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,
Lisboa.
A linguagem é tão essencial ao contexto humano que é impossível conceber a vida sem
ela. É de tal modo poderosa que a partilha de um sistema linguístico nos agrega no
mesmo clube de falantes, onde quer que estejamos; permite-nos usufruir de experiências
que outros (distantes no espaço e no tempo) vivenciaram; proporciona-nos o trabalho e
o divertimento em grupo e facilita-nos as aprendizagens individuais e sociais.
Desenvolvimento e aprendizagem
Linguagem e Aprendizagem
Uma boa mestria das vertentes oral e escrita da língua é cada vez mais essencial
no desempenho da maioria das profissões actuais e uma fonte determinante na educação
permanente. Daí a responsabilidade da escola no crescimento linguístico de todos os
alunos.
A linguagem não pode ficar reduzida à mera expressão de opiniões, devendo ser
progressivamente usada como uma via exploratória do conhecimento, da curiosidade e
da criatividade do aluno.
Através da voz o ser humano produz inúmeros sons. Ao nascer a criança chora,
meses depois entra numa fase de palreio, posteriormente repete sílabas e finalmente
produz palavras, as quais são cadeias de sons a que se atribui um significado. O
desenrolar deste processo que termina na articulação correcta de todos os sons da língua
materna do sujeito, é o que poderíamos chamar o desenvolvimento fonológico.
De todos os domínios do desenvolvimento linguístico, o fonológico é aquele que
mais rapidamente atinge a mestria adulta. Realmente, ao entrar na escola, a maioria das
crianças articula correctamente todos os sons e combinações de sons da língua materna
e quando tal não sucede deverá ser sinal de alerta para pais e professores. A imaturidade
articulatória não sendo sempre indicadora de problemas graves, pode, se não lhe for
prestada atenção devida, resultar em dificuldades escolares, nomeadamente na
aprendizagem da leitura e da escrita.
O processo de discriminação:
A criança chega a este mundo geneticamente equipada para ouvir e produzir a
fala humana, o que não significa que nasça a falar. De uma forma muito simples
podemos dizer que os mecanismos periféricos essenciais à percepção (aparelho
auditivo) e à produção da fala (aparelho fonador) estão presentes na altura do
nascimento, embora os desempenhos funcionais fiquem muito aquém do nível adulto.
Vivemos bombardeados por estímulos que constantemente nos chegam aos
chamados órgãos dos sentidos; são eles os primeiros receptores da informação que nos
rodeia. A recepção dos estímulos pelo organismo é a primeira etapa de um processo
cognitivo, cujo produto final é o conhecimento humano. Nem toda a informação que
nos cerca é percebida, isto é, interpretada pelo organismo; tal facto tanto pode ficar a
dever-se às características do estímulo como ao funcionamento do sistema de
processamento. À informação percebida chamamos percepção, a qual é caracterizada
pelo órgão dos sentidos que foi a porta e o veículo de transmissão. No que respeita aos
sons, trata-se da percepção auditiva, a qual envolve o processo de detecção de sinais
acústicos e o reconhecimento das respectivas características, como a frequência, a
intensidade, a sequencia de ocorrência, etc. São as aptidões perceptivas que permitem o
reconhecimento da existência de estímulos, neste caso sonoros, e dos respectivos
parâmetros. À capacidade para detectar a presença de um estímulo e de diferenciar entre
dois estímulos chamamos discriminação.
A recepção da fala é realizada através da percepção auditiva, a qual como
dissemos, permite detectar sons no ambiente. Na origem dos sons estão vibrações que se
propagam por meio de ondas através do ar, as quais pressionam a membrana do tímpano
que, por sua vez, origina actividade nervosa que resulta em audição.
A percepção dos sons da fala é o primeiro passo na compreensão da linguagem
oral. Através deste processo, as vibrações sonoras são traduzidas em sequências de sons,
que surgem ao ouvinte como unidades com significado. O acesso ao significado implica
a discriminação de sons; é, contudo, importante realçar que a capacidade de diferenciar
(discriminar) auditivamente os sons da ala não envolve obrigatoriamente a relação
som/significado, presente na realização linguística. A actividade que se segue tem como
objectivo proporcionar ao leitor a consciencialização da percepção da fala.
Em termos genéricos importa salientar que, desde a recepção do sinal acústico
até à compreensão da mensagem, se seguem várias etapas no tratamento da informação,
as quais se processam a grande velocidade. Assim, o ouvinte começa por receber os
sons da fala produzidos por outrém; retém a representação sonora, por segundos, na
memória de curto prazo; procura e localiza o significado da sequência de sons
(palavras) na memória de longo prazo, organiza e representação sonora em frases ou
constituintes de frases; combina as frases e obtém o significado do enunciado
produzido; e esquece as cadeias de sons, as palavras e as frases, guardando somente o
essencial da mensagem (Martin, 1983).
A distinção dos sons, ou seja a discriminação auditiva é, na sua essência, um
processo de diferenciação. Para que tal possa acontecer, o sujeito tem que ser capaz de
prestar atenção, ou seja, concentrar a actividade mental nas particularidades do estímulo
em presença, retendo a informação recebida na chamada memória sensorial.
É devido à memória sensorial que algumas características do estímulo são
conservadas, mesmo depois do estímulo ter desaparecido.
Um outro aspecto também importante na discriminação diz respeito à
capacidade para identificar estímulos sensoriais, organizados em arranjos mais ou
menos complexos; é o chamado reconhecimento de padrão, cuja função é transformar a
informação bruta e isolada e identificá-la como parte de uma cadeia já existente na
memória.
Como atrás dizíamos, os mecanismos periféricos essenciais à percepção da fala
estão presentes na altura do nascimento; a não completa funcionalidade parece ficar a
dever-se à imaturidade neurológica materializada em lacunas de atenção, de memória e,
consequentemente, de capacidade de discriminação. O desenvolvimento das
potencialidades discriminativas que nos permitem reconhecer os sons da língua da
comunidade onde crescemos é a “password” indispensável para se ser admitido no clube
dos falantes.
O comportamento motor pode ser tão subtil como uma piscadela de olho ou uma
expressa facial, ou ser tão explícito como a palavra falada. Os “skills” cognitivos
envolvidos na comunicação incluem a memória de curto e longo termo e a capacidade
para estabelecer associações entre o símbolo e o seu representante. Quanto às
capacidades sensoriais (audição, visão, tacto…) estas permitem que a criança perceba
as tentativas de comunicação do outro, mostram-lhe a existência de outras pessoas com
quem comunicar e que qualquer evento pode servir de tópico para conversar, para
além de facilitar a compreensão das relações entre o símbolo e o seu referente (Nunes,
Clarisse, (2001). Aprendizagem Activa na Criança com Multideficiência, Ministério da
Educação, DEB-NOEEE; Lisboa).
Cada criança deve ser avaliada nas suas possibilidades ou facilidades (abilities) e
nas suas dificuldades (disabilities). Não há dúvida de que a partir daqui podemos
organizar métodos, técnicas, materiais e processos que obviamente se terão de ajustar às
necessidades educacionais (perceptivas, linguísticas, simbólicas e cognitivas)
específicas das crianças.
Não podemos considerar que ao falar de linguagem oral estamos a falar num
sistema de comunicação finito e completo. Estamos, sim, a falar de parte de um sistema
de comunicação da espécie humana que tem características especiais. Este sistema
assenta na capacidade de produzir sons através de um aparelho próprio, que no Homem
se desenvolveu e que se designa por aparelho fonador. Esses sons vão impressionar um
órgão auditivo próprio, que no Homem também se aperfeiçoou adaptando-se
especialmente à recepção dos sons que se encontram no espectro das produções do
aparelho fonador. Este complexo sistema desenvolveu-se a par do desenvolvimento das
capacidades cognitivas, em geral, e, desta forma, dificilmente se descreve ou
compreende independentemente do conjunto que é o comportamento humano.
A linguagem sempre foi considerada pelos homens o traço mais distintivo da sua
natureza superior em relação às outras espécies. É natural, por isso, que pensamento e
linguagem se confundam e que seja dada a esta função um estatuto de superioridade.
A linguagem resulta de processos biológicos ocorrendo principalmente no
hemisfério esquerdo.
O processo inicia-se, naturalmente, nos sensores auditivos.
Quando nos dispomos a estudar a linguagem nos doentes que sofrem lesões
cerebrais usamos técnicas de acesso à linguagem com provas específicas. As operações
básicas que podem ser realizadas são as que testam a capacidade de descodificação (por
exemplo: compreensão auditiva), as que testam a capacidade de codificação (por
exemplo: a denominação de objectos ou figuras) e as que estudam a ligação da
descodificação com a codificação (por exemplo: a repetição de palavras).
As trocas entre mãe e criança são um meio para a modelagem linguística, a pego
emocional e uma variedade de experiencias que fornecem estimulação sensorial e
motora.
Fala e linguagem sao apresentadas como entidades muito diferentes, com a fala
sendo apenas o resultado, ou a realização acústica de uma variedade de processos
linguísticos complexos. O termo linguagem é usado para representar o conceito de
sistemas arbitrários, mas convencionais, de simbolos para comunicação. Implica em
processos sognitivos e representacionais que resultam num input especifico para um
sistema de controle motor. O termo fala representa a forma falada da linguagem, que
envolve os processos de respiração, fonação, ressonância e articulação.
Essa separação da linguagem e da fala tem influenciado enormemente o nosso
pensamento sobre como produzimos enunciados verbais. Por ex. a linguagem e a fala
foram estudados, como actividades separadas, uma mental (linguagem) e outra fisica
(fala), que ocorrem de um modo linear. Os processos mentais, tais como selecção
lexical e formulaçãosintáctica, foram descritos como ocorrendo primeiro, resultando
numa “entrada” linguistica especifica para o sistema de controlo motor. Os processos de
controlo motor da fala foram descritos, portanto, como a conversão da entrada
linguistica em resultado acustico.
Contudo Stramel () in Chapman () refere que a linguagem e o controlo motor da
fala são sistemas interactivos e paralelos.
A suposição evidente dos modelos de formulação de linguagem adulta e modelo
de produção de fala adulta é que há um componente linguistico ou representaccional
que serve como entrada para um processo motor. Um começa onde o outro termina. Isso
implica numa divisão entre os mecanismos centrais e periféricos. Os processos centrais
envolvem formulação linguística, enquanto os processos periféricos envolvem a
activação de neurónios motores mais baixos, realimentação aferente e o movimento que
resulta na saida acustica.
A criança começa então a esforçar-se por imitar o que apercebe no discurso dos
que a rodeiam.
A Primeira Linguagem: o contributo dos pais torna-se tanto mais eficaz, quanto
mais ajustado for o discurso à capacidade da recepção da criança. São alguns desses
enunciados simplificados que fornecem à criança o material sonoro com o qual vai
construir as suas primeiras palavras da linguagem articulada.
O aspecto social torna-se de dia para dia mais determinante.
Na maior parte das vezes, contudo, as crianças passam imperceptivelmente de
um ao outro dos dois estádios, de modo que a aquisição do vocabulário da primeira
linguagem se faz paralelamente ao desaparecimento dos elementos pré-linguísticos
estranhos ao sistema fonológico da língua modelo e referencial do adulto.
Nos dois casos, esta evolução do comportamento infantil supõe um trabalho de
integração intelectual que escapa à observação, mas cujos progressos são reflectidos
pelo desenvolvimento da sua aptidão para compreender o discurso de outrem.
Um facto permanece, a compreensão passiva precede a expressão activa.