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Universidade Federal de Juiz de Fora

Disciplina: Documentário
Graduação: 2016/2 I Instituto de Artes e Design

Primórdios do documentário:

Do cinematógrafo ao cinema
O protótipo de um novo gênero
DA-RIN, Silvio. Espelho Partido. Rio de Janeiro: Azougue, 2004.

Daniel Brandi do Couto


Mestrado em Cinema e Audiovisual (PPGACL/UFJF)
daniel@impulsohub.com.br
Afinal, o que é documentário?:


Filme que aborda a realidade?


Filme que lida com a verdade?
Filme rodado em locações autênticas?
Filme que não tem roteiro?
Filme que não é encenado?
Tratamento criativo da realidade?

Instituto de Artes e Design I Bacharelado em Cinema e Audiovisual


Disciplina: Documentário.
Aula: Primórdios do do Documentário I DA-RIN, Silvio. Espelho Partido (Cap. 1 e 2)
Afinal, o que é documentário?:


“Todos grandes filmes de ficção tendem ao documentário, como


todos os grandes documentário tendem à ficção. (…) Quem opta a
fundo por um encontra necessariamente o outro no fim do caminho”.

Jean-Luc Godard.

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Do cinematógrafo ao Cinema:


O cinema surge como parte de um processo longo, amplo e ramificado de


experiências e conquistas no campo da projeção de imagem.

Tem sua origem na Antiguidade, passa pela câmara escura e ganha impulso
com o uso da lanterna mágica e a proliferação de pesquisa ópticas visando o
registro e a reprodução do movimento*

Surgimento do cinema não foi uma ruptura radical e sim uma experimentação
de técnicas já conhecidas e, posteriormente, assimilidas às formas culturais e
artísticas.

Sugestão de filme: Film before Film (Werner Nekes, 1986)

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Do cinematógrafo ao Cinema:


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Do cinematógrafo ao Cinema:


As investigações de Thomas Edison:

As invenções de Edison no campo da imagem foram consequência de seu


invento anterior, o Fonógrafo (1888).
Em 1894 Edison lança o Quinetoscópio: uma máquina com moeda, com visor
individual para exibição de filmetes.
A maioria dos filmes feitos para o Quinetoscópio foram gravados no Black
Maria, um estúdio fechado, e reproduziam temas de diversão popular.

As filmagens consistiam numa única tomada com atores, diante de fundos


negros, longe da grande e pesada câmera de filmagem: o quinetógrafo.

Edison já vislumbrava o espetáculo audiovisual, mas acreditava que lucraria


mais com consumidor de cada vez, lançando no mercado o quinetoscópio.

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https://www.youtube.com/watch?v=WmZ4VPmhAkw

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Do cinematógrafo ao Cinema:


Os irmãos Lumière

O método de trabalho dos irmãos Lumière se distinguia de Edison, já que


focava em filmar situações familiares.
Ao inventarem o cinematógrafo (câmera leve e portátil movida a manivela) os
irmãos produziram diversas “vistas” que, por si só, encantavam muito mais que
os filmes de Edison, já que reproduziam o cotidiano com surpreendente
realismo.

Os filmes exibidos nas primeiras demonstrações do cinematógrafo, foram


realizados pessoalmente por Luis Lumière, que já possuía conhecimento
fotográfico de longa data, proporcionando qualidade formal e artística as
obras.

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https://www.youtube.com/watch?v=VDnppCDhI9U

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https://www.youtube.com/watch?v=d_9N68MO9gM

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Os irmãos Lumière

O trabalho dos irmãos Lumière também procurava se filiar a uma vertente


técnico-científica de pesquisadores do movimento.

“Meus trabalhos foram trabalhos de investigação técnica. Jamais fiz o que se


chama de ‘mise-èn-scene’ (…) No cinema, o tempo dos técnicos acabou.
Agora é a epoca do teatro”. (Louis Lumiére)

Meio século após a invenção do cinematógrafo, o cinema volta às pesquisas


do movimento e ao registro da realidade perdera público. Era o cinema de
ficção que dominava o mundo.
O então fascínio gerado pelas máquinas lançadas no mercado durava pouco e
o conteúdo passou a superar a técnica para chamar a atenção dos
espectadores.

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A atualidade entra em cena

Para tornar os enredos compreensíveis, era preciso recorrer a recursos para


além da imagem, a começar pela memória do espectador que pressuponha o
conteúdo do filme através do titulo ou enredo conhecido. (ex: Paixão de
Cristo).
Outro gênero recorrente era a reconstituição de crimes sensacionais
notificadas pela imprensa.

Esse tipo ficou conhecido como “Cinema de atrações”, formado não somente
por cenas filmadas em estúdios, mas também por paisagens ou eventos
públicos - as chamadas Atualidades.

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A atualidade entra em cena

No final do século XIX, os jornais ainda não dispunham de técnicas adequadas


de publicação de fotografias com boa definição. A seção de fait divers (fatos
bizarros e crimes extraordinários), inspirou o cinema a aportar nesse ambiente
realista.

O cinema contribuiu de forma privilegiada para construir tecnicamente a


“realidade”, ao mesmo tempo em que a transformava em espetáculo.

Quando chegaram nos Estado Unidos, Edison adotou apressadamente o


Vitascópio para fazer a projeção em tela. Ele percebera que as cenas da vida
cotidiana costumavam ser bem recebidas pelo público. De fato, as atualidades
conquistaram o público norte-americano pelo realismo, qualidade e variedade,
e por ser uma espécie de jornal na tela.

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https://www.youtube.com/watch?v=jkx4yEkhgfw

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A atualidade entra em cena

Como o cinematógrafo era um aparelho reversível (funcionava como câmera e


projetor), leve, portátil e independente de eletricidade, podia ser facilmente
transportado mundo afora.

Catálogos de filmem começaram a predominar as Atualidades.

As exibições, antes feitas nos intervalos de espetáculos, passam a ser


realizadas em salas fixas e com filmes mais longos.

Neste sentido a maior conquista foi o domínio da temporalidade (montagem)


através da evolução da linguagem cinematográfica.

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O cinema de D.W Griffith e as Atualidades

Griffith se destaca nesse novo tipo de cinema, ao exercitar diferentes práticas


que contribuíram na evolução da linguagem cinematográfica.

Predomínio da concatenação de planos, montagem paralela, mudança de


pontos de vista, continuidade…

O processo de institucionalização do cinema se completou, ao longo da


década de 1910, com a padronização dos programas de exibição:

LONGA DE FICÇÃO + COMPLEMENTOS (Atualidades)

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Cinema Institucionalizado

Um novo produto, introdutório a atração principal, surgiu: o newsreel.

Um novo produto, introdutório a atração principal, surgiu: o newsreel ou


cinejornal.

Consistiam em filmes de programas com 10 filmes factuais noticiando


desastres, eventos esportivos etc.

Formavam um programa fechado, compatível com a crescente padronização


da indústria, e uma periodicidade de renovação, assegurando ao mercado
exibidor um suprimento regular de complementos.
Surgimento também dos travelogues.

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Travelogues e filmes híbridos

Presentes desde os primórdios do cinema, as vistas de Lumiére contribuíram


para tornar o filme de viagem em um dos gêneros mais populares na era pré-
sala de exibição.

Importante destacar que entre 1903 e 1904 Edwin Porter realizou alguns filmes
híbridos, mesclando atualidades e cenas dirigidas com atores.

Formavam um programa fechado, compatível com a crescente padronização


da indústria, e uma periodicidade de renovação, assegurando ao mercado
exibidor um suprimento regular de complementos.

Surgimento também dos travelogues.

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https://www.youtube.com/watch?v=yWj8Z7M63n0

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https://www.youtube.com/watch?v=6ym7-QW_GWo

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Predomínio da ficção, carência das atualidades

Com o grande consumo cinematográfico nas salas de cinema, os travelogues


e atualidades foram sendo relegados ao uso em palestras e salões de
conferência sobre geografia e etnologia.

Em uma época marcada pela crescente afirmação dos códigos narrativos do


cinema de ficção, travelogues e atualidades continuaram carentes de uma
“escritura” própria, capaz de capturar o espectador e trazê-lo pra dentro do
mundo imaginário do relato.

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O protótipo de um novo gênero

Nanook do norte é considerado o primeiro documentário.

Produzido pelo explorador norte-americano Robert Flaherty, é resultado de


mais de 10 anos de pesquisas sobre os hábitos cotidianos dos esquimós Inuik.

Em 1917, quando a edição de seu filme estava praticamente concluída, um


acidente causou a destruição de todos os negativos.

Restou-lhe um copião do trabalho e só após a guerra, em 1920, conseguiu


recursos para finalizar seu filme em 1922.

O filme foi muito bem recebido pelo público, crítica e cineastas.

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O protótipo de um novo gênero

A grande novidade estava na abertura de um novo campo de criação que


transitava entre os filmes de viagem e a ficção.

Nanook Travelogues

Centrado na vida da Centrados na figura do


comunidade viajante explorador

Colocava os fatos em Modelo de Lumiére:


perspectiva dramática, observação da realidade
estrutura narrativa.

Desmontagem a analítica do Ordem cronológica


material capturado,
montando de forma
narrativa.

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O protótipo de um novo gênero

Flaherty incorporou a Nanook do North conquistas da montagem narrativa, e


outros elementos da evolução da linguagem cinematográfica antes só
utilizados nos filmes de ficção:

1.Presença do antagonista: o meio hostil a que estavam submetidos os


esquimós

2.Desenvolvimento de conflitos e resoluções criando tensão e suspense:

- Cenas de indigestão das criança


- Luta dos esquimós contra a morsa
- Pesca da foca
- Sequência da construção do Iglu (quantidade de planos / luz)
3. Micronarrativas são inseridas em sequências mais longas, proporcionando
detalhes que humanizam os relatos.

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O protótipo de um novo gênero

O grande êxito de Flaherty foi adotar técnicas narrativas em um terrenos antes


ocupado pela pura descrição observativa dos fatos.

-> ENREDO

Flaherty extraia do próprio ambiente os elementos fundamentais do drama,


porém nem sempre é o que se vê (encenação/representação).

O essencial não era a real identidade de alguém, mas sua função na narrativa.

As plateias nem sempre esperavam uma fiel representação da realidade.


Preferiam os recursos de reconstituição, próximos aos de ficção, que eram
mais atrativos.

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O protótipo de um novo gênero

A contribuição de Flaherty em Nanook do North foi a de criar um modelo de


pesquisa, filmagem e montagem que inaugura a narrativa documentária.

O êxito de publico e de critica do filme, abriu horizontes novos para o cinema


preocupado com a realidade.

Neste sentindo, tornou-se o protótipo definitivo de um novo gênero.

Pode ser considerado o fechamento definitivo do período Lumière.

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https://www.youtube.com/watch?v=6ym7-QW_GWo

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