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7º Encontro da ABCP

4 a 7/08/2010, Recife, PE

Área Temática: Instituições Políticas

- Gabinetes em unidades subnacionais: as experiências do Paraná e Rio


Grande do Sul - 1990 - 2002

MANOEL CAETANO DE ARAÚJO PASSOS


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
2

RESUMO
Para o presidencialismo brasileiro, de coalizão, é fundamental a construção
de sólidas maiorias no Parlamento, pressupondo a separação de poderes e o
pluralismo partidário no Congresso, através da distribuição de cargos e de
recursos orçamentários entre os grandes partidos políticos. Nos
subsistemas estaduais brasileiros, os Governadores possuem menor poder
de agenda e menores recursos orçamentários, mas os mesmos fatores
ocorrem, combinados diversamente, para governabilidade e estabilidade.
Objetivamos comparar os padrões de formação de gabinete no Rio Grande
do Sul e Paraná e compreender como relacionam-se gabinete e Assembléia
Legislativa. A nomeação do gabinete auxilia o governador a implementar
suas decisões? Qual o padrão de formação do secretariado? De que forma a
distribuição judiciosa de secretarias facilita a boa tramitação da agenda
prioritária para o governador?
PALAVRAS CHAVE: GOVERNO DE COALIZÃO; RIO GRANDE DO SUL;
PARANÁ; PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO

2010
3

Governos de coalizão em unidades sub-nacionais: os casos do Paraná e Rio


Grande do Sul –
Uma discussão preliminar
1990 – 2002:

1. introdução
Fabricio Tomio e Paolo Ricci (2008), em recente paper apresentado no
Congresso da Associação Brasileira de Ciência Política – ABCP, em Campinas,
questionam-se sobre a razão de estudo de instituições de nível local. Trata-se de
um tema relevante ou, apenas, um mero exercício de pesquisa sem alguma
pretensão teórica? Tomio & Ricci asseveram que o interesse pelo âmbito sub-
nacional pode ser justificado partindo-se de duas constatações:
Em primeiro lugar o fato de que vários autores têm enfatizado que a
literatura contemporânea tem-se centrado em instituições nacionais – congresso
nacional e poder executivo. Segundo estes autores, um levantamento nos
principais periódicos da área, comprova esta preferência. Assim, em que pese um
claro pluralismo institucional, com a existência de inúmeras diferenças
fundamentais no âmbito subnacional, a preferência é a análise das instituições
centrais. Trata-se de um claro desvio, alertam estes pesquisadores.

Por outro lado, tem surgido nos últimos anos um volume crescente de
análise que buscam entender o funcionamento das instituições subnacionais,
acompanhando as transformações das instituições do federalismo e do
regionalismo, observados em inúmeros países europeus. Desta forma, a
especificidade das instituições subnacionais, tem sido colocadas novamente no
centro do debate. Cabe pensar uma estratégia de análise do caso brasileiro.
4

O tema do presente trabalho é o processo de formação dos Gabinetes1 de


Governo de Estado do Rio Grande do Sul e Paraná, no período de 1990 a 2002, e
seu relacionamento com as bancadas partidárias da Assembléia Legislativa.

Este tema relaciona-se intimamente com a discussão mais ampla sobre o


sistema de governo adotado no Brasil. Tomamos como pressuposto que a
alternativa encontrada pelas elites brasileiras, fruto de trabalho de inventiva
engenharia política, responde às especificidades de nossa sociedade.

O debate que vem sendo desenvolvido sobre o sistema de governo


presidencial, implantado no Brasil com a Proclamação da República, é vasto.
Podemos resumi-lo como a luta entre duas escolas. A primeira considera este
sistema como o responsável pelo contínuo processo de instabilidade institucional
que vive o Brasil. De outro lado, temos os defensores da idéia que este sistema de
governo é o que melhor assimila o caráter heterogêneo da sociedade brasileira e o
que torna possível a governabilidade e a maneira pela qual a sociedade não
mergulhe na heteronomia social.

Linz (1997) expressou a primeira alternativa, defendendo que o


Presidencialismo é o grande responsável pelas dificuldades enfrentadas pela
América Latina para a solidificação da verdadeira democracia. Este sistema teria
dificuldades para a superação de crises institucionais e para tratar de um processo
político-institucional altamente complexo e dinâmico. O presidencialismo, deste
ponto de vista, é o grande responsável pelas crises institucionais que o Brasil tem
enfrentado.

Hegemonicamente a literatura, fundamentalmente norte americana, tem


uma visão negativa quanto à eficácia do modelo institucional brasileiro. O
problema da ingovernabilidade, no Brasil, seria um problema insolúvel. Regime
presidencialista, federalismo, sistema partidário fragmentado e sistema

1
O conceito adotado neste trabalho de Gabinetes é o mesmo assumido por Amorin Neto (1994), qual seja, o
conjunto de ministros, no nosso caso secretários, ou conjunto de assessores nomeados pelo Governador que
possuem status de Secretário de Estado. O autor ressalta que tal definição não implica necessariamente
responsabilidade do gabinete perante o parlamento ou a existência de um governo colegiado.
5

proporcional colaborariam de maneira decisiva para a manutenção do fantasma da


ingovernabilidade no país.

Renato Lessa (2001) questiona essa relação negativa. Para ele, ao


contrário, o eleitor, ao escolher diretamente o ocupante do executivo e seu
representante no legislativo, potencializa a governabilidade do sistema político.
Esta combinação seria “o melhor dos mundos”, visto que facilita a formação de
governos e representa de maneira equânime a opinião pública nacional.

De qualquer forma, essa relação pode ser geradora de crises, visto que
possibilita a eleição de um Presidente, sem base partidária forte, que pode entrar
em choque com um parlamento majoritariamente oposicionista, funcionando como
“veto player”.

Sergio Abranches (1988), em trabalho seminal, discute a especificidade do


presidencialismo brasileiro. O autor parte da diversidade estrutural da sociedade
brasileira, descrevendo uma “ordem social” que se está diante de “um processo
avançado de desenvolvimento econômico”, mas não apresenta soluções para
problemas típicos de sociedades não desenvolvidas, com desequilíbrios em sua
estrutura social, política e econômica.

Diante desta definição estrutural da sociedade brasileira, sua configuração


de classes se mostra fracionada, com demandas sociais importantes. Além disto,
emergem setores vinculados à moderna economia e os provenientes do
assalariamento no campo e na cidade, bem como os vinculados ao declínio dos
setores tradicionais das profissões liberais da elite.

Abranches descreve acuradamente a conformação heterogênea da


sociedade brasileira, tanto do ponto de vista estrutural como do ponto de vista
político. Essa coincidência de situações define uma formação social com
características específicas quer das nações industrializadas, que apresentam
maior homogeneidade social, quer das chamadas “nações plurais”, divididas por
clivagens regionais e culturais muito poderosas, mas cujos diferentes “blocos
culturais” apresentam relativa homogeneidade interna.
6

O “dilema institucional brasileiro” é definido por Abranches (1988) como a


necessidade de se encontrar um ordenamento institucional eficiente que agregue
e processe as pressões advindas desse quadro heterogêneo.

Segundo Abranches, as soluções institucionais encontradas no Brasil visam


dar conta desta sociedade intrinsecamente heterogênea. Como coloca o autor, a
tradição republicana brasileira tem-se caracterizado pela coexistência, nem
sempre pacífica, do presidencialismo, do federalismo e do multipartidarismo. Ao
mesmo tempo em que estas características de nosso sistema político são as que
melhor assimilam o caráter heterogêneo de nossa sociedade, o sistema, sem a
intervenção de engenharia política (a formação de amplos governos de coalizão),
possui, tendencialmente, a possibilidade do surgimento de crises.

Neste sentido, para Abranches (1988), essa característica, associada à


experiência brasileira, ressalta-se como uma singularidade: o Brasil é o único país
que, além de combinar a proporcionalidade, o multipartidarismo, e o
“presidencialismo imperial”, organiza o Executivo com base em amplas coalizões.
A esta configuração particular do sistema político brasileiro Abranches dá o nome
de “presidencialismo de coalizão”.

De outra parte, as pesquisas desenvolvidas por Argelina Figueiredo &


Fernando Limongi (1990) comprovam a operacionalidade do sistema
presidencialista no Brasil. A avaliação negativa quanto ao bom funcionamento do
sistema político brasileiro parte do pressuposto de que o principal gerador de
problemas é a adoção do sistema presidencial paralelamente a um sistema
partidário com elevado número de partidos, sendo estes indisciplinados e carentes
ideologicamente. Em tal cenário, teríamos um presidente impotente e fraco, que
se contraporia a um Legislativo povoado por uma série de partidos indisciplinados.

De fato, segundo esses autores, isso não ocorre. Comprovou-se que o


sistema político brasileiro produziu um executivo e um presidente forte e um
legislativo que se mostra colaborativo e negociador.

Quanto ao poder executivo, existe a retomada do padrão estruturado no


Brasil a partir de 1937, no qual a atividade legislativa concentrava-se nas mãos do
7

Estado. Esse padrão é interrompido com a República de 1945. Os constituintes de


45 definem as atribuições do Legislativo e Executivo, afastando-se do
enquadramento constitucional de 1937. Com a nova carta, os poderes legislativos
do Presidente da República foram sensivelmente diminuídos. Hoje, ele não dispõe
do controle da arena legislativa.

Os militares retomam o padrão de 1937. Os poderes legislativos do


executivo retornam com força, destacando-se a possibilidade de envio de projetos
de lei, por parte do Executivo, ao Congresso, com prazo máximo de 45 dias para
deliberação. A ausência de deliberação implica aprovação do projeto. Além disto,
a emissão de decretos, sobre assuntos de “segurança nacional”, finanças
públicas, normas tributárias, criação de cargos públicos e fixação de vencimentos
do funcionalismo público.

Em 1988, com a nova Constituição Brasileira, o Presidente da República


recebe amplos poderes legislativos. Destaque para o papel exercido pelas
Medidas Provisórias. Este faz com que o Presidente adote medidas “com força de
lei”, submetendo-as ao Congresso, que tem prazo limitado para analisá-las.

Do ponto de vista da estrutura política, como diagnosticaram Abranches


(1988) e Lamounier (1992), as linhas mestras do modelo institucional do período
1946-1964 permaneceram na Nova República (1985-1992): o presidencialismo, o
federalismo (embora na nova Constituição a concentração de recursos financeiros
nas mãos do governo federal seja bem inferior à da Constituição de 1946), a
representação proporcional, o multipartidarismo, o bicameralismo e uma
constituição extensa e detalhista. Essas são as propriedades sistêmicas que
permitem a caracterização do Brasil como uma democracia de tipo consociativa,
isto é, uma democracia baseada no princípio da máxima dispersão do poder
institucional entre os atores relevantes (Lijphart, 1984).

Por outro lado, Figueiredo & Limongi (1998) colocam que


... o quadro institucional que emergiu após a
promulgação da Constituição de 1988 está longe
de reproduzir aqueles experimentos vivenciados
8

pelo país no passado. A carta de 1988 modificou


as bases institucionais do sistema político
nacional, alterando radicalmente o seu
funcionamento. Dois pontos relativos ao
diagnóstico resumido acima foram alterados sem
que a maioria dos analistas se desse conta destas
alterações. Em primeiro lugar, em relação à
Constituição de 1946, os poderes legislativos do
Presidente da República foram imensamente
ampliados. Na realidade (...) a Constituição de
1988 manteve as inovações constitucionais
introduzidas pelas constituições escritas pelos
militares com vistas a garantir a preponderância
legislativa do Executivo e maior presteza à
consideração de suas propostas legislativas. Da
mesma forma os recursos legislativos à disposição
dos líderes partidários para comandar suas
bancas foram ampliados pelos regimentos internos
das casas legislativas.

O Presidencialismo no Brasil se organiza de forma a tornar fundamental a


construção de sólidas maiorias no Parlamento. Marca característica e distintiva do
presidencialismo brasileiro é o presidencialismo de coalizão, tendo como
pressupostos a separação de poderes e o pluralismo partidário no Congresso.
Neste sistema, o Presidente articula sua base de apoios através da distribuição de
cargos e de recursos orçamentários entre os grandes partidos políticos.

Ao que parece, os elementos apontados por Abranches – formação das


coalizões de governo, por meio de concessão de cargos – e por Figueiredo &
9

Limongi (1996) – controle pelo Chefe do Executivo da agenda legislativa – tornam


o presidencialismo uma solução possível para a engenharia institucional do país.
2. Unidades subnacionais contam?
Vários trabalhos vêm demonstrando a riqueza das experiências políticas
subnacionais no Brasil. O trabalho pioneiro de Olavo Brasil de Lima Júnior (1983)
demonstrou que, ao invés de um único sistema multipartidário, na verdade, o
Brasil, durante a república de 1945, possuía três subsistemas partidários,: um
sistema bipartidário, um sistema multipartidário moderadamente fragmentado e
um sistema multipartidário altamente fragmentado.

No plano de um subsistema estadual no Brasil, no qual os Governadores


possuem menor poder de agenda e recursos orçamentários que o presidente, os
mesmos fatores ocorrem, talvez combinados de maneira diversa, no sentido de
proporcionar a governabilidade e estabilidade do sistema.

De outra parte, os governos subnacionais apresentam particularidades, não


reproduzindo em sua integralidade as características observadas no plano
nacional. Muito embora o sistema presidencialista opera nos três níveis de
governo da federação brasileira, são notórias as diferenças existentes. Os estados
não são meras réplicas do que acontece no plano federal, os estados dispõem
deu uma agenda política própria e uma pauta decisória específica.2

O poder dos Governadores não deve ser minimizado. Abrucio (1998)


apresenta o cenário dos governos subnacionais amplamente dominados pela
figura do governador, resumido no conceito de ultrapresidencialismo estadual. Sua
tese é a de que não resta à maior parte dos deputados estaduais outra saída,
frente ao poder avassalador do Chefe do Executivo, que não assumir a posição
“situacionista” (participando formalmente da base de apoio) ou “governista”
(apresentando-se como independente, mas votando com o governo no geral).

O governismo, adotado como prática dominante na maior parte dos


Legislativos estaduais, funda-se no fato de que a sobrevivência política do
deputado estadual ou de qualquer político que atue no nível estadual depende de

2
Argumentação presente em: FRANÇA, Andressa Silveiro Terra (2006)
10

sua relação com o Governador, visto que este exerce o controle absoluto dos
recursos estaduais. Como salienta Abrucio, o Governador do Estado tem o
controle completo dos canais de destinação dos recursos de clientela, atuando
inclusive junto ao Governo Federal para decidir como e para quem serão
destinados verbas e cargos públicos que interessam à elite política estadual.

Outros estudos, no entanto, afirmam que ao invés de um único sistema


político onde o poder legislativo detém uma função meramente homologatória, o
quadro das subunidades nacionais é mais complexo, emergindo um sistema mais
dinâmico e complexo, que admite várias modalidades de relação entre Executivo e
Legislativo. Sendo assim, Santos (2001) afirma que
... não resta dúvida de que aquilo que
denominamos “sistema político brasileiro” é, na
verdade, um verdadeiro laboratório de ciência
política comparada. No mesmo sistema político
encontramos os seguintes exemplos de ordenação
institucional: a) poder concentrado na Assembléia,
mas dividido entre Executivo e Legislativo; b)
grande concentração de poder em mãos do
governador, mas dispersão total na Assembléia; c)
separação de poderes e dispersão interna; e d)
governador e partidos fortes.

3. Rio Grande do Sul e Paraná: dois modelos divergentes


Rio Grande do Sul e Paraná são representativos desta disparidade e
complexidade de modelos. O Rio Grande do Sul foge ao modelo do
ultrapresidencialismo, sendo que a dependência dos deputados frente ao
governador não é tão grande.

Abrucio(1988) acentua o fato da acirrada competição entre as elites política


locais, em que um número não menor que 4 partidos possuem condições reais de
disputa do Governo do Estado; além disso, o grau de lealdade política está acima
11

da média do padrão nacional. Esses fatores contribuem para que o


ultrapresidencialismo não tenha vigorado. Gustavo Grohmann (2001) assevera
que o contexto de alta polarização ideológica torna possível aos deputados não
necessitarem alinhar-se ao governador para construir suas carreiras.

O Paraná por outro lado, apresenta um modelo bem diferente. Do ponto de


vista histórico, o Paraná não expressa a turbulência política que caracterizou o Rio
Grande do Sul. Além disto, seu sistema político apresenta-se como
majoritariamente centrista, inexistindo, desta forma, os problemas advindos da
polarização política extremada, como notamos no Rio Grande do Sul.

Segundo Ames (2003) uma das peculiaridades da política no Paraná é que


praticamente inexiste uma oligarquia política. Até a ascensão de Jaime Lerner, em
1990, o último líder político importante no estado foi Ney Braga. Muito embora
uma liderança política importante, o ex-governador Ney Braga não conseguiu
construir uma máquina política com solidez.

Outro ponto importante, ressaltado por Ames (2002) é de que a política no


Paraná não goza de muito prestígio. A Assembléia Legislativa do estado é muito
regionalista e débil do ponto de vista organizacional. Alem deste aspecto, a
natureza regionalista da política paranaense confere a política uma natureza
quase apolítica.
GOVERNADORES – PARANÁ
1990-2002
CANDIDATO ANO PARTIDO/COLIGALÃO VOTAÇÃO %

ROBERTO 1990 1.076.177 34,3


REQUIÃO
1990 – 1.877.282 55,8
PMDB(PMN-PT DO B)
2.
TURNO

JAIME LERNER 1994 PDT 2.070.970 54,8

JAIME LERNER 1998 PFL(PPB/PTB/PSL/PST/PTN/ 2.031.241 52,2

PSC/PL/PPS/PRN/PSB/PSD/PRP/PTdoB)
12

ROBERTO PMDB 1.347.353 55,2


REQUIÃO

A característica centrista e coesa do sistema político paranaense pode ser


notada na primeira eleição para cargos majoritários estaduais, em 1982. O PMDB
ofereceu uma sólida alternativa centrista e obteve o sucesso eleitoral, elegendo o
governador do estado. Esta tendência fica mantida nas eleições seguintes, com a
manutenção do PMDB no poder em 1986 (Álvaro Dias) e Roberto Requião, 1990.
Esta orientação do eleitorado é, de certa forma quebrada em 1994, com a eleição
de Jaime Lerner, que lidera uma coalizão de centro-esquerda, liderada pelo PDT.
Na eleição seguinte, em 1998, a tendência centrista da política paranaense é
retomada. Jaime Lerner troca de partido, optando pelo PFL. E, em 2002, Roberto
Requião obtém o seu segundo mandato pelo PMDB.

Desta modo, o poder no Paraná pode ser exercido de forma tranqüila, sem
maiores sobressaltos, visto que a formação de maiorias na Assembléia Legislativa
do Paraná é construída de forma natural, sem maiores problemas de
coordenação.

As tabelas abaixo colocam com clareza esta natureza específica da política


no Paraná. Veja na tabela 1: Rio Grande do Sul se destaca, desde a
reimplantação do pluripartidarismo, pela existência de eleições muito conflitadas.
Já o Paraná, ao contrário, a tendência a minimização do conflito quase total.
Tabela 1 Conflitos nas eleições para Governador do Estado desde 19823

Rio Paraná
Grande do
Sul

# % # %

Alternância no poder 4 100 1 25

3
Schneider, Aaron Mitchell (2001)
13

Governos polarizados 4 100 0 0


(esquerda-direita)

Tabela 2. Polarização (percentual de voto na esquerda por cargo)4

Rio Grande do Paraná


Sul

Presidente 1992-1998 69.6 28.9

Governador 1982-1998 43.3 18.4

Deputado Federal 34.6 17.5


1982-1998

Assembléia Legislativa 29.2 14.4


1982-1994

Tabela 3 índice de facilidade de formação de coalizões mínimas: Banzhaf Power


Index5

Rio Grande Pernambuco Paraná Bahia


do Sul

Governor .39 .46 .63 .56


Party 1982-
1998

4
Schneider, Aaron Mitchell (2001
5
Apud Schneider, Aaron Mitchell (2001.”Other indices that measure the difficulty of forming a minimum
winning coalition (Shapley-Shubik Power Index, Johnston Index of Power, Deegan-Packel Power Index)
could also be used, but relative positions of the states would not change, and numbers and calculations would
not be as easy to understand and compare.”
14

GOVERNADORES – RIO GRANDE DO SUL6


1990-2002
GOVERNADOR ANO PARTIDO/COLIGAÇÃO VOTAÇÃO %
19907 PDT-PSDB 1.464.181 25,09
ALCEU COLLARES
19908 PDT-PSDB 1.464.181 44,51
ANTÔNIO BRITTO 1994 PMDB/PSDB/PL 2.211.270 39,85
19989 PSTU/PPS/PSB/PV/PC 2.295.503 39.4215
DO B
OLÍVIO DUTRA
199810 PT/PSTU/PPS/PSB/PV/PC 2.844.767 48,85
DO B
GERMANO 200211 PMDB / PHS / PSDB 2425320 32,99
RIGOTTO
GERMANO 200212 PMDB / PHS / PSDB 3.148.788 50.15
RIGOTTO

O padrão político gaúcho. É outro, chama a atenção o seu caráter conflitivo


e polarizado.

Aaron Schneider chama a atenção da dificuldade da montagem da peça


orçamentária, que reflete o custo muito alto de montagem de coalizões no Rio
Grande do Sul
Since 1985, Rio Grande do Sul has provided the
most striking example of a state in political turmoil.
Its party system has been both fragmented and
polarized, generating difficulty for elites to form the
coalitions necessary to win power and once they
have won, making it difficult to make policy. The

6
Fonte: Banco de Dados Eleitorais do NUPERGS e TRE/RS
7
PRIMEIRO TURNO
8
SEGUNDO TURNO
9
PRIMEIRO TURNO
10
SEGUNDO TURNO
11
PRIMEIRO TURNO
15

difficulties created by the party system forced chief


executives to modify budget institutions, and they
sought more democratic institutions that
coordinated poli alternative sources of legitimacy
that could overcome polarization. Political elites
who were fragmented into multiple parties and
provided points of access and

Neste contexto, analisar comparativamente os mecanismos que os


Governadores do Rio Grande do Sul e Paraná vem utilizando para montagem de
seu gabinetes e de que forma este gabinete relaciona-se com a Assembléia
Legislativa, significa ter em contar estas diferenças no sistema político de cada um
dos estados.

Levando-se em conta que o Governador não dispõe do mecanismo,


fundamental no plano federal para a imposição da agenda, das medidas
provisórias, muito menos a Constituição Gaúcha dispõe do mecanismo das leis
delegadas, o momento mais importante do Executivo é a exclusividade sobre a
criação e a iniciativa de lei do Orçamento e do Plano Plurianual.

TABELA 313

PODER DE PAUTA DOS PODERES NO RIO GRANDE DO SUL CONFORME


CE E RI DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO

PODER INICIATIVA RECURSO DE TEMPO


Legislativo PEC, PL E PLC CE, art. 50: maioria dos
deputados convoca
sessão extraordinária,
com matéria exclusiva.
CE, art. 63: deputado

12
SEGUNDO TURNO
13
Fonte: GROMANN (2001, 126)
16

pode solicitar entrada do


projeto na ordem do dia
após 30 dias de
tramitação
RI, art. 169 projeto pode
ser votado antes dos
prazos e passagem nas
comissões por
concordância unânime
dos líderes de bancada
ou aprovação da maioria
dos deputados mediante
requerimento de líder de
bancada.
CE art. 65: maioria dos
deputados pode requere
retirada de projeto da
ordem do dia desde que:
a) não tenha tramitado no
mínimo por 30 dias; b)
seja sessão
extraordinária
Executivo PEC, PL PLC, PLO, CE, art 50: governador
PLDO, PLPP convoca sessão
extraordinária, com
matéria exclusiva a ser
votada.
CE, art 62: governador
solicita urgência para
exame do projeto. Deve
ser votado em 30 dias.
17

Tem precedência sobre


os demais.

Competências Legislativas Exclusivas (Executivo e Legislativo Estadual)


PARANÁ
COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS DO EXECUTIVO:
- Fixação e modificação dos efetivos da Polícia Militar
- Sistema tributário estadual, instituição de impostos, taxas e contribuições.
- Criação e extinção de cargos e remuneração do serviço público.
- Plano plurianual, diretrizes orçamentárias, propostas de orçamento.
- Organização do Ministério Público, Defensoria Pública e da Procuradoria Geral
do Estado.
- Criação, estruturação e definição de atribuições das Secretarias de Estado e
demais órgãos da
administração pública.
- Nomear e exonerar secretários de Estado.
COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS DO LEGISLATIVO:
- Apreciar vetos do Governador
- Promulgar Emendas à Constituição, Decretos Legislativos e Resoluções.
- Julgar prestação de contas do Executivo.
- Decidir sobre intervenção estadual em municípios.
- Escolher 2/3 dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.
- Aprovar o nome dos conselheiros do Tribunal de Contas indicados pelo
Governador.
- Autorizar plebiscito e referendo.
- Processar e julgar o Governador e o Vice-Governador, nos crimes de
responsabilidade, e os
Secretários de Estado.
Fonte: Constituição Estadual e Regimento Interno da ALEP e ALERS
18

Por outro lado, como afirma Grohmann (2001), a possibilidade de o


Executivo impor sua agenda e aprová-la depende de dois elementos: a) da
institucionalidade do processo da agenda política; e b) da composição político-
partidária. A estes dois pontos, acrescentaríamos um terceiro: a forma como o
governo monta o seu gabinete. Uma forma ponderada de distribuição dos cargos
facilitará tremendamente a aprovação de sua agenda.

TABELA 414

DISPOSITIVOS INSTITUCIONAIS E REGIMENTAIS DO


LEGISLATIVO E DO EXECUTIVO NO RS E NO BRASIL

PR RS BRASIL
Colégio de X X
Líderes (poder
de pauta)
Decreto do X
Executivo com
poder legislativo
Veto total X X X
Veto Parcial X X X
Comissão com X X
poder terminativo
Líderes com X X
prerrogativas
fortes
Iniciativa X X X
exclusiva em
matéria
financeira e
tributária
Leis delegadas X

14
Fonte: GROMANN (2001, 141), Regimento Interno da ALEP
19

do Legislativo
para o Executivo
Pedido de X X X
urgência por
parte do
executivo

BIBLIOGRAFIA

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