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3/12/2021 5:35:02 PM - AE NEWS


ESPECIAL: ALTA DOS PREÇOS DE ALIMENTOS E COMBUSTÍVEIS PRESSIONA COPOM A COMEÇAR NOVO
CICLO
Por Eduardo Rodrigues

Brasília, 12/03/2021 - Depois de sete meses com a taxa básica de juros brasileira no menor nível da
história, o Banco Central deverá tomar na próxima semana uma decisão que não adota desde 2015:
aumentar a Selic. Apesar da segunda onda da pandemia de covid-19 sinalizar ainda tempos difíceis para a
economia e o crédito, a subida dos preços de alimentos e combustíveis pressiona o Comitê de Política
Monetária (Copom) a começar um novo ciclo de aperto financeiro.

É preciso voltar a julho de 2015, ainda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, para encontrar a
última vez que a autoridade monetária elevou os juros. Na ocasião, o Copom liderado por Alexandre
Tombini elevou a Selic em 0,50 ponto porcentual, levando a taxa para 14,25% ao ano. Na época, o
balanço de riscos do BC contava com problemas semelhantes aos de 2021, com inflação em alta, real
desvalorizado e fraca atividade econômica.

Quando a pandemia de covid-19 chegou ao Brasil no ano passado, o BC foi forçado a acelerar a redução
da Selic, que já vinha ocorrendo nos últimos anos em um ambiente de inflação controlada e retomada
gradual da economia. Entre fevereiro e agosto de 2020, os cortes sucessivos do Copom baixaram a Selic
de 4,50% para 2,00% ao ano - onde ficou estacionada até agora. Quanto menores os juros básicos da
economia, mais barato fica o crédito para empresas e famílias, o que possibilitou o crescimento dos
financiamentos no auge da crise e ajudou a segurar as quedas na atividade e no emprego.

O problema é que agora o BC se depara com um aumento contínuo da inflação, puxada pelos alimentos e
pelos combustíveis. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou fevereiro com alta
de 0,86% e já acumula um crescimento de 5,20% nos últimos 12 meses. A meta de inflação para o fim de
2021 é de 3,75%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%).

Nesse cenário, apesar da segunda onda da pandemia de covid-19 e das medidas de lockdown tomadas
por diversos governos estaduais apontarem para uma nova retração da economia nos meses à frente, o
mercado aposta em uma alta consistente nos juros na próxima semana. O Copom se reúne entre terça e
quarta-feira (16 e 17).

Das 54 instituições do mercado financeiro consultadas pelo Projeções Broadcast, 52 esperam aumento
dos juros básicos nesta reunião, sendo que 48 aguardam que a taxa suba de 2,00% para 2,50% ao ano,
três veem alta de 0,25 ponto e uma espera aperto mais intenso, de 0,75 ponto. Para o fim de 2021, a
mediana das apostas é de 4,5%, com expectativas indo de 3,00% a 6,00%.

Na comunicação da última reunião do Copom, em janeiro, o colegiado já havia deixado a porta aberta
para a retomada de um ciclo de alta de juros. Desde então, as apostas da maioria no mercado migraram
de 0,25 p.p de aumento para 0,50 p.p. seguindo a trajetória de aumento nos preços e a crise dos
combustíveis. Com as ameaças de desidratação da PEC Emergencial pelo Congresso que levaria a uma
deterioração fiscal ainda maior do País, diversos analistas chegaram a alertar para a possibilidade de um
aumento de até 0,75 p.p. de uma só vez, mas a aprovação do texto com um teto para a nova rodada do
auxílio emergencial afastou essa hipótese.

Inflação x Atividade

13/Mar/2021 19:03
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O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, que ainda aposta em uma elevação de apenas
0,25 p.p na Selic, avalia que os impactos da segunda onda da pandemia sobre a economia podem impedir
que o Copom "pese a mão" na alta dos juros em março. Para ele, o movimento deve ser mais gradual,
com duas altas de 0,50 p.p a partir da reunião seguinte - em maio - e mais uma elevação de 0,25 p.p,
encerrando o ciclo em 3,5%.

"A pandemia piorou muito, e estamos caminhando para o fechamento extremo das principais regiões
produtivas do País. É preciso lembrar que as decisões do BC têm um efeito defasado sobre a economia, e
o horizonte relevante do Copom já está olhando mais para 2022, cujas expectativas de inflação seguem
ancoradas", argumenta. "Subir demais os juros agora vai amassar ainda mais os setores de serviços e da
indústria", alerta.

Para Sanchez, um aumento de 0,25 p.p. agora significaria que o BC continua enxergando um ambiente
incerto e duvidoso, enquanto uma elevação de 0,50 p.p. sinalizaria uma certeza maior por parte do
Copom sobre a evolução do cenário. "A realidade vem se impondo, mas não sabemos como vai ser a
conjuntura econômica daqui a duas ou três reuniões. Não consigo trazer uma palavra de otimismo vendo
os dados de ocupação de UTIs, óbitos e vacinas. A conjuntura econômica é triste", completa.

Já o economista-chefe da Necton, André Perfeito, enxerga uma atuação mais firme do Copom e projeta
seis altas consecutivas de 0,50 p.p., levando a Selic para 5,00% até o fim do ano. "A inflação está aí, e não
tem como pensar de forma diferente. O IPCA para 2021 já está perto do teto e vai estourar. Até segunda
ordem, o preço das commodities, dos alimentos e dos combustíveis é para cima. E é preciso lembrar que
as despesas no Brasil ainda são muito indexadas à inflação", acrescenta, chamando a atenção para o risco
fiscal do País.

Apesar da aprovação da PEC Fiscal com um teto de R$ 44 bilhões para a nova rodada do auxílio
emergencial, Perfeito lembra que a recuperação pelo ex-presidente Lula de seus direitos políticos pode
resultar em uma guinada populista por parte do presidente Jair Bolsonaro, de olho nas eleições de 2022.
"A troca de comando na Petrobras para fazer um aceno aos caminhoneiros já foi uma sinalização. E agora
o efeito Lula gerou ainda mais dúvidas sobre a consistência dos ajustes econômicos. O governo vai
conseguir retirar o auxílio emergencial em agosto quando a inflação estiver no auge", questiona.

Da mesma forma, o sócio da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos Neto, prevê um aumento
de 0,50 p.p. na Selic nesta semana, seguido por outros quatro movimentos de mesma magnitude - para
uma taxa de 4,5% ao ano.

"As expectativas de inflação vêm subindo desde o começo do ano e começam a se aproximar
desconfortavelmente do teto da meta para 2021. Temos um contexto com pressões cambiais, alta de
commodities e insumos, repasse do atacado, além de toda uma incerteza no campo fiscal e político",
destaca.

Por isso, o economista avalia ainda que a taxa atual de 2,00% ao ano para uma inflação corrente que é o
dobro disso resulta em uma taxa de juros real negativa que não condiz mais com o risco brasileiro. "E
claro que a pandemia preocupa, e eu diria que só por causa da atividade que a alta nos juros não será de
0,75 p.p. nesta reunião", completa. "Mas se o risco de contaminação da inflação de 2022 aumentar nos
próximos meses, os próximos passos do Copom podem incluir altas ainda maiores na Selic", conclui
Campos.

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