidade pessoal e numa veloz sucessäo de múltiplos parceiros sexuais. A sexualidade
acidental, indiscriminada é rara nos jovens, especialmente nas raparigas e, quando ocorre,
está tipicamente associada com uma má adaptaçäo psicológica (Antonowsky, Shoham, Kave-
naki, Lancet & Modan, 1980; Brooks-Gunn & Fursternberg, 1989; Chilman, 1983; Miller
& Simon, 1980).
Ainda que as raparigas adolescentes sejam menos activas sexualmente do que os
rapazes, elas têm mais probabilidades de usar a promiscuidade para evitar a depressäo.
Esta diferença entre sexos ocorre porque os encontros sexuais colocam geralmente mais
obrigaçöes no homem do que na mulher, em termos bem saber e de bem fazer. Os adoles-
centes masculinos säo relativamente inexperientes e com poucas certezas quanto à sua capa-
cidade de desempenho, o que toma a actividade sexual uma forma arriscada de tentarem
promover assinaláveis sentimentos de adequaçäo. A forte possibilidade de embaraço ou de
falhanço significa que poderiam acabar por sentir-se pior e näo melhor em relaçäo a si pró-
prios. Para as raparigas, por outro lado, ser promíscuo carece apenas de decisäo e näo de
desempenho. Assim, podem com mais segurança voltar-se para a sexualidade para com-
pensar atitudes pessoais negativas. Por isso a promiscuidade de uma rapariga deprimida é
raramente sexual, no sentido de fornecer uma gratificaçäo erótica. Antes, serve sobretudo
como um caminho para o contacto físico íntimo com outras pessoas. A atençäo que recebe
dos rapazes e jovens que procuram os seus favores, a experiência de se sentir necessária
e desejada e as sensaçöes de ser abraçada e acariciada podem, no seu conjunto, ajudar uma
rapariga deprimida a combater os sentimentos de näo ser atraente, de estar sozinha e de ser
mal amada.
Alienaçäo
132
Comportamento suicida
Dwight tinha 16 anos, quando fez uma tentativa de suicídio com 20 comprimidos
de aspirina. Os vários anos anteriores da sua vida tinham sido marcados por instabilidade
133
familiar. A mäe fora repetidamente hospitalizada com uma esquizofrenia crónica e, quando
estava em casa, ela estivera demasiado desorganizada para funcionar adequadamente como
mäe e como dona de casa. Para poupá-lo à adversidade da vida familiar, o pai de Dwight
tinha-o mandado viver para outra cidade, com os avós, enquanto frequentava o final do ensino
básico, e ele tinha-se dado razoavelmente bem. No entanto, ao voltar a casa para terminar
o ensino secundário, Dwight ficara horrorizado ao descobrir que o pai mantinha um caso
com a vizinha, uma mulher divorciada cujos filhos tinham sido seus colegas.
Nesta altura, Dwight começou a retrair-se cada vez mais de todas as actividades e
a isolar-se dos amigos de outrora que tinha vergonha de encarar. Começou a ir a bares onde
usava identificaçäo falsa para ser atendido, e começou a gostar da vida nocturna, de compa-
nheiros delinquentes e de negligenciar os estudos. Este período de retraimento culminou na
fuga para uma cidade distante onde passou 2 semanas parando em bares, vivendo em pen-
söes e desenvolvendo sentimentos cada vez maiores de isolamento.
Regressou a casa e veio logo a saber, que na sua ausência, o pai tinha ido ao México
para obter o divórcio e tinha casado com a vizinha. Assim, apenas em 2 semanas, o lar que
ele tinha conhecido cessou de existir. Recusou-se a mudar para casa do pai e da nova madrasta
e, em vez disso, alugou um quarto só para si. Neste enquadramento, os esforços anteriores
para evitar a depressäo, através da fuga, deram lugar a mudanças depressivas completas no
humor, atitudes e nível de energia. Nas suas próprias palavras ditas mais tarde, a vida neste
ponto «parecia um grande zero sem sentido; nada tinha sido bom para mim no passado e
eu provavelmente acabaria num hospital psiquiátrico ou como um vagabundou. Depois de
4 dias de progressivo mal-estar, letargia e desespero ele engoliu as aspirinas e depois tele-
fonou ao pai para pedir ajuda.
Dwight foi internado numa unidade psiquiátrica onde a história do seu isolamento
social e o conhecido distúrbio esquizofrénico da mäe sugeriram inicialmente que ele próprio
estivesse a desenvolver esquizofrenia. Näo manifestou, no entanto, quaisquer peculiaridades
de comportamento e rapidamente desenvolveu relaçöes apropriadas e positivas com o pes-
soal do hospital. Testes psicológicos ajudaram depois a excluir a presença de qualquer inca-
pacidade de pensamento, de teste da realidade ou de capacidades básicas para estabelecer
relaçöes sociais significativas. Dwight reagiu bem ao programa de terapia individual e fami-
liar destinado a ajudar as suas preocupaçöes depressivas e a restabelecer a relaçäo com o
pai. Foi-lhe dada alta de uma hospitalizaräo curta. Durante um período subsequente de 5 anos,
em que lhe foi posta à disposiçäo a possibilidade de um seguimento, näo solicitou nova inter-
vençäo profissional.
134
e com insônias. Em Setembro, ficou deprimida e a mäe, tendo-a ouvido dizer «É demais
para mim, quero matar-me», trouxe-a a uma consulta externa. O entrevistador descreveu-a
como coerente, tensa, deprimida e iminentemente psicótica e registou um diagnóstico de
reacçäo ado ' lescente de adaptaçäo. Foi vista em terapia de grupo nos meses seguintes, e,
durante esse tempo, a depressäo regrediu e diminuíram a timidez e retraimento no contexto
de grupo.
No Setembro seguinte, estava de volta à clínica, desta vez relacionada com a entrada
para a nova escola paroquial, pela qual os pais tinham optado. Queixou-se de pesadelos vívidos
e assustadores e os pais descreveram uma história recente de letargia e lentidäo psicomotora.
O entrevistador sentiu que ela estava claramente psicótica e paranóide e organizou a entrada
numa unidade de internamente. No hospital, ela pareceu confusa inicialmente, apresentando
um discurso aparentemente desligado e bloqueio de pensamento, e exprimiu convicçöes deli-
rantes de que os outros pacientes estavam a dizer coisas más sobre ela. Foi diagnosticado
como esquizofrénica e posta sob medicaçäo de fenotiazina.
Algum tempo mais tarde, falando deste episódio de crise, Janet descreveu-o como
um tempo em que os pensamentos eram täo lentos e a sua concentraçäo täo má que ela näo
conseguia compreender completamente o que os outros estavam a dizer nem reagir rápida
e capazmente. A sua aparente paranóia estava ligada de perto às auto-recriminaçöes muito
carregadas de culpabilidade (como ser indigna dos sacrifícios que a mäe tinha feito por si).
Curiosamente, as fenotiazinas foram ineficazes, o que se explica a luz destas razöes para
questionar o diagnóstico de esquizofrenia.
Os sintomas psicóticos de Janet remitiram. gradualmente, durante os primeiros 6 meses
de estadia no hospital. Ela permaneceu, no entanto, persistentemente disfOrica, retraída e
letárgica e tinha pouco apetite. Estes sintomas depressivos melhoraram, durante os 6 meses
seguintes, e, agora com 14 anos, teve alta e foi enviada, durante o dia, para uma escola para
crianças emocionalmente perturbadas.
Durante o ano e meio seguinte, funcionou relativamente bem em casa e na escola
mas, depois, começou a sentir uma sensaçäo de «ter de fazer as coisas depressa». Os pais
observaram que ela se tornara hiperactiva, näo dormia, era faladora e emocionalmente lábil,
tal como fora antes da primeira crise, quase 3 anos antes. Os professores sentiram que ela
estava a tomar-se progressivamente incontrolável e imprevisível e, após 3 meses de sintomas
em escalada, foi diagnosticado como maníaco-depressiva e hospitalizada para um processo
de tratamento com litium.
No hospital, Janet foi descrita inicialmente como intrusiva, hiperactiva, hipersexual,
lábil e eufórica. Os sintomas maníacos diminuíram consideravelmente, depois de 2 semanas
de medicaçäo de litium, mas continuou em internamente durante vários meses. A seguir à
alta, foi mantida com litium e vinha à psicoterapia em consulta externa. No período dos 2 anos
seguintes durante os quais houve informaçäo disponível, näo ocorreu nenhuma crise que care-
cesse de hospitalizaräo.
135
136
afectiva e labilidade emocional (Farber, 1981, Capítulos 6 e 8). Mais ainda, verifica-se que
muitos dos tipos de acontecimentos ambientes que participam na etiologia do transtorno afectivo
näo säo muitas vezes partilhados pelos dois membros de um par de gêmeos (KendIer, Heath,
Martin & Eaves, 1986).
Adicionalmente, é de notar que a concordância de 14 % para os transtornos efectivos,
nos gêmeos dizigóticos, aproxima-se bastante da que é obtida com os dados relativos a outros
parentes em primeiro grau (irmäos, pais e filhos), que se assemelham em parentesco gené-
tico mas que têm geralmente muito menos experiência em comum. Comparado com aproxi-
madamente 7 % de risco de distúrbio bipolar ou de depressäo grave durante a vida, na popu-
laçäo geral, o risco em pais, filhos e irmäos de pessoas com transtorno afectivo também cai
na ordem dos 10-20%, em vários estudos (Klein, Depue & Slater, 1985; Plomin, 1989; Ryan,
1989; Strober, 1984).
A investigaçäo com casos de adopçöes também ajudou a confirmar os factores gené-
ticos na etiologia das perturbaçöes afectavas. Cadoret (1978), ao estudar adultos que tinham
sido colocados em adopçäo logo após o nascimento, verificou que 3 em 8 filhos biológicos
de mäes com transtorno afectivo se tinham tornado efectivamente perturbados (37,5 %) em
comparaçäo com apenas 8 em 1 1 8 adaptados filhos de mäes näo-perturbadas (7 %, próximo
da média da populaçäo). Outros estudos indicam que os pais biológicos de indivíduos com
distúrbio afectivo bipolar têm significativamente mais probabilidades de ser efectivamente
perturbados do que os pais biológicos ou adoptivos de crianças normais; este risco acrescido
de morbidez mantém-se igualmente, quando os filhos perturbados säo criados pelos pais bio-
lógicos ou em lares adoptivos (Mendlewick & Rainer, 1977; Wender, Kety, Rosenthal, Schul-
singer, Ortmann & Lunde, 1986).
Os estudos familiares do transtorno afectivo têm demonstrado consistentemente maior
concordância para o distúrbio bipolar do que para a depressäo unipolar. É mais provável
que os parentes de pacientes com distúrbio bipolar desenvolvam distúrbio bipolar ou uni-
polar do que a populaçäo em geral, ao passo que os familiares de pacientes com distúrbio
unipolar têm uma incidência elevada de distúrbio unipolar mas näo um risco maior do que
o da populaçäo em geral de desenvolver um distúrbio bipolar. De modo semelhante, os
pacientes com distúrbio bipolar têm mais probabilidades do que os pacientes com distúrbio
unipolar de ter uma história familiar de transtorno afectivo (Andraesen, Rice, Endicott, Corye11,
Grove & Reich, 1987; Baron, Klotz, MendIewick & Rainer, 1981; Winokur, Tsuang & Crowe,
1982).
A incidência familiar também se relaciona com a idade em que as perturbaçöes afec-
tivas apareceram pela primeira vez e com o facto de se tornarem ou näo recorrentes. Entre
pacientes com perturbaçöes afectavas, os que têm progenitores deprimidos mostram um início
mais precoce da afecçäo do que aqueles cujos pais näo têm história de depressäo. Também
nos filhos deprimidos de pais deprimidos, aqueles cujos pais tiveram um primeiro episódio
depressivo, antes da idade dos 20 anos, têm 8 vezes mais probabilidades de se tomar deprimidos
137
do que aqueles cujos pais tiveram um início da afecçäo na idade adulta (Rutter, Macdonald,
Lê Couteur, Harrington, Bolton & Bailey, 1990; Weissman, Gammon, Jolin, Merinkangas,
Warner, Prusoff` & Sholomskas, 1987). No que diz respeito aos distúrbios bipolares, o risco
de sofrer esta condiçäo é 4 vezes maior nos pais e irmäos de adolescentes bipolares do que
nos familiares em primeiro grau de pessoas que se tornaram bipolares pela primeira vez em
adultos (Strober, Hanna & McCracken, 1989). Por isso, há razöes para admitir que uma
maior dependência genética possa ser necessária na ocorrência da perturbaçäo afectiva nos
anos de desenvolvimento do que na idade adulta.
As conclusöes da investigaçäo indicam que as influências genéticas na perturbaçäo aféc-
tiva operam independentemente dos factores genéticos da esquizofrenia. Os parentes das pes-
soas esquizofrénicas näo mostram uma frequência elevada de transtornos efectivos e os fami-
liares de gente com perturbaçäo afectiva näo têm mais probabilidades do que a populaçäo em
geral de se tomarem esquizofrênicos (Kendler, Gruenberg & Tsuang, 1985; Strober, McCracken
& Hanna, 1989; Strober, Morrefl, Burroughs, Lampert, Danforth & Freeman, 1988).
Por outro lado, as crianças de pais com perturbaçäo afectíva têm um risco elevado
de desenvolver uma variedade de problemas emocionais e comportamentais näo-
-esquizofrénicos, diferentes da mania e da depressäo, incluindo problemas de ansiedade, per-
turbaçöes da conduta e abuso de substâncias tóxicas. Os dados disponíveis indicam que é
provável que à volta de 40-50% dos jovens com pais efectivamente perturbados podem vir
a ser diagnosticáveis sintomaticamente, sobretudo mas näo exclusivamente com transtornos
do humor (Downey & Coyne, 1990; Keller, Beardslee, Dorer, Lavori, Samuelson & Klerman,
1986; Orvaschel, Walsh-Allis & Ye, 1988). Mesmo quando conseguem evitar transtornos
diagnosticáveis, os filhos de progenitores perturbados efectivamente tendem a ter mais pro-
blemas de estudo e sociais na escola do que os seus colegas de classe; e tendem a ser olhados
pelos professores como mais rebeldes e menos competentes (Beardslee, 1986; Weintraub,
Winters & Neale, 1986; Weissman, Gammon, John, Merinkangas, Warner, Prusoff` & Sho-
lomskas, 1987). De acordo com isto, os clínicos que trabalham com pacientes adultos
que tiveram episódios maníacos ou depressivos deveriam estar alerta para indícios de defi-
ciência psicológica nos filhos desses clientes que pedem avaliaçäo ou intervençäo preventiva.
Se bem que as provas das contribuiçöes genéticas para a etiologia do transtorno aféc-
tivo tenham crescido até atingir proporçöes impressionantes, sabe-se ainda pouco sobre o
modo de transmissäo genética pela qual os pais passam para os filhos a predisposiçäo para
estas perturbaçöes. A este respeito, as teorias mais promissoras atribuem as manifestaçöes
primarias do transtorno afectivo a irregularidades biológicas que podem ter origem em fac-
tores constitucionais transmitidos de uma geraçäo para a outra. Até agora, no entanto, as
conclusöes da investigaçäo só identificaram um conjunto heterogéneo de irregularidades bio-
químicas e neurofisiológicas nas amostras de pacientes deprimidos, sem apontar para nenhum
factor biológico individual abrangente a que possa atribuir-se a causalidade (Faraone, Kremen
& Tsuang, 1990; McNeal & Cimbolic, 1986; Puig-Antich, 1986).
138
Por importantes que os factores genéticos possam ser na etiologia da perturbaçäo aféc-
tiva, eles também näo explicam claramente todos os casos desta perturbaçäo ou a extensäo
da sua incidência familiar. Em primeiro lugar, os estudos de famílias revelam, em geral,
um ambiente negativo e práticas parentais näo estimulantes, nos lares de pais efectivamente
perturbados, que medeiam a influência que têm nos seus filhos (Billings & Moos, 1983; Orvas-
chel, WaIsli-Allis & Ye, 1988). Em segundo lugar, a contribuiçäo de práticas parentais anó-
malas para a perturbaçäo afectiva na juventude parece mais relacionada com a presença e
gravidade da psicopatologia nos pais do que com o tipo de transtorno que tenham (Goodman
& Bruniley, 1990; Lee & Godib, 1989). Em terceiro lugar, os próprios dados da incidência
familiar mostram que 35 % dos gêmeos monozigóticos de pessoas com transtorno aféctivo
e mais de 80% dos gêmeos dizigóticos e de outros parentes em primeiro grau de pacientes
deprimidos ou bipolares escapam de se tornar efectivamente perturbados.
Consequentemente, há boas razöes para pensar que as experiências de vida bem como
a hereditariedade estäo implicados na susceptibilidade ao transtorno aféctivo. Rutter e cola-
boradores (Rutter, Macdonald, Le Couteur, Harrington, Bolton & Bailey, 1990) sugerem
ainda que, enquanto os factores genéticos predominam provavelmente nos distúrbios bipo-
lares e talvez também no distúrbio unipolar suficientemente grave para requerer cuidados
de intemamento, o distúrbio depressivo ligeiro, tratável numa base de consulta externa, deve-se
essencialmente às influências do ambiente.
Os factores da experiência
139
nos dentes pode privar um jovem de uma relaçäo pessoal preciosa, de uma vitória muito
desejada ou de um sentimento gratificante ou integridade corporal, respectivamente. Uma
perda fantasiada é uma inquietaçäo irrealista que, na ausência duma razäo clara, faz a pessoa
sentir-se desapossada. Sentimentos de ser rejeitado, de ter falhado, de deixar de ser atraente,
sobrevindo sem uma base factual sólida, contam-se entre as perdas fantasiadas comuns que
contribuem para a depressäo.
A distinçäo entre perda real e fantasiada na origem da depressäo fornece algumas
razöes para diferenciar entre as formas reactiva e endógena da perturbaçäo. As depressöes
reactivas säo caracteristicamente precipitadas por perdas reais, incluindo mudanças ambien-
tais rapidamente identificáveis que constituem circunstâncias depressívas. Tal como a tris-
teza normal, a depressäo reactíva tende a ser uma condiçäo de remissäo espontânea que se
cura com a passagem do tempo e com a substituiçäo gradual dos objectos e objectivos per-
didos por outros novos. A depressäo endógena, por sua vez, envolve muitas vezes perdas
mais fantasiadas do que reais. Em vez de ser reactiva, tende a ser uma situaçäo autónoma
em que as origens do sofrimento da pessoa näo säo facilmente compreendidas. A depressäo
endógena é ainda provavelmente uma condiçäo crónica e prolongada que produz episódios
recorrentes do distúrbio na ausência de mudanças no ambiente (Zimmerman, Corye11 & Pfohl,
1986).
No que diz respeito às mudanças no ambiente, as conclusöes da investigaçäo con-
firmam que os jovens e os adultos que se deprimem têm mais probabilidades do que os indi-
víduos näo deprimidos de ter passado por acontecimentos de vida disruptivos, significando
perdas pessoais, interpessoais ou relacionadas com o sucesso (Barnett & Godib, 1988; Hammen
& Goodinan-Brown, 1990; Shrout, Link, Dohrenwend, Rodol, Stueve & Mirotznik, 1989).
As pessoas diferem também nos tipos de experiências que contribuem para lhes ocasionar
depressäo. Hammen, Ellicott, Gidin e Jamison (1989), ao examinar configuraçöes de sin-
tomas e acontecimentos de vida em pacientes com perturbaçöes afectavas, encontraram dife-
renças relacionadas com a personalidade em depressivos unipolares, nos tipos de äconteci-
mentos negativos que estavam associados com o desencadear ou com a exacerbaçäo dos
sintomas, durante um período de 6 meses.
Especificamente, os possuidores de orientaçäo social como característica saliente do
seu estilo de personalidade apresentavam sintomas que eram influenciados mais provavel-
mente por perdas ínterpessoais e desapontamentos do que por eventos negativos relativos
a algum feito importante. Ao contrário, aqueles cuja motivaçäo está mais centrada na reali-
zaçäo do que na afiliaräo apresentavam sintomas que eram mais afectados por esforços mal
sucedidos do que por dificuldades interpessoais. Curiosamente, no entanto, esta interacçäo
entre a orientaçäo de personalidade e os tipos de acontecimentos que influenciam a formaçäo
de sintomas näo foi encontrada por Hammen e colaboradores (1989) em pacientes com dis-
túrbio bipolar. Por isso, embora as experiências de perda precipitem episódios de pertur-
baçäo nos pacientes bipolares como nos unipolares, a natureza particular destas perdas parece
140
menos importante nos indivíduos bipolares. Se a investigaçäo o vier a confirmar, esta dife-
rença pode estar relacionada com o papel geralmente mais importante da genética do que
com os factores de experiência pessoal na propensäo para o distúrbio bipolar.
Seja qual for o conteúdo de uma perda, as pessoas também diferem na dimensäo de
perda que podem suportar sem ficar perturbadas. O que parecem ser perdas equivalentes
pode levar uma pessoa a experimentar um sentimento avassalador de privaçäo e a ficar pro-
fundamente deprimida, enquanto outra pessoa aguenta a perda com facilidade sem qualquer
reacçäo negativa. Tais diferenças individuais na sensibilidade à dimensäo da perda e na
capacidade de enfrentar as experiências de perda parecem determinadas, em grande parte,
por experiências durante o desenvolvimento. As experiências de privaçäo parental e a emer-
gência de um estilo de personalidade de atribuiçäo negativa säo especialmente importantes
no que diz respeito à susceptibilidade à depressäo. A susceptibilidade à mania é da mesma
maneira intensificada por essas circunstâncias negativas em pessoas que se tornam excessi-
vamente defensivas, na tentativa de evitar ou negar o sofrimento que aquelas circunstâncias
causam.
Privaçäo parental
Numerosos estudos sugerem que a tendência para se deprimir face à perda resulta
de experiências infantis de privaçäo parental que sensibilizam a pessoa a tais perdas. Säo
duvidosos, no entanto, os dados respeitantes à questäo de se saber se uma tal experiência
de privaçäo envolve necessariamente uma perda parental real. A!guns investigadores referem
que os pacientes deprimidos têm especiais probabilidades de ter suportado a morte parental
ou a separaçäo, antes da idade de 6 anos ou entre os 10 e os 15 anos de idade, e, além disso,
que essa ligaçäo é específica da depressäo e näo é característica de psicopatologia grave em
geral.(Barnes & Prosen, 1985; Brown, Harris & Bifulco, 1986; Pfhol, Stangl & Tsuang,
1983). Outros investigadores foram incapazes de encontrar uma incidência de perda parental
na infância nos pacientes deprimidos ou qualquer associaçäo específica de morte parental
precoce com depressäo, em oposiçäo a outras formas de psicopatologia (Ragan & McGlashan,
1986; Sines, 1987).
Há razöes para pensar que esta incerteza pode ser resolvida por uma maior atençäo
ao que ocasiona num jovem a perda de um dos pais, e ao impacto desta perda no clima da
família no lar. Em igualdade de circunstâncias, a morte de um dos pais (que, na perspectiva
da criança teria sido difícil evitar e näo devia ser tomada pessoalmente) é muito menos pro-
vável que se associe à psicopatologia do desenvolvimento do que a separaçäo (que é evitável
e traduz frequentemente o desamor ou o abandono da criança por um dos pais). Mas, as
outras circunstâncias säo raramente iguais nestes contextos, e as consequências tanto da morte
parental como da separaçäo da criança de um dos pais depende do tipo de educaçäo, de apoio
141
e de orientaçäo que o outro progenitor possa proporcionar (ver Breier, Kelsoe, Kirwin, Beller,
Wolkowitz & Pickar, 1988; Roy, 1988; Tennant, 1988).
Embora a perda parental tenha atraído uma considerável atençäo da investigaçäo, ela
é muito menos importante clinicamente do que o conceito mais amplo de privaçäo parental.
Näo se encontram em nenhum estudo mais de 15 % dos adultos deprimidos que tenham sofrido
experiências de separaçäo permanente de um dos pais, antes dos 18 anos de idade (Ragan
& McGlashan, 1986; Roy, 1985). Por isso, a maioria das pessoas que fica deprimida näo
teve nenhuma dessas experiências. Por outro lado, a privaçäo parental surge muitas vezes
independentemente do facto dos dois pais estarem fisicamente presentes em casa. As crianças
que säo criadas por um dos pais, afectuoso e dedicado, sentem, provavelmente, menos pri-
vaçäo psicológica do que as crianças que vivem com os dois pais que näo gostam delas ou
as ignoram. Crescendo privados das formas de elogios e encorajamento que ajudam os jovens
a aprender a sentir-se bem consigo próprios e com o mundo em que vivem, é a eventualidade
da infância desfavorável que favorece a susceptibilidade à depressäo, e näo meramente a
ausência de um pai por motivo de morte, divórcio, separaçäo ou ilegitimidade. A este mesmo
respeito, outros factores implicados na etiologia da depressäo incluem a rejeiçäo dos pais
(quer factual quer sentida) e mesmo a desarmonia parental, o que quase sempre diminui a
atençäo que a criança recebe dos pais e tende a reduzir a sua auto-estima (Lefkowitz & Tesiny,
1984; Long, 1986; Parker, 1983).
142
Dinâmica da mania
143
quente à perda, e pode pensar-se que os pacientes com mania deslizem para a depressäo em
momentos em que säo incapazes de congregar ou suster os padröes de comportamento maníaco
(ver Davenport & AdIand, 1988; Post, Rubinow, Roy-Byme, Linnoila, Rosoff & Cowdry,
1989).
Em apoio desta formulaçäo, há relatos clínicos de ataques maníacos precipitados por
perda de objecto (ver Aleksandrowicz, 1980) e de pacientes maníacos que sofreram expe-
riências de perda na infância similares às que aumentam a susceptibilidade aos episódios depres-
sivos (Carpenter & Stephens, 1980). Estudos de evoluçäo têm mostrado que apenas 10-20 %
das pessoas com depressäo grave desenvolvem também episódios de mania (Strober & Carlson,
1982; Winokur, Tsuang & Crowe, 1982), ao passo que os indivíduos maníacos têm quase
sempre também uma história anterior de episódios depressivos (Abrams & Taylor, 1974;
MendIewick, 1980).
Na investigaçäo com pacientes maníacos e deprimidos que acompanhou a remissäo
dos respectivos episódios de perturbaçäo, Winters e Neale (1985) verificaram, através de
uma medida de descriçäo pessoal, que os maníacos em remissäo referiam uma maior auto-
-estima do que os depressivos em remissäo. Contudo, numa tarefa mais subtil de inferências
pragmáticas, os maníacos, mais do que os normais e tanto como os depressivos, tendiam
a atribuir os acontecimentos negativos a causas internas, isto é, a apresentar um estilo de
atribuiçäo negativa. Este resultado significa iniludivelmente que a característica exibiçäo
maníaca de auto-estima empolada constitui uma coragem defensiva a uma auto-imagem positiva
criada para negar ou pelo menos reprimir atitudes pessoais basicamente negativas.
No que diz respeito a experiências de perda, Neale (1988) refere também que os acon-
tecimentos stressantes podem ser menos evidentes nas vidas dos maníacos do que nas dos
deprimidos, no decurso das semanas ou meses que precedem o desencadear do episódio.
Acontece, contudo, que a mania que ocorre na ausência de acontecimentos comportamentais
stressantes revelou, muitas vezes, ter sido precipitada por acontecimentos cognitivos stres-
santes, em particular uma perda de auto-estima relacionada com a antecipaçäo de derrotas
futuras ou a lembrança de inadequaçöes passadas.
Finalmente, é de notar o exame de Dunner, Patrick e Fieve (1979) dos acontecimentos
de vida stressantes recordados por pacientes maníaco-depressivos como tendo ocorrido nos
3 meses anteriores ao desencadear do distúrbio bipolar, quer num episódio maníaco quer
num depressivo. Aproximadamente metade dos pacientes lembrava-se de um acontecimento
desses e havia muito pouca diferença entre os tipos de acontecimentos precipitantes recor-
dados pelos que tinham tido um desencadear maníaco e pelos que tinham tido um desenca-
dear depressivo. Para ambos os grupos, os eventos compreendiam dificuldades no trabalho,
problemas conjugais e conflitos interpessoais. As principais excepçöes a esta semelhança ocor-
reram em pacientes femininas e envolviam o ficar grávida, o que estava exclusivamente asso-
ciado com a mania inicial, e depois o dar à luz, o que era seguido só de depressäo nas pacientes
em quem isso precipitara uma perturbaçäo afectiva.
144
DIAGNóSTICO DIFERENCIAL
145
1. Quanto mais proeminentes forem as indicaçöes de mania num quadro clínico pre-
sente - incluindo humor exaltado, atitudes irrealisticamente positivas, nível de
energia aumentado e um falso sentido de bem-estar corporal - tanto mais pro-
vável será que o paciente tenha um distúrbio bipolar em que episódios de depressäo
ocorreräo futuramente. Entre os sintomas específicos que podem ser manifestos,
a presença de delírios de grandeza num jovem efectivamente perturbado pode
indicar, principalmente, uma condiçäo bipolar (Neale, 1988; Strober, Hanna &
McCraken, 1989).
146
Esquizof renia
2. Após um episódio agudo ter melhorado, é menos provável que as deficiências cog-
nitivas persistam no transtorno afectivo do que na esquizofrenia, particularmente
quando manifestas em sintomas negativos mais do que em positivos (ver página 70-
-71) (Docherty, Sclinur & Harvey, 1988- Earle-Boyer, Levinson, Grant & Harvey,
1986; Grossman, Harrow & Sands, 1986; Grove & Andreasen, 1985; Pogue-Geile
& Harrow, 1985).
147
e sem qualquer exuberância ou frivolidade. As afirmaçöes incoerentes e ilógicas
parecem avançar aos soluços em vez de fluir e o paciente está muito mais absor-
vido em clarificar a sua própria confusäo e em ser entendido do que em divertir-
-se ou exibir-se.
148
149
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151
importantes sobre os irmäos mais novos, durante o tempo em que a família estava a gozar
férias na sua casa de campo, Karol chegara a conclusäo de que os pais näo gostavam dela.
Ao mesmo tempo, um namorado quebrou a relaçäo de namorico e o irmäo mais novo con-
traiu uma infecçäo renal grave que lhe ameaçou a vida, durante algum tempo.
A exploraçäo clínica destas perdas reais e fantasiadas sugeriu que Karol estava a sofrer
um distúrbio fundamentalmente depressívo e o seu mau comportamento servia para desviar
a atençäo dos seus sentimentos de perda e impotência.
A subsequente avaliaçäo psicológica apoiou esta impressäo. A Karol revelou nos testes
muitas preocupaçöes näo resolvidas na medida em que desejava ser independente dos pais,
com os impulsos para a independência em competiçäo com necessidades näo satisfeitas de
cuidados e apoio. Também näo deu indícios de fraco controlo dos impulsos, nem apresentou
nenhuma tendência particular para uma expressäo emocional lábil ou espontânea. Pelo con~
trário, parecia orientada para uma actividade ideativa imaginativa. Estas conclusöes dos testes
ajudaram a identificar o seu comportamento difícil como um reflexo sintomático de uma
depressäo subjacente mais do que um limitaçäo caracterológica para actuar desse modo.
PROGNOSTICO E TRATAMENTO
Ainda que a maior parte das pessoas recupere de ataques isolados de depressäo e
de mania, o transtorno afectivo ocorre muitas vezes sob a forma de uma susceptibilidade
a episódios recorrentes da perturbaçäo, para a vida inteira. Nos adultos que säo diagnosti-
cados com depressäo, aproximadamente 50 % tende a recuperar no período de um ano após
o desencadear inicial dos sintomas, e outros 30%, ao longo do segundo ano, o que deixa
cerca de 20 % que apresentam um processo sem remissäo nos 2 anos seguintes à crise inicial.
Espera-se que 45 % dos adultos que sofrem o primeiro episódio de depressäo possam ter uma
segunda crise e que um terçodestes últimos possam vir a ter também um terceiro episódio
(Keller, Friedinan & Lavori, 1988; Lewinsohn, Zeiss & Duncan, 1989). O panorama na
mania é um pouco menos favorável, pois 35 % dos adultos com alta de cuidados hospita-
lares, a seguir a uma crise, apresentam resultados insatisfatórios nos 2 anos seguintes (Harrow,
Goldberg, Grossinan & MeItzer, 1990).
Os jovens que desenvolvem um transtorno afectivo säo particularmente inclinados
a ter dificuldades repetidas. A maioria dos adolescentes recupera de um episódio inicial de
depressäo pelo qual säo enviados para tratamento, mas conta-se com dois terços que vol-
taräo a ficar deprimidos ainda antes dos 20 anos, e que 20 % tenderäo a apresentar sinais
de distúrbio bipolar, antes de chegarem à idade adulta (Kovacs, 1989).
Num estudo de evoluçäo particularmente significativo, Harrington e os colaboradores
deram informaçäo sobre reavaliaçöes a longo prazo (feitas depois de um intervalo de 18 anos,
em média) de 80 pessoas que tinham sofrido uma intensa depressäo, em crianças ou adoles-
152
centes. Em adultos, estas pessoas näo tendiam mais do que um grupo de comparaçäo de
pacientes jovens, com distúrbios mas näo deprimidos, a apresentar perturbaçöes näo-afectivas
mas 58 % delas, quando comparadas com 25 % do grupo de comparaçäo tornaram-se adultos
efectivamente perturbados (Harrington, Fudge, Rutter, PickIes & Hill, 1990). Também entre
os adolescentes näo-pacientes, a tendência para sofrer estados de humor desadaptados mostra
uma considerável continuidade da adolescência para a idade adulta. Por exemplo, os estu-
dantes do final do ensino secundário, que relatam sintomas depressivos, tendem também,
mais do que a populaçäo geral, a continuar a apresentar as mesmas queixas, durante a década
dos seus 20 anos (Kandel & Davies, 1986).
Mesmo assim, a previsäo no transtorno afectivo é mais favorável do que na esquizo-
frenia. Num seguimento de longo prazo de várias centenas de adultos internados numa uni-
dade psiquiátrica hospitalar, 50% dos pacientes maníacos e 61 % dos deprimidos atingiram
subsequentemente um bom nível de funcionamento psicológico, comparados com apenas 20 %
dos esquizofrénicos; no outro lado da balança, um ajustamento geral deficiente foi encon-
trado em 54 % dos esquizofrénicos mas apenas em 21 % dos pacientes maníacos e em 30 %
dos deprimidos (Tsuang, Woolson & Fleming, 1979).
Tal como na esquizofrenia, contudo, o prognóstico do transtorno afectivo torna-se
mais cauteloso quando se iniciou cedo e é täo incapacitante que exige cuidados hospitalares.
Os dados disponíveis indicam que só cerca de um terço dos adolescentes hospitalizados, com
distúrbio depressivo unipolar, recuperam completamente sem mais recaídas futuras e quase
todos os jovens que desenvolvem distúrbios bipolares graves poderäo vir a sofrer de suscep-
tibilidade continuada a novos episódios. Falando de um modo geral, quanto mais jovens forem
ao desenvolver um primeiro episódio de perturbaçäo afectiva, tanto mais perturbados ten-
deräo a ser, mais difíceis seräo de tratar com sucesso e maior será a sua tendência de reci-
diva após as melhoras (Cohen, Khan & Cox, 1989; Gonzales, Lewinshon & Clarke, 1985;
Kovacs, Feinberg, Crouse-Novak, Paulatiskas & FinkeIstein, 1984; McGlashan, 1988).
- Se bem que ainda näo tenham sido completamente explicados as implicaçöes do desen-
cadear precoce da perturbaçäo no respectivo prognóstico desfavorável, uma possibilidade
plausível é a existência, em geral, de uma relaçäo inversa entre a idade do começo e a força
da predisposiçäo para a perturbaçäo afectiva. De acordo com esta hipótese, quanto
mais forte for a diátese tanto mais cedo a perturbaçäo aparecerá menos stress ambiental será
necessário para a precipitar, mais grave e persistente será e mais provável será que se repita.
Inversamente, para um stress de vida igual, quanto mais idade as pessoas tiverem, antes de
desenvolver uma perturbaçäo afectiva, tanto menos fortemente estaräo predispostas a ela.
Consistentes com esta formulaçäo, os dados indicam que, quanto mais velho for o
adolescente, no momento do episódio inicial, quer maníaco quer depressivo, e quanto menos
incapacitante for o transtorno, tanto melhores seräo as perspectivas do jovem de uma
recuperaçäo e boa adaptaçäo subsequentes, sem recaídas. Quando já houve episódios ante-
riores da perturbaçäo, o prognóstico actual melhora se esses episódios tiverem sido (a) pouco
153
em vez de muito numerosos, (b) de duraçäo breve em vez de longa, (c) muito espaçados
em vez de contíguos e, (d) ligeiros em vez de graves. As perspectivas futuras de evitar ou
minimizar a gravidade das recaídas melhoram também quando o jovem näo tem história familiar
de transtorno afectivo e beneficia de um ambiente familiar unido e apoiante (Belsher & Cos-
tello, 1988; Corye11, Lavori, Endicott, Keller, VanEerdewegh, 1984; Moos, 1990; Teri &
Lewinshon, 1986).
Mesmo quando o panorama sobre o transtorno afectivo é favorável, a intervençäo
apropriada pode ainda ajudar a encurtar os episódios de depressäo e mania e reduzir a vulne-
IP
rabilidade às recaídas. Uma literatura vasta revela a eficiência de muitos tipos diferentes de
psicoterapia no tratamento da perturbaçäo afectiva, incluindo abordagens psicodinâmicas,
comportamentais, cognitivas e interpessoais (Beckham, 1990; Jarrett & Rush, 1986; Karasu,
1990; Robinson, Berman & Neimeyer, 1990). Conforme o caso individual, o tratamento
deverá incluir uma combinaçäo de psicoterapia, manipulaçäo do ambiente e, especialmente
na mania, uma medicaçäo apropriada.
Psicoterapia
154
155
Com respeito ao humor tristonho, por exemplo, os observadores mais sensíveis reco-
nhecem que as pessoas deprimidas näo säo fáceis de animar; se o fossem os esforços de amigos
e familiares bem intencionados seriam suficientes para aliviar o distúrbio depressivo sem
a ajuda de um profissional. A relaçäo terapêutica fornece um contexto em que é geralmente
possível levantar o ânimo de um adolescente deprimido ignorando a sua tristeza e estimu-
lando todas as oportunidades que surjam para falar sobre as experiências emocionais posi-
tivas que ainda possua. Dada a sua natureza autocurativa, o humor deprimido tende a dimi-
nuir com o tempo, se a pessoa conseguir evitar ruminar nele. Quanto mais atençäo e tempo
säo dedicados a pensar e a falar sobre experiências emocionais agradáveis, na terapia ou
fora dela, tanto menos tempo e atençäo sobrará para meditar sobre as desagradáveis, e mais
depressa diminuirá o seu impacto. Ainda que aparentemente simplista, esta abordagem de
reforço reflecte as formulaçöes teóricas subjacentes a uma variedade de técnicas de mode-
lagem de comportamento que se têm provado eficientes no tratamento da depressäo (ver Kolko,
1987; Reynolds & Coats, 1986).
De maneira semelhante, no que diz respeito a atitudes negativas, os terapeutas podem
lançar mäo de várias técnicas de tratamento derivadas das conceptualizaçöes cognitivas da
depressäo para facilitar um progresso para perspectivas menos negras e mais realistas (ver
Beck, 1979; Emery, Bedrosian & Garber, 1983; Zeiss, Lewinsohn & Munoz, 1979). Tal
como nos esforços para melhorar o teste da realidade dos adolescentes esquizofrénicos, isto
envolve a discussäo de acontecimentos e circunstâncias especi icos, com o propósito de iden-
tificar e esclarecer discrepâncias entre o que de facto é ou foi o caso e todas as impressöes
depressivas que os jovens formaram. Estas técnicas ajudam os adolescentes deprimidos a
reconhecer que se estäo a sentir mal em resultado do que estäo a pensar e a dizer para si
próprios e näo em virtude de obstáculos inultrapassáveis à sua felicidade no mundo real.
Como outro passo no combate às atitudes pessoais negativas de adolescentes depri-
midos e também ao seu nível de energia completamente esgotado, os terapeutas precisam
de descobrir maneiras de conseguir pôr os jovens outra vez em acçäo. Isto implica conhecer
onde se encontram os seus talentos, que situaçöes outrora lhes agradaram ou proporcionaram
sucesso, e que derradeiras brasas de aspiraçäo podem ainda ser atiçadas em chama de entu-
siasmo. Todo o progresso que possam ser incitados a fazer, numa ou mais dessas direcçöes,
cria uma oportunidade para experiências agradáveis e provoca uma mossa no seu padräo
sintomático de letargia e de autodepreciaçäo. Cada passo que um adolescente deprimido dá
na direcçäo do envolvimento em objectivos gratificantes assegura a substituiçäo do desenco-
rajamento pela esperança e da alienaçäo pela actividade. Verifica-se que o envolvimento em
projectos de serviço à comunidade ou em programas de exercício físico regular reduz os
sentimentos de alienaçäo e depressäo (Calabrese & Schumer, 1986; McCann, & Holmes, 1984).
No tratamento, deve prestar-se atençäo à maneira desadaptativa como os adolescentes
têm vindo a tentar precaver-se contra sentimentos depressivos ou a evitar situaçöes poten-
cialmente deprimentes. A este respeito, o retraimento social é especialmente importante, dado
156
que, estando afastados das interacçöes interpessoais os jovens ficam privados de experiên-
cias que poderiam mitigar a sua sensaçäo de perda, reforçar o empenhamento em objectivos
produtivos e promover a auto-estima. Por esta razäo, o treino de competências sociais pode
ser um aspecto valioso do tratamento, na medida em que ajuda a ultrapassar uma fuga as
pessoas que tem na base experiências negativas da história pessoal e expectativas negativas
de situaçöes interpessoais (ver Becker, Heimberg & Bellack, 1987; Brady, 1984; Kolko,
1987; Ladd & Asher, 1985).
Do mesmo modo, os adolescentes que se voltaram para os problemas de comporta-
mento para escapar a sentir-se deprimidos necessitam de encorajamento para desistir desses
esforços desadaptativos de evitar o sofrimento psicológico. No entanto, a mudança de com-
portamento só raramente pode ser prescrita pelo terapeuta ou por qualquer outra pessoa que
diga simplesmente ao jovem o que deveria fazer. Pelo contrário, os terapeutas precisam de
encontrar maneiras de demonstrar que tais comportamentos sintomáticos säo autodestruidores,
custam um preço pessoal demasiado grande para justificar qualquer prazer que possam dar
e que comportar-se de outro modo seria do maior interesse desses jovens. Uma vez instalada
tal motivaçäo intrínseca para a mudança, esta prova ser de longe mais poderosa do que rogos,
promessas ou ameaças para conseguir que os jovens abandonem o comportamento proble-
mático. As estratégias de tratamento para controlar os problemas de comportamento seräo
discutidas mais adiante no Capítulo 9.
-"PIEM~
157
Manipulaçäo de ambiente
158
O aconselhamento dos pais dentro desta linha pode ter um impacto particularmente
benéfico em relaçäo ao papel de um estilo de atribuiçöes negativas no distúrbio depressivo.
As conclusöes de Seligman ' e Peterson (1986) sugerem que os jovens desenvolvem um estilo
atributivo negativo näo só em resposta ao modo como os pais os criam mas também através
de identificaçäo com os pais que tenham, eles próprios, tendência para o pessimismo e auto-
culpabilizaçäo. De acordo com isto, pode haver casos em que ajudar uma família inteira a
alterar um estilo de atribuiçöes negativas, que caracterizou o seu modo de olhar o mundo,
contribuirá substancialmente para melhorar os sintomas de um adolescente que se tenha depri-
mido clinicamente nessa família. Oster e Caro (1990, Capítulo 10) elaboram várias outras
estratégias para tratar a depressäo dos adolescentes, através da reestruturaçäo dos padröes
de interacçäo familiar.
As discussöes com os professores e outros adultos da comunidade, que figuram de
modo proeminente na vida do jovem, podem também ser úteis para os ajudar a encontrar
maneiras de poderem oferecer menos frustraçöes e fornecer mais recompensas. Há, é claro,
limites à manipulaçäo ambiente na prática clínica, especialmente para além da família ime-
diata do paciente. O mundo näo pode ser remodelado para responder às necessidades de um
adolescente perturbado e os terapeutas näo têm o direito nem a autoridade de ditar o modo
como as pessoas devem conduzir a sua vida. No entanto, a recuperaçäo em relaçäo ao epi-
sódio actual e o evitar de futuros episódios seräo facilitadas, quando nova informaçäo e suges-
töes apropriadas do terapeuta conseguem promover algum compron-ússo e acordo, nas pessoas-
-chave do meio ambiente de um adolescente.
Estas recomendaçöes acerca da manipulaçäo ambiental relacionam-se intimamente
com as estratégias amplamente aceites de mobilizaräo do apoio social, em prol das pessoas
com transtornos psicológicos. A investigaçäo, em especial com pacientes efectivamente per-
turbados, documenta que sistemas sólidos de apoio social tanto ajudam a aliviar os sintomas
actuais como a proteger a pessoa contra as recaídas (Anashensel & Stone, 1982; Belsher
ò Costello, 1988; Flaherty, Gavaria, Black, Altínan & Mitchell, 1983; Moos, 1990; Phifer
ò Murreil, 1986).
Medicacäo
159
interpessoal, a terapia de aprendizagem social e a terapia de casais produzem todas maior efeito
terapêutica em adultos com depressäo unipolar do que a terapia medicamentosa (Free & Oei,
1989; Nietzel, Russelí, Hemmings & Gretter, 1987; Steinbrueck, Maxwell & Howard, 1983).
Näo obstante estas conclusöes, a maioria dos clínicos e investigadores está actual-
mente menos preocupada com a discussäo dos méritos relativos da psicoterapia e da farma-
coterapia no tratamento da depressäo do que com o estabelecimento de linhas mestras para
o seu eficiente uso combinado. Este esforço reflecte-se em investigaçöes que produziram
três conclusöes clinicamente relevantes. Primeira embora tanto a psicoterapia como a terapia
medicamentosa sejam, por si só, demonstravelmente eficientes no tratamento de adultos depri-
midos, o seu uso combinado näo produz melhores resultados a curto prazo do que qualquer
delas usada isoladamente. Por outras palavras, no que diz respeito a melhoria dos sintomas,
obtêm-se poucos resultados adicionais e da combinaçäo da terapia medicamentosa e da psi-
coterapia, no tratamento de adultos depressivos (Beck, Hollon, Young, Bedrosian & Budenz,
1985; Conte, Plutchik, Wild & Karasti, 1986; Rush, 1984).
Segundo, quando, no entanto, o enfoque muda dos ganhos de curto prazo para a manu-
tençäo da melhoria sintomática e evitamento de recaída, observa-se que as abordagens tera-
pêuticas que combinam modalidades psicoterapêuticas e farmacológicas obtêm melhores resul-
tados do que qualquer delas usada isoladamente. Esta conclusäo mantém-se a despeito de que
modalidade de tratamento seja considerada principal ou seja considerada suplementar (Hollon,
Spoden. & Chastek, 1986; Kupfer & Frank, 1987; Simons, Murphy, Levine & Wetzel, 1986).
Terceira, no que diz respeito aos resultados, tanto a curto prazo como a longo prazo,
o tratamento mais eficaz pode variar, em cada caso particular, em relaçäo com a natureza
e gravidade do transtorno. Quanto menos incapacitante e mais claramente reactiva for a
depressäo, tanto mais provável será que a intervençäo psicossocial por si só seja suficiente
para prover tanto benefício quanto é possível conseguir-se sem haver nada a ganhar
com a medicaçäo. Inversamente, quanto mais debilitante e endógena for a depressäo
- especialmente quando o paciente apresenta um esgotamento de energia ou um grau psicó-
tico de perda cognitiva e necessita de hospitalizaräo - mais provável será que a medicaçäo
venha a ser necessária para se conseguir melhoria, e que a psicoterapia contribua pouco para
o progresso (Nelson, Charney & Quinlan, 198 1; Rush, 1984).
É incerta a medida em que estas conclusöes podem ser generalizadas para os jovens,
principalmente porque os dados respeitantes à terapia medicamentosa para adolescentes depri-
midos säo muito menos amplos do que os resultados de adultos. No que respeita especifica-
mente aos antidepressivos tricíclicos, as provas disponíveis até agora näo demonstram a efi-
cácia dessa medicaçäo no tratamento da depressäo em adolescentes (Koplewicz & Williams,
1988; Ryan & Puig-Antich, 1987). Quando a medicaçäo antidepressiva for ainda assim utili-
zada num esforço para aliviar os sintomas depressivos, deverá incluir-se a psicoterapia no
plano de tratamento, para promover o reajuste social adequado, na sequência de qualquer
reduçäo de sintomas conseguido com os medicamentos. Com esta consideraçäo em mente,
160
Hodgman (1985) adverte que, num adolescente deprimido, uma reacçäo sintomática favo-
rável à medicaçäo pode ter o efeito contraproducente de diminuir o investimento do jovem
na psicoterapia que ainda será necessária para completar e sustentar a recuperaçäo.
Verifica-se também que as medicaçöes antidepressivas causam alguns efeitos secundá-
rios indesejáveis, quando säo usadas em doses suficientemente grandes para reduzir a sinto-
matologia depressiva. Estes incluem efeitos sedativos, incómodos gastro-intestinais, toxici-
dade cardiovascular, efeitos extrapiramidais (incluindo possível disquinésia tardia) e con-
vulsöes potenciais (Hodgman, 1985; Law, Petti & Kazdin, 1981; Puig-Antich, Ryan &
Rabinovích, 1985). Além disso os adolescentes bipolares que apresentam depressäo podem
ser lançados em episódios maníacos pela medicaçäo antidepressiva (O'Connell, 1988; Welir
& Goodwin, 1987). Em resultado dos benefícios incertos e dos perigos potenciais do uso
da medicaçäo antidepressiva com jovens, algumas autoridades recomendam restriçäo ou mesmo
a total abstençäo daquela modalidade de tratamento até que o seu valor e segurança tenham
sido mais adequadamente demonstrados (Didgon & Gotlib, 1985; Werry, 1982). Outros
defendem que a gravidade e persistência potenciais do transtorno afectivo que aparece nos
jovens autorizam a farmacoterapia, a despeito dos seus riscos concomitantes e possíveis des-
vantagens (Rancurello, 1986).
Verifica-se consistentemente que a medicaçäo com carbonato de lítio é útil, quando
a perturbaçäo afectiva se manifesta em episódios de mania. Tem-se a expectativa de que o
lítio restrinja o comportamento maníaco sem produzir efeitos secundários desfavoráveis, tanto
em adolescentes como em adultos (Puig-Antich, Ryan & Rabinovich, 1985; Strober, Hanna
& McCracken, 1989). Este efeito benéfico do lítio, necessita, contudo, de ser concebido
como uma melhoria sintomática e näo como uma cura específica do distúrbio afectivo bipolar.
Tal como no caso da depressäo, a sintomatologia que foi aliviada em resposta à medicaçäo
pode mostrar-se como näo sendo suficiente para conseguir uma melhor adaptaçäo social,
a menos que seja coordenada com a psicoterapia e com a manipulaçäo do ambiente; é pro-
vável ainda que o efeito das drogas possa oferecer pouca protecçäo contra as recaídas, na
ausência de intervençäo psicossocial (ver Kestenbaum & Kron, 1987; Prien, Kupfer, Mansky,
SmalI, Tuason, Voss & Johnson, 1984). Os adolescentes maníacos com sucesso inicial de
tratamento com lítio têm grandes probabilidades de recair, quando a medicaçäo é interrom-
pida, especialmente na ausência de intervençäo psicológica adequada (Strober, Morrell, Lam-
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Nalguns contextos clínicos, qualquer paciente que manifeste distúrbio psicológico mar-
cado, sem estar claramente esquizofrénico ou efectivamente perturbado, é provavelmente
diagnosticado como «caso limite». Noutros contextos, a «perturbaçäo limite» é posta de lado
como uma condiçäo mítica, criada sem verdadeira substância pelos teóricos das relaçöes de
objecto e pelos arquitectos do DSM-III, e é raramente diagnosticado. A realidade, a avaliar
pela literatura clínica e de investigaçäo presentemente disponível, situa-se talvez algures entre
os dois contextos - é provável que os distúrbios limite näo se encontrem nem na maioria
nem em raros dos pacientes que procuram ajuda psicológica, mas numa percentagem modesta
embora digna de mençäo.
Alguns pacientes limite apresentam as características proeminentes da esquizofrenia
e outros as características proeminentes da perturbaçäo afectiva. Isto levou alguns psico-
patologistas a inferir que o distúrbio limite é uma variante da esquizofrenia enquanto outros
inferem que é uma variante da perturbaçäo afectiva. Muito provavelmente näo é uma nem
outra. A esquizofrenia e a perturbaçäo afectiva säo perturbaçöes essencialmente sintomá-
ticas, na medida em que as deficiências subjacentes do funcionamento da personalidade que
as definem produzem sintomas que aumentam e diminuem. Os pacientes esquizofrénicos
têm os seus dias bons e maus. Alternam entre a lucidez e a incoerência e entre serem relati-
vamente realistas e relativamente inadequados e, em qualquer momento, podem ser des-
critos como estando mais ou menos manifestamente esquizofrénicos. O tratamento bem
sucedido da esquizofrenia é avaliado pela remissäo gradual dos sintomas e um excedente
cada vez maior dos dias bons em relaçäo aos maus. De um modo semelhante os pacientes
efectivamente perturbados sofrem de uma erturbaçäo cíclica, marcada no seu curso natural
por episódios de remissäo, episódios de recaída, e alternância impressivas no estado de
humor predominante.
174
Os distúrbios limite, em contraste, säo definidos, näo tanto por sintomas que väo
e vêm, mas por uma maneira constante de encarar e enfrentar as experiências. As marcas
características do distúrbio limite, discutidas neste capítulo, säo a instabilidade emocional
e a vulnerabilidade a episódios psicóticos breves. Estas säo, contudo, características estáveis
e duradouras do distúrbio e näo constituem índices da sua gravidade. Sofrer um acesso de
raiva ou um episódio psicótico näo torna a pessoa mais gravemente limite do que antes, nem
o desaparecimento da raiva ou da psicose é sinal de recuperaçäo da condiçäo limite. Nessa
conformidade, os distúrbios limite podem ser encarados mais razoavelmente como caracte-
roló icos e näo como condiçöes sintomáticas e merecem ser consideradas mais como perturba-
çöes distintas por mérito próprio do que como variantes da esquizofrenia ou de perturbaçäo
afectiva.
Os psicopatologistas, com diferentes pontos de vista, delinearam uma grande quanti-
dade de padröes de distúrbio limite, e esta profusäo de possibilidades teve como resultado
que alguns profissionais de saúde mental suspeitassem de que o distúrbio limite fosse um
conceito de pouca garantia e sem utilidade clínica. Mas, a despeito da heterogeneidade dos
pacientes com distúrbio limite, eles têm em comum várias características distintas. Estas carac-
terísticas nucleares da psicopatologia limite podem ser avaliadas com segurança mediante
entrevistas estruturadas e testes psicológicos; estes diferenciam com validade os indivíduos
limite das pessoas com esquizofrenia, com transtorno afectivo e outras perturbaçöes caracte-
rológicas; e têm implicaçöes importantes para o diagnóstico diferencial e para o planeamento
do tratamento.
Tal como outros transtornos caracterológicos, as condiçöes limite têm origem pre-
coce na vida e produzem manifestaçöes prodrómicas, durante a infância. É, contudo, nos
meados e em especial no final da adolescência, quando o estilo individual de personalidade
começa a cristalizar, que os distúrbios limite tendem a ficar completamente estabilizados e
claramente diagnosticáveis. Para além de ser melhor reconhecível do que antes, quando o
estilo de personalidade estava menos bem estabelecido, o distúrbio limite é mais -tratável na
adolescência do que o será mais tarde, quando o estilo de personalidade ficou mais forte-
mente firmado. Este capítulo debruça-se sobre as características fundamentais e as catego-
rias da psicopatologia limite, sobre a origem e o desenvolvimento dos distúrbios limite, sobre
consideraçöes quanto ao diagnóstico diferencial destes transtornos e sobre as estratégias na
conduçäo da psicoterapia com adolescentes sofrendo de distúrbio limite.
175
funcionamento cognitivo, afectivo e interpessoal que caracterizam todas as pessoas com dis-
túrbio limite. Saber em qual destas deficiências as variaçöes säo mais proeminentes e como
se manifestam, ajuda a especificar duas categorias de distúrbio limite. Pode dizer-se que as
pessoas cujas disfunçöes persistentes säo principalmente de natureza cognitiva e apresentam
isolamento interpessoal têm um distúrbio esquizotípico de personalidade. Aquelas cujas difi-
culdades caracterológicas säo principalmente de natureza afectiva e apresentam um exces-
sivo envolvimento interpessoal têm um distúrbio limite de personalidade.
Esta abordagem particular para categorizar os distúrbios limite foi sugerida por Spitzer
e seus colegas (Spitzer & Endicott, 1979; Spitzer, Endicott & Gibbon, 1979), cujo trabalho
proporcionou a base para catalogar os distúrbios limite de personalidade esquizotípica e limite
como categorias de diagnóstico separadas, no DSM-III. A ideia de um núcleo limite ligando
estas duas condiçöes foi elaborada por Meissner (1984) em termos de um «espectro limite»
de distúrbios. Ambas estas formulaçöes säo consistentes com as conclusöes da investigaçäo
que indicam que os distúrbios limite podem ser distinguidos, com segurança, de outras formas
de psicopatologia; que a maioria dos pacientes com distúrbio limite apresentaräo uma ênfase
claramente diferenciavel, ou nas manifestaçöes cognitivas ou nas afectavas; e que os restantes
pacientes apresentaräo uma mistura destas características e funcionam num qualquer ponto
intermédio do espectro limite no qual a perturbaçäo esquizotípica e a perturbaçäo limite de
personalidade se sobrepöem.
O núcleo limite
176
se espera deles ou frente a exigências variáveis que pressionam as suas competências, tendem
a funcionar mal até que consigam voltar a uma condiçäo confortável, previsível e facilmente
manobrável. Por isso, os pacientes limite apresentam geralmente uma história de adaptaçäo
aparentemente bem sucedida que representa, de facto, uma realizaçäo inferior em relaçäo
às suas capacidades, ou têm uma história irregular, em que os períodos de cumprimento alter-
naram com insucesso social e escolar ou ocupacional.
4. Relaçöes interpessoais forçadas. Embora os indivíduos limite consigam geralmente
controlar relaçöes superficiais com outras pessoas, näo conseguem lidar eficientemente
com relaçöes próximas ou íntimas. Tendem a optar ou pelo isolamento social, e neste caso
rejeitam aproximaçöes de amizade e interesse, ou pelo envolvimento exagerado, e neste caso
näo há interesse ou atençäo bastante da parte dos outros que os satisfaça por muito tempo.
Quando as pessoas limite funcionam em isolamento social, é típico que suspeitem
dos motivos dos outros e temam ser exploradas ou re eitadas. Estes medos impedem-nas de
procurar intimidade apesar de se sentirem täo sós. O isolamento social de alguns indivíduos
limite é composto por uma tendência para percepcionar erroneamente ou ignorar as caracte-
rísticas das outras pessoas e para formar imagens distorcidas ou incompletas que convenham
às suas necessidades do momento. Esta tendência contribui para o próprio resultado que
temem - eles atraem a exploraçäo e a rejeiçäo ao tratar as outras pessoas sem uma conside-
raçäo realista pelo que elas säo e sem sensibilidade às suas necessidades e expectativas.
de estarem isolados, tendem a formar relaçöes tensas, absorventes e dependentes. Tal como
o isolamento social, esse envolvimento excessivo é mais governado por interesse próprio
do que po r niotiv o s altruístas, Q 5 QU% Vj@t @ n@ 1 t@@0 Antepus Soal, b " . .
näo dadores, e a sua taça é virtualmente impossível de encher recèWorm,
em condiçöes Pouco estruturadas que lhes däo Poucas pistas sobre o que é esperado deles.
Estes episódios psicóticos podem incluir dissociaçäo, ideaçäo paranóide, delírios e alucina-
Çöes, perda de sentido da realidade Ou diminuiçäo de capacidades devido a depressäo ou mania.
A crise Psicológica associada com o distúrbio limite tende a ser curta, relacionada com stress
e rapidamente reversível. Os episódios aparecem subitamente, com Pouco aviso de antece-
dência, geralmente num contexto de uma experiência ansiogénea, e sofrem remissäo com
igual rapidez, logo após a pessoa ser colocada num ambiente favorável, predizível, que reduza
178
179
180
distúrbio limite de personalidade, como variantes do núcleo do distúrbio limite. Esta dis-
tinçäo foi reafirmada no DSM-III-R (ver Meissner, 1984; Widiger, Frances, Spitzer & Wil-
liams, 1988) e foi trabalhada em numerosas formulaçöes clínicas e investigaçöes.
181
182
Ochoa & Morey, 1990). As pessoas com este distúrbio toleram mal a frustraçäo e podem
ser impelidos a actos de comportamento mal elaborados, agressivos e autodestrutivos, por
um pretexto sem importância. Tendem a ser encaradas pelos que as rodeiam como pessoas
susceptíveis, excitáveis e imprevisíveis que têm de ser tratadas com cuidado. Quando zan-
gadas, têm mais tendência para exprimir o rancor do que para manter os seus sentimentos
sob controlo, e as suas experiências de depressäo ou de entusiasmo resultam rapidamente
em manifestaçöes emocionais impressivas.
Os indivíduos nesta condiçäo vivem os laços interpessoais de modo fora do normal,
alternando frequentemente entre sentimentos de amor e de ódio para com os mais próximos,
mudando regularmente de ideias acerca de quem consideram amigos ou inimigos e fazendo
tremendas exigências de lealdade inflexível e de afeiçäo sem desfalecimento aos amigos e
namorados do momento. Têm grande dificuldade em conseguir e manter uma sensaçäo coesa
de identidade pessoal e tendem, consequentemente, a vacilar nas suas impressöes sobre que
tipo de pessoas säo, em que acreditam, o que querem fazer com as suas vidas e como se
avaliam a si mesmos em comparaçäo com as outras pessoas.
Tal como o distúrbio esquizotípico, o distúrbio limite de personalidade é claramente
distinto da esquizofrenia. Os estudos de seguimento de longo prazo indicam que as deficiên-
cias esquizofrénicas no funcionamento da personalidade näo säo nem características das fases
de formaçäo do distúrbio limite da personalidade nem é provável que apareçam no seu decurso
(Fenton & McGlashan, 1989; McGlashan, 1983b; Pope, Jonas, Hudson, Cohen. & Gunderson,
1983). A forte coloraçäo afectiva do distúrbio limite de personalidade sugeriu, por vezes, que
poderia ser uma variante de perturbaçäo afectiva. Contudo, a maioria dos investigadores con-
cluiu que, mau grado as semelhanças sintomáticas entre eles e a possibilidade de ocorrência
simultânea na mesma pessoa, o distúrbio limite de personalidade e o transtorno afectivo säo
condiçöes separadas, especialmente no que diz respeito a dificuldades nos laços interpessoais
que säo fenômenos distintamente limite (BelI, Billington, Chicchetti & Gibbons, 1988; Gun-
derson & Elliot, 1985; McGlashan, 1983b; Pope, Jonas, Hudson, Cohen & Gunderson, 1983).
O distúrbio limite de personalidade distingue-se, além disso, pelo vasto uso da «cli-
vagem» como defesa. Na concepçäo de Kernberg (1977, 1978), Maliler (1974) e Masterson
(1975), a clivagem refere-se a uma maneira imatura de encarar o mundo, segundo a qual
as outras pessoas säo vistas como «todas boas» ou «todas más», e as experiências de vida
säo vistas como completamente gratificantes ou como completamente frustrantes. Este pro-
cesso implica a clivagem no sentido de que as pessoas e os acontecimentos näo säo reconhe-
cidos na sua totalidade, que, de facto, significa ter pontos positivos e negativos, e ser às
vezes algo gratificantes ou frustrantes. Em vez disso, a atençäo foca-se inteiramente numa
parte separada que contém apenas o que é perfeito e gratificante ou o que é imperfeito e
frustrante, sem concessöes a quaisquer qualidades que sejam indefinidas ou intermédios.
Este tipo de clivagem serve como defesa contra a ansiedade ao manter fora da mente
as atitudes potencialmente contraditórias, protegendo assim o indivíduo contra experiências
183
Condicöes de sobreposiçäo
185
Há pouco conhecimento seguro sobre o que causa os distúrbios limite e como se desen-
volvem. Abundam a teoria e a conjecturas sobre o assunto, mas säo poucos os dados empi-
ricos de confiança. Só desde os meados dos anos 80, é que começaram a aparecer estudos
bem delineados sobre a origem e o evoluçäo dos distúrbios limite, estimulados pela promul-
gaçäo dos critérios do DSM-III e DSM-III-R e pelo acesso a instrumentos de pesquisa, como
a DEB. Embora reste muito trabalho a fazer, pode obter-se algum sentido preliminar da maneira
como os distúrbios limite aparecem e se desenvolvem considerando (a) o estatuto dos dis-
túrbios limite como uma forma de perturbaçäo da personalidade, e (b) a indicaçäo emer-
gente de factores familiares na susceptibilidade a estes transtornos.
Como se apontou, no início deste capítulo, os distúrbios limite näo säo fundamental-
mente condiçöes sintomáticas nem condiçöes cíclicas, mas compreendem, sim, modos persis-
186
1 . Estas condiçöes iniciam-se cedo na vida e säo moldadas por tendências e expe-
riências que começam, logo após o nascimento, a influenciar o modo caracterís-
tico como as pessoas pensam, sentem e se relacionam com os outros.
187
Kemberg (1988) aponta ainda que as crianças limite, em virtude do uso defensivo
da clivagem, podem apresentar algumas peculiaridades especiais no modo como se relacionam
com os pais. Estas abrangem uma tendência para idealizar ou desvalorizar de maneira exces-
siva, qualquer dos pais e uma incapacidade para aceitar e lidar com eles como um casal que,
ao mesmo tempo que tem uma relaçäo individualizada com o filho, tem papéis comuns como
pais e uma relaçäo interpessoal própria.
Constitui matéria de debate o diagnóstico apropriado de crianças em idade escolar
que apresentam um número crítico destes padröes de sintomas. Poderäo elas ser apropriada-
mente consideradas como tendo um distúrbio de personalidade, quando ainda näo atingiram
o nível de maturidade em que a personalidade está suficientemente formada para ser consi-
derada perturbada? Alguns clínicos preferem chamar a estes jovens «crianças limite» e
188
formular estratégias de avaliaçäo e tratamento para trabalhar com elas como se tivessem uma
condiçäo distinta e específica (Chetnik, 1986; Kemberg, 1983b; Leichtman & Nathan, 1983;
Nagy & Szatmari, 1986). Outros perguntam se existe um síndroma limite distinto nas crianças
e preocupam-se com o abuso deste rótulo sem que forneça qualquer ajuda real no planea-
mento do tratamento com crianças cujos problemas säo difíceis de compreender (Greenman,
Gunderson, Cane & Saluman, 1986; Gualtieri, Koriath & Van Bourgondien, 1983; Sha-
piro, 1983).
Seja como for resolvido este problema, permanece o facto, como se observou ante-
riormente, de que se observa consistentemente que padröes de sintomas, que se assemelham
de perto às manifestaçöes características dos distúrbios de personalidade esquizóide e limite,
se agrupam nalgumas crianças perturbadas. Isto näo significa que todas ou sequer a maior
parte dessas crianças se tornaräo eventualmente adolescentes ou adultos limite. Pessoas com
sintomatologia similar, em fases precoces da vida, podem ter evoluçöes clínicas diferentes,
e o padräo de transtorno das «crianças limite» pode ser um ponto na estrada para uma multi-
plicidade de transtornos de adolescentes e de adultos. Por exemplo, num seguimento de 10
a 25 anos de sete pacientes que tinham sido diagnosticados como casos limite, em crianças,
Kestenbaum (1983) encontrou sete diagnósticos diferentes de adultos - um caso de cada
de esquizofrenia, distúrbio bipolar, distúrbio esquizo-afectivo, distúrbio esquizotípico de per-
sonalidade, distúrbio limite de personalidade, distúrbio esquizóide de personalidade e neu-
rose ansiosa.
O que significa a importância prodrómica provável destes padröes infantis é que se
tenha a expectativa de que as pessoas mais velhas que manifestam distúrbios limite tenham
apresentado precursores dos seus transtornos enquanto crianças em idade escolar. Embora
esta relaçäo longitudinal ainda näo tenha sido documentada com dados da investigaçäo de
história de casos, ela recolhe apoio considerável do que é geralmente conhecido acerca das
manifestaçöes infantis do desenvolvimento de uma perturbaçäo de personalidade. Os clínicos
devem de facto hesitar em diagnosticar distúrbios limite em adolescentes ou adultos em quem
näo haja uma história clara de desenvolvimento de padröes de sintomas associados com o
síndroma limite infantil.
Ao longo dos anos da adolescência, quando os padröes de personalidade se tornam
progressivamente mais estáveis, os distúrbios limite também começam a ficar completamente
estabelecidos. A continuidade subsequente no desenvolvimento da personalidade, entre a ado-
lescência e a idade adulta mencionada no Capítulo 1, também se aplica a esta forma de fun-
cionamento perturbado da personalidade. Nas palavras de Kemberg (1983a, p. 102) «Os adultos
limite representam adolescentes limite mais velhos.» Por esta razäo, a maioria dos autores
que escrevem sobre os distúrbios limite, tanto nos adolescentes como nos adultos, descrevem-
-nos geralmente do mesmo modo (ver Kernberg, 1978; Masterson, 1980). Isto näo significa
que se ignore que o conteúdo dos distúrbios limite, como em todas as formas de psicopato-
logia, variará com a idade do indivíduo. Assim, as dificuldades interpessoais dos pacientes
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limite, tendem a centrar-se nos namoros e nas amizades, enquanto säo adolescentes, e no
amor e nas relaçöes matrimoniais, quando se tornam adultos. Mas, a natureza básica das
suas incapacidades cognitivas, afectavas e interpessoais näo muda, quando os adolescentes
limite se tornam adultos limite.
No que respeita à evoluçäo a longo prazo dos distúrbios limite, McGlashan (1983a,
1986b) refere alguns dados interessantes do estudo de evoluçäo, durante 15 anos, do estado
de pacientes com esquizofrenia, distúrbio esquizotípico de personalidade e distúrbio limite
de personalidade. Os que tinham sido inicialmente diagnosticados como esquizofrénicos
revelavam um resultado menos favorável e uma dificuldade de adaptaçäo mais persistente
ou repetitiva. Os com distúrbio limite de personalidade tinham a melhor evoluçäo a longo
prazo dos três grupos, e os com distúrbio esquizotípico de personalidade ocupavam uma
posiçäo intermédio. Os esquizofrênicos tinham tendência especial a sofrer de incapacidade
de longa duraçäo para estabelecer relaçöes interpessoais significativas e gratificantes. Para
além do longo prazo, os pacientes esquizotípicos eram mais capazes do que os esquizo-
frénicos de estabelecer relaçöes viáveis com os outros, mas tendiam a optar por relaçöes
desprendidas e raramente tinham amigos íntimos ou amantes. Os pacientes com distúrbio
limite de personalidade, ainda que imprevísíveis socialmente, eram capazes de estabelecer
tanto relaçöes de amizade como de amor, ao longo deste período de evoluçäo. Os sujeitos
de um grupo suplementar, considerados com distúrbio esquizotípico e limite de personali-
dade justapostos, eram capazes de fazer amigos mas näo tendiam a implicar-se em relaçöes
amorosas.
Factores familiares
190
191
O diagnóstico diferencial dos distúrbios limite pode ser feito, geralmente, com base
no que se sabe sobre a natureza, as origens e o desenvolvimento dessas condiçöes. Certos
192
História do adolescente
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tica do que com distúrbio limite de personalidade. Os vários tipos de stress psicológico, na
vida diária, podem ser suficientes para destruir a adaptaçäo da pessoa com distúrbio esqui-
Zotípico, ao passo que as pessoas com distúrbio limite de personalidade descompensam rara-
mente excepto no contexto de uma relaçäo interpessoal intensa, particularmente no decurso
de uma psicoterapia. O paciente que preenche a descriçäo de Knight de «se desmanchar todo
no divä» tanto pode ter um distúrbio esquizotípico ou um distúrbio limite de personalidade.
O paciente cuja história indica uma propensäo para também descompensar noutras condi-
çöes de stress está provavelmente a sofrer de um distúrbio esquizotípico e näo de um dis-
túrbio limite de personalidade.
A história da família do paciente também pode ajudar a identificar o distúrbio esqui-
Zotípico e o distúrbio limite de personalidade e a distinguir entre eles. Em ambos os tipos
de condiçäo limite, espera-se encontrar psicopatologia individual ou desorganizaçäo fami-
liar que tenha impedido os pais de se separarem efectivamente dos filhos. Além disso, a prova
genética indica que, quando uma família de adolescente limite contém parentes com esquizo-
frenia, o adolescente tende mais a ter um distúrbio esquizotípico do que um distúrbio limite
de personalidade.
194
195
e expressa. Vista em retrospectiva, também podia ter sido encarada como uma partilha de
informaçäo profundamente pessoal, mais aberta do que o costume, durante uma entrevista
inicial com adolescentes.
O paciente começou a segunda sessäo contando um sonho que estava manifestamente
relacionado com a questäo de se seria capaz de manter esta marcaçäo de entrevista com o
terapeuta. Isto foi tomado como indicador de uma certa ambivalência sobre o comprometer-
-se na psicoterapia. Também se poderia ter dado atençäo ao quäo pouco comum é que um
sonho, seja qual for, especialmente um sonho que envolve o terapeuta, seja contado logo
na segunda sessäo - excepto em pessoas que säo de transferência extremamente fácil.
Por este adolescente estar a comunicar tanto nestas duas primeiras sessöes, o entre-
vistador falou muito pouco. Na terceira sessäo, o paciente ficou calado e pediu ao entrevis-
tador que lhe fizesse perguntas. Perante a recusa do entrevistador em fazê-lo, o paciente ficou
agitado e insistente. Isto foi tomado como um indicador de resistência e ele foi informado
sobre a responsabilidade do paciente, em psicoterapia, de continuar a falar, tal como tinha
feito nas duas primeiras sessöes. Mas também podia ter sido igualmente revelador de uma
impossibilidade de tolerar a ambiguidade e um relacionamento já intensamente ambivalente
com o entrevistador. A terceira sessäo acabou com o paciente a reclamar amargamente que
näo lhe tinha sido concedido o tempo todo que estava a pagar quando, de facto, isso näo
era verdade, o que dá peso aquelas duas hipóteses.
Cedo, na manhä seguinte a esta terceira sessäo, o terapeuta recebeu uma chamada
da mäe do paciente. Durante a noite, ela tinha visto uma luz no quarto dele e fora investigar.
Tinha-o encontrado sentado na cama, com um cobertor à volta e ciciando para si próprio.
De início a mäe tinha sido incapaz de o puxar para uma conversa. Tanto quanto conseguiu
perceber ele estava a dizer continuamente «Näo vou falar mais, o Dr. - tem de falar agora. »
Quando, finalmente, conseguiu a atençäo do filho, ele implorou ser levado a casa do entre-
vistador, imediatamente. Ela conseguiu que ele esperasse até de manhä, altura em que o seu
telefonema permitiu por fim-ao terapeuta compreender a mensagem: Este era um rapaz com
um distúrbio limite que fora lançado num episódio psicótico por uma entrevista de diagnós-
tico näo-estruturada.
Embora seja necessário evitar uma entrevista inadvertidamente stressante, pode haver
ocasiöes em que uma possível intolerância à ambiguidade possa ser testada intencionalmente
com fins de diagnóstico. Se um paciente tem, de facto, um distúrbio limite, o entrevistador
deve ser capaz de influenciar fortemente as respostas, variando o nível de estruturaçäo que
é proporcionado. Espera~se que a pessoa limite se torne cada vez mais agitada e desorgani-
zada se o clínico começar a falar menos e a dar menos indicaçöes quanto ao que se espera.
Inversamente, espera-se que os pacientes limite que se tornaram agitados e desorganizados
durante uma entrevista näo-estruturada, se controlem rapidamente se o clínico começar a
falar mais e a dizer, especificamente, do que devem falar. Variando a sua abordagem, tendo
isto em mente, os entrevistadores podem ser capazes de identificar mudanças súbitas no nível
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de adaptaçäo que assinalaräo o distúrbio limite. Por outro lado, quanto menos afectados ficarem
os pacientes, com as mudanças de estrutura que o clínico proporcionar, tanto menos pro-
vável será que tenham uma condiçäo limite.
Voltando-nos para o relacionamento interpessoal, o modo como os pacientes limite
reagem ao entrevistador facilita a diferenciaçäo entre o distúrbio esquizotípico e o distúrbio
limite de personalidade. Alguns pacientes seräo cautelosos e manteräo a distância, física e
psicologicamente. Estes säo os pacientes que empurram a cadeira para trás, afastam o corpo,
evitam contacto visual directo e exprimem pouco interesse em quem o entrevistador seja ou
em ter um relacionamento mais próximo com ele. Outros abrem-se e chegam-se, do ponto
de vista interpessoal, desde o momento em que entram na sala para uma primeira entrevista.
Estes säo os pacientes que puxam a cadeira para mais perto, se debruçam para a frente, olham
intensamente nos olhos do entrevistador, pedem ou procuram informaçäo pessoal e insistem
ou apelam para uma expressäo absoluta do interesse do entrevistador neles. Tais padröes
díspares ajudam o entrevistador a identificar, por um lado, o isolamento social característico
do indivíduo esquizotípico, e, por outro, o estilo interpessoal adesivo, dependente e devo-
rador que caracteriza o distúrbio limite de personalidade.
Para resumir, uma vez mais, estas linhas mestras de diagnóstico diferencial, o paciente
limite que apresenta dificuldades cognitivas mais proeminentes do que a sintornatologia afectiva
e tende para o isolamento interpessoal em vez do envolvimento interpessoal exagerado tem,
provavelmente, uma distúrbio esquizotípico de personalidade. O paciente limite cujo trans-
torno é de natureza mais proeminentemente afectiva do que cognitiva e que procura relaçöes
sociais intensas tem provavelmente um distúrbio limite de personalidade.
Finalmente, no que diz respeito a entrevistar pacientes com possível distúrbio limite,
existem numerosos guiöes de entrevistas semi-estruturadas disponíveis para ajudar o clínico
a descortinar, através dos vários critérios que distinguem, um do outro, os distúrbios de per-
sonalidade limite e esquizotípico e a distinguir entre estas e outras condiçöes. A eficácia de
tais medidas foi revista por Widiger e Frances (1987). O DIB original também foi revisto
para aguçar a sua capacidade de diferenciar os casos limite de outros distúrbios, como dis-
túrbios esquizotípicos, histriónicos e narcísicos de personalidade (Zanarini, Gunderson, Fran-
kenburg & Chaucey, 1989).
197
ergencias p
tâncias requerem que se exclua o risco de suicídio ou outras em é i otenciais. O clí-
nico pode também desejar poupar o paciente limite à afliçäo de uma entrevista näo-estruturada
e evitar uma interacçäo tensa que pudesse complicar qualquer relaçäo de tratamento subse-
quente. Uma bateria de testes psicológicos que inclua medidas relativamente estruturadas
e näo-estruturadas pode avaliar a tolerância à ambiguidade sem atrasar a recolha de infor-
maçäo nem invadir a relaçäo paciente-entrevistador.
Já se apontou a significância de níveis acentuadamente diferentes de desempenho nestes
dois tipos de medidas para a identificaçäo do distúrbio limite. É útil lembrar quatro aspectos
adicionais desta pista de diagnóstico. Primeiro, o desempenho relativamente bom dos pacientes
limite nos testes estruturados näo significa que apareçam como normais nestes testes. Pelo
contrário, as respostas do paciente limite ao Wechsler tendem a ser dispersas e inconsis-
tentes e a conter indício de pensamento desorganizado e teste da realidade diminuído (Berg,
1983; Carr, Schwartz & Fisliler, 1989).
Uma tal evidência de disfunçäo cognitiva é menos marcada do que nos pacientes esquízo-
frénicos, mas é suficiente para separar os protocolos do Wechsler dos pacientes limite, especial-
mente os portadores de distúrbios esquizotípicos, dos dos näo-pacientes. No MMPI, os indiví-
duos limite mostram, do mesmo modo, um aumento nas escalas que distinguem os seus dos
perfis dos indivíduos normais (Edell, 1987a; Evans, Ruff, Braff & Ainsworth, 1984; Resnick,
Goldberg, SchuIz & SchuIz, 1988). Particularmente nos adolescentes, há sinais de que os perfis
do MMPI podem distinguir os pacientes limite dos pacientes com perturbaçäo afectiva, per-
turbaçäo de conduta e outras perturbaçöes de personalidade (Archer, Ball & Hunter, 1985).
Segundo, o desempenho relativamente fraco de indivíduos limite em testes näo estru-
turados näo significa que os seus protocolos näo possam ser distinguidos dos dos pacientes
esquizofrénicos. A despeito das dificuldades proeminentes em pensar clara e logicamente,
as pessoas com distúrbio esquizotípico de personalidade apresentam significativamente menos
«derrapagem» cognitiva no Rorschach do que os esquizofrénicos (Exner, 1986). Além de
manifestarem mesmo menos patologia de pensamento do que os pacientes esquizotípicos,
as pessoas com distúrbio limite de personalidade apresentam indicaçöes de dificuldades de
relaçöes de objecto, tanto no Rorschach como no Teste de Apercepçäo Temática, especial-
mente as relacionadas com o uso defensivo da clivagem, que näo säo características da esqui-
zofrenia (Stuart, Westen, Lohr, Benjamin, Becker, Vorus & Silk, 1990; Westen, Ludolph,
Lerner, Ruffins & Wiss, 1990).
De maior significado ainda é o contraste, em pacientes limite, entre as indicaçöes
de perturbaçäo nos protocolos de testes näo-estruturados e o seu desempenho em testes mais
estruturados. Na avaliaçäo típica de um paciente limite, os examinadores podem esperar
surpreender-se que um indivíduo que produz apenas indicaçöes fugazes de disfunçäo cogni-
tiva no Wechsler tenham dado tantas respostas desviantes no Rorschach.
A este respeito, o MMPI é mais parecido com o Rorschach do que com a Wechsler.
Embora o MMPI tenha um formato relativamente estruturado e exija respostas específicas,
198
Susan tinha 20 anos, quando fez, pela primeira vez, uma avaliaçäo psicológica por-
menorizada. A história apontava muitas das características que se esperaria que caracteri-
zassem a história do desenvolvimento de jovens com um distúrbio esquizotípico de persona-
lidade emergente.
199
O pai da Susan era um repórter de jornal cujos compromissos de carreira e lutas contra
o alcoolismo lhe deixavam pouco tempo ou entusiasmo para um envolvimento familiar.
Os pais tinham-se divorciado, quando ela era muito pequena, e a mäe tinha tornado a casar
depois - curiosamente com outro repórter jornalístico que também tinha um problema de
bebida. Ela cresceu vivendo com a mäe e o padrasto, mas nunca sentiu que tivesse um lugar
importante no lar. Dois meios-irmäos de um casamento anterior do padrasto e dois meios-
-irmäos filhos da mäe e do padrasto «governavam a capoeira», nas suas próprias palavras,
e as suas necessidades e actividades atraíam pouca atençäo.
Susan atravessou os ciclos básico e secundário com boas notas mas sem formar ami-
zades íntimas e sem se envolver em namoricas ou actividades extracurriculares. Podia ser
descrita, com rigor, como tendo sido um membro inconspícuo mas näo invisível do seu grupo
de finalistas. Com 17 anos de idade, foi para fora, para a faculdade onde teve aproveita-
mento acadêmico mas näo gostou. Desistiu depois do primeiro ano e voltou para a terra,
mas näo foi viver com os pais. Em vez disso, arranjou um pequeno apartamento só para
si, e um trabalho como empregada de balcäo de uma mercearia. Nesta altura, a mäe, preo-
cupada com a sua falta de orientaçäo, conseguiu que ela fosse a um psiquiatra. Depois de
várias sessöes ao longo de um período de 3 meses, concluiu que näo lhe estava a fazer bem
nenhum e desistiu do tratamento.
Um pouco mais tarde, foi despedida do trabalho na mercearia e juntou-se a um pequeno
grupo de jovens que faziam trabalhos como pintores de construçäo civil. Trabalhou em tarefas
de pintura e continuou a viver sozinha durante alguns meses durante os quais sentiu que estava
a dar-se muito bem. Foi entäo convencido por outra jovem do grupo de pintores a acompanhá-la
para visitar uma comuna. Era uma comuna rural feminina, localizada numa área rural afas-
tada, o que sublinhava um estilo de vida austero. Foi-lhes concedido um breve período de
visita, após o qual se solicitara aos visitantes que fizessem o compromisso de ficar ou entäo
que partissem. A amiga de Susan decidiu ficar mas Susan decidiu partir, sentindo-se inco-
modada com a «atmosfera beata ali».
Ao voltar ao seu apartamento e ao seu trabalho de pintura, começou a sentir-se con-
fusa e instável. Um dia, quando se dirigia para um trabalho do grupo, pintar uma igreja,
notou uma camioneta no parque de estacionamento da igreja. Lembrou-lhe uma camioneta
pertencente à comuna que tinha visitado, e concluiu que as mulheres da comuna tinham-na
posto aí como uma mensagem que ela devia voltar. Subiu para a camioneta, encontrou as
chaves na igniçäo e pôs-se a caminho. Estava a 25 milhas na auto-estrada em direcçäo à
comuna quando a polícia a apanhou.
Os guardas que a mandaram parar descreveram-na, mais tarde, como estando desor-
ganizada e incoerente. Depois de a prenderem, levaram-na para uma unidade psiquiátrica.
Aí, continuou a parecer desorientada e sem contacto com a realidade. Falava sobre a neve
e o frio lá fora, embora estivesse um bom dia de Primavera. Näo se encontrou qualquer
história de droga e o diagnóstico inicial foi esquizofrenia provável ou psicose reactiva.
200
Joseph tinha 17 anos e já estava no segundo ano de uma faculdade, quando procurou
ajuda no serviço de saúde mental, por problemas com as suas relaçöes sociais. Queixou-se
de ser incapaz de relaxar na presença das outras pessoas, principalmente porque «Eu tenho
de estar sempre atento, de maneira que as pessoas näo percebam quanta agressividade tenho
dentro de mim.»
201
Joseph era o mais novo de três rapazes nascidos de pais que tinham pouco para dar
aos filhos, psicologicamente. O pai era um homem amargo, bem sucedido exteriormente mas
frustrado pelas falhas que via na vida, que raramente se exprimia em casa e evitava con-
tactos sociais fora dela; Joseph descrevia-o como demasiado controlado, frio e «de nenhuma
importância na minha vida.» A mäe, pelo contrário, era uma mulher altamente emocional
e centrada em si própria que procurava a atençäo dos outros e se intrometia frequentemente
na vida dos filhos, de uma maneira exigente e possessiva. A única coisa que os pais tinham
em comum, disse Joseph, era que nenhum deles tinha sido capaz de o amar e aos seus irmäos.
Joseph trouxe tremendos sentimentos de inadequaçäo para as condiçöes de grupo de
colegas, quando era estudante da escola primária, onde estes sentimentos foram reforçados,
por ele ser muitas vezes considerado estúpido e desajeitado e ser excluído dos jogos e outras
actividades. Com 9 anos de idade, sofreu uma experiência partículannente dolorosa de rejeiçäo
dos colegas e afastou-se completamente das interacçöes sociais. Durante os 2 anos seguintes,
ele só saía de casa para ir à a escola. Näo tinha amigos e comia constantemente, tornando-se
muito gordo. Durante este período, foi atormentado por medos de morrer e por pesadelos
nos quais era vitimizado por bruxas, gorilas e outras figuras näo~humanas ameaçadoras.
Aos 1 1 anos, fez um amigo com quem teve uma relaçäo razoavelmente amistosa nos
2 anos seguintes. Quando este amigo veio a trocá-lo por um novo e melhor amigo, teve um
período repetido de pesadelos. Ao longo de todo o ensino secundário, a única actividade
extracurricular foi a inscriçäo num clube de xadrez. Por ser muito inteligente e usar a absorçäo
no trabalho escolar como substituto do relacionamento escolar, foi capaz de completar o ensino
secundário, com 16 anos de idade, e entrar para a faculdade. Durante o veräo anterior a
sair de casa para ir para a faculdade, decidiu, nas suas própria palavras, «voltar uma nova
página.» Perdeu o excesso de peso e decidiu-se a acabar com o isolamento social. No ano
de caloiro, teve um aproveitamento acadêmico extremamente bom e, ainda que desajeitado
e inseguro de si mesmo, nas situaçöes sociais, tornou-se de facto amigo de alguns outros
estudantes que partilhavam os seus interesses intelectuais.
Navegar nestas novas águas de relacionamento social tornou-se problemático no
segundo ano, principalmente porque o repertório interpessoal tinha pouco lugar para rela-
çöes esporádicas ou sentimentos pouco profundos de ligaçäo. Assim que emergiu do seu íso-
lamento, tornou-se um amigo duma consideraçäo e lealdade a toda a prova, e esperava que
qualquer pessoa que seleccionasse como companheiro lhe correpondesse com uma mesma
devoçäo total. Se era atraído por uma rapariga, apaixonava-se rápida e profundamente e,
em troca, pedia uma dedicaçäo sem desfalecimento. Quando os amigos ou uma namorada
o desapontavam ao näo corresponder a sua paixäo pela relaçäo, ficava furioso e näo conse-
guia pensar noutra coisa que näo fosse o quanto odiava a pessoa. Estas tempestades emocio-
nais passavam rapidamente sem levar a nada mais do que palavras ásperas e ele depressa
esquecia a pessoa e voltava as atençöes para outro lado. Contudo, à medida que se tornava
mais activo socialmente, a volubilidade emocional e a intensidade da raiva que tendia a dirigir
202
para outras pessoas começaram a granjear-lhe uma reputaçäo indesejável no campus univer-
sitário - a de uma pessoa muito exigente, irritável e de mau feitio, capaz de tornar a vida
num inferno a quem se envolvesse com ele.
Joseph era suficientemente sensível para reconhecer que este estado de coisas estava
a interpor-se entre ele e a vida social gratificante de que necessitava agora - daí a sua afir-
maçäo introdutória acerca de evitar que os outros percebessem a sua agressividade. Näo
exprimiu, contudo, significativamente, qualquer preocupaçäo sobre o ser intensamente emo-
cional, nem parecia receptivo a qualquer sugestäo de que a sua raiva, quando aparecia, näo
era inteiramente justificado. Mais do que procurar mudar ou compreender-se melhor como
pessoa, ele procurava aconselhamento sobre como lidar mais eficientemente com as relaçöes
interpessoais de modo a ser melhor apreciado e a ser mais capaz de obter compromissos
por parte das outras pessoas.
O intenso afecto de Joseph, especialmente a sua raiva, era täo evidente na entrevista
inicial como na história clínica que forneceu. Fixou um olhar penetrante no entrevistador
e raramente desviou o olhar, enquanto falava de experiências dolorosas da infância. Quando
falou de ódios, passados e presentes, de pessoas que tinham abusado dele, os olhos brilhavam,
cerrava os maxilares e rangia os dentes, e os músculos da face começavam a contrair-se.
Apesar de comunicar com clareza e ser aberto e espontâneo ao fornecer informaçäo, a atmosféra
pesadamente carregada que criava deixou o entrevistador a sentir-se como se tivesse feito
um trabalho pesado durante essa sessäo.
Na avaliaçäo psicológica subsequente, as respostas do Joseph ao Rorschach adequavam-
-se razoavelmente à realidade e envolviam apenas distorçöes perceptivas mínimas. Perdia,
contudo, muitas vezes, a distância aos estímulos do teste e entretecia os perceptos com com-
plexas fantasias personalizadas e associaçöes simbólicas. Como nota complementar, diga-se
que o conteúdo das respostas apresentava imagens repetidas de interacçöes agressivas e nume-
rosos casos em que as figuras estavam empenhadas em algum aspecto de aproximaçäo ou
afastamento uma da outra.
O instável e intenso estilo afectivo de Joseph, o seu relacionamento social igualmente
intenso e imprevisível e o clima tenso e de urgência que criou no começo da primeira entre-
vista, sugeriram distúrbio limite, desde o começo do processo de avaliaçäo. Esta impressäo
foi, depois, confirmada pelos indícios emergentes de que o pai distante e a mäe possessiva
tinham provavelmente tornado a individuaçäo difícil para ele, durante a lactência, e que tinha
sofrido de importantes sintomas fóbicos e de ansiedade, nos meados da infância. Em retros-
pectiva, havia boas razöes para crer que teria sido diagnosticado como uma criança limite,
se tivesse sido avaliado nessa altura. Actualmente, a descriçäo da sua repugnância por rela-
çöes ocasionais traçava um quadro claro de clivagem de objecto - ou tu amavas Joseph sem
reservas e, nesse caso, ele ainar-te-ia em paga, ou tu oferecias menos do que um compro-
misso total e nesse caso desprezar-te-ia e näo quereria nada contigo. Finalmente, a confirmar
este diagnóstico, estava a avaliaçäo psicológica na qual o pensamento circunstancial e deina-
ESTRATÉGIAS NA PSICOTERAPIA
Dado os distúrbios limite serem täo diversos, o seu tratamento abarca muitas das estra-
tégias discutidas nos outros capítulos deste livro. Nalguns casos, os problemas mais proemi-
nentes em presença chamaräo a atençäo para a modificaçäo de maneiras estranhas de pensar;
noutros casos o foco indicado para o tratamento será, pelo menos inicialmente, aliviar os
afectos depressivos e causadores de ansiedade; ainda noutros casos, a primeira prioridade
pode ser o controlo do comportamento para minimizar o risco de suicídio ou outras tendên-
cias impulsivas para actos anti-sociais ou auto-agressivos. Como uma ilustraçäo desta diver-
sidade de tratamentos, os psicofarmacologistas que se dedicam aos distúrbios'limite reco-
mendam, classicamente, um amplo espectro de medicaçöes antipsicóticas, antidepressivas
e ansiolíticas cuja selecçäo será feita com base nas dificuldades mais prementes do paciente
individual (Buysse, Nathan & Soloff, 1990; Cowdry & Gardner, 1988; Schulz, SchuIz &
Wilson, 1988).
Como uma alternativa à abordagem dos aspectos da intervençäo no distúrbio limite
de modo geral, a discussäo que se segue está mais especificamente preocupada com as estra-
tégias da psicoterapia. A psicoterapia com adolescentes limite pode ser um empreendimento
extraordinariamente difícil. Primeiro que tudo, os distúrbios limite mudam lentamente, mesmo
em resposta a intervençöes enérgicas, visto serem problemas caracterológicos. Tal como outros
traços de personalidade, as tendências do indivíduo limite para encarar e lidar com a expe-
riência de certas maneiras características näo podem ser trocadas facilmente por outras. Entäo,
como é geralmente o caso de esforços para modificar transtornos do funcionamento da per-
sonalidade, a psicoterapia nos casos de distúrbio limite é quase inevitavelmente um processo
longo em que é necessário um esforço considerável para conseguir objectivos modestos apenas.
Uma intervençäo breve de apoio, centrada em incidentes ou problemas específicos, pode
aliviar a ansiedade situacional ou a depressäo, nos indivíduos limite. Existe, contudo, um
204
consenso alargado de que a mudança definitiva nos padröes de reacçäo ou nos estilos de desem-
baraço das pessoas com distúrbio limite requer um tratamento intensivo de longa duraçäo
(ver Meissner, 1984, Capítulo 7; Stone, 1985).
Como segundo obstáculo a umas melhoras rápidas ou radicais, a natureza dos distúr-
bios limite limita a utilidade da relaçäo terapêutica, como agente de mudança. Na maioria
das condiçöes psicopatológicas, a empatia e o afecto do terapeuta contribuem substancial-
mente para uma eficiente aliança de trabalho. Nalgumas condiçöes, especialmente na depressäo,
o interesse e a atençäo do terapeuta, ao compensar pela perda do objecto, pode ser suficiente,
por si só, para produzir uma mudança positiva (ver Capítulo 4). A tendência do indivíduo
limite, quer para o evitamento interpessoal e suspeiçäo quer para o envolvimento interpes-
soal excessivo e a exigência, toma difícil lançar mäo de tais variáveis do relacionamento,
para iniciar ou sustentar o progresso no tratamento. O terapeuta deve, antes, defender-se
contra as maneiras variadas como a relaçäo de tratamento formada ou procurada pelos pacientes
limite pode minar uma aliança efectiva.
Terceiro, para além das exigências interpessoais, a intensidade emocional, a instabi-
lidade e a impulsividade dos pacientes limite podem desafiar até o terapeuta mais heróico
e leal a näo manter a calma nem o compromisso para com o tratamento. Tem-se observado
que os pacientes limite obtêm reacçöes negativas e respostas desapropriadas näo apenas de
terapeutas individuais mas também de equipas inteiras de tratamento, responsáveis pelos cui-
dados num contexto de internamente (McCready, 1987; Miller, 1989). Shay (1987, p. 712)
coloca bem o problema com respeito aos adolescentes limite: «Quando eles näo estäo a fazer
as nossas vidas difíceis no tratamento, estäo a fazer-nos sentir ainda pior, recusando-se a
ter alguma coisa que ver com o tratamentos
Finalmente, ao tentar ultrapassar a cronicidade, a volubilidade e o relacionamento
interpessoal tenso, os terapeutas que trabalham com pacientes limite labutam sob riscos
idênticos que provavelmente aumentaräo em proporçäo à intensidade do esforço que tentam
para provocar um impacto. Um desses riscos é a susceptibilidade da pessoa limite à crise
psicológica quando seja empurrada para além dos limites do confortável e do familiar;
o outro é a tendência dos indivíduos limite para se defenderem pela clivagem de objecto o
que pode resultar na visäo de um terapeuta estimulante como uma pessoa toda má e no
afogá-lo em má vontade.
Por outro lado, a juventude dos adolescentes significa que os seus traços de persona-
lidade, incluindo o distúrbio limite, ainda näo estäo täo estáveis como se destinam a ficar.
Para tirar partido deste facto e rodear os obstáculos à mudança, o terapeuta necessita de for-
necer um ambiente de tratamento cuidadosamente controlado e estruturado, no qual a ambi-
guidade seja mantida ao mínimo e a relaçäo terapeuta-paciente seja claramente definida e
limitada. Ao longo de um período de tempo suficientemente longo, um programa de trata-
mento bem planeado e executado pode modificar os traços limite nos jovens, reduzindo a pro-
babilidade de crise e o recurso à clivagem. As duas tácticas-chave para implementar esta estra-
205
206
de lidar eficientemente com as experiências do dia-a-dia (ver Curran & Monti, 1982; Liberman,
Mueser, Wallace, Jacobs, Eckman & Massel, 1986; Linehan & Wasson, 1990).
É raro que as sequências de confrontaçäo e de treino de competência de desembaraço
tenham, com facilidade, consequências no tratamento de adolescentes limite, especialmente
no começo. Mesmo as confrontaçöes que säo confirmadas, sem sombra de dúvida, pelos
factos óbvios da condiçäo tendem a ser encaradas, inicialmente, como críticas hostis e injus-
tificadas. Só com o tempo, à medida que confrontaçöes do mesmo tipo säo justificados por
acontecimentos que se repetem e à medida que o paciente desenvolve gradualmente um sen-
timento de confiança no terapeuta, poderäo as observaçöes ser reconhecidas como legítimas
e aceites como base para a ponderaçäo de modos alternativos de actuaçäo.
O foco da confrontaçäo e o treino da competência de desembaraço devem ser deter-
minados em relaçäo a se o distúrbio do paciente envolve características de personalidade
primordialmente esquizotípicas ou primordialmente limite. O distúrbio esquizotípico requer
principalmente atençäo às distorçöes cognitivas, nomeadamente as percepçöes ou expecta-
tivas irrealísticas, conclusöes inaceitáveis ou injustificadas e uso peculiar da linguagem ou
da comunicaçäo. O distúrbio limite de personalidade exige, mais do que tudo, atençäo à dis-
funçäo afectiva, concretamente (como no exemplo anterior) às reacçöes excessivamente emo-
cionais e à expressäo afectiva inadequadamente modulada.
Para todas as modalidades de distúrbio limite, o processo de confrontaçäo e de treino
de competência de desembaraço devem dirigir-se, finalmente, à clivagem defensiva. Por este
fenômeno residir täo perto do núcleo do distúrbio limite e por ser täo crítico à manutençäo,
pelos pacientes limite, do seu escasso equilíbrio, a clivagem raramente pode ser tocada antes
de se ter feito um progresso considerável na identificaçäo e na modificaçäo das disfunçöes
cognitivas e afectavas. Um mergulho prematuro na clivagem ameaça tirar o tapete ao indi-
víduo limite e é mais provável que precipite a descompensaçäo ou um termo prematuro do
que promova o progresso.
Tal como os outros aspectos do relacionamento interpessoal alterado, a clivagem torna-
-se mais visível e acessível à discussäo no contexto de uma relaçäo paciente-terapeuta. Antes
de nos voltarmos para os problemas da relaçäo é útil lembrar uma advertência final ao traba-
lhar a confrontaçäo e o treino da competência do desembaraço. Näo raro os pacientes limite
pöem objecçöes a uma abordagem activa de confrontaçäo, acusando-a de superficial. «Isto
säo tudo coisas óbvias», diräo ou insinuaräo, «Coisas que posso perceber só por mim; eu
näo venho aqui só para falar do que fiz ontem, mas para encontrar as razöes por que me
tomei no que sou.» O paciente pode, entäo, clamar por «uma abordagem mais profunda»
que será «mais significativas e «nos leve realmente a algum lado.»
Os terapeutas devem evitar ser enganados por tais queixas, abandonando a confron-
taçäo activa em troca de uma abordagem mais de descoberta, na qual falaräo menos e comen-
taräo de modo mais especulativo. Em primeiro lugar, as objecçöes do paciente necessitam
de ser reconhecidas por aquilo que säo realmente, isto é, resistência. Ao contrário das
207
pessoas com transtornos sintomáticos, que geralmente acham mais fácil falar sobre a natu-
reza do seu desadaptado comportamento actual do que explorar as suas origens, às pessoas
com transtornos de personalidade näo agrada a ilustraçäo concreta do modo como o seu pró-
prio estilo caracterológico lhes está a causar as dificuldades actuais. Por isso, podem pro-
curar explorar e especular acerca dos acontecimentos passados que tocam apenas de um modo
periférico nas suas vidas; fazem-no como uma maneira de evitar as realidades presentes que
seriam penosas de enfrentar.
Segundo, qualquer desvio do terapeuta para menos actividade e mais especulaçäo expöe
os pacientes ao tipo de condiçäo näo-estruturada que toleram mal. Qualquer que seja a gra-
tidäo que um paciente limite possa mostrar, inicialmente, ao acordo de um terapeuta para
uma abordagem «mais profunda», ela dará lugar a ansiedade crescente e a reacçöes de trans-
ferência intensas. A menos que este erro do terapeuta seja reconhecido e anulado, o pro-
gresso no tratamento pode ser seriamente interrompido pela incapacidade do paciente para
lidar com isso.
Os pacientes limite acham muito difícil desenvolver uma relaçäo confortável e cons-
trutiva com um terapeuta. Eles interpretam mal as características e as intençöes do terapeuta,
em funçäo do seu transtorno; esperam amor e cuidados ao mesmo tempo que temem rejeiçäo
e abandono; e formam expectativas irrealísticas acerca do modo como a terapia prosseguirá
e do que alcançará. A ultrapassagem de tais dificuldades de relacionamento näo é apenas
um prelúdio à mudança de comportamento, como na maioria das perturbaçöes, mas é, em
si mesma, um sucesso terapêutica significativo. AdIer (1985) observou a este respeito que
«No momento em que o paciente é capaz de uma aliança terapêutica sólida, esse paciente
já näo tem um distúrbio limite ou narcísico de personalidade; de facto, ele está bem dentro
do espectro neurótico e a aproximar-se do fim da terapia» (p. 1 15). O progresso em direcçäo
a este ponto pode ser facilitado pelo manejo da relaçäo de tratamento de maneiras que dimi-
nuam as reacçöes de transferência, evitem o dar e receber e moderem a clivagem (ver Wal-
dinger, 1987).
208
como estímulo, for o terapeuta, menos latitude haverá para o paciente imaginar como ele
é ou para se deixar enredar em atribuiçöes erróneas. Isto näo elimina, contudo, a necessi-
dade de limites na abertura do terapeuta, especialmente com adolescentes que atacam o tema
«Se eu soubesse mais sobre si, seria capaz de confiar em si e contar-lhe mais sobre as coisas
que estäo realmente a apoquentar-me.» Por exemplo, a pergunta «Em que faculdade andou?»
pode e deve ser respondida ao passo que a pergunta «Qual é a frequência com que faz sexo?»
exige que se saliente que isso é um assunto particular e que fazer perguntas sobre isso é um
exemplo de näo se estar a usar de bom julgamento social.
Quando as reacçöes de transferência ocorrem, de facto, elas devem ser diluídas
interpretando-as imediatamente e em termos gerais. Os sinais da transferência säo geralmente
ignorados na psicoterapia dinâmica até que comecem a ocupar lugar principal no decurso
do tratamento e possam, por isso, contribuir para interpretaçöes significativas (ver Weiner,
1975, Capítulo 10). Com pacientes com distúrbio limite, é contra-indicado deixar que as
reacçöes de transferência se acumulem desta maneira, por causa do dano que podem causar
à paz de espírito do paciente e à relaçäo de tratamento. Os objectivos do tratamento säo melhor
atingidos, quando as manifestaçöes de transferência em pensamentos, sentimentos ou acçöes,
ainda que subtis e passageiras, sejam apontadas logo que aparecem.
Uma vez identificados, as reacçöes de transferência do paciente limite devem ser elu-
cidadäs, descrevendo-as como o modo como as pessoas reagem geralmente em psicoterapia.
O impacto da interpretaçäo da transferência aumenta quando o terapeuta comunica que o
comportamento que está a ser interpretado é um acontecimento fora do comum, supreen-
dente e altamente pessoal, só compreensível nos termos das necessidades individuais e do
estilo de desembaraço do paciente. Isto é precisamente o que deve ser evitado, no trabalho
com uma pessoa limite. Em vez disso, o que deve ser transmitido é que as reacçöes de trans-
ferência, ainda que merecendo referência, näo säo de nenhum modo especiais nem parti-
cularmente significativas (por exemplo, «Toda a gente que se mete no tipo de terapia em
que-nós estamos fica zangada quando se lhes fala de alguma coisa com que näo lidaram bem;
por isso é natural que se sinta assim, de vez em quando»). Mensagens deste tipo retiram
as reacçöes de transferência a sua, por sinal, considerável potencialidade de ocupar a atençäo
do paciente e influenciar o seu comportamento. A importância das interpretaçöes enérgicas
da transferência, no contexto de uma terapia de confrontaçäo com pacientes limite, sobre-
tudo com adolescentes, foi trabalhada por Kemberg (1 984, Capítulo 9) e por Masterson (1 98 1,
Capítulo 9).
209
210
cêntinios e que me faria täo bem ter no seu consultórios O conteúdo desta pergunta carrega
as sementes da resposta. Os presentes dos indivíduos limite teräo um significado problemá~
tico extra. Receber um pequeno presente significa que o terapeuta concordará em receber
mais presentes e maiores; cada presente aceite significa que alguma coisa que outrora per-
tencia ao paciente, uma extensäo dele, faz agora parte da vida do terapeuta; mais ainda, tendo
tido o benefício de receber tanto do paciente, significa que o terapeuta está em dívida e que
se pode esperar que retribua, com tanta afeiçäo e apoio quanto o paciente deseja.
Assim, o receber, tal como o dar, alimentam esperanças falsas e preparam o terreno
para recriminaçöes amargas, quando essas esperanças näo se realizam. Quando mais longe
o terapeuta avançar no caminho florido de aceitar presentes maiores ou maiores favores,
mais intensas as reacçöes negativas tenderäo a ser, quando ele der voz de parar. O melhor
lugar é aquele em que é mais fácil traçar a fronteira é no princípio, o que significa näo receber
nada do paciente senäo o que ele tem para dizer na terapia.
Para o dar e também para o receber, a alternativa terapêutica ao envolvimento inade-
quado consiste em identificar, para os adolescentes limite, o tipo de necessidades interpes-
soais que estäo a induzir os seus pedidos. Tal como as outras confrontaçöes, essas explica-
çöes raramente encontram um ouvido aberto, pelo menos näo da primeira vez. A recusa do
terapeuta em dar ou receber pode causar ansiedade ou choque, o que produz uma situaçäo
muito desconfortável. No entanto, «desconfortável» descreve apropriadamente a maioria dos
aspectos da relaçäo de tratamento com os pacientes limite e a situaçäo é mais fácil de lidar
quando o terapeuta tiver sido firme, desde o início, do que quando ele estiver a recusar um
favor grande, depois de ter aceite muitos favores pequenos pelo caminho. Além disso, uma
posiçäo consistentemente firme, quanto ao dar e receber, contribui para o terapeuta colocar
limites claros na natureza da relaçäo de tratamento. Independentemente de quäo dolorosos
esses limites possam ser, para alguns pacientes limite, eles promovem progresso na terapia,
fornecendo a protecçäo de uma situaçäo estruturada, näo ambígua e previsível.
Moderar a clivagem
A relaçäo de tratamento pode ser usada com bons resultados para ajudar os pacientes
limite a reconhecer e a moderar o recurso defensivo à clivagem. Estes pacientes alternam
geralmente entre querer que os terapeutas os amem e cuidem deles e ficar zangados com
eles por näo o fazerem. A sua tendência para a clivagem leva-os, com frequência, a encarar
os terapeutas de maneiras extremadas - como extremamente bons ou sadicamente cruéis,
como imensamente atraentes ou terrivelmente feios, como altamente qualificados ou tremen-
damente inaptos, e assim por diante. Quando tais concepçöes extremas säo expressas, o tera-
peuta deve concentrar-se no ajudar os pacientes a reconhecer que estäo a ver o terapeuta
como querem vê-lo, näo como ele realmente é; que estäo a formar opiniöes a branco e preto,
211
sem admitir a possibilidade de tonalidades de cinzento (por exemplo, que o terapeuta às vezes
é duro ou näo muito atraente) e que eles estäo apenas a centrar-se em certas características
ou acçöes isoladas do terapeuta e näo estäo a dar uma atençäo equilibrada à totalidade da
sua natureza ou comportamento.
Uma vez que as tendências para a percepçäo interpessoal distorcida tenham sido subli-
nhadas a traço grosso no contexto do relacionamento de tratamento, o terapeuta estará bem
posicionado para mostrar ao paciente como tem feito também clivagens nas outras relaçöes.
Tal como as cozniçöes desadaptadas e tal como os afectos em geral, estas distorçöes inter-
pessoais defensivas, uma vez reconhecidas pelos pacientes tal qual säo, tornam-se acessíveis
à modificaçäo através de nova confrontaçäo e treino de competências de desembaraço.
É necessário fazer mençäo dos problemas de contratransferência que se levantam,
especificamente, no tratamento de pacientes limite. Já se disseram muitas coisas acerca das
dificuldades que os pacientes limite tendem a causar aos seus terapeutas em virtude da croni-
cidade da sua condiçäo, a intensidade dos seus afectos, a precaridade do seu relacionamento
interpessoal e os limites da sua tolerância à ambiguidade. Os terapeutas que tratam indiví-
duos limite devem tomar constantemente decisöes estratégicas, durante as sessöes, e formas
juízos sumários sobre as situaçöes de crise que aparecem à tona, entre as sessöes. Raramente
podem relaxar a sua vigilância.
Para tornar as questöes piores, os pacientes limite que impöem este pesado fardo estäo
raramente satisfeitos com os melhores esforços do terapeuta para empreender essa tarefa.
Pelo contrário, em funçäo da sua psicopatologia, eles esperam mais do que é razoável, pedem
mais do que deveria ser dado e responsabilizam o terapeuta por os privar daquilo que teriam
direito de receber. Isto indu-los a sujeitar os terapeutas a frequentes ataques de raiva, durante
os quais atacam a sua desumanidade, caluniam a sua competência profissional e ridicula-
rizam o seu estilo pessoal. Giovacchini (1985) sugere, a este respeito, que os adolescentes
limite, tendo sido tratados como objectos transicionais pelos seus pais, tendem a tratar os
terapeutas da mesma maneira-- negando a sua existência como uma pessoa e usando-os como
objectos para controlar, manipular e abusar psicologicamente, sem consideraçäo pelos seus
sentimentos.
Como pormenorizadamente o caracterizou AdIer (1985, Capítulo 10), uma desvalo-
rizaçäo assim pode ser dolorosa de suportar para os terapeutas. Mesmo que reconheça que
é a patologia do paciente que está a falar e näo a voz de uma apreciaçäo objectiva e realista,
o terapeuta passará bastante para evitar sentir-se desamparado («Este paciente é intratável»),
inadequado («O paciente é tratável mas eu näo sou capaz»), culpado («O paciente é tratável
e eu sou capaz, mas näo tenho estado a fazer o meu melhor trabalho») ou zangado («Eu estou
a trabalhar bem e o paciente näo tem razäo para me falar desta maneira»).
Num tom semelhante, Kroll (1988, Capítulo 8) descreve como a contratransferência
provocado pelos pacientes limite pode levar os terapeutas a sentir motivaçöes potencialmente
conflituosas que devem ser reconhecidas e prevenidas, para que näo resultem em comporta-
212
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Tal como a depressäo, a ansiedade é uma reacçäo emocional universal. Toda a gente
sente momentos de incerteza e preocupaçäo que provocam as conhecidas manifestaçöes de
ansiedade: reacçöes motoras como tremuras, estremecimentos, contracçöes nervosas, tensäo,
fraqueza e incapacidade de descontrair; reacçöes fisiológicas como transpirar, boca seca,
respiraçäo difícil, palpitaçöes, dores de estômago e diarreia; reacçöes cognitivas como
apreensäo, preocupaçäo, ruminaçäo e diminuiçäo da concentraçäo. Quanto mais frequente-
mente ocorrem estas reacçöes, quanto mais persistem, quanto menos justificáveis säo pelo
stress identificável da vida e quanto mais interferem na capacidade da pessoa para funcionar
socialmente, na escola ou no emprego, tanto mais provável é que constituam uma pertur-
baçäo patológica de ansiedade.
As perturbaçöes de ansiedade ocorrem em dois tipos: um em que a ansiedade é sen-
tida, na sua maior parte, e outra em que está grandemente ligada. Quando se sente uma ansie-
dade excessiva, o indivíduo sofre numa de duas maneiras: (a) mais ou menos continuamente
de várias manifestaçöes inotoras, fisiológicas e cognitivas de ansiedade (a condiçäo referida
como «ansiedade livre» ou «distúrbio ansioso generalizados ou (b) episodicamente, de ata-
ques agudos desses sintomas (a condiçäo usualmente designada de «pânico»). Quando a ansie-
dade excessiva está ligada, a pessoa inicia padröes persistentes, repetitivos e desadaptados
de pensar e de actuar que o poupam à experiência da ansiedade livre.
O distúrbio generalizado de ansiedade pode ocorrer em adolescentes sob a forma de
ataques de pânico, e consiste em episódios, às vezes inexplicáveis, de afliçäo intensa. Con-
tudo, estes tipos de distúrbio de ansiedade näo säo particularmente frequentes em adoles-
centes, nem têm qualquer significado especial no seu desenvolvimento. Pelo contrário, os
distúrbios obsessivo-compulsivo e fóbico, as duas perturbaçöes de ansiedade mais comuns
em que a ansiedade está ligada a um comportamento desadaptado, têm significado especial
220
221
o perigo adoptando uma abordagem cautelosa, circunspecta e restritiva ao lidar com a expe-
riência. Contudo, mais geralmente, o distúrbio toma forma gradualmente e de uma maneira
menos óbvia. Inicialmente, ligeiros e passageiros episódios sintomáticos däo lugar, gradual-
mente, a obsessöes e compulsöes mais persistentes e incapacitantes que aumentam, com o
tempo, até atingirem a dimensäo de psicopatologia diagnosticável (ver Mavassakalian, 1986;
Rapoport, 1986; Shear & Frosch, 1986).
O distúrbio obsessivo-compulsivo pode tomar forma, quer como manifestaçöes sin-
tomáticas que o indivíduo experimenta como indesejáveis e estranhas ao ego, quer como um
estilo de personalidade que, independentemente do quäo desadaptativo seja de facto, a pessoa
percepciona ego-sintonicamente como o seu modo habitual e apropriado de ser. Na formu-
laçäo do DSM-III-R, os sintomas obsessivo-compulsivos definera a presença de um distúrbio
de ansiedade ou neurose sintomática (o que recai no Eixo I), enquanto o estilo obsessivo-
-cc>mpuls@@vo de personalidade desadaptada identifica um ffistúrbio de personalidade ou
neu-
rose de carácter (o que recai no Eixo 11). O distúrbio obsessivo-compulsivo de personali-
dade näo é, consequentemente, um distúrbio de ansiedade e näo abarca necessariamente a
neurose obsessivo-compulsiva. No entanto, a apreciaçäo da natureza dos traços obsessivo-
-compulsivos de carácter pode facilitar a compreensäo e o tratamento de pacientes com um
distúrbio sintomático obsessivo-compulsivo.
Sintomas obsessivo-compulsivos
222
9
de serem vítimas de acidentes ou desastres naturais, incluindo indivíduos que näo
apresentam outros sintomas mas que fazem tudo o que é possível para evitar
viajar de aviäo. Quando esse negativismo e essas aversöes assumem as propor-
çöes de ruminaçöes mórbidas com calamidades iminentes e preocupaçöes cons-
tantes com a inevitabilidade de desfechos deploráveis, constituem sintomas
obsessivos.
223
As compulsöes säo actos repetitivos, inúteis que a pessoa sente necessidade de rea-
lizar mesmo contra o seu melhor bom senso. A falha ou incapacidade de realizar os rituais
autoconsignados enche os indivíduos compulsivos de uma sensaçäo insuportável de medo
e de catástrofe iminente. Os rituais compulsivos aparecem particularmente no contexto de
tarefas de vida diária, como comer, vestir-se, utilizar a casa de banho, manusear o dinheiro
e ir e vir à escola ou ao trabalho. A maior parte das vezes, estes rituais tomam a forma de
lavar as mäos ou outro comportamento de asseio, o evitamento ou repetiçäo de certos actos
ou movimentos e vários tipos de comportamentos de contagem, verificaçäo e de tocar em coisas.
Alguns desses actos compulsivos nascem como um meio de ceder a uma preocupaçäo
obsessiva ou de a exprimir. Isto ocorre, por exemplo, quando as pessoas temerosas de con-
taminaçäo começam a lavar as mäos de hora a hora, ou as pessoas que duvidam de ter ligado
o despertador conferem o relógio cinco vezes diferentes, antes de adormecer. Outros actos
compulsivos servem para desviar a atençäo de preocupaçöes obsessivas e conseguir alguma
segurança mágica sobre a possibilidade de as manter sob controlo. Assim, o rapaz do exemplo
anterior pode pensar para si mesmo: se guardares oito moedas no bolso, nem mais uma nem
menos uma, e tocares os dois lados da porta quando entrares no autocarro, tu serás capaz
de manter o teu controlo e näo agarrar o seio da rapariga. O defeito desta abordagem ao
controlo de si próprio é, evidentemente, que o ritual compulsivo controla agora mais a pessoa
do que é por ela controlado. .
Os estudos clínicos com adolescentes obsessivo-compulsivos indicam que a maioria
apresenta provavelmente combinaçöes múltiplas destes vários sintomas, incluindo obsessöes
e compulsöes. No que diz respeito aos sintomas distintos, os que säo mais geralmente obser-
vados, ocorrendo em 50% dos pacientes ou mais, säo obsessöes que implicam contaminaçäo
e compulsöes que incluem lavagens repetidas, ordenaçäo, arrumaçäo, verificaçäo e outras
condutas ritualísticas. Contrastando com as diferenças de sintomatologia relacionadas com
a idade que caracterizam a maioria dos outros tipos de transtorno psicológico, estes padröes
de sintomas observados em adolescentes obsessivo-com ulsivos säo virtualmente idênticos
aos que se observam em crianças e em adultos com esta condiçäo (Riddle, Scahill, King,
Hardin, Towbin, Ort, Leckman & Cohen, 1990; Swedo & Rapoport, 1989).
No seu conjunto, estes sintomas identificam a natureza profunda do distúrbio obsessivo-
-compulsivo como sendo o sentimento de se ser obrigado a tomar certas medidas ou a pensar
224
225
226
ldeacäo
227
uma conclusäo sobre ela. A sua, é uma abordagem completa, cautelosa, reflectida de formar
juízos e tomar decisöes; a incerteza e a indecisäo crónicas tornam-se muitas vezes a cruz
que carregam. Escolher entre a camisa azul e a camisa amarela pode levar meia hora para
um rapaz com um estilo obsessivo-compulsivo, e pode ficar por resolver no seu espírito muito
depois do pai impaciente ter decidido, por ele, qual das camisas deve vestir.
O estilo ideativo pedante dos adolescentes obsessivo-compulsivos pode tornar penosa
a conversa com eles. Estes jovens raramente ficam satisfeitos com uma explicaçäo e ques-
tionam repetidamente se todos os factos e possibilidades de alternativas foram considerados.
Preocupam-se excessivamente com o significado preciso do que as outras pessoas dizem,
interrompendo frequentemente para pedir esclarecimentos sobre o modo como determinadas
palavras estäo a ser empregues. Com uma regularidade enervante, podem começar as suas
respostas a uma pergunta ou a uma declaraçäo assertiva com uma crítica ao modo como foi
formulada: «Näo é claro o que queres dizer.» «Podes ser mais específico?» «Näo sei a que
te referes.»
A necessidade de um ponto de referência das personalidades obsessivo-compulsivas
resulta, por vezes, em malcriaçäo ou estupidez quando nada disso era sua intençäo. Quando
lhe perguntam «Como estás hoje?» a pessoa pode responder, por exemplo «Comparado com
quê?» Por causa do seu estilo ideativo cauteloso, as pessoas obsessivo-compulsivas usam pro-
vavelmente mais palavras do que as necessárias para dizer qualquer coisa, e confundem o
seu discurso com qualificaçöes e elaboraçöes supérfluas. Enquanto tentam ser precisas e evitar
ser mal entendidas, acabam frequentemente por ser monótonas, prolixas, erráticas e muito,
muito aborrecidas.
Afecto
«As águas calmas säo füjidas» traduz o estilo afectivo das personalidades obsessivo-
-compulsivas - fortes correntes submersas mas nunca uma ondulaçäo à superfície. A des-
peito de sentirem ódio, amor e outras emoçöes, muito profundamente, os obsessivo-
-compulsivos geralmente mostram ao mundo uma face sem emoçöes. O seu estilo afectivo
é moldado por uma confiança defensiva no isolamento, através do qual despem os seus pen-
samentos das emoçöes que habitualmente os acompanham. O resultado é uma maneira um
tanto descolorida e imediata de expressar atitudes altamente emotivas. Enquanto outro tipo
de jovem poderia dizer «Eu odeio a minha mäe», por exemplo, um adolescente obsessivo-
-compulsivo pode dizer «Penso às vezes que näo gosto muito da minha mäe.»
Desta maneira, as comunicaçöes verbais dos indivíduos com um estilo obsessivo-
-compulsivo geralmente qualificam («às vezes») as emoçöes, intelectualizam-nas («eu. penso»)
e minimizam-nas («näo muito»). Tal como as palavras, a sua expressäo corporal da emoçäo
é geralmente constrangido e pouco espontânea. Raramente mostram alegria ou exuberância,
228
Relacöes sociais
Comportamento
Cautela, controlo e rigidez invadem o comportamento observável dos joven ' s com
estilos obsessivo-compulsivos. Actividades como as relaçöes interpessoais nunca säo assu-
midas espontaneamente. Os planos säo cuidadosamente feitos com antecedência, deixam pouco
ao acaso e nada é feito sob pressäo dos acontecimentos. Estes adolescentes toleram mal o
risco, evitam situaçöes que tenham um desfecho incerto e tornam tudo o que fazem num
empreendimento. Perseguem os seus interesses obstinadamente mas raramente com entu-
siasmo e parecem, constantemente, estar a agir por um sentido do que teria ou deveria ser
feito e näo do que seria divertido fazer.
Em virtude da sua natureza conservadora, os adolescentes obsessivo-compulsivos
agradam muitas vezes aos pais pelo seu conformismo, convencionalismo e confiança em
assuntos como chegar a casa a horas, poupar dinheiro e tomar boa conta dos seus pertences.
De facto, acima de tudo, os adolescentes obsessivo-compulsivos impöem ordem nas suas
vidas. Säo arrumados, limpos e bem organizados. Tudo é mantido no lugar próprio, desde
os cabelos na cabeça aos livros na estante. A sua meticulosidade, tal como as outras caracte-
rísticas do seu estilo afectivo e comportamental, produz muitas vezes uma impressäo favo-
rável nos adultos. A verdade é que däo-se prêmios e näo castigos pelo primor.
Contudo, os jovens obsessivo-compulsivos väo muito para além de um grau razoável
de pontualidade, economia e arranjo. Um tal esmero näo é um modo de vida escolhido para
229
eles, a fim de ser utilizado quando traz prazer e compensaçöes, e para ser trocado por com-
placência e desordem quando lhes apetecesse. Pelo contrário, a cautela e a Teserva säo neces-
sidades, obrigaçöes que têm de ser cumpridas para evitar a sensaçäo de negligência, mesmo
quando isso resulte em puniçäo ou em ridículo. Por exemplo, um rapaz atrasa-se a entregar
um trabalho de casa porque levou tempo a recopiá-lo e apanha uma nota mais baixa do que
a que teria recebido se entregasse a tempo a primeira cópia enxovalhada. Uma rapariga, ves-
tida esmeradamente com saia e camisola, aparece num churrasco na praia e parece deslo-
cada, sendo saudada com risinhos em vez dos piropos que se esperavam.
Finalmente, a rigidez dos adolescentes obsessivo-compulsivos pode estender-se ao
seu comportamento motor. Muitas vezes, a sua postura parece rígida e desconfortável, como
se achassem difícil descontrair o corpo, do mesmo modo que acontece com os pensamentos
e sentimentos. Os movimentos podem parecer desajeitados e artificiais mesmo se acontece
que sejam atléticos e tenham boa coordenaçäo. Quando usam expressöes faciais ou gestos,
o que acontece com menos frequência do que na maioria das pessoas, estes também impres-
sionam por serem forçados ou hesitantes. Um observador descreveu uma pessoa obsessivo-
-compulsiva especialmente constrangido dizendo «Quando ele sorri parece que o seu rosto
vai rachar. »
Factores genéticos
230
Factores de experiência
231
encarada senäo depois do comportamento ter sido expresso. Por isso, estas explicaçöes näo
dizem nada sobre a razäo do comportamento ter começado a ocorrer. Mesmo se, de facto,
as obsessöes e compulsöes evitam que as pessoas se perturbem, por que escolhem os indiví-
duos estes sintomas específicos em vez das fobias, do comportamento anti-social ou qual-
quer outra forma näo patológica de lidar com a ansiedade? Quanto à agressividade subja- @à
cente, por que desenvolvem alguns adolescentes, que lutam contra ela, sintomas
obsessivo-compulsivos enquanto outros, igualmente agressivos, apresentam outras formas
de psicopatologia ou mesmo nenhuma?
Näo existem, actualmente, boas respostas para estas perguntas, mas existem alguns
sinais de que os sintomas obsessivo-compulsivos tendem a aparecer mais em pessoas que
tenham uma personalidade obsessivo-compulsiva e que estes tratos emergem em resposta
a algumas maneiras específicas como os pais tratam os filhos e lhes däo o exemplo para
seguirem. Estas influências de educaçäo foram primeiramente propostas por Freud (1908/1959;
1913/1958) nos seus escritos iniciais, em que atribuiu o estilo obsessivo-compulsivo de per-
sonalidade a um rígido treino do asseio. Referindo-se a este estilo de personalidade como
«carácter anal», ele relacionou as suas características primárias com um excessivo zelo parental
no treino do controlo das fezes. Sugeriu que uma recompensa generosa pela aprendizagem
da retençäo dos dejectos conduz à frugalidade; grandes elogios pelo controlo das dejecçöes
contribuem para a boa ordem; a exigência contra a qual a criança se rebela produz a obstinaçäo.
Os resultados da investigaçäo confirmaram que, de uma maneira consistente, os traços
que Freud atribui ao carácter anal ocorrem de facto, em conjunto, nalgumas pessoas. Existem
algumas provas de que o grau de «analidade» de uma pessoa está directamente relacionado
com a intensidade das atitudes «anais» expressas pela mäe. Por outro lado, a descriçäo por
Freud do carácter anal aguentou melhor a prova do tempo do que a sua explicaçäo da maneira
como se origina. Enquanto o estilo obsessivo-compulsivo de personalidade, tal como ele o
descreveu, é um fenômeno identificável e que ocorre seguramente, näo tem sido demonstrada,
no entanto, a relaçäo entre o modo como as crianças säo treinadas no asseio e o facto de serem
frugais, arrumadas e obstinadas (Fisher & Greenberg, 1977, Capítulo 3; Pollack, 1979).
Tem sido sugerido que é mais o modo como as crianças sentem o treino do asseio
do que o modo como parece aos outros que determina se desenvolveräo um estilo obsessivo-
-compulsivo de personalidade. Contudo, este tipo de hipótese implica um raciocínio circular
que, tal como a telologia, deve ser evitado ao tentar-se explicar as origens das características
de personalidade ou do distúrbio psicológico. A hipótese admite que as pessoas obsessivo-
-compulsivas sentiram o treino do asseio como severo e traumático; contudo, dada a pouca
capacidade das crianças pequenas para conceptualizar, verbalizar e relembrar as suas expe-
riências, a única prova de terem sido rigidamente treinadas no asseio é a emergência de traços
obsessivo-compulsivos.
O raciocínio clínico tende para uma tal circularidade, sempre que a qualidade da expe-
riência de uma pessoa näo é ou näo pode ser avaliada independentemente do resultado que
232
se postula como causado por essa experiência. As hipóteses que envolvem este tipo de racio-
cínio näo podem ser falsificados: se o resultado näo aparece, conclui-se simplesmente que
a experiência näo teve lugar.
As hipóteses que envolvam o raciocínio circular, ainda que às vezes sejam estimu-
lantes como artigos de fé, contribuem pouco para o avanço do conhecimento. Para dar expli-
caçöes potentes da maneira como os factores da experiência moldam os traços obsessivo-
-compulsivos e outras características de personalidade, as teorias do desenvolvimento devem
ser deduzidos das observaçöes da maneira como as crianças säo de facto educadas. Embora
a este respeito o treino do asseio näo tenha sido salientado, os dados da observaçäo indicam
realmente que os pais promovem um desenvolvimento de personalidade obsessivo-compulsiva
através dos prêmios e castigos que distribuem e dos modelos que fixam. Ao encorajar, espe-
cificamente, as características ideativas, afectavas, interpessoais e comportamentais deste estilo,
ao mesmo tempo que desencorajam outros padröes, e ao conduzir as suas vidas de uma maneira
obsessivo-compulsiva, os pais modelam o estilo de desembaraço das suas crianças segundo
linhas obsessivo-compulsivas. Quanto mais exigentes e perfeccionistas säo e quanto mais
as crianças se identificam com eles, tanto mais provável será que este resultado aconteça
(Clark & Bolton, 1985; Hoover & Insel, 1984).
Há boas razöes para esperar que as descobertas futuras respeitantes às origens do
distúrbio obsessivo-compulsivo venham a implicar tanto os factores genéticos como os da
experiência, especialmente no que diz respeito ao estilo de personalidade. As fontes de expe-
riência de variaçäo no estilo de personalidade implicam muitos acontecimentos que näo säo
partilhados pelos membros da família. Isto significa (a) que a experiência partilhada näo é
especialmente importante na produçäo de semelhanças de personalidade entre as pessoas e
(b) que é provável que venha a ser comprovada uma contribuiçäo genética inequívoca para
a incidência familiar de características obsessivo-compulsivas e de outras características de
personalidade (ver GoIdsmith, 1983). Ao mesmo tempo, uma vez que as vulnerabilidades
---ticas aos transtornos psicológicos intera em certamente com os processos familiares ao
gene 9
influenciar o desencadear e a persistência de qualquer transtorno, para explicar os dados emer-
gentes quanto às origens do distúrbio obsessivo-compulsivo, tornar-se-äo necessários o papel
inequívoco dos factores da experiência no distúrbio obsessivo-compulsivo e o tipo de modelo
de diátese-stress semelhante ao introduzido no Capítulo 3 (ver Scarr & McCartney, 1983;
Turner, Beidel & Nathan, 1985).
Gerald era filho único numa família de classe média sem história de transtorno psi-
cológico. Quando criança, näo tinha tido nenhum problema sério de adaptaçäo mas, com
233
1 1 anos, foi visto por um psicólogo em virtude das preocupaçöes dos pais com o seu fraco
aproveitamento na escola e ser socialmente retraído. Uma avaliaçäo diagnostica, nessa altura,
indicou que era um rapaz tímido, um tanto isolado, que parecia estar a desenvolver um estilo
obsessivo-compulsivo de personalidade mas que näo manifestava qualquer psicopatologia sig-
nificativa. Ele e os pais tiveram um curto aconselhamento e conquanto näo tivesse feito muitos
progressos na formaçäo de amizades, os 4 anos seguintes passaram sem dificuldades psico-
lógicas assinaláveis.
Quando tinha 15 anos, morreu o avô com quem tinha uma relaçäo muito estreita,
após curta doença. Todos os dias durante a doença terminal, Gerald esteve de visita à sua
cabeceira. Poucas semanas depois do funeral, começou a desenvolver rituais obsessivos.
De manhä tinha que lavar a cara durante 15 minutos; os trabalhos de casa tinham que ser
lidos quatro vezes e os trabalhos escritos tinham de ser copiados quatro vezes; o cacifo da
escola tinha de ser verificado quatro vezes cada vez que ele o trancava e cada objecto que
manuseava tinha de ser colocado de uma certa maneira. A sua vida vigil ficou dominada
por rituais deste tipo e ele era atormentado por medos de que, se falhasse em cumpri-los
a risca, algo de terrível lhe aconteceria ou aos pais «Eu seria alistado no exército e mandado
para o Vietnam. e morto» (estava-se em 1965).
Gerald contou este problema aos país que organizaram uma maneira de ele começar
uma terapia. Reagiu bem à focalizaräo comportamental para conseguir o controlo dos
rituais e ficou essencialmente livre de sintomas nos 2 meses seguintes. Alguns dos
métodos específicos de tratamento utilizados seräo descritos na próxima secçäo deste
capítulo.
Durante o decurso do trabalho comportamental de restriçäo dos rituais, Gerald
relatou algumas fantasias persistentes que lançam alguma luz nas suas preocupaçöes subja-
centes. O número «4» que figurava proeminentemente nos rituais, lembrava-lhe 1940 que,
por sua vez, lhe lembrava a Segunda Guerra Mundial. Ele gostava de ler histórias de guerra
e imaginava-se muitas vezes a ser transportado numa máquina do tempo de volta a essa
guerra onde podia lutar, matar gente e fazer prisioneiros sem ter que se arriscar a ser
molestado.
Gerald revelou que era um entusiasta da boa forma física, que mantinha uma rotina
árdua de exercícios diários de musculaçäo, estudava judo e karate e gostava de pensar em
«pôr na ordem qualquer pessoa que me aborreça.» Contudo, de facto, nunca tinha entrado
realmente numa luta física e tinha sempre evitado jogos e desportos violentos, porque «alguém
se pode magoar.» Para alguém täo obviamente preocupado com ser o agente ou a vítima
de agressäo na vida real, embora täo inclinado a deter-se em ambas nas fantasias, a morte
súbita do avô pode ser vista como um ímpeto para um controlo ritualístico extremo desti-
nado a reduzir a possibilidade de qualquer comportamento pernicioso ou ameaçador da vida
ser perpetrado por si, ou contra si.
234
Os métodos comportamentais
235
236
237
A estratégia central para trabalhar com Gerald era substituir os seus rituais invasores
com rituais delimitados e menos desadaptados. Implícitos nesse plano estavam os esforços
concertados para utilizar e näo desafiar o seu estilo obsessivo-compulsivo e promover o sen-
tido de autodeterminaçäo. Demandaram-se estes objectivos estabelecendo uma finalidade posi-
tiva para cada série de rituais-alvo e construindo, entäo, um ritual substituto que atingisse
mais rápida e eficientemente esse mesmo propósito.
O primeiro alvo, identificado ao pedir-lhe que escolhesse por onde deveria começar
o tratamento, foi a verificaçäo compulsiva do cacifo da escola, quatro vezes, cada vez
que ele o trancava. Ao perguntar-se-lhe por que verificava a fechadura, ele respondeu
«Porque, se näo o fizer, tenho medo de acabar no Vietnam.» Foi-lhe dito, entäo, que
esta era uma razäo negativa que apontava para o que havia de mal em näo verificar o fecho,
e que lhe estava a ser perguntado o que havia de bom na verificaçäo. Depois de alguma
reflexäo, ele respondeu que verificar o fecho era uma precauçäo prática contra o roubo das
coisas. O terapeuta louvou esta preocupaçäo com a salvaguarda dos seus pertences como
uma razäo positiva razoável para se certificar que o cacifo estava trancado; a seguir pediu-
-lhe para especificar exactamente quantas acçöes seriam necessárias, na medida do razoável,
para garantir uma tal protecçäo. Gerald concluiu que trancar o fecho cuidadosamente e
depois verificá-lo uma vez, deveria ser suficiente para assegurar a segurança dos seus per-
tences.
Foi entäo dito ao Gerald que, durante a semana seguinte, cada vez que fechasse o
cacifo deveria trancar o fecho cuidadosamente, verificá-lo uma vez e depois dar um passo
atrás, meter as mäos nos bolsos e dizer para si mesmo o seguinte: «Eu verifiquei o fecho;
agora posso ter a certeza que está trancado e que tudo no cacifo está seguro e protegido;
näo há absolutamente nenhuma razäo positiva para o verificar outra vez; vou afastar-me do
cacifo e vou para a aula.» Ele foi também informado de que poderia nem sempre ser capaz
de levar a cabo esta tarefa e que, se se sentisse incapaz de resistir a tornar a verificar o fecho,
deveria avançar e fazê-lo. Contudo., näo deveria irritar-se com esses lapsos e, da próxima
vez, deveria tentar, por todos os meios, a fórmula prescrita, bem como todas as vezes seguintes
que usasse o cacifo.
Foi aplicado um procedimento semelhante a uma longa lista de rituais que Gerald
seleccionou como alvos de tratamento. Para cada um deles, foi ajudado a identificar algum
valor positivo nos comportamentos (a maioria dos valores que especificou implicavam arranjo,
limpeza e aplicaçäo); pediu-se-lhe para decidir quais os passos que seriam suficientes para
assegurar o valor positivo (em cada caso, ele expressou a confiança em acçöes muito menos
repetitivas do que os seus rituais actuais); ensaiou alguns rituais alternativos, relativamente
económicas, baseados nas suas especificaçöes e numa série de afirmaçöes justificativas a
repetir para si próprio enquanto executava o comportamento modificado. Também foi repe-
tidamente instruído em que eram inevitáveis algumas falhas, que estas näo deveriam preocupá-lo
e que näo significavam que estivesse a perder a batalha contra o seu transtorno.
238
Terapia medicamentosa
Os relatos clínicos indicam que os métodos comportamentais säo mais eficientes para
tratar os de rituais compulsivos do que os pensamentos obsessivos. Enquanto se pode esperar
que a combinaçäo de exposiçäo ao vivo e prevençäo de resposta possa produzir resultados
positivos em cerca de 75 % dos pacientes com compulsöes e rituais proeminentes, apenas
40-45 % dos pacientes obsessivos sem rituais melhoram em resposta a estas técnicas (Chris-
tensen, Hadzi-PavIovic, Andrews & Mattick, 1987; Mavassakalian, 1986).
Podem sugerir-se duas razöes prováveis para este efeito diferencial. Primeira, no que
diz respeito à exposiçäo: as situaçöes que provocam rituais compulsivos como começar a
vestir-se, säo mais específicas e fáceis de identificar do que as situaçöes que provocam rumi-
naçöes obsessivas. Consequentemente, as tarefas destinadas a proporcionar uma exposiçäo
ao vivo podem ser delineados mais facilmente e com mais certeza de invocar o comporta-
mento sintomático no tratamento de rituais do que no trabalho com ruminaçöes. Segunda,
com respeito à prevençäo de resposta, está mais no âmbito das possibilidades das pessoas
deixar de executar um certo movimento motor, por mais difícil que seja, do que deixar de
pensar em certos pensamentos.
Os avanços farmacológicos nos anos 80 demonstraram que o hidrocloridato de clo-
mipramina, um antidepressivo tricíclico, Anafranil de nome de marca, pode ser útil no trata-
mento do distúrbio obsessivo-compulsivo, especialmente no que diz respeito aos pensamentos
obsessivos. Em vários ensaios clínicos, cerca de 50% de pacientes adultos e infantis, apre-
sentaram uma reduçäo acentuada tanto nos sintomas obsessivos, como nos compulsivos, logo
após poucas semanas do começo do tratamento com clomipramina (Christensen, Hazdi-
-PavIovic, Andrews & Mattick, 1987; Jaffe & Magnuson, 1985; Jenike, Baer, Summergrad
& Weilburg, 1989; Leonard, 1989b). Notaram-se estes efeitos positivos em pacientes que
näo tinham reagido previamente a outras medicaçöes com tricíclicos, e tanto estas melhoras
239
observadas directamente, como as que foram auto-relatadas, durante o período sob a acçäo
da clomipramina, parecem independentes de qualquer dos seus efeitos antidepressivos. Por
isso, se bem que a natureza do efeito da clomipramina ainda näo seja conhecida, existe alguma
razäo para encará-la como tendo efeitos anti-obsessivos específicos (Flament, Rapoport, Berg,
Sceery, Kilts, MelIstrom & Linnoila, 1985; Reid, 1983, Capítulo 8).
Por outro lado, mesmo nos pacientes obsessivo-compulsivos que reagem favoravel-
mente à terapia de clomipramina, os sintomas tornam-se menos intensos mas raramente desa-
parecem. Além disso, os benefícios do medicamento só persistem enquanto está a ser tomado.
Quando a medicaçäo é a terapia única, a sua cessaçäo será provavelmente seguida por uma
recaída em que os sintomas obsessivo-compulsivos voltam com toda a força (Flament, Rapo-
port, Berg, Sceery, Kilts, MelIstrom & Linnoila, 1985; Mavassakalian, 1983, 1986; Pato,
Zohar-Kadouch, Zohar & Murphy, 1988).
Estas conclusöes identificam a importância de combinar a terapia medicamentosa,
seja qual for a que pareça mais indicada, com intervençöes psicológicas delíneadas para pro-
mover uma auto-orientaçäo e umas melhoras sustentadas que näo sejam dependentes de medi-
camentos. Isto é especialmente verdadeiro para os adolescentes, preocupados como geral-
mente estäo com o controlo do próprio destino e com evitar imperfeiçöes do corpo e do espírito.
Pedir-lhes que ingiram substâncias que os controlam e que se submetam a rotinas diárias
que significam que säo defeituosos (como ter que tomar medicaçäo) pode interferir com o
sentir-se bem consigo próprios e movimentar-se rapidamente para ultrapassar as dificuldades.
A terapia medicamentosa que pareça necessária, e apropriada, funciona melhor com os ado-
lescentes quando é implementada, näo como o foco central da terapia mas, pelo contrário,
no contexto de uma relaçäo contínua terapeuta-paciente e como parte de um plano de trata-
mento amplamente focalizado, multimodal (Ryan & Puig-Antich, 1987).
Contudo, mesmo as combinaçöes mais vantajosas de tratamento comportamental e
farmacológico falham muitas vezes em evitar que o distúrbio obsessivo-compulsivo siga um
curso crónico, mesmo quando há unja reacçäo inicial positiva à terapia. Do lado positivo,
os estudos da investigaçäo indicam que, dos pacientes obsessivo-compulsivos tratados com
exposiçäo e prevençäo de resposta, aproximadamente metade fica livre de sintomas ou muito
melhorado no fim da terapia e que outros 40% apresentam uma melhoria moderada (Barlow,
1988, Capítulo 16). Os pacientes obsessivo-compulsivos tratados com a medicaçäo apropriada
mostram uma reduçäo de 30-60% nos seus sintomas, o que é sentido por eles, especifica-
mente, com uma melhoria muito significativa na sua capacidade de funcionar eficazmente
e de evitar sentir ansiedade (White & Cole, 1990).
Por outro lado, a maioria das pessoas que desenvolvem o distúrbio obsessivo-
-compulsivo permanecem, em certa medida, com sintomas, a despeito de beneficiarem do
tratamento. Esta persistência do transtorno prevalece em adolescentes e também em adultos.
Dos pacientes com distúrbio obsessivo-compulsivo estudados pela equipa de investigaçäo
de Rapoport, 25 que tinham sido vistos pela primeira vez entre os 10 e os 18 anos de idade
240
Psicoterapia
241
do assunto em discussäo. Para além de manter a sessäo de terapia em marcha, estas intrusöes,
quando apresentadas de uma maneira que ajuda o paciente a recebê-las como observaçöes bem
intencionadas e näo como uma crítica agressiva, promovem o progresso do paciente na
direcçäo de ser capaz de reconhecer e controlar essa dispersäo sem a intervençäo do terapeuta.
A espontaneidade é fomentada sempre que o terapeuta encontra uma ocasiäo apro-
priada quer para suspender a discussäo de um tópico bem ensaiado, quer para insistir na
discussäo de algum pensamento, sentimento ou experiência que tenha surgido sem que o
paciente tenha tido tempo para cogitar no que dizer sobre isso. O paciente obsessivo-compulsivo
que traz um depoimento escrito («Eu queria ter a certeza de explicar isto da maneira certa,
por isso escrevi as palavras que melhor o exprimem»), por muito que proteste, deve ser obri-
gado a falar sobre o que está no papel em vez de o ler ou entregá-lo ao terapeuta. Ao paciente
que, durante a sessäo, descobre acidentalmente uma nova ideia ou recordaçäo e que se propöe
entrar mais a fundo nela, da próxima vez, depois de ter ido para casa e de lhe dar uma atençäo
«completa e apropriadas, deve ser dito que o momento é agora. Como nos avanços contra
a dispersäo, esta insistência na espontaneidade serve um duplo objectivo se for apresentada
de uma maneira apoiante e encorajante: enriquece o conteúdo das sessöes de terapia e ajuda
os pacientes obsessivo-compulsivos a reconhecer os as ectos do seu comportamento que,
podem e devem modificar, com bons resultados.
242
243
que säo observados clinicamente e que atinge o seu máximo, como motivo para envio a um
profissional de saúde mental, entre os 13 e os 15 anos de idade (Ferrari, 1986; Hersov, 1990;
Last & Strauss, 1990).
Dois outros factores básicos acerca da fobia escolar emergiram dos levantamentos
clínicos. Primeiro, ela ocorre igualmente em rapazes e raparigas. Em várias centenas de casos
de fobia escolar, incluídos em 17 estudos diferentes, revistos por Gordon e Young (1976),
260 eram rapazes e 267 eram raparigas. As avaliaçöes subsequentes concordam que a fobia
escolar e a sua expressäo na recusa à escola ocorrem com a mesma frequência em rapazes
e raparigas (Hersov, 1990; Turner & Beidel, 1989).
Segundo, os jovens com fobias escolares näo diferem dos seus colegas em inteligência
ou nível de aproveitamento. Tanto as notas de QI como os níveis de aproveitamento distribuem-
-se da mesma maneira nos jovens com fobias escolares e na populaçäo escolar em geral (Hampe,
Milier, Barrett & Noble, 1973).
A fobia escolar manifesta-se clinicamente em certos padröes de formaçäo de sintomas
que ajudam a estabelecer o seu diagnóstico diferencial. Além disso, a fobia escolar ocorre
tanto em formas agudas como crónicas; a diferença entre elas tem importantes implicaçöes
para o planeamento do tratamento.
Padröes de sintomas
A fobia escolar consiste numa relutância ou recusa em ir para a escola por causa de
ansiedade intensa sentida no contexto escolar. Os adolescentes com fobia escolar expressam
a sua relutância em frequentar a escola através de queixas físicas que convencem os pais
em mantê-los em casa, como seja uma dor de cabeça, dor de estômago, náusea ou garganta
inflamada. Se bem que possam exagerar essas queixas, os jovens com fobia escolar sofrem
geralmente de padecimentos físicos reais, com a perspectiva de estar na sala de aula,
incluindo dor, diarreia, vómitos e mesmo febre. Uma vez por outra, antecipam mais esses
problemas do que os sofrem e, nesse caso, avisam os pais de que têm a certeza que väo
ficar doentes se forem mandados à escola. Noutros casos, seja para além das queixas físicas,
seja em vez delas, os adolescentes com fobia escolar fazem várias críticas à situaçäo escolar
como razäo para näo querer frequentá-la: os professores säo injustos, o trabalho é maçador,
o percurso de autocarro é demasiado comprido, os outros estudantes säo antipáticos e assim
por diante.
As apreensöes fóbicas relativas à escola, quer sejam expressas como queixas físicas,
quer como críticas à escola, näo podem ser ignoradas nem suprimidas. Se estes jovens säo
forçados a ir à escola, ficam muitas vezes täo doentes ou perturbados que podem ter que
ser mandados para casa. No entanto, nem o desconforto físico nem as outras queixas podem
ser tomadas pelo seu valor facial.
244
245
-eensível para a sua recusa escolar a näo ser que estavam receosos e näo eram capazes de
rícionar ali. Por outro lado, enquanto estavam em casa, permaneciam contentes, satisfeitos
de resto, livres de sintomas.
Os relatórios clínicos e de investigaçäo subsequentes confirmaram que este padräo
dificuldade em frequentar a escola tem pouco em comum com a vagabundagem típica.
s adolescentes vagabundos geralmente detestam a escola, têm pouco aproveitamento nos
,tudos e ocupam-se a procurar maneiras de se divertir fora de casa, sem o conhecimento
,u o consentimento dos pais. Pelo contrário, a maioria dos jovens com fobia escolar ficani-
,e por casa, com o consentimento dos pais, se näo mesmo com a sua aprovaçäo. Na escola,
-ndem a ter, pelo menos, notas médias, e é característico que queiram ter bons resultados
ios estudos e que fiquem preocupados com o seu atraso. Quando se lhes pergunta, dizem
jue gostam da escola e gostariam de encontrar uma maneira de voltar (ver Barth, 1986, Capí-
.ulo 7; Galloway, 1985; Hersov & Berg, 1980; Sominer, 1985).
A fobia escolar também deve ser diferenciada da ansiedade de separaçäo. A recusa
frequentar a escola mostra dois picos de incidência, um entre os 5 e os 7 anos, e o outro
íos 1 1 aos 14 anos (Blyth & Siminons, 1983; Hersov, 1990; Rutter, Tizard, Yule, Graham
& Whitmore, 1976). Estes dois períodos altos de início do problema correspondem a momentos
de transiçäo importante na vida de um jovem: os primeiros anos da escola primária e a entrada
para o ensino secundário.
Quando a recusa à escola aparece nos primeiros anos da escola primária, é caracte-
rístico que os sintomas tenham menos que ver com o estar na escola do que com ansiedades
de estar separado dos pais. As crianças em idade escolar com ansiedade de separaçäo temem
geralmente estar longe de casa ou que aconteça alguma desgraça aos pais. Estas apreensöes
säo muitas vezes evocadas ou exacerbadas por acontecimentos como a doença de um dos
pais ou a sua entrada num hospital para uma operaçäo, um fogo ou um assalto que ocorram
em casa quando näo está ninguém, ou ouvir os pais falar de divórcio ou de irem de férias
para longe. As crianças para quem estes acontecimentos precipitam uma ansiedade de sepa-
raçäo excessiva parecem sentir uma responsabilidade de estar em casa para «se certificarem»
de que nada de mau ali acontece (ver Atkinson, Quarrington & Cyr, 1985; Estes, Haylett
& Johnson, 1956; Nader, Bullock & Caldweli, 1975).
Pelo contrário, a verdadeira fobia escolar consiste, näo na recusa da escola relacio-
nada com ansiedades de estar longe de casa, mas sim com apreensöes e medos de aspectos
dolorosos da situaçäo escolar. As ansiedades normativas de desenvolvimento por estar sepa-
rado dos pais e da casa podem e muitas vezes dispöem os jovens a reacçöes de fobia escolar.
Contudo, as ansiedades de separaçäo ocorrem mais frequentemente antes da adolescência
e näo durante ela, e näo produzem uma aversäo fóbica ao ambiente escolar, na ausência de
embaraços e humilhaçöes associadas especificamente com o estar na escola. Dada a maior
tendência para o embaraço social que acompanha a entrada na adolescência, o ponto alto
da incidência de recusa à escola dos 1 1 até aos 14 anos de idade deriva principalmente da
246
fobia escolar, enquanto rigorosamente definida, enquanto o pico dos 5 até aos 7 anos de idade
ocorre principalmente como reflexo da ansiedade de separaçäo.
Estas e outras diferenças entre os distúrbios de ansiedade de separaçäo das crianças
pequenas e o distúrbio de fobia escolar dos adolescentes foram cuidadosamente examinadas
por Last e colegas (Last, Francis, Hersen, Kazdin & Strauss, 1987; Last & Strauss, 1990).
As suas conclusöes confirmam que a fobia escolar tem uma tardia idade de início e conduz
a uma maior recusa de frequentar a escola do que o distúrbio de ansiedade de separaçäo.
Por outro lado, 92% dos sujeitos com ansiedade de separaçäo que estudaram, comparados
com 63 % dos seus sujeitos com fobia escolar, tinham também alguma condiçäo diagnosti-
cável, mais frequentemente uma perturbaçäo afectiva ou uma outra perturbaçäo ansiosa. Estes
dois grupos diferiam claramente quanto a se os medos eram principalmente de estar na escola
ao
(o grupo com fobia escolar) ou de estar longe de casa (o grupo com ansiedade de separaç~ ) .
Tal como os autores apontaram, os dados parecem suficientes para validar a distinçäo entre
estes dois tipos de perturbaçäo, uma vez que qualquer dos dois pode resultar em fobia escolar
embora por razöes diferentes.
247
248
nível aponta para um papel menor dos factores biogenéticos nas fobias do que na esquizo-
frenia e nos distúrbios efectivos. Há peruca base para se poder sugerir qualquer transmissäo
genética para além de uma provável vulnerabilidade constitucional a estas situaçöes, em geral,
e os dados actuais säo inadequados para sustentar, quer uma formulaçäo psicossocial do modo
como as fobias säo originadas, quer uma teoria biogenética do que as causa (ver DeIprato,
1980; Fyer & Klein, 1986; Turner & Beidel, 1989).
Na falta de estudos etiológicos definitivos, as origens das fobias em geral e da fobia
escolar em particular podem ainda ser conceptualizadas, adequadamente, de acordo com uma
hipótese interactiva que abarque a vulnerabilidade ao distúrbio e os acontecimentos nega-
tivos de vida. De acordo com esta, a probabilidade que um jovem se torne inaceitavelmente
receoso de estar na escola pode ser avaliada a partir de um determinado conjunto de factores
de predisposiçäo e precipitantes que säo encontrados, caracteristicamente, em associaçäo com
o distúrbio de fobia escolar.
Factores de propensäo
O papel da mäe
As mäes dos jovens com fobia escolar tendem a ser mulheres dependentes que se
ressentem de ter de sacrificar as suas próprias necessidades às exigências dos cuidados dos
filhos e que duvidam da sua própria capacidade para proporcionar uma maternidade ade-
quada às crianças. Ter tais pensamentos e sentimentos induz estas mäes, de uma maneira
peculiar, a superproteger os filhos, desde o início da vida. Fazem todos os esforços possí-
veis para satisfazer os desejos dos filhos, para os escudar das privaçöes e da frustraçäo, e
para captar o seu amor e afeiçäo. Ser solícitas e dedicados aos filhos ajuda muitas vezes estas
mäes a denegar o seu ressentimento pelas responsabilidades parentais e a suprimir os senti-
mentos de ser uma mäe incompetente. «Vejam. que bom trabalho estou a fazer.» diz a sua
conduta, «e quanto o meu filho me ama» (ver Berg & McGuire, 1974; Clyne, 1966; Wal-
dron, Shrier, Stone & Tobin, 1975).
No entanto, mesmo os pais mais solícitos se defrontam com exigências que tentam
a sua paciência e o seu sentido das conveniências. As mäes de crianças com fobia escolar
lançam muitas vezes as sementes da recusa escolar quando näo conseguem lidar calma e fir-
memente com tais exigências. Em virtude da sua natureza dependente, estas mulheres recuam
em relaçäo a confrontaçöes exaltadas; por causa da sua necessidade de manter as boas graças
249
dos filhos, cedem a pedidos que consideram inaceitáveis ou excessivos. Esta capitulaçäo tem
consequências funestas, tanto para a mäe como para o filho. A mäe, já sobrecarregado pelo
seu limitado sentido de competência, sente-se afectada e explorada pelo filho e fica cada vez
mais amargurada por ter que suportar um fardo parental. O filho, tendo descoberto que a
insistência pode triunfar sobre a autoridade, o poder e o bom-senso dos adultos, tende para
novas tácticas manipuladoras e expectativas irrealistas: «Eu consigo o que quero se fizer sufi-
ciente barulho. »
Caracteristicamente, entäo, há mäes que promovem a dependência nos filhos. Väo
muito longe para os poupar aos problemas; disciplinam os filhos através de seduçöes, apelos
à razäo e súplicas de respeito; e preferem manter próximos os filhos, física e psicologica-
mente. Quando a fobia escolar ameaça pela primeira vez, elas reagem geralmente de maneiras
que complicam o problema. Se os jovens murmuram contra uma situaçäo na escola, elas
säo lestas a consolar e concordar, ou sugerem mesmo que poderiam ser precisos uns dias
longe da escola. Ao ouvir queixas de dor de cabeça ou de estômago, elas raramente duvidam
da prudência de ficar em casa.
Este tipo de mäe é claramente ambivalente em relaçäo ao padräo de fobia escolar,
uma vez instituído, e com respeito aos esforços de qualquer terapeuta cujo aconselhamento
procurem. Ao mesmo tempo que dizem alto que desejam um rápido regresso à escola, elas
comunicam de uma maneira camuflada aos filhos faltosos que estäo a gostar de os ter em casa
e que näo estäo a pensar em tomar acçöes drásticas para abortar a recusa da escola: «Tu
deverias voltar para a escola hoje, mas parece que vai chover e eu näo quero que te cons-
tipes, por isso vamos esperar até que o tempo melhore.» Ao mesmo tempo que apelam para
a ajuda do terapeuta para alterar o absentismo da criança e também a sua dependência exage-
rada, elas transmitem que o que realmente querem é que pouca coisa mude.
Os sentimentos confusos que as mäes têm com respeito ao tratamento dos jovens com
fobia escolar säo muitas vezes evidentes logo na primeira entrevista. O terapeuta pode encontrar
a mäe aninhada com a crian a na sala de espera, como se a estivesse a preparar para o pior.
.Ç
Ela pode informar rapidamente o terapeuta que o jovem vai ter dificuldade em sair do seu
lado, ao mesmo tempo que segura a criança firmemente ou revela, pelo seu tom de voz,
que näo quer entregar os seus cuidados a ninguém. No adolescente mais velho em que, pelo
menos em público, é rara uma infantilizaçäo täo flagrante, é ainda comum que a mäe se intro-
meta nos esforços iniciais do entrevistador para se relacionar com o paciente, como se qui-
sesse certificar-se de que quaisquer transacçöes diagnosticas ou terapêuticas só teräo segui-
mento através dela. Estas mäes geralmente esperam e preferem ser entrevistadas primeiro,
e que o jovem seja atendido na sua presença.
Se o adolescente reage entusiasticamente às propostas do terapeuta, as mäes exibem
muitas vezes desapontamento e mágoa. Se o terapeuta, entäo, leva o adolescente sozinho
para o consultório, a mäe pode ficar mesmo do lado de fora da porta, sempre pronta para
entrar a correr e consolar a angústia que antecipa que o filho sinta (ou que espera que sinta)
250
quando está assim separado dela. Numa entrevista conjunta, as mäes dominam geralmente
a conversa até ao ponto de o terapeuta ter poucas oportunidades de interessar o jovem ou
de começar a estimular uma relaçäo terapêutica positiva.
A contribuiçäo do pai
É típico dos pais dos jovens com fobia escolar intensificarem na família a relaçäo
mäe-filho problemática pois näo conseguem oferecer, especificamente, um equilíbrio que
contrarie à superprotecçäo das esposas. Na maior parte dos casos, os pais säo homens pas-
sivos, dependentes, que partilham com as mulheres a necessidade de proteger e de satisfazer
os filhos, como um meio de os manter perto e assegurar o seu amor. Estes pais tendem a
estar mais preocupados com a manutençäo, a todo o custo, da paz no lar do que em propor-
cionar regras ou em administrar a disciplina. Tal como as esposas, eles recuam perante qual-
quer suspeita de dificuldade iminente e cedem às exigências da criança, ao primeiro sinal
de lágrimas ou birra. Isto deixa a criança confrontada, näo com um, mas com ambos os pais
cuja abordagem educativa promove a dependência, a excessiva confiança em si e as tendên-
cias manipuladoras que estäo associadas com a susceptibilidade à fobia escolar (ver Chotiner
& Forrest, 1974; Malmquist, 1965; Skynner, 1974).
Este tipo de pai também partilha com as esposas a ambivalência em relaçäo à fobia
escolar e ao seu tratamento. Exortam os jovens a voltar à escola e expressam ao terapeuta
um apoio total a quaisquer medidas que possam ser necessárias para resolver a dificuldade
de frequência. No entanto, mostram uma inclinaçäo notável para se agarrar às razöes de adia-
mento («Talvez devêssemos esperar até o princípio da próxima semana em vez de o levar
amanhä, para lhe dar o fim de semana para se distraíras); para capitular perante uma manipu-
laçäo evidente («Mas, doutor, ela diz que pára de comer se a fizermos voltar como combi-
námos, e nós näo nos devemos arriscar a deixar que ela adoeça, ou devemos?»); e a diluir
ou sabotar directamente o tratamento («Eu sei que ele deveria ir à sua consulta mas apareceu-me
uma reuniäo importante, a minha mulher näo gosta de guiar no trânsito da tarde, e näo há
outra maneira de o levar aí, por isso talvez pudéssemos deixar isto assim esta semana»).
Nalguns casos, os pais promovem a predisposiçäo para a fobia escolar, näo por serem
eles próprios superprotectores mas por encorajarem as esposas a sê-lo. Estes tendem a ser
homens desligados das famílias e demasiado absorvidos nas suas próprias actividades para
prestar muita atençäo ao que se passa em casa. Uma relaçäo mäe-filho próxima convém bas-
tante aos objectivos do pai desinteressado porque o poupa a ser incomodado pelas responsa-
bilidades parentais. Näo raro, este tipo de pai de um fóbico escolar mantém-se sem cons-
ciência de que o jovem está a faltar à escola até que, por acaso, o absentismo lhe chama
a atençäo - por exemplo, telefona para casa, durante o dia, e a criança atende, ou o director
da escola contacta-o para discutir uma ausência prolongada.
251
Tamanha negligência reflecte muitas vezes näo só o afastamento do pai mas também
um pacto entre a mäe e o filho para manter o problema da frequência da escola como um
«segredo» só deles. Estes pactos desenvolvem-se, geralmente, a partir das tentativas da mäe
para cultivar a obediência da criança em casa subornando-a com a promessa de näo contar
ao pai a recusa à escola. O jovem, por seu lado, capitaliza nesta oportunidade de negociar
o bom comportamento em casa, pela garantia de que o pai näo será informado, pai esse que
é encarado como pouco compreensivo e menos manipulável do que a mäe. Quando este tipo
de pai sabe, finalmente, da situaçäo de fobia escolar, fica geralmente furioso e acusa a mulher
do problema. Se a reacçäo de fobia à escola persistir, ele tende a vacilar entre culpar a mulher
pela sua maternidade inepta e o «lavar as mäos» de todo o assunto; em qualquer dos casos,
o seu comportamento só serve para intensificar as dificuldades já existentes.
Os jovens que têm uma predisposiçäo para a fobia escolar desenvolvem geralmente
três orientaçöes características nas suas experiências, em reacçäo às práticas educativas dos
pais. Primeira, tendo sido superprotegidos, tendem a desenvolver-se, durante a infância e
entrada na adolescência, como indivíduos altamente dependentes e subservientes. A sua insu-
ficiente preparaçäo para a autonomia e para a confiança em si expöem-nos a uma ansiedade
considerável sempre que se espera ou se lhes exija que actuem por si próprios. Nessas situa-
çöes, a sua primeira preferência é retrair-se para a dependência segura e sem problemas que
conheceram em casa, debaixo da asa dos pais.
Segunda, estas crianças tomam-se muitas vezes exigentes e manipuladoras por causa
da maneira como os pais os satisfizeram ou mesmo encorajaram a impôr as suas necessi-
dades à família. Querem o que querem e quando o querem. Lamentam-se, pedem, choram,
gritam, batem com os pés, sustêm a respiraçäo, fazem toda a espécie de promessas e
ameaças - seja o que for que calculem que possa ser eficiente para virar a situaçäo no sen-
tido do seu capricho. Quando näo conseguem fazer a sua vontade, agarram na trouxa e väo
para casa, o que é uma metáfora que capta exactamente o que acontece quando se recusam
a ficar na escola porque alguma coisa ali näo é exactamente da maneira como querem que seja.
Terceira, como resultado da relutância dos pais em discipliná-los ou frustrá-los, os
jovens com fobia escolar desenvolvem geralmente um sentido exagerado de domínio. Foram
muitas vezes capazes de governar, através de exigências, birras, ameaças e queixas físicas,
näo só os seus próprios assuntos, mas também as situaçöes domésticas como a hora de servir
as refeiçöes, a oportunidade dos pais saírem ou de receberem visitas. Contudo, ao mesmo
tempo que se tornam peritos em conseguir que os pais capitulem, os jovens com fobia escolar
têm geralmente pouca oportunidade de fazer uma apreciaçäo realística sobre o nível de domínio
que podem manter fora do lar. Entäo, abordam especificamente a situaçäo escolar com uma
252
fé infundada nos próprios poderes e pouca segurança pessoal a que recorrer, quando reco-
nhecem dolorosamente que o mundo näo cai aos seus pés da maneira como os pais fazem
(ver Berstein, Svinger & Garfinkel, 1990; de Aldaz, Feldman, Vivas & Gelfand, 1987; Jackson,
1964; Leventhal & Sills, 1964).
Estes padröes de interacçäo familiar näo säo peculiares da fobia escolar nem säo sempre
dela preditivos. Alguns adolescentes com fobia escolar e seus pais podem näo encaixar exac-
tamente na descriçäo precedente; da mesma maneira, uma constelaçäo familiar de uma mäe
superprotectora, um pai igualmente superprotector ou desligado e um jovem muito apegado,
manipulador e demasiado confiante, pode estar associada a uma variedade de estados patoló-
gicos ou até nenhuma. Além disso, o início de uma reacçäo clara de fobia escolar requer
uma interacçäo dos padröes familiares predisponentes com acontecimentos precipitantes que
gerem preocupaçöes com o estar na escola, tal como vai ser discutido em seguida. Tendo
em devida conta estas consideraçöes, verificar-se-à que os padröes familiares descritos nesta
secçäo caracterizam, apesar de tudo, a maior parte dos casos de fobia escolar.
Factores precipitantes
Os episódios de fobia escolar ocorrem em reacçäo a experiências que fazem com que
os adolescentes fiquem muito ansiosos por estar na escola. Estes acontecimentos precipi-
tantes säo especialmente óbvios nas reacçöes agudas de fobia escolar e tendem a ser menos
evidentes à medida que a fobia escolar se torna um modo de vida. Mesmo a incapacidade
há muito existente e gradualmente desenvolvida de frequentar a escola tem de começar nalgum
lado e uma história cuidadosa revelará geralmente experiências penosas que, embora remotas,
pöem em marcha o absentismo do adolescente com fobia escolar crónica.
Os factores precipitantes mais comuns na fobia escolar envolvem mudanças ou emba-
raçoT que as pessoas predispostas para esta condiçäo näo conseguem lidar. Para os adoles-
centes demasiado dependentes, demasiado confiantes, a mudança é difícil, sempre que, em
situaçöes novas, se exige que actuem de uma maneira mais independente do que actuaram
até aí. É muito provável que a mudança para um novo bairro e nova escola esteja implicado
no início de uma fobia escolar porque requer começar novamente a constituir amizades com
novos professores e colegas.
As dificuldades de lidar com a mudança ajudam a explicar por que razäo a fobia escolar
começa geralmente depois da entrada para o secundário. Os jovens têm entäo de abandonar
a sua relaçäo familiar de sala de aula com um professor primário principal. Mudam de classes
e de professores várias vezes ao dia, com uma vigilância mínima, e é-lhes dada uma respon-
sabilidade cada vez maior de gerir o seu tempo, de organizar o estudo e até de escolher os
seus temas. Os adolescentes mal preparados para uma independência assim, podem ter uma
ansiedade aguda quando mudam de um programa escolar básico relativamente estruturado
253
Beverly, uma estudante da sexta classe, de 12 anos de idade, anunciou aos pais que
näo ia mais a escola. Quando pressionada a fornecer razöes só referiu ter sido escarnecido,
254
na sexta-feira anterior, por vários rapazes na aula, quando fora incapaz de responder a uma
pergunta. Os pais procuraram ajuda profissional, depois de uma semana em que näo foram
capazes de fazer Beverly mudar de ideias. Disseram que, embora a recusa da escola tivesse
aparecido de repente, há vários meses que ela estava cada vez mais irritável, facilmente des-
controlável, e teimosa em fazer a sua vontade, desde que tinha começado a ser menstruada.
Beverly era uma rapariga grande, bem desenvolvida, que parecia ter mais do que 12 anos.
Quando entrevistada, foi bem educada, agradável e lamentou a preocupaçäo que estava a
causar aos pais. Negou ter quaisquer problemas ou preocupaçöes e declarou que tinha sau-
dades de estar com os amigos e que estava pronta a voltar para a escola. A terapeuta apoiou
estas declaraçöes positivas (sendo talvez manipulada por elas) e o regresso à escola foi pla-
neado para o dia seguinte.
Na tarde seguinte, a terapeuta recebeu um telefonema do pai de Beverly em que se
podia ouvi-Ia a gritar. Beverly tinha convencido a mäe a deixá-la ficar em casa naquela manhä
(«Deixe-me ter só mais um dia para me sentir com forças para isso»). Quando, nessa tarde,
o pai voltou para casa do trabalho e exprimiu indignaçäo por este encaminhar dos aconteci-
mentos, ela reagiu partindo pratos até que ele parou de lhe ralhar. Contudo, ele foi capaz
de uma determinaçäo suficiente para telefonar à terapeuta por causa das objecçöes da filha.
No dia seguinte, quando a família foi recebida na segunda entrevista, as informaçöes
deixaram poucas dúvidas de que Beverly mantinha os pais constantemente na defensiva com
exigências insistentes, mudanças rápidas de opiniäo e birras bem calculadas. Era uma rapa-
riga muito observadora que torna-se perita em explorar a necessidade premente dos pais de
a aplacar e aos seus próprios medos de, como pais, agir mal.
Em entrevistas e telefonemas durante a semana seguinte, a terapeuta concen trou-se
em encorajar os pais de Beverly a lidar firmemente com ela e a insistir em que ela cumprisse
as suas promessas diárias de voltar à escola. Gradualmente, com o empurräo e o encoraja-
mento regular da terapeuta de que estavam a agir convenientemente, eles tornaram-se mais
ca@azes de ignorar as birras da Beverly, evitar entrar em discussöes com ela e permanecer
firmes, obrigando-a a frequentar a escola. Relataram, mais tarde, ter-se sentido culpados
quando a tratavam «täo cruelmente. » Contudo, näo só Beverly voltou realmente para a escola
sem outras queixas, uma vez que os pais deixaram de recuar, como também, para sua sur-
presa, ela tornou-se muito melhor humorada e menos exigente, à medida que eles conse-
guiam resistir a ser intimidados.
O início da recusa escolar de Beverly, imediatamente a seguir ao acontecimento apa-
rentemente precipitante de ser escarnecido na aula, sugeria uma reacçäo de fobia escolar aguda.
A ausência de outras dificuldades de adaptaçäo ou retraimento do grupo de colegas e a sua
rápida recuperaçäo em resposta a uma intervençäo breve eram consistentes com esta impressäo.
As origens básicas da sua ansiedade näo foram mais exploradas, dado o rápido regresso à
escola. Contudo, parece razoável conjecturar que a perturbaçäo vinha de algo mais do que
apenas ser incapaz de responder a uma pergunta. Como aluna da sexta classe, bem desenvolvida
255
fisicamente, que tinha que se levantar e recitar na aula, ela pode muito bem ter-se afligido
por os seus atributos físicos estarem em evidência - especialmente à luz do seu relato de
que tinham sido alguns rapazes, em particular, quem se tinha rido dela (risinhos talvez?).
Também digna de nota, neste caso, estava a capacidade e a vontade dos pais de modificarem
a sua actuaçäo, considerando que a reacçäo fóbica parou assim que deixaram de a aceitar
como maneira da filha lidar com quaisquer problemas que tivesse na escola.
256
A fobia escolar persistente que passa despercebida e sem tratamento tem implicaçöes
sériäs para a má adaptaçäo posterior. Uma vez que a fobia escolar tira os jovens da escola
e das arenas sociais em que ocorrem muitas experiências significativas de aprendizagem,
ela pode interferir seriamente na sua progressäo acadêmica e no desenvolvimento social.
A fobia escolar dos adolescentes prediz, com frequência, uma má adaptaçäo futura em situa-
çöes que requerem independência e confiança em si e é provável que cerca de um terço dos
jovens com uma relutância de base ansiosa ou recusa em frequentar a escola, tenham pro-
blemas emocionais persistentes, deficiências sociais e dificuldade em lidar com as exigên-
cias das subsequentes actividades universitárias e profissionais (Berg, Bufler & Hall, 1976;
Kandel, Raveis & Kandel, 1984; Steinberg, 1983, Capítulo 10).
A luz das consequências de longo alcance da ausência prolongada da escola, o trata-
mento deste distúrbio deve geralmente visar ter o adolescente de volta à escola o mais cedo
possível. Contudo, de um ponto de vista histórico, os clínicos que escreveram sobre a fobia
escolar discordam sobre o que constitui o «cedo». Alguns recomendaram que se utilize a
257
psicoterapia para ajudar os adolescentes com fobia escolar a compreender e analisar as suas
ansiedades antes de tentarem voltar para as aulas. Nesta abordagem, o regresso à escola seis
a doze meses depois de começar o tratamento tem sido considerado um sucesso (Coolidge,
Broffie & Feeney, 1964; Greenbaum, 1964; Hersov, 1990). Outros têm argumentado que
manter um jovem fora da escola, para fazer psicoterapia, reforça o sintoma absentista e atrasa
a recuperaçäo. Nesta perspectiva, a fobia escolar carece de intervençäo na crise, cuja pri-
meira prioridade é restabelecer a frequência, podendo a exploraçäo das origens do problema
vir depois (Leventhal, Weinberger, Stander & Stearrís, 1967; Millar, 1961; Paccione-
-Dyszlewski & Contessa-Kislus, 1987).
Embora algumas vezes possam ouvir-se debates violentos nesta matéria, os clínicos
têm vindo gradualmente a reconhecer que esta diferença de opiniäo pode ser geralmente resol-
vida quando se selecciona a abordagem de tratamento que melhor satisfaça as necessidades
de cada adolescente específico. Nos casos de fobia escolar, esta decisäo de tratamento deve
ser guiada pelo diagnóstico diferencial entre as formas agudas e crónicas do distúrbio (ver
McDonald & Sheperd, 1976; Shapiro & Jegede, 1973; Sperling, 1967). Quando a fobia escolar
é aguda, como no caso de Beverly, é provável que os adolescentes beneficiem mais de esforços
vigorosos para os ter de volta à escola, antes que se habituem a ficar em casa. Por outro
lado, se a fobia se tornou crónica, um certo período de psicoterapia deve preceder geral-
mente as tentativas de voltar, como no caso da Mary, a fim de evitar um nível intolerável
de ansiedade que destruiria os objectivos do tratamento. Estas duas abordagens podem ser
rotuladas como «regresso rápido» e «regresso tardio.»
Regresso rápido
258
de outras pessoas, especialmente os pais, a quem o terapeuta deve também instruir sobre
a natureza e objectivo do exercício. Numerosas circunstâncias especiais podem carecer que
os terapeutas que usam estas técnicas comportamentais utilizem uma maior habilidade para
arquitectar experiências ao vivo que ajudem os adolescentes com fobia escolar a vencer a
sua aversäo a estar na aula (ver Barth, 1986, Capítulo 7; Jones & Kaffin, 1981; Ollendick
& Mayer, 1984; Taylor & Adelman, 1990; Taylor & Arnow, 1988, Capítulo 9).
Quando trabalha com famílias de adolescentes com fobia escolar, o terapeuta também
precisa de as educar para evitar os tipos de comportamentos superprotectores que encorajam
o absentismo escolar. Embora esta reeducaçäo possa ser um projecto de mais longo prazo
do que pode ser ajustado a uma estratégia de regresso rápido, há geralmente muitas oportu-
nidades para ajudar os pais a restabelecer a sua autoridade na família. Este tipo de pais carece
de apoio e de encorajamento para se opor ao seu filho (ou filha) que esteja a dirigir as opera-
çöes em casa, e precisam que se lhes assegure que, assumindo a chefia e desafiando a recusa
à escola estäo a fazer o que é melhor para a sua criança. Os pais podem ainda necessitar
de orientaçäo para resolver divergências, entre si, relativas à maneira de controlar a filha
ou o filho (ver Hsia, 1984; Yule, 1989). Entäo, como no caso de Beverly, o terapeuta pode
conseguir contar com os pais como aliados no tratamento; na fobia escolar, sem a determi-
naçäo parental em diminuir a sua superprotecçäo, em resistir a ser manipulado e em seguir
as instruçöes do terapeuta, as possibilidades de um retorno rápido estäo severamente limitadas.
O sucesso das estratégias de retorno rápido aumenta ao implementá-las com uma inter-
vençäo na crise. A família precisa ser atendida logo após ter telefonado ou ter sido enviada
para ajuda, e precisa de ser contactada todos os dias, pessoalmente ou pelo telefone, durante
as fases iniciais da formulaçäo do plano de tratamento. Logo que tenha sido feito o diagnós-
tico de uma fobia escolar aguda, o terapeuta necessita de persuadir os pais de que os inte-
resses do jovem näo estäo a ser satisfeitos pelo absentismo. Os adolescentes com fobias esco-
lares agudas devem ser informados de que os seus problemas näo se resolveräo ficando em
casa, de que o regresso à escola é obrigatório, e de que o papel do terapeuta será ajudá-los
a voltar à escola e auxiliá-los no manejo de toda a afliçäo que sintam ao regressar. Entäo,
guiado pelas características particulares do caso individual, o terapeuta pode planear um
esquema para quando e como tentar um regresso à escola, para as sessöes com o adoles-
cente, a fim de trabalhar na reduçäo da ansiedade, e para encontros com os pais, para lhes
dar orientaçäo e apoio.
Pode esperar-se que os programas de tratamento activo, que combinam a ajuda aos
adolescentes no lidar com as ansiedades relacionadas com a escola com a sua permanência
nas aulas, consigam devolver à escola a maioria dos adolescentes com fobia escolar aguda,
com razoável bem-estar e dentro de alguns dias ou meses (Blagg & Yule, 1984; Kennedy,
1965; Rodriguez, Rodriguez & Eisenberg, 1959). Dois outros suplementos do tratamento
podem, às vezes, melhorar ainda mais estas possibilidades. Ocasionalmente, um aspecto per-
turbante muito específico da situaçäo escolar pode ser modificado, no interesse do adolescente
260
com fobia escolar, sem comprometer os requisitos acadêmicos normais. Por exemplo, um
professor muito crítico, que parece comprazer-se em expor a ignorância dos estudantes, pode
ser convencido a facilitar um pouco; ou, como no caso da Beverly, o permitir que a aluna
recite sentada na carteira, sem ter que se levantar e expor o corpo à observaçäo, pode fazer
muito na reduçäo da relutância em estar na aula (ver Cretekos, 1977).
Noutros casos, especialmente quando a reacçäo de fobia escolar roça o pânico e a
ansiedade sentida é especialmente intensa, diversos medicamentos têm sido indicados como
facilitadores do progresso no tratamento. Os melhores resultados nestes casos têm sido con-
seguidos com pequenas doses de imipramina (Tofranil), um antidepressivo tricíclico (Berns-
tein, Garfinkel & Borchardt, 1990; Klein, Ross & Cohen, 1987; McDaniel, 1986). Con-
tudo, falando de uma maneira geral, os psicofarmacologistas recomendam reservar a
farmacoterapia para a fobia escolar nos casos em que o jovem näo reage às intervençöes
psicossociais (Jaffe & Magnuson, 1985; Marks, 1987, Capítulo 15).
O regresso tardio
Quanto mais novos säo os adolescentes com fobia escolar, quanto menos tempo tiverem
estado sem escola e quanto mais circunscritas estiverem as suas dificuldades a problemas
de assiduidade na escola, tanto melhores seräo as perspectivas de sucesso na implementaçäo
de uma estratégiade regresso rápido na qual os pais estejam envolvidos como agentes terá-
pêuticos, e necessitando o trabalho com o jovem de ser só o estritamente intensivo para lograr
um fácil regresso à escola. Para os adolescentes mais velhos, em quem a fobia escolar já
se tornou crónica, com ausências repetidas de longa duraçäo e retraimento social ou outras
dificuldades psicológicas que se estendam para além da ansiedade em frequentar a escola,
pode já ter passado o tempo oportuno para uma intervençäo efectiva na crise. Estes casos
mais crónicos requerem provavelmente psicoterapia progressiva, focalizada mais no paciente
individual do que nos padröes de interacçäo familiar, e o regresso à escola pode ter que ser
encarado mais como um dos resultados do tratamento bem sucedido do que como um pré-
-requisito essencial para o progresso.
A psicoterapia de sujeitos com fobia escolar crónica, à semelhança do tratamento
intensivo de outros transtornos neuróticos, deve centrar-se em ajudar os pacientes a expressar
e a valorar as preocupaçöes subjacentes que levaram aos seus sintomas. Quanto mais livre-
mente säo encorajados a falar acerca das suas experiências desagradáveis na escola, tanto
mais oportunidades haverá para avaliarem a realidade das suas preocupaçöes e para conside-
rarem maneiras alternativas mais adaptadas de sentir e de agir. Ao mesmo tempo, porém,
como a fobia escolar ficou muitas vezes implantada num padräo mais abrangente de
fobia social, o terapeuta precisa de estar preparado para permitir que as preocupaçöes acerca
da escola permaneçam em pano de fundo enquanto se tratam de outros problemas de
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270
Para os estudantes realizarem o seu potencial acadêmico têm de se aplicar nos estudos.
As conclusöes da investigaçäo, ao longo de muitos anos, indicam, consistentemente, que
271
os jovens que singram na escola tendem a estar interessados na aprendizagem. Sentem-se
bem ao receber boas notas e vêem uma relaçäo clara entre ter sucesso no liceu e realizar
um desejo de frequentar a universidade ou qualificar-se para uma determinada ocupaçäo.
Pelo contrário, os jovens que näo se empenham nos valores intelectuais ou nos objectivos
acadêmicos têm falta de motivaçäo para o trabalho árduo na escola. Podem fazer esforços
para evitar os inconvenientes de um fracasso total, mas vêem pouca razäo para se dedicar
mais do que o necessário para ir singrando. Usualmente, eles näo gostam da escola e näo
esperam tirar satisfaçäo interna ou recompensas externas de fazerem bem, do ponto de vista
acadêmico. É sobretudo pouco provável que os alunos sem sucesso e sem motivaçäo percep-
cionem o trabalho escolar como relacionado com o que iräo fazer no futuro ou ajudando-os
a alcançar quaisquer objectivos de longo prazo (Gottfried, 1985; Pintrich & de Groot, 1990).
Para fins de diagnóstico diferencial, a marca distintiva da falta de motivaçäo, como
um determinante do insucesso escolar, é o seu rápido reconhecimento. O adolescente indi-
cará rapidamente que detesta a escola, que näo atribui grande importância a receber instruçäo
e pode até preferir ter notas medíocres. Para planificar uma resposta útil a essa circunstância,
o clínico deve explorar, na família, no grupo de pares, no papel sexual e nas influências
da escola, as possíveis origens dos valores e objectivos näo-educativos.
Influências familiares
Os jovens identificam-se geralmente com as atitudes dos pais relacionadas com a edu-
caçäo. Como resultado, os pais que däo apreço ao processo educativo promovem, geralmente,
sentimentos positivos pela aprendizagem escolar, enquanto os pais que duvidam da utilidade
de uma educaçäo formal, como um meio de avançar na vida, instilam, muitas vezes, senti-
mentos negativos. A falta de entusiasmo por aprender e um fastio pela escola podem ser
aumentados por pais que ridicularizam os professores, fazem troça do conteúdo das cadeiras
e mostram pouco interesse pessoal pela leitura, pelo alargamento dos seus conhecimentos
ou pelo envolvimento em discussöes intelectuais. Esses pais ignoram grandemente como os
filhos väo na escola e raramente fundamentam as suas demonstraçöes de apreço em se eles
cumprem os trabalhos de casa e recebem notas capazes. Criados desta maneira, é pouco pro-
vável que os adolescentes desenvolvam grande motivaçäo para ter sucesso nos estudos.
A investigaçäo que compara estudantes liceais de nível intelectual comparável, com
sucesso e com ínsucesso, confirma que os pais dos bons alunos säo geralmente mais encora-
jadores no que diz respeito ao desempenho na classe; que as famílias dos estudantes com
sucesso promovem mais activamente os interesses intelectuais dos filhos e favorecem uma
atitude positiva para com os professores e a escola; e que os bons alunos têm menos incli-
naçäo do que os maus a expressar atitudes negativas sobre a escola e a encarar os professores
como injustos e antipáticos (Butler-Por, 1987, Capítulo 2; Gesten, Scher & Cowen, 1978;
272
Wood, Chapin & Hannah, 1988). Os dados empíricos demonstram também o impacto aca-
démico do envolvimento parental nas vidas dos jovens. Quanto mais os pais dos adolescentes
sabem por onde andam e o que fazem, quanto mais se empenham com eles no planeamento
do seu futuro, e quanto mais controlam o seu desempenho na escola, mais tempo os adoles-
centes gastam nos trabalhos de casa e melhores notas recebem (Fehrmann, Keith & Reimers,
1987; Keith, Reimers, Felirmann, Pottebaum & Aubey, 1986).
Os clínicos com experiência estäo familiarizados com a frequência com que os pais
dos adolescentes com insucesso se queixam dizendo «Ela näo tem qualquer interesse nos
estudos» ou «Nós näo descobrimos uma maneira de o motivaras Em alguns desses casos,
pode acontecer que o fraco desempenho escolar do jovem reflicta algum problema pessoal
que ele lute por resolver. Contudo, quanto aos sistemas de valores partilhados, esta queixa
concreta revela muitas vezes que os pais, mesmo quando exprimem o contrário, abrigam
um desdém pela educaçäo, o que se reflecte no jovem sob a forma de fraca motivaçäo
acadêmica.
A este respeito, é típico o homem que se fez por si próprio e que, tendo tido sucesso
no mundo dos negócios a despeito de uma escolaridade limitada ou de um fraco curriculum
acadêmico, ralha com um filho com insucesso pelas suas notas baixas e «atitude errada» mas
que, no entanto, exprime que o considera «tal pai, tal filho». Esta aprovaçäo tácita do insu-
cesso escolar raramente falha em encontrar expressäo nas mensagens parentais, subtis mas
óbvias, que reforçam a apatia escolástica do adolescente. Há, de facto, boas provas de que
quanto menos escolaridade os pais tiveram, menos provável será que se impliquem nas acti-
vidades escolares dos filhos e mais provável será que os filhos recebam notas fracas e desistam
da escola (Ferhrmann, Keith & Reimers, 1987; Stevenson & Baker, 1987; Wetzel, 1987).
Pelo contrário, quanto mais instruçäo os próprios pais tiveram, tanto mais provável é que
os filhos tenham melhores notas, níveis de aspiraçäo educativa mais altos e que dêem impor-
tância a ser encarados pelos pais como orientados para os estudos (De Santis, Ketterlinus
& 'Youniss, 1990; Kurdek & Sinclair, 1988; Miller & Sneesby, 1988).
Houve uma tendência infeliz para atribuir ao estatuto socioeconómico parental as dife-
renças de apoio familiar dado às aquisiçöes educacionais. Descreveram-se os pais com esta-
tuto médio ou superior como bem qualificados e capazes de encarar a escolaridade como
uma maneira de preparar para a vida, social e psicologicamente bem como vocacionalmente.
Por isso, esperava-se que eles dissessem bem do que a escolaridade tinha para oferecer e
que seguissem de perto as actividades escolares dos seus filhos. Também se esperava, tipica-
mente, que apreciassem e discutissem com os filhos o significado do que estavam a aprender
na escola e recompensassem os seus desempenhos acadêmicos. Em comparaçäo, os pais de
estatuto mais baixo foram descritos como tendo provavelmente um mínimo de instruçäo,
olhando a escola como uma instituiçäo estranha e antipática e encarando a frequência dos
filhos como um mero requisito legal ou talvez como uma maneira de obter um emprego melhor.
Por isso, esperava-se que fossem relativamente incapazes de discutir as actividades
273
escolares com os filhos, de compreender e ajudá-los nos seus estudos e de elogiar os seus
sucessos na classe (ver Katz, 1967).
Nos actuais dias de diversidade cultural e acesso alargado às oportunidades educacio-
nais, especialmente através de ajuda financeira a nível universitário, já näo se sustentam essas
generalizaçöes respeitantes às famílias com dificuldades - se jamais o fizeram. Em primeiro
lugar, näo há grupo sociocultural ou socioeconómico em que todos os adolescentes parti-
lhem a mesma orientaçäo educacional e ocupacional. Num estudo de estudantes da décima
classe de um bairro de estatuto médio-baixo, por exemplo, Zarb (1 98 1) verificou que alguns
tinham desenvolvido bons hábitos de estudo e uma percepçäo realista de si próprios como
academicamente bem sucedidos e estavam a seguir bem nos estudos, enquanto outros tinham
fracos hábitos de estudo e um baixo conceito acadêmico de si e estavam com insucesso.
Segundo, as famílias, em qualquer grupo subcultural, podem manter atitudes larga-
mente diferenciadas e trazer diferentes influências para passar aos filhos. Em estudos que
compararam estudantes negros de baixos rendimentos, que estavam a ir bem na escola com
grupos semelhantes que estavam a ir mal, verificou-se que os pais dos estudantes com apro-
veitamento estavam mais interessados na educaçäo dos filhos, eram mais conhecedores do
sistema escolar e mais capazes de encorajar um sucesso escolar automotivado. Por outro
lado, os pais dos maus estudantes davam muito pouco no que se refere a uma estimularäo
intelectual (como ter livros em casa ou proporcionar espaço adequado de estudo) e transmi-
tiam poucas aspiraçöes de realizaçäo educacional ou quanto a um aperfeiçoamento vocacional
(Clark, 1983; Scheiféld, 1983).
Delgado-Gaitan (1986b) descreve entrevistas com pais de estudantes liceais de Chi-
cago cuja maioria näo tinha completado o ensino secundário e tinha trabalho de operário,
que acreditava que a escolaridade era a chave para o futuro sucesso económico da família
e estava determinada a fazer todo o possível para assegurar que os filhos completassem o
liceu. Os asiático-amerícanos, se bem que extraordinariamente bem sucedidos como rupo,
säo uma minoria heterogénea nos Estados Unidos que, a despeito de uma herança cultural
comum, incluem muitos que säo substancialmente incultos e com insucesso escolar (Sue &
Okazaki, 1990).
Finalmente, o enquadramento étnico e o estatuto económico exercem efeitos inde-
pendentes no sucesso escolar. Por exemplo, os adolescentes negros e hispânicos tendern mais
a desistir do secundário do que os brancos mas apenas em relaçäo com o nível económico
das famílias. Os estudantes de famílias pobres têm, a despeito da raça, de três a quatro vezes
mais probabilidade de desistir do que os provenientes de famílias mais prósperas, e os jovens
de estatuto económico comparável, de todos os enquadramentos étnicos, tendem, de um modo
semelhante, a permanecer no ensino secundário e a completá-lo (Wetzel, 1987).
No seu conjunto, estes dados mostram que os pais influenciam as atitudes e o sucesso
escolar dos filhos através do ambiente que criam em casa, independentemente do seu esta-
tuto socioeconómico (SES) ou do enquadramento étnico. Mais, White (1982) apresenta
274
indícios impressivos neste sentido, na revisäo integrada de 101 artigos publicados, versando
as relaçöes entre o sucesso acadêmico, os factores do ambiente socioeconómico e a atmos-
fera em casa, avaliadas por (a) as atitudes dos pais no que diz respeito à instruçäo, (b) as
aspiraçöes dos pais para os filhos, (c) a participaçäo familiar em actividades culturais e inte-
lectuais e, (d) a disponibilidade de materiais de leitura em casa. Em média, nestes estudos,
as medidas da atmosfera do lar correlacionavam-se de uma maneira substancialmente mais
forte com o sucesso escolar do que o nível educacional dos pais, o nível ocupacional, os
rendimentos e todas as combinaçöes destes índices socioeconómicos. Isto deixa pouca dúvida
de que muitos dos pais com o SES mais baixo conseguem, com êxito, criar um ambiente
no lar que promove a aprendizagem, enquanto muitos pais beneficiados social e economica-
mente podem näo o fazer.
275
çäo dos adolescentes mais novos sobre o ser diferente ou destacar-se dos seus pares, cederá
o passo no meio da adolescência, a aspiraçöes individuais ao sucesso e ao forjar da sua pró-
pria identidade acadêmica e ocupacional independente.
Uma vez que é mais provável que a pouca motivaçäo que provém das influências
do grupo de pares contribua para o insucesso, no princípio da adolescência, os clínicos, ao
avaliar o desempenho escolar fraco, num adolescente mais velho, devem geralmente pro-
curar a sua causa noutro lado. Quando as preocupaçöes com a aprovaçäo dos pares vem de
facto à superfície nos adolescentes mais velhos com dificuldades acadêmicas, as origens do
problema de aprendizagem estendem-se, provavelmente, para além da conformidade nor-
mativa aos pares e contêm elementos de imaturidade ou de interacçäo familiar desadaptada
que estäo entre os determinantes psicológicos do insucesso a serem considerados subsequen-
temente neste capítulo.
No que diz respeito às influências do papel sexual, as atitudes correntes do grupo,
em relaçäo ao que constitui um comportamento masculino e feminino apropriados, podem
também exercer uma influência poderosa na motivaçäo para ter sucesso na escola. Nos grupos
em que o esforço e o sucesso acadêmicos säo encarados como essencialmente femininos,
os rapazes que säo aplicados e bem sucedidos nos seus estudos arriscam-se a ser vistos como
outra coisa que näo um «rapaz normal» ou um «tipo fixe.» Nos grupos que consideram a
qualidade nos estudos e a preocupaçäo com a carreira como características masculinas, as
raparigas que prezam os seus estudos acima da sua vida social e têm objectivos sérios de
carreira podem descobrir a sua feminilidade posta em causa pela família e pelos amigos.
A este respeito, säo especialmente problemáticos os pais que reservam o seu entusiasmo para
as realizaçöes intelectuais dos filhos e têm pouco interesse ou prazer nos planos educativos
e nos sucessos das filhas. Este padräo duplo pode destruir a motivaçäo acadêmica em rapa-
rigas muito capazes e conduzir ao insucesso, da mesma maneira que ser chamado «maricas»
pode dissuadir um rapaz brilhante de pôr todo o esforço nos estudos.
Num estudo de famílias academicamente motivadas, Crandall (1972) fez, há alguns
anos, uma boa descriçäo de como podem operar estes conjuntos de atitudes. Nestas famílias,
os pais tendem a comunicar a importância da aprendizagem mais às filhas do que aos filhos,
mas estabelecem um padräo de exigência mais alto para o aproveitamento dos filhos do que
para o das filhas. Crandall atribuiu estas diferenças entre sexos aos estereótipos comuns:
os rapazes näo devem enfronhar-se demasiado nos estudos a expensas de actividades mais
«masculinas», ao passo que, para as raparigas, o trabalho escolar é uma actividade natural
e apropriada que elas devem desfrutar à-vontade; ao mesmo tempo, sair-se bem na escola
é, a longo prazo, mais importante para os rapazes do que para as raparigas, porque säo prin-
cipalmente os rapazes que teräo de se qualificar para os empregos e ganhar a vida. Destes
estereótipos aparece o dado aparentemente inconsistente destes pais proporcionarem mais
apoio à visäo das filhas de que a escola é importante, mas exprimirem mais preocupaçäo
com o desempenho escolar concreto dos filhos.
276
Influências da escola
Os adolescentes com capacidade que estäo adequadamente motivados para ter êxito
na escola podem ser impedidos de realizar os seus objectivos por circunstâncias educativas
277
que limitem as suas oportunidades de estudar e aprender. A mais largamente publicitada destas
circunstâncias é a falha do ensino primário em preparar adequadamente as crianças para o
trabalho do liceu e da universidade. Este problema é mais agudo nas cidades do interior e
nas zonas rurais empobrecidos onde os recursos educacionais tendem a existir em menor
quantidade. Os estudantes que frequentam escolas com falta de equipamento e de pessoal
onde se sentam em salas de aula superlotadas, escutando professores entediados ou incapazes,
podem näo adquirir as competências acadêmicas básicas e os hábitos de estudo de que neces-
sitaräo mais tarde. As crianças que começam o ensino preparatório sem ter aprendido, por
exemplo, a multiplicar e a ler fluentemente ou a fazer exames e os adolescentes que entram
na faculdade sem sequer terem tido de escrever uma composiçäo ou de conduzir uma expe-
riência de laboratório estäo mal preparados para responder às exigências educacionais que
os esperam.
Um considerável corpo de investigaçäo documentou que a maneira como as escolas
primária e secundária transmitem o curriculum tem importância na preparaçäo que os estu-
dantes recebem. Quanto mais conscienciosamente as escolas acompanham a sua tarefa edu-
cativa, sublinham objectivos acadêmicos e transmitem respeito pelos seus estudantes, tanto
melhor aproveitamento têm estes estudantes na sala de aula. Os estilos de ensino e as estraté-
gias empregues por cada um dos professores também afectam o desempenho dos alunos.
A ada taçäo dos elementos curriculares às características do estudante, percorrendo os con-
teúdos rapidamente mas em pequenos passos, modelando exemplos correctos, proporcio-
nando amplas oportunidades de participaçäo na aula e recompensando tanto o esforço como
o êxito, estäo entre as estratégias que se demonstrou facilitarem a aprendizagem (Barth,
1986, Capítulo 8; Brophy, 1986; Good, & Weinstein, 1986; Hallinan, 1987; Pokay & Blu-
menfeld, 1990).
O nível intelectual geral do corpo discente pode também estar incluído nos aspectos
da atmosfera de uma escola que podem influenciar o êxito individual. Falando de uma
maneira geral, estudantes corn iguais capacidades tendem a formar um conceito acadêmico
de si mais baixo, em escolas muito exigentes do que em escolas pouco exigentes. Uma vez
que as concepçöes dos estudantes acerca de como podem esperar desempenhar-se influenciam
as notas que realmente obtêm, estudantes igualmente capazes tendem a ter menor aproveita-
mento em boas escolas, do ponto de vista acadêmico, do que em escolas academicamente
más (Marsh, 1987).
O impacto educacional da atmosfera de uma escola também tenderá a variar com
o seu tamanho. Escolas grandes e impessoais podem näo cativar adequadamente os seus estu-
dantes. As escolas superlotadas das cidades do interior que servem jovens com dificuldades
estäo especialmente predispostas a esta limitaçäo que, no entanto, näo é de modo algum exclu-
sivo delas. As grandes escolas secundárias e complementares suburbanas, fornecidos com
recursos abundantes e frequentadas por estudantes com meios, proporcionam muitas vezes
os seus programas mais sólidos aos que estäo no topo e no sopé da escala intelectual.
278
DETERMINANTES DESENVOLVIMENTISTAS
279
Imaturidade
280
de idade, podem geralmente conceber o tempo como um intervalo entre dois pontos de medida.
Isto significa que os jovens de 15 anos de idade, cujos comentários nas aulas e respostas
aos testes reflectem orientaçöes relativamente concretas, como «tempo é o que o relógio
mostra», podem bem ser indicados para níveis mais atrasados do que os seus colegas igual-
mente inteligentes, cujo ritmo de desenvolvimento cognitivo mais característico lhes permite
pensar no tempo de forma abstracta, como um intervalo de medida.
Os dados da investigaçäo confirmam que a maioria dos jovens apresenta mudanças
de desenvolvimento no pensamento abstracto, da infância para a adolescência, e torna-se,
de facto, eventualmente capaz de pensamento operatório formal (ver McLaughlin & Pea,
1987). Por isso, antes de tirar quaisquer conclusöes sobre distúrbio, os clínicos devem iden-
tificar os casos em que o desempenho escolar baixou temporariamente em adolescentes que
estäo atrasados do ponto de vista do desenvolvimento mas que näo permanentemente incapa-
citados no que respeita às operaçöes abstractas. Assim, uma recomendaçäo mais apropriada
do que qualquer intervençäo clínica será a paciência e o apoio, em casa e na escola, até que
esses jovens se ponham a par, incluindo também, talvez, treino específico do pensamento
abstracto.
A imaturidade pode também contribuir para o insucesso, ao impedir os jovens de
formular os seus planos de futuro. O processo normativo dos fins da adolescência, de conse-
guir um sentido de identidade pessoal, implica orientar-se para certas direcçöes educacio-
nais e de carreira. Quando os jovens se atrasam neste aspecto, podem permanecer indecisos
ou podem nem se ocupar a pensar acerca do futuro.
A investigaçäo básica sobre a imaturidade vocacional demonstrou, há muito que,
quando näo se tem objectivos ocupacionais de longo prazo isso pode gerar desinteresse pelo
trabalho árduo e, assim, promover o insucesso acadêmico. Tanto nos estudantes de liceu
como nos da universidade, os bons alunos tendem mais do que os alunos fracos a já ter deci-
dido sobre um objectivo vocacional definido e os estudantes vocacionalmente indecisos mos-
tram menos empenhamento no trabalho, obtêm notas mais baixas e desistem mais frequente-
mente da escola do que os que têm um objectivo em mente (Holland & Holland, 1977;
Lunneborg, 1975). Ao mesmo tempo, há numerosos casos em que jovens que mostraram
pouco interesse ou aproveitamento na classe desabrocham como estudantes superiores e apli-
cados quando descobrem um campo de estudo ou um rumo de carreira que os entusiasme.
Finalmente, na avaliaçäo dos estudantes com insucesso deve dar-se alguma atençäo
à possível imaturidade emocional. Falando de uma maneira geral, a imaturidade emocional
contribui para os distúrbios de aprendizagem escolar da mesma maneira que a imaturidade
cognitiva. Isto é, a discrepância entre as exigências da classe e as expectativas do professor,
reguladas por um nível modal de maturidade, torna difícil, para os adolescentes emocional-
mente imaturos, obter notas equilibradas com a sua própria capacidade.
Os adolescentes academicamente talentosos que se adiantaram correm um risco especial
quanto a este padräo de dificuldade escolar. A personalidade sólida e o desenvolvimento social
@'@ M,
281
säo promovidos pelo facto de se estar em classes com estudantes da sua própria idade, com
quem se partilham necessidades e interesses semelhantes e níveis comparáveis de desenvol-
vimento físico, cognitivo e emocional. Por esta razäo, a prática que é costume observar mantém
os jovens inteligentes juntamente com os seus pares, mesmo quando se enriquece a aprendi-
zagem com a sua colocaçäo em cadeiras avançadas e trabalhos escolares especialmente
adaptados.
Contudo, algumas vezes os estudantes dotados podem ser enviados para a universi-
dade antes de terem atingido a parte final da adolescência. Num estudo com estudantes mar-
castamente avançados que começaram a faculdade antes dos 16 anos de idade, Janos, Sanfi-
lippo, e Robinson (1986) verificaram que a maioria se saiu bem, durante os anos de universidade
e também depois. Contudo, alguns, tornaram-se estudantes sem ânimo, fundamentalmente
porque as lutas continuadas com uma série de preocupaçöes juvenis os impediram de aplicar
o intelecto eficazmente. Estes adolescentes universitários com insucesso näo eram necessa-
riamente imaturos para 14 ou 15 anos de idade, altura em que chegaram ao campus universi-
tário, mas a sua relativa imaturidade no ambiente da universidade comprovara o desastre
acadêmico. Esta colocaçäo num ambiente de aprendizagem que requer mais maturidade emo-
cional do que a que o adolescente consegue congregar, pode preparar o caminho para o
insucesso.
282
desatençäo, impulsividade e hiperactividade, num grau desapropriado para a idade (Ame-
rican Psychiatry Association, 1987; Cantwell, 1986a; Hunt, 1988; Loney, 1987). Estima-se
que 50 a 80% das crianças com ADHD também têm dificuldades específicas de aprendi-
zagem. Contudo, as restantes näo têm. A despeito de uma considerável sobreposiçäo entre
as duas condiçöes, 20 a 50% das crianças com ADHD näo manifestam dificuldades especí-
ficas de aprendizagem. Da mesma maneira, muitas crianças com dificuldades específicas
de aprendizagem näo têm o síndroma ADHD (Lambert & Sandoval, 1980; Routh, 1986;
Rutter, 1983).
As características fundamentais do ADHD produzem, caracteristicamente, um com-
portamento impressivo e problemas de aprendizagem nas crianças que entram para a escola
primária. Como as crianças com ADHD säo agitadas e fáceis de distrair, têm dificuldade
em concentrar a atençäo nos professores e nas tarefas. Apreendem menos das discussöes
de grupo do que os outros estudantes, beneficiam menos do estudo individual, säo lentas
a completar os trabalhos de casa e os testes e muitas vezes säo incapazes de lembrar ou de
seguir as orientaçöes que lhes säo dadas. Por serem impulsivas e excitáveis, é frequente que
as crianças com ADHD se tomem impopulares. Os modos agressivos e disruptivos levam
os colegas e os professores a antipatizar com eles e a rejeitá-los. Experiências frustrantes
de inépcia acadêmica e de isolamento social contribuem para que formem má opiniäo de
si próprias e que sejam atraídas para vários tipos de comportamento anti-social (Grenell,
Glass & Katz, 1987; Ross & Ross, 1982, Capítulo 8; Whalen & Henker, 1985). Mesmo
na ausência de um síndroma ADHD, verifica-se que o insucesso na escola causado por difi-
culdades específicas de aprendizagem, conduz a relaçöes interpessoais aberrantes, a uma
imagem de si diminuída e a uma tendência para se portar mal (Bender & Smith, 1990; McCo-
naughy & Ritter, 1986; Miller, 1984; Stone & Lá Greca, 1990).
Os défices perceptivo-cognitivos e as dificuldades específicas de aprendizagem que
originam conduzem a um percurso diferente de desenvolvimento, a partir das manifestaçöes
fundamentais de comportamento do ADHD. Os jovens com ADHD tendem a permanecer
mais agitados, fáceis de distrair e impulsivos do que as outras crianças, mas adquirem um
maior controlo próprio à medida que amadurecem e se tornam, nestes aspectos, menos dife-
rentes dos colegas. Durante a adolescência e em contraste com a diminuiçäo dos comporta-
mentos do ADHD, os défices perceptivo-cognitivos tendem a persistir e os distúrbios de apren-
dizagem tendem a piorar, se näo houver uma intervençäo adequada (Brown & Borden, 1986;
Cantwell, 1.986b; Lambert, 1988; Wallander & Hubert, 1985; Weiss & Hechtman, 1986,
Capítulo 4).
A este respeito, é importante tomar em devida nota a natureza cumulativa das difi-
culdades de aprendizagem. Como as matérias das cadeiras se tornam mais difíceis, durante
o liceu, e se baseiam em conhecimentos anteriores, os estudantes com competências defi-
cientes e aprendizagem anterior fragmentada descobrem que é cada vez mais difícil manter-
-se a par. Por exemplo, as crianças com ligeiras dificuldades específicas de aprendizagem
283
284
285
alguma crise aguda ou reacçäo neurótica que na realidade näo existem. Embora os adoles-
centes com dificuldades específicas de aprendizagem, que começaram a ter insucesso no liceu
possam necessitar de ajuda para lidar com as suas reacçöes emocionais desadaptadas ao seu
desempenho escolar duvidoso, a chave para as suas melhoras está na ajuda educacional e
näo na psicoterapia.
Em anos recentes, os clínicos e educadores começaram a identificar este tipo de dis-
túrbio de aprendizagem de início tardio, mesmo nos estudantes que começam a universi-
dade. Pode parecer razoável admitir que os Analistas do liceu que se saíram suficientemente
bem na classe e nos testes de aptidäo para se qualificar para a admissäo à faculdade näo
podem ter dificuldades específicas de aprendizagem. Contudo, como foi descrito por Cohen
(1 983), uma estimativa de 6 % dos caloiros das universidades dos Estados Unidos têm difi-
culdades específicas de aprendizagem. Na maioria dos casos, conseguiram entrar na univer-
sidade em virtude de trabalho árduo, boa inteligência geral e uma situaçäo liceal que lhes
permitiu distinguir-se bem nas áreas fortes enquanto evitavam áreas de fraqueza. Na univer-
sidade, impossibilitados de evitar as áreas fracas e faltando-lhes muitas vezes ajuda especial,
estes estudantes podem ter dificuldade em se manter a par em cursos que däo ênfase à lei-
tura, à escrita, aos processos matemáticos e à aprendizagem de línguas estrangeiras ou de
computador.
Na The Psychopathology ofEvet?&y Life, Freud (1901/1960) sugeriu que certos tipos
de esquecimentos, actos falhados e lapsos no falar, ler e escrever, säo devidos a influências
inconscientes, especificamente, à expressäo disfarçado de impulsos reprimidos. Os erros que
representam o retorno do recalcado podem prejudicar o desempenho acadêmico dos estu-
dantes quando, por exemplo, um caloiro da universidade, perturbado pela bissexualidade
dos homens na Grécia antiga e necessitando denegrir as suas figuras mais importantes, escreve
um trabalho de filosofia em que se refere à obra de «Pluto», ou quando um estudante das
ciências sociais do liceu, que näo gosta de figuras de autoridade e näo ultrapassou as preocu-
paçöes infantis com as funçöes da eliminaçäo, se refere a Sir Stafford Cripps, um distinto
estadista britânico do tempo da II Guerra Mundial como «Stifford Craps» Stifford Merdas*.
Indo para além de tais lapsos, alguns teóricos psicanalíticos tentaram identificar a
origem das dificuldades generalizadas de aprendizagem nos efeitos de necessidades ou motivos
inconscientes, em jovens de inteligência normal e, em tudo o mais, bem adaptados. Nessa
primeira literatura, certos aspectos agressivos ou sexuais do processo de aprendizagem eram
encarados como causadores de um «bloqueio emocional» nos alunos com insucesso.
286
Por exemplo, a obtençäo de informaçäo olhando para a página de um livro pode ser interpre-
tado como um encontro activo com o meio ambiente e como uma expressäo de curiosidade.
Podem desenvolver-se aversöes ao processo de aprendizagem, se este tipo de actividade leva
os estudantes a sentir que estäo a ser demasiado agressivos ou se ser curioso estiver asso-
ciado, nas suas cabeças, com a curiosidade sexual que poderia levá-los a formular dema-
siadas perguntas embaraçosas ou a ver coisas que näo deveriam ver (Harris, 1965).
O conteúdo específico do material das cadeiras também pode ser uma fonte potencial
de aversöes à aprendizagem, em jovens com candentes preocupaçöes sexuais ou agressivas.
Os adolescentes que lutam com uma curiosidade infantil inibida ou insatisfeita acerca das
funçöes corporais e sexuais podem ter dificuldade em concentrar-se em matérias como bio-
logia. Do mesmo modo, os estudantes atormentados por fantasias agressivas podem ficar
pouco à-vontade com os romances cheios de violência, escolhidos para o estudo da língua
inglesa, o estudo de guerras e outras catástrofes, em história, e as dissecaçöes necessárias
em biologia. Cohen (1983), por exemplo, descreve um estudante que relatou «Eu continuo
a chumbar em ciências, fico täo nervoso com todo aquele sangue e tudo» (p. 181).
Embora estas aversöes específicas possam estar implicados nas dificuldades de apren-
dizagem, elas näo fornecem uma explicaçäo particulannente convincente para estes problemas.
A prova da sua validade está limitada às ilustraçöes de casos do tipo dos que foram mencio-
nados e ainda näo surgiu de nenhuma investigaçäo empírica sistemática. Além disso, a expe-
riência clínica e as conclusöes da investigaçäo sugerem que a vasta maioria dos problemas
de sucesso escolar, que implicam conflitos psicológicos podem ser adequadamente compreen-
didos em termos de padröes desadaptados de interacçäo familiar, que seräo discutidas segui-
damente, sem recurso à hipótese de implicaçöes inconscientes do próprio processo de apren-
dizagem.
287
288
A este respeito, säo comuns as pressöes para ter êxito, por parte de pais que lutam
por uma promoçäo social, bem como a imposiçäo de objectivos acadêmicos ou de carreira
que näo säo partilhados pelos filhos. Por exemplo, o filho de um advogado ou médico pode
ser encorajado a seguir os seus passos, a despeito de näo estar seguro do que gostaria de
fazer ou de querer talvez ser antes artista ou biólogo. Ou um estudante que é a única criança
da família, ou a mais velha, ou a mais brilhante, pode ser escolhido para ser o seu represen-
tante como profissional bem sucedido, quando preferiria seguir uma carreira näo profissional
ou talvez nem frequentar a universidade. Os jovens que näo conseguem encontrar formas
de contestar ou de resistir abertamente a estas pressöes dos pais podem utilizar o insucesso
para resolver o problema. A sua soluçäo é evitar uma carreira ou um curso em que têm pouco
interesse destruindo a possibilidade de qualificaçäo ao mesmo tempo que atingem os pais
frustrando-lhes as aspiraçöes que têm a seu respeito.
Paul era um rapaz de 14 anos de idade de uma família socialmente proeminente que
estava prestes a ser expulso de uma escola interna por causa da sua fraca folha acadêmica.
O pai tinha frequentado a mesma escola e daí tinha ido para uma escola de elite, propedêu-
tica para o ensino superior e, depois, para uma universidade famosa. Planeara que o filho
fizesse o mesmo. A discussäo com Paul e o pai revelou que este era uma pessoa fria de senti-
mentos, dominadora, que exigia um desempenho excelente e uma obediência absoluta da
parte do filho. Paul há muito que se debatia sob a constante pressäo, crítica e uma evidente
falta de afeiçäo do pai. Contudo, estava completamente fora de questäo a perspectiva de dis-
cordar sequer do pai ou de demonstrar alguma raiva - «Eu levava uma sova» dizia. Quando
foi sugerido ao Paul que o seu malogro escolar era uma área em que conseguia exercer algum
controlo sobre o pai, ele sorriu abertamente e retorquiu «É isso mesmo; näo há nada que
ele possa fazer a esse respeito; foi aos arames quando recebeu o telefonema do director,
mas näo há nada que ele possa fazer!»
Karen era uma estudante de 15 anos de idade, do segundo ano do ensino secundário,
cujas frotas tinham descido de uma média de Bom para pouco acima da reprovaçäo. A sua
ambiçäo claramente declarada era frequentar uma escola vocacional, depois de acabar
o liceu, e receber preparaçäo como secretária de advogados, uma carreira que a mäe
tinha seguido com satisfaçäo, durante muitos anos. Contudo, o pai tinha outros planos
para ela. Estava determinado que ela fosse uma estudante brilhante e frequentasse uma
faculdade particular de artes de «primeira qualidades. Por insistência do pai, Karen foi ins-
crita num programa propedêutico da universidade, a despeito dos seus desejos diferentes e
da recomendaçäo da escola, para que fosse transferido para um curriculum menos exigente,
consistente com os seus interesses. Os resultados dos testes indicaram que Karen era sufi-
cientemente inteligente para conseguir, se quizesse, boas notas no ano propedêutico da
faculdade. Contudo, a raiva profunda pela imposiçäo dos valores do pai parecia provocar
claramente a sua prestaçäo cada vez pior, o que representava uma conduta agressiva indi-
recta contra ele.
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Se bem que näo tenham sido empiricamente estudadas as origens da inibiçäo da raiva
que figura täo proeminentemente nestes casos de insucesso passivo-agressivo, existem algumas
ideias geralmente partilhadas pelos clínicos que provaram ser de utilidade na compreensäo
desta faceta do distúrbio. A incapacidade ou relutância em exprimir a agressívidade directa-
mente parecem ter origem em experiências, ao longo do desenvolvimento, nas quais as pes-
soas chegam a acreditar que essas expressöes emocionais seriam perigosas, ineficientes ou
imorais. Os indivíduos que ficam preocupados näo vá a expressäo directa da agressividade
ser perigosa temem que as outras pessoas possam retaliar ou rejeitá-los. Caracteristicamente,
esses medos emergem no contexto de uma conduta parental severa e punitiva. Os indivíduos
que encaram a assertividade activa como ineficiente tendem a ter sido criados de maneira
que diminuiu a sua auto-estima e aumentou os sentimentos de desamparo; a partir daqui eles
chegam à conclusäo de que as suas melhores possibilidades para influenciar os acontecimentos
a seu favor teräo que ser encontradas em vias indirectas näo óbvias para os outros. Os indiví-
duos que consideram a raiva imoral encaram a luta competitiva como um acto agressivo que
priva, de uma maneira desadequada, as outras pessoas da sua possibilidade de sucesso; cres-
ceram, geralmente, contrários à raiva, numa atmosfera de família onde a humildade e o
sacrifício pessoal säo princípios orientadores (ver Burns & Epstein, 1983; Stricker, 1983).
Nem uma conduta arental punitiva e de reciativa, nem a abnegada, säo específicas
p p
do insucesso passivo-agressivo. Os jovens que säo criados deste modo podem apresentar uma
variedade de perturbaçöes psicológicas ou mesmo nenhuma e os indivíduos que têm ansie-
dade por causa da expressäo da raiva, ou que säo relutantes em exprimi-Ia, podem ter ficado
assim sem ter tido disso nenhuma dessas experiências anteriores. No entanto, ao explorar
as origens do insucesso e procurar desfazer ou contrariar os seus efeitos, os clínicos deve-
riam recordar-se da possibilidade de que a inibiçäo da raiva, que é central neste distúrbio,
tenha as suas raízes neste tipo de influência parental.
Medo de falhar
As pessoas que temem falhar duvidam das suas próprias capacidades e procuram sempre
proteger-se contra essa experiência. De modo flagrante, fixam objectivos ambiciosos para
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si próprios e, depois, só trabalham a meio gás para os atingir. Esta manobra permite aos estu-
dantes com insucesso negar ter quaisquer limitaçöes e rejeitar qualquer sugestäo de terem sido
incapazes de ter êxito. Quando näo alcançam os seus objectivos declarados (o que acontece
inevitavelmente), encolhem os ombros ao embaraço, mencionando como, para começar, os
seus objectivos eram ambiciosos - «Eu näo me saí täo bem como esperava, mas veja a quanto
eu aspirava.» Quando têm maus resultados, chamam a atençäo para o seu frouxo esforço: «Sabe,
näo perdi muito tempo com isso; se me tivesse preocupado e tivesse tentado realmente, eu
ter-nie-ia saído muito melhor». Se as pessoas que temem o malogro estabelecessem realistica-
mente os objectivos ao seu alcance e trabalhassem diligentemente para eles, arriscar-se-iam
entäo a näo alcançar o nível, sem dispor das desculpas preparadas para se proteger contra
o golpe resultante para a sua auto-estima. Os estudantes que temem o malogro raramente
assumem esses riscos. Raramente arriscam fazer ou dizer qualquer coisas que possa estar errada,
negam constantemente ter trabalhado com afinco, mesmo quando o fizeram, e orgulham-se
do que conseguiram sem muito esforço - «Penso que me safei muito bem, uma vez que mal
abri um livro, durante todo o semestre.» Estes estudantes sabem muito bem que o malogro
só significa falta de capacidade, quando se fez um esforço honesto. Como formulou um pai
muito consciente de um rapaz com insucesso «Julgo que ele tem medo de trabalhar esforçada-
mente porque, se o fizesse e continuasse a näo ter resultados, teria de se sentir muito mal».
Este padräo particular de insucesso emerge, muitas vezes, em pontos de transiçäo
educativa que confrontam os estudantes com matérias mais difíceis do que aquelas que lhes
tinham sido previamente determinadas. Ser lançados da escola primária para o ensino secun-
dário, pode fazer com que os jovens que se preocupam com a falta de capacidade se aflijam
cada vez mais com o insucesso e comecem a afastar-se dos estudos. Da mesma maneira,
os estudantes com medo do insucesso, que mudam de escola e percepcionam os seus colegas
de classe como mais inteligentes, mais aplicados e melhor preparados do que os anteriores
podem, nesta altura, fugir ao esforço competitivo e começar a ter insucesso. Entre os ado-
lescèntes mais velhos, a transiçäo do liceu para a universidadeque implica, näo só tarefas
mais difíceis, como colegas mais capazes, também pode ser o desafio que desencadeia este
padräo de dificuldades.
Outra característica do impacto potencialmente desencorajador de começar a univer-
sidade foi elaborado de uma maneira muito perspicaz por McArthur (1971) que descreveu
o dilema dos estudantes cujas famílias e amigos esperam que mantenham o mesmo nível de
qualidade que apresentaram no liceu, a despeito do facto de estarem agora a competir com
estudantes que ali também se desempenharam bem. Estes jovens sofrem muitas vezes do
«choque da primeira divisäo» quando percebem a natureza da sua competiçäo. Se desespe-
rarem de jamais conseguir manter o seu nível, no ambiente acadêmico universitário, podem
escolher näo fazer o esforço e, assim, garantir o desencadear do insucesso.
Geralmente, as preocupaçöes competitivas no seio da família também marcam as vidas
dos estudantes com insucesso cuja abordagem autodestrutiva aos estudos reflecte o medo
291
de falhar. A maioria dos estudantes que teme o malogro sofreu comparaçöes desfavoráveis
com um pai, uma mäe ou um irmäo de sucesso, cujas capacidades näo consegue igualar.
O desapontamento, implícita ou directamente expresso, de näo estar a corresponder aos padröes
familiares pode contribuir, entäo, para que negligenciem o trabalho que lhes granjearia notas
compatíveis com a sua capacidade - «De que serve tentar? Fosse como fosse, nunca me
sairia täo bem como o meu irmäo».
Depois de ter ficado 2 anos na sexta classe de escolaridade, Jolin, de 13 anos de idade,
estava prestes a ser convidado a repetir as matérias da sétima classe quando, pela primeira
vez, os pais procuraram ajuda psicológica para ele. O rendimento baixo tinha começado na
terceira classe e tinha sido atribuído pelos professores principalmente, à desatençäo na classe
e ao descuido com os trabalhos diários. Nunca tinha apresentado quaisquer problemas de
comportamento na escola e a avaliaçäo psicológica actual indicou nível intelectual normal-
-brilhante sem sugestäo de dificuldades específicas de aprendizagem.
O pai de John, um professor no mesmo universo escolar em que John era aluno, ana-
lisou voluntariamente o seu papel nas dificuldades do filho. Informou espontaneamente que
era conhecido como uma pessoa autoritária e dominadora, que gritava muito e com quem
era difícil trabalhar, e acrescentou que talvez fosse demasiado intolerante e punitivo quando
o filho näo se comportava exactamente como ele queria. Embora o John näo se queixasse
abertamente da maneira como o pai o tratava, parecia detestar, de facto, muitas das suas
atitudes. Näo conseguia, no entanto, forçar-se a qualquer expressäo directa de raiva ou res-
sentimento. Pelo contrário, fugia sempre de qualquer situaçäo que implicasse agressäo
verbal ou física (tinha desistido dos Escuteiros porque «eles tinham demasiadas brincadeiras
brutas») e era conhecido pelos colegas como alguém que já se sabia que näo se defenderia.
As observaçöes dos professores deram os retoques finais num retrato de um rapaz tímido,
calado e com pouca assertividade e confiança em si, com quem os colegas implicavam
muitas vezes.
Os pais de John relataram que, muitas vezes, ele estabelecia padröes perfeccionistas
para si mesmo, que se aborrecia extremamente com pequenas contrariedades e que evitava
qualquer situaçäo em que tivesse sido perdedor. Recentemente, durante um treino de base-
ball com o pai e alguns outros rapazes e respectivos pais, tinha ficado täo humilhado por
deixar cair a bola, que aliás lhe fora mal atirada, que tinha abandonado o jogo e nunca mais
tinha querido voltar, se bem que a bola lhe tivesse sido mal atirada. O próprio John sabia
descrever com clareza como a sua pouca confiança em si e o medo do malogro interferiam
no seu desempenho na escola. Os professores estavam enganados quando o consideravam
desatento na classe, disse; a verdade era que estava apenas relutante em oferecer-se ou em
292
responder a perguntas, por medo de dizer alguma coisa errada que desse aos colegas uma
desculpa para se rirem dele.
John também enfrentava problemas importantes na competiçäo com o irmäo que
também estava na sétima classe e era um ano mais novo. O irmäo era um rapaz extrovertido,
com sucesso escolar que, às vezes, colaborava nos enxovalhes que o John recebia na escola.
Os êxitos acadêmicos do irmäo e do pai-professor tinham intensificado os medos de John
de jamais nunca ser capaz de igualar os padröes familiares e desencorajavam-no ainda mais
de fazer uso da capacidade escolar que possuía.
Medo do sucesso
As pessoas que temem o sucesso estäo preocupadas com que o êxito lhes traga mais
infelicidade do que o malogro. Este inconveniente aparentemente paradoxal do êxito foi cli-
nicamente elaborado, pela primeira vez, nas descriçöes de Freud (1916/1957) de pacientes
«destruídos pelo sucesso». Estes pacientes ficaram perturbados justamente quando atingiram
um objectivo significativo, para o qual tinham trabalhado dura e longamente. Uma tal aversäo
a ter êxito deriva da expectativa de que os sucessos seräo invejados ou odiados por um dos
pais ou irmäos. Para as pessoas temerosas do sucesso, os frutos da vitória, em situaçöes com-
petitivas, deixam um sabor amargo que as impede de gozar o que conseguiram e as levam
a abandonar as suas aspiraçöes e a destruir os seus êxitos.
Para evitar a desaprovaçäo ou a rejeiçäo que antecipam na esteira do sucesso, as pes-
soas que ficam ansiosas com o sucesso abordam as situaçöes relacionadas com o êxito de
uma maneira muito diferente das pessoas que se preocupam com o fracasso. Como acabou
de ser mencionado, os estudantes com medo do fracasso tendem a estabelecer objectivos muito
ambiciosos e, depois, dispendem pouca energia para os alcançar. Deste modo, escapam à
ansiedade de um erro e podem dizer que as suas vitórias reflectem apenas parcialmente a
sua verdadeira capacidade. Pelo contrário, os estudantes que desconfiam do sucesso mini-
mizam as suas capacidades, mesmo quando säo consideráveis («Näo sou muito bom a mate-
mática»); fixam objectivos limitados e irrealisticamente baixos que estäo ao seu alcance com
toda a facilidade («Eu ficaria contente com um suficiente; é só para isso que estou a traba-
lhar») e empenham-se apenas o suficiente para alcançar esses objectivos mínimos, depois
do que desistem de qualquer esforço adicional e renunciam a quaisquer outras aspiraçöes
(«Tive sorte em sair-me täo bem e näo se podia esperar que conseguisse melhor»). Com essas
atitudes face ao trabalho escolar, os estudantes com medo do sucesso evitam quaisquer vitó-
rias (ou aparências disso) que possam ameaçar os seus bem-amados ou diminuir a afeiçäo
e apoio que recebem deles.
Este padräo de insucesso tem sido demonstrado em laboratório e também no trabalho
clínico. Quando as pessoas que temem o insucesso se desempenham bem numa tarefa, ou
293
säo levadas a acreditar que o fizeram, tendem a ficar ansiosas e a sentir dificuldade em
concentrar-se; em tentativas subsequentes, o seu nível de execuçäo desce. Quando estäo a
sair-se mal numa série de tarefas de laboratório, o seu desempenho melhora gradualmente
com a prática - até ao momento em que lhes é dito ou concluem que estäo a sair-se bem,
momento em que ficam pouco à-vontade e reduzem o ritmo. Da mesma maneira, quando
acontece às pessoas que têm medo do sucesso ser bem sucedidas, elas atribuem a sua vitória
a factores externos como a sorte. Quando falham, atribuem o resultado a factores internos
como a sua limitada capacidade.
Entre os estudantes com insucesso que säo temerosos do fracasso e aqueles que säo
temerosos do sucesso existe uma outra diferença de diagnóstico que pode ser útil e que implica
o verdadeiro talento dos pais e irmäos ou o que é visto como tal. Como foi previamente
apontado, as pessoas com medo do fracasso säo apoquentadas pela sua rivalidade com indi-
víduos com sucesso. Quanto mais extraordinários säo os êxitos dos pais e irmäos, mais eles
se preocupam em näo corresponder às expectativas e, como consequencia, mais seriamente
tendem a falhar ao evitar o esforço competitivo. Por outro lado, os estudantes que temem
o sucesso, apreciam estar rodeados de pessoas talentosas porque assim é minimizado o risco
de incorrer na sua inveja ou raiva. Pelo contrário, os seus problemas de aprendizagem escolar
intensificam-se com pais ou irmäos fracassados. Quanto mais as pessoas com medo do sucesso
encaram os outros membros da família como menos capazes do que eles próprios, mais ante-
cipam reacçöes negativas ao que consigam realizar.
Tal como acontecia com os pacientes de Freud «destruídos pelo sucesso», as pessoas
passivo-agressivas com insucesso que temem sair-se bem säo muito capazes de hesitar quando
alcançam o limiar de qualquer êxito acadêmico digno de nota. Esses limiares podem ser espe-
cialmente perturbadores se significam exceder aquilo que os pais e os irmäos foram capazes
de alcançar. Um caso importante a ter em apreço é a primeira geraçäo de estudantes univer-
sitários: os filhos de pais com o nível liceal podem ter sentimentos ambíguos sobre ir para
a universidade, especialmente se a família tem um grande entusiasmo com a educaçäo supe-
rior e, ao mesmo tempo, comunica subtilmente uma mensagem muito diferente. Por exemplo,
os pais podem dizer ao adolescente, pronto para partir para a universidade, «Agora tu vais
ter oportunidades que nós nunca tivemos e vais ser capaz de fazer coisas que nós nunca con-
seguimos». Se bem que uma mensagem assim possa implicar orgulho, prazer e encoraja-
mento, também pode transmitir sentimentos subjacentes de desapontamento, inveja, rejeiçäo
e até mesmo de raiva, como se dissesse «Nós tivemos uma vida boa sem uma preparaçäo
universitária e agora tu vais-te embora e isso vai custar-nos muito dinheiro, e tu vais ter
imensas ideias novas e nunca mais vai ser o mesmo entre nós».
Confrontados com estas circunstâncias, jovens com capacidade que temem o sucesso
näo raro conseguem, negligenciando os estudos, resultados fracos na faculdade depois de um
bom rendimento liceal ou começam a ter fracos resultados nos últimos anos do liceu. O pri-
meiro daqueles tipos de colapso acadêmico pode fazer com que os estudantes com medo do
294
sucesso sejam expulsos da universidade, enquanto o segundo, que pode ser adequadamente
apelidado de «neurose dos finalistas» (Hogenson, 1974) reduz, desde logo, as oportunidades
de ser aceite na universidade. Estes e outros padröes de medo do sucesso, como os medos
de falhar, podem pôr termo à luta por qualquer tipo de objectivo competitivo. Se jovens talen-
tosos mas com medo do sucesso começarem a tomar-se melhores atletas ou melhores músicos
do que os pais, o seu desempenho pode subitamente e sem razäo aparente ser vítima de uma
menor aplicaçäo e de um esforço reduzido.
Em ordem ao rigor na avaliaçäo e tratamento do insucesso acadêmico, tem de se esta-
belecer a diferença entre os medos de sucesso radicados nas preocupaçöes familiares com
a rivalidade e a relutância em desempenhar-se bem, determinada pelo grupo de colegas ou
pelo papel sexual. Como se apontou anteriormente, a conformidade ao grupo de colegas é
um fenômeno transitório do desenvolvimento que influencia o comportamento juvenil, prin-
cipalmente desde os fins da infância até aos meados da adolescência. Ao mesmo tempo que
säo controlados por esse fenômeno, os jovens reconhecem completamente como e porque
estäo a ser influenciados por ele - estäo a evitar ser bons estudantes para evitar a desapro-
vaçäo dos colegas. Embora as influências do papel sexual possam implicar a família e as
atitudes dos colegas, em relaçäo aos papéis femininos e masculinos adequados, estas influên-
cias também säo conscientemente reconhecidas e relacionadas com uma tarefa do desenvol-
vimento, a formaçäo da identidade de papel sexual de cada um.
Ao contrário das influências do grupo de colegas e do papel sexual no insucesso,
as experiências de medo do sucesso de alguns maus estudantes passivo-agressivos säo de
longa data, exclusivamente relacionadas com a família e largamente inconscientes. Emergem
das primeiras experiências de vida e, a menos que modificadas pelos acontecimentos súbse-
quentes, persistem como um conjunto de atitudes, independentemente do facto de estarem
a causar o insucesso num determinado momento. Revolvem à volta de preocupaçöes de ser
amado e aceite pelos pais e irmäos e, a menos que também aconteça que algumas influências
negativas do grupo de colegas estejam a operar, os alunos mal-sucedidos passivo-agressivos
näo se importam com o que os colegas pensam do seu desempenho escolar. Finalmente e
de grande significado para o planeamento de estratégias de intervençäo, o medo do sucesso
exerce a sua influência sem que os maus estudantes estejam conscientes de que as suas notas
baixas e a sua atitude tipicamente benevolente em relaçäo a um desempenho medíocre têm
origem em preocupaçöes de se tornar uma ameaça para os membros da sua família.
296
tenha um objectivo, näo é conscientemente intencional. Estes adolescentes diferem dos estu-
dantes com pouco aproveitamento que fazem saber directamente que näo estäo interessados
em receber instruçäo e resistem abertamente aos esforços da escola para lha dar. Pelo con-
trário, os alunos com insucesso passivo-agressivos säo jovens que, de resto, adoptariam e
prosseguiriam objectivos acadêmicos. No entanto, a luta com os conflitos subjacentes rela-
cionados com a raiva e a rivalidade, inserida num contexto de padröes desadaptativos de
interacçäo familiar, produz uma incapacidade psicológica. Estas manobras passivo-agressivas
säo neuróticos esforços indirectos para resolver os conflitos e näo é provável que eles reconhe-
çam como o seu estilo de lidar com as coisas está a incapacitar a sua realizaçäo acadêmica
ou a servir como um acto agressivo contra os pais. Aumentar estas duas áreas de conscien-
cializaçäo torna-se, por isso, um ponto fúlcral no tratamento de um aluno com insucesso
passivo-agressivo.
Bob, de 18 anos de idade, tinha conseguido passar à justa na escola, com notas de
suficiente, até ao nono ano de escolaridade. Nessa altura, os pais, preocupados com que o
seu desempenho medíocre o impedisse de entrar numa boa universidade, tinham-no man-
dado, contra vontade, para uma escola interna particular. Esperavam que melhorasse as suas
credenciais académicas nesta escola. Em vez disso, ele conseguiu reprovar em todas as matérias
e foi convidado a näo voltar. De volta a casa, no ano seguinte, ele repetira o décimo ano,
com notas que mal davam para passar e estava a ter muito mau aproveitamento, no décimo
primeiro ano.
Bob declarou desinteressadamente que tinha más notas porque näo gostava de estudar
e evitava constantemente fazer os trabalhos. Contrariamente às aspiraçöes educacacionais
que-os pais tinham para ele, estava céptico quanto a frequentar a universidade, especialmente
uma escola exigente onde teria que trabalhar arduamente para se manter matriculado.
No entanto, estava convencido de que poderia ser um excelente estudante se quisesse aplicar-se.
Contou que, durante as horas do seräo, destinadas pelos pais a «tempo de estudo», lia regu-
larmente livros, jornais e revistas, mas raramente estudava as tarefas escolares ou assimi-
lava alguma informaçäo relacionada com as matérias.
Um debate mais extenso com Bob indicou que ele näo era, geralmente, uma pessoa
indolente, nem desprovida de talento ou avessa ao sucesso. Tinha várias actividades näo-
-intelectuais que seguia com perseverança e entusiasmo. Gostava de caçar, de pescar e de
acampar e era um consumado desportista de ar livre. Era um habilidoso marceneiro e tinha
executado vários ambiciosos projectos para a casa, em madeira. Gostava de pintar, de dese-
nhar e de fazer cerâmica e, durante o veräo anterior, tinha-se saído muito bem num curso
especial de arte. Mas, naquilo que contava para os pais, ter boas notas numa escola exigente,
297
ele resistia com muita eficácia aos seus desejos, näo trabalhando segundo a sua capacidade
e castigava-os, ao mesmo tempo.
O desempenho do Bob na Wechsler revelou, de um modo geral, capacidades intelec-
tualmente superiores com um Q1 de 125 na escala total. Contudo, em concordância com o
que se espera nos alunos com insucesso, ele fraquejava marcadamente em tarefas relacio-
nadas com aprendizagens escolares específicas e com um esforço intelectual persistente. Os dois
subtestes mais baixos eram Informaçäo e Código, enquanto teve o melhor desempenho, em
níveis muito superiores, nas medidas de inteligência social (Compreensäo) e organizaçäo per-
ceptiva (Cubos).
TRATAMENTO
298
isto implica persuadir os estudantes desmotivados das vantagens de se instruírem tanto quanto
sejam capazes. Para fazer esse efeito, os terapeutas precisam primeiro de ultrapassar a indi-
ferença desses alunos quanto ao seu tratamento. Isto requer conversas sobre as suas expe-
riências actuais que fomentem um sentido de confiança, segurança e respeito na relaçäo tera-
pêutica. Uma vez estabelecido, esta relaçäo pode ser usada como a base a partir da qual se
pode influenciar o jovem na direcçäo de perspectivas mais alargados quanto às potenciais
recompensas de se tornar, de um modo geral, bem qualificado do ponto de vista do saber
e ocupacional.
O aconselhamento aos pais oferece um recurso adicional, por vezes vital, para inserir
recompensas escolares nas vidas dos alunos sem sucesso desmotivados. Os pais que tenham
vindo a conceder poucas dessas recompensas mas que gostariam sinceramente de ver os filhos
bem sucedidos na escola ou que, pelo menos, estäo dispostos a cooperar num programa de
tratamento, podem ser encorajados a fornecer um ambiente de maior apoio escolar em casa.
Isto inclui falar de uma maneira positiva acerca da escola, mostrar interesse pelo que o ado-
lescente lá faz, aprovar a participaçäo nas actividades da escola e elogiar aquilo que o filho
conseguir realizar. Tem-se provado que este gênero de envolvimento mais profundo dos pais
tem um impacto manifestamente positivo no aproveitamento escolar de estudantes anterior-
mente desmotivados (ver Adelman & Taylor, 1983; Barth, 1986, Capítulo 8; Felirmann,
Keith & Reimers, 1987; Rodick & Henggeler, 1980).
Muitas vezes a escola também pode ser mobilizada como um bom colaborador para
gerar a motivaçäo acadêmica. Os terapeutas que trabalham com adolescentes com insucesso
deveriam familiarizar-se com os recursos disponíveis nas escolas desses jovens e discutir
as suas carências especiais com o respectivo pessoal. Os esforços para promover maior empe-
nhamento na classe e nas actividades extracurriculares e as estratégias para proporcionar uma
experiência de sucesso produzem recompensas firmadas na escola, que ajudam a compensar
os desincentivos acadêmicos existentes nas vidas dos estudantes sem sucesso desmotivados
(ver 13erkovitz, 1985; Green, 1985; Tolmach, 1985). O fraco desempenho escolar dos ado-
lescentes desmotivados às vezes também pode ser melhorado através do treino de competên-
cias escolares. Verifica-se que os programas especiais de ensino de língua materna, leitura
e matemática, mesmo na ausência de dificuldades específicas de aprendizagem, melhoram,
com bons resultados, o rendimento e a satisfaçäo pessoal dos estudantes com insucesso, espe-
cialmente os adolescentes oriundos de ambientes com dificuldades (Becker & Carnine, 1980;
Coie & Krelibiel, 1984).
299
o seu potencial acadêmico, pode haver pouca coisa a fazer por parte dos profissionais
de saúde mental haver podem, excepto no seu papel de cidadäos. Os efeitos negativos de
escolas superlotadas, de ensino de má qualidade e das longas horas de trabalho depois da
escola, säo problemas sociais que väo além da capacidade de resoluçäo dos psicoterapeutas.
No entanto, no papel de aconselhamento à família ou como consultor numa escola,
cada clínico deve estar habilitado para propor aconselhamento educativo útil. Talvez o ado-
lescente cujo conceito de si, como estudante, foi desencorajado no seu ambiente particular
de aprendizagem deva ser transferido para uma escola, classe ou talvez área de estudo menos
exigente. Talvez se deva organizar um ensino individual especial nalgumas áreas, que o estu-
dante com insucesso näo tivesse conseguido abarcar nas suas anteriores oportunidades de
aquisiçäo das competências e conhecimentos básicos. Avançando para questöes mais sensí-
veis, talvez a escola deva considerar programas de formaçäo em exercício para alguns dos
seus professores a fim de os ajudar a conduzir as aulas com maior eficácia e com uma maior
sensibilidade ao impacto que as suas atitudes e comportamento podem ter nos estudantes e
talvez as famílias possam ser aconselhadas a encontrar alternativas económicas que reduzam
as responsabilidades orçamentais de um adolescente com insucesso. Tem sido demonstrado
que cada um destes tipos de intervençäo melhora o desempenho dos estudantes com falhas
educacionais (Butler-Por, 1987, Capítulo 3; Maher & Zins, 1987; Shapiro, 1987).
Quando os jovens têm insucesso, como consequência secundária de ansiedade
generalizada, de distúrbio esquizofrénico ou depressivo, ou de fobia escolar, um melhor tra-
balho escolar decorre geralmente de um tratamento com bons resultados da perturbaçäo
principal.
Quando o insucesso reflecte imaturidade cognitiva ou emocional, a prescriçäo indi-
cada é geralmente mais a paciência do que a intervençäo especializada. Contanto que os jovens
com desenvolvimento lento näo manifestem preocupaçöes excessivas por serem menos maturos
do que os colegas e contanto que os pais e professores näo tirem a conclusäo precipitada
de que säo incapazes do poiqto de vista escolar eles iräo, com o tempo, ultrapassar o pensa-
mento concreto, a infantilidade e a falta de orientaçäo futura que, temporariamente, pode
prejudicar o seu rendimento escolar.
Quando se levantam preocupaçöes excessivas ou a paciência se acaba, pode ser indi-
cado o aconselhamento para esses jovens e também para os pais e professores. As vezes,
este aconselhamento tem de centrar-se na explicaçäo de modo como a dificuldade escolar
surgiu a partir de um certo atraso no desenvolvimento e näo de prejuízos mais sérios ou dura-
douros. Outras vezes, o foco'deve recair em discussöes directas, com todos os implicados,
Sobre a maneira de rectificar o erro de colocar um adolescente, intelectualmente precoce,
em circunstâncias que requerem uma maturidade emocional muito para além da sua capaci-
dade actual. Outras vezes ainda, especialmente com os adolescentes mais velhos, a reso-
luçäo do insucesso pode depender de um aconselhamento vocacional que ajude o jovem a
um compromisso com futuros objectivos educacionais e ocupacionais que ele ache atraentes.
300
Embora atento à maturaçäo para estabelecer a diferença, nestes casos, o clínico também
tem de permanecer vigilante a reacçöes importantes de ansiedade e de depressäo que podem
ter emergido secundariamente ao problema do insucesso. Qualquer reacçäo psicopatológica
dessas terá de ser tratada, por direito próprio, como parte do plano de intervençäo. A psi-
coterapia das reacçöes emocionais inquietantes às dificuldades específicas da aprendizagem
pode também desempenhar um papel no tratamento do insucesso de origem psicológica. A psi-
coterapia individual é frequentemente indicada para ajudar os adolescentes, com dificuldades
específicas de aprendizagem, a lidar com o sofrimento originado por limitaçöes cognitivas
e por atrasos escolares. Uma relaçäo de apoio com um adulto compreensivo que possa ajudá-los
a colocar as suas limitaçöes e as suas expectativas futuras numa perspectiva clara pode evitar
que se desmorone a imagem que estes estudantes têm de si e pode espicaçá-los para uma
mais cabal utilizaçäo das suas capacidades.
No tratamento dos adolescentes com dificuldades específicas de aprendizagem é, con-
tudo, mais conveniente uma abordagem psicoeducacional alargada, compreendendo uma série
de estratégias comportamentais e de educaçäo correctiva, do que o aconselhamento indivi-
dual. A maioria destes estudantes pode beneficiar de classes especiais ou de acompanhamento
individual na leitura, matemática e outras áreas curriculares, em que estäo fracos, como con-
sequência das dificuldades cognitivas específicas (ver Desliler, Schumaker, Lenz & Ellis,
1984a; Lane & CampbelI, 1986; Levin, Zigmond & Birch, 1985; Montague & Bos, 1986).
Além disso, podem adaptar-se outros aspectos do curriculum para tirar a máxima vantagem
dos seus pontos fortes e diminuir o impacto das suas perdas. Trabalhando, por exemplo,
com adolescentes com insucesso que tenham boas competências verbais mas capacidade limitada
para apreender conceitos abstractos, o terapeuta pode recomendar à escola que os coloque
em classes avançadas de língua materna e estudos sociais, mas numa cadeira geral relativa-
mente pouco exigente de ciências e näo em química ou física. Este planeamento pode dimi-
nuir as experiências de fracasso que minam, geralmente, a confiança do adolescente com
dificuldades específicas de aprendizagem e o desencorajam no estudo.
No que diz respeito a estratégias de comportamento, a intervençäo a favor dos ado-
lescentes com dificuldades específicas de aprendizagem pode incluir, com vantagem, (a) o
encorajamento dos professores a proporcionarem, na classe, um clima mais positivo e recom-
pensador a estes alunos e (b) o uso de treino de competências sociais com os próprios ado-
lescentes a fim de melhorar a frequência e qualidade das interacçöes com os colegas (ver Lä
Greca & Mesibov, 1981; Siperstein & Goding, 1985; Zigmond, Levin & Laurie, 1985).
O esforço acadêmico na classe também pode ser apoiado por métodos como a economia de
fichas, os contratos de contingência, a modelagem de feedback verbal e o apoio orquestrado
de grupo (ver Deshler, Schurnaker & Lenz, 1984b; Shapiro, 1987).
Os pais dos adolescentes com dificuldades específicas de aprendizagem devem ter
aconselhamento, com o fim de a udar os filhos a lidar com os sentimentos relacionados com
o problema e para os orientar a reagir de maneiras susceptíveis de apoiar os esforços dos
301
filhos para o ultrapassar. As famílias desses estudantes com insucesso formaram muitas vezes
impressöes exageradas sobre o potencial dos filhos, baseadas na observaçäo de êxitos inter-
mitentes, em áreas que näo säo afectadas pelas dificuldades específicas do jovem. Com fre-
quência, mantêm, naquilo que lhes diz respeito, uma actuaçäo parental fraca ou, entäo, uma
responsabilizaräo obstinada do papel dos filhos responsável pelo seu próprio desempenho
escolar fraco. Responsabilizando-se, fá-los sentir-se culpados; responsabilizando os filhos,
fá-los sentir-se agressivos. Nenhuma das reacçöes é justificado e ambas cobrem o problema
de insucesso com uma sobrecarga emocional que só o torna pior.
O desapontamento dos pais e as acusaçöes tendem a ocorrer especialmente quando
os adolescentes têm dificuldades específicas em áreas que têm um significado especial para
a família. Assim, pode ser difícil, para pais contabilistas ou engenheiros, aceitar o facto do
filho näo conseguir compreender a aritmética e continuar a sentir por ele o mesmo entu-
siasmo parental que sentiriam por uma criança mais dotada segundo a sua imagem. Nestas
circunstâncias, a tarefa do terapeuta é de interessar os pais numa discussäo franca acerca
das suas reacçöes e de ajudá-los a conseguir um sentido realista e construtivo dos problemas
e possibilidades do filho.
Quando a dificuldade específica de aprendizagem é coexistente com o ADHD, estes
adolescentes que permanecem manifestamente hiperactivos e distraídos podem beneficiar de
medicaçäo apropriada. Existe uma extensa literatura respeitante à potencial eficácia de drogas
estimulantes, em particular no controlo do comportamento disruptivo associado com o ADHD
(ver Abikoff & Gittelman, 1985; Donnelly & Rapoport, 1985; Dulcan, 1986). Contudo, no
que diz respeito a dificuldades específicas de aprendizagem que ocorram na ausência de hipe-
ractividade, há poucas provas que indiquem que o aproveitamento escolar seja facilitado pela
medicaçäo ou que esta melhore os efeitos benéficos das intervençöes educativas ou compor-
tamentais (Gadow, 1985).
Embora seja mais provável que o insucesso passivo-agressivo implique uma pertur-
baçäo psicológica do que o fraco desempenho atribuível a determinantes motivacionais, edu-
cacionais ou cognitivas, ele reage relativamente bem à psicoterapia. O terapeuta deve centrar-se
em ajudar os adolescentes com este problema a reconhecer e a expressar a sua raiva contra
os pais, a elaborar as suas preocupaçöes sobre o malogro ou o sucesso e a perceber a maneira
como usaram a passividade para garantir notas fracas na escola e para tornar os pais infe-
lizes. Nestes casos, uma psicoterapia conclusiva para eliminar o sintoma de insucesso, reve-
lando assim a sua motivaçäo, näo tem de ser, necessariamente, de longa duraçäo. Para muitos
adolescentes com insucesso, o mero facto de serem ajudados a reconhecer e a ventilar a ani-
mosidade subjacentes para com os pais já é o suficiente para começar a inverter o problema.
302
Jovens em oposiçäo, a quem se däo oportunidades cautelosas e de apoio para lidar aberta-
mente com as suas agressividades, näo precisam mais de procurar meios sub-reptícios de
se rebelar contra as exigências parentais e, ao cabo de poucos meses de tratamento, os jovens
passivo-agressivos com insucesso, cuja hostilidade para com os pais pode ser evocada e rela-
cionada com os seus problemas escolares, podem demonstrar um rendimento escolar marca-
damente melhor.
A despeito desta perspectiva geralmente favorável da psicoterapia com estudantes
passivo-agressivos com insucesso, algumas outras reflexöes podem moderar o sucesso espe-
rado. Primeira, quanto menos acessíveis forem os sentimentos subjacentes de um adoles-
cente com insucesso para com os pais e quanto mais as suas dificuldades de aprendizagem
estiverem obscurecidas com preocupaçöes sobre o malogro ou o sucesso, tanto mais pro-
vável será que uma psicoterapia longa venha a ser necessária para produzir uma melhoria
significativa. Segunda, quanto mais as tendências passivo-agressivas destes jovens tiverem
desabrochado num estilo abrangente e de longa duraçäo de lidar com as situaçöes, em opo-
siçäo a uma manobra defensiva limitada à escola, de origem recente, tanto mais provável
é que resistam à modificaçäo e arranjem obstáculos ao tratamento.
Os terapeutas têm de estar preparados para que estes jovens com insucesso, cujas
crónicas tendências passivo-agressivas generalizadas indicam a necessidade de terapia pro-
longada, estejam raramente motivados para a empreender. Pelo contrário, é provável que
neguem ter quaisquer dificuldades que careçam de atençäo especializada e que duvidem que
o falar sobre si próprios sirva para alguma coisa. Se evitarem uma recusa franca em vir às
sessöes, entäo eles combinam, de uma maneira muito típica, uma fachada de submissäo ao
tratamento com formas subtis de resistência que säo difíceis de detectar e de resolver.
A probabilidade de um bom resultado do tratamento com alunos com insucesso passivo-
-agressivos é muito maior para aqueles que vêm voluntariamente para a psicoterapia do que
os que o fazem com relutância. Todo o progresso, para os que vêm de má vontade dependerá
do êxito do terapeuta em conseguir que reconheçam que têm dificuldades que necessitam
de ajuda. Nestes casos, a confrontaçäo repetida pode ser necessária para que se promova
uma auto-observaçäo honesta. Aproveitando os malogros escolares e a discórdia familiar que
geralmente acompanha os arraigados passivo-agressivos com insucesso, os terapeutas devem
lutar, mediante repetidas referências a essas circunstâncias indesejáveis, por demonstrar que
as coisas näo estäo a ir täo bem quanto o adolescente desejaria. Uma vez que essa bem inten-
cionada insistência consiga convencer esses jovens a, pelo menos, experimentar a terapia,
as conversas que se seguem proporcionaräo, geralmente, num erosas ocasiöes para que o terá-
peuta aluda aos elementos da perturbaçäo e estimule o interesse em encontrar uma maneira
melhor de conduzir a vida.
Uma vez que o insucesso passivo-agressivo emerge no contexto de uma interacçäo
familiar desadaptada, o seu tratamento pode ser facilitado por um aconselhamento centrado
nos pais. Deve dar-se aos pais uma informaçäo rigorosa sobre o potencial do filho com insu-
303
cesso, que podem näo ter ainda percebido correctamente; deve assegurar-se que as notas
cada vez piores do filho näo significam um inevitável fracasso acadêmico ou ocupacional;
e, acima de tudo, os pais devem ser encorajados a relaxar todas as pressöes que estäo a
exercer sobre o filho, no sentido de um desempenho excepcional ou de êxitos dignos de
mençäo.
A informaçäo rigorosa e a orientaçäo persuasiva podem evitar que os pais esperem
demasiado ou expressem comparaçöes injustas. Quando os pais se tornam menos insistente-
mente exigentes, os filhos passivo-agressivos tomam-se menos agressivos para com eles.
Quando estes escutam menos comentários do tipo «Näo pareces ter as qualidades necessárias
para isso» ou «Com a tua capacidade, tu deverias ser o melhor de todos nós» ficam menos
afectados pela rivalidade. Quando os pais aceitam o aconselhamento de evitar expressar uma
preocupaçäo excessiva ou de se aborrecerem visivelmente com as notas baixas de um estu-
dante destes, o fraco desempenho escolar deixa de servir como meio eficaz de um adoles-
cente agir agressivamente contra eles.
Há momentos em que os pais de jovens passivo-agressivos com insucesso procuram,
para os seus filhos, um diagnóstico de dificuldade específica de aprendizagem, a fim de evitar
ter de se confrontar com os aspectos da interacçäo familiar que as dificuldades escolares estäo
a causar e também para escapar à necessidade de estar pessoalmente envolvido num pro-
grama de intervençäo. Os clínicos devem estar alerta para estes casos de resistência parental,
e, nesse caso, têm de acentuar que o problema näo pode ser resolvido apenas por uma reabi-
litaçäo educativa mas só cederá a estratégias psicoterapêuticas que impliquem tanto os pais
como o adolescente com insucesso.
Induzindo um comportamento parental mais compreensivo e tolerante, juntamente
com a reduçäo do ímpeto para o insucesso passivo-agressívo, os terapeutas podem conseguir
algum poder para modificar as tendências passivo-agressivas nestes casos, mostrando aos
adolescentes que o insucesso é uma manobra autodestrutiva que os impedirá de executar os
seus próprios objectivos edx;cativos e de carreira. Esta estratégia implica ajudar os adoles-
centes a reconhecer as suas capacidades e interesses, a clarificar o seu sistema de valores
pessoais e os seus mais caros objectivos e a seguir os estudos, para servir os próprios propó-
sitos e näo para satisfazer ou frustrar as necessidades dos outros.
Quando esta abordagem tem êxito, os adolescentes com insucesso aprendem que o
seu método de provocar um impacto nos pais está a prejudicar as suas próprias possibilidades
de consumar uma educaçäo e uma carreira compatíveis com as suas capacidades - estäo
a cortar o nariz para fazer mal ao rosto. Se os alunos passivo-agressivos com insucesso con-
seguirem alcançar esse reconhecimento e forem encorajados a procurar, de maneira mais
sensata, cuidar dos seus próprios interesses principais, a sua motivaçäo para funcionar bem
na escola (que os torna felizes) pode crescer o suficiente para inibir a motivaçäo para fun-
cionar mal (que torna os pais infelizes).
304
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um quadro detalhado da frequência da violaçäo da lei juvenil.
314
315
detençöes por crimes violentos comparados com 15,4 % em 1986, e 3,8 % das detençöes juvenis
deveram-se por agressöes contra pessoas, sensivelmente o mesmo que os 4,1 % em 1986 (Fla-
nagan, Hindelang & Gottfredson, 1980).
Quando, como acontece por vezes, os artigos dos jornais e das revistas, baseados
nas estatísticas oficiais, parecem documentar aumentos substanciais na violência e outras acti-
vidades criminais juvenis, verifica-se, usualmente, que citam os números absolutos de detençöes
e näo os dados percentuais. Estes números de detençöes podem ser enganadores porque os
relatórios do Departamento de Justiça dos E. U. A. variam, de ano para ano, no número
de organizaçöes de onde os dados foram obtidos. Assim, para serem de confiança, as infe-
rências sobre as tendências ao longo do tempo devem ser feitas a partir das percentagens
e näo das diferenças em número de detençöes.
Por exemplo, as estatísticas oficiais de 1979 mostram 2,1 milhöes de detençöes de
jovens abaixo dos 18 anos, incluindo 87.000 por crimes violentos, e têm por base relatórios
de 11.758 organizaçöes (Flanagan, Van Altstyne & Gottfredson, 1982). As estatísticas ofi-
ciais para 1986 apresentam 1,6 milhöes de detençöes dos jovens abaixo de 18 anos e têm
por base apenas 8.494 organizaçöes (Flanagan & Jamieson, 1988). Tirados de contexto, estes
números de detençöes parecem identificar uma reduçäo de 25 % na criminalidade e violência
juvenis. Mas mais provável do que essa reduçäo, é a fraca possibilidade de comparaçäo desses
números, dadas as diferenças de dimensäo das populaçöes que serviram de base ao relatório.
Quando se calculam as percentagens para se estabelecer um indicador mais preciso de ten-
dência, o relatório de 1979 indica que os jovens explicam 20,1 % de todas as detençöes por
crimes violentos e que 4,1 % das detençöes juvenis foram por crimes violentos - o que condiz
de perto com os resultados em percentagem apontados anteriormente para 1977 e 1986.
O sofrimento causado pelo crime juvenil grave e a publicidade que o rodeia também
podem contribuir para as ideias exageradas acerca do número de menores criminosos exis-
tentes. Apenas 6% dos jovens que violam a lei podem ser considerados delinquentes cró-
nicos e esta pequena porçäo de jovens violadores da lei explica aproximadamente metade
de todas as detençöes e condenaçöes de adolescentes (Farrington, 1983; Wolfgang, Figlio
& Sellin, 1972). É ainda mais significativo que 63,4% de todas as detençöes de menores
sejam devidas mais a vários tipos de delitos ligeiros do que a crimes mais sérios. As três
transgressöes relativas ao estatuto - violaçöes de horas de recolher a casa, fugas e viola-
çöes da lei do consumo de álcool - explicam 20% das detençöes juvenis; o vandalismo,
a conduta desordeira, a embriaguez e violaçöes menores das leis relativas às drogas explicam
outros 15 % (Flanagan & Jamieson, 1988). Como será elaborado na discussäo que se segue
das estimativas reais da delinquência, os adolescentes que persistem em actividades crimi-
nais provêm em grande parte, de uma pequena percentagem de jovens transgressores da lei
que cometem delitos graves e repetitivos, ao passo que as transgressöes esporádicas e tri-
viais, em que a maioria dos delinquentes oficiais estäo envolvidos näo predizem um compor-
tamento criminal futuro.
W,
316
Estimativas da delinquência real
Dados demográficos
Resultados longitudinais
317
318
comportamento anti-social. Como Robins (1966, 1978) referiu, verificou-se que os pacientes
basicamente neuróticos desta amostra se assemelhavam de perto, em adultos, a um grupo
de controlo de 100 näo-pacientes de idade, sexo, raça, inteligência e local de residência seme-
lhantes. Por outro lado, os jovens basicamente anti-sociais eram conhecidos, em adultos,
pela alta frequência de detençöes, alcoolismo, divórcio, fracasso no trabalho, negligência
infantil, dependência de instituiçöes sociais e hospitalizaräo psiquiátrica.
Estes dados e outros semelhantes de outros investigadores, deixam poucas dúvidas
de que o comportamento anti-social, nos anos do desenvolvimento, aumenta a probabilidade
de distúrbio anti-social de personalidade e de comportamento anti-social adulto que atravessa
uma série de diagnósticos (Huesmann, Eron, Lefkowitz & Walder, 1984; Roff & Wirt, 1984;
Stattin & Magnusson, 1989). A maioria dos adolescentes que violam a lei näo se tornam
criminosos adultos, tal como foi apontado anteriormente. Por outro lado, a criminalidade
näo surge de novo na idade adulta. Os adultos anti-sociais provêm das fileiras de crianças
e adolescentes com má conduta que näo tiveram o benefício de circunstâncias salutares de
vida ou de intervençöes profissionais proveitosas.
A DELINQUENCIA SOCIALIZADA
319
Os delinquentes socializados identificam-se com os seus pares e sentem-se perto deles; säo
membros bem integrados de um grupo social que prezam e para com quem sentem lealdade;
näo tendem, mais do que os adolescentes em geral, a apresentar dificuldades de adaptaçäo
(ver Arbuthnot, Gordon, Jurkovic, 1987; Quay, Routh & Shapiro, 1987).
A natureza social desta forma de delinquência diz particularmente respeito ao facto
de implicar tipicamente o comportamento em grupo e näo o comportamento individual.
Os delinquentes socializados raramente cometem crimes sozinhos,.excepto, talvez para impres-
sionar os amigos ou por ter sido requerido pelo grupo, e é improvável que mantenham segredo,
dos companheiros, de algum acto criminoso solitário. Pelo contrário, a preferência por um
comportamento de actos delinquentes solitários indica, geralmente, um problema psicoló-
gico relacionado com uma perturbaçäo individual e näo uma manifestaçäo da influência de
grupo. Isto näo afasta a possibilidade de alguns dos membros de uma quadrilha de delin-
quentes poderem ser psicologicamente perturbados. Particularmente, nestes casos, o grupo
propriamente dito reconhece qual dos membros é relativamente instável e perigoso (e, por
isso, näo deve ser colocado em posiçöes de responsabilidade ou de liderança) e que mem-
bros têm falta de ponderaçäo realista sobre a sua própria segurança ou pelas preocupaçöes
dos outros (e, consequentemente, podem ser chamados para tarefas particularmente peri-
gosas ou temerárias).
320
Os modelos anti-sociais dos companheiros säo relativamente numerosos em bairros pobres
ou deteriorados e estes antecedentes complicam a tarefa parental de manter-se a par do para-
deiro dos filhos e do que fazem, dada a sua populaçäo geralmente densa e o amontoado dos
edifícios (Quinton, 1988; Snyder & Patterson, 1987; Steinberg, 1986, 1987).
No entanto, a delinquência socializada näo é de modo algum um produto específico
de bairros economicamente desfavorecidos ou de comunidades de cidades do interior. Em pri-
meiro lugar, nunca se demonstrou que as dificuldades económicas tivessem alguma relaçäo
com a delinquência independentemente de uma inconsistente disciplina parental (Lempers,
Clark-Lempers & Sinions, 1989). Segundo, nem a inadequada vigilância parental nem a
falta de coesäo comunitária é limitada aos bairros pobres. Os subúrbios ricos, povoados
muitas vezes de famílias de passagem para outros lugares, com pais preocupados com
os seus próprios objectivos e interesses, também podem fracassar em proporcionar aos
jovens um sentido de orientaçäo e de pertença. Tanto os pais ricos como os pobres podem
ser culpados de prestar insuficiente atençäo ao modo como os filhos adolescentes passam
o tempo e com quem.
Terceiro, mesmo que os grupos delinquentes se encontrem com mais frequência em
bairros de classes socioeconómicas mais baixas, nem a delinquência, nem a formaçäo de
quadrilhas de arruaceiros é estranha à vida da classe média. No estudo previamente mencio-
nado de Robins (1966) de pacientes da clínica de orientaçäo para crianças encontrou-se uma
participaçäo em actos de delinquência em grupo em 53 % de rapazes de áreas de bairros pobres
mas também em 26 % de rapazes de melhores zonas. Há, de facto, uma literatura abundante
sobre a existência e a natureza da delinquência na classe média (Lowney, 1984; Richards,
Berk & Forster, 1979; Shoernaker, 1984, Capítulo 1 1). Também é de interesse a prova de
que os jovens de meios rurais como os das zonas urbanas, e as raparigas da mesma maneira
que os rapazes, se envolvem em delinquência de grupo e em quadrilhas de delinquentes (Bowker
& Klein, 1983; Erickson & Jensen, 1977; Thompson & Lozes, 1976). Assim, à luz das provas
existentes, as circunstâncias que fazem emergir a delinquência socializada näo parecem res-
tritas a qualquer grupo demograficamente distinto.
1
321
säo demasiado variadas e demasiado disseminadas na sociedade para ser sensato pensar, sequer,
numa explicaçäo única» (p. 266).
No entanto, a natureza da delinquência socializada incitou numerosas tentativas de
explicar todas as violaçöes juvenis da lei a partir de uma perspectiva sociocultural. Estas
teorias socioculturais giram em volta dos conceitos de adaptaçäo e de frustraçäo. Por exemplo,
de acordo com alguns teóricos, a delinquência em grupo é um comportamento bastante comum
da classe socioeconómica mais baixa que representa uma adesäo consistente e adaptativa aos
valores e regras morais, em mudança nos padröes da classe média (Kvaraceus & Miller,
1959; Miller, 1958).
Contudo, contrariamente a esta visäo, a maioria das pessoas reconhece que a delin-
quência de grupo é täo perturbadora e inaceitável para os adultos e jovens cumpridores da
lei, dos bairros economicamente desfavorecidos como dos bairros da classe média. As sub-
culturas delinquentes säo, de facto, consideradas desviantes pela maioria das pessoas, em
todas as classes socio-económicas e näo servem, realmente, qualquer funçäo adaptativa para
além de proporcionar admissäo no grupo. Os custos do crime, incluindo, como incluem,
a desaprovaçäo da maioria dos membros da sociedade e o risco constante de detençäo e
encarceramento, questionam até que ponto esses actos säo adaptativos, mesmo quando säo
executados, em grupo, por delinquentes psicologicamente estáveis.
Os dados do estudo longitudinal de longo prazo dos sujeitos de Robins (1966,
p. 199) veio lançar mais dúvidas sobre o valor adaptativo do comportamento anti-social, nos
jovens de classe socio-económica mais baixa. As relaçöes que encontrou entre a conduta
anti-social juvenil e os problemas de comportamento dos adultos eram täo fortes nas classes
socioeconómicas mais baixas como nos jovens de classe média. Assim, a natureza «adapta-
tiva» da delinquência socializada deve ser entendida num sentido relativo. Os delinquentes
em grupo tendem a ser menos perturbados do que os delinquentes solitários e tendem a ter
mau comportamento, mais em resposta a influências sociais do que a problemas pessoais.
No entanto, considerando as'futuras implicaçöes desadaptativas e as probabilidades de con-
duzir a detençäo e encarceramento, até mesmo a delinquência socializada näo deveria prova-
velmente ser considerada como um modo de vida normal.
Quanto à frustraçäo, a principal análise sociocultural da delinquência subcultural e
das quadrilhas acentua o papel das frustraçöes comuns na gênese dos actos delinquentes
socializados. Esta ênfase é particularmente clara nas teorias da «formaçäo reactiva» introdu-
zidas por Cohen (1955) e Cloward e Ohlin (1960). Cohen interpretou a delinquência sub-
cultural como esforços frustrados para atingir o estatuto e prerrogativas da classe média pro-
duzindo uma aceitaçäo reactiva dos valores anti-sociais. Cloward e Ohlin insistiram que as
«pressöes para a formaçäo de subculturas delinquentes têm origem em discrepâncias acen-
tuadas entre as aspiraçöes culturalmente induzidos na juventude das classes mais baixas e
as possibilidades de serem alcançados por meios legítimos» (p. 78).
^w1
322
323
A DELINQUENCIA CARACTEROLóGICA
324
Problemas de terminologia
326
investigadores. Por isso, para a mesma condiçäo, há um termo que é geralmente usado na
literatura e nos diálogos diários entre clínicos (personalidade psicopática) e um termo
diferente que deve ser usado para fins de diagnóstico oficial (personalidade anti-social).
No DSM-III-R, a escolha dos termos complica-se ainda mais pelas distinçöes quanto
à idade. Embora um diagnóstico de distúrbio anti-social de personalidade careça de uma
história de certas características, anterior aos 15 anos de idade, e de outras, entre os 15 e
os 18 anos, esta condiçäo näo pode ser diagnosticado antes dos 18 anos. Para os menores
que apresentam as características deste distúrbio, a categoria de diagnóstico foi de distúrbio
de conduta socialmente imatura, no DSM-III, e, no DSM-III-R, denomina-se distúrbio de
conduta de tipo solitário agressivo. Apesar de haver algum mérito no reconhecimento de
que os distúrbios de personalidade raramente se cristalizam antes dos fins da adolescência,
pode, no entanto, ser um tanto arbitrário rotular a mesma condiçäo de uma maneira aos 17
anos e 364 dias e, de outra maneira, no dia a seguir da pessoa fazer os 18 anos. O DSM-III~R
debruça-se, em parte, sobre este problema ao -reconhecer uma correspondência específica
entre a distúrbio de conduta em crianças e adolescentes e o distúrbio anti-social de personali-
dade em adultos (p. 335). De acordo com isto, é provável que os profissionais de saúde mental
continuem a achar que os jovens com este distúrbio säo psicopatas incipientes ou personali-
dades anti-sociais, mesmo que em enquadramentos clínicos tenham que registar um diagnós-
tico formal de distúrbio de conduta.
327
328
329
330
ter uma personalidade socialmente imatura só estava associado com o crime violento e impul-
sivo, na metade menos inteligente dos seus sujeitos (Q1 médio de 93,7). A metade mais inte-
ligente da sua amostra (Q1 médio de 114,9) näo tendia a ser mais violenta ou impulsiva do
que um grupo de comparaçäo de presos näo-psicopatas. Dados subsequentes confirmaram
o risco particularmente grave de violência contra os outros que deriva de uma combinaçäo
de atitudes associais com inteligência baixa (Heilbrun, 1990). De modo semelhante, para
os adolescentes delinquentes, verificou-se que é significativamente mais provável que os psi-
copatas intelectualmente limitados se envolvam na violência do que os näo-psicopatas ou os
psicopatas com níveis mais altos de funcionamento intelectual (Walsh, Beyer & Petee, 1987).
Ainda näo estäo determinadas as razöes pelas quais a inteligência modera o compor-
tamento violento. Uma possibilidade é de que o facto de ter uma inteligência média ou mais
alta proteja os jovens em risco de comportamento anti-social contra a experiências de fra-
casso e frustraçäo. Por outro lado, as crianças e adolescentes intelectualmente limitadas
tendem a encontrar mais do que o seu quinhäo de dificuldade na execuçäo do trabalho
escolar, no achar soluçöes para as situaçöes problemáticas e na escolha das suas perspectivas
de futuro. Tais dificuldades aumentam a susceptibilidade dos jovens associais para serem
arrastados para comportamentos delinquentes agressivos (Kandel, Mednick, Sorensen, Hut-
chings, Knop, Rosenberg & Schulsinger, 1988; Moffitt, Gabrielli & Mednick, 198 1; White,
Moffitt & Silva, 1989).
As influências parentais
O distúrbio psicopático de personalidade tem origem nas experiências precoces de
rejeiçäo e negligência parentais, na infância. Quando eram bebés e crianças pequenas, os
futuros psicopatas näo conseguiram receber o tipo de atençäo e afecto que promove os laços
de vincularäo às outras pessoas e engendram um sentido de confiança em relaçäo ao mundo.
Consequentemente, desenvolvem-se até meados da infância, com pouca capacidade de calor
humano ou respeito e poucas esperanças de serem amados ou cuidados pelos outros. Pelo
contrário, vêem o mundo como um lugar hostil e alienado em que näo se pedem nem se
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Vii
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näo é o facto do divórcio que contribui para a psicopatologia do desenvolvimento mas antes
o conflito parental que muitas vezes acompanha a dissoluçäo da família. Quanto aos lares
desfeitos, uma casa pode estar despedaçado, sob o tecto, se os pais que permanecem juntos
estäo sempre a atacar-se mutuamente. Uma vida de família assim pode ser muito mais perni-
ciosa para o bem-estar psicológico dos filhos do que uma separaçäo ou divórcio em que os
pais sigam os seus caminhos separados, de uma maneira amigável, ao mesmo tempo que
se mantêm mutuamente devotados ao cuidado dos filhos.
Se bem que o stress associado com o divórcio seja frequentemente incluído nos fac-
tores que contribuem para a psicopatologia desenvolvimentista, dados recentes confirmam
que toda essa contribuiçäo para o desenvolvimento de uma personalidade anti-social é secun-
dária relativamente à psicopatologia dos pais. Lahey e colegas verificaram que os rapazes
enviados para uma clínica, com diagnósticos de distúrbio da conduta, tinham muito mais
probabilidades de ter pais divorciados do que os rapazes enviados para a clínica, com outros
diagnósticos, e tendiam também mais a ter pais com distúrbio anti-social de personalidade.
Nesta amostra, contudo, a perturbaçäo de personalidade dos pais era a chave tanto para os
divórcios como para o distúrbio infantil de conduta. O divórcio näo estava directamente rela-
cionado com o distúrbio de conduta e näo tinha significado nele, excepto quando estivesse
associado com distúrbio anti-social da personalidade (Lahey, Hartdagen, Frick, McBurnett,
Connor & Hynd, 1988).
Para alguns observadores, a concordância pai-filho, no que diz respeito à psicopatia,
sugeriu um efeito de modelagem em que simplesmente as sementes caem ao pé da árvore.
Contudo, a despeito das aparências superficiais, a identificaçäo com os pais está raramente
implicado na incidência familiar deste distúrbio. Já se apontou antes a aversäo dos, psico-
patas a identificar-se seja com quem for. A psicopatia parental e a formaçäo de personali-
dade anti-social ocorrem de uma maneira concomitante, näo por causa de modelagem mas
em consequência de práticas de educaçäo frequentemente patogénicas de pais anti-sociais.
É particularmente provável que os pais psicopatas se candidatem a ignorar os filhos ou abdi-
quem ou abusem da sua responsabilidade de cuidar deles e de os disciplinar.
Influências constitucionais
Como Rutter, Macdonald, Le Couteur, Harrington, Bolton e Bailey (1990) relataram,
os resultados da investigaçäo demonstraram consistentemente que ter um dos pais criminoso
constituí um risco importante de delinquência juvenil. Muito provavelmente, a hereditarie-
dade desempenha um papel neste padräo familiar mas ainda näo apareceram provas substan-
ciais de que os factores genéticos contribuam para a má conduta nos jovens. Publicaram-se
estudos sobre gêmeos e adopçäo, apropriadamente delineados para separar as influências gené-
ticas das da experiência mas, na maioria desses estudos, os sujeitos foram identificados como
infractores da lei mas näo como psicopatas.
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Nos gêmeos, por exemplo, seis estudos sintetizados por Gottesman, Carey e Hanson
(1 983) mostraram uma concordância de 87 % para a delinquência juvenil nos gêmeos mono-
zigóticos e uma concordância de 72 % nos gêmeos dizigóticos. A pequena diferença entre
os dois grupos e a alta concordância nos gêmeos dizigóticos säo compatíveis com substan-
ciais influências ambientais e näo muito no caminho de uma contribuiçäo genética. Por outro
lado, alguns investigadores têm rebatido estes dados mantendo que as tendências genéticas
näo se tornam completamente manifestas até à idade adulta.
De facto, os dados da concordância dos gêmeos, nos criminosos adultos, säo mais
definitivos incluindo uma concordância de 69 % para os gêmeos nionozigóticos e uma con-
cordância de 33 % para os gêmeos dizigóticos, referidas por Wilson e Herrnstein (1985) e
as taxas de concordância de 51 % nos gêmeos nionozigóticos contra 21 % dos gêmeos dizigó-
ticos, apresentadas por McGuffin e Gottesman (1985). Rutter, Macdonald, Lê Couteur, Har-
rington, Bolton e Bailey (1990) sugerem que esta diferença entre idades pode ser devida à
frequência, nos adolescentes, de um comportamento delinquente de natureza transitória e
que é improvável que seja determinada pelos tipos de influências genéticas que contribuem
para o distúrbio crónico de personalidade ou para a criminalidade persistente. Para avaliar
esta possibilidade será necessária investigaçäo mais aprofundada com sujeitos psicopatas cui-
dadosamente caracterizados e näo apenas com os detectados infractores da lei.
No que diz respeito aos estudos de adopçäo existem algumas provas genéticas posi-
tivas de que nascer de um pai com registo criminal aumenta a probabilidade de criminali-
dade dos descendentes, mesmo que sejam dados para a adopçäo no princípio da vida e criados
por pais näo-criminosos. Num estudo de longo prazo que seguiu 657 adaptados até a idade
adulta, Mednick e Hutchings (1978) verificaram que os filhos de pais com uma história cri-
minal, dados para adopçäo e criados subsequentemente por pais näo-criminosos, tinham duas
vezes mais probabilidades de se tornarem eles próprios criminosos (21,4 %) do que os filhos
nascidos de pais näo-criminosos, quer fossem criados por pais adoptivos näo-criminosos
(10,5 %) ou criminosos (1 1,5%). Contudo, ao mesmo tempo, a frequência de crin-únalidade,
nos descendentes de pais criminosos dados para adopçäo e criados por pais adoptivos também
criminosos quase dobrava outra vez para 36,2%, dando prova de uma substancial contri-
buiçäo do ambiente.
No seu conjunto, os dados relativos aos gêmeos e à adopçäo säo consistentes com
uma ligeira contribuiçäo genética para a crin-iinalidade, mas fornecem apenas, quando muito,
uma confirmaçäo indirecta das tendências genéticas para a psicopatia (Mednick, Gabrielli
& Hutchings, 1984; Plomin, 1989; Quay, 1986). Mais ainda, sejam quais forem os riscos
genéticos de distúrbio anti-social de personalidade, que possam ser eventualmente identifi-
cados, é improvável que conduzam a um comportamento criminoso na ausência das influên-
cias da experiência discutidas atrás (ver Cloninger & Gottesman, 1987).
Aparte os problemas genéticos, certas tendências biológicas podem contribuir, em
certos casos, para conduzir à formaçäo de distúrbios de conduta e de personalidade anti-
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Na vida, a psicopatia é um distúrbio crónico que começa cedo, que se cristaliza nos
finais da adolescência e que persiste, habitualmente, ao longo dos anos da idade adulta. Assim,
a conduta anti-social, que acompanha esta condiçäo, mostra uma considerável continuidade
desde a infância até à adolescência e, para além desta. As crianças excessivamente agressivas
tendem a tornar-se adolescentes abusadores e adultos violentos; as crianças que roubam tendem
a tomar-se adolescentes que furtam e adultos que cometem crimes contra a propriedade (Barth,
1987; Loeber & Stouthmer-Loeber, 1987; Moskowitz, Schwartzman & Ledingliam, 1985;
Stattin & Magnusson, 1989).
Os futuros psicopatas começam a mentir na escola primária, a aldrabar, a roubar e
a comportar~se com crueldade para com os outros. Intimidam as crianças mais novas ou mais
pequenas, maltratam os animais e também as pessoas e, cedo, apresentam um estilo de vida
exigente e centrado em si próprios.
Na adolescência, a persistência destas características da infância faz com que os psi-
copatas incipientes entrem cada vez mais em conflito com os companheiros, pais, profes-
sores e a comunidade. Tendem, mais do que as outras pessoas, a ter falta de amizades, a
serrefilöes e desobedientes em casa. Na escola, têm muito mais tendência do que os colegas
a faltar às aulas e a ser suspensos ou expulsos, por conduta agressiva ou disruptiva, especial-
mente por brigas e insubordinaçäo. A menos que sejam suficientemente inteligentes para ter
sucesso escolar sem esforço consciencioso, muitas vezes ficam retidos um ano ou mais.
Chamam frequentemente a atençäo da polícia, especialmente se forem limitadas as suas capa-
cidades de lidar com as situaçöes.
A previsibilidade desta dificuldade progressiva de adaptaçäo varia, nos casos indivi-
duais, com as várias características do mau comportamento do jovem. Quanto mais frequen-
temente as crianças se portem mal e quanto mais perniciosas forem para as outras pessoas
e seus bens, mais tenderäo a apresentar um comportamento anti-social persistente e grave
na adolescência. Quanto mais cedo for o início da sua má conduta, quanto mais variada for
(por exemplo, roubar e também brigar) e quanto mais variados forem os enquadramentos
em que ocorre (por exemplo, tanto em casa como na escola), tanto mais provável será que
persista e se torne mais séria. Pelo contrário, um desencadear relativamente tardio de uma
conduta anti-social ligeira, rara e específica de algumas situaçöes, reduz a probabilidade de
delitos persistentes e cada vez mais graves (Kelso & Stewart, 1986; Loeber, 1990; Loeber
& Stouthamer-Loeber, 1987).
Estes resultados identificam efeito de degraus que ajudam na identificaçäo clínica
da delinquência caracterológica. As crianças mal comportadas estäo geralmente em risco de
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Martin D. tinha 13 anos, quando o director da escola lhe recomendou ajuda profis-
sional. O encaminhamento foi precipitado pelo episódio mais recente de uma longa história
de comportamento agressivo que incluía numerosas sovas, sem provocaçäo, a crianças mais
novas. Martin também era disruptivo na classe e, recentemente, tinha começado a gritar
«Eu odeio toda a gente». Segundo o director, Martin era «o pior rapaz com esta idade que
nós já tivemos».
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Durante a entrevista inicial com os pais, que eram ambos professores de liceu, o pai
do Martin falou quase o tempo todo. Disse que estava muito aborrecido com o comporta-
mento agressivo e indisciplinado do filho, na escola. Descreveu o Martin como um rapaz
indolente, que ficava frustrado com facilidade e que queria ter sucesso sem se esforçar, que
näo tolerava perder a coisa alguma e que mentia constantemente. O pai näo conseguia dar
uma explicaçäo para a má conduta do Martin e só dizia «Talvez ele tenha nascido mau, sim-
plesinente». Acrescentou, contudo, que por ele próprio ser um disciplinador severo, näo tinha
problemas com o Martin em casa. Talvez os professores do filho, sugeriu, näo sendo firmes
e acusando-o, de cada vez que havia perturbaçäo na classe, fossem responsáveis, em parte,
pela sua ficha de mau comportamento.
Um subsequente encontro a sós com a mäe do Martin revelou uma história muito
diferente. Dizendo que tinha medo de falar na presença do marido, a mäe queixou-se de
que a descriçäo que ele fazia do filho era igualmente verdadeira para ele próprio. Disse que,
embora o marido tivesse jeito para causar uma boa impressäo nas outras pessoas, com a sua
competência e sinceridade, ele era um homem mau, irresponsável e desonesto, que dava pouca
atençäo aos assuntos da família e que se ausentava frequentemente de casa, durante dias a
fio, sem dar explicaçöes. Muita da sua auto-descriçäo era mentira, continuou ela, especial-
mente o facto de ser um disciplinador firme: «Ele gosta de pensar que é um grande homem,
mas nunca faz nada construtivo para disciplinar o Martin; quando está em casa, o que näo
acontece muitas vezes, näo se rala com nada».
Estas entrevistas sugeriram que Martin estava a ser criado por um pai centrado em
si próprio, que näo era capaz de o disciplinar, e por uma mäe aterrorizada, que era dema-
siado passiva para contrabalançar a mesquinhez desinteressada do marido. Este ambiente
familiar, sem disciplina, juntamente com a longa história de mau comportamento do Martin,
sugeriu que este problema de comportamento estava a ser orquestrado por um distúrbio psi-
copático de personalidade emergente.
Uma conversa com Martin produziu mais provas de uma orientaçäo caracterologica-
mente associal na forja. Foi amável e compreensivo, mas desonesto e hipócrita. Escarneceu
de todas as alusöes a comportar-se mal ou a que pudesse ter algum problema pessoal. Foi parti-
cularmente arrogante, quando inquirido acerca dos relatórios sobre a sua agressividade. Disse
que näo se metia em tantas brigas como estes relatórios afirmavam e que nunca tinha batido
em ninguém «que näo merecesses. No que lhe dizia respeito, «Eles ter-me-iam feito o mesmo,
se pudessem».
A DELINQUENCIA NEURóTICA
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personalidade. Pelo contrário, violam as leis como uma tentativa individual e pessoalmente
significativa de comunicar necessidades psicológicas näo satisfeitas. A delinquência neurótica,
em comum com muitos outros comportamentos neuróticos, é, pois, sintomática de preocupa-
çöes subjacentes que ela serve para exprimir indirectamente.
Enquanto a delinquência socializada e caracterológica implicam, muitas vezes, uma
conduta anti-social repetitiva que se torna um modo de vida, a delinquência neurótica con-
siste, particularmente, em episódios de violaçäo da lei, ocasionais e situacionalmente deter-
minados. Estes episódios começam geralmente a seguir a emergência ou exacerbaçäo de algum
problema pessoal que gera sentimentos de tensäo, remorso ou desencorajamento e tendem
a parar, depois deste problema ter sido resolvido. Por isso, os outros rótulos que têm sido
usados para este padräo de comportamento anti-social, incluem «agudo», «acidental», «pro-
vocado pela situaçäo» e «ansioso-retraído-disfOrico» (Genshaft, 1980; Hare & Cox, 1978;
Quay, 1987b). Embora os adolescentes que cabem nesta categoria näo se enquadrem nos
estereótipos dos «delinquentes juvenis», os jovens ansiosos-retraidos-disfOrios constituem uma
quarta parte dos delinquentes institucionalizados (Quay, 1986, 1978b).
Em vez de demonstrarem as atitudes anti-sociais de longa duraçäo observadas nos
delinquentes socializados ou a agressividade e o egoísmo infantis associados com a delin-
quência caracterológica, os delinquentes neuróticos foram jovens afáveis e correctos. A sua
má conduta actual contrasta nitidamente com uma história de rectidäo e as pessoas que os
conhecem expressam surpresa pela sua súbita perca de respeito pela lei e pela ordem. Como
princípio geral, quanto mais o comportamento de um delinquente adolescente divergir de
uma história passada de conduta modelo, mais razäo haverá para o considerar um delinquente
neurótico.
Do mesmo modo, a probabilidade do comportamento delinquente ser neuroticamente
determinada aumenta, quando acontecimentos manifestamente precipitantes precedem o seu
início. A delinquência neurótica tem tendência a seguir-se imediatamente após a «última gota»,
numa- série de rejeiçöes ou desapontamentos que intensificaram as necessidades insatisfeitas
do jovem. Quando esses acontecimentos precipitantes näo säo facilmente evidentes, o com-
portamento delinquente origina-se, provavelmente, num desvio subcultural ou em defeitos
caracterológicos e näo em preocupaçöes neuróticas. A discussäo que se segue detém-se em
pormenor no modo como a delinquência neurótica comunica necessidades, a maneira como
as interacçöes da família podem provocar este padräo de delinquência e algumas directrizes
clínicas para diferenciar os delinquentes neuróticos dos caracterológicos.
Os adolescentes que cometem actos delinquentes estäo, muitas vezes, a tentar conse-
guir que as outras pessoas respondam a necessidades que sentem como negligenciadas ou
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ignoradas. As necessidades específicas que estäo mais geralmente subjacentes a estes esforços
indirectos e neuróticos para comunicar säo as necessidades de ser reconhecido e respeitado
e as necessidades de receber ajuda.
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A necessidade de ajuda
Jack tinha 15 anos e estava no segundo ano do ensino secundário, quando a mäe morreu.
Ela tinha sido a sua principal fonte de afeiçäo e de apoio. Um irmäo mais velho, com quem
tinha tido uma boa relaçäo, estava longe numa universidade, e o pai, embora gostasse dele,
era um profissional atarefado que confiava na esposa para cuidar dos filhos. Na falta de qualquer
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substituto para os cuidados que a mäe lhe tinha dispensado, Jack deslizou para uma depressäo
ligeira mas persistente. Perdeu interesse pela escola e outras actividades, tornou-se apático
e letárgico e passava horas a remoer na aridez do seu futuro.
Durante alguns meses, Jack sofreu interiormente e, contudo, ninguém sentiu que fosse
um rapaz a precisar de ajuda. Tinha sido sempre sossegado e näo muito activo na escola
e era suficientemente inteligente para continuar a merecer boas notas, näo estando já a traba-
lhar muito esforçadamente. Em casa, estava relutante em contar ao pai que estava aflito,
principalmente porque sentia que o próprio pai estava a lutar com mais desgosto do que poderia
suportar.
Entäo o comportamento exterior de Jack também mudou. Começou a desenhar
emblemas com a foice e o martelo nos trabalhos e manuais, a andar com o Communist Mani-
festo e a monopolizar as discussöes da classe, com longos comentários tortuosos sobre os
méritos do socialismo. Rapidamente era rotulado e espicaçado pelos colegas como o «comuna»,
o que, aparentemente, foi de encontro às necessidades de atrair a atençäo mas que lhe trouxe
ainda pouco no que diz respeito a cuidados.
Um dia, o Jack conseguiu arranjar uma cópia da chave mestra da escola e começou
a usá-la, sem autorizaçäo, para «pedir emprestados» gravadores e outros equipamentos.
Devolvia estas coisas, passados poucos dias, mas era geralmente mau o seu sentido de opor-
tunidade - havia sempre alguém por ali quando tentava repor os itens «emprestados» e era
sempre apanhado. Este comportamento de roubo, como o ter-se tornado «comuna», parecia
reflectir claramente a depressäo subjacente e o seu desejo de arranjar ajuda para a ultrapassar.
A escola recomendou tratamento e cessou abruptamente o comportamento delinquente e de
chamada de atençäo do Jack, após uma entrevista inicial em que se organizou uma terapia
continuada. Nos meses seguintes, à medida que Jack foi ajudado a elaborar a morte da mäe
e a desenvolver novos relacionamentos, especialmente com os seus pares, ele deixou o seu
papel de «comuna» e reconquistou, gradualmente, a sua boa disposiçäo e níveis de energia
e de interesses prévios.
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Encorajamento parental
Os pais que nem säo psicologicamente perturbados nem associais podem, no entanto,
modelar o desrespeito pela lei de certas maneiras que promovem um comportamento ilegal
nos filhos. Por exemplo, pais geralmente cumpridores da lei que aldrabam no IRS ou que
guiam acima dos limites de velocidade comunicam aos filhos que estes actos ilegais säo acei-
táveis. Se têm um claro prazer nas violaçöes da lei («Descobri a maneira de meter o custo
das nossas férias como uma despesa da firma») ensinam aos filhos que brincar com a lei
pode ser desejável e também aceitável.
Estes ensinamentos causam uma impressäo especialmente forte quando se ouvem os
pais a mentir sobre um problema («A sério, senhor guarda, eu näo sabia que ia a mais de
60») ou a negar qualquer intençäo de mudar o comportamento ilegal («Valeu a pena tentar:
vou ter mais cuidado para a próxima») ou a propôr uma aldrabice («Encolhe-te para näo pare-
ceres täo alto e talvez consigamos que entres com meio bilhete»). Quanto mais os jovens
estäo expostos a modelagem parental deste tipo, mais provável é que concluam que mentir
e aldrabar säo maneiras apropriadas de agir, pelo menos em algumas ocasiöes, em certas
circunstâncias. Estes defeitos selectivos de consciência foram apropriadamente descritos por
Adelaíde Jolinson (1949) como «lacunas do superego». Descontinuidades ou lacunas circuns-
critas, numa moralidade de resto bem socializada explica como é que os adultos, que säo
geralmente éticos e certamente näo psicopatas, podem, em certos contextos, comportar-se
de-modo ilegal, imoral e seguramente errado e como, ao fazê-lo, däo um exemplo com que
os filhos, bem socializados noutros aspectos, se podem identificar.
O reformo parental
Uma vez cometido um acto delinquente, às vezes os pais reagem de maneiras que
reforçam o comportamento anti-social e encorajam a sua repetiçäo. Säo especialmente pro-
blemáticas as situaçöes em que os pais näo vêem nada de particularmente errado no que os
filhos fizeram e, por isso, os castigam de um modo ambivalente ou inconsistente que comu-
nica, tacitamente, uma aprovaçäo do comportamento delinquente.
Por exemplo, os pais que reforçam a delinquência deploram, por vezes, o acto delin-
quente do jovem mas colaboram com ele para evitar que seja detectado ou punido. Se o jovem
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for apanhado, mínimizam o significado do delito, perante as autoridades. Outras vezes, aceitam
fracas desculpas para os delitos e descrevem-nos aos outros, num tom de tolerância estú-
pida. Criticam o resultado de um delito mas däo pouca atençäo ao delito propriamente dito:
«Se querias acelerar, porque é que tinhas de o fazer justamente no centro da cidade, onde
tinhas a certeza que ias ser apanhado» ou «Se querias brigar, podias ao menos escolher um
miúdo que pudesses dominar».
As provas desse inadvertido encorajamento parental ou reforço na delinquência neu-
rótica provêm em grande parte de relatos clínicos. No entanto, esta contribuiçäo da desadap-
taçäo familiar para os actos delinquentes fôra há muito tempo notada e é confirmada por
alguma investigaçäo (Carek, Hendrickson & Holmes, 1961; Gallenkamp & Rychlak, 1968).
Clinicamente, este papel da interacçäo familiar pode mostrar-se útil na compreensäo de casos
inicialmente intrigantes de delinquência em jovens que näo pertencem a qualquer subcultura
desviante, que näo apresentam tendências psicopáticas nem gravemente psicopatológicas, que
näo retiram qualquer gratificaçäo clara da sua má conduta e cujos pais säo, manifestamente,
estáveis adultos ordeiros que näo conseguem compreender a conduta dos filhos. A investi-
gaçäo cuidadosa, nestes casos, pode bem identificar subtis defeitos nos códigos de valores
e no comportamento dos pais e maneiras igualmente subtis como promovem e reforçam as
acçöes ilegais dos jovens.
Nos adolescentes delinquentes que estäo psicologicamente perturbados e que näo estäo
a conduzir-se mal, como membros bem integrados de uma subcultura anti-social, a delin-
quência neurótica pode ser geralmente diferenciada da delinquência caracterológica, com base
na história clínica. A este respeito, é da máxima confiança o início inesperado da delinquência
neurótica na adolescência, manifesta em padröes de comportamento que säo atípicos do indi-
víduo em questäo e em contradiçäo com a sua conduta anterior. Este início tardio da delin-
quência de origem neurótica contrasta com o início tipicamente precoce da delinquência carac-
terológica que toma a forma de distúrbio infantil de conduta que se continua e é preditivo
do mau comportamento na adolescência.
Também garantido, mas algumas vezes mais difícil de identificar do que a idade do
aparecimento dessas duas situaçöes, é o contexto familiar em que emergem: a delinquência
neurótica numa família estreitamente unida em que os pais e os filhos se amam mas näo estäo,
de momento, a comunicar eficazmente e a delinquência caracterológica numa família caó-
tica em que os pais cuidam principalmente de si próprios e os filhos, pelo menos os que
estäo a ficar psicopáticos, estäo há muito tempo privados de cuidados e vigilância.
As vezes, a natureza do mau comportamento dos adolescentes ajuda no diagnóstico
diferencial da delinquência. Virtualmente, todo o tipo de actos anti-sociais, incluindo os crimes
L 11'@'I@Ä
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contra pessoas e bens, podem reflectir uma orientaçäo caracterologicamente associal. Con-
tudo, os crimes contra pessoas, especialmente os crimes violentos, säo raramente come-
tidos por delinquentes neuróticos. Os adolescentes que tentam resolver os conflitos psicoló-
gicos subjacentes exprimem as suas necessidades, principalmente através de crimes contra
a propriedade ou através de crimes «sem vítinias» - isto é, delitos em que ninguém sofre
directamente, excepçäo feitas deles próprios, como fugas ou deixar de recolher a casa.
Os actos agressivos em que outras pessoas foram propositadamente molestadas signifi-
caräo quase sempre delinquência caracterológica e näo neurótica nos adolescentes per-
turbados.
Finalmente, a distinçäo entre delinquência neurótica e caracterológica pode ser
guiada com segurança dando-se atençäo ao estilo básico de personalidade inferido da
entrevista e dos dados dos testes psicológicos. Quanto mais a entrevista com os adoles-
centes delinquentes demonstrar falta de remorsos e de lealdades pessoais e quanto mais
claramente apontar para um relacionamento pessoal superficial e necessidades afectavas
mal desenvolvidas, mais provável será que a má conduta esteja associada com a formaçäo
de personalidade psicopata. Pelo contrário, quanto menos proeminentemente mani-
festarem essas características de personalidade, especialmente quando houver indicaçöes
de preocupaçöes neuróticas e de encorajamento parental que possa explicar o seu com-
portamento anti-social, mais provável será que a sua delinquência seja de natureza sinto-
mática.
Além disso, ao relacionar-se com um clínico, os delinquentes neuróticos tendem a
ficar envergonhados e hesitantes mas desejosos, no entanto, de falar acerca dos inquietantes
acontecimentos actuais das suas vidas. Por outro lado, os delinquentes psicopatas encaram
a entrevista como uma oportunidade de causar um impacto e geralmente mostram menos
interesse pelo que estäo a dizer do que com a maneira como estäo a exibir-se. Alguns psico-
patas revelam, de uma maneira transparente, a natureza da sua perturbaçäo, através de uma
feia exibiçäo de insolência, negativismo e bravata que se observa raramente nos delin-
quentes neuróticos. Outros como o Martin (p. 336), capazes de exercer uma melhor capaci-
dade crítica e controlo de si, conservam a «calma» e concentram-se no modo de lidar melhor
a entrevista, para conseguirem sair admirados e ilesos. Assim, ao contrário dos delinquentes
neuróticos, podem evitar falar ou mesmo admitir as suas dificuldades actuais, especialmente
se estas incluem actos delinquentes que ainda näo foram detectados ou decididos judicial-
mente. Nestes casos, pode ser necessária uma avaliaçäo aprofundada, para obter uma hís-
tória que confirme as tendências psicopáticas. Kaplan (1988), por exemplo, relata um estudo
em que 60 % dos adolescentes delinquentes, com uma história de crueldade para com os ani-
mais, e 40%, que tinham ateado fogos destruidores, - apontando tanto uns como outros
para a psicopatia e näo para a neurose - negaram essas actividades na primeira entrevista
mas admitiram-nas em sessöes subsequentes.
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Whalen, 1989; Jacob, 1983; McDaniel, 1986; Quay, 1987b). A näo utilizaçäo da medicaçäo
e do treino das competências quando as origens do mau comportamento o exijam, pode per-
petuar os problemas de comportamento que näo reagiräo as terapias delineados para traba-
lhar com os delinquentes caracterológicos e neuróticos.
No que diz respeito ao distúrbio epiléptico, as explosivas erupçöes de raiva, o com-
portamento anti-social agressivo que se assemelha às manifestaçöes de psicopatia constitui,
por vezes, uma descarga psicomotora também designada como TLE, por causa dos costu-
mados focos temporais de actividade cerebral anormal associados com esta condiçäo (Bear,
Freeman & Greenberg, 1984; Blumer, 1982). As crises psicomotoras que ocorrem, inde-
pendentemente ou em combinaçäo com outro tipo de ataques epilépticos, säo caracterizadas
por um desencadear súbito de movimentos estranhos do corpo que näo têm nenhum objec-
tivo aparente. Esta conduta persiste de uma maneira automática, esteriotipada, durante um
período de tempo que vai desde um minuto até várias horas, e os esforços para parar a pessoa
ou mudar o seu comportamento, durante a crise, provocam, com frequência, uma raiva com-
bativa. Subsequentemente, a pessoa, tem em geral, pouca ou nenhuma recordaçäo do que
fez e, ao contrário dos indivíduos psicopáticos, depois de uma explosäo agressiva, lamentam
sinceramente o dano ou delito contra terceiros que possam ter ocorrido.
As explosöes agressivas que ocorrem nas pessoas com epilepsia do lobo temporal
näo fazem parte de um estilo fácil de vida, como acontece nos psicopatas. Pelo contrário,
elas säo desagradáveis e constituem perdas de controlo estranhas ao ego, em que essas pes-
soas säo precipitadas por acontecimentos sobre os quais näo têm controlo. Contudo, junta-
mente com esta tendência para crises durante as quais se comportam de maneiras que lamentam,
muitos indivíduos com TLE têm uma orientaçäo um tanto paranóide. Mesmo quando näo
em crise, têm tendência para se zangar ou para entrar em altercaçöes, em resposta a insultos
ou ameaças imaginárias (Devinsky & Bear, 1984; Lewis, 1976; Sherwin, 1982).
Nos estudos de Lewis e Balla de envios para clínicas, ordenados pelos tribunais, depois
de uma avaliaçäo cuidadosa, 6,3 % foram diagnosticados como portadores de TLE. Uma fre-
quência ainda maior de TLE foi encontrada por Lewis e seus colegas numa avaliaçäo de
97 rapazes delinquentes detidos, 18 dos quais se concluiu que tinham crises psicomotoras
(Lewis, Pincus, Shanok & Glaser, 1982). Ainda de maior significado, quase 90% dos epi-
lépticos psicomotores, na amostra clínica relataram preocupaçöes paranóides e 50 % dos crimes
que tinham cometido eram delitos contra pessoas, comparados com apenas 2 a 3 % de inci-
dência de delitos violentos, no total dos estudos da amostra dos tribunais de menores, (Lewis
& Balla, 1976, Capítulo 5).
Estes resultados confirmam o papel que a TLE pode desempenhar no comportamento
delinquente, especialmente em casos de ataques repentinos, violentos e aparentemente sem
provocaçäo a outras pessoas. Assim, as episódicas explosöes agressivas, seguidas de amnésia
e remorso, deveriam ser investigados quanto a uma possível origem na TLE. Além disso,
quando este distúrbio de comportamento explosivo é identificado positivamente, é provável
347
Johnny tinha 14 anos quando os pais procuraram ajuda por causa de uma história
de 4 meses de cenas de raiva e violentas explosöes agressivas. Associaram o início do com-
portamento perturbado com o nascimento do filho mais novo cuja chegada näo tinha sido
bem acolhida pelo Johnny. Segundo os pais, ele queixou-se amargamente que a família
já era demasiado grande (o recém-chegado era o quinto filho) e isso obrigava a demasiada
partilha de tudo. Nos 4 meses a seguir ao nascimento, tomou-se cada vez mais intolerante,
quando näo satisfazia a sua vontade, e, em resposta à menor frustraçäo ou provocaçäo, agora
punha a casa em polvorosa gritando, atirando com as coisas e batendo às vezes nos irmäos.
Uma indagaçäo mais aprofundada revelou que as crises agressivas e mal controladas
estiveram presentes, desde há muitos anos, e apenas se tinham intensificado com o nasci-
mento do bebé. Os pais de Johnny relataram que ele fora sempre de zanga fácil e o mais
exigente dos filhos. Nunca tivera muita capacidade para adiar as gratificaçöes; era especial-
mente egoísta e cruel para os irmäos; foi consistentemente considerado indisciplinado, dis-
traído e combativo na escola e raramente mostrara consideraçäo pelos outros ou remorsos
pelos seus ataques físicos a eles.
Johnny chegou à primeira entrevista zangado, silencioso e desconfiado e, durante
toda a sessäo, alternou entre uma raiva latente, por ter sido forçado a vir, e tentativas de
tratar a situaçäo como uma coisa sem a menor importância. Estas observaçöes iniciais suge-
riram um distúrbio psicopático da personalidade emergente, expresso num padräo de com-
portamento agressivo e socialmente imaturo. O facto de o pai ter deixado no entrevistador
a impressäo de ser, ele próprio, uma pessoa fisicamente agressiva, facilmente irritável e cen-
trada em si mesma dava peso a esta impressäo de diagnóstico. Contudo, uma história deta-
lhada do desenvolvimento trouxe à luz complicaçöes do nascimento e algum atraso do Johnny
na aprendizagem de se sentar, pôr-se de pé, andar e falar. Perante as implicaçöes destes dados
num possível dano do sistema nervoso central, aproveitou-se uma consulta de neurologia.
O EEG do Johnny identificou anormalidades paroxísticas, consistentes com um distúrbio con-
vulsivo e um foco do temporal médio.
Neste caso täo complicado, a avaliaçäo clínica dos problemas de comportamento do
Johnny revelou algumas facetas claramente psicopáticas, como ausência de remorso, e também
alguns conflitos intrafamiliares de que o seu mau comportamento parecia ser um sintoma,
como a rivalidade fraterna pela atençäo dos pais. Para além disso, o entrevistador sentiu ainda
alguma capacidade de calor humano e lealdade por debaixo do violento exterior do Johnny
que poderia proporcionar uma base para o interessar eficazmente na psicoterapia. No entanto,
IffiIIII
348
ele sofria ao mesmo tempo de um distúrbio epiléptico. Näo só se podiam encarar algumas
das suas episódicas faltas de controlo como crises de descarga, como também parecia pro-
vável que ele tivesse extraído algumas das suas cortantes características de personalidade
do facto dos outros lhe responderem como a um rapaz agressivo e imprevisível. De facto,
a psicopterapia que se seguiu ajudou Johnny a elaborar muitos problemas de relacionamento
com os pais, irmäos, professores e colegas, enquanto a medicaçäo anticonvulsiva receitada
e controlada pelo pediatra reduziu substancialmente a extensäo e frequência das cenas de
raiva e das explosöes agressivas.
INTERVENÇÄO
A delinquência socializada
349
os delinquentes socializados estejam raramente motivados para participar num tratamento
psicológico, o aconselhamento e a psicoterapia contêm algumas esperanças de produzir
mudança, se puderem ser adequadamente dirigidos no sentido de aprenderem maneiras dife-
rentes de encarar a vida. Além disso, têm-se delineado algumas abordagens comunitárias
e familiares para prevenir a delinquência, antes que esta comece.
A psicoterapia educacional
I1
350
Prevencäo comunitária
351
Experiment relatado por Feldman, Caplinger e Wodarski (1983), no qual várias centenas
de crianças e adolescentes, dos 8 aos 17 anos de idade, enviados por comportamento anti-
-social, receberam terapia comportamental e de grupo e participaram, durante 1 ano, numa
larga gama de actividades, num centro comunitário, ao mesmo tempo que continuavam a
viver em casa e a frequentar a escola.
Embora essas intervençöes comportamentais no seio da comunidade, como o Achie-
vement Place e o St. Louis Experiment, tenham, até certo ponto, beneficiado claramente
alguns adolescentes, até à data, as revisöes de investigaçöes indicam que o seu efeito médio,
a curto prazo, pode ser ténue e discutível, a longo prazo. Resta ver se esta falta de resultados
mais positivos é devida a conceitos defeituosos ou a uma implementaçäo inadequada (Binder,
1988; Gottschalk, Davidson, Gensheimer & Mayer, 1987; Kaffin, 1987).
A prevençäo no lar
352
para frequentar as sessöes, sejam capazes de aprender novas técnicas de educar crianças e
estejam dispostos a persistir na utilizaçäo dessas técnicas a despeito de progressos lentos
e dolorosos. Os planos melhor delineados para trabalhar com os pais, num programa de tra-
tamento, podem soçobrar se os pais näo se implicarem eficazmente ou se se mostrarem indis-
poníveis, incapazes e relutantes*.
Infelizmente, no tratamento da delinquência socializada, o comportamento proble-
mático do adolescente emergiu, em parte, porque os pais näo eram capazes ou näo estavam
suficientemente interessados em funcionar eficientemente, nos seus papéis de pais de família.
Ironicamente, por os pais estarem indisponíveis, serem incapazes ou estarem relutantes em
participar, o treino do exercício parental pode ser muito difícil de implementar, justamente
nos casos em que seria mais necessário. Quanto mais disponíveis e quanto mais capazes e
desejosos estiverem os pais de mudar o seu próprio comportamento, tanto menos provável
será que os filhos se tornem, desde logo, socioculturalmente delinquentes.
O treino das competências sociais para delinquentes que säo tratados, enquanto per-
manecem em casa, é uma abordagem cognitivo-comportamental que se centra no aumento
do repertório de competências interpessoais do jovem e na sua capacidade crítica e de con-
trolo de si. O tratamento consiste em treino de exercícios práticos que implicam modelagem,
desempenho de papéis, ensaio e outras tarefas estruturadas destinadas a melhorar a eficácia
da pessoa na resoluçäo de problemas sociais na sua vida diária (Kendall & BraswelI, 1985;
Ladd, 1984; Ronan & Kendall, 1990). O fundamento lógico desta abordagem é que, tal
como as competências escolares e profissionais valorizadas, as competências sociais aumen-
tadas ajudaräo os adolescentes delinquentes a encontrar uma vida compensadora em cami-
nhos näo criminais.
Em amostras näo-clínicas, o treino de competências sociais provou ser eficaz para
melhorar a comunicaçäo interpessoal e o relacionamento dos jovens e para reduzir o com-
portamento agressivo e impulsivo de crianças em idade escolar (Kazdin, Esveldt-Dawson,
French & Unis, 1987; Milan & Kolko, 1985). Contudo, nos delinquentes adolescentes com
indicaçöes clínicas, os resultados indicam que realçando as competências sociais näo se reduz
necessariamente o comportamento anti-social (Dishion, Loeber, Stouthamer-Loeber & Pat-
terson, 1984; Tisdelle & St. Lawrence, 1988). Estes resultados negativos reflectem o facto
de que as deficientes competências que muitos delinquentes apresentam säo uma causa con-
comitante mas näo directa do seu mau comportamento. Para prevenir ou reduzir o compor-
tamento anti-social, o treino das competências sociais necessita de ser combinado com esforços
para cuidar das causas principais da delinquência, como seja a influência subcultural des-
viante e ineficiente exercício parental.
* NOTA: no original designa-se por «três UUU» do envolvimento parental improdutivo - estar
indisponível (una-
vailable), incapaz (uncapable) e relutante (unwiling) (3-U). (N.T.)
353
A delinquência caracterológica
09
para os delinquentes agressivos, com uma história de privaçäo emocional precoce, uma abor-
dagem permissiva para compensar as experiências de rejeiçäo da vida inteira. Näo se deve-
riam fazer pressöes ou exigências, näo se deveriam impor restriçöes, excepto as absoluta-
mente necessárias, para prevenir danos físicos, e os adolescentes deveriam usufruir de «uma
atitude consistentemente amigável, de ocupaçöes sadias, de muita brincadeira para prevenir
a agressäo e repetidas conversas com [o pessoal]» (p. 172).
Embora as formulaçöes de Aichhorn continuem a ter influência nalguns quadrantes,
os estudos clínicos e as investigaçöes indicam que a afabilidade permissiva raramente produz
qualquer mudança genuína nas atitudes ou no comportamento dos delinquentes caracteroló-
gicos. Os psicopatas em desenvolvimento rejeitam a proximidade e desconfiam das demons-
traçöes de emoçäo e de afeiçäo. A intimidade ameaça-os de rejeiçäo e eles afastam a proxi-
354
Tratamento em cumplicidade
355
O terapeuta encoraja a discussäo dos detalhes das acçöes anti-sociais mas, em vez de comentar
a imoralidade do modo como manipulam e exploram os outros, sugere maneiras em que deter-
minadas situaçöes poderiam ter sido transformadas ainda mais favoravelmente em seu proveito.
Esta partilha inicial de interesse positivo nos erros do jovem delinquente evita a ati-
tude oposicionista que a maioria dos adolescentes anti-sociais já espera dos adultos e também
obriga a estabelecer um padräo de comunicaçäo mútua. O permanente interesse positivo do
terapeuta em se inteirar dos actos anti-sociais do jovem também pode ter o efeito paradoxal
de diminuir a sua frequência. O mau comportamento nos psicopatas serve, em parte, para
evitar a proximidade e para provocar reacçöes que justifiquem o sentimento de estar sozinho
contra um mundo hostil. As reacçöes vivas e interessadas do terapeuta a esses comporta-
mentos anulam o efeito pretendido e diminuem a sua utilidade.
No entanto, com adolescentes caracterológicos, é necessária uma cautela conside-
rável ao usar a abordagem cúmplice para conseguir que o tratamento comece. Embora suge-
rindo melhores maneiras de manipular as outras pessoas, os próprios terapeutas näo podem
permitir ser manipulados. Ser manipulado é ser fraco e permissivo, em detrimento da cons-
truçäo de uma relaçäo terapêutica actuante. Os terapeutas também precisam de se precaver
de sugerir actos anti-sociais, para além dos que o jovem já cometeu. Uma nova proposta
destas dá ao terapeuta um papel de colaborador e näo de simples comentador e violaria os
princípios éticos bem como os objectivos da terapia.
Embora o tratamento em cumplicidade da psicopatia fosse originariamente descrito
por Noslipitz em termos psicodinâmicos, tem sido também subscrito por uma perspectiva
cognitivo-comportamental. Vários relatos documentam uma mudança positiva de comporta-
mento conseguido (a) ao treinar os psicopatas em modalidades mais eficientes (e menos des-
trutivas) de manipular o ambiente; (b) por um reenquadramento cognitivo (que consiste em
explicaçöes verbais que modificam os significados que as pessoas atribuem a uma situaçäo
mas säo compatíveis com o seu quadro de referência); (c) por instruçäo paradoxal (que con-
siste na prescriçäo terapêutica do comportamento problemático); e por exercícios de tomada
de perspectiva que ajudam a pessoa a encarar os outros como objectos por direito próprio
e näo apenas como meios ou obstáculos para a obtençäo do que o jovem quer ou deseja (Doren,
1987; Ko1.ko & Milan, 1983; Templeman & Wollersheim, 1979). A estratégia central, nestas
tácticas cúmplices, é a reduçäo da conduta anti-social, näo através da mudança de personali-
dade, mas convencendo os delinquentes caracterológicos de que existem eficientes maneiras
pró~sociais de satisfazer as suas necessidades e ajudando-os a tornar-se mais competentes
no comportar-se dessas maneiras - como actuar de uma maneira simpática para com os outros,
mesmo continuando a näo se importar com os sentimentos deles.
Os terapeutas podem facilitar o impacto positivo de uma abordagem cúmplice através
de demonstraçöes prudentes de poder e generosidade em favor do paciente. Um apoiante
exercício do poder pode ajudar a convencer os delinquentes psicopatas de que o seu interesse
reside no lado bom do terapeuta e que o seu próprio interesse pode assim depender do forta-
356
357
Tratamento residencial
358
Delinquência neurótica
359
361
o terapeuta uma vez concluída a fase inicial de defesa e de experimentaçäo. Como sinal dessa
identificaçäo, eles contam que assumiram o papel de irmä ou irmäo mais velho nas relaçöes
com outros jovens ou falam das suas próprias carreiras futuras em profissöes de ajuda ou
mostram interesse em saber coisas sobre os antecedentes, as atitudes e vida familiar do tera-
peuta. Na falta de sinais claros de que esta identificaçäo ocorra, o terapeuta precisa de recon-
siderar, quer a exactidäo do seu diagnóstico, quer a adequaçäo da sua abordagem terapêutica.
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Os jovens raramente pöem fim às suas vidas. Nos Estados Unidos, das 30 905 mortes
por suicídio conhecidas, em 1986, só 5 implicaram crianças com menos de 10 anos de idade,
250 tinham entre 10 e 14 anos, e 2151 tinham de 15 para 19 anos de idade. Naquele ano,
esses jovens cometeram 7,0 % dos suicídios participados a nível nacional enquanto os adultos
(de idade entre os 20 e os 29 anos) explicam 21,5% dos suicídios conhecidos e as pessoas
acima dos 60 anos 26,3% (National Center for Health Statistics - NCHS, 1988).
Contudo, como estes dados indicam, a taxa de suicídios aumenta abruptamente, durante
os anos da adolescência. De 1,5 por 100 000, entre os 10 e os 14 anos de idade, cresce quase
7 vezes para 10,2 por 100 000, nas idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos. A fre-
quência de suicídios continua a subir na idade adulta atingindo 15,8 por 100 000, nas pes-
soas dos 20 aos 24 anos de idade, aumentando gradualmente para 17,0, nos meados da década
dos 50 anos, e tomando-se bem superior a 20 por 100 000, acima dos 70 anos de idade (NCHS,
1988). Embora estes dados de frequências pareçam sugerir que o suicídio é um assunto mais
pertinente para os adultos do que para a psicopatologia dos jovens, existem três factores
adicionais que deixam poucas dúvidas de que o comportamento suicida tem de ser uma
preocupaçäo central, na avaliaçäo e tratamento dos adolescentes perturbados.
Primeiro, o suicídio dos jovens aumentou num ritmo alarmante, durante o passado
quarto de século. Entre 1960 e 1986, a taxa de suicídio, na populaçäo total dos Estados
Unidos, aumentou 20, 1 %, de 10, 5 para 12,8 por 1 00 000. Durante o mesmo período, tri-
plicou a taxa de 3,6 por 100 000 de suicídios dos adolescentes, de 15 a 19 anos, em 1960,
para 10,2 em 1986. Já em 1980, era de 8,5 por 100 000, o que indica um aumento de 20%
apenas durante os anos 80 (Lewis, Johnson, Cohen, Garcia & Velez, 1988; NCHS, 1988).
Estes dados e outros relatórios publicados relativos à frequência do suicídio nos ado-
lescentes têm de ser cuidadosamente interpretados, no que diz respeito aos grupos etários
considerados. Os National Centerfor Health Statistics (NCHS) divulga relatórios das taxas
de mortalidade para grupos cujas idades diferem de 5 anos e de 10 anos. Näo raro as afirma-
çöes sobre o suicídio nos jovens, bem como outros acontecimentos registados no Vital Sta-
tistics of the United States (NCHS, 1988), baseiam-se em informaçöes fornecidos pelo grupo
etário dos 15 aos 24 anos, com um leque de 10 anos de diferença. Por exemplo, na base
dos dados sobre o suicídio dos que têm entre 15 e 24 anos, alguns autores concluíram que
a taxa de suicídio para os jovens está a estabilizar ou a declinar (por exemplo, Blumenthal
& Kupfer, 1988; Pfffier, 1989).
Embora possa ser adequado encarar as pessoas de 15 a 24 anos de idade como «juven-
tude», as de 20 a 24 anos de idade constituem uma populaçäo largamente adulta de homens
e mulheres novos que já näo estäo a lidar fundamentalmente com as tarefas de desenvolvi-
mento da adolescência. Nem os investigadores que estudam a psicologia do desenvolvimento
dos adolescentes, nem os clínicos especializados na avaliaçäo e tratamento de problemas
373
dos adolescentes estäo particularmente preocupados com os jovens adultos na casa dos 20.
Tendem, contudo, a interessar-se pelos jovens pós-púberes, que ainda näo ultrapassaram
os 15 anos. Por isso, a natureza do comportamento suicida, na adolescência, será indicada
com mais rigor, pelos dados dos grupos com uma amplitude de 5 anos, entre 10 e 14 anos
e entre os 15 e os 19 anos, do que pela informaçäo dos grupos etários, com pessoas de
idades compreendidas entre 5 e os 15 anos e os 15 os 24 anos, num leque de 10 anos de
diferença.
De facto, uma inspecçäo rigorosa dos dados sobre o suicídio revela diferenças tem-
porais entre os adolescentes e os «jovens adultos». De 1978 a 1986, a taxa de suicídio entre
os 20 e os 24 anos de idade declinou de 16,9 para 15,8 por 100 000 pessoas. Pelo contrário,
entre os 10 e os 14 anos de idade, a taxa de suicídio quase duplicou de 0,8 para 1,5, durante
este mesmo período, e entre os 15 e os 19 anos de idade aumentou de 8,0 para 10,2, quase
25 %. Assim, ainda näo parece ter-se chegado ao fim da subida das taxas de suicídio nos
adolescentes.
Säo incertas as razöes para uma crescente multiplicaçäo do suicídio nos adolescentes.
Uma hipótese muito vulgar atribui este problema que se avoluma ao stress da vida moderna
e aos rigores de crescer, num mundo cada vez mais complexo e inseguro. Especificamente
a este respeito, Hollinger e Offer (1982) sugeriram que a percentagem cada vez maior de
adolescentes, na populaçäo em geral, gerou um correspondente aumento de competiçäo entre
eles (por exemplo, pelos empregos e pela entrada na universidade) e aumentou por isso o
stress que sentem e que vai provocar o suicídio. Embora esta hipótese faça sentido, ela é
posta em questäo porque o envelhecimento da populaçäo nos Estados Unidos, durante os
anos 80, e a decrescente proporçäo dos adolescentes nela, näo säo acompanhados de qual-
quer diminuiçäo na taxa de suicídio dos adolescentes. Quanto à sociedade moderna, em geral,
Hawton e Osborn (1984) notam que esta näo é a primeira vez na história dos Estados Unidos
que as taxas de suicídio subiram. Por exemplo em 1974, a taxa de suicídio, nas pessoas entre
15 e 24 anos de idade, era. muito semelhante a taxa que existiu de 1908 a 1912.
A segunda razäo para se prestar uma especial atençäo ao comportamento suicida na
adolescência é o facto de o dano auto-infligido ser uma causa de morte mais frequente, dos
15 aos 19 anos de idade, do que em qualquer outro grupo etário. Por näo poderem já contrair
as várias doenças infantis e näo serem ainda susceptíveis às muitas doenças crónicas que
atormentam as pessoas mais velhas, os adolescentes gozam de relativamente boa saúde.
As três causas principais de morte, dos 15 para os 19 anos de idade, näo säo doenças ou
moléstias de qualquer tipo mas sim acidentes evitáveis - por ordem decrescente: acidentes,
suicídio e homicídio, com taxas anuais, respectivamente, de 48,3, 10,2 e 10,0 por
100 000 pessoas. A morte por suicídio é quatro vezes mais comum, dos 15 aos 19 anos de
idade, do que a doença cardíaca mortal, que é a principal causa de morte na populaçäo total
e é duas vezes mais comum do que a morte por cancro a segunda causa mais frequente de
morte, em geral. Quanto às adversidades evitáveis na populaçäo total, entre as causas de
374
375
tipo de tentativa de suicídio. Tal como acontece com os que cometem suicídio, os que tentam
e os que ameaçam suicidar-se näo conseguem muitas vezes a ajuda de que necessitam.
No levantamento de Friedinan e colegas, menos de metade dos que tentaram o suicídio e
menos de um terço dos que tinham ideaçäo suicida, no estudo de Stiffman e colaboradores,
procuraram ou receberam atençäo especializada dirigida ao seu problema.
Métodos utilizados
Nos indivíduos masculinos de 15 para 19 anos de idade que cometem suicídio, quase
dois terços (64,2 %) acabam com a vida com pistolas e outras armas de fogo. A morte por
376
377
O rigor com que as pessoas suicidas avaliam a letalidade complica a distinçäo entre
o suicídio tentado e executado. As tentativas de suicídio säo geralmente definidas como actos
claramente suicidas cometidos por pessoas que näo têm um desejo consciente de morrer e
que sobrevivem a um dano auto-infligido. Contudo, como acabou de ser apontado, há casos
em que erros de cálculo, como uma näo propositada dose fatal de veneno, resultam em que
pessoas que supostamente fazem uma tentativa de suicídio se matam, de facto. Por isso, qual-
quer grupo identificado de suicidas, ao mesmo tempo que compreende uma maioria de pes-
soas determinadas a matar-se, pode também incluir algumas cuja morte foi, de facto, aci-
dental. Do mesmo modo, indivíduos determinados a morrer, pelas suas próprias mäos, podem
sobreviver, graças a um salvamento inesperado ou a alguma circunstância fortuita e ficam
designados como tendo tentado o suicídio.
O clínicos também têm de reconhecer que os desejos inconscientes de morrer podem
ter levado a vítima de um suicídio, aparentemente acidental, a subestimar a toxicidade do
que ingeriu. Inversamente, uma profunda determinaçäo em viver pode estar por detrás de
um suicida aparentemente intencional ter deixado aberta a oportunidade de ser socorrido a
tempo de sobreviver. Estas complexidades do comportamento suicida sugerem que a dis-
tinçäo entre o suicídio perpetrado ou tentado pode ser melhor estabelecido através da intençäo
das pessoas do que do resultado das suas acçöes. Contudo, no estado actual das coisas, os
relatórios estatísticos e as investigaçöes têm, na sua maioria, definido os que tentam o sui-
cídio e os suicidas propriamente ditos, de acordo com o resultado e, por consequência, esses
relatórios e estudos podem descrever grupos que näo säo inteiramente homogéneos, no que
diz respeito à intençäo. Como se encontra desenvolvido mais adiante neste capítulo, estas
subtilezas respeitantes à intençäo deveriam ser cuidadosamente examinadas na avaliaçäo clí-
nica de futuro risco de suicídio, nos adolescentes que fizeram uma tentativa.
378
(c) relaçöes sociais em desintegraçäo e (d) malogros repetidos em encontrar as soluçöes näo-
-suicidárias para problemas persistentes.
Instabilidade familiar
379
Mesmo quando os jovens passaram pela rotura dos pais, näo se deve fazer qualquer
suposiçäo quanto a um maior pendor para o suicídio ou qualquer outro problema de compor-
tamento. O precursor da psicopatologia do desenvolvimento é conflito familiar excessivo,
näo uma constelaçäo familiar fora do comum; o que conta näo é quem faz parte da família
mas sim o modo como se däo uns com os outros. Os clínicos reconheceram há muito que
a rotura de um casamento hostil ou violentamente conflituoso pode até produzir um lar mais
calmo e mais estável que, embora agora «destruído», melhora o sentido de bem-estar psico-
lógico do adolescente (Hodges, 1986, Capítulo 3; Kelly, 1988).
Quer vivendo juntos quer separados, os pais perturbados podem influenciar os filhos
no sentido de um comportamento suicida, näo só falhando em proporcionar um ambiente
familiar
estável também proporcionando eles próprios modelos suicidas. Em dois dos primeiros estudos
influentes sobre o comportamento suicida juvenil, Shaffer (1 974) constatou que 13 % de um
grupo de adolescentes que se mataram tiveram a experiência do comportamento suicida de
um dos pais ou irmäos, e Teicher e Jacobs (1966) verificaram, num grupo de adolescentes
com tentativas de suicídio, que 25 % das mäes e pais já tinham feito tentativas. A investigaçäo
subsequente tem confirmado, consistentemente, que os jovens que pensam fazer mal a si
próprios têm significativamente mais probabilidades do que os adolescentes näo-suicidas
de terem a experiência de suicídio ou de tentativa de suicídio de um dos pais (Brent, Kolko,
Allan, Brown, 1990; Harkavy & Asnis, 1985; Spiríto, Brown, Overholser & Fritz, 1989).
Embora estes dados falem do papel da modelagem familiar no favorecimento do com-
portamento suicida, a larga maioria dos adolescentes suicidas näo tem história familiar assim.
Por isso, a incidência familiar, sendo um factor de risco, näo é de todo uma condiçäo essen-
cial para esse comportamento. Os adolescentes podem tornar-se autodestrutivos, sem qual-
quer história de um tal comportamento na família e uma história familiar negativa näo deve
nunca ser usada como base para excluir o risco de suicídio num jovem perturbado. Por outro
lado, deve sempre considerar-se que um comportamento suicida precedente na família de
um adolescente aumenta o risco de que ele possa também escolher o dano auto-infligido,
como um modo de tentar lidar com os problemas da vida.
A parte a influência provável da modelagem, a incidência familiar do comportamento
suicida levanta a possibilidade da existência de factores genéticos. Os dados disponíveis a
este respeito demonstram uma incidência muito maior de suicídio, nos parentes biológicos
dos indivíduos adaptados com perturbaçäo afectiva do que nos seus familiares adoptivos
(Wender, Kety, Rosenthal, Schulsinger, Ortínann & Lunde, 1986). Contudo, näo há provas
conclusivas de qualquer transmissäo genética das tendências suicidas. O que parece mais
provável é que factores genéticos contribuam para o comportamento suicida, mas apenas
indirectamente, através de tendências para a perturbaçäo afectiva. Em particular, uma ten-
dência partilhada para a depressäo, que é transmitida geneticamente, em parte, pode explicar
um pendor para o comportamento suicida que é partilhado pelos país e seus filhos biológicos
(Rainer, 1984).
380
381
o risco suicida nos jovens (Khan, 1987; Pfeffer, Lipkins, Plutchik & Mizruchi, 1988; Rob-
bins & Alessi, 1985; Spirito, Brown, Overholser & Fritz, 1989).
Entre os sentimentos de que emergem as tendências suicidas, deve dar-se especial
atençäo ao desespero. Tanto para os adolescentes como para os adultos que projectam o sui-
cídio, o facto de chegar à conclusäo de que näo há luz no fundo do túnel constitui, com fre-
quência, a força propulsora na sua decisäo de empreender uma drástica acçäo autodestru-
tiva. Existem provas consideráveis de que o risco de suicídio aumenta na razäo directa do
desespero que a pessoa sente (Beck, Brown & Steer, 1989; Fawcett, Scheftner, Clark, Hedeker,
Gibbons & Coryell, 1987; Kaffin, French, Unis, Esveldt-Dawson & Sherick, 1983; PfUfer,
1986, Capítulo 5, Westfeld & Furr, 1987). Assim, no que diz respeito às origens do sui-
cídio, a tendência para o comportamento de fazer mal a si próprio que emerge da instabili-
dade familiar junta-se, nos meses que precedem uma acçäo suicida, a um sofrimento cada
vez maior que inclui um ataque de desespero que funcionará como precipitante.
Sentindo-se alienado de pais que näo o estimam e que säo demasiado controladores,
impotentes para controlar um sofrimento cada vez maior, os adolescentes suicidas, de
uma maneira característica, procuraram apoio numa relaçäo próxima com qualquer outro
familiar, com um professor ou outro adulto respeitado ou com um namorado ou namorada.
Contudo, dada a sua necessidade desesperada dessa relaçäo, os adolescentes pré-suicidas tendem
a ter pouca tolerância a qualquer tipo de rotura nessa relaçäo. O que se encontra muitas
vezes na história recente dos adolescentes suicidas é, quer um malogro no estabelecimento
de contactos compensadores com outras pessoas quer a dissoluçäo dessas relaçöes desespe-
radamente necessárias, seja pela morte de um familiar, a transferência de um professor ou
a decisäo de um namorado ou namorada de já näo querer uma relaçäo próxima ou exclusiva.
Os resultados da investigaçäo confirmam näo só que aos adolescentes suicidas faltam
as redes de apoio social, de que beneficiam os seus companheiros näo-suicidas, mas também
que os laços íntimos com a família e os amigos, como um ambiente familiar protector, podem
neutralizar as tendências suicidas provocados por experiências stressantes (King, Raskin, Gdo-
wiski, Butkus, Opipari, 1990; Rubenstein, Heeren, Housinan, Rubin, StechIer, 1989, Spi-
rito, Overholser & Stark, 1989; Zayas, 1987). Assim, as circunstâncias interpessoais marcam
muitas vezes uma diferença crucial entre os jovens em sofrimento pensarem simplesmente
em suicídio ou tentarem-no, na realidade. Num estudo ilustrativo de Cantor (1976), tanto
as estudantes universitárias que tinham pensado muitas vezes no suicídio como as que tinham
feito uma ou mais tentativas apresentavam uma forte necessidade de proximidade das
pessoas e de serem amparadas por elas, juntamente com pouca capacidade de tolerar a frus-
traçäo dessas necessidades. Contudo, as que pensavam apenas no suicídio eram bem sucedidas
382
na satisfaçäo dessas necessidades, nas suas relaçöes interpessoais, enquanto as que tentaram
o suicídio eram incapazes de estender a mäo e de estabelecer relaçöes de ajuda com os outros.
Entre os aspectos interpessoais do processo em desenvolvimento que conduz ao com-
portamento de suicídio, säo especialmente importantes as necessidades de comunicar deter-
minados sentimentos e preocupaçöes e de provocar uma mudança na maneira como se é enca-
rado e das respostas que obtêm, especialmente por parte dos pais. Os adolescentes suicidas
estäo muitas vezes zangados por serem maltratados ou negligenciados e os seus actos auto-
destrutivos podem entäo pretender, em parte, colocar um fardo retaliador de sofrimento,
humilhaçäo e arrependimento nos que säo percepcionados como ignorando-os ou excluindo-
-os («Agora eles väo arrepender-se»).
No que diz respeito a provocar uma mudança, há muito que se reconhece que as ten-
tativas de suicídio constituem um «grito de socorro» (Farberow & Schneidman, 1961). Este
tipo de pedido para que as coisas sejam diferentes é particularmente dirigido ao círculo pró-
ximo de amigos e familiares da pessoa suicida, mais frequentemente aos pais. A necessi-
dade, nos adolescentes suicidas, de provocar algum impacto nos pais reflecte-se nos resul-
tados de numerosas investigaçöes. Estes jovens sentem, caracteristicamente, que os pais näo
têm consciência dos seus problemas ou lhes säo indiferentes; as suas tentativas säo geral-
mente levadas a cabo no lar, muitas vezes quando os pais estäo em casa; e, geralmente, os
pais têm de facto pouca compreensäo do que incomodava os filhos ou precipitou as tenta-
tivas de suicídio (Garfinkel, Froese & Hood, 1982; Jacobs, 197 1; Mehr, Zeltzer & Robinson,
1981).
De tempos a tempos, atrai muita atençäo a cobertura noticiosa dos meios de comuni-
caçäo a casos em que dois ou mais adolescentes se matam ou fazem tentativas de suicídio
em grupo. Os pactos suicidas fazem boas histórias, e Romeu e Julieta, os amantes adoles-
centes que vivem nas nuvens e que se matam em vez de enfrentar a possibilidade de viverem
um sem o outro, implantaram-se firmemente no espírito do público, através do talento de
Shakespeare. Esse comportamento suicida de casal ou de grupo parece sugerir que as rela-
çöes interpessoais próximas podem por vezes contribuir para os actos nocivos a si próprio
em vez de os evitar. Contudo, deve exercer-se uma cautela considerável, ao inferir que o
comportamento de suicídio múltiplo manifesta a existência de uma rede social de apoio. Nos
jovens que têm uma actuaçäo suicida em conjunto e que, nesse momento, se apoiam mutua-
mente, de certa maneira, é muito provável que cada indivíduo se sinta alheado dos pais, das
outras pessoas em quem confiar e que podem agir energicamente a seu favor, e da pertença
recompensadora e apoiante ao grupo.
Por outro lado, a alienaçäo típica dos adolescentes suicidas näo significa que sejam
imunes à influência de modelos suicidas entre os companheiros. Os adolescentes que tentam
ou executam o suicídio tendem mais do que os outro,; jovens a terem estado expostos a
comportamento suicida, tanto de amigos como de membros da família. Os clínicos e as comu-
nidades devem preocupar-se com o que se tornou conhecido como a «multiplicaçäo» ou
383
Para além de lhes faltar ou de perder relaçöes de apoio, os adolescentes suicidas pas-
saram geralmente através de uma série de esforços desesperados para resolver problemas
cada vez mais agudos. Começaram, muitas vezes, por tentativas razoáveis de aplanar as desin-
teligências com os pais ou de encontrar apoio e estabilidade fora das famílias. Mostrando-se
infrutíferos, estes esforços deram lugar a tentativas mais provocatórias de revelar o seu sofri-
mento e de levar a uma mudança na sua situaçäo, como revoltar-se, fugir ou ignorar o tra-
balho escolar. A seguir, já que nem a razäo nem a provocaçäo resolveram os problemas,
estes jovens rendem-se aos sintomas claros de ansiedade e depressäo e, finalmente, deci-
diram que o suicídio é a única maneira de escapar às dificuldades ou, pelo menos, de causar
um impacto nos sentimentos das pessoas que lhes säo importantes na vida.
Assim, o comportamento suicida é raramente a resposta inicial de um jovem às cir-
cunstâncias indesejáveis ou desagradáveis da vida. Qualquer situaçäo em que as tendências
suicidas tenham aparentemente emergido «caidas do céu», devem ser cuidadosamente exa-
minadas, no que respeita aos malogros previamente incompreendidos, na resoluçäo de pro-
blemas, os quais marcaram o início do comportamento suicida. Os estudos clínicos e a inves-
tigaçäo confirmaram que os indivíduos suicidas tendem mais que as outras pessoas a estar
enredados em problemas que näo conseguem resolver (Orbach, 1986; Schotte & Clum, 1987;
Spirito, Brown, Overholser & Fritz, 1989). Os meses que precedem um suicídio propriamente
384
dito säo de facto caracterizados näo só por uma elevada frequência de comportamento rebelde
e anti-social mas também por uma probabilidade acrescida de abuso de drogas e tentativas
de suicídio (Rich, Yoting & FowIer, 1986; Shaffer, 1974; Withers & Kaplan, 1987). Shafli
e colaboradores (1985) constataram, na sua autópsia psicológica dos adolescentes vítimas
de suicídio, que 40% tentaram suicidar-se antes, 55% fizeram ameaças de suicídio, 70%
implicaram-se em comportamento anti-social, e 70 % andaram a abusar do álcool ou das drogas.
Para resumir esta formulaçäo do processo em desenvolvimento que leva aos actos
autodestrutivos, säo os jovens solitários e alienados de lares desfeitos ou desorganizados,
que experimentaram o malogro em numerosos esforços para resolver problemas cada vez
maiores que constituem um grupo de alto-risco de comportamento suicida.
AVALIAÇÄO
Os clínicos que trabalham com jovens têm de estar constantemente alerta para as cir-
cunstâncias que aumentam a probabilidade deles se implicarem num comportamento suicida.
Poucos discordaräo da advertência de Pfeffer (1988a) a este respeito que cada criança ou
adolescente, visto por um especialista em saúde mental, deve ser cuidadosamente avaliado
quanto ao potencial autodestrutivo. Se de todo em todo possível, as tentativas de suicídio
devem ser previstas, antes de acontecerem, e as tentativas já ocorridas devem ser avaliadas,
no que diz respeito às suas implicaçöes futuras em comportamento que ameace a vida.
385
386
de melhorar as suas dificuldades considerem alternativas suicidas. Por outro lado, os que
têm uma longa história de formaçäo de sintomas, cada vez mais incapacitante, e os que já
tentaram caminhos sem sucesso, através de uma série de esforços cada vez mais desadap-
tados e lidar com as situaçöes, podem bem estar prestes a causar danos a si próprios. Parti-
cularmente, quando essas pessoas jovens, em sofrimento e desencorajadas, já näo parecem
capazes de manter uma apreciaçäo realística da sua condiçäo ou das possibilidades de a
melhorar, o comportamento suicida pode emergir como a única soluçäo ou como o único
modo de comunicaçäo que lhes resta.
Assim, nos adolescentes deprimidos com redes desadequadas de apoio, o risco de
suicídio aumenta com o grau da depressäo e a sua manifestaçäo em comportamentos-problema.
Este risco parece ser especialmente grande, quando o jovem (a) perdeu interesse ou se tornou
incapaz de prosseguir as actividades diárias rotineiras; (b) ficou muito preocupado com pen-
samentos de morte ou (c) já lançou mäo do insucesso escolar, da fuga, da delinquência, da
promiscuidade sexual ou do abuso de substâncias tóxicas, em esforços malogrados para con-
seguir uma melhor situaçäo ou sentimentos de alívio. Acima de tudo, os adolescentes que
anteriormente falaram ou ameaçaram maltratar-se deveriam ser sempre considerados como
dotados de um potencial grave para o fazer, a menos que consigam encontrar outras maneiras
de mudar o modo como säo tratados pelas outras pessoas.
As implicaçöes suicidas dos esforços cada vez mais inadaptados de resoluçäo de pro-
blemas tornam-se mais graves quando incluem tentativas de suicídio anteriores. O facto de
um adolescente perturbado já ter tentado o suicídio aumenta enormemente a probabilidade
do comportamento suicida ocorrer no futuro. Hawton e Osborn (1984) afirmam que 10%
dos adolescentes que fazem uma tentativa de suicídio tornam a fazê-lo no prazo de um'ano.
Assim, os clínicos seräo avisados se considerarem sempre os adolescentes que fizeram ten-
tativas de suicídio, como estando em risco de futuro comportamento suicida, mesmo quando
näo seja essa a razäo pela qual estäo a ser avaliados na altura, e se incluírem sempre as medidas
de prevençäo do suicídio no planeamento do tratamento, mesmo quando outros tipos de difi-
culdade sejam o principal centro da intervençäo.
Dado o significado preditivo do comportamento suicida anterior e as consequencias
irreversíveis do suicídio propriamente dito, este aspecto da história de um jovem deve ser
cuidadosamente investigado nas avaliaçöes clínicas. Os adolescentes perturbados säo geral-
mente relatares de confiança das suas anteriores tentativas de suicídio, especialmente se ainda
estiverem preocupados com encontrar vias de comunicar o seu sofrimento aos outros mas
também deve perguntar-se aos pais se o jovem alguma vez se comportou de maneira a atentar
fisicamente contra si próprio.
Devem fazer-se regularmente duas outras perguntas aos pais de uma criança que apre-
sente potencial suicida. Primeira, há uma história familiar de comportamento suicida ou algum
caso recente de tentativa de suicídio ou de suicídio consumado entre os companheiros habi-
tuais do adolescente? Em iguais circunstâncias, risco de suicídio aumenta consideravelmente
387
388
Ao suscitar este tipo de informaçäo, o clínico deve também descobrir como foi pla-
neada a tentativa. Os jovens que seleccionaram cuidadosamente um determinado momento,
local e método para tentar suicidar-se, a fim de maximizar a letalidade e minimizar as possi-
bilidades de salvaçäo, estäo num risco relativamente grave de finalmente se matarem. Por
outro lado, na medida em que agiram sem pensar muito antes e com aqueles meios que estavam,
acaso, disponíveis ou escolheram uma altura ou um local em que outras pessoas responsá-
veis estivessem presentes ou fosse certo que entrariam em cena, säo relativamente boas as
possibilidades de se evitar um comportamento suicida repetitivo ou de ameaça de vida.
Quanto à intençäo do adolescente suicida, deve-se determinar, täo claramente quanto
possível, se o jovem queria acima de tudo morrer ou principalmente obter objectivos comu-
nicativos ou manipuladores. Em muitos casos, a intençäo pode ser inferida da maneira e do
local em que a tentativa foi feita. As tentativas altamente letais, feitas em isolamento, como
quando um rapaz penetra profundamente num bosque e se enforca numa árvore, sendo apenas
salvo por um passante acidental, têm muito mais probabilidades de indicar um desejo de morrer
do que escoriaçöes ligeiras auto-infligidas em casa com outros presentes, como quando uma
rapariga arranha o pulso com uma faca, mesmo na frente dos pais.
A falta de um contexto interpessoal desses, especialmente quando um adolescente
suicida näo consegue dar a entender ou recusa considerar os motivos sociais do seu compor-
tamento autodestrutivo, aumenta o risco de um novo comportamento de atentatório da vida.
O risco dos jovens acabarem finalmente com a própria vida é máximo quando todas as tenta-
tivas anteriores foram acompanhadas de um desejo consciente de morrer. Por isso, o clínico
näo deve nunca hesitar em perguntar à pessoa que tentou o suicídio «Querias mesmo morrer?»
Näo obstante quäo mal se sentiam no momento de cometer a tentativa de suicídio,
a maioria dos adolescentes relata posteriormente que a sua intençäo näo era morrer mas antes
ter alguma influência no ambiente. Falando de um modo geral, quanto mais clara e cons-
cientemente uma tentativa de suicídio se destinava a influenciar os actos ou atitudes dos outros,
tant,p menores säo as implicaçöes para ulteriores e mais graves actos autodestrutivos. Con-
tudo, o significado preditivo da intençäo comunicativa será sempre uma funçäo da medida
do sucesso que o jovem teve em fazer entender o seu ponto de vista e da medida em que
as circunstâncias mudaram como resultado da sua tentativa de suicídio.
De facto, as consequências do comportamento suicida diräo muito sobre a proba-
bilidade da sua persistência. Foi a tentativa de suicídio do adolescente recebida com preo-
cupaçäo compreensiva, ou com indiferença, ou com raiva, troça e sarcasmo? A tentativa
resultou em que a família e amigos do jovem mudassem o modo de o encarar e de o tratar
ou as coisas ficaram mais ou menos como estavam ou tornaram-se mesmo mais preocupantes
do que dantes?
Quando as pessoas importantes na vida de um adolescente suicida se unem por sua
causa, elas criam possibilidades de uma resoluçäo favorável das dificuldades do jovem. Por
outro lado, o risco de suicídio continua o mesmo, a seguir a uma tentativa de suicídio, na falta
389
de preocupaçäo positiva dos pais e das mudanças desejáveis nos padröes familiares ou de
amizade. O adolescente, cuja mensagem permanece incompreendida ou negligenciada, é o
que está em maior risco de mais e mais grave comportamento autodestrutivo e é o que requer
vigilância clínica cuidadosa. Os dois casos que se seguem ilustram muitas destas considera-
çöes de ordem clínica, o primeiro num caso de tentativa de suicídio relativamente ligeira
e o segundo num caso relativamente grave.
Sara, de 16 anos de idade, estava em conflito constante com a mäe, desde que esta
tinha tornado a casar, 6 anos antes. O pai de Sara morreu, quando ela tinha 4 anos, e ela
e a mäe viveram juntas, sozinhas, desde essa altura até o aparecimento em cena do padrasto,
que ela detestava. A Sara e a mäe brigavam por tudo e por nada - roupa, amigos, maneiras
à mesa, privilégios de sair com rapazes, atitudes correctas para com o padrasto e assim por
diante. Quando Sara tinha 15 anos, a mäe procurara ajuda profissional para melhorar a relaçäo
entre elas.
Nessa altura, durante o decurso de uma relaçäo terapêutica breve, Sara e a mäe deram
a impressäo ao terapeuta de duas pessoas determinadas, teimosas e dadas a discussöes que
ampliavam conflitos insignificantes e exageravam as suas divergências. Durante algumas ses-
söes em conjunto, foram ajudadas a examinar as várias fontes de tensäo entre si e a con-
cordar com uma trégua, com compromissos de ambos os lados.
As coisas melhoraram regularmente, durante quase um ano, depois destas sessöes.
As regras de conduta eram discutidas e negociadas e as disputas da família diminuíram tanto
em frequência como em intensidade. Foi entäo que, na véspera de Ano Novo, quando a Sara
estava a vestir-se para um encontro que tinha sido combinado já há semanas, que a mäe decidiu,
subitamente, que ela näo tinha idade suficiente para um encontro de fim de ano e näo poderia
ir. Em vez de sair, teria que ficar em casa com a família. A Sara ficou em casa, desfeita
por esta ordem arbitrária mas, depois, a mäe e o padrasto decidiram sair deixando-a sozinha
391
TRATAMENTO
392
esses jovens, o terapeuta deve lutar por alterar essa convicçäo, na medida em que ele próprio
é, pelo menos, uma pessoa preocupada com o seu bem-estar e comprometida com ouvi-los
até ao fim e ajudá-los nas suas dificuldades.
O terapeuta também tem de fazer um compromisso explícito de se tornar corda de
salvaçäo do adolescente suicida. Este compromisso implica dizer palavras como «Fazer mal
a ti próprio näo vai resolver nenhum dos teus problemas e nós vamos fazer tudo o que pudermos
para ter a certeza de que näo vais tornar a fazê-lo». Isto inclui estar contactável, a todas as
horas do dia, para falar de problemas preocupantes, especialmente pensamentos sobre outra
tentativa de suicídio; e também deveria incluir suscitar, no adolescente, uma promessa espe-
cífica de contactar imediatamente o terapeuta, se sentisse qualquer desencadear de tendên-
cias autodestrutivas. Este modo de intervençäo pode reduzir drasticamente o próprio perigo
de tentativas repetidas, ao restaurar a esperança de que pode näo ser necessária uma acçäo
drástica para conseguir que alguém dê atençäo e ao criar oportunidades de falar antes de
agir novos impulsos suicidas.
Embora a depressäo e o desespero dos adolescentes suicidas possam limitar a von-
tade inicial de falar com o terapeuta, as necessidades de ajuda e a receptividade solícita do
terapeuta constituem uma combinaçäo poderosa que geralmente consegue que a comunicaçäo
comece a fluir rapidamente. Uma vez que se formem essas vias de comunicaçäo com o
adolescente suicida, o passo seguinte e eventualmente muito mais importante implica estendê-las
à família e aos amigos. Os clínicos conhecedores do comportamento suicida dos jovens
concordam, unanimemente, que a melhor maneira de evitar que os jovens se matem ou façam
tentativas de suicídio é conseguir que sejam envolvidos e se mantenham numa rede de
apoio de amigos e familiares (Allen, 1987; Pfffier, 1988b, 1989; Walker & Mehr,'1983).
No que respeita à família, se o terapeuta quiser ter algum efeito continuado, é essen-
cial trabalhar colateralmente com os pais e reunir em sessöes familiares. Os pais devem ser
ajudados a reconhecer que näo estiveram suficientemente inteirados ou preocupados com os
problemas dos filhos e os jovens devem ser ajudados a encontrar vias de comunicar com
os pais, através de palavras e näo de acçöes. As discussöes de família na presença do tera-
peuta revelam, muitas vezes, como e quando a comunicaçäo se quebra e deve fornecer um
enquadramento para encorajar padröes mais positivos de interacçäo familiar.
Com isto em mente, alguns clínicos sugerem que a terapia familiar é o tratamento
de eleiçäo para os adolescentes que tentaram o suicídio (Berman, 1987; Richinan, 1984).
Contudo, os resultados clínicos indicam que existe uma quantidade de modalidades de trata-
mento que pode efectivamente reduzir a tentativa de suicídio, incluindo sessöes individuais
e de grupo, bem como sessöes familiares que incluem abordagens dinâmicas, näo-directivas,
de restruturaçäo cognitiva, e de resoluçäo de problemas (Patsiokas & Clum, 1985; Pfffier,
1986, Capítulos 13-16). O que é crucial para um bom resultado no tratamento de adoles-
centes suicidas näo é a modalidade ou combinaçäo de modalidades escolhidas mas o facto
da abordagem do terapeuta promover ou näo a comunicaçäo interpessoal e as redes de apoio.
393
No que diz respeito aos amigos, o terapeuta deve percorrer todas as vias possíveis
para ajudar o adolescente suicida a expandir ou enriquecer as relaçöes com os seus pares.
As perdas de amizades que precederam muitas vezes as tentativas de suicídio favoreceram,
geralmente, os sentimentos de isolamento e de desespero. O encorajamento para procurar
novos amigos e a orientaçäo quanto a maneiras mais eficazes de lidar com as relaçöes de
amizade e de namoro podem contribuir para uma visäo mais optimista do futuro e interac-
çöes mais gratificantes com os outros.
Alguns terapeutas referem bons resultados na mobilizaräo de redes apoio de pares
aos adolescentes suicidas, através de vários métodos alargados. Estes incluem a conduçäo
de discussöes de grupo com amigos das pessoas que estäo a ser tratadas e a mobilizaräo de
amigos que façam turnos rotativos, para os acompanhar durante algum tempo, para ter a
certeza que um «acompanhante» ou um confidente do suicida esteja sempre ao seu lado (Allen,
1987; Saffer, 1986). Quer com a família quer com os amigos, quantas mais forem as pessoas
com quem o adolescente pode comunicar, menos provável é que pondere a eventualidade
de se suicidar. Por isso, a necessidade de cuidados profissionalizados continuados, a seguir
a uma tentativa de suicídio, pode ser avaliada pela medida do progresso feito pelo estabeleci-
mento de vias de comunicaçäo, fora do consultório do terapeuta.
Os adolescentes que tentaram o suicídio descrevem, muitas vezes, os seus actos como
tendo ocorrido sem qualquer razäo válida, como estando completamente fora do seu modo
de ser e como improvável que voltem a acontecer outra vez. Nesses casos, quando os ado-
lescentes que tentaram suicidar-se däo espontaneamente alguma explicaçäo para o que fizeram,
muitas vezes culpam inteiramente uma discussäo ou um desapontamento decisivo que pre-
cedeu a tentativa. Mais ainda, quando se sentem encorajados pelas rápidas reacçöes de apoio
à tentativa de suicídio, os jovens podem querer varrê-lo como tendo sido «só uma coisa sem
importância» e a sua preferência pode ser continuar com a vida, sem discutir mais o compor-
tamento suicida.
Embora näo negligenciando subscrever uma posiçäo optimista de olhar para a frente,
o terapeuta deve resistir, no entanto, ao desejo do adolescente suicida de passar por cima
das origens do seu comportamento. O risco suicida persistirá, enquanto um jovem for incapaz
de reconhecer e compreender os motivos subjacentes a uma tentativa de suicídio. Por isso,
num contexto de relaçäo emocional de apoio, o terapeuta deve procurar identificar com o
adolescente quais foram esses motivos.
Logo que na terapia tenha sido estabelecido uma comunicaçäo franca, a identificaçäo
dos motivos subiacentes do comportamento suicida implica a revisäo de toda a sequência
de um sofrimento cada vez maior, de reacçöes sociais em dissoluçäo e de esforços mal
394
395
Com poucas excepçöes, os adolescentes que já fizeram uma tentativa de suicídio devem
ser hospitalizados, pelo menos para um período inicial de observaçäo e qualquer tratamento
médico que seja necessário. De facto, entre os pacientes abaixo dos 18 anos vistos em urgên-
cias psiquiátricas, o grupo com maior probabilidade de ser internado é o com tendências
suicidas, seguido em segundo lugar pelas vítimas de abusos físicos e, em terceiro, pelos que
apresentam sinais de esquizofrenia (Hillard, Slomowitz & Deddens, 1988). Se os adoles-
centes que tentam o suicídio forem mandados para casa ou retidos apenas uma noite, depois
de receberem avaliaçäo na urgência, os riscos de tentativas futuras podem näo ser completa-
mente reduzidos. Os relatórios clínicos indicam que as avaliaçöes curtas falham muitas vezes
em seguir à risca as recomendaçöes, quanto à prevençäo do suicídio (Litt, Cuskey & Rudd,
1983). Como nas outras intervençöes na crise, é necessário algum seguimento inínterrupto
para garantir que os adolescentes suicidas e suas famílias dêem os passos que reduziräo a
probabilidade de actos autodestrutivos repetidos.
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400
tóxicas, suas fases e categorias, factores associados com o seu uso e consideraçöes quanto
ao tratamento e prevençäo do abuso de substâncias tóxicas.
Têm sido publicados na literatura dúzias de inquéritos sobre o uso juvenil de substân-
cias tóxicas e os jornais e revistas contribuem regularmente, para o que se tem tornado uma
sobrecarga confusa de informaçäo enganosa. Muitos desses inquéritos incluem amostras
pequenas ou näo representativas e a maioria é difícil de comparar com as outras por causa
de variaçöes de metodologia, como por exemplo a diferença entre pergunta «Já usou alguma
vez marijuana» oposta à pergunta «Usa marijuana?»
A fonte de dados epidemiológicos sobre o uso de drogas, mais digna de confiança,
é o National Institute on Drug Abuse (NIDA) que periodicamente publica os resultados dos
dois inquéritos nacionais: o National Household Survey on Drug Abuse (NIDA, 1989) que
recolhe amostras de lares representativos de 98 % da populaçäo dos Estados Unidos e inclui
dados sobre os adolescentes dos 12 aos 17 anos de idade, e o National Trends in Drug Use
and Related Factors Among American High School Students and Young Adults (Johnston,
O'Malley & Bachman, 1987a, 1987b) que recolhe informaçäo, anualmente, de aproximada-
mente 17 000 Analistas de 135 liceus oficiais e privados de todo o país. Quando examinados
quer transversal quer longitudinalmente, os resultados destes inquéritos identificam algumas
diferenças substanciais, quanto à frequência do uso de substâncias tóxicas, associadas com
as diferentes drogas, com a prevalência em oposiçäo à incidência do uso, com a idade e com
as tendências ao longo do tempo.
O álcool é de longe a droga usada mais geralmente pelos jovens, com aproximada-
mente 50 % dos indivíduos, entre os 12 e os 17 anos de idade, relatando que já consumiram
uma bebida alcoólica, nalgum momento da vida. A segunda em frequência é a marijuana,
com 17,4% dos indivíduos, dos 12 aos 17 anos de idade, relatando o seu uso, seguida, em
frequências muito mais baixas, pela cocaína (3,4 %), estimulantes (4,2 %), sedativos (2,4 %),
alucinogénios (3,5 %) e heroína (menos de 1, 5 %). Esta gama de percentagens largamente
variáveis indica a razäo pela qual a frequência do uso de drogas, na adolescência, näo pode
ser rigorosamente descrita, sem referência às drogas específicas. A este respeito, é digno
da maior nota o facto do álcool ser a única droga usada por metade de todos os adolescentes
inquiridos. A excepçäo do álcool, o padräo dominante nos indivíduos, entre os 12 e os 17 anos
401
de idade, é a näo utilizaçäo de drogas, com quase 83 % que nunca experimentou marijuana
e mais de 90% que nunca utilizou heroína.
A percentagem de pessoas que relatam já ter usado qualquer espécie de droga cons-
titui a sua incidência. Os dados de incidência identificam, numa dada populaçäo, a medida
da sua familiaridade com a droga, num momento determinado, e podem ser úteis para fazer
comparaçöes transversais, entre grupos e diferentes momentos no tempo. Contudo, a esta-
tística do «alguma, vez usou» näo fornece informaçäo respeitante à prevalência do uso de
uma droga, isto é, quantas pessoas estäo actualmente a usá-la e qual a frequência com que
o fazem. Os dados sobre a incidência têm ainda a limitaçäo de dar o mesmo peso tanto ao
uso ocasional como ao uso regular de uma droga e de continuar a contabilizar os antigos
utilizadores de uma droga mesmo se já deixaram de a usar. Assim, a informaçäo sobre a
incidência é de pouca utilidade nos estudos longitudinais. No mesmo grupo de pessoas, ao
longo do tempo, a incidência avaliada do uso de drogas näo pode deixar de aumentar,
na medida em que membros adicionais de uma amostra-alvo experimentam uma droga e os
antigos utilizadores permanecem contabilizados, independentemente das suas práticas actuais.
Os dados do «alguma vez usou» säo muitas vezes escolhidos como esforços para dra-
matizar os problemas relacionados com a droga, dado que a natureza cumulativa e näo pon-
derada dos números da incidência inflacciona a sua dimensäo. Infelizmente por vezes, o número
do «alguma vez usou» é apresentado ou interpretado como uma indicaçäo de quantas pessoas
estäo, actualmente, a usar drogas. Só os dados da prevalência satisfaz este objectivo e só
a informaçäo detalhada respeitante à frequência com que certas drogas säo utilizadas pode
ajudar a identificar a frequência geral do uso problemático actual das substâncias tóxicas
que requer intervençäo clínica.
Os dados da preva@encia nos inquéritos da NIDA indicam que a maioria dos jovens
que relata já ter usado uma droga näo se torna utilizador regular. Em contraste com os 50 %
de indivíduos, dos 12 para os 17 anos de idade, que bebeu álcool nalguma altura da sua vida,
só 25 % relatou terem-no feito, durante o mês anterior. A prevalência para 30 dias do uso
de marijuana é de 6,4%, comparado com a incidência durante a vida de 17,4%, e menos
de 30 % dos que relatam algum uso de cocaína, estimulantes, sedativos e alucinogénios dizem
que usaram estas drogas, durante o mês anterior.
Da mesma maneira que é enganador falar do uso das drogas pelos adolescentes, sem
especificar a que drogas respeita, ou citar os dados da incidência (o que já foi usado) como
402
403
em 1988, dos indivíduos entre os 12 e os 17 anos de idade que tinham ingerido álcool no
mês anterior, representou um decréscimo em relaçäo a 37 %, em 1979, e a 32 % em 1985.
Da mesma maneira, para a marijuana, o uso pelos adolescentes, no mês anterior, atingiu
o máximo de 16,7 %, em 1979, e caiu para 12,3 % em 1985, caminhando para 6,4 % de pre-
valência, relativa a 30 dias, em 1988. O uso de cocaína e de estimulantes nos jovens aumentou
um tanto, de 1979 para 1985, quando a prevalência anunciada relativa a 30 dias foi de 1, 8 %
para ambas, mas depois as duas decresceram para taxas de 1988, 1, 1 % e 1,2 %, respecti-
vamente.
Comparando a informaçäo actual do NIDA com a anterior, acerca dos Analistas de
liceu, também se confirma um lento mas constante declínio no uso de drogas, durante os
anos 80. Com respeito ao uso de álcool em 1983, 41 % deste grupo relatou que tomara cinco
ou mais bebidas seguidas, durante as últimas duas semanas; em 1988 a prevalência desse
padräo de ingestäo de bebidas alcoólicas tinha decrescido para 35 %. Em 1978, 1 em cada
9 (10,7 %) dos Analistas do liceu disseram fumar marijuana, todos os dias; em 1988, o uso
diário de marijuana tinha caído para 1 em 37 (2,7%) desses estudantes. Durante o mesmo
período de 10 anos, qualquer uso de marijuana, durante o mês anterior, pelos Analistas do
liceu decresceu um terço, de 50% para 34%.
O uso da cocaína nos finalistas de liceu também decresceu, desde 1985. Em 1987,
15 % dos Analistas relataram ter experimentado cocaína, pelo menos uma vez na vida, e 4,5 %
relataram terem-na usado, durante o mês anterior. Em 1988, estas taxas do uso da cocaína
tinham caído para uma incidência de 12 %, respeitante à vida toda, e para uma prevalência
de 3,4 %, respeitante a 30 dias. Durante este mesmo período de 1 ano, aumentou de 80 para
83 % a percentagem dos Analistas liceais que expressou desaprovar mesmo o simples e'xperi-
mentar de cocaína.
Estes dados epidemiológicos demonstram que, para lá do álcool, o uso de substân-
cias tóxicas näo é generalizado entre os adolescentes, nos Estados Unidos, e, mais ainda,
que.näo é frequente o actual uso regular de drogas, incluindo o álcool. Estes dados väo ao
arrepio do que muitas pessoas pensam e das preocupaçöes sociais, largamente divulgados,
sobre a restriçäo do abuso de drogas pelos jovens. Esta discrepância entre os factos e as
impressöes, tal como a mitologia da agitaçäo adolescente, discutida no Capítulo 1, parece
entroncar-se em generalizaçöes anómalas feitas a partir de amostras näo representativas de
populaçöes, particularmente de populaçöes de jovens com limitaçöes particulares e na situaçäo
de pacientes.
O abuso de substâncias tóxicas é especialmente prevalecente nos bairros deterio-
rados com altas taxas de crime e é grande o uso problemático de drogas nos adolescentes
vistos em serviços de saúde mental. Contudo, nem as populaçöes com limitaçöes nem as
perturbadas säo representativas dos jovens em geral e, afirmar que säo, equivalerá provavel-
mente a gerar inferências falsas sobre o uso de drogas na adolescência, a nível nacional.
Os inquéritos do NIDA, pelo contrário, a que se recorre na presente discussäo, foram
405
Como foi descrito pela primeira vez por Kandel (1975) o uso de substâncias tóxicas
avança geralmente por uma sequência de quatro fases: ingerir cerveja e vinho, ingerir bebidas
fortes, fumar marijuana (geralmente referida como uso de drogas «leves») e usar outras subs-
tâncias como cocaína, estimulantes, sedativos, alucinogénios e heroína (conhecidas como
drogas «duras»). As conclusöes de Kandel e de outros investigadores indicam que, com raras
excepçöes, só os jovens que utilizaram substâncias tóxicas numa das fases é que se tornam
utilizadores na fase seguinte. Assim, quase todos os adolescentes que ingerem bebidas fortes
beberam anteriormente vinho ou cerveja; quase todos os que fumam marijuana beberam antes
bebidas fortes; e quase todos os que se envolvem com drogas duras tiveram uma experiência
prévia com marijuana. Os que antes näo utilizavam drogas raramente experimentam mari-
juana sem ter passado através da fase de consumo do álcool, e os bebedores raramente expe-
rimentam outras drogas ilegais sem terem primeiro experimentado marijuana (Mills & Noyes, 1
I1
1984; Yamaguchi & Katidel, 1984).
O facto do uso de drogas duras se desenvolver a partir do uso de drogas leves - o
que se tornou conhecido como a «hipótese dos degraus» - näo significa que uma droga con-
duza necessariamente a outra. Os adolescentes que bebem näo säo inevitavelmente atraídos
a fumar marijuana, nem os que usam marijuana estäo fadados a tornar-se consumidores de
drogas duras. Pelo contrário, e manifesto, através dos dados sobre frequências do uso de
álcool, marijuana e outras substâncias tóxicas, que a maioria dos adolescentes que bebe näo
passa para a marijuana e que a maioria dos consumidores de marijuana näo passa para as
drogas duras.
406
Por outro lado, as conclusöes respeitantes às fases sequenciais indicam, de facto, que
a tendência para consumir uma substância tóxica, numa dada fase, será maior nos jovens
que utilizaram uma da fase anterior do que nos que näo o fizeram. Por exemplo, no trabalho
original de Kandel e Faust (1975), um estudo que seguiu de perto, durante 6 meses, estu-
dantes liceais, constatou que 27 % dos que fumavam cigarros ou bebiam, subsequentemente
consumiram marijuana, ao passo que apenas 2 % dos que näo fumavam cigarros nem bebiam
o fez. Do mesmo modo, 26% dos consumidores de marijuana passou para a experiência de
alucinogénios, estimulantes e heroína, mas apenas 1 % dos que nunca tinham usado mari-
juana o fez.
Näo säo completamente compreendidas as razöes pelas quais alguns jovens passam
do álcool para a marijuana e para as drogas duras ao passo que outros näo. Sabe-se, contudo,
que a dimensäo do uso numa dada fase se correlaciona com a passagem para a fase seguinte.
Os grandes bebedores têm mais probabilidades do que os bebedores ocasionais de
passar para a marijuana e os consumidores regulares de marijuana têm mais probabilidades
do que os consumidores ocasionais de experimentar drogas duras. A seguir seräo discutidos
alguns factores pessoais, sociais e familiares associados com o uso das drogas e que parecem
influenciar também a passagem de uma fase de utilizaçäo da droga para a seguinte. Além
disso, pode aprender-se muito sobre as prováveis implicaçöes futuras do uso das substâncias
tóxicas, distinguindo entre várias categorias fases do uso.
A este respeito, é particularmente útil diferenciar entre as categorias de consumo para
experimentar, consumo em contexto social, consumo por automedicaçäo e consumo depen-
dente. Os consumidores ocasionais tentam as drogas uma ou talvez algumas vezes, por curio-
sidade ou para terem uma sensaçäo nova, e depois param de usá-las. Os consumidores em
contexto social tomam droga como uma maneira de participar, com os seus pares, numa acti-
vidade mutuamente interactiva de grupo. Embora os adolescentes possam, em alguns casos,
juntar-se essencialmente para partilhar uma experiência de droga, o uso social da droga é
predominantemente limitada a festas, dança e outras ocasiöes especiais. Tal como o con-
sumo apenas para experimentar, o consumo social tende, pois, a implicar apenas um com-
promisso ocasional e raro com a droga.
O consumo de drogas por automedicaçäo consiste em tomar droga para aliviar a ansie-
dade ou a tensäo ou para usufruir de uma experiência de droga em seu próprio intresse. Dados
os objectivos, o consumo automedicamentoso de droga é, essencialmente, uma experiência
individual. Dois ou mais consumidores que se automedicam podem consumir drogas em con-
junto mas é provável que, ao fazê-lo estejam mais preocupados com o seu próprio estado
mental do que com facilitar qualquer interacçäo pessoal. De facto, a utilizaçäo automedica-
mentosa das drogas tende a gerar mais vincularäo às próprias drogas do que às pessoas.
Os utilizadores que se automedicam tomam mais drogas com mais frequência do que os con-
sumidores ocasionais ou em contexto social e a sua experiência de droga acaba por lhes dar
mais prazer e consolo do que as suas experiências interpessoais. A despeito das aparências
407
em contrário, é provável que as amizades entre os que utilizam a droga para fins de autome-
dicaçäo sejam, consequentemente, ligaçöes de conveniência, superficiais e distantes, em que
os participantes usam os outros em vez de se preocuparem com eles.
O uso dependente de droga é também uma questäo individual e predominantemente
associal, mas implica näo apenas a fruiçäo de uma experiência de droga mas também o
tornar-se habituado a uma ou mais drogas, ao ponto de depender dos seus efeitos, para
se sentir física e mentalmente bem. Uma dependência das drogas deste tipo é marcada
por sintomas de retraimento, sob a forma de verdadeiro sofrimento físico e psicológico,
que sobrevém quando as drogas näo estäo acessíveis. Por causa da dependência da droga,
os utilizadores dependentes säo, destes quatro grupos, os que têm mais probabilidades de
tomar drogas com regularidade e frequência. Também tendem mais do que os outros consu-
midores a demonstrar o que Henly e Winters (1988) chamaram o uso «trans-situacional» de
drogas, que consiste em tomar drogas em momentos e lugares que näo säo apropriados, e
serve de índice seguro da gravidade de um problema de consumo. O consumo trans-
-situacional de droga é ilustrado pela diferença entre o beber um copo numa festa ou trazer
uma garrafa para a escola, a fim de beber no intervalo das aulas por causa da dependência
do álcool.
As categorias de consumo de drogas, ocasional, social, automedicamentoso e depen-
dente, oferecem uma base para distinguir entre o uso de substâncias tóxicas e o abuso de
substâncias tóxicas. De um ponto de vista psicológico, a utilizaçäo de uma droga näo é
necessariamente um comportamento abusivo para si próprio. Tanto quanto se sabe, as pes-
soas podem por vezes consumir quantidades moderadas de álcool ou marijuana sem infli-
girem nenhum dano a si próprias (Marlatt, Baer, Donovan & Kivlahan, 1988; Newcomb
& Bentler, 1989). Pondo de lado as questöes legais e morais, é o uso imoderado de quais-
quer drogas e o consumo das drogas duras que tem mais probabilidades de fazer mal ao fun-
cionamento físico e psicossocial de uma pessoa. O consumo de drogas para experimentar
e em contexto social, resulta raramente num abuso desse tipo, ao passo que o uso por auto-
medicaçäo pode ter esse efeito e a dependência de uma droga constitui sempre abuso de
droga.
As diferenças previamente mencionadas, entre a incidência ao longo de toda a vida
e a prevalência relativa a 30 dias do uso de drogas nos adolescentes, sugere que o abuso
juvenil de drogas é relativamente raro. A grande maioria dos adolescentes que experimen-
taram drogas parece ser de consumidores para experimentar e em contexto social, uma vez
que apenas uma pequena minoria deles apresenta o padräo de consumo corrente e regular
que caracteriza a utilizaçäo por automedicaçäo ou dependente. Com uma prova mais a este
respeito, a prevalência descrita do uso diário de uma droga, nos Analistas de liceu, é de 4,8 %
para o álcool, 4,0 % para a marijuana, 0,4 % para a cocaína, 0, 3 % para os estimulantes, 0, 1 %
para os sedativos, 0, 3 % para os alucinogénios e 0, O % para a heroína (Johnston, O'Malley
& Bachman, 1987a).
408
Esta distinçäo tem implicaçöes importantes para a Psicopatologia actual e para as futuras
dificuldades de adaptaçäo. Verifica-se que, no que diz respeito ao funcionamento actual, os
utilizadores que se automedicam e dependentes säo, caracteristicamente, os que sofrem de
psicopatologia significativa, ao passo que os utilizadores ocasionais e em contexto social näo
tendem, geralmente, a apresentar mais perturbaçäo psicológica do que os seus companheiros
näo-consumidores. De um modo geral, quanto maior for o consumo que os adolescentes fizerem
de álcool e outras drogas, mais provável é que eles (a) detestem a escola e tenham um fraco
aproveitamento nas aulas, (b) se retraiam das actividades de grupo dos companheiros e tenham
relaçöes tensas com os pais, (c) se envolvam em comportamentos delinquentes e se tornem
sexualmente promíscuos e (d) se sintam pessoalmente alienados (Barnes & Welte, 1986; Brook,
Gordon, Brook & Brook, 1989; Donovan, Jessor & Costa, 1988; Kovach & Glickman, 1986;
ShedIer & Block, 1990). Em consequência, nos adolescentes que consomem drogas, os indí-
cios de aproveitamento escolar em queda, relaçöes interpessoais em deterioraçäo e compor-
tamento que prejudica as outras pessoas e seus bens indicam uma passagem de uso de subs-
tâncias tóxicas para abuso das mesmas e uma correspondente necessidade de intervençäo.
Por vezes pode ser difícil determinar se as dificuldades psicossociais resultaram de
um uso de droga tornado problemático ou contribuíram para ele. Contudo, há poucas dúvidas
de que o abuso das drogas e os problemas de vida väo de mäos dadas. Também há provas
consideráveis de que o abuso juvenil das drogas tem substanciais implicaçöes negativas para
o futuro em dois pontos.
Primeiro, os estudos longitudinais indicam que o uso de drogas nos adultos é grande-
mente contínuo com o uso de drogas na adolescência e previsível a partir dele, com
uma variância de 60 %, nos padröes adultos de consumo, explicado pelo uso no liceu (Bachman,
O'Malley & Johnston, 1984; Newcomb & Bender, 1987). Além disso, quanto mais
tenra for a idade com que os adolescentes começarem a utilizar as drogas e quanto mais
intensamente se envolverem nelas, mais provável será que venham a usar ou abusar das
drogas, em adultos (Kandel, Davies, Karus & Yamaguchi, 1988; Schuckit & Russell, 1983).
Segundo, os adultos nos meados ou nos fins da década dos 20 anos que persistiram
num intenso consumo de drogas, desde os anos da adolescência, tendem a ter uma frequência
elevada de problemas de adaptaçäo, em muitos aspectos da sua vida. Comparados com os
adultos näo-consumidores, têm mais probabilidades de sofrer de problemas físicos, de saúde
e de sofrimento emocional, de ter casamentos instáveis e relaçöes familiares perturbadas,
de renderem pouco no trabalho e de entrar em dificuldades com a lei (Buydens-Branchey,
Branchey & Notimair, 1989; Kandel, 1984; Newcomb & Bender, 1988).
Certos factores pessoais, sociais e familiares estäo associados com a frequência com
que os adolescentes consomem drogas e, em primeiro lugar, com o início do consumo. Estes
409
factores da experiência exercem diferentes tipos de influências, nas diferentes fases do uso
de drogas, e o uso dependente de drogas parece também ser influenciado por factores gené-
ticos. Nos adolescentes que passaram do uso para o abuso das drogas, é, além disso, mais
provável do que improvável a existência de uma perturbaçäo psicológica coexistente, reque-
rendo um diagnóstico duplo, nos termos do DSM-III-R.
Factores pessoais, sociais e familiares
410
na formaçäo da identidade (Christopherson, Jones & Sales, 1988; Jones & Hartmann, 1988).
No que diz respeito às suas expectativas, os adolescentes que esperam que o álcool e as drogas
facilitaräo o seu funcionamento social e aumentaräo as suas capacidades cognitivas e motoras
estäo num risco relativamente elevado de um envolvimento progressivo nas drogas, ao
passo que é relativamente pouco provável que os que encaram as drogas como perigosas
para a saúde as experimentem ou continuem a usá-las (Christiansen, Smith, Roehling &
Goldman, 1989; Marlatt, Baer, Donovan & Kivlahan, 1988; Sarvella & McCIendon, 1988).
Socialmente falando, a predisposiçäo para o uso de drogas é influenciada pelo com-
portamento dos companheiros de um adolescente. Os colegas utilizadores de droga podem
influenciar o uso inicial e continuado de drogas modelando-o, encorajando-o e ajudando a
tornar as drogas acessíveis. Quanto mais de perto os jovens interagirem com amigos que
consomem drogas, tanto mais provável será que fiquem, eles próprios, envolvidos nelas.
Quanto mais drogas esses amigos usarem e quanto mais importante esses amigos forem, tanto
mais forte essa influência tenderá a ser. Contudo, em consistência com as tendências gerais,
quanto à conformidade dos jovens à conformidade aos seus pares, os adolescentes säo mais
susceptíveis à influência dos companheiros consumidores de droga, durante os fins do ensino
básico e início do ensino secundário. No meio da adolescência, especialmente depois dos
15 ou 16 anos, começa a diminuir a frequência com que os adolescentes säo influenciados
pelas acçöes dos companheiros, no sentido de se envolverem com drogas ou permanecerem
implicados com elas (Brook, Lukoff` & Whiteman, 1980; Huba & Benfler, 1980; Morgan
& Grube, 1989).
Quanto aos factores familiares, as conclusöes da investigaçäo indicam que os pais
tendem a influenciar o comportamento de consumo de droga nos filhos, pelo exemplo que
däo com o seu próprio comportamento e pelo clima que criam no lar. No que diz respeito
à modelagem, verifica-se que o consumo de droga nos jovens está directamente relacionado
com o facto dos pais tomarem ou näo drogas e com a frequência com que o fazem. Os pais
quê näo tomam drogas, raramente têm filhos que o façam, ao passo que quanto mais os pais
utilizarem qualquer droga específica, mais provável se torna que os filhos usem ou abusem
da mesma droga. Contudo, é interessante que menos do que o seu consumo de marijuana,
os hábitos de bebida dos pais tendem a estar ligados ao consumo progressivo de droga nos
filhos adolescentes. A probabilidade dos adolescentes, cujos pais consomem marijuana, pas-
saram da marijuana para as drogas duras é maior do que a probabilidade dos adolescentes,
cujos pais bebem, passarem da utilizaçäo do álcool para a da marijuana (Chassin, McLaughlin
& Sher, 1988; Johnson, Shontz & Locke, 1984; Rees & Wilborn, 1983; West & Prinz, 1987).
Quanto à atmosfera do lar, os pais psicologicamente instáveis e pouco convencio-
nais, absorvidos com os seus próprios assuntos, desinteressados dos filhos e dados a formas
de disciplina permissiva ou autoritária, tendem a ter jovens adolescentes que se envolvem
com drogas. Inversamente, é relativamente pouco provável que pais bem adaptados, que
mantêm um lar bem organizado, que cuidam e comunicam com os filhos e que estabelecem
411
limites e os fazem cumprir de forma democrática, tenham filhos que se tornem utilizadores
regulares e persistentes de drogas (Barnes, 1984; Brook, Gordon & Whiteman, 1986; Jurich,
Polson, Jurich & Bates, 1985; McDermott, 1984; ShedIer & Block, 1990). Como seria de
esperar, estas características de clima rejeitante nos lares dos adolescentes, que se envolvem
com drogas, säo semelhantes às dificuldades de relacionamento familiar observados nos jovens
com um vasto leque de problemas de comportamento, discutidos em vários dos capítulos
anteriores.
No decurso das suas amplas investigaçöes sobre o uso de substâncias tóxicas na ado-
lescência, Brook e colegas verificaram ainda que os factores associados de personalidade,
os factores relacionados com os companheiros e os relacionados com os pais podem exercer
a sua influência, independentemente uns dos outros (Brook, Nomura & Cohen, 1989a; Brook,
Whiteman & Gordon, 1983). Como acontece sempre no caso em que vários factores inte-
ragem para dar forma a um dado resultado, esta verificaçäo tem três implicaçöes importantes.
Primeira, a probabilidade máxima de experimentar drogas ou de as consumir intensamente
surge, quando os três tipos de influências - pessoais, sociais e familiares - coexistem numa
larga medida. Segunda, uma influência particularmente forte, de um ou de outro tipo, pode
ser suficiente para promover o consumo de droga, mesmo quando as outras influências forem
mínimas. Por exemplo, um intenso consumo parental de droga e um clima muito negativo
em casa podem levar ao consumo de drogas em adolescentes que, de resto, näo estariam
pessoalmente orientados para as drogas e que näo estäo a sofrer grandes influências sociais
nesse sentido. Do mesmo modo, uma atracçäo pessoal para as drogas e uma forte pressäo
dos companheiros pode resultar no uso de drogas, mesmo quando os pais näo modelam o
seu consumo, nem negligenciam as suas responsabilidades parentais.
Terceira, influências especialmente positivas de um ou outro tipo podem proteger
um adolescente, de resto em alto risco, de se envolver com as drogas. Nalguns estudos, por
exemplo, parece que as relaçöes próximas e apoiantes entre pais e filhos vacinam os jovens
contra a atracçäo para as drogas, mesmo quando estäo imersos numa cultura de companheiros
que as consomem em quantidades. Noutros casos, verifica-se que os factores protectores de
um ambiente escolar positivo dissuadem os jovens da utilizaçäo de substâncias tóxicas, mesmo
quando o consumo de droga é uma prática comum e aceite em suas casas (Brook, Brook,
Gordon & Whiternan, 1990; Brook, Nomura & Cohen, 1989a, 1989b; Marston, Jacobs, Singer
& Widaman, 1988). -
Se bem que a maioria dos especialistas concorde que cada factor pessoal, social e
familiar desempenha um papel no facto dos adolescentes começarem e continuarem a con-
sumir drogas, existem diferentes opiniöes acerca da importância relativa destes factores. Alguns
412
investigadores colocam uma ênfase particular nas influências dos companheiros (Sarvella &
McCIendon, 1988; Swaim, Oetting, Edwards & Beauvais, 1989), outros säo particularmente
atentos às influências parentais (Johnson, Shontz & Locke, 1984) e outros acentuam o papel
que os factores pessoais e psicopatológicos podem desempenhar na promoçäo de um envol-
vimento progressivo com as drogas (Block, Block & Keyes, 1988). No que respeita à escolha
destas alternativas, Karidel e colegas observaram, desde o início do seu trabalho, que as influên-
cias da personalidade, dos colegas e dos pais no comportamento relativo às drogas diferiam
no seu impacto, nas três fases de consumo, a das bebidas alcoólicas fortes, a da mari-
juana e a das drogas duras (Adler & Karidel, 1981; Karidel, Kessler & Margulies, 1978).
Os dados acumulados indicam, especificamente, que começar a consumir bebidas
alcoólicas fortes é determinado, principalmente, por influência dos pais e companheiros e
näo tanto pelas características de personalidade. Nesta fase de consumo de drogas, as influências
parentais e dos colegas têm aproximadamente o mesmo peso e exercem-se de maneira seme-
lhante, através de efeitos de modelagem. Por conseguinte, mais do que tudo o resto, os ado-
lescentes que começam a ingerir bebidas fortes estäo a imitar o comportamento de pessoas
que säo importantes na sua vida. Nem a qualidade da relaçäo pais-filhos, nem as atitudes
e os valores parecem ter muita influência nesta fase.
O começo da utilizaçäo da marijuana tende, mais do que a iniciaçäo à bebida, a implicar
alguns dos factores pessoais associados com o consumo das drogas. Estes incluem atitudes
relativamente liberais e inconformistas bem como a convicçäo de que a marijuana é uma
substância que näo é nociva e deveria ser legalizada. Também é provável que os jovens que
começam a usar manjuana tenham provavelmente sido bebedores assíduos e apresentem alguns
dos problemas associados com o uso da droga, como pequena delinquência e aproveitamento
escolar relativamente fraco. Contudo, eles näo tendem especialmente a ter quaisquer pro-
blemas psicológicos graves.
Começar a consumir drogas duras é a fase que mais provavelmente implica graves
problemas psicológicos. Caracteristicamente, os consumidores de drogas duras teräo uma
história de uso intenso, ou pelo menor regular, de marijuana e tendem sobretudo a sentir-se
deprimidos ou alienados ou a lidar sem sucesso com uma série de situaçöes nas suas vidas.
Muitas vezes os melhores amigos dos utilizadores de drogas duras também estaräo bastante
envolvidos com drogas. Contudo, tal como foi mencionado anteriormente, o facto dos com-
panheiros tomarem drogas em conjunto é, nesta fase do uso das drogas, muito mais uma
questäo de conveniência do que de influência. Os adolescentes que começam a consumir drogas
duras tendem a estar retraídos e isolados das actividades de grupo dos seus pares e para além
do uso de droga com objectivos sociais. Num sentido geral, consequentemente, a influência
do grupo dos pares näo desempenha um papael particularmente importante na passagem do
jovem para o uso de drogas duras.
Por outro lado, as influências parentais, assumem um papel capital nesta última fase.
Embora as atitudes dos pais para com as drogas duras näo façam muita diferença no facto
413
dos filhos as usarem ou näo, tanto os modelos que estabelecem, como a qualidade de vida
familiar que proporcinam contam realmente. Como já foi apontado, o uso parental de mari-
juana, cocaína, estimulantes e sedativos é um importante preditor da iniciaçäo dos adoles-
centes noutras drogas além da marijuana. Para além disso, o abandono parental e a falta de
relaçöes familiares íntimas exerce uma forte influência no movimento para essa fase de con-
sumo de drogas.
Estas diferenças relacionadas com as fases confirmam mais ainda como pode ser enga-
noso fazer generalizaçöes grosseiras sobre aspectos do uso juvenil de substâncias tóxicas.
Essas diferenças também ajudam a predizer se um adolescente que começou a ingerir bebidas
fortes passará para outras fases do uso de drogas. Para além do significado preditivo do uso
intenso de drogas, numa determinada fase de progressäo para a fase seguinte, o movimento
das bebidas alcoólicas fortes para a marijuana será influenciado, principalmente, pelos envol-
vimentos dos companheiros e o movimento da marijuana para as drogas mais duras será influen-
ciado, principalmente, por problemas psicológicos pessoais e relaçöes pais-filhos perturbadas.
414
Bailey, 1990). Ademais, a tendência genética para o alcoolismo, em alguns casos, näo signi-
fica que a dependência das drogas seja essencialmente uma condiçäo herdada. Pelo contrário,
ainda näo há indícios consistentes de diferenças biológicas pré-mórbidas, entre as pessoas
que se tomam dependentes de drogas e aquelas que näo se tomam, e aproximadamente metade
dos adultos hospitalizados por alcoolismo näo têm qualquer história familiar de bebida (Alford,
1989; Goodwin, 1985; Searles, 1988). Por outro lado, os alcoólicos que têm realmente bebe-
dores problemáticos entre os familiares biológicos, comparados com os alcoólicos sem uma
história familiar, tendem a ter começado a beber muito, numa idade mais precoce, e, depois,
näo só a ficar mais diminuídos pela sua dependência mas também a reagir menos favoravel-
mente aos programas de tratamento de drogas (Frances, Timine & Bucky, 1980; Goodwin,
1985; Marlatt, Baer, Donovan & KivIahan, 1988). Consequentemente, um componente gené-
tico pode conduzir a uma forma mais grave de alcoolismo do que aquele que resulta simples-
mente de dificuldades pessoais ou sociais, embora as características herdadas näo sejam neces-
sárias nem suficientes para que esta condiçäo ocorra.
Pode-se ter a expectativa de que, com poucas excepçöes, os adolescentes que usam
drogas para se automedicar ou por dependência tenham uma perturbaçäo psicológica simul-
tânea que careça de avaliaçäo e de tratamento por direito próprio. Na prática clínica, isto
significa que, num jovem, um diagnóstico de distúrbio por uso de substâncias tóxicas, segundo
os critérios do DSM-III-R, será nonnalmente acompanhado de um segundo diagnóstico de
alguma outra condiçäo problemática ou de sofrimento. E raro que um adolescente se torne
um consumidor de drogas duras, na ausência de sofrimento psicológico ou de inadequaçäo
da sua capacidade de lidar com as situaçöes que fizeram com que fosse desagradável ou impos-
sível !lma adaptaçäo sem drogas.
Embora se possa encontrar virtualmente qualquer tipo de perturbaçäo cognitiva, afectiva
ou comportamental em associaçäo com o distúrbio por abuso juvenil de substâncias tóxicas,
existem duas situaçöes, em particular, que tendem a coexistir com esse abuso. Uma delas
é a depressäo, incluindo muitas vezes ideaçäo ou tendências suicidas e reflectindo ocasional-
mente um distúrbio bipolar ou limite (ver Capítulos 4 e 5). A outra é o comportamento delin-
quente, implicando muitas vezes um distúrbio diagnosticável de conduta, com formaçäo de
uma personalidade anti-social emergente (ver Capítulo 8). No trabalho clínico com adoles-
centes que abusam das drogas, a depressäo e o mau comportamento têm tantas probabili-
dades de ter resultado em envio para ajuda especializada, como a própria história de droga
da pessoa, e a cronicidade e gravidade destes problemas coexistentes têm uma relevância
considerável no prognóstico, quanto ao controlo do abuso de drogas. Os dois casos que se
seguem ilustram estes dois diagnósticos que säo comuns no abuso de drogas.
415
Desde que os pais se divorciaram quando tinha 8 anos, Paula fora atormentada por
ansiedades e pesadelos de que o pai, que se mudara para outra cidade, voltaria para a raptar
e levar para viver com ele. Antes do divórcio, o pai abusara, emocional e fisicamente, da
mäe, da irmä de 7 anos de idade de o irmäo de 4 anos. O abuso näo tinha sido sexual e
näo tinha envolvido a Paula, tanto quanto se sabia mas, mesmo assim, os medos de que ele
viesse buscá-la íncluiam preocupaçöes específicas de que abusasse física e sexualmente dela.
Um aspecto interessante que nunca ficou resolvido, neste caso, foi se uma realizaçäo do desejo
de ser objecto da atençäo do pai desaparecido desempenhava um papel nos medos aparente-
mente injustificados.
De qualquer modo, quando tinha 15 anos, Paula completou o nono ano de escolari-
dade, numa escola de transiçäo, e começou o décimo ano num liceu localizado noutro bairro.
Teve dificuldade em fazer amigos, nestes novos ambientes, e sentiu-se solitária e alienada.
Segundo a Paula, a mäe estava «cansada e irritada a maior parte do tempo» e «näo conseguia
prestar atençäo aos meus problernas». O irmäo estava a viver em casa mas «nunca me com-
preendeu» e a irmä, agora, estava casada e «com os seus próprios problemas». A solidäo
da Paula, acrescentada às suas ansiedades anteriores, aumentou gradualmente, as suas notas
de média Bom que mantivera orgulhosamente, no passado, caíram e a sua auto-estima entrou
igualmente em parafuso. Para aliviar o sofrimento psicológico, começou a beber sempre que
tinha oportunidade. Nesta família, estava bem preparada a via para o abuso de substâncias
tóxicas. O pai de Paula era um alcoólico recuperado, a irmä tinha tido problemas relacio-
nados com droga, durante o liceu, e o irmäo estava, à época, com dificuldades em controlar
o consumo de álcool e de droga.
A medida que os problemas da Paula pioravam, ela começou a isolar-se no seu quarto,
durante longos períodos de tempo, a ter crises de choro, a dormir mal, a comer demais e
a aumentar de peso e a pensar em matar-se. Levou quase um ano, para a mäe finalmente
compreender a gravidade das dificuldades da Paula e procurar ajuda para a filha.
Quando foi vista pela primeira vez, Paula, agora com 16 anos e no décimo primeiro
ano, contou que bebera diariamente, durante vários meses, «porque eu preciso para me esconder
atrás, quando me sinto mal». No entanto, a bebida fazia-a sentir~se ainda pior, disse ela,
porque era coisa má e ela era uma pessoa fraca por näo ser capaz de parar com aquilo. Por
causa das suas ideias de suicídio e da auto-deprecíaçäo («Eu näo gosto muito de mim pró-
pria» disse «näo gosto de nada em mim»), entrou numa unidade de internamentos curtos para
adolescentes, para avaliaçäo e planeamento de tratamento.
Durante uma hospitalizaräo curta, a depressäo da Paula dissipou-se marcadamente
em reacçäo à medicaçäo, à psicoterapia e ao aconselhamento familiar. Ela tomou um papel
activo no planeamento de uma terapia prolongada, depois da alta, e numa vida social revigo-
rada que a libertasse de qualquer nova necessidade de afogar os seus desgostos. O caso de
416
Paula ilustra o início de um abuso de droga com objectivo de automedicaçäo, como uma
necessidade indesejável, secundária à ansiedade e à depressäo, com um bom prognóstico
para o restabelecimento, se pudesse ser ajudada a ganhar alguma perspectiva sobre os medos
do pai e a extrair forças de uma família apoiante e de uma rede de companheiros.
Steven tinha 14 anos de idade, quando a mäe combinou, contra sua vontade, o seu
intemamento num hospital psiquiátrico. A mäe deu as seguintes razöes para este procedi-
mento: (a) Steven tornava-se cada vez mais desafiador e rebelde, indo para além da capaci-
dade da mäe para o controlar; (b) regularmente, bebia álcool e fumava marijuana; (c) faltava
frequentemente à escola e, apesar de demonstrar uma inteligência superior na avaliaçäo escolar,
recebera duas negativas, num recente relatório de notas; e (d) como última gota, fora detido
pela polícia, por guiar sem carta, e ficara preso, por ter objectos necessários ao uso de drogas
na sua posse.
A mäe de Steven contou inicialmente que estes problemas de conduta apareceram,
depois de dois acontecimentos cruciais, ocorridos nos 2 anos anteriores. Ele estivera envol-
vido num acidente de automóvel, em que o seu melhor amigo morrera, sentado no carro
a seu lado, e o pai, descrito pela mäe como «um homem maravilhoso que tinha uma boa
relaçäo com os filhos» morrera, subitamente, de ataque cardíaco. Tal como foram contados,
estes acontecimentos poderiam sugerir uma depressäo subjacente, talvez com um luto por
resolver, como a fonte dos problemas do Steven. Contudo, informaçäo adicional obtida da
mäe, quando a hospitalizaräo prosseguia sugeriu diferentemente.
Primeiro que tudo, soube-se pela mäe do Steven que ele sempre tinha sido uma criança
difícil de controlar. Desde cedo, exibira pouca emoçäo, era indiferente aos castigos e parecia
determinado a fazer coisas à sua maneira, mesmo se arranjasse sarilhos como resultado.
De facto, quando tinha 6 anos de idade, ela conseguira mandá-lo observar por causa da sua
«desagradável postura e comportamentos e, quando ainda estava na escola primária, a mäe
tivera problemas, por ele lhe roubar dinheiro da carteira. No que respeitava à escola, verificou-
-se que ele sempre tinha feito um trabalho mínimo, geralmente apenas o necessário para passar
de um ano para o outro, mas näo mais.
Quanto aos laços com o amigo morto no acidente, a mäe do Steven contou que sempre
parecera uma pessoa popular, falando sobre muitos conhecidos e recebendo frequentes cha-
madas telefónicas, mas que, na realidade, nunca tivera amigos íntimos. Mesmo o possível
impacto da morte do pai foi desvalorizado pelo comentário da mäe de que o pai, nem de
perto nem de longe, era täo próximo do Steven como dos dois outros filhos (uma irmä e
um irmäo mais velhos) e que Steven näo parecera sentir tanto a sua falta, como os outros
membros da família. Finalmente, de registar, a mäe afirmou que ela e o marido «adoravam»
417
marijuana e que a consumiam regularmente. Só nos últimos meses, é que ela tinha deixado
de usar marijuana, quando «Ocorreu-me que eu podia estar a dar um mau exemplo».
Quanto ao Steven, ele era um rapaz fisicamente maturo, que parecia muito mais
velho do que os seus 14 anos. Mau humor, rancor e má-criaçäo eram as suas marcas distin-
tivas, como paciente do hospital, embora ele habitualmente estivesse disposto a falar de si
próprio, contanto que ninguém se opusesse ao que dizia. Admitiu livremente drogar-se com
cerveja e marijuana, quase todos os fins-de-semana, e também consumir alucinogénios, oca-
sionalmente. Porque é que fazia isso? «Eu gosto de ficar pedrado» disse «e também gosto
de brigar, porque é porreiro brigar». Steven deu as suas opiniöes respeitantes ao consumo
de drogas com uma idêntica clareza: dizia ele que näo havia nada de mal em tomar drogas,
consumir drogas näo lhe estava a causar nenhuns problemas, näo tinha nenhuma vontade
de sair das drogas e começaria a beber cerveja e a fumar erva, logo que possível após deixar
o hospital.
Com respeito ao hospital, Steven encarava o internamente em grande medida como
uma sentença de prisäo e a sua unidade como um lugar de detençäo. Como criminoso impe-
nitente a cumprir pena, parecia resolvido a provar que podia aguentar o encarceramento.
Se se mantivesse longe de sarilhos, o tempo acabaria, ele seria libertado e estaria livre, sem
mais interferências, para voltar ao seu modo de vida preferido.
A longa história de má conduta e o relacionamento interpessoal nitidamente distante
do Steven sugeriram que os problemas dominantes, inclusive o abuso de drogas, estavam
associados mais com um distúrbio anti-social emergente do que com qualquer reacçäo aguda
ou estranha ao ego a acontecimentos perturbantes do passado recente. A total aceitaçäo do
seu envolvimento na droga e o desinteresse em modificar o consumo de droga eram consis-
tentes com essa impressäo de dificuldades caracteriais, como também o era igualmente a
atitude negativa reactiva à participaçäo num programa de tratamento. Estas circunstâncias
indicaram que só os cuidados em regime residencial de longa duraçäo, numa unidade de tra-
tamento de droga, ofereceriam possibilidades de alterar as suas perspectivas acerca do uso
de drogas e do relacionamento com as pessoas e, nesse sentido, foi feita uma colocaçäo apro-
priada.
TRATAMENTO E PREVENÇÄO
A semelhança do que se passa quando se pondera uma intervençäo num possível com-
portamento problemático, o planeamento do tratamento para adolescentes que utilizam drogas
deveria começar, com um cuidadoso diagnóstico diferencial entre as quatro categorias do
uso de substâncias tóxicas identificados mais atrás. Os adolescentes que säo consumidores
do tipo ocasional ou social raramente carecem de tratamento. De uma maneira característica,
418
eles param de usar drogas de moto próprio ou consomem-nas raramente, de uma maneira
tal que näo interfere com o seu funcionamento psicossocial e näo constitui psicopatologia.
Nos jovens, por outro lado, é muito provável que o uso dependente e por automedi-
caçäo de drogas comprometa o desenvolvimento normal e careça de intervençäo especiali-
zada. Quando as pessoas atingem o ponto de apreciar a experiência da droga, como uma
maneira de escapar ou de alterar os seus pensamentos e sentimentos, elas tornam-se abusa-
doras de drogas e desenvolvem uma perturbaçäo psicológica. Da mesma maneira, quando
as pessoas se habituaram a uma substância tóxica e se tornam dependentes dela, para manter
o seu bem-estar mental e físico, elas desenvolveram uma condiçäo psicológica debilitante
cuja recuperaçäo é geralmente um processo longo e doloroso que carece de uma ajuda deli-
cada e sofisticada de outras pessoas.
O papel já confirmado dos factores pessoais, sociais e familiares que conduzem ao
consumo de drogas pesadas proporciona algumas linhas mestras gerais, na formulaçäo de
estratégias de tratamento dos adolescentes que se julga que abusam das drogas. É razoável
presumir que, em particular, algumas ansiedades ou insatisfaçöes psicológicas, algumas relaçöes
tensas ou de influência desfavorável com os companheiros e alguma desuniäo ou comporta-
mento de modelagem para as drogas na família tenham contribuído, para o jovem ter come-
çado a usar drogas e avançando até uma fase de automedicaçäo ou dependência. Por isso,
uma intervençäo bem sucedida no abuso de drogas carece de uma abordagem que alivie o
sofrimento psicológico, promova redes positivas e apoiantes de companheiros e encoraje um
clima de cuidados em casa. A haver obstáculos que impeçam que estes três objectivos tera-
pêuticos se realizem, a maioria das vezes eles näo deixaräo que um adolescente que abusa
das drogas consiga ou mantenha uma existência livre de drogas. As estratégias mais especí-
ficas que tendem a provar eficácia no tratamento do abuso de substâncias tóxicas diferem
substancialmente no que diz respeito ao padräo de abuso de drogas ser de tipo automedi-
caçäo ou dependência.
Dado que os indivíduos que abusam das drogas por automedicaçäo estäo usualmente
a lutar por animar as experiências sem graça da vida ou por evitar as desagradáveis, eles
muitas vezes reagem bem à psicoterapia individual ou de grupo, destinada a acalmar desa-
pontamentos ou tensöes e a ajudá-los a encontrar maneiras mais eficientes de lidar com situaçöes
que provocam sentimentos de depressäo ou ansiedade. Como no caso de outros problemas
de comportamento, secundários a preocupaçöes psicológicas, como sejam o insucesso escolar
passivo-agressivo (ver Capítulo 7) e a delinquência neurótica (ver Capítulo 8), uma certa
resoluçäo das preocupaçöes subjacentes oferece boas expectativas de reduzir o comportamento-
-problema ao reduzir a sua principal fonte.
419
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quanto pareça indicado e exequível, a terapia dos jovens que abusam de drogas deve incluir
aconselhamento aos pais para os encorajar a controlar o seu próprio consumo de substâncias
tóxicas, a tomar uma posiçäo forte e explícita contra o consumo de drogas e a modificar
quaisquer eventuais tendências de serem demasiado indulgentes ou demasiado rígidos, nas
suas práticas de educaçäo dos filhos. Além disso, juntamente com a terapia individual, devem
usar-se sessöes familiares, para evitar que os pais de indivíduos que abusam de drogas mini-
mizem a gravidade do problema do filho e para promover a comunicaçäo pais-filho e uma
vida familiar mais agradável.
Juntamente com este reconhecimento da necessidade do desenvolvimento parental,
os terapeutas precisam de ter em mente que se verifica muitas vezes que as famílias parti-
lham com os membros adolescentes alguma resistência a comprometer-se num programa de
tratamento (Kaufinan, 1985; Szapocznick, Perez-Vidal, Brickman, Foote, Santisteban, Hervis
& Kurtines, 1988). Algumas famílias, ao estabelecer padroês de relacionamento com uma
pessoa que, no seu seio, abusa das drogas, teräo criado uma homeostase que resiste à mudança.
Nesses casos, pode parecer näo valer a pena o risco de abandonar padröes de interacçäo
familiar ainda que muitas vezes desagradáveis, sem saber de antemäo como seräo os novos.
Outras vezes, um adolescente que abuse de drogas, a semelhança de proles com outro tipo
de problemas de comportamento, tornar-se-á o bode espiatório a quem se pode atribuir as
dificuldades da família e cujo progresso ou recuperaçäo privaria os outros membros da família
de racionalizaçöes expeditas, relativas à sua própria contribuiçäo para os problemas fami-
liares. Daqui que, os terapeutas decididos a abordar as dificuldades da família que favoreceu
ou sustentou o abuso de drogas de um adolescente, devem estar preparados para abordar
primeiro os padröes familiares que provavelmente desencorajam as mudanças e limitam o
empenho eficaz no tratamento.
É muito limitada a investigaçäo que examine a eficiência das várias abordagens no
tratamento do abuso de drogas por automedicaçäo. Os poucos estudos existentes tendem a
confirmar que o envolvimento das famílias aumenta o impacto dos programas de tratamento.
O prognóstico de um resultado bem sucedido é também mais favorável para os adolescentes
que abusam das drogas, quando conseguem continuar na terapia mais tempo, se mantêm na
escola, eram mais velhos quando começaram com o abuso de drogas e evitaram tornar-se
consumidores com abuso de múltiplas drogas (Davidge & Forman, 1988; Lewis, Piercy,
Sprenkle & Trepper, 1990; Newconib & Benfler, 1989). Também existem algumas provas
de que, quanto mais conscientes os adolescentes estiverem dos seus problemas e quanto mais
preocupados com o sofrimento psicológico para o qual se medicam, tanto mais confiantes,
motivados e capazes de se abrir estaräo, ao começar a terapia, e mais benefício receberäo
dela (Friedinan & Glickman, 1987).
Uma interessante questäo final a considerar é se os adolescentes que se automedicam
carecem de tratamento em internamente. Na maioria dos casos, os utilizadores de drogas
que se automedicam podem participar eficazmente na psicoterapia, em consulta externa,
421
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coisas terríveis que as drogas fazem às pessoas, como por exemplo, destruir-lhes o cérebro.
A experiência indica que é menos provável que os adolescentes, tornados dependendes das
drogas, dêem atençäo a essas mensagens de evitaçäo do que a mensagens de aproximaçäo
que sublinham as oportunidades de satisfaçäo e de sucesso que estaräo ao seu alcance se ficarem
livres da droga. Os adolescentes encorajados a ponderar as coisas boas que lhes podem acon-
tecer, se pararem com o abuso de drogas, apresentaräo uma reacçäo mais favorável à inter-
vençäo do que os que säo disciplinados através das coisas más que lhes aconteceräo, se con-
tinuarem a abusar das drogas.
Um segundo princípio no trabalho com adolescentes dependentes das drogas é que
a abstinência näo é suficiente. A decisäo de um adolescente dependente de sair da droga e
o seu sucesso inicial ao fazê-lo constituem um passo na direcçäo certa, mas este primeiro
passo proporciona pouca protecçäo contra uma recaída. Para a abstinência persistir, tem de
ser acompanhada de uma imersäo num estilo de vida livre de drogas satisfatório que inclua
um adequado funcionamento escolar e social. Deixar o consumo de drogas näo produz auto-
maticamente nem restabelece um funcionamento intelectual, cognitivo, social e emocional
adequados para a idade. Para atingir este fim, pode ser necessário utilizar uma diversidade
de abordagens de tratamento, para complementar as primeiras estratégias centradas na droga.
Estas podem incluir apoio escolar, treino de competências sociais, psicoterapia dirigida a
um vasto leque de preocupaçöes pessoais e dificuldades de adaptaçäo, e o envolvimento em
grupos de auto-ajuda como os Alcoólicos Anónimos e os Narcóticos Anónimos. Por outras
palavras, para ajudar um adolescente dependente de drogas a optar por um estilo de vida
diferente, o programa de tratamento tem de ajudá-lo a construí-lo.
Terceiro, para ajudar a manter os adolescentes num estilo de vida livre de drogas,
deve-se melhorar as redes familiares e de companheiros. A semelhança da psicoterapia, o
aconselhamento familiar e o planeamento com os pares näo têm, inicialmente, o mesmo papel
significativo, no tratamento do uso dependente de drogas, como têm no alívio do uso auto-
medicamentoso. Contudo, desde que o adolescente dependente se comprometa a tentar a abs-
tinêúcia, é quase sempre essencial o adequado apoio da família e dos amigos, para que per-
maneça fora da droga. Assim, à medida que o tratamento avança, os pais devem ser
aconselhados a recompensar, de todas as maneiras possíveis e razoáveis, tanto um menor
uso da droga como os esforços para constituir um estilo de vida de sucesso. Da mesma maneira,
deve-se fazer todo o possível por aumentar o grau de implicaçäo do adolescente com colegas
näo consumidores, escolar e socialmente bem sucedidos, e, ao mesmo tempo, diminuir o
contacto com amigos que tiveram problemas relacionados com a droga.
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impedir que se esgace. Especialmente para os que abusam e que se tornaram dependentes
das drogas, as expectativas de recuperaçäo sem recaída, mesmo após tratamento adequado,
säo, na melhor das hipóteses, incertas. Por isso, como é tantas vezes o caso em perturbaçöes
crónicas, a melhor maneira de tratar o abuso de substâncias tóxicas é, em primeiro lugar,
evitar que ocorra.
Tendo isto em mente, verteram-se enormes recursos nos programas de prevençäo
de drogas, ao longo dos passados 20 anos, mais ou menos. Contudo, só recentemente é que
as liçöes tiradas dos frequentes falhanços desses programas começaram a dar forma a métodos
preventivos que oferecem algumas promessas de eficácia.
Os esforços de prevençäo das drogas começaram com a expectativa de que os ado-
lescentes informados dos perigos do uso das drogas se manteriam afastados delas. Apesar
do bom senso deste fundamento lógico, nunca surgiu nenhuma prova consistente de que o
participar num programa de prevençäo do uso das drogas dissuada os adolescentes de as usar.
Pelo contrário, alguns investigadores descobriram que proporcionar aos jovens informaçäo
sobre droga pode contribuir para que se envolvam mais nela do que para se afastar (Bangert-
-Drowns, 1988; Fialkov, 1989; Goodstadt, 1980).
Contudo, seria injustificado concluir que a educaçäo para a prevençäo do uso das
drogas faz mais mal do que bem. Retrospectivamente falando do problema sugere-se antes
que os programas preventivos destinados aos adolescentes podem muitas vezes ter falhado,
por demasiado curtos ou demasiado tardios. Näo se pode esperar que contenha grande dose
de prevençäo a transmissäo de factos sobre drogas a estudantes do liceu, numa idade em
que o uso das drogas já está bem em marcha, para a maioria dos que teräo, subsequente-
mente, problemas relacionados com as drogas. Do mesmo modo, näo se pode esperar que
a pregaçäo moralística ou as tácticas alarmistas dirigidos aos adolescentes encontre ouvidos
receptivos, quando o seu sistema de valores foi grandemente modelado pelas influências da
família e dos pares. Nessa base, a educaçäo nas escolas para a prevençäo do uso das drogas,
tem sido gradualmente deslocado para as primeiras classes e tem-se prestado maior atençäo
à vantagem apontada anteriormente de dar ênfase aos benefícios de evitar as drogas e näo
aos riscos de as consumir. Resta ver se tais modificaçöes melhoraräo a eficiência dos pro-
gramas de educaçäo preventiva.
Entretanto, o malogro inicial dos programas de educaçäo preventiva levaram os clí-
nicos e os conselheiros a tentar complementar ou substituir esses programas por exercícios
de desenvolvimento social e de participaçäo da comunidade. O fundamento lógico desta abor-
dagem era a convicçäo de que o treino de competências sociais e as estratégias de resoluçäo
de problemas, combinadas com a implicaçäo em actividades comunitárias recreativas, redu-
ziriam o envolvimento nas drogas, dado que a alienaçäo social e a incompetência pessoal
säo factores de alto risco para o abuso das drogas. Contudo, à semelhança dos esforços ini-
ciais de educaçäo preventiva, estes programas de promoçäo pessoal näo têm dado provas
de ser suficientemente poderosos para diminuir o abuso das drogas (Beaulieu & Jason, 1988;
Fialkov, 1989; Tobler, 1986).
424
Por outro lado, esforços recentes para aumentar o poder destas abordagens psicosso-
ciais para prevençäo do abuso das drogas estäo a começar a revelar algumas promessas.
Em vez de se dirigirem às competências sociais em geral, estas abordagens centram-se espe-
cificamente no treino dos jovens para lidar eficientemente com os determinantes do abuso
de drogas. A esse respeito, o mais importante é ajudar os adolescentes a tornar-se suficiente-
mente assertivos e determinados a resistir às influências sociais para que näo abusem das
drogas e serem capazes de dizer «Näo» às drogas (Fialkov, 1989; Horan & Straus, 1988;
Killen, 1985).
Além disso, as abordagens contemporâneas sublinham que a ajuda aos adolescentes
para desenvolver aptidöes cognitivas e comportamentais específicas, no sentido de evitar o
envolvimento nas drogas, como seja ser capaz de resistir à pressäo social, só se remete a
um único componente dos problemas sociais das drogas, o «hospedeiro». Como acontece
nos esforços para tratar o abuso de drogas, as tentativas de a prevenir têm, além do mais,
de se voltar para dois outros componentes, o «ambiente» e o «agente» (Newcomb & Bender,
1989; Schinke & Gilchrist, 1985). No que diz respeito ao ambiente, têm de se dar passos
para promover um clima no lar e na comunidade do jovem que fomente apoios e recom-
pensas ao comportamento de näo-abuso. Finalmente, quanto ao agente do abuso, resta o facto
de que os esforços psicossociais para prevenir o abuso de substâncias tóxicas será mais ou
menos bem sucedido em relaçäo com a eficiência dos esforços cívicos ara manter as drogas
fora das mäos dos jovens.
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Capítulo 1 1 - PSICOTERAPIA
um
430
possuir aptidöes sofisticadas para pensar sobre si mesmos, para expressar os seus
sentimentos,
para compreende as outras pessoas e para assumir responsabilidades pelos seus
actos. Com-
parados com os adultos, é menos provável que sofram de psicopatologia cristalizada
ou dis-
torçöes crónicas de personalidade e também estäo mais livres de obrigaçöes do
dia-a-dia que
os restrinjam na conduçäo da sua vida em novas direcçöes.
Por isso, a despeito dos desafios e dos riscos que possa forçosamente acarretar, o
trabalho com adolescentes, para os ajudar a ultrapassar distúrbios psicológicos e
conseguir
mudanças positivas de comportamento, pode ser uma empresa frutuosa e
recompensadora.
Os profissionais que compreendem os adolescentes e estäo preparados para se
ocupar destes
jovens, numa relaçäo psicoterapêutica, podem muitas vezes ter muita importância
nas vidas
deles.
Por seu turno, os adolescentes que necessitam de ajuda especializada säo
geralmente
capazes de colher dela um considerável benefício. As investigaçöes indicam que
cerca de
75 % dos adolescentes que participam em terapia individual, de grupo ou em
terapia fami-
liar, apresentam um resultado positivo (Tramontana, 1980). Da mesma maneira, a
investi-
gaçäo relativa aos resultados terapêuticas combinados de crianças e adolescentes
demons-
trou que o jovem médio que recebe um tipo de terapia dinâmica, centrada no
cliente,
comportamental ou cognitivo-comportamental, está melhor, no fim do tratamento,
do que
76 a 79 % dos jovens oriundos de populaçöes semelhantes que näo recebem
tratamento (Casey
& Berman, 1985; Weisz, Weiss, Alicke & Klotz, 1987). Tomados no seu conjunto,
os dados
disponíveis confirmam que, para aliviar as dificuldades psicológicas dos jovens, a
psicote-
rapia näo só é mais eficaz do que näo ter tratamento nenhum, como também as
crianças e
os adolescentes têm praticamente tantas probabilidades como os adultos dela
beneficiárem
(Kazdin, 1990).
Contudo, o tratamento dos adolescentes carece geralmente de quadros de
referência
diferentes dos que orientam o trabalho com crianças ou com adultos. A maioria dos
pacientes
infanfis säo trazidos pelos pais para a psicoterapia, sem terem participado na
decisäo de pro-
curar ajuda, e a maioria tem pouca consciência da identidade profissional e do papel
do tera-
peuta. Os terapeutas de crianças podem dar aos seus jovens pacientes explicaçöes
como «Este
é um lugar onde nós tentamos ajudar as crianças que têm problemas na escola» ou
«Os teus
pais querem que eu te veja, porque estäo preocupados por näo te dares muito bem
com os
teus amigos». Ainda assim, os pacientes infantis participam mais geralmente através
do jogo,
histórias e outras actividades indirectas e metafóricas do que através da discussäo
directa
dos problemas da queixa. Eles raramente apreendem o objectivo de vir a consultas
regulares
e relacionam-se geralmente com o terapeuta, como se fosse com um pai ou uma
mäe bene-
volente e compreensiva.
Pelo contrário, em geral os pacientes adultos vêm voluntariamente pedir ajuda
para
questöes que os preocupam, e participam na psicoterapia falando sobre si próprios e
os seus
problemas. Mesmo os chamados pacientes involuntários cujo tratamento é decidido
por outros,
431
tomaram a sua própria decisäo de vir às sessöes, em vez de sofrer alguma sançäo com que
säo ameaçados, como seja, por exemplo, a dissoluçäo do casamento ou a revogaçäo de uma
pena suspensa. Num contraste ainda maior com as crianças, a maioria dos adultos compreende
que a situaçäo de tratamento é um esforço conjunto, destinado a discutir e resolver as suas
dificuldades pessoais. Para além disso, a despeito do pouco que sabem sobre os procedi-
mentos da psicoterapia, reconhecem que estar em tratamento os identifica, na cabeça dos
outros, como pessoas com problemas mentais e emocionais que estäo a receber ajuda espe-
cializada.
Os adolescentes estäo num ponto de transiçäo no ciclo de vida em que <.,já näo säo
crianças; nem ainda adultos» (Kimmel & Weiner, 1985, Capítulo 1). A maioria dos adoles-
centes está demasiado crescida para aceitar o terapeuta como substituto parental, e dema-
siado matura para aguentar técnicas indirectas que näo tenham um objectivo claro. A maioria
deles é já demasiado experiente para ignorar as implicaçöes de se ser levado a um «doutor
de malucos», facto que geralmente os faz sentir ansiosos, zangados e envergonhados. Por
isso, já passou o tempo do terapeuta os poder cativar eficazmente, através de actividades
ou conduzir as sessöes como se houvesse uma razäo diferente para as consultas da de lidar
com os problemas psicológicos do adolescente. Poucas coisas ofendem ou humilham mais
os adolescentes do que ser tratados como se fossem crianças.
Contudo, tratar pacientes adolescentes como se fossem adultos, raramente resolve
os seus problemas. A maioria dos adolescentes perturbados säo ainda demasiado novos para
ter um poder de decisäo independente sobre o facto de procurar ajuda psicológica ou näo,
e demasiado imaturos para reconhecer a dimensäo dos seus problemas. Näo tendo
procurado ajuda por moto próprio e näo sentindo, muitas vezes, qualquer necessidade dela,
os adolescentes raramente vêm mais preparados do que as crianças para falar de si próprios
com um completo estranho, seja ele profissionalmente qualificado ou näo. Por isso, os esforços
para implicá-los nas conversas verbalmente espontâneas e de exploraçäo conjunta, que carac-
terizam a psicoterapia com os adultos, têm poucas probabilidades de alcançar muito sucesso.
Para além de reconhecer estas singularidades em que os adolescentes diferem das
crianças e dos adultos, os terapeutas têm de encaixar a sua abordagem no nível específico
de desenvolvimento de cada paciente particular. Quanto mais novos e menos maturos forem
os adolescentes, mais frequentemente o seu tratamento pode ser intensificado pela incorpo-
raçäo de características da terapia com crianças; quanto mais velhos e mais maturos säo,
mais tendem a reagir positivamente a uma terapia parecida com o tratamento de um adulto
com problemas semelhantes.
Este capítulo foca vários aspectos-chave da conduçäo da psicoterpia com adolescentes
perturbados, tendo o estado de desenvolvimento dos jovens como pano de fundo. Estes aspectos-
-chave incluem a determinaçäo da profundidade e dos objectivos do tratamento, o início da
interacçäo paciente-terapeuta, o desenvolvimento da relaçäo terapêutica, a preparaçäo do final
e o trabalho com os pais. As estratégias elaboradas na discussäo näo transcendem qualquer
432
433
434
435
INíCIO DA INTERACÇÄO
436
perturbados por serem considerados «mal da cabeça» e assustados pela perspectiva de terem
de falar sobre os seus problemas com alguém que nunca viram antes. Por isso, espera-se
que os pacientes adolescentes possam estar à defesa, durante as consultas iniciais, à procura
de razöes para concluir que a terapia é irrelevante em relaçäo às suas necessidades ou que
o terapeuta é insensível aos seus problemas.
Dadas a apreensäo e a antipatia com que os adolescentes entram geralmente no con-
sultório, a tarefa mais importante do terapeuta, na primeira sessäo, é conduzi-Ia de tal maneira
que um jovem psicologicamente carente volte para a segunda consulta. Na ausência de situa-
çöes de crise, que requeiram decisöes judiciais de diagnóstico imediato e intervençöes de
emergência, tais como, por exemplo, risco de suicídio ou tomar providências de hospitali-
zaçäo, a conversa com um paciente adolescente deveria concentrar-se, inicialmente, em favo-
recer a sua vontade de participar numa relaçäo terapêutica. Para gerar essa vontade, as entre-
vistas iniciais devem ser planificadas de modo a permitir ao jovem estar à vontade, a interessá-lo
para além do superficial e do óbvio e a conseguir que o adolescente reconheça e respeite
o seu próprio papel na determinaçäo do processo de tratamento.
Permitir o bem-estar
437
näo saber ao certo por que é que foram trazidos ali e, nesse caso, podem ficar envergonhados
de näo ter resposta para a pergunta do terapeuta; ou podem saber a razäo - que é quase
sempre alguma desadequaçäo, falhanço ou mau comportamento da sua parte - e, conse-
quentemente, sentir-se mal por lhes ser pedido que mostrem a sua pior faceta. Para tornar
as coisas piores, os terapeutas que começam por perguntar «O que te traz cá?,.> podem dar
a ideia ou de que näo se incomodaram em descobrir de antemäo o que causou o encaminha-
mento, e nesse caso parecem desinteressados ou neutros; ou de que estäo a fazer uma per-
gunta para a qual já sabem a resposta e, nesse caso, däo a impressäo de perversos ou pouco
dignos de confiança.
Pode-se evitar estes obstáculos iniciais ao bem-estar começando com uma afirmaçäo
que seja inequívoca e aberta como «Julgo que estás com alguns problemas na escola - como
é isso?» Conquanto concreto e directo, este tipo de abertura também deixa lugar para reac-
çöes alternativas. Um rapaz a quem se faça esta pergunta pode mergulhar logo nela e falar
sobre as notas baixas ou o comportamento indisciplinado, se for isso que constitui o pro-
blema, ou pode ganhar tempo com comentários superficiais e impessoais sobre como é a
escola objectivamente - o edifício, as aulas, os alunos, os professores e assim por diante.
A alusäo a esses assuntos oferece uma base para mais interrogaçöes específicas («Quantos
é que säo na tua aula?» «Tens professores ou professoras, ou ambos?») o que produzirá infor-
maçäo potencialmente útil, ao mesmo tempo que facilita uma troca verbal activa relativa-
mente simples.
Relativamente à explicaçäo do comportamento e à elaboraçäo dos sentimentos, as
perguntas do tipo «Porque é que achas que andas a furtar coisas nas lojas?» ou «O que é
que achas da tua mäe?» raramente estimularäo uma troca produtiva, no princípio da relaçäo
terapêutica. Seja pela vergonha, pela preocupaçäo de serem criticados ou por estarem inse-
guros sobre até que ponto se pode confiar no terapeuta, os adolescentes estaräo inicialmente
relutantes em desenterrar sentimentos violentos e partilhá-los com ele. Por outro lado, uma
pergunta fraseada de maneira diferente, como perguntar a uma rapariga «Como é a tua mäe?»,
permite-lhe a opçäo de descrever o afecto, se estiver preparada para o fazer, ou de comu-
nicar facilmente mediante a descriçäo de algumas das características físicas objectivas da
mäe («Ah, ela é boa pessoa um bocadinho mais alta do que eu e passa muito tempo a manter
a casa limpa»).
Falando de um modo geral, os terapeutas podem ajudar os adolescentes a sentir-se
à-vontade, guiando as sessöes terapêuticas com perguntas fáceis de responder. Perguntas
abertas, que permitem modos opcionais de resposta, säo especialmente fáceis de responder
e däo aos pacientes uma oportunidade de prosseguir ao seu próprio ritmo sem se sentir amea-
çados. Se as perguntas abertas, pouco exigentes se revelarem ainda demasiado difíceis, para
um adolescente assustado ou que oponha resistência, o terapeuta deve fazer a seguir per-
guntas mais específicas mas ainda näo ameaçadoras. Por exemplo, se «Como é a tua mäe?»
tiver uma resposta medrosa «O que é que quer dizer com isso?» ou um irritado «Näo seí»,
438
entäo a situaçäo carece de «Como é que a descreverias a outra pessoa?» ou mesmo «Diz-me
alguma coisa sobre como é a aparência dela e o que é que ela gosta de fazer».
Inversamente, os terapeutas fariam bem em evitar, de início, perguntas que obriguem
a auto-revelaçöes ou especulaçöes. Embora o significado clínico de respostas a perguntas
como «O que pensas que te levou a isso?» as torne muito tentadoras de utilizar, as explora-
çöes deste tipo convencem, muitas vezes, adolescentes já de si apreensivos que realmente
se encontram na mira de uma arma inimiga. Em vez disso, ao limitar-se a pedidos simples,
näo provocatórios, de informaçöes aparentemente rotineiras, os terapeutas podem conseguir
um rápido benefício terapêutica. As respostas a perguntas simples säo muitas vezes surpreen-
dentemente reveladoras (por exemplo, a mäe do paciente é descrita como uma dona de casa
meticulosa) e proporcionam informaçäo de fundo que o terapeuta quereria eventualmente
obter (por exemplo, a mäe é fisicamente maior do que a paciente). Mas mais importante
ainda, uma abordagem directiva näo provocatória, nas entrevistas iniciais, dá aos adoles-
centes a experiência de terem participado numa serena conversa íntima, embora com um
«doutor de malucos», e näo numa interacçäo aborrecida, desagradável ou difícil.
Embora sejam quase sempre necessários alguns períodos de comunicaçäo fácil, para
iniciar uma psicoterapia eficaz com adolescentes, uma relaçäo terapêutica permanentemente
agradável pode ser täo deletéria, para a obtençäo de resultados benéficos, como o malogro
inicial em ajudar o jovem a sentir-se à-vontade. Para que o tratamento provoque mudança,
a atençäo tem de se voltar, mais cedo ou mais tarde, para os problemas em que é penoso
pensar e para os sentimentos difíceis de exprimir, mesmo que isso se faça à custa de con-
frontaçöes que dissipam o bem-estar aos quatro ventos. Em resposta a essa mudança de foco,
espera-se que os pacientes adolescentes se tornem periodicamente relutantes em falar, ques-
tionem o objectivo de virem às sessöes e exprimam insatisfaçäo com os esforços do tera-
peuta. Continuar as conversas agradáveis, sem as perturbar com as confrontaçöes impostas
pelo terapeuta e com as resistências apresentadas pelo adolescente constitui uma colaboraçäo
enganosa em que näo foi alcançado a participaçäo, o segundo elemento crucial no início da
psicoterapia.
Conseguir a participaçäo
439
Para mostrar a sua capacidade e vontade de ir para além do valor racial das coisas,
os terapeutas devem começar a desafiar ou a interpretar os aspectos superficiais do que os
pacientes adolescentes estäo a dizer, logo que sintam que estes o podem tolerar: «Custa-me
a acreditar que todos os teus professores te tenham má vontade» ou «Tu dizes que näo te
importas
mas, pela expressäo do teu rosto, eu diria que estás muito transtornado com isso». Na ausência
desses esforços do terapeuta para um empenhamento, os adolescentes säo capazes de ver o
tratamento como pouco mais do que um interlúdio agradável em que podem discutir assuntos
banais à sua escolha com um adulto receptivo e näo ameaçador. Säo capazes de duvidar, igual-
mente, se o relacionamento ou o terapeuta lhes podem oferecer algo mais do que obteriam
de outros adultos atentos e benevolentes. Para alguns adolescentes emocionalmente carentes,
os agradáveis inteflúdios interpessoais podem ser significativamente terapêuticas, em si mesmos.
Contudo, a maioria dos adolescentes, cansar-se-á depressa ou perderá a confiança numa relaçäo
terapêutica fácil mas näo participada, porque näo lhes dá motivos para acreditar que o tera-
peuta tenha qualquer capacidade especial para os compreender ou ajudar.
Para o adolescente típico que começa a terapia ansioso e apreensivo, os esforços para
conseguir a participaçäo seguem-se geralmente ao estabelecimento do à-vontade. Contudo,
reinam prioridades diferentes quando os jovens vêm já empedrenidos a fim de permanecerem
descomprometidos face aos procedimentos. Sem parecerem nervosos ou envergonhados, alguns
desses adolescentes sentar-se-äo cheios de petulância - braços cruzados, pés firmemente
plantados e olhos desviados - e reagem com pouco mais do que um grunhido ocasional ou
um monossilabo que näo quer dizer nada. Alguns fixam o terapeuta com um olhar agressivo
e declaram que foram forçados a vir, que näo têm nada e que näo fazem tençöes de parti-
cipar em nenhuns jogos intelectuais. Alguns respondem às perguntas educadamente mas com
um esgar malcriado e desdenhoso no rosto, que dá a impressäo de estarem a rir-se à socapa.
Alguns fazem uma abordagem de velhos «compinchas», de «é tudo um mal entendidos, em
que fingem uma calma amigável, comentam afavelmente como andam e däo alguns conse-
lhos: «Näo tem nada a ver consigo, 'sotôr', o senhor até parece uma boa pessoa, mas devia
era trabalhar com miúdos que têm mesmo problemas e precisam de si. Eu conheço uma data
deles mas eu näo sou desses».
Embora seja provável que comportamentos iniciais deste tipo derivem do mal-estar
subjacente, eles defendem täo bem o adolescente da ansiedade situacional que os esforços
para os ajudar a sentir-se à-vontade fazem pouco bem. Nestes casos, é provável que uma
bem intencionada mäo protectora estendida através de palavras como «Julgo que estás um
pouco ansioso por vir aqui falar comigo» provoque apenas uma rejeiçäo: «Eu näo - eu só
me quero ir daqui embora». Em face de tamanha resistência inicial dos adolescentes que neces-
sitam de ajuda, os terapeutas podem ter que deixar de parte o bem-estar e de procurar, em
vez disso, maneiras de penetrar uma fachada de desdém ou bravata e de agitar os adoles-
centes para os libertar da posiçäo distante, durante o tempo suficiente para os cativar numa
conversa interactiva.
440
É provável que aquilo que dá resultado varie consideravelmente, de caso para caso,
e que possa näo ser sempre facilmente perceptível. Contudo, Schimel (1986, p. 185) está
provavelmente certo, quando comenta a este respeito que «Para o terapeuta atento, o mate-
rial está sempre lá». As seguintes duas trocas com adolescentes, inicialmente resistentes, ilus-
tram os esforços de agarrar o pouco material disponível, para conseguir uma participaçäo:
PACIENTE: Näo me importo de estar aqui, mas quero que saiba que näo há razäo para isto.
TERAPEUTA: Entäo por que vieste?
PACIENTE: A minha mäe disse-me que eu tinha de vir.
TERAPEUTA: Fazes sempre o que a tua mäe te diz para fazer?
Esta última pergunta obrigava o rapaz a admitir uma de três coisas: ou que era total-
mente subserviente à mäe ou que a sua vinda se associara a qualquer tipo de suborno ou
que, se näo era nem subserviente nem tinha sido subornado pela mäe, algo mais do que o
simples pedido dela deveria estar implicado no facto de ter mantido a marcaçäo. Ainda que
provocatórias, cada uma destas alternativas tinha algum potencial para conseguir desenca-
dear uma conversa participada. Uma provocaçäo destas, feita numa maneira normal, que
transmita interesse e näo descrédito pode, muitas vezes, revelar-se mais eficaz, para se fazer
contacto com um paciente reservado ou apático, do que as técnicas de apoio.
TERAPEUTA: Pareces muito zangada por eu estar a fazer-te algumas perguntas. O que é
que te incomoda?
PACIENTE: Já decidi que näo vou falar consigo.
TERAPEUTA: Porquê?
PACIENTE: Näo se passa nada comigo, eu näo tenho problemas nenhuns e, de resto, näo
é nada consigo.
TERAPEUTA: Talvez näo se passe nada contigo e talvez näo seja nada comigo. Mas näo
me digas que näo tens problemas. Os teus pais estäo aborrecidos contigo e o teu
director pensa expulsar-te da escola. Isto significa sarilhos, diga-se o que se disser.
Talvez näo seja culpa tua, mas eu gostaria ao menos de ouvir o teu lado da história.
Para a rapariga deste caso, como para a maioria dos jovens que se sentem injusta-
mente tratados, a oportunidade de se defender foi difícil de resistir e as suas justificaçöes
pessoais deram abertura para uma comunicaçäo participada. Muitas vezes, uma semelhante
identificaçäo directa do problema, acrescida de uma oferta de ajuda, sem qualquer suposiçäo
ou insinuaçäo de que o adolescente seja responsável pelo problema, podem ajudar a dissipar
a decisäo inicial de permanecer calado.
De acordo com as necessidades de cada jovem, os terapeutas têm de equilibrar as
técnicas de bem-estar e de participaçäo na sua abordagem de pacientes adolescentes. A partir
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Suscitar a motivaçäo
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o estilo de abordagem do adolescente ao tratamento, mesmo quando sente uma forte necessi-
dade dele. De um modo geral, a única expressäo de motivaçäo necessária para iniciar o tra-
tamento é a vontade expressa do adolescente de voltar para mais consultas.
Durante a primeira entrevista, deve-se suscitar nos pacientes adolescentes os comentá-
rios que expressem a vontade de voltar. Quando a sessäo se aproxima do fim, de preferência
depois de se terem estabelecido alguns canais de comunicaçäo, o terapeuta tem de perguntar
ao jovem qualquer coisa como «O que pensas de teres vindo falar comigo hoje?» Esta per-
gunta dá aos pacientes uma oportunidade para ventilar os seus preconceitos, apreensöes e espe-
ranças por ter vindo à sessäo, se é que näo apareceram já na discussäo, e para comparar entre
o que foi a experiência e o que eles pensaram, temeram e desejaram que fosse. A partir desta
informaçäo, o terapeuta pode identificar e corrigir, se necessário, quaisquer ideias erradas que
o adolescente tinha (por exemplo, «Pensaste que eu te ia pôr num divä e deixar que só tu falasses
mas, como podes ver, temos estado sentados aqui nestas cadeiras a dialogaras «Tu esperavas
que eu te pregasse um sermäo para fazeres o que os teus pais e professores te mandam fazer,
mas penso que percebeste, agora, que eu estou interessado em ouvir o teu lado da história
e em ver o que poderia ajudar a tornar as coisas melhores para ti»).
O terapeuta pode entäo prosseguir com uma pergunta do tipo «O que achas de voltar
outra vez e de falarmos mais, como fizemos hoje?» É essencial esta exploraçäo dos senti-
mentos do adolescente sobre o seu retiorno, a fim de se estabelecer o necessário espírito de
participaçäo mútua na aventura da terapia. Dizer ao jovem «Eu vou marcar-te para a pró-
xima semana» ou, pior ainda, apenas instruir os pais que ficaram à espera para trazer o filho
a outra consulta, atinge seriamente a dignidade de um adolescente, enquanto adulto a desa-
brochar. Mesmo para os adolescentes mais novos, ser tratado com um semelhante àesres-
peito pela auto-suficiência e independência, que nutrem orgulhosamente, convence-os muitas
vezes de que nem a terapia nem o terapeuta têm muitas probabilidades de ir ao encontro
das suas necessidades.
. Os terapeutas, ao mesmo tempo que reconhecem a importância crucial dos adoles-
centes participarem responsavelmente no planeamento e implementaçäo do seu tratamento,
devem fazer concessöes à sua habitual dificuldade em reconhecer responsabilidade pelos seus
problemas, ou em admitir qualquer necessidade de ajuda. Se acatarem a opiniäo do tera-
peuta sobre uma próxima consulta («Se acha que eu devo») o terapeuta fará muitas vezes
bem em poupá-los a ter de apresentar um específico pedido de terapia: «Sim, penso que deve-
ríamos falar outra vez; já vimos hoje que acontecem coisas que ainda näo compreendeste
bem e julgo que seria útil olhar um pouco mais a situaçäo» ou «Percebo que näo pensavas
que houvesse alguma coisa de errado contigo, mas é certo que as coisas näo te têm estado
a correr como tu gostarias; talvez falando mais, nós tivéssemos algumas ideias de como
melhorar a situaçäo» ou «Näo é forçoso que penses que é uma grande ideia ou que precisas
realmente disto; se estás disposto a concordar com a ideia de voltar outra vez, eu penso que
podíamos falar sobre mais algumas coisas úteis para ti».
443
Neste caso o terapeuta escolheu desviar-se de preparar a motivaçäo para tirar pro-
veito desta sugestiva informaçäo relativa aos problemas da autonomia. A última afirmaçäo
deste diálogo foi seguida pelo primeiro envolvimento, afectivo do paciente na entrevista, quando
ele desabafou bastante sobre o facto dos pais o tratarem sempre como uma criança. Um pouco
mais tarde, seguiu-se a isso a possibilidade do terapeuta dizer «Pode ser verdade que a tua
gente te mandaria se eu dissesse, mas o que eu quero saber é o que tu achas, porque isso
será importante para tu e eu decidirmos o que nós devemos fazer».
Neste tipo de situaçöes, os terapeutas devem resistir a toda a tentaçäo de contornar
a discussäo da motivaçäo. Tomar o caminho fácil, um caminho que implicaria concordar
com a possibilidade do adolescente ser trazido às sessöes e desviar-se da luta para conseguir
-0001
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que ele interprete a terapia como algo de voluntário, resulta geralmente numa estrada que
näo leva a parte alguma. Se se permitir que os adolescentes se encarem como pacientes invo-
luntários, eles encararäo o terapeuta como o agente de outra pessoa e näo irá acontecer grande
coisa, durante o tratamento.
Os resultados das investigaçöes confirmam que quanto mais os adolescentes se per-
cepcionarem como tendo escolhido vir e permanecer voluntariamente na terapia, mais pro-
vável será que tirem dela benefício (Bastien & Adelman, 1984). Da mesma maneira, quanto
mais os jovens se sentem fortemente empenhados na terapia, mais eficazmente eles partici-
paräo nela e mais rapidamente faräo progressos (Adelman, Kaser-Bo d & Taylor, 1984).
Além disso, ainda a este respeito, as perspectivas de qualquer aliança terapêutica eficaz
aumentam inicialmente quando o terapeuta, para além de convidar o adolescente à discussäo
do que acha de debater questöes pessoais num contexto profissional, transmite, sinceramente,
que os sentimentos do adolescente desempenharäo um papel importante na determinaçäo de
se e como prosseguirá o tratamento.
A prontidäo motivacional para o tratamento pode ser facilitada, em particular, indi-
cando aos adolescentes o que podem esperar, no que diz respeito à confidencialidade (Barker,
1990, Capítulo 5; Gustafson & McNarama, 1987; Taylor & Adelman, 1989). Quer os jovens
façam a pergunta quer näo, a questäo de quem ficará a saber o que dizem ao terapeuta, estará
no centro das suas mentes, quando ponderam se väo dizer alguma coisa. Da mesma maneira
que se passou na discussäo das outras consideraçöes relativas ao início da terapia, levantar
a questäo da confidencialidade contribui para os adolescentes sentirem que estäo a ser acti-
vamente incluídos no planeamento do seu tratamento.
Por esta razäo, nas explicaçöes iniciais de como as coisas correräo, os terapeutas
têm de incluir algumas afirmaçöes explícitas acerca dos limites dos direitos do adolescente
à privacidade. Estas afirmaçöes deviam tocar nas seguintes três linhas de orientaçäo geral-
mente aceites para uma salvaguarda equilibrada da confidencialidade do paciente e do inte-
resse público: (a) falando de um modo geral, tudo o que o adolescente disser ao terapeuta
será só entre eles e näo será partilhado com ninguém mais; (b) excepçöes a esta regra seräo
apenas o que o adolescente disser levantar a possibilidade de que lhe possa acontecer algum
mal ou a outra pessoa; (c) se o terapeuta decidir que os pais ou outra pessoa devem ser infor-
mados sobre um assunto discutido na terapia, deverá informar primeiro o adolescente dessa
decisäo e encorajá-lo a participar na sua implementaçäo.
Apesar do cuidado posto na apresentaçäo destas linhas de orientaçäo, a maioria dos
adolescentes irá ocasionalmente experimentar até onde os seus terapeutas säo dignos de con-
fiança, deixando geralmente cair algum suculento bocadinho de informaçäo, desconhecida
dos pais, e aguardando para ver se lhes chega de volta. Dado que as palavras falam mais
alto do que os actos, só quando os terapeutas passam estes testes é que convencem os pacientes
adolescentes do seu compromisso de respeitar a confidencialidade. Mesmo assim, ganha-se
muito em apresentar uma explícita afirmaçao inicial sobre a confidencialidade e näo deixar
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para ser espontâneos e directos, especialmente ao falar com uma pessoa que é relativamente
desconhecida. Os jovens também tendem, mais do que os adultos, a preocupar-se com as
sessöes que decorrem de modo aparentemente constrangido («Se eu näo estivesse täo pouco
à-vontade com aquilo, haveria mais para falar») ou que incluem longos silêncios («O que
é que irá acontecer agora?» «O que é que ele estará a pensar de mim?» «Porque é que eu
näo consigo pensar em nada para dizer?»). A medida que o tratamento avança, o terapeuta
tem de diminuir o embaraço e os silêncios, tomando a responsabilidade de manter a corrente
de comunicaçäo durante as sessöes. Duas maneiras úteis de implementar esta estratégia incluem
a actividade e a fatalidade.
Actividade
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para alguns, o terapeuta iniciar as sessöes e manter um comentário contínuo e pode ser até
sentido como condescendente ou intrusivo. Os terapeutas têm de saber, quando o adoles-
cente tem uma história para contar ou sentimentos para exprimir e prefere näo ser interrom-
pido ou quando lhe tem de dizer do que falar. Além disso, alguns jovens deprimidos que
se sentem particularmente maltratados pelos adultos podem, em regra, comunicar mais facil-
mente se o terapeuta lhes der algum espaço para respirar.
SaIly, uma contemplatíva e um tanto lacónica rapariga de 16 anos de idade, parecia
ficar cada vez mais ansiosa e desorganizada, durante uma entrevista inicial, em que o tera-
peuta utilizou uma abordagem de cadência rápida. Preocupado com um colapso iminente
da personalidade ou, possivelmente, com uma perturbaçäo esquizofrénica subjacente,
ele decidiu conduzir a segunda entrevista de maneira menos estruturada, para averiguar se
pensamento desorganizado ou fantasias bizarras apareceriam, se näo os impedisse, por
falar tanto ele próprio. Sally ficou surpreendentemente descontraída, reflexiva e capaz de,
com pouco estímulo, apresentar uma revisäo organizada das suas preocupaçöes principais.
O anterior estilo activo do terapeuta fora claramente demasiado dissonante com a sua
maneira favorita de conversar e tinha-a pressionado demasiado para ser capaz de reagir
facilmente.
Para adolescentes como Sally, que näo necessitam de altos níveis de actividade do
terapeuta ou que säo mesmo confundidos por eles, as sessöes de tratamento podem avançar
de uma maneira muito semelhante às dos adultos. Também pode haver momentos em que
os terapeutas precisam de inserir alguma actividade näo-verbal numa sessäo terapêutica, a
fim de restaurar uma quebra na comunicaçäo. Os jovens que, de resto, säo socialmente sen-
síveis podem tornar-se periodicamente relutantes a ir mais longe em assuntos que estiveram
a discutir e cair no silêncio. Há numerosos modelos de estratégias verbais disponíveis para
lidar com silêncios que parecem reflectir alguma resistência a falar de acontecimentos dolo-
rosos ou aborrecidos (Graafsma & Anbeek, 1984; McHolland, 1985; Weiner, 1975,
Capítulo 9).
Contudo, os terapeutas que trabalham com adolescentes fazem muitas vezes correr
melhor as coisas, näo utilizando estratégias interpretativas ou exploratórias mas comentando
na ordem de «Hoje näo pareces com muita vontade de falar; o que é que gostarias de fazer?»
Se o adolescente respondesse com «Tenho andado a aprender a jogar xadrez - näo tem por
acaso um jogo de xadrez aqui, tem?» ou «O meu passatempo favorito é desenhar, é o que
eu realmente gosto mais de fazer», entäo os terapeutas podem conseguir utilizar a interacçäo
à volta de um tabuleiro de xadrez ou as produçöes artísticas do paciente, para reabrir os
canais de comunicaçäo. Embora essas actividades tenham alguma coisa em comum com as
técnicas de ludoterapia, a sua eficácia näo está de todo limitada ao trabalho com as crianças.
Acha-se bem descrita na literatura a utilizaçäo bem sucedida de actividades seleccionados
na psicoterapia com adolescentes (Corder, 1986; Serok, 1986).
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Frontalidade
Para serem tanto frontais como activos, os terapeutas têm de afirmar os seus pensa-
mentos explicitamente, frasear concretamente as suas perguntas e responder cabalmente
aos pedidos para que expliquem os fundamentos das suas impressöes e interrogaçöes. Esta
frontalidade e disposiçäo para se explicar promove uma regular corrente de comunicaçäo
com os pacientes adolescentes. Pelo contrário, as interpretaçöes parciais, as alusöes veladas
e as exploraçöes näo-directivas («Que pensas das razöes de te perguntar isto?» «É como
se alguma coisa te assustasses, que muitas vezes ajudam os adultos a aumentar a cons-
ciência de si próprios, säo muitas vezes sentidas pelos adolescentes como um subterfúgio
ou mistificaçäo. Uma vez mais, numa perspectiva de desenvolvimento, os adolescentes já
têm mais do que interrogaçöes suficientes para as quais estäo a tentar encontrar respostas,
sem ser preciso que o terapeuta aumente esse fardo. Quanto mais ambíguos forem os
terapeutas, mais difícil será para os pacientes adolescentes compreender o que querem dizer
ou pretendem com um determinado comentário, e mais difícil acharäo continuar a res-
ponder.
Por esta razäo, a melhor maneira dos terapeutas frasearem as suas observaçöes ao
que um adolescente diz é com a mínima ambiguidade ou conjectura possível. Por isso «Acho
que estás com medo de alguma coisa» é melhor do que «E como se alguma coisa te assus-
tasse», porque é mais explícito; coloca o assunto directamente na mesa, como alguma coisa
para discutir, sem pedir ao adolescente para meditar na sua possível existência e sem deixar
ambígua a impressäo do terapeuta. Melhor ainda seria «Acho que te assustas um pouco quando
te metes numa situaçäo em que podes falhar» porque, para além de ser explícita, identifica
em termos concretos a natureza do problema manifesto.
Mesmo em resposta a estes comentários explícitos e concretos, os adolescentes podem
ter dúvidas de se expor ou sobre o que exactamente o terapeuta tem em mente. Entäo, é
provável que perguntem, por sua vez «Onde é que foi buscar essa ideia?» ou «O que é que
quer dizer com isso?» ou «Porque é que trouxe isso à baila?» Com adolescentes, perguntas
como estas näo carecem que o terapeuta permaneça silencioso ou neutro ou que as devolvam
ao paciente («O que é que pensas que eu tinha em mente?»). Isto ilustra mais uma vez uma
táctica que pode resultar eficazmente com um paciente adulto reflexivo, voluntário, que tomou
um compromisso de trabalhar numa psicoterapia exploratória, mas que será encarada pelos
adolescentes como uma maneira hipócrita e falsa de fazer uma partida. Pelo contrário, os
terapeutas que trabalham com adolescentes têm de estar preparados para se explicar. As per-
guntas sobre o que o terapeuta quer dizer ou o motivo porque fez uma pergunta sobre alguma
coisa devem ser respondidas rápida e directamente («A razäo de perguntar isto é que, tanto
quanto me lembro, cada vez que, no passado, foste a uma festa da escola, tu andavas por
ali sem falar a ninguém, e esta última que acabaste de descrever parece que foi um boca-
dinho diferentes.
449
Contudo, existem limites até onde o terapeuta deve ir, ao fornecer estas explicaçöes,
e näo se deve permitir que a frontalidade poupe ao jovem a sua parte de responsabilidade
no trabalho terapêutica. Nalgumas ocasiöes, será perfeitamente óbvio o que o terapeuta quis
dizer ou as circunstâncias a que a afirmaçäo se refere já teräo sido discutidas várias vezes - e,
no entanto, o adolescente pergunta «O que é que quer dizer?» ou «O que é que está para
aí a dizer?» Nos pontos de uma resistência superficial täo óbvia, o tipo de interpretaçäo par-
cial e de näo-directividade que o terapeuta teria evitado noutras circunstâncias provam, muitas
vezes, ser mais incisivos do que afirmaçöes completas e claras. Quando o adolescente näo
parece que esteja perplexo mas apenas a protelar ou talvez «a fazer-se de parvo», a estratégia
da frontalidade requer que o terapeuta diga «Quero dizer precisamente o que acabei de dizer»
ou «Tu sabes a que me refiro». Quando usadas no momento apropriado e ditas sem rancor,
estas confrontaçöes aparentemente irritadas com a resistência promovem o útil propósito de
comunicar ao adolescente que o terapeuta, como paga de ser directo, também näo espera
que o adolescente lhe pregue partidas.
Ao mesmo tempo, o terapeuta, que procura desenvolver uma activa relaçäo eficaz,
deve ser capaz de reconhecer quando pode ser importante näo quebrar o fluir da conversa,
para se centrar nos elementos de resistência, incluindo os que tocam no compromisso do
terapeuta no tratamento:
Andy, um aluno sombrio e cauteloso do segundo ano do liceu, estava a descrever
com entusiasmo e algum detalhe os seus planos para organizar uma banda de rock com o
Rick, um amigo que ele mencionara algumas semanas antes. Subitamente, quebrou esta par-
tilha de experiência pessoal, terapeuticamente significativa e rara nele, para perguntar um
tanto petulantemente «Sabe quem é o Ríck?» A pergunta parecia um teste claro para ver se
o terapeuta estivera suficientemente atento e interessado para se lembrar do Rick. O tera-
peuta escolheu näo interpretar o desafio implícito nesta pergunta nem mencionar a necessi-
dade subjacente de ser tranquilizado que ela sugeria. Em vez disso, directamente e com o
mesmo pormenor com que lhe fora relatado, recapitulou quem era Rick. Andy acenou a cabeça
com satisfaçäo e voltou à suä história. O terapeuta evitara qualquer intromissäo no acto do
Andy continuar a sua história, como algo importante para o desenvolvimento da relaçäo e
revelara ao mesmo tempo e de maneira concreta o seu interesse e atençäo. Embora um pro-
blema que viria a ocupar eventualmente o centro da cena na terapia de Andy fossem as dúvidas
sobre se o terapeuta ou as pessoas em geral gostavam suficientemente dele, para ouvir e recordar
o que dizia, o momento para lidar eficazmente com esses problemas vem depois e näo antes
de se desenvolver uma relaçäo sólida que funcione.
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pacientes adolescentes a tornar-se adultos maturos e com sucesso, o modo como säo enca-
rados os terapeutas competentes. Além disto, o desejar parecer-se com os terapeutas ajuda
os adolescentes a conseguir confiar neles e respeitá-los e este respeito e confiança ajudam
os pacientes adolescentes a aceitar os esforços dos terapeutas para lhes modificar as atitudes
e os comportamentos. A fim de promover a identificaçäo positiva que o tratamento carecerá,
os terapeutas têm de demonstrar ser pessoas com autenticidade, compreensäo pelos pacientes
adolescentes e terem afecto por eles bem como interesse em ajudá-los.
Autenticidade
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consenso para promover o terapeuta como objecto de identificaçäo. Assim, uma tirada de
um adolescente contra as leis restritivas da ingestäo de bebidas alcoólicas pode dar ao tera-
peuta uma oportunidade para apresentar uma defesa igualmente vigorosa da idade legal actual
para esse consumo. O adolescente näo tem de ser persuadido de que um entendimento ser-
viria os objectivos da terapia; ele só tem de reconhecer que o terapeuta tem um ponto de
vista definido que está disposto a exprimir.
Juntamente com a clarificaçäo das atitudes do terapeuta e, desse modo, com o aumento
da capacidade do terapeuta de servir de objecto de identificaçäo, o desacordo patente no con-
texto da relaçäo terapêutica pode ajudar os jovens a perceber, talvez pela primeira vez na
vida, que as pessoas sensatas e conciliadoras podem sustentar pontos de vista opostos. Muitos
adolescentes que ficaram psicologicamente perturbados passaram longos anos de experiên-
cias negativas com a raiva. No lar e entre os seus pares, a discordância foi muitas vezes
o prelúdio para a raiva e a raiva o prelúdio para a rejeiçäo ou o abuso. Pode ser uma expe-
riência nova e salutar sentar-se com o terapeuta e discutir com prazer sobre as boas caracte-
rísticas do hard-rock ou os benefícios práticos de uma boa instruçäo, sem que qualquer das
partes se indisponha, corte a conversa, saia do local ou ameace com violência. Como adultos
maturos e senhores de si, e näo como indivíduos infantis sem controlo próprio, o jovem começa
a aprender que as pessoas podem discordar uma das outras e expressar as suas opiniöes aber-
tamente sem que, como resultado, aconteça nada de mal.
Voltando-nos para a importância do tom coloquial e espontaneidade emocional
na demonstraçäo da autenticidade, os terapeutas têm de evitar o melhor que puderem
qualquer sinal de artificialidade ou prudência, na maneira como falam com os pacientes ado-
lescentes. É provável que os pacientes adolescentes näo aceitem o tom sereno e protector
muitas vezes adoptado ao falar com as crianças, nem a impessoal posiçäo prática, muitas
vezes tomada com os adultos, com que tanto uns como outros já contam. Pelo contráro, para
que os adolescentes sintam que o terapeuta está a ser autêntico com eles é necessário um
tom descontraído, natural, informal, despretensioso, que näo seja crítico nem condescendente.
Da mesma maneira, a maioria dos adolescentes detectará rapidamente os esforços
dos terapeutas reservados para serem mais abertos e espontâneaos do que aquilo que lhes
é natural. Os terapeutas que tendem a ser naturalmente abertos e espontâneos, nas suas rela-
çöes interpessoais, promoveräo uma identificaçäo positiva sendo apenas eles próprios. Por
outro lado, os clínicos que säo reticentes ou circunspectos por natureza, e que näo säo facil-
mente compreendidos pelas outras pessoas, podem descobrir que a terapia com adolescentes
näo é a especialidade em que säo mais eficientes. Os terapeutas têm que ser capazes de deixar
que os seus sentimentos e as suas atitudes venham espontaneamente à baila, a fim de se desen-
volver uma relaçäo eficaz de tratamento através da identificaçäo. Devem rir, se acharem
graça a alguma coisa que o paciente adolescente diga. Se foi de propósito para ter graça,
eles e os pacientes teräo partilhado uma interacçäo pessoal autêntica. Se os adolescentes näo
perceberem onde está a graça nas observaçöes que provocam o riso, a reacçäo espontânea
452
do terapeuta pode ser utilizada para aumentar a sua consciência sobre a maneira como os
outros os encaram: «Percebo que disseste isso a sério, mas alguma coisa no modo como o
disseste fez-me rir; deve acontecer-te o mesmo com outras pessoas e talvez tu possas aprender
alguma coisa com isto de ser engraçado sem ser de propósitos.
Da mesma maneira, se os adolescentes estäo a tentar brincar com uma situaçäo séria,
a impaciência ou a desaprovaçäo espontânea do terapeuta pode ser o primeiro passo para
os ajudar a ponderar até que ponto o seu comportamento na situaçäo é desadequado ou auto-
destrutivo. Por exemplo, o terapeuta poderia responder a um rapaz que descreve, a rir, como
o seu comportamento disruptivo o levou a ser expulso da sala de aula: «Näo vejo graça nenhuma
nisso e näo penso que tu também vejas; tudo o que conseguiste foi pôr o teu professor furioso
contigo e se alguns colegas na aula estavam a rir, eles estavam a rir-se de ti e näo contigo,
e näo é isto que queres».
Contudo, os terapeutas têm de ponderar cuidadosamente a medida em que devem ser
espontâneos. Quando sentem que um certo sofrimento carece mais de consolo do que de desafio,
precisam de se abster de rir de uma observaçäo séria ou de franzir o sobrolho com uma jocosa.
Têm também de estar suficientemente sintonizados com o paciente, para reconhecer os
momentos em que os motivos subjacentes a uma observaçäo requerem mais de uma interpre-
taçäo do que de afecto. Por exemplo, um rapaz que conta uma anedota suja tem provavel-
mente alguma coisa em mente, para além do que ser divertido, e o terapeuta tem de res-
ponder com curiosidade, e näo com riso, sobre a razäo de trazer qualquer coisa obscena
ou perversa para a conversa. Estará o rapaz a testar o conhecimento do terapeuta do verná-
culo pornográfico ou a ver o que e que consegue chocá-lo ou a sondar em que medida o
terapeuta está disposto a continuar a trabalhar com ele? Pelo contrário, terá talvez alguns
pensamentos sexuais perturbantes e estará à procura de maneiras indirectas de os abordar?
De uma maneira semelhante, ao escutar uma rapariga descrever chorosamente acon-
tecimentos trágicos e contratempos sérios nas suas relaçöes com os seus pares e a família,
os terapeutas têm de disfarçar as reacçöes afectavas que sentiräo provavelmente. Näo aju-
daräo a paciente, se expressarem a sua preocupaçäo com ela e uma verdadeira tristeza pelas
suas adversidades, já näo falando da inquietaçäo de que a terapia possa näo ser suficiente
para as alterar. De preferência, teräo de reconhecer o sofrimento dela e de tentar apoiá-la
o melhor que puderem: «Eu sei que as coisas säo difíceis para ti, mas vamos continuar a
ver o que podemos fazer para ajudar».
Finalmente, no que diz respeito a ser uma pessoa autêntica e um objecto de identifi-
caçäo, os terapeutas que trabalham com adolescentes devem conduzir-se como adultos.
Os clínicos com experiência concordam em que os adolescentes precisam e querem que os
terapeutas pareçam adultos e actuem como tal, näo como adolescentes, e que entrem na sua
vida como um adulto complacente e compreensivo, näo como um colega (Esman, 1985; Lamb,
1978; McHolland, 1985; Meeks, 1980). Os terapeutas principiantes, que aceitam adoles-
centes, podem ser tentados a adoptar modos adolescentes de vestir e de falar, na expectativa
453
Compreensäo
454
instância, do seu nível de empatia. A empana, a sensibilidade de uma pessoa à vida interior
de outra, näo pode ser aprendida através de instruçäo didáctica ou experiência supervi-
sada. Os terapeutas trazem empatia para o trabalho profissional, na medida em que o seu
estilo de personalidade e as experiências desenvolvimentistas os tornaram pessoas
empáticas.
A psicoterapia pessoal, uma abertura para reflectir na sua própria adolescência, e
no que aprenderam sobre a dinâmica da personalidade durante a sua formaçäo e treino, näo
podem deixar de aumentar a sensibilidade dos terapeutas às experiências dos pacientes ado-
lescentes. No entanto, como funçäo da sua própria personalidade básica, a maioria dos tera-
peutas permanece empática em diferentes graus com diferentes tipos de pacientes. Alguns
descobrem que säo mais empáticos com crianças e outros com adultos, alguns com mulheres
e outros com homens, e alguns mais com pacientes de orientaçäo ideativa do que com os
que preferem modalidades afectavas de expressäo. A eficácia do trabalho terapêutica reflec-
tirá essas diferenças.
Mesmo entre clínicos devotados e hábeis no trabalho com adolescentes em geral, a
maioria reconhece que tem mais sucesso a tratar certos tipos de jovens do que outros.
Os clínicos que trabalham juntos, em programas de tratamento para adolescentes, säo geral-
mente capazes de identificar quem, no seu grupo, é particularmente eficiente em puxar pela
língua aos jovens deprimidos e inibidos, quem é particularmente bom a penetrar em gente
jovem desafiadora e rebelde e quem parece ter um dom especial para comunicar com pacientes
confusos e desorganizados. Por isso, os terapeutas têm de se conhecer a si próprios, tanto
ao decidir receber pacientes adolescentes como ao trabalhar com eles e ao seleccionar o tipo
de adolescentes perturbados em quem concentrar os seus esforços de tratamento.
Afecto e interesse
455
456
se empenhem em actos adaptativos ou audodestrutivos, näo em resposta a motivaçöes intrín-
secas, mas como uma maneira de produzir um impacto no terapeuta. Quanto mais isso ocorrer,
mais os problemas do relacionamento terapêutica tenderäo a interferir no uso de boa capaci-
dade crítica, na conduta consciente da razäo por que se comportam de determinada maneira
e no progresso para a independência psicológica dos adolescentes.
Quando os terapeutas dizem regularmente o que acham dos acontecimentos na vida
do adolescente, também se intrometem ou rebaixam o modo como os próprios jovens reagem
a esses acontecimentos. Embora o terapeuta se interesse, o modo como considera as boas
ou as más notícias deve apagar-se, perante o modo como o adolescente se sente. Por isso,
para evitar uma relaçäo terapêutica pegajosa e para promover a independência, os terapeutas
deviam substituir afirmaçöes como «Estou contente por ouvir isso» com afirmaçöes como
«Tu deves estar contente por causa disso» e, em vez de «Lamento ouvir isso», é preferível
a afirmaçäo «Suponho que isso te fez sentir muito mal». A resposta segundo as últimas moda-
lidades, ao mesmo tempo que transmite a preocupaçäo do terapeuta, mantém a atençäo focada
nas necessidades e perspectivas do adolescente.
Regular a independência
Para desenvolver e manter uma eficaz relaçäo terapêutica com pacientes adolescentes,
o terapeuta precisa de regular cuidadosamente as suas preocupaçöes desenvolvimentistas nor-
mativas sobre tornar-se pessoas independentes por direito próprio. A maioria dos adoles-
centes aguarda ansiosamente pela autonomia e privilégios de ser adulto, ao mesmo tempo
que olha saudosamente para trás, para as gratificaçöes dependentes e para a isençäo de res-
ponsabilidades que advêm do facto de ser criança. Alguns adolescentes mais novos podem
ainda näo se ter voltado para os problemas da independência e alguns adolescentes mais velhos
podem já ter deixado esses problemas para trás. Nas suas relaçöes com adultos, contudo,
a maioria dos adolescentes de uma larga faixa etária procura ser tratada como iguais auto-
-suficientes e ser aconselhada, guiada e protegida, quando encontram dificuldades que ainda
näo estäo equipados para controlar. A luz destas necessidades conflituais, os terapeutas têm
de tomar cuidado para näo fazer com que os pacientes adolescentes sintam que estäo a ser
uns bebés ou que estäo abandonados aos seus próprios impulsos.
Sendo a psicoterapia uma relaçäo de ajuda, os pacientes näo a podem assumir sem
renunciar a alguma da sua independência em favor do terapeuta. Embora uma dependência
excessiva bloqueie o trabalho da terapia («Eu näo posso passar sem si») e constitua um pro-
blema a ser ultrapassado, a independência total («Eu näo preciso de si para nada») também
bloqueia o progresso em pacientes que näo estäo preparados para acabar o tratamento.
A participaçäo e o progresso na terapia precisam da convicçäo de que o terapeuta tem algo
útil para oferecer, além do que os pacientes podem prover a si próprios. No entanto, a típica
457
PREPARAÇÄO DO FINAL
458
459
460
de modo que näo vou poder estar contigo». O adolescente que reage a esta notícia com «Entäo
encontramo-nos daqui a duas semanas, äh?» está mais perto do fim do que um que diz «Entäo
eu poderia vir na terça ou na quinta?» Aos pacientes que näo reagem, quando o terapeuta
lhes fala de uma próxima ausência, deveria perguntar-se, frontalmente, «O que é que gosta-
rias de fazer?», para permitir que os seus sentimentos venham à tona. Se esta pergunta directa
for ainda demasiado vaga para o jovem responder, o terapeuta tem entäo de especificar algumas
possibilidades alternativas para a próxima consulta (por exemplo, dali a duas semanas no
dia do costume, ou noutro dia da semana seguinte) e convidar o paciente a exprimir uma
preferência.
A um terapeuta que näo esteja simplesmente à espera que um adolescente com melhoras
de comportamento indique o seu interesse em terminar, podem igualmente apresentar-se outros
acontecimentos que apontem, por sua vez, para sinais de prontidäo para terminar que o paciente
pode também näo ter compreendido. Por exemplo, quando o tratamento de um adolescente
foi interrompido por doença ou pelas férias da família, o terapeuta pode dizer «Parece que
passaste bastante bem, desde que nos encontrámos pela última vez; talvez näo precisemos
de ter as nossas sessöes com tanta frequência como até aqui». Outras vezes o terapeuta pode
ser capaz de estimular directamente o pensamento de um jovem sobre esse espaçamento das
consultas: «As tuas férias escolares säo daqui a poucas semanas; já pensaste como é que gos-
tavas de combinar os nossos encontros durante o veräo?»
Se o adolescente responder a essas propostas com uma clara preocupaçäo ou desa-
pontamento, o terapeuta tem de ratificar rapidamente a actual combinaçäo de tratamento.
As perguntas sobre marcaçöes, que se mostraram angustiantes devem ser contrariadas com
esforços para evitar que transmitam uma deserçäo iminente do terapeuta. Na abordagem do
terapeuta para o final, a mensagem implícita deve ser «Eu estou disposto a continuar contigo
o tempo necessário e útil, mas começa a parecer que já estás quase a tratar as coisas por
ti próprio». O final corre melhor, quando é conotado com aprovaçäo e recompensa, näo com
crítica ou rejeiçäo.
Como se indicou nos exemplos precedentes, a psicoterapia com adolescentes näo devia
terminar abruptamente. Pelo contrário, um calendário de entrevistas que gradualmente dimi-
nuem de frequência encontra, geralmente, nos adolescentes que melhoraram do ponto de
vista comportamental, o ponto de equilíbrio entre os desejos cada vez mais fortes de deixar
para trás a terapia e os seus desejos cada vez mais fracos, mas ainda muito reais, de conti-
nuar agarrado a ela. Como exemplo de uma abordagem específica, diminuir sucessivamente
para metade a frequência das sessöes dá muitas vezes bons resultados, ao permitir aos pacientes
experimentar a sua capacidade de funcionamento independente, sem o sentimento de que
ficam queimadas as pontes com o terapeuta. Ao mesmo tempo que tomam clara a sua boa
vontade para voltar à anterior frequência de consultas, se tal for necessário, os terapeutas
podem utilizar o prolongado bom funcionamento num dado intervalo de tempo (por exemplo,
tendo reduzido de uma vez por semana para uma vez de quinze em quinze dias) para sugerir
do"p
461
intervalos ainda mais longos (por exemplo, uma vez por mês) e, eventualmente, parar com
as consultas. Mesmo no ponto de näo combinar mais nenhuma consulta, os terapeutas devem
indicar que estaräo ao alcance de uma chamada de telefone, no caso do adolescente precisar
deles ou até de querer apenas contar-lhes como é que as coisas estäo a correr.
Conducäo da avaliaçäo
462
463
Planeamento do tratamento
464
465
Continuaçäo da psicoterapia
A continuaçäo da pusicoterapia com adolescentes necessita geralmente de suficiente
contacto com os pais, para recolher informaçäo sobre os acontecimentos que ocorrem na
vida da família, para controlar as atitudes parentais em relaçäo ao tratamento e seus objec-
tivos e para antecipar as condutas dos pais que possam ameaçar a terapia. Entre os clínicos
inquiridos por Kazdin e colegas (1990), 85 % concordavam que a colaboraçäo parental está
fortemente relacionada com as perspectivas de progresso no tratamento da gente nova. Par-
ticularmente nos momentos em que as mudanças de comportamento de um adolescente
alteram o equilíbrio de uma família, ou pöem à prova a compreensäo dos pais sobre o modo
de lidar com o filho, a preparaçäo e a orientaçäo feita pelo terapeuta podem reduzir a ansie-
dade dos pais e diminuir a probabilidade de reacçöes que impediriam o progresso do tra-
tamento.
Há vários modos alternativos de implicar os pais na continuaçäo da psicoterapia do
filho, adolescente. Os modos que funcionam melhor dependem principalmente das necessidades
466
e interesses dos pais em receber a sua própria ajuda psicológica. Alguns pais utilizam a oca-
siäo do encaminhamento do jovem, para contar problemas pessoais ou conjugais para os quais
gostariam de receber ajuda especializada. Nestes casos, pode ser indicado um procedimento
de terapia individual ou de casais, conduzido independentemente do tratamento do filho e
por um terapeuta diferente. Se o mesmo terapeuta tomar conta simultaneamente do trata-
mento dos pais e do filho, é provável que isso cause confusäo, relativamente ao que constitui
o seu compromisso principal, e que se criem obstáculos na manutençäo dos limites apro-
priados da confidencialidade. Quando os terapeutas recomendam realmente sessöes indepen-
dentes para os pais de um paciente adolescente, eles têm entäo de organizar canais suficientes
de comunicaçäo para assegurar a recolha de informaçäo necessária, o controlo e os objec-
tivos apontados anteriormente de contacto antecipado com os pais.
Nalguns casos, os pais que, de resto, näo necessitariam de ajuda psicológica, ficam
täo perplexos e alarmados com as dificuldades do filho que beneficiariam de discussöes sobre
a natureza do problema e do modo como deveriam reagir a ele. Aqui, também, podia ser
adequada uma recomendaçäo para tratamento independente. Estes podem ser pais que com-
plicaram inconscientemente o desenvolvimento do jovem pela sua ignorância ou atrapalhaçäo
relativas às necessidades e preocupaçöes dos adolescentes.
Estes pais podem gostar de ter uma oportunidade de manifestar as suas apreensöes
e incertezas e de receber aconselhamento relativo a elas. O aconselhamento informativo e
de apoio para os pais de adolescentes perturbados pode ser proporcionado, quer em sessöes
individuais, quer em discussöes de grupos de pais de outros adolescentes em terapia. O acon-
selhamento individual e de grupo, que é sensível às necessidades e preocupaçöes dos pais,
pode aumentar a sua compreensäo e tolerância ao comportamento do adolescente, ajudá-los
a desempenhar as suas funçöes parentais mais fácil e eficientemente e reduzir as tensöes
familiares que, de outro modo, perpetuariam o comportamento problemático dos filhos.
Em contraste com estes dois tipos de situaçöes, alguns pais, que parecem ter maior
necessidade de psicoterapia ou aconselhamento, podem, no entanto, mostrar pouco interesse
no tratamento para si próprios e pouca vontade de explorar as implicaçöes de ser pai ou mäe
de um adolescente com problemas. Nesses casos, embora o terapeuta possa optar ainda por
recomendar-lhes tratamento independente, ou discussöes sobre a educaçäo dos filhos, ele
deveria abster-se geralmente de insistir, quer numa quer noutra, como parte do plano de tra-
tamento para o filho. Os pais que näo apresentam preocupaçöes psicológicas próprias e que
duvidam de qualquer relaçäo, entre as circunstâncias familiares e as dificuldades dos filhos
raramente recebem bem as sugestöes, já näo falando em exigências, para que eles próprios
façam terapia ou recebam aconselhamento. As insinuaçöes de culpa parental e o fardo, em
tempo e despesa, que acompanham essas recomendaçöes podem encolerizá-los e perturbá-
-los o bastante para fomentar resistência a um plano de tratamento para o filho, e eles podem
opor-se, questionando a competência do terapeuta e a probabilidade de que as consultas façam
algum bem.
467
Para os pais que apresentam este estilo mais claramente resistente, como também
para aqueles que näo parecem necessitar de qualquer tratamento independente, a psicote-
rapia com o filho é melhor servida com a formaçäo de uma relaçäo eficaz com eles, em que
o terapeuta se centra nos problemas do paciente e na recolha de informaçäo, no controlo
e nas funçöes de antecipaçäo, sem penetrar nos problemas ou perspectivas pessoais dos pais.
Em geral, este tipo de relaçäo com os pais pode ser melhor gerido pelo terapeuta do adoles-
cente, sem apelo a outros profissionais. Embora, quando um terapeuta conversa com os pais
de um paciente adolescente, se possam levantar preocupaçöes relativas ao compromisso e
à confidencialidade, este tipo de procedimento pode oferecer vantagens particulares e pode
também formar salvaguardas.
No que diz respeito às vantagens de näo implicar mais pessoal colateral, os pais que
näo se consideram, eles próprios, em psicoterpia, e que realmente näo estäo, podem achar
desagradável e artificial dizer-se-lhes que devem falar com alguém, que näo o terapeuta do
jovem, para discutir os seus progressos. Uma abordagem conjunta parece natural e evita a
ineficácia dos arranjos colaterais que ocorre quando os pais fazem perguntas sobre o filho
a que o entrevistador näo pode responder, porque a sua comunicaçäo com o terapeuta é defi-
ciente, ou quando o terapeuta tem falta da informaçäo dos pais que o ajudaria a conduzir
uma sessäo, porque o entrevistador dos pais näo conseguiu ou näo transmitiu essa
informaçäo.
Quanto à salvaguarda do compromisso e da confidencialidade, os encontros com os
pais näo necessitam de excluir o adolescente. Pelo contrário, é vantajoso pedir periodica-
mente aos pais que acompanhem o jovem numa sessäo familiar. Procedendo desta maneira,
permite-se que ocorra a necessária interacçäo pais-terapeuta sem sugerir que os adolescentes
näo säo suficientemente maturos, para estarem com os mais velhos, ou que näo podem ou
näo devem participar no que se diz sobre eles, ou que a lealdade do terapeuta para com eles
é secundária a uma responsabilidade para com os pais. Também se tem reconhecido estas
sessöes conjuntas, como bons meios para os terapeutas se manterem informados dos padröes
de interacçäo familiar e utilizar técnicas de tratamento familiar que se podem mostrar úteis
(Feldman, 1988; Madanes, 1983, Capítulo 6).
Tal como nas fases de diagnóstico e planeamento da psicoterapia, a medida do empe-
nhamento familiar no tratamento contínuo variará, de acordo com a perturbaçäo e imaturi-
dade do jovem. Quanto menos graves forem as dificuldades e mais perto se aproximarem
do estado adulto, mais responsáveis seräo pelo seu próprio tratamento e os pais seräo vistos,
com menos frequência e vice-versa. Além disso, durante o decurso da psicoterapia, a
melhoria do comportamento acarretará reduçäo de contacto com os pais, da mesma maneira
que justifica uma diminuiçäo da frequência das sessöes. Em todas estas decisöes relativas
ao procedimento os terapeutas deviam guiar-se por todos os meios que julguem que estimu-
laräo, alimentaräo, recompensaräo e aumentaräo o rogresso do adolescente em direcçäo
à maturidade.
468
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Indice de Autores
472
473
475
476
Fabrega, H., 49
Fallahi, C., 14, 17, 120
Fallon, R. H., 83
Falloon, I. R. H., 75, 102
FaIstein, E. I., 244
Faraone, S. V., 137
Farber, S. L., 75, 136
Farberow, N. L., 382
Farmer, A. E., 74, 87
Farnworth, M., 316, 319, 331
Farrier, S., 16
Farrington, D. P., 311, 313, 315, 316, 317, 319
Faust, R., 406
Faustman, W. O., 71
Fawcett, L, 122, 123, 381
Feeney, B., 257
Fehrinann, P. G., 272, 298
Feinberg, T. L., 152
FeindIer, E., 432
Feinstein, S. C., 65
Feldman, A., 181
Feldman, L, 80
Feldman, L., 252
Feldman, L. B., 467
Feldman, R. A., 316, 351
FennelI, E. B., 329
Fenton, W. S., 82, 182
Ferguson, L. L., 1 1
Femald, C. D., 31
Ferrari, M., 243
Fialkov, M. L, 423
Fibel, B., 378
Fieve, R. R., 143
Figlio, R. M., 315
Finch, A. L, 144
Fineberg, B. L., 105
FinkeIstein, R., 152
Fischer, M., 283
Fisher, P., 387
Fisher, S., 231
Fishler, P., 178, 197
Fishman, H. C., 432
Fishman, R., 20
Fitton, M. E., 432
Fitzgerald, B. A., 432
Fitzpatrick, J., 39
Fimen, D. L., 350
Flaherty, J. A., 158
Flaherty, J. F., 16
Flament, M., 220
Flament, M. F., 239, 240
Flanagan, T. J., 313, 314, 315
Fleck, S., 74
Fleisher, S. L, 359
Fleming, J. A., 62, 152
Fleming, J. E., 119, 120, 130
Fletcher, J. M., 283
Foa, E. B., 234, 236
Foley, C., 144
Foote, F. H., 420
Forman, S. G., 420
Formanek, R., 121
Forrest, D. U., 250
Forrest, D. V., 97
Forsman, A., 121
Forster, B., 320
FowIer, R. C., 384
477
FF-- aias
478
479
480
Huba, G. L, 410
Huber, G., 80
Hubert, N. C., 282
Hudgens, R. W., 18, 65
Hudson, J. L., 181, 182
Huesmann, L. R., 318
Hughes, M. C., 126
Huizinga, D., 316, 319
Hunt, E., 282
Hunter, J. A., 197
Hurt, S. W., 102, 119, 178, 179, 181, 205, 378
Hurvich, M., 59
Husain, S. A., 132
Huston, A. C., 276
Hutchings, B., 330, 333
HuxIey, G., 189
Hyman, L, 33
Hymowitz, P., 180
Hynd, G. W., 181, 283, 331, 332
lacono, W. G., 62
Inamdar, S. C., 64
Inhelder, B., 279
Inouye, E., 230
Insel, T. R., 232
Intagliata, L, 101
Irwin, L., 314
Irwin, M. L, 351
1shiyama, F. L, 274
Iyengar, S., 125, 128
Izard, C. E., 117
481
JOW
482
483
484
485
prol",
486
487
Noyes, 405
Noyes, H. L., 130, 405
Noyes, R., 226, 242, 247
Nuechterlein, K. H., 75, 76
Numberg, H. G., 179, 181
Nursten, J. P., 244
O'Brien, G. T., 224, 241
O'Connell, M., 194
O'Connell, R. A., 145, 160
O'Connor, P., 334
O'Donnell, D. L, 347
O'Gorman, T. W., 413
O'Hagan, S. E. L, 329
O'Leary, L. R., 60
O'Loughlin, D. D., 75
O'Malley, P. M., 11, 269, 339, 400, 403, 407,
408
Obrzut, J. E., 281
Ochoa, E. S., 182
Oei, T. P. S., 159
Oetting, E. R., 412
Offer, D., 12, 13, 14, 16, 17, 22, 373
Offer, J. B., 12
Offord, D. R., 119, 120, 130
Oglesby, D. M., 284
Ohlin, L. E., 321
Offisen, S., 71
Okazaki, S., 273
Ollendick, T. H., 259
Olmstead, K. M., 75
Oltmanns, T. F., 59, 65, 146
01weus, D., 317
Opipari, L., 378, 381
Orbach, I., 383
Ort, S. I., 223, 230
Ortiz, I. E., 314
Ortmann, L, 136, 379
Orvaschel, H., 15, 137, 138
Osbom, M., 373, 384, 386
Oster, G. D., 158
Ostrov, E., 13, 14, 16, 17, 22
Overholser, L, 379, 381, 383
Owens-Stively, L, 378
488
Quay, H. C., 39, 44, 45, 150, 311, 312, 318, 319,
323, 324, 327, 328, 329, 331, 333, 334,
338, 346, 432
Quinlan, D. M., 60, 121, 159
Quinton, D., 320
Richman, L, 392
Richmond, L. H., 432
Rick, G. R., 97
Ricketts, J. E., 376
Ricks, D. F., 78
Riddle, M. A., 223, 230
Riley, W. T., 104, 123
Rinsley, D. B., 104
Ritter, D. R., 282
Ritter, P. L., 287
Ritzler, B. A., 81, 124
Robbins, D., 179, 383
Robbins, D. R., 132, 318
Roberson, M. K., 314
Roberts, D. F., 287
Robinette, C. D., 74
Robins, L. N., 29, 32, 58, 78, 120, 121, 179, 320,
321, 323, 331, 374, 381
Robinson, D., 125, 128
Robinson, L. A., 153, 158
Robinson, N. M., 281
Robinson, R., 382
Rodick, J. D., 298, 317
Rodnick, E. H., 76
Rodriguez, A., 259
Rodriguez, M., 259
Roehling, P. V., 410
Roff, J. D., 82, 318
Rogeness, G. A., 334
Rogers, C. R., 29
Rogers, R., 345
Rohrbaugh, M., 351
Rohrbeck, C. A., 278
Ronan, K. R., 352
Rose, S. D., 432
Rosen, B., 80
Rosenbaum, 1. S., 60
Rosenberg, F. R., 339
Rosenberg, M., 339
Rosenberg, R., 142, 330
Rosenberg, T. K., 14, 17, 120
Rosenberger, P. H., 184, 194
Rosenhan, D. L., 30
Rosenstein, M., 47
Rosenstein, M. L, 58, 103
Rosenthal, D., 136, 180, 242, 379
490
Schuttler, R., 80
Schwab, M. E., 40
Schwab-Stone, M. E., 51
Schwartz, E. O., 179, 189, 190
Schwartz, F., 178, 197
Schwartz, I. M., 103
Schwartz, J. C., 18
Schwartz K. P., 334
Schwartzman, A. E., 335
Searles, J. S., 414
Segal, S. P., 31
Seifer, R., 77
Seligman, M. E. P., 141, 158
Sellin, T., 315
Serna, L. A., 353
Serok, S., 447
Settlage, C. F., 9
Shaffer, D., 40, 120, 132, 220, 334, 379, 383,
384, 387
Shafli, D., 378, 384
Shakow, D., 69
Shanok, S. S., 314, 346
Shapiro, B., 61
Shapiro, D., 72, 226
Shapiro, E. S., 299, 300
Shapiro, M. F., 144
Shapiro, R. W., 35
Shapiro, S. A., 77
Shapíro, S. K., 39, 319, 327, 331, 334
Shapiro, T., 188, 257, 453
Shaw, C. R., 322
Shaw, E. L., 276
Shaw, M. C., 270
Shaw, W., 320
Shay, J. L, 204
Shea, M. L, 82
Shear, M. K., 221, 226, 234
Shedier, L, 408, 411
Sheldon, J. B., 322, 353
SheIlhamer, T. A., 78
Shenton, M. E., 146
Sheperd, G., 257
Sher, K. L, 410
Sheras, P. L., 132
Sherick, R. B., 381
Sherwin, I., 346
Shoda, Y., 1 1
Shoemaker, D. L, 320
Shoham, I., 131
Sholomskas, D., 137
Shontz, F. C., 410, 412
Shore, D., 79
Shore, M. F., 349
Shrier, D., 248
Shrout, P. E., 139
Siddique, C. M., 16
Siegel, A. W., 126
Siegel, T. C., 432, 465
Siever, L. L, 180, 184, 190
Sigvardsson, S., 413
Silbernian, E. K., 78, 124
SU, K., 43, 184
Silk, K. R., 194, 197
Sillburn, S., 378
Sills, M., 252
Silva, P. A., 330, 334
Silverman, L, 32
Silverman, L. N., 60
Silverstein, M. L., 65, 66
Simmons, R. B., 13
Simmons, R. G., 245
Simon, T., 2
Simon, W., 131
Simons, A. D., 158, 159
Simons, R. L., 320
Simpson, D. D., 421
Simpson, J. C., 82, 83
Sinclair, R. L, 272
Sines, J. O., 140, 331
Sines, L., 179
Singer, M. T., 76, 175, 198
Singer, R. D., 411
Siomopoulos, G., 64
Siperstein, G. N., 31, 300
Skinner, E. A., 270
Skinner, H. A., 44, 45
Rodol, A. E., 139
Skynner, A. C., 250
Slaby, R. G., 329
Slater, J. F., 136
Slavin, L. A., 142
Slomowitz, M., 49, 104, 395
491
01
492
SmalI, I. F., 97
Small, J. G., 160
Smallberg, S. A., 124
Smallish, L., 283
Smetana, J. G., 16
Smith, G. T., 410
Smith, J. K., 282
Smith, J. M., 432
Sn-úth, R. L, 329
Smucker, M. R., 122
Sneesby, K. R., 272
Snow, L, 283
Snyder, L, 320, 331
Snyder, K., 76
Snyder, K. S., 83
Soloff, P. H., 179, 181, 203, 324
Solomon, G. F., 357
Solomon, L. L, 30
Solomon, M. F., 191
Solomon, M. H., 105
Solovay, M. R., 146
Sommer, B., 245
Sorenson, S. B., 220
Sowards, S. K., 105
Sowder, B., 47
SowelI, V. W., 31
Spare, K. W., 276
Spaulding, E., 180, 184
Sperling, M., 257
Spiegel, D., 83
Spielberger, C. D., 329
Spirito, A., 378, 379, 381, 383
Spitzer, R. L., 34, 38, 175, 180, 181, 325
Spoden, F., 159
Spohn, H. E., 102, 105
Spotniz, H., 66
Sprenkle, D. H., 420
Spring, B., 77
Sprock, L, 34, 46
Sroufe, L. A., 1 1, 17
St. Lawrence, J. S., 352
St. Peter, S., 43
Stander, R. L, 257
Stangl, D., 140
Stark, L. L, 378, 381
Stattin, H., 318, 335
493
494
Waddell, K. L, 283
Wadell, M. T., 224, 241
Wagner, B. M., 142
Wahlstrom, J. 121
Walder, L. O., 318
Waldfogel, S., 244
Waldinger, R. S., 207
Waldron, S., 248
Walker, B. A., 392
Walker, E., 77
Walker, E. F., 71
Walker, R. N., 60
Wallace, C. L, 62, 79, 97, 206
Wallander, J. L., 228
Walsh, A., 330, 331
Walsh, B. T., 120, 220
Walsh, L. M., 329
Walsh-Allis, G., 137, 138
Waring, M., 78
Warner, L., 184
Warner, R., 33
Warner, V., 137
Wasek, P., 48
Wassoia, E. L, 206
Wasylow, D. E., 345
Waterman, A. S., 15
Watson-Perczel, M., 432
Watt, N. F., 78, 79
Wehr, T. A., 160
Weigel, R. M., 71
Weilburg, J. B., 238
Weinberger, G., 257
Weiner, I. B., 6, 15, 17, 18, 20, 47, 48, 58, 59,
60, 63, 65, 79, 93, 117, 144, 150, 208, 236,
295, 359, 430, 433, 447
Weingartner, H., 124
Weinhold, C., 119
Weinstein, R. S., 277
495
(fim)