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Durante séculos, uma boa parte do Oriente Médio foi parte do Império Otomano (1299-1922),
que permitia, com uma certa facilidade, o fluxo de pessoas e de ideias, e, consequentemente,
uma grande mistura. Porém, tal mistura não acabou com o sentimento identitário desses povos.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os países criados na região não eram homogêneos, mas
tinham diversas camadas identitárias sobrepostas.
➢ RELIGIÃO
❖ Muçulmanos:
*Maior parte dos grupos radicais são sunitas (Al Qaeda e Estado Islâmico).
→ Xiitas:
- Sucessão do profeta Mohammed deveria ser pelo sangue (netos de Mohammed).
- Genro do profeta, Ali, foi assassinado e sentem-se traídos.
- Linhagem do profeta voltará, refazendo o reino de Mohammed.
- Maior parte no Irã e Iraque.
❖ Judeus:
- Minoria em quase todos os países da região e maioria em Israel.
❖ Cristãos:
- Maronitas, ortodoxos, etc.
➢ ETNIAS
❖ Árabes;
❖ Persas (Irã);
❖ Turcos;
❖ Judeus;
❖ Curdos (mais ligados a uma região, com menor unidade étnica); e
❖ Bérberes (Norte da África).
➢ ESTADOS DO ORIENTE MÉDIO:
Apesar das diversas divisões e subdivisões do que seria o Oriente Médio, usaremos o primeiro
mapa, pois representa o núcleo da região. Porém, nessa divisão, não está incluído o Egito, que
para fins de compreensão das diferentes interações políticas na região, deve ser considerado.
Porém, o “sonho dourado” dos judeus era ir para a terra prometida, onde ficava o antigo Reino
de Israel. Lord Balfour diz então que, desde que essa mudança não incomodasse os locais
palestinos, a Inglaterra concordaria. Nessa época, a Inglaterra queria agradar os judeus porque
eles teriam muita influência nos EUA e pressionariam os americanos a entrarem na guerra.
Também pensavam que os judeus fossem muito influentes na União Soviética.
Árabes e judeus começam a cobrar as promessas feitas décadas antes e mandatos passam a ter
prazos para acabar. O mandato britânico na Palestina, por exemplo, teria que durar apenas até
15 de maio de 1948. A proposta de Estado para a região seguia o modelo europeu, com divisão
territorial e sistema presidencialista.
O problema é que havia uma sobreposição das promessas feitas pelo Reino Unido tanto para
árabes como para judeus. O Reino Unido tinha a consciência de que, se tivesse prometido a
região sagrada de Jerusalém para judeus e palestinos, não conseguiria o apoio de nenhum dos
dois. A promessa teria sido propositalmente ambígua.
O mandato francês englobava a Síria e o Líbano (este último seria um lar nacional cristão na
região) e a delimitação do Estado libanês ficou definida como uma linha que vai das cidades
sírias de Hama, Homs e Damasco. O Estado árabe começaria na região dessas cidades e se
estenderia em direção ao Leste.
O problema é que não ficou claro até onde iria essa fronteira entre o Estado cristão (Líbano) e o
Estado árabe (Síria). Não havia um consenso em relação ao que seria o fim dessa linha, em sua
parte inferior. Os ingleses disseram aos árabes que seria Damasco, mas a dúvida que fica é se
essa linha continuaria mais ao Sul ou não.
Para os árabes, essa linha ia até Damasco e, chegando até o litoral, estaria definido assim o limite
com o Líbano. Tudo o que estivesse ao Sul seria, portanto, território árabe. Porém, para os
judeus, a linha continuaria ao Sul, ao longo do Rio Jordão, e não incluiria a Palestina como sendo
parte do Estado árabe. A promessa que teria sido feita pelos ingleses aos judeus era de que
teriam seu Estado nacional na Palestina. Não houve consenso na interpretação dessas
promessas britânicas, justamente porque elas foram propositalmente ambíguas.
A partir de 1917, os judeus começam a se mobilizar para ir a essa região, indo em grandes
quantidades para o Império Otomano. Compram terras a preços muito baixos na Palestina
otomana. Naquele momento, cresciam, cada vez mais, as tensões entre judeus e palestinos. Os
judeus tornaram-se muito organizados, com cobrança de impostos organizada e a criação de um
aparato de segurança e forças militares (noção de que judeu deveria ser forte e saber se
defender; o Estado nacional judeu deveria ser forte).
Como o mandato britânico estava programado para acabar em 15 de maio de 1948, a ONU faz,
em 1945, o plano de Partilha da Palestina, com a participação importante do Brasil.
Vale ressaltar o altíssimo nível de sacralidade de Jerusalém para judeus e árabes. Como a cidade
mais sagrada para judeus e terceira mais sagrada para árabes, não era possível que nenhum dos
lados abrisse mão dela. A partir do fim da Segunda Guerra, a disputa por Jerusalém e pela criação
dos dois Estados torna-se mais intensa.
Com o fim do mandato britânico, os judeus declaram oficialmente a criação do Estado de Israel.
Os países árabes ao redor, que não reconheciam a legitimidade da presença judia na região,
exigem que também seja criado o Estado Palestino.
Países árabes vizinhos juntam-se para atacar Israel → Egito, Iraque, Síria, Jordânia e Líbano.
→ AL NAKBA: é o termo em árabe para “tragédia” – 1948 seria um marco trágico do ponto de
vista civilizacional árabe. Em contraposição com os momentos grandiosos da civilização árabe,
de expansão territorial e de avanços nas ciências, a independência do Estado de Israel
representou o fim de uma era.
*Êxodo palestino para os países vizinhos – mais da metade da população jordaniana é palestina.
Após a invasão árabe em 1948, Israel aumenta ainda mais seu território, dividindo a Palestina
em dois territórios agora separados e distantes, que são:
Jerusalém, segundo a Partilha da Palestina, seria considerada como Berlim no pós-guerra: uma
cidade internacional que seria a capital de ambos os países, mas dentro de território árabe. À
medida que Israel foi expandindo seu território, chegou até Jerusalém. A cidade passa a ser
dividida em Jerusalém Ocidental (capital de Israel) e Jerusalém Oriental (capital da Palestina).
A resolução da questão da Palestina somente acontecerá uma vez que o status de Jerusalém
esteja definido.
➢ EGITO:
O Egito articulou, em 1966, uma ofensiva árabe contra Israel para um ataque em 1967.
Definiram como estratégia a invasão a Israel por terra, com ataque a estruturas militares
israelenses pelo ar.
Porém, os países árabes fizeram uma série de paradas militares dias antes, o que teria servido
de alerta para Israel. Também se acredita que Jordânia teria revelado os planos árabes aos
israelenses. No dia do ataque, antes que ele começasse, Israel bombardeia a força aérea egípcia
em solo. A Força Aérea egípcia foi quase totalmente destruída nesse ataque.
Israel aumenta seus territórios, expandido seu domínio para áreas antes dominadas pelos
árabes, inicialmente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza (chamando-os de territórios ocupados).
Posteriormente, Israel ocupa a Península do Sinai, do Egito, e as Colinas de Golã, da Síria.
Egito receberá, em troca, a Península do Sinai. Esse acordo teve consequências catastróficas
para o Egito, que foi considerado pelos demais países árabes como traidor. O Egito foi expulso
da Liga Árabe. Na década de 1980, o presidente árabe – Anwar Sadat – foi assassinado pela
Irmandade Muçulmana, como represália a esse acordo de paz. Depois desse acordo, o Egito
nunca voltou a ser uma liderança no mundo árabe.
➢ GUERRA DO YOM KIPPUR (1973)
Israel passa a acreditar que árabes não representam uma ameaça crível. Porém, árabes não
desistem e, em 1973, promovem a Guerra do Yom Kippur. Foi uma tentativa de pegar
israelenses de surpresa, porque israelenses estariam observando período religioso do Dia do
Perdão, estando indefesos. Os árabes chegaram a entrar nas fronteiras de Israel. Os EUA foram
em socorro aos israelenses. Israel venceu a guerra. Essa foi a última tentativa coordenada de
ataque de árabes contra Israel.
➢ LÍBANO:
Por ser considerado o lar dos cristãos na região, era relativamente protegido pelos países
europeus, sobretudo pela França.
O Líbano era uma nação cristã, mas com população muçulmana considerável. Para evitar
conflitos entre os diferentes grupos, estipulou-se no Pacto Nacional o seguinte:
Com a Guerra do Yom Kippur, há um fluxo enorme de palestinos entrando no Líbano. Essa
imigração palestina não é impedida, pois muçulmanos libaneses queriam aproveitar o aumento
da população muçulmana para aumentar sua participação política no país, por meio de um
pedido de revisão do Pacto Nacional.
Muitos dos palestinos que entram no Líbano já eram muito engajados na guerra contra Israel e
faziam parte da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que começa a utilizar o
território libanês para atacar Israel. A populações xiita e sunita do Líbano também começam a
ter mais força e demandam mais participação.
*Entre 75 e 90, o Líbano era visto como o lugar mais violento do mundo, como hoje é a Síria.
→ 1989 – Acordos de Taif
- Restabelecem o Pacto Nacional.
Ao longo das últimas décadas, tem ocorrido um aumento das tensões entre a Arábia Saudita
(que influencia muito os sunitas) e o Irã (que influencia muito os xiitas). O Irã tem uma voz dentro
do Líbano por meio do Hezbollah, que é a maior força xiita do Líbano e controla a presidência
do Parlamento. Do outro lado, a Arábia Saudita influencia o Primeiro Ministro.
→ 2005: assassinato de Rafik Hariri (Primeiro-Ministro sunita, que também era Saudita).
O Primeiro Ministro, que trabalhava para diminuir a influência xiita do Hezbollah no Líbano,
sofre um atentado a bomba em Beirute. Acredita-se, portanto, que Hariri tenha sido morto pelo
Hezbollah. A Síria, que desde a Guerra Civil tem a presença de tropas dentro do Líbano, vai se
aproximando do Hezbollah.
Ocorre uma polarização dentro do país, com a população cristã e sunita acusando os xiitas de
matarem o Primeiro Ministro e exigindo a saída das tropas sírias do Líbano. Do outro lado, os
xiitas dizem que o atentado foi armado para parecer que havia sido o Hezbollah. A Síria se retira
do Líbano e passa a ficar muito claro que xiitas e sunitas não se toleram.
→ LÍBANO HOJE:
O Primeiro Ministro Saad Hariri, que também tem nacionalidade saudita, afirmou recentemente
estar correndo risco de assassinato pelos xiitas, mesmo que alguns membros de seu gabinete
sejam do Hezbollah. Em viagem à Arábia Saudita, Hariri envia vídeo dizendo estar renunciando
e que estaria incomunicável por alguns dias.
Algumas semanas depois, Hariri regressa ao Líbano e volta atrás, dizendo que ainda era o
Primeiro Ministro. Especula-se que Hariri teria sido pressionado pela Arábia Saudita para
combater o Hezbollah, que representa, no plano regional, o Irã – o grande antagonista dos
sauditas. No fim das contas, o Líbano continua com seu Pacto Nacional (reformado), mas vive
em sua política interna hoje uma “guerra fria” entre o Irã (xiita) e a Arábia Saudita (sunita).
Hezbollah: mais poderoso do que o próprio Exército libanês, pois recebe ajuda militar do Irã.