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COMARCA DE SÃO LEOPOLDO

3ª VARA CÍVEL
Av. Unisinos, 99
___________________________________________________________________

Processo nº: 033/1.06.0015497-4


Natureza: Ação Civil Pública
Autor: Ministério Público
Réu: Cooperativa Habitacional Coohap Ltda
Juiz Prolator: Juíza de Direito - Dra. Aline Santos Guaranha
Data: 29/09/2010

Vistos etc.

I – RELATÓRIO

O Ministério Público ajuizou ação civil pública em face da


Cooperativa Habitacional COOHAP Ltda., noticiando que, conforme
apurado no Inquérito Civil nº 018/02, a ré vem promovendo o
parcelamento do solo, para fins urbanos, alienando lotes de uma área
de terras situada na Av. Mauá, Bairro Santos Dumont, nesta cidade,
sem aprovação do Município, prévia anuência dos órgãos do Estado e
implantação da mínima infra-estrutura, o que fere a Lei 6766/79 (arts. 3º,
caput; 12; 13, parágrafo único; 18; 37 e 53). Disse que, mesmo após a
Presidente da ré ter sido advertida quanto à necessidade de prévio
licenciamento ambiental, a demanda procedeu ao corte de vegetação
nativa e instalou seu empreendimento. Acrescentou que o loteamento
situa-se em área de preservação permanente (banhado), sendo
constatada também a existência de depósito de lixo irregular no local.
Mencionou que, apesar de ter sido firmado termo de ajustamento de
conduta, a cooperativa ré continuou permitindo a ocupação dos lotes.
Em 17/07/2003, a representante da ré retornou ao Ministério Público,
alegando que teria celebrado convênio com o Governo do Estado,
visando obtenção de recursos para realização das obras necessárias à
regularização do loteamento. Entretanto, a FEPAM informou que a
licença prévia da ré estava vencida e não houve pedido de licença de
instalação. Além disso, não foi providenciada autorização junto à
Metroplan nem regularizado o pagamento da área sobre a qual está
sendo instalado o loteamento. Alegou que, solicitada nova vistoria à
Secretaria Municipal de Meio ambiente, esta noticiou que a demandada
não estava tomando qualquer providência para concluir o loteamento,
tais como pavimentação das ruas e conclusão da rede de esgotos. Em
28/09/2004, foi firmado termo de compromisso de conduta definitivo; no
entanto, as cláusulas ajustadas não vem sendo cumpridas pela ré, sob
alegação de falta de recursos financeiros. Assim, em 30/01/2006, foi
ajuizada ação de execução de obrigação de fazer bem como instaurado
o Inquérito Civil 05/06 para apuração de desmatamento das áreas
verdes do loteamento. Segundo relatório de vistoria, a vegetação das
áreas verdes está sendo devastada e há moradias construídas dentro
dos limites destas áreas. Em 27/04/2006, foi firmado novo termo de
compromisso de ajustamento para que a ré providenciasse o replantio
das áreas verdes. Ocorre que o pacto foi descumprido. Afirmou que a ré
foi notificada para apresentar projeto de recuperação da área degradada
e cronograma de pagamento da área, mas não atendeu a determinação.
Diante de denúncia anônima de que a ré estaria ampliando a área do
loteamento, foi determinada realização de nova vistoria, sendo
constatada a veracidade da informação e a existência de famílias
residindo no local. Mencionou que a ré atribui a não regularização do
parcelamento do solo à inadimplência dos cooperados, o que não
procede. Salientou que a demanda está vendendo lotes sem fornecer
qualquer recibo aos adquirentes. Citou os arts. 225 da CF, 250 da
Constituição Estadual, 3º e 14 da Lei 6938/81, 38 e 47 da Lei 6766/79.
Invocou a aplicação do CDC ao caso. Pediu a concessão de
antecipação de tutela para determinar que a ré: apresente em juízo
relação de todos os lotes alienados e respectivos adquirentes; promova
a desocupação das áreas verdes; deixe de realizar vendas ou quaisquer
negócios que manifestem intenção de vender lotes; se abstenha de
receber prestações vencidas e vincendas previstas nos contratos já
celebrados. Postulou, ao final, a procedência da ação com a
condenação da ré a: obrigação de não fazer consistente em não realizar
vendas ou quaisquer negócios que manifestem intenção de vender lotes
bem como não fazer a respectiva publicidade; substituir os lotes
irregulares negociados por outros imóveis ou restituir as quantias pagas
e indenizar as perdas e danos sofridos pelos consumidores; promover a
desocupação e recuperação das áreas verdes; caso necessário, manter
a intervenção até a conclusão do loteamento; ao pagamento de multa
diária no valor de 10 salários mínimos para cada obrigação
descumprida. Protestou por produção de provas. Acostou documentos
(fls. 36 – 436).

Foi deferido o pedido de antecipação de tutela e nomeado


interventor (fls. 437; 443).

O Ministério Público postulou sejam acessadas pelo Bacen Jud as


informações bancárias da ré, com determinação de bloqueio das contas
abertas (fls. 441 – 442).

O órgão do Parquet interpôs embargos de declaração (fls. 443 –


445) e agravo de instrumento (fls. 456 – 473).

O TJRS deu seguimento ao recurso (fls. 476).

A parte autora postulou o bloqueio dos valores existentes nas


contas da ré bem como fosse definido qual interventor permanecerá
atuando no feito (fls. 477 – 478).
Foi tornada sem efeito a nomeação do interventor da fl. 437,
determinado que a parte autora exibisse documentos bem como que a
interventora apresentasse relatório sobre a situação administrativo-
financeira da ré (fls. 479 – 480).

Citada por mandado (fl. 486 verso), a parte ré apresentou


contestação (fls. 490 – 501), aduzindo que o loteamento possui infra
estrutura básica e que o empreendimento foi licenciado, estando em
fase de renovação. Mencionou que não há ocupação de área de
preservação permanente e que a inadimplência impede a solução do
problema de tratamento de esgoto. Ressaltou que nunca procedeu
qualquer tipo de desmatamento, sendo que invasores agem de forma
ilegal na área da cooperativa. Além disso, realizou replantamento.
Alegou que os pagamentos são realizados por via bancária, de sorte
que não há que se falar em falta de fornecimento de recibo. Insurgiu-se
em relação ao pedido liminar de intervenção da cooperativa.
Argumentou sobre a possibilidade de continuar recebendo valores de
contratos já celebrados. Requereu a improcedência da ação, a
prorrogação do prazo para juntar documentos e a concessão do
benefício da AJG. Protestou por provas. Acostou documentos (fls. 502 –
1283).

Foi deferido o pedido de prorrogação de prazo para juntada de


documentos formulado pela ré, e determinado que a demandada
acostasse comprovantes de rendimento (fl. 1284).

O TJRS deu parcial provimento ao agravo de instrumento (fls.


1285; 1310 - 1315).
A parte ré noticiou a interposição de agravo de instrumento (fls.
1287 – 1298). O TJRS negou provimento ao recurso (fls. 1319; 1329 -
1335).

O Ministério Público informou que recebeu denúncia de


cooperativados sobre inúmeras irregularidades praticadas na
administração da ré e de crimes cometidos por sua representante (fls.
1304 – 1305). Além disso, juntou documento (fls. 1306 – 1308).

A interventora postulou que profissional capacitados examinasse


os documentos constantes dos autos (fls. 1316 – 1317; 1320).

Foi deferida a produção de prova pericial (fl. 1321).

Designada audiência de conciliação (fl. 1342), esta foi realizada


(fls. 1503 e verso), oportunidade em que restou inexitosa a tentativa de
conciliação e foi saneado o feito, sendo determinado que a parte ré
juntasse declarações de renda.

Houve manifestação da parte ré (fls. 1346 – 1350), com juntada de


documentos (fls. 1351 – 1502), bem como do Ministério Público (fls.
1507 – 1509).

Foi indeferido pedido de inspeção judicial e substituído o perito (fl.


1510 e verso).

O Ministério Público e a interventora apresentaram quesitos (fls.


1512 – 1516; 1522 – 1523).
A interventora postulou autorização para realizar o pagamento do
IPTU e das contas de energia elétrica e a nomeação de outro perito (fls.
1530 – 1531). Além disso, juntou documentos (fls. 1532 – 1565).

Gladis Jessie Steigleder e outros afirmaram que são credores da


cooperativa ré e postularam autorização para que a interventora
procedesse o pagamento do valor de R$ 130.000,00 (fls. 1567 – 1569).
Juntaram documentos (fls. 1570 – 1588).

A interventora se manifestou e acostou documentos (fls. 1590 -


1595).

Foi indeferido o pedido de concessão do benefício da AJG à ré, e


deferida a expedição de alvará para pagamento das despesas de IPTU
e AES SUL (fls. 1596 e verso).
A interventora postulou que seus honorários sejam pagos pela
COOHAP (fls. 1598 – 1599).
Houve manifestação do Ministério Público (fls. 1603 – 1604) e da
interventora (fls. 1605 – 1607), com juntada de documentos (fls. 1608 –
1616).

Foi determinado que o pagamento dos honorários periciais fosse


realizado com abatimento dos honorários da interventora, bem como
que esta prestasse esclarecimentos. Além disso, não foi acolhido o
pedido das fls. 1567 - 1569 (fls. 1618 e verso).

Houve manifestação da interventora (fls. 1622 – 1624), com


juntada de documentos (fls. 1625 – 1640).
A parte ré postulou a desconstituição da intervenção, e a liberação
da quantia de R$ 22.000,00 para pagamento da família Steigleider (fls.
1643 – 1648). Além disso, juntou documentos (fls. 1649 – 1822).

Foi acostado o laudo pericial (fls. 1825 – 2060), sobre o qual


houve manifestação do Ministério Público (fls. 2062 – 2064) e da
interventora (fls. 1622 - 124).

Não foi conhecido o pedido liminar das fls. 1643 – 1648, sendo
mantida a intervenção (fls. 2065).

Houve manifestação da interventora (fls. 2069 – 2071), com


juntada de documentos (fls. 2072 – 2084).

O Ministério Público postulou o julgamento do feito e manutenção


da intervenção (fls. 2085 – 2086).

Foi determinada a intimação da parte ré para se manifestar sobre


o laudo pericial e manifestações da interventora (fl. 2088).

A parte ré se manifestou sobre a perícia (fls. 2092 – 2094).

Houve manifestação da interventora (fls. 2095 – 2096; 2104 -


2106), com juntada de documentos (fls. 2097 – 2103; 2107 – 2109).

O Ministério Público postulou o aumento da multa por


descumprimento da decisão liminar, a intimação da presidente da ré
para que se abstenha de receber qualquer valor, determinar realização
de obras, contratar empresas e mão-de-obra em nome da cooperativa
bem como de fazer pagamentos em nome da cooperativa. Além disso,
requereu a intimação do Município de São Leopoldo e do SEMAE para
que se abstenham de realizar qualquer obra no local enquanto não
regularizado o empreendimento (fls. 2111 – 2112).

Foi acolhida integralmente a promoção do Ministério Público das


fls. 2111 – 2112 (fl. 2117).

A parte autora postulou a decretação da revelia da ré bem como o


julgamento do feito (fls. 2122 – 2123).

A interventora postulou a expedição de ofício à Junta Comercial (fl.


2126), o que foi deferido (fl. 2128).
A interventora noticiou que foi elaborado um projeto de Termo de
Ajustamento de Conduta (fl. 2130).

Vieram os autos conclusos para sentença.

É o relatório. Decido.

II - FUNDAMENTAÇÃO

Inicialmente, no que tange ao pedido de decretação de revelia (fls.


2122 – 2123), indefiro, uma vez que houve apresentação de
contestação pela parte ré (CPC, art. 319). Ademais, registro que o
projeto de TAC não interfere no interesse processual, porque sequer se
tem notícia da efetiva celebração do termos e dos seus termos.

Feito este registro e inexistindo preliminares a apreciar, examino o


mérito.
Sustenta o Ministério Público que a ré vem promovendo
parcelamento do solo, para fins urbanos, alienando lotes de uma área
de terras situados em em área de preservação permanente, sem
aprovação do Município, anuência dos órgãos do Estado e implantação
de mínima infra-estrutura, e, ainda, procedendo ao corte de vegetação
nativa. Assim, pretende a condenação da ré a: obrigação de não fazer
consistente em não realizar vendas ou quaisquer negócios que
manifestem intenção de vender lotes bem como não fazer a respectiva
publicidade; substituir os lotes irregulares negociados por outros imóveis
ou restituir as quantias pagas e indenizar as perdas e danos sofridos
pelos consumidores; promover a desocupação e recuperação das áreas
verdes; ao pagamento de multa diária no valor de 10 salários mínimos
para cada obrigação descumprida. Por sua vez, a cooperativa ré alega
que o loteamento possui infra estrutura básica e que o empreendimento
foi licenciado, inexistindo ocupação de área de preservação permanente
tampouco desmatamento.

Registro que detém o Ministério Público legitimidade para o


ajuizamento de Ação Civil Pública para “a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos”, nos termos do do art. 129, III, da Constituição Federal e inc.
IV, do art. 1º da Lei 7.347/85. Assim, cabível o aforamento de ação civil
pública, pelo Ministério Público, visando à regularização de loteamentos
urbanos destinados à moradia popular, uma vez que age em defesa de
interesses públicos, difusos e coletivos (ordem urbanística e social), e
não apenas de direitos daqueles que contrataram com a ré.
Oportuno realçar que cabível a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor à hipótese dos autos, que igualmente legitima o Ministério
Público para a defesa coletiva dos interesses dos consumidores lesados
pelas práticas da Cooperativa ré (arts. 81, parágrafo único, e 82, inciso
I), consoante lição extraída do julgamento do Agravo de Instrumento nº
70014410807:

“Acerca da incidência do Código de Defesa do Consumidor,


que, nos termos dos arts. 81, parágrafo único, e 82, inciso I,
igualmente conferem legitimidade ao Ministério Público na
defesa coletiva dos interesses dos consumidores, reporto-me
ao bem lançado parecer da insigne Procuradora de Justiça,
que, no ponto, assim se manifestou:
“[...] No que refere, propriamente, à aplicação do Código de
Defesa do Consumido à hipótese dos autos, cumpre asseverar
que a incidência do Diploma Consumeirista se justifica pela
necessidade de tutela dos direitos de uma coletividade de
consumidores prejudicados pelas práticas da Cooperativa,
que passou a viabilizar a aquisição de lotes em loteamento
habitacional clandestino, em prática flagrantemente ilegal e
abusiva.

“Outrossim, a posição da Cooperativa enquanto fornecedora


(CDC, art. 3º), necessária à caracterização da relação de
consumo, demonstra-se na oferta, devidamente anunciada, de
lotes no mercado, assim como na sua condição relativamente
aos associados, que não detêm qualquer poder de mando ou
gestão do empreendimento (conforme assinalado pelo Parquet,
fl. 579)”.

Sobre as irregularidades mencionadas na exordial, consoante já


exposto na decisão proferida no agravo de instrumento nº 70019993971
(fls. 1310 – 1314), são evidentes, tendo em vista que a ré implantou
loteamento sem aprovação dos órgãos públicos competentes e ofertou e
comercializou lotes de terra sem registro no álbum imobiliário (fl. 145), o
que afronta o disposto no artigo 37 da Lei 6.766/79, e, ainda, causou
danos ambientais em razão do desmatamento de vegetação nativa em
área de preservação permanente (banhado) e do depósito de lixo
irregular no local, o que é demonstrado pelos documentos acostados
juntamente com a exordial, especialmente das fls. 62 – 63 (que
demonstra a falta de regularização do empreendimento Junto a
Prefeitura de São Leopoldo e o corte de vegetação), 64 (documento
emitido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo,
não autorizando o corte de árvores nativas), 66/67 (ofício e parecer da
Prefeitura de São Leopoldo que demonstra a ausência de licença de
instalação para o empreendimento), 71 – 74, 82 - 83 (ofício e cópias de
fotografias do local, que evidenciam os danos ambientais). Além disso,
os documentos das fls. 97 – 101, expedidos pelo Batalhão de Polícia
Ambiental do Estado do RS confirmam a existência de loteamento
clandestino e possível existência de crime ambiental. Registro que o
Relatório de Vistoria Técnica da FEPAM também relata a existência de
danos ambientais em face das obras da COOHAP (fls. 138 – 139).
Igualmente, de acordo com o parecer técnico da Secretaria Municipal do
Meio Ambiente, datado de 10/01/06, “as áreas verdes do loteamento
construído pela COOHAP (...) não estão sendo preservadas” (fl. 389).
Acrescento que o documento da fl. 173 (ofício da Secretaria Municipal
do Meio Ambiente) corrobora a alegação do Ministério Público no
sentido de que não houve a execução de infra-estrutura básica, o que
indica que os recursos obtidos com a venda dos lotes não foram
aplicados na infra-estrutura do loteamento. Ademais, houve
descumprimento, por parte da ré, das condições estabelecidas no
Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta – TAC (fls. 93 –
95), conforme verificado pelo Batalhão de Polícia Ambiental do Estado
do RS (fls. 148 - 151).

A fim de evitar tautologia desnecessária, adoto como razões de


decidir os argumentos lançados no voto proferido no julgamento do
agravo de instrumento acima mencionado:
“Com efeito, tenho que assiste razão em parte ao
agravante. Isso porque da prova trazida aos autos, pelo menos
neste momento processual, foi possível verificar que a
atuação da agravada foi contrária à lei, pois comercializou
lotes de terra de forma irregular, sem que estes estivessem
registrados no álbum imobiliário, além de estar causando
danos ao meio ambiente em razão do corte de vegetação
nativa em área de preservação permanente (banhado), sem
o prévio licenciamento ambiental, bem como em virtude do
depósito de lixo irregular no local.

Destaco que a atuação do Ministério Público é muito


anterior ao ajuizamento da ação civil pública, pois desde 2002,
mediante a instauração de Inquérito Civil (fl. 78), já vinha
coletando dados a fim de apurar as irregularidades detectadas
no loteamento da Cooperativa Habitacional COOHAP Ltda em
São Leopoldo, o que ensejou inclusive a celebração de Termo
de Compromisso de Ajustamento de Conduta entre o agravante
e a agravada, sem que houvesse o seu cumprimento até o
momento da interposição do presente recurso.

Destaco que diante do inadimplemento do acordo pela


agravada, os pedidos formulados na inicial da ação civil pública
também englobam as condições estabelecidas no Termo de
Compromisso de Ajustamento de Conduta – TAC, firmado da
seguinte forma:

“CLÁUSULA PRIMEIRA: considerando ter loteado, de


forma irregular, áreas de terras na Av. Mauá, 2175, Bairro
Santos Dumont, nesta Cidade, o compromitente assume a
obrigação de suspender a realização de obras no loteamento
até obter a certidão de registro imobiliário do loteamento,
podendo terminar a tubulação dos canos num prazo máximo de
15 dias;
(...)

CLÁUSULA TERCEIRA: o compromitente compromete-


se a não vender nem prometer a venda nenhum lote do referido
loteamento enquanto o mesmo não estiver registrado no
registro de imóveis;

CLÁUSULA QUARTA: o compromitente compromete-se a


não permitir a ocupação de nenhum dos lotes para moradia
enquanto a situação não estiver regularizada e o loteamento
pronto, conforme as licenças obtidas e registrado no registro de
imóveis;(...)
CLÁUSULA SEXTA: o compromitente fica ciente de que
o descumprimento de cada uma das obrigações assumidas
neste compromisso importará em multa diária e por atividade,
no valor de 10 salários mínimos

Ademais, também em razão do descumprimento do termo


firmado entre as partes, o Ministério Público propôs execução
de obrigação de não fazer em 15MAI03, visando ao
desfazimento dos atos praticados pela agravada, os quais se
obrigou a não fazer; a incidência de multa a partir de
14NOV02, bem como a citação da executada para cumprir as
obrigações de não fazer assumidas perante a Promotoria de
Justiça, especialmente de não permitir a ocupação dos lotes
enquanto não regularizado o loteamento.
Ainda, mesmo após o ajuizamento da execução, a
agravada descurou de cumprir com o acordo firmado, conforme
se verifica da certidão juntada à fl. 53, levando o agravante ao
ajuizamento da ação civil pública e à presente insurgência,
diante do deferimento parcial da tutela antecipada na origem.
Nesse sentido, destaco os argumentos lançados pelo
ilustre Procurador de Justiça atuante no feito, em seu parecer,
os quais adoto como razão de decidir:
A prova inequívoca e a verossimilhança das alegações
(fumus boni juris) encontram-se consubstanciados nos
documentos de fls. 469/474, onde foram acostadas
informações de contas bancárias e aplicações financeiras
da agravada. Nelas, é possível constatar quatro contas
junto à Caixa Econômica Federal, cujo saldo em 06/03/2007
é de R$ 4.805,99.
Os documentos referidos informam que a conta
0511.003.00002149-3, junto à caixa Econômica Federal, foi
encerrada em 30/04/2004 e a conta nº 06.009145.0-8 do
Banrisul está com saldo zero.
Também tem-se notícia que a comercialização dos
lotes eram vendidos cada, no montante de R$ 4.800,00
(quatro mil e oitocentos reais), o que avulta a quantia
parcial ou total de R$ 1.920.000,00 (um milhão, novecentos
e vinte mil reais).
Ao que tudo indica, os recursos que foram
capitalizados pelo agravado no momento da
comercialização dos lotes, não foram empregados na infra-
estrutura do loteamento.
Deste modo, os requeridos promoveram a execução
do parcelamento de solo urbano de maneira totalmente
irregular, sem a aprovação do projeto de loteamento pelo
Município e infringindo as normas civis e urbanísticas que
regulam a ordenação do solo urbano.
Ademais, é consabido que é vedado vender ou prometer
vender parcela de loteamento ou desmembramento não
registrado, consoante o disposto no artigo 37 da Lei 6.766/79.
Logo, pretende-se a tutela jurisdicional para proteger o
grupo de consumidores identificáveis que, a mercê da oferta
dos terrenos pela requerida, apresentada, inclusive, por meio
de publicidades, já contrataram a aquisição de lotes no local,
sofrendo os prejuízos em decorrência da falta de infra-estrutura
e da impossibilidade de efetuar o registro do imóvel enquanto
não regularizado o loteamento.
O fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação (periculum in mora) advêm do inadimplemento do
termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta para
regularizar o loteamento, sob o pretexto da falta de recursos
financeiros, além do surgimento da denúncia de que a
Cooperativa está ampliando a área loteada. Também, é
importante ressaltar que desde o início do loteamento nenhuma
obra de infra-estrutura foi executada.
Compulsando os autos percebe-se que não foram
atendidas as exigências mínimas para a constituição do
loteamento, como a reserva de áreas para espaços e
equipamentos de uso públicos e a dotação de infra-
estrutura básica, previstas na legislação Municipal e nos
arts. 4º e 5º da Lei nº 6.766/79, compreendendo o
abastecimento de água, serviços de esgotos, energia
elétrica e sistema de coleta de águas pluviais.
Assim, diante da falta de atendimento às determinações
contidas na Lei 6.766/79, e a comercialização de lotes, bem
como a denúncia de alteração do projeto inicial com abertura
de rua e delimitação de novos lotes, está evidente a má-fé da
agravada.
Com efeito, o conjunto probatório evidencia a existência do
fundado receio de dano irreparável à comunidade e aos
adquirentes dos lotes, até que seja concluído o provimento
jurisdicional.
Nesse sentido, cita-se decisão de caso análogo:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR.
INDISPONIBILIDADE DOS BENS DO LOTEADOR.
GARANTIA DE EFICÁCIA DE FUTURA DECISÃO.
Demonstrada a irregularidade na implantação de
loteamento, diante da falta de atendimento às
determinações contidas na Lei 6.766/79, e a
comercialização de 15 lotes, o que caracteriza a exigência
de garantia substancial, a fim de possibilitar o
ressarcimento pleno e eficaz aos lesados, a
indisponibilidade dos bens e numerários do agravante é
uma medida que se impõe, nos termos do art. 273 do
CPC. AGRAVO DESPROVIDO.” (Agravo de Instrumento
Nº 70018067553, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio dos Santos
Caminha, Julgado em 03/05/2007)

A esse respeito, decisão do egrégio Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo:

“Ação Civil Pública – Loteamento – Determinada a


execução de obras de infra-estrutura, bem como o arresto
e a indisponibilidade dos bens pertencentes à ré –
Necessidade para garantir a regularização do loteamento e
impedir que o patrimônio seja dissipado – recurso
Improvido.” (Agravo de Instrumento n. 130.194-4/2 – mauá
– 9ª Câmara de Direito Privado – TJSP – Rel. Silva Rico.)

“Ação Civil Pública – Liminar – Deferimento –


Admissibilidade – Configuração dos requisitos do fumus
boni iuris e do periculum in mora – Aspecto envolvendo
responsabilidade que escapa do âmbito deste remédio
jurídico – decisão mantida – Agravo não provido. “Se não
preservado o patrimônio dos agravantes, através da
medida em questão, certamente haverá o risco de
comprometimento da eficácia do provimento obtido ao final
na ação pública” (Agravo de Instrumento n. 155.499-5/0 –
Cândido Mota – 4ª Câmara de Direito Público – TJSP, Rel.
Soares Lima, j. 25.05.00)

E para o bom andamento do processo, é indispensável


que a interventora nomeada dê continuidade aos
compromissos firmados pela demandada.
No que pertine à desocupação das áreas verdes é
imprescindível a conclusão do relatório para que seja apreciada
a matéria e delimitadas as áreas verdes e institucionais dentro
do loteamento, sob pena de estarmos nos precipitando quanto
a análise do direito fundamental à moradia em ofensa ao
princípio da igualdade e ao direito constitucional ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado.
Finalmente, assiste razão ao agravante, quanto à
publicação da concessão da liminar na imprensa local, uma vez
que há fundado receio de que a agravada volte a comercializar
os lotes remanescentes, causando prejuízo aos futuros
adquirentes, além do perigo de dano e de difícil reparação
àqueles já comercializados e que estão na iminência de
edificação sobre lotes não regularizados, até mesmo sobre
área verde ou institucionais”.

Além disso, as irregularidades perpetradas pela cooperativa no que


se refere ao loteamento do solo urbano também foram objeto de exame
no agravo de instrumento nº 70021795216, in verbis: “Com efeito, tal
como referi na decisão que recebeu o presente recurso e indeferiu o
efeito suspensivo, a intervenção deferida pelo magistrado veio calcada
em farta prova documental dando conta de que a agravante estaria
promovendo o parcelamento do solo e comercializando lotes que
estariam situados em área verde. (...) Diante deste quadro, tenho
como prudente a decisão a quo pela intervenção da agravante, não
havendo falar em ofensa ao art. 5º, XVII, da CF-88, em razão da
supremacia do direito da coletividade que estava sendo ofendido
pela má atuação da agravada em relação aos seus cooperativados.
A prova coletada nos inquéritos civis que instruíram a inicial autorizou o
deferimento da antecipação de tutela nos autos da ação civil pública”.
Acrescento que a prova pericial demonstra, como bem asseverou
o Ministério Público (fl. 2063) “que a contabilidade é falha e lacunosa
havendo, inclusive, uma conta bancária na Caixa Econômica Federal, nº
3493-2, cuja existência era desconhecida pela própria contadora da
cooperativa. Também não foram contabilizados vários saques e
depósitos, lançamentos que deveriam ser fielmente descritos nos
respectivos livros”.
Oportuno transcrever trechos do laudo pericial, que demonstra
irregularidades na contabilidade da Cooperativa ré:
“6. De posse do Dossiê Integrado, da Secretaria da
Receita Federal, queira o Sr. Perito, informar o quantum foi
movimentado por trimestre, em contas bancárias de titularidade
da COOHAP, e se há inconsistências entre o Dossiê e o
lançado na contabilidade.
Resposta: Não foi localizado nos autos Dossiê Integrado
da Secretaria da Receita Federal demonstrando o quantum
movimentado por trimestre, mas a análise da contabilidade e
os extratos bancários da Caixa Econômica Federal,
indicam a existência de várias inconsistências relatadas no
item 2 do presente laudo contábil.
(...)
8. As contas e documentos contábeis da Cooperativa
apresentam-se regulares quanto ao aspecto formal? Apontar a
existência de algum vício.
Resposta: Não. Considerando que livros contábeis que
compreendem o período escriturado de 2002 até 31.12.2006,
não foram devidamente autenticados na Junta Comercial do
Estado do Rio Grande do Sul, e que há omissão de registros
contábeis conforme relatados no item 2 do presente laudo,
entende o perito que não se apresentam regulares.(...)
1. Informe o expert se a COOHAP possui escrituração
contábil regular. (...).
Resposta: No entendimento do Perito, smj, a
contabilidade da Cooperativa não está regular, os seus
livros contábeis não estão devidamente autenticados na
Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Sul.
Outrossim, smj, a mesma é lacunosa e omissa em seus
registros, por não reconhecer débitos pelo regime de
competência (IPTU – Prefeitura de São Leopoldo), e ativos e
passivos decorrentes de contrato de aquisição da área de
terras (COOHAP), além de efetuar lançamentos de ajustes
indevidos, omitir lançamentos de saques e cobranças da
conta corrente bancária 3493-2 mantida junto a Caixa
Econômica Federal, omitir o lançamento de créditos e
débitos na conta corrente bancária nº 3001-5, tudo conforme
relatado no item 2 do presente laudo.(...)

4. - Considerações Finais
O exame dos documentos e da contabilidade da
Cooperativa indica, smj, a existência de movimentação
financeira paralela, como por exemplo a utilização de duas
contas correntes bancárias ativas junto a Caixa Econômica
Federal - NH e a contabilização da movimentação financeira
parcial somente de uma delas conforme relatado no item 2 do
presente laudo. Outro indicativo de movimentação financeira
paralela é o pagamento da comissão de corretagem de fls.
1524, sem registro na contabilidade, além de lançamentos de
ajustes contábeis na conta da 'Caixa Econômica Federal'
efetuados de forma indevida”.
Assim, considerando que os lotes eram vendidos pelo valor de
R$ 4.800,00 e que o valor líquido arrecadado pela ré é de R$
2.027.646,99, conforme esclareceu o perito (fl. 1828), por certo os
valores arrecadados com a comercialização dos lotes não eram
aplicados na execução de infra-estrutura básica e regularização do
loteamento.
Deste modo, restou comprovado o parcelamento de solo
urbano de maneira irregular, sem a aprovação do projeto de loteamento
pelo Município e infringindo as normas civis e urbanísticas que regulam
a ordenação do solo urbano, de sorte que possível o ressarcimento dos
consumidores lesados, inclusive as perdas e danos que devem ser
objeto de liquidação de sentença.

Nestes termos, demonstrada a implantação de loteamento sem


aprovação dos órgãos públicos, a comercialização de lotes de terra sem
registro no álbum imobiliário, os danos ambientais e, também, diante
das irregularidades da contabilidade da cooperativa ré, deve a ação ser
julgada procedente, confirmando-se a liminar em concedida, inclusive no
tocante à multa diária (CPC, arts. 461, §§ 4º e 5º, e 461-A) e mantendo
a intervenção.

Assim, a procedência dos pedidos é a medida que se impõe.


III - DISPOSITIVO

Isso posto, com fulcro nas razões expendidas, JULGO


PROCEDENTES os pedidos formulados pelo Ministério Público em face
da Cooperativa Habitacional COOHAP Ltda., CONFIRMANDO A
LIMINAR CONCEDIDA, para determinar manutenção da intervenção até
a conclusão do loteamento e condenar a ré, sob pena de multa diária no
valor equivalente a dez salários mínimos, a:
1) se abster de realizar vendas, promessas de venda, reservas ou
quaisquer negócios que manifestem intenção de vender lotes do
loteamento mencionado na exordial bem como de fazer a respectiva
publicidade, até que o mesmo seja regularizado completamente;
2) substituir os lotes irregulares negociados por outros imóveis,
regulares e em perfeitas condições de uso urbano no prazo de 60 dias a
contar do trânsito em julgado ou restituir as quantias pagas, com
atualização monetária a partir da citação;
3) indenizar as perdas e danos sofridos pelos consumidores, o que
deve ser objeto de liquidação;
4) promover a desocupação e recuperação das áreas verdes no
prazo de 60 dias a contar do trânsito em julgado. A multa fixada, se
paga, será revertida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente do Município
de São Leopoldo.
Condeno a ré ao pagamento das custas processuais.
Por ser o Ministério Público o autor vencedor da ação civil pública,
deixo de arbitrar verba honorária, nos termos do art. 128, § 5º, II, a, da
Constituição Federal. Nessa senda, cito os seguintes julgados:

“APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO.


CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL.
NÃO-CONHECIMENTO DO REEXAME. NOVA REDAÇÃO DO
ART. 475, DO CPC. LEI N.º 10.352-01. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
MINISTÉRIO PÚBLICO. SAÚDE PÚBLICA. MEDICAMENTOS.
PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. PAGAMENTO DE
SUCUMBÊNCIA. IMPOSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 128, § 5º, II, A, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
PROVIMENTO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
APELAÇÃO PROVIDA. REEXAME NECESSÁRIO NÃO
CONHECIDO”. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70007354384,
QUARTA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS,
RELATOR: WELLINGTON PACHECO BARROS, JULGADO
EM 12/11/2003) grifei

“APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 1. GRATIFICAÇÃO


NATALINA. PREFEITO, VICE-PREFEITO E VEREADORES.
DECRETO LEGISLATIVO QUE A INSTITUIU.
INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA
ANTERIORIDADE, MORALIDADE, IMPESSOALIDADE E
RAZOABILIDADE. 2. AÇÃO PROPOSTA PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO E JULGADA PROCEDENTE. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. CONDENAÇÃO. DESCABIMENTO EM
SEDE DE AÇÃO CIVIL PUBLICA. VEDAÇÃO
CONSTITUCIONAL DE PERCEPÇÃO DE CUSTAS E
HONORÁRIOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.
INTELIGÊNCIA DO ART-128, II, "A" DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. APELAÇÃO PROVIDA. SENTENÇA
CONFIRMADA, QUANTO AO RESTANTE EM REEXAME
NECESSÁRIO”. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 599258902,
PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS,
RELATOR: FABIANNE BRETON BAISCH, JULGADO EM
18/12/2000) grifei

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Tendo em vista que a condenação não se deu em quantia certa e


o valor da causa é inferior a sessenta salários mínimos, valor mínimo
estipulado para sujeitar a sentença ao duplo grau de jurisdição, forte no
§ 2º do artigo 475 do Código de Processo Civil, não é caso de reexame
necessário

São Leopoldo, 29 de setembro de 2010.


Aline Santos Guaranha,
Juíza de Direito

“APELAÇÃO. REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO


AMBIENTE. SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO. Reexame
necessário, se o valor for inferior ao estabelecido no art. 475, § 2°, do
CPC, não deve ser conhecido. Da prova colhida, restou demonstrada a
urgência do tratamento da água e recuperação da área verde, por onde
passa o córrego, tanto para preservar o ambiente, quanto para proteger
a população contra doenças, a fim de fazer valer o direito fundamental
do cidadão ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Negaram
provimento ao apelo e não conheceram do reexame necessário.
Unânime”. (Apelação e Reexame Necessário Nº 70023858897, Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alexandre Mussoi
Moreira, Julgado em 25/03/2009)

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