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Fome e Sede de Justiça


Mat 5:1-12
30 de janeiro de 2011
Rev. Alcenir Oliveira

Jesus Cristo dá a receita completa para ser feliz. Alguns comentaristas dizem
que os dez mandamentos estão para o Velho Testamento assim como as bem-
aventuranças estão para o Novo Testamento. Eu não tenho temor de afirmar que elas
são uma interpretação dos dez mandamentos na perspectiva do coração e não da
razão. Quando nós fazemos a leitura dos dez mandamentos com os olhos do coração,
seremos levados a perceber seu verdadeiro sentido, a grande misericórdia de Deus.
Os grandes erros de Israel através dos tempos foram interpretar literalmente o
cumprimento da lei na perspectiva da razão, ou seja, uma questão de obrigações e
direitos.
Cada bem aventurança é importante e prática para nossa vida espiritual.
Entretanto, eu gostaria de meditar um pouco sobre uma delas que julgo conter quase um
resumo de todo o conjunto: os que têm fome e sede de justiça, v.6.
A interpretação desse texto depende da agenda do pregador. A maioria deles
entendem que a lição aqui é sobre a prática da justiça. Ao reler o texto com atenção
vamos perceber que Jesus Cristo está dizendo que é bem-aventurado aquele que tem
fome e sede de justiça, de buscar a justiça, de praticar a justiça, de ver a injustiça sendo
erradicada.
Quando ouvimos a palavra justiça, somos tomados pela idéia do certo e do
errado, do bem e do mal, do crime e da punição, da dívida e do pagamento. O sentido
da palavra justiça aqui é mais amplo, significa retidão. A gramática grega do Novo
Testamento diz que é um relacionamento correto com Deus e em conformidade com
sua vontade. Esse seria o padrão ideal do crente estabelecido por Jesus Cristo.
Mas Jesus Cristo diz que feliz é aquele que tem fome e sede, não aquele que
pratica a justiça. Ter fome e sede de justiça é muito mais profundo do que praticar a
justiça apenas. Quem tem fome e sede, não só prática a justiça e ponto final, mas
continua na busca constante da realização da justiça. Os Judeus (fariseus, saduceus,
mestres e escribas) praticavam a justiça como algo que faz parte de sua agenda, de sua
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rotina, que mecanicamente praticam na hora certa, na medida certa, nem mais, nem
menos. Mas não têem fome e sede.
Ter fome e sede da justiça de Deus é sentir como a corsa que anseia por água,
como diz o salmo 42.
Alimento e água são o combustível de nossa existência, se faltar nós morremos.
Nossa vida espiritual será abundante se tivermos fome e sede de justiça, de
relacionamento correto com Deus, de buscar entender e cumprir a vontade de Deus.

Na história vemos que cada período tem os seus requintes de injustiça.


Entretanto, nos nossos dias a injustiça foi banalizada. É comum ouvirmos no noticiário
da manhã o nome do condenado que vai ser executado ao meio dia e quando saimos de
casa, já nem lembramos mais. Vemos gravação ao vivo de assassinatos, violência de
guerra e terrorismo, e tantos outros absurdos que já tornaram-se lugar comum nas
manchetes do dia-a-dia.
Estou falando apenas dos horrores. Nos nossos dias, adultério, prostituição,
homosexualismo, violência doméstica, roubo, corrupção, mentira para muitos nem são
vistos como pecado. Não é a vontade de Deus que nos acomodemos assim com a
injustiça. A justiça de Deus é tudo que está de acordo com sua vontade, e injustiça
tudo que está em desacordo. E o que vemos é tudo contrário. Paulo diz que não
devemos nos conformar – tomar a mesma forma de alguma coisas – tomar a forma
desse mundo que descrito acima. E Paulo continua: Mas transformormai-vos pela
renovação de vossa mente, Rom 12:2.
No mundo competitivo de nossa época, as pessoas lutam para ser felizes.
Tentam encontrar felicidade com sucesso pessoal, com um relacionamento ideal,
acumulando riquezas. Muitas vezes, por acidente de percurso as coisas não saem como
querem, começam a buscar felicidade em drogas, nos prazeres que mundo oferece, e
outros meios.
Jesus Cristo nas bem aventuranças nos convida a procurar ser como Ele. A
iniciativa de desejar ser igual a ele nos trará as bençãos do encaminhamento para que
sejamos fartos da justiça de Deus. Paulo se declara imitador de Cristo, e nos incentiva a
fazer como ele, “sede meus imitadores como eu sou de Cristo”, ou seja imitem a minha
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ação de imitar Cristo, 1 Cor 11:1. Existe uma palavra em Hebráico que resume tudo isso:
Kadosh.
Kadosh significa tornar-se um ser sagrado. Sede santo como eu sou santo (Lev.
19:2 e 1 Pe 1:16). Quando começamos a ter fome e sede de justiça, começamos
desenvolver as atitudes das bem-aventuranças:
1 - A atitude humilde de espírito é não ter solução e reposta para todas as coisas. Há
indivíduos que se julgam auto-suficientes, julgam que não precisam que ninguém que
lhes dêem qualquer direção na vida. “Eu posso passar muito bem sem qualquer padrão
moral de uma fonte divina", diriam. Isso é o contrário daquele que está aberto, receptivo,
sem muitas receitas e fórmulas intelectuais e filosóficas para condução de sua vida. Este é
o espírito moderno do humanismo, do materialismo, o orgulhoso de espírito.
2 - A atitude do quebrantamento, ou seja, os que choram. Quando começamos a olhar
da perspectiva de Deus, através dos olhos da misericórdia, com os olhos da justiça, com
os olhos da humildade e nos sensibilizamos com a falta de misericórdia no mundo, com o
pecado que toma conta das pessoas e amarram até verdadeiros crentes.
3 - A atitude de humildade. Essa é uma das atitudades mais importantes do crente. Há
pessoas que ocupam certas posições, sejam no trabalho, no clube, na associação ou na
igreja, ou até mesmo vivem em melhores condições de vida que outros e seu orgulho
sobe de tal forma que ninguém suporta sua arrogância. A humildade é característica de
servo, e de quem não se deixa dominar pelas coisas passageiras desta vida. Entretanto,
humildade não é ser submisso inconseqüente, a humildade não é escravizante.
4 – A atitude de misericórdia, o compassivo. A misericórdia é o resultado da prática da
lei maior – o amor. Jesus quando via as pessoas em sofrimento se compadecia delas.
5 – A atitude do coração puro, aquele cujos olhos e ouvidos captam o que o mundo
oferece mas não guarda no coração, joga no lixo.
6 – A atitude do pacificador, o que ama a paz.
7 – Atitude de defensores da justiça. É a atitude daqueles que, mesmo sendo
perseguidos, combatidos, zombados, sempre encontrarão uma forma de fazer oposição à
injustiça. Mesmo sendo impotentes para convencer a respeito do que é reto, deixaram
evidente seu repúdio à injustiça.
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Atitudes das bem-aventuranças são, em resumo, as atitudes de seguidor do Mestre.


Estas são as atitudes de quem tem fome e sede de Justiça, e serão satisfeitos da
seguinte forma: Alcançarão misericórdia, serão consolados, serão admitidos no Reino,
herdarão a terra, serão chamados filhos de Deus e verão a Deus.

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