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22/04/2019 A Respiração

A Respiração

Cláudio Azevedo Publicado em 03 Dezembro 2008 Acessos: 13414

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“Tais pessoas [que desejam a longevidade] passam o tempo inspirando e expirando, expelindo o ar velho e absorvendo o novo” 27:26.
Chuang Tsé (século IV a.C.)

“Chama-se iogue aquele cujo movimento respiratório cessa, imóvel como uma pedra e que somente conhece o Ser e a Morada supremos” 50:83.
Kularnava Tantra (VI: 4)

“Tudo no céu e na terra respira. A respiração é o fio que une as criaturas entre si. Quando as inúmeras variações da respiração podem ser sentidas, nascem as técnicas

individuais do Aikido” 86:28.


Morihei Ueshiba (1.883-1.969)
Fundador do Aikido

A respiração é o primeiro ato do ser humano ao nascer, o qual se repete incessantemente e automaticamente até o final da vida. O ato de respirar se compõe de
inspiração (entrada do ar) e de expiração (saída). Ponte entre a mente consciente e a inconsciente, a respiração está diretamente relacionada com a nossa energia
emocional, com cada emoção estando ligada a uma forma de respirar a ponto de ser possível mudar nossas emoções pela mudança do padrão respiratório. Ademais, o
respirar é de importância fundamental também na manutenção físico-energética do nosso corpo físico.
Além dos muitos gases presentes no ar (nitrogênio – 78%, oxigênio – 21%, ozônio, dióxido de carbono, dióxido de enxofre, hidrogênio, argônio, neônio, hélio, metano,
criptônio, xenônio e vapor d’água), muitos outros elementos químicos são inspirados junto com eles. O ferro, o cobre, o zinco, a fluorita (mineral composto de fluoreto de
cálcio e fluoreto de ítrio), o quartzo (mineral composto de dióxido de silício, podendo conter lítio, sódio, potássio e titânio), a zincita (mineral de óxido de zinco) e o magnésio

são exemplos 27:66.


Vimos no Capítulo II que o ar que respiramos também é rico em energia sutil, a qual a filosofia vedanta chama de Prana Vayu. Durante cada inspiração, sob a influência
dessa energia vital presente no ar, os dois canais laterais Ida e Pingala, que nascem nas narinas, inflam e conduzem essa energia para baixo, até Sushumna onde, depois de
breve momento de retenção, sua essência a percorre superiormente, e as negatividades são “expelidas” junto com a exalação através, também, daqueles canais laterais
21:100. Além de energizar nossos corpos, a respiração serve de agente de limpeza para que a energia vital da Kundalini penetre o Nadi principal de Sushumna.

Seguindo o projeto de purificação dos corpos físico e energético sutil, além da alimentação correta e livre de poluições, a respiração correta, e também livre de poluições,
tem um papel fundamental. Além da qualidade do ar inspirado, a qualidade da respiração é importante. Fundamentalmente, existem dois tipos de respiração: a abdominal
(que move apenas o abdome) e a torácica (que move apenas o tórax).
Exercícios respiratórios, que abaixem o diafragma (músculo envolvido na respiração) apenas 1cm, aumentam em 250 a 300cm3 a capacidade pulmonar. A filosofia taoísta
usa exercícios respiratórios específicos para prevenir doenças, prolongar a juventude, alcançar a longevidade e a imortalidade do corpo, sua mais elevada meta. Esses
exercícios incluem técnicas de respiração pela boca, pelo nariz e a respiração fetal, explicada adiante. Paramahansa Yogananda divulgou no ocidente a Kriya-yoga, uma
antiga técnica que acelera a evolução humana e que faz converter a respiração em substância mental.

“Você deve transformar a sua respiração em substância mental” 101:264.


Paramahansa Yogananda (1.893-1.952)

A relação entre a freqüência respiratória, o estado de consciência vivenciado e a longevidade, já está bem estabelecida. A plena atenção depende de uma freqüência
respiratória diminuída, estando os estados emocionais alterados (como medo, raiva, ansiedade e excitação) relacionados com uma respiração rápida e irregular. Cessar a
respiração espontaneamente e conscientemente (nos estados ampliados de consciência, sem a inconsciência do sono ou da morte), diminui os impulsos nervosos motores

aos músculos (inclusive o cardíaco) e o fluxo de pensamentos e emoções 101:268.


Uma das grandes descobertas práticas da filosofia hindu veio da observação de que se a mente inquieta enrijece o corpo e superficializa e acelera a respiração, o
alongamento muscular e a respiração profunda e ritmada são capazes de acalmar a mente. A prática da respiração profunda, embora automática nas crianças, é
paulatinamente perdida à medida que vamos bloqueando nossas emoções. Prender a respiração é o método mais eficaz de conter nossos sentimentos e emoções:

“Os pulmões estão relacionados com a liberdade... A respiração curta da nossa cultura está relacionada com os nossos
sentimentos de estarmos aprisionados num mundo que não podemos controlar e no qual nos sentimos inseguros e
insatisfeitos” 10:212.
Barbara Ann Brennan
Embora seja de valor qualquer exercício respiratório, aqueles que incluem a mentalização da circulação de energia pelo organismo, são de maior valor na limpeza de
nossos canais energéticos. Conhecidos pelos hindus como pranayamas, essas são técnicas que visam obter um maior controle da mente: “use sua mente para levar a

energia vital ao longo do seu Tu Mo constantemente para cima. Isso pode manter seu corpo saudável e sua vida longa” 27:26 (Chuang Tsé – IV C.).
Na respiração está a essência de inúmeras disciplinas marciais e espirituais. Respiração, mente e força vital (Prana, Ch’i ou Ki) são inseparáveis e quando se estuda um
deles se compreende os outros. “O elo entre corpo e mente, espírito e postura, atitude e técnica é a respiração. No fim, postura e respiração tornam-se uma mesma coisa”
39:114.

Respirar mentalizando o percurso do ar, na forma de energia vital sutil, ao longo dos canais sutis (Nadis) do corpo etérico (Cf. no capítulo anterior) é a forma de fazer
circular o Prana e levá-lo a cada célula do corpo, vitalizando-o. No princípio não se sente a circulação da energia, devendo-se confiar na imaginação consciente, para
visualizar o fluxo em coordenação com a respiração. Mas após um longo período de prática, um fluxo de calor, ou ardor, se faz sentir percorrendo o trajeto imaginado. Esse
calor pode tomar todo o abdome e subir pela coluna vertebral, a partir de sua base, até o topo da cabeça, até que, num estágio mais avançado, todo o abdome se torna muito
quente podendo surgir uma vibração local, um tremor por todo o corpo e movimentos involuntários nos membros, que são também manifestações físicas desse fluir
energético. Nesses casos, a expiração pela boca ajuda a dispersar o calor gerado pelo exercício.

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Mas o primeiro passo é o controle consciente da respiração, quase toda ela inconsciente e independente de nossa vontade consciente. Em momentos críticos de tensão
ou paramos de respirar ou a superficializamos de tal forma que ela se torna curta e rápida. Em nossos momentos de ansiedade nos surpreendemos procurando respirar
profundamente, na forma conhecida popularmente como suspirar. Respiramos inconscientemente, mais contraindo a musculatura torácica (respiração torácica) do que o
diafragma (respiração abdominal), e alternamos, também inconscientemente, esse padrão naqueles momentos que nos solicitam força, resistência e vigor. Enquanto a
respiração torácica estimula o sistema nervoso simpático, causando agitação, a respiração diafragmática estimula o sistema nervoso parassimpático, trazendo consigo
relaxamento, numa modulação feita pelo Centro Respiratório da Formação Reticular (Cf. no Capítulo II).

“Enquanto a respiração for irregular, a mente permanecerá instável; quando a respiração se acalmar, a mente
permanecerá imóvel e o iogue conseguirá a estabilidade”.
Hatha Yoga Pradipka (II: 2)
Se tivéssemos conhecimento da importância da respiração no controle das emoções e dos pensamentos, consideraríamos imprescindível a tomada de consciência de
nossos padrões respiratórios para depois se conseguir o seu controle consciente. A tomada de consciência se faz através da observação consciente da entrada do ar pelas
narinas, sua passagem pela faringe, laringe, traquéia e brônquios, até chegar ao pulmão, e seu caminho oposto na expiração. Essa observação é feita a partir de exercícios
que controlam conscientemente cada tempo respiratório: o inspirar, a pausa inspiratória, o expirar e a pausa expiratória. Outros exercícios controlam o movimento de ar pelas
narinas fazendo-o passar por elas alternadamente, ou entre elas e a boca. Tomar consciência de nossos padrões respiratórios e dos fatores que os provocam é uma
ampliação da abrangência de nossa consciência que nos auxilia no processo de autoconhecimento (Cf. no Capítulo I).

“A respiração do homem verdadeiro é profunda e silenciosa. A respiração do homem verdadeiro vem de seus calcanhares,
enquanto os homens geralmente respiram apenas pela garganta” 27:25.
Chuang Tsé (IV a.C.)

A filosofia hindu e a chinesa ensinam que a verdadeira função dos exercícios respiratórios é purificar os corpos sutis fazendo circular sua energia vital (Prana ou Ch’i). As
técnicas respiratórias de kokyu-ho, praticadas no Aikido, são dirigidas para a limpeza dos órgãos internos: inalações profundas enchem o corpo com energia vital e

expirações profundas eliminam toxinas físicas e psíquicas 86:62. Quando se respira profundamente, aumenta-se a produção de endorfinas, hormônios mediadores da
estimulação da imunidade, do estado de bem-estar e da diminuição da dor.
Um exercício fundamental é chamado de respiração profunda (ou pranayama vitalidade), que visa vitalizar ou restabelecer a saúde de todo o organismo: deve-se assumir
uma posição sentada, ou de pé, com a espinha ereta, a cabeça levantada, as mãos nos joelhos, ou ao longo do corpo, e os olhos fechados. Então se concentra na região
faríngea (entre a boca e o nariz) e se visualiza essa área como uma bomba de sucção, fazendo o ar entrar (inspiração ou puraka) vagarosamente pelas narinas, que devem
ficar imóveis, e chegar à faringe, procurando tornar a respiração audível nesse local. Ao mesmo tempo observar que a região abdominal e as costelas inferiores se expandem
em primeiro lugar, seguidas das costelas intermediárias e, só então, as superiores, procurando manter o peito e os ombros imóveis. Nessa hora se pára o movimento
respiratório durante uns dois segundos (kumbhaka) e se começa a soltar o ar (rechaka), também vagarosamente, na seqüência inversa, até todo o ar ser expelido (termina
com uma leve contração abdominal), quando se mantém, por uns dois segundos, os pulmões sem ar (bahya kumbhaka ou shunyaka).
Na respiração profunda, toda a inspiração deve durar o mesmo tempo que toda a expiração: aproximadamente quatro segundos, ou quatro batimentos cardíacos. Esse
exercício ritmado pode ser feito, inclusive, durante uma caminhada matinal. Nesse caso, a inspiração deve acompanhar o ritmo dos passos: quatro passos inspirando
concentradamente, dois passos em apnéia (sem movimento respiratório) e mais quatro passos expirando seguidos de dois passos em apnéia. Deve-se praticá-lo diariamente,
cedo da manhã ou ao final da tarde, com no mínimo 21 repetições. Com o tempo, deve-se aumentar, sem forçar, a duração de todos os tempos respiratórios.
Uma prática tradicional taoísta é conhecida como “Os Seis Sons para o Benefício dos Órgãos Internos”. Recomendado antes de cada exercício meditativo, consiste em se
inspirar por ambas narinas e se expirar vigorosamente pela boca, seis vezes, emitindo alguns sons específicos: HA (benéfico ao coração), HU (benéfico ao baço), SH (age na
região do plexo solar), SS (benéfico aos pulmões), SHU (benéfico ao fígado) e FU (benéfico aos rins). A expiração vigorosa, normalmente acompanhada de algum intenso
som (um grito), ocorre automaticamente sempre que, nas artes marciais, há uma grande explosão de energia.
Os hindus ensinam inúmeros exercícios de pranayama, associados ou não com posturas (ásanas). A postura imprescindível a qualquer exercício respiratório é a
manutenção da coluna vertebral ereta. Quanto melhor a postura, maior o benefício dos exercícios. Toda o Hatha-yoga compõe-se de exercícios posturais combinados com
exercícios respiratórios. Descrevo, a seguir, alguns pranayamas sem ásanas (posturas):

NADISHODHANA PRANAYAMA:
Esse exercício limpa os Nadis, Ida e Pingala (Cf. no Capítulo II), harmonizando as estruturas físicas e sutis de nosso corpo através do equilíbrio das correntes de Prana.
Em pé, ou sentado, com a espinha ereta, braços relaxados ao longo do corpo, ou repousados por sobre os joelhos, pernas semi-abertas, o praticante inicia apenas
observando a respiração, com o ar entrando e saindo por ambas as narinas, deixando o tórax e os ombros imóveis como na respiração profunda. Então, depois de algum
tempo de observação, posiciona-se a mão direita de forma que o dedo indicador toque o ponto entra as sobrancelhas (sexto Chakra – Cf. no capítulo anterior) e o anular
toque a ponta do nariz. Assim posicionado, inspira-se com vagar pela narina esquerda, após fechar a narina direita com o polegar, fecha-se a narina esquerda com o dedo
mínimo e expira-se pela direita. Então se inspira pela direita, fecha-se a mesma com o polegar e expira-se pela narina esquerda.
Segue-se alternadamente de 8 a 30 vezes, de forma silenciosa e agradável, utilizando um ritmo “inspiração:pausa:expiração:pausa” na proporção 1:1:1:0, podendo ser
executado a qualquer hora do dia. Com a prática diária, pode-se passar para 1:2:2:0 ou 1:4:2:0.
Uma variante da mesma técnica, conhecida como anuloma pranayama, assume a mesma posição e inicia a inspiração, concentradamente, com ambas as narinas e
expira-se, sem pausa respiratória além da normalmente existente, lentamente pela narina esquerda, após a obliteração da narina direita com o polegar. Volta-se a inspirar por
ambas as narinas e expira-se pela narina direita, após a obliteração da narina esquerda com o dedo mínimo. Uma terceira variante faz a inspiração alternada nas narinas e a
exalação simultânea por ambas, conhecida como pratiloma pranayama.

SIMHASANA PRANAYAMA
Nesse exercício as amígdalas têm sua irrigação sangüínea aumentada e a faringe e a laringe suas musculaturas tonificadas. De pé ou sentado sobre os tornozelos, se
colocam as mãos ao longo do corpo, ou acima dos joelhos com a palma voltada para baixo, e se inicia uma respiração profunda com ambas as narinas. Sem pausa
respiratória além da normalmente existente, põe-se a língua totalmente para fora, abre-se bem a boca, contraindo toda a musculatura do corpo principalmente as da face e do
pescoço, e expira-se pela boca, sentindo a passagem de ar pela faringe. Geralmente o fato de se colocar a língua demasiadamente para fora da boca, junto com o fato do
expirar se fazer pela boca, traz uma sensação de náuseas, que pode progredir para um vômito esbranquiçado de toxinas sutis materializadas (vômica).

UJJAYI PRANAYAMA
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22/04/2019 A Respiração
Nesse exercício se estimula principalmente o Chakra laríngeo e suas glândulas associadas (tireóide e paratireóides) e se acalma a mente e o sistema nervoso central.
Nele se assume a mesma posição e técnica da respiração profunda, já descrita, com a diferença de que se inicia a respiração fechando parcialmente a glote de forma que se
produz um som na garganta tanto na inspiração quanto na expiração.

VILOMA PRANAYAMA
É um exercício em que a inspiração se faz em etapas intercaladas por pausas inspiratórias. Inicia-se a respiração por uma expiração completa seguida por uma
inspiração abdominal baixa (região hipogástrica). Após uma pausa, continua-se a inspiração com a parte média do abdome (região epigástrica) seguida de uma nova pausa.
Continua-se inspirando com a região torácica inferior, seguida de uma nova pausa, até concluir-se a inspiração com a parte superior do tórax. Então se expira suavemente
como em ujjayi pranayama. Esse exercício é útil para pessoas com hipotensão arterial. Uma outra variante utiliza as pausas durante a expiração, iniciando-se por uma
expiração torácica alta e terminando-se por uma expiração abdominal baixa. Esse último é útil para hipertensos.

BHASTRIKA PRANAYAMA
Esse exercício tem uma função purificadora física, pois limpa os condutos respiratórios. Inicia-se respirando normalmente, sem manipulação, e depois de algum tempo
vai-se aumentando a freqüência respiratória, inspirando e expirando cada vez mais rapidamente, usando-se apenas o abdome e mantendo-se o tórax e os ombros imóveis.

A tradição japonesa ensina um exercício respiratório semelhante ao Bhastrika Pranayama, que purifica os nossos corpos, o físico e os sutis, e pode até materializar
impurezas na forma de secreções lacrimais, nasais e vômicas (secreções esbranquiçadas e espessas eliminadas pela boca, à semelhança dos vômitos). Esse exercício
consiste em, rapidamente e incessantemente, inspirar e expirar pelo nariz durante certo tempo e mudar, sucessivamente, para inspirar pelo nariz e expirar pela boca, inspirar
pela boca e expirar pelo nariz e inspirar e expirar pela boca.

A tradição taoísta 27:125 também ensina um exercício semelhante, mas similar à respiração ofegante dos cachorros, com a boca aberta e a língua exageradamente para
fora. Esse exercício deve ser feito diariamente, de preferência pela manhã após os exercícios físicos matinais, antes do nascer do sol, inicialmente durante quatro a seis
minutos. Induz a alterações físicas (alcalose respiratória) e sutis (elimina impurezas sutis) e prepara, extraordinariamente, a mente à prática meditativa. O tempo de
meditação, após esse exercício, deve ser cinco vezes o tempo do exercício, para acalmar e revigorar o organismo.
Outro exercício respiratório taoísta, presente também no mundo hindu, visa expelir todo o ar “velho”, presente nos pulmões. Para isso, de pé, após uma inspiração normal,
inclina-se para frente enquanto se expira todo o ar dos pulmões. Pode-se colocar as mãos sobre o abdome, pressionando-o, ou sobre os joelhos, contraindo vigorosamente a
musculatura abdominal, principalmente na região superior do abdome. Deve-se manter essa posição até não sair mais nenhum ar. Então se inspira profundamente, enchendo
todo o abdome (ação diafragmática) e em seguida todo o tórax (ação da musculatura intercostal e cervical) para em seguida se repetir a expiração forçada. Deve-se fazer
isso no mínimo por três vezes, pela manhã.

A tradição taoísta define dois tipos de respiração: a pré-natal e a pós-natal 27:67. Enquanto essa é a respiração pulmonar que conhecemos, aquela não utiliza os
pulmões, pois antes de nascer o embrião recebe o oxigênio pelo seu abdome, através do cordão umbilical. E é oculta no abdome que a respiração pré-natal permanece, na
maioria dos casos, por toda a vida. Para o taoísmo, a respiração abdominal é a chave para unir as duas respirações, pois a respiração pré-natal humana é um fluxo de Ch’i,
que vem do Tan-t’ien (ponto 3,5 cm abaixo do umbigo) em direção ao umbigo, em todas as inspirações. Assim quando inspiramos e levamos Ch’i do ar ao umbigo ele se
mistura com o Ch’i proveniente do Tan-t’ien. A morte natural é ocasionada pela extinção do Ch’i pessoal (a Kundalini dos hindus) e cessação da respiração pré-natal.
Quando se atinge um elevado estado de espiritualização, um estado conhecido como respiração fetal ocorre. Nele se é capaz de respirar sem movimentos respiratórios.

Transcende-se o pensamento consciente e atinge-se um estado conhecido pelos taoístas como Grande Imobilidade (o Samadhi hindu) 27:68. Vejamos alguns tipos de
respiração da prática taoísta:

RESPIRAÇÃO INTERNA 27:96


Praticada em pé, com os joelhos levemente flexionados, ou sentado, consiste em inspirar lentamente com o diafragma, enquanto se elevam os braços anteriormente (até
a altura dos ombros), se retificam os joelhos e se mentaliza o Ch’i subindo do Tan-t’ien ao plexo solar (a sede do Fogo ou Li). Sem pausa inspiratória se prossegue expirando,
enquanto se flexionam novamente os joelhos, se abaixam os braços e se concentra mentalmente na descida do Ch’i do plexo solar a um ponto 7,5 cm abaixo do umbigo, o
K’an ou Ch’i-hai (“Mar de respiração”), que corresponde ao segundo Chakra dos hindus.
Como forma de purificação, esse exercício deve ser repetido inúmeras vezes para refinar o Ch’i e prepará-lo para a próxima etapa de purificação, onde o Ch’i, pela
concentração mental, parte do Tan-t’ien, circula pelos oito canais sutis (Cf. no capítulo anterior) e pelos 12 centros energéticos (os Chakras principais da filosofia hindu), e
retorna ao Tan-t’ien. Àquele primeiro passo a filosofia taoísta dá o nome de Circulação Celeste Menor e a esse último o nome de Circulação Celeste Maior.

RESPIRAÇÃO TAN-T’IEN UMBIGO 27:71


É uma variação da técnica anterior que pode ser praticada em pé, sentado, caminhando ou deitado, em qualquer local e quantas vezes se desejar. Inspira-se lentamente
pelas narinas, usando a mente para levar o ar ao umbigo e o Ch’i do Tan-t’ien também ao umbigo. Prossegue-se mentalizando a descida do Ch’i de volta ao Tan-t’ien e
retendo-o nesse ponto por um minuto ou mais, durante a pausa inspiratória. Expira-se lentamente pelas narinas, relaxando todo o corpo. Então se inspira, novamente pelas
narinas, levando com a mente o Ch’i do Tan-t’ien para baixo, até o períneo e daí ascendendo pela coluna vertebral (pelo canal Tu Mo) até o topo da cabeça, de onde desce
até a boca. Se houver salivação (materialização de Ch’i que o taoísmo chama de “Vinho da Longevidade” – I Ching X) deve-se engoli-la, fazendo-a retornar ao abdome (ao
Tan-t’ien). Então se expira pelas narinas lentamente, e reinicia-se um novo ciclo. Após alguns minutos se sente o corpo quente e relaxado.

RESPIRAÇÃO CÉREBRO-RINS 27:72


É outra variante que inverte o sentido do fluxo de Ch’i. Ao inspirar-se, se mentaliza a subida do Ch’i, pelo canal Jen Mo, na linha média anterior, até chegar ao topo da
cabeça. Em seguida se expira, levando o fluxo, pelo Tu Mo, até a região lombar, quando então se inspira novamente, trazendo de volta o Ch’i ao topo da cabeça e daí ao
nariz, por onde se solta o ar.

RESPIRAÇÃO PARA PRODUZIR ENERGIA SEXUAL 27:173


Sentado na borda de uma cadeira, à altura do joelho, com os pés bem plantados no chão deve-se inspirar profundamente pelas narinas, levando o ar à região púbica.
Então se inclina para frente, com a espinha ereta, enquanto se expira lentamente pelas narinas, mentalizando-se a energia indo ao períneo. Pós uma breve pausa, volta-se à
posição inicial enquanto se inspira lentamente pelas narinas. Deve-se fazer esse exercício até 12 vezes e se inverte a ordem inspiração/expiração (se inclina inspirando e
volta expirando). Com a prática, pode-se aumentar para 18 ou 24 repetições. No momento da expiração, a contração da musculatura perineal ajuda a produção de energia
sexual. Esse exercício traz uma sensação de calor no períneo.

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22/04/2019 A Respiração

Além do efeito no Sistema Nervoso Autônomo, estimulando o parassimpático, e do efeito conseqüente no sistema endócrino, quando se respira conscientemente usando
o diafragma, como músculo principal da respiração, se está exercitando a presença da consciência no momento presente. Não deixa de ser um exercício meditativo que
exercita a atenção num único ponto: o inspirar e o expirar (Cf. adiante em MEDITAÇÃO/CONTEMPLAÇÃO), mas os exercícios respiratórios são mais do que um exercício
para a mente, suas alterações benéficas na saúde (física, emocional, mental e espiritual) se fazem perceber, com o passar do tempo, de forma evidente.
Respiração, relaxamento muscular e meditação estão invariavelmente unidos, mas quando se lança mão dos pranayamas, a mentalização do trajeto do ar (Prana) através
dos canais sutis dos corpos do homem, um salto de qualidade é obtido. Embora todos esses exercícios respiratórios sejam importantes na limpeza geral do corpo físico e dos
corpos sutis do ser humano, a meta é alcançar a Bem-aventurança da ausência de respiração:

“O estado consciente do homem associa-se à percepção do corpo e da respiração. O estado subconsciente, ativo durante o
sono, é associado à separação mental temporária do corpo e da respiração. O estado superconsciente é a liberdade da ilusão de
que a ‘existência’ depende do corpo e da respiração” 101:528.
Paramahansa Yogananda (1.893-1.952)
Categoria: Órion Volume 2

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