Você está na página 1de 15

JOAQUIM ANTONIO DUTRA: médico e político.

1
José Luiz Machado Rodrigues
e
Nilza Cantoni

Outubro de 2010

1
Atualização de artigo publicado em 2001
2

Em 2001 publicamos um ensaio biográfico de Joaquim Antonio Dutra, um


médico que viveu em Piacatuba no final do século XIX. O motivo que nos estimulara a
escrever sobre ele foi um tanto prosaico. Na década de 1990, numa das visitas àquele
distrito em busca de informações para outro estudo, ouvimos de um morador que
determinada rua homenageava um personagem desconhecido. Qual não foi a surpresa
com o nome citado! Era a rua Joaquim A. Dutra, bem no centro do distrito.

Fotografia da área urbana de Piacatuba na primeira metade do século XIX, cedida por Carmen Tassari.

Nos meses seguintes entramos em contato com alguns colaboradores, em


busca de informações adicionais que permitissem escrever sobre o médico que marcou
presença na vida de Leopoldina. Um deles, Salvador Justen de Almeida, fez contato
com Eugênio Klein Dutra, advogado, oficial do 6º Ofício do Registro de Imóveis de Belo
Horizonte e neto do Dr. Joaquim Dutra, que nos forneceu farto material para a
composição do trabalho. No início deste ano de 2010 foi a vez da neta Eunice Dutra
Galery, irmã de Eugênio, enviar mais informações.
Revisando o texto publicado em 2001 e relendo obras que mencionam o Dr.
Joaquim Antonio Dutra, reafirmamos a opinião de que a trajetória de um sujeito é
profundamente marcada pela sua relação com os outros e cada um exprime, de certa
forma, a sociedade na qual está inserido.
Foi esta a sensação decorrente da releitura de um episódio ocorrido em 1899.
3

A Masorca
Nos últimos dias do ano de 1899, quando Silviano Brandão governava Minas
Gerais, ocorreram graves fatos em Carangola, em virtude de disputas políticas. No
último dia do ano seriam realizadas eleições para a Câmara Federal e o candidato da
oposição em Carangola era João Baptista Martins. O Dr. Joaquim Dutra era candidato
pelo Partido Republicano Mineiro.
O líder político do município, Francisco José da Silva Novais, residia em Faria
Lemos e consta que teria deflagrado uma campanha de desmoralização de João
Baptista Martins, que revidou em sua coluna no jornal Imprensa. No dia 24 de
dezembro haveria eleição para vereador no distrito de São Sebastião do Carangola,
com duas candidaturas. Pela oposição concorria Antônio Cândido de Almeida Rosa e a
situação estava com o médico Olympio Teixeira de Oliveira. Ânimos acirrados, Novais
entra na cidade, dia 23 de dezembro, acompanhado de doze carabineiros. As famílias
se recolhem, alguns saindo da cidade em direção a propriedades rurais.
Os partidários da situação ocuparam pontos estratégicos das estradas para
impedir que a oposição tivesse contato com os pequenos proprietários dos sítios
próximos. Cuidaram, também, de revistar o trem da Leopoldina Railway na estação de
Faria Lemos, última antes da sede municipal. Havia um desequilíbrio de forças, já que
a oposição contava com pequeno número de homens armados, cerca de 10% do total
do “exército” da situação. Apesar de ter sido informado, Silviano Brandão não tomou
providências.
O Dr. Joaquim Dutra deliberou ir até a cidade com o objetivo de pacificar os
adversários. Na véspera do Natal lá estava ele, apresentando proposta aos adversários
de que se desarmassem e voltassem para suas casas. Francisco Novais não queria
acordo.
No dia seguinte foi a vez de chegar Luiz Eugênio (ou Fulgêncio) Monteiro de
Barros, morador do estado do Rio e como o Dr. Joaquim Dutra também candidato nas
eleições do dia 31. Colocou-se ao lado de Francisco Novais, oferecendo-lhe recursos e
forças bélicas.
Na manhã do dia 26 de dezembro irrompeu a luta, não se sabendo quem a
iniciara. Na tarde daquele dia chegaram as forças prometidas por Luiz
Eugênio/Fulgêncio. Impotentes para fazer frente a tamanha agressão, os
oposicionistas abandonaram seus postos e dispersaram-se, o que não chegou a ser do
4

conhecimento dos partidários da situação que continuaram a fuzilaria até o dia


seguinte.
Os relatos deste episódio apresentam pequenas divergências entre os vários
autores que o comentaram. De todo modo, seja em Mercadante2 ou Carelli3, assim
como em Martins4, parece claro que o Dr. Joaquim Dutra, apesar de candidato, preferiu
não apoiar os situacionistas do município e buscar um acordo que evitasse as mortes
que acabaram acontecendo. Mesmo não sendo bem sucedido, este posicionamento
acrescentou mais uma linha elogiosa em sua biografia.
O Coronel Luiz Eugênio voltou a S. Manoel no mesmo trem especial que
transportara, na véspera, a sua guarda de carabineiros. Com ele retirou-
se o Senador Joaquim Dutra e em companhia de ambos, protegidos por
eles contra os bandidos de Faria Lemos, os advogados. (Martins, 19775)

2
MERCADANTE, Paulo. Crônica de uma Comunidade Cafeeira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1990. p 75-76
3
CARELLI, Rogério. Efemérides Carangolenses 1827-1959. Viçosa, MG: Folha de Viçosa, 2002. pag.
561-562
4
MARTINS, Rodrigo Baptista. A masorca: o coronelismo e a violência no processo político
brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1977. pag. 99
5
idem
5

Uma posição mal explicada


Em outras leituras observamos que alguns estudiosos se apressam em concluir
que o parlamentar Joaquim Antonio Dutra foi contra a mudança da capital mineira.
Entre estes há quem cite a obra de Abílio Barreto6 como fonte. Curiosamente, uma
leitura mais detalhada nos fez refletir e concluir em outra direção.
Analisamos duas edições da obra de Abílio Barreto, com especial atenção aos
relatos das discussões que envolveram a mudança da capital mineira de Ouro Preto
para Belo Horizonte. Na primeira, de 1928, especialmente nas páginas 238 e 399 a
401, observamos que as discordâncias não se referiam especificamente à mudança
mas a detalhes do projeto de implantação da nova capital e à escolha do local para
onde seria transferida. O parlamentar Joaquim Antonio Dutra é citado apenas pelo
último sobrenome, na página 400, ao final de comentários que se iniciam pelas
seguintes palavras:
Ressalvadas as emendas, o art. 1º do projecto foi approvado, no dia 7, por 43
votos contra 12, sendo a emenda n. 1 rejeitada por 48 contra 7 votos e a de n. 2
por 38 contra 16, em votação nominal”. (BARRETO, 1928)
Cremos ser lícito concluir que as votações não foram fáceis e que alguns itens
do projeto foram aprovados pelos mesmos parlamentares que rejeitaram outros.
Considerando, ainda, que naquele momento a mudança já estava praticamente
decidida, seria mais prudente levantar a hipótese de que todos os parlamentares
estavam discutindo a melhor forma de realizar a transição e não exatamente decidindo
se a capital sairia ou não de Ouro Preto. A edição de 1936 apresenta ligeiras
modificações na formatação que não invalidam o conteúdo. Chamamos a atenção para
as páginas 212 e 348 a 350, onde estão os trechos mencionados.
No final das votações, uma diferença de dois votos deu a vitória à localização da
capital em Belo Horizonte. Considerando o longo processo que resultou na
transferência da capital, desde as primeiras discussões que remontam a quase 30
anos antes, conclui-se que o Dr. Joaquim Dutra votou as diversas emendas de acordo
com o que decidira sua bancada. Para além de conclusões simplistas, que distorcem a
posição do deputado e o colocam como contrário a construir um local mais adequado
para a capital mineira, o que ressalta é a impressão de que ele foi um político atuante,
participando e dando conta de todas as missões a que se propôs.

6
BARRETO, Abílio. Bello Horizonte: memoria historica e descriptiva. 2 volumes. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1928 e Editora Rex,1936
6

O Regime Republicano
Outra passagem da vida de Joaquim Antonio Dutra refere-se ao seu
posicionamento diante da mudança de regime, em 1889. Neste caso, não localizamos
controvérsias. Segundo George Boehrer7,
Nos últimos meses da monarquia, os republicanos interessaram-se
particularmente em várias eleições. Para a vaga no Senado foram escolhidos
como candidatos do Partido Joaquim Antonio Dutra (pag. 141)
No Almanak Republicano de 18898 encontramos:
1888 – O Dr. Joaquim Dutra Nicacio, deputado provincial pelo 9º districto de
Minnas, declara-se republicado e organisa o partido na Piedade. (pag. 132)
Importante destacar que o distrito de Piacatuba é mencionado pelo nome que
então detinha, ou seja, era o Distrito da Piedade da Leopoldina.
O fato de organizar o Partido Republicano Mineiro no distrito da Piedade é
significativo. Além de mostrar sua representatividade no âmbito municipal, faz supor
que tenha havido debates e argumentação para convencer seus eleitores. E o fez de
forma adequada, como demonstra o fato de ter sido reeleito.
Na memória de antigos moradores de Leopoldina e de Piacatuba, o nome do Dr.
Joaquim Dutra está profundamente ligado às duas atividades que exerceu. De um lado,
o médico humanista que socorria os necessitados. Por outro, o político que obteve
benefícios para o distrito, a cidade e a região.
Segundo Estevam de Oliveira9, coube a Joaquim Antonio Dutra defender o
governo Bias Fortes em contenda com o jornal Correio de Minas que o atacara. Teria
demonstrado, em carta, seus profundos conhecimentos da alma humana e das
possibilidades de atuar em benefício do povo.
Parece que em outros momentos de sua vida teria agido sempre
comedidamente em prol de todas as pessoas que dele precisaram.

7
BOEHRER, George C. A. Da monarquia à república: história do Partido Republicano do Brasil
(1870-1889). Rio de Janeiro: MEC, 1954
8
ALMANAK REPUBLICANO BRAZILEIRO para o Anno de 1889 em Homenagem ao Centenario da
REVOLUÇÃO FRANCEZA. Anno 1. Rio de Janeiro: Imprensa Montalverne, 1889.
9
OLIVEIRA, Estevam de. Notas e Espístolas: páginas esparsas da campanha civilista. Juiz de Fora:
Typographia Brasil, 1911
7

Dificuldades da Agricultura
Na época em que vivia em Leopoldina, Joaquim Antonio Dutra participou
ativamente dos anseios dos produtores locais que buscavam solução para a
dificuldade de mão de obra em suas lavouras. Assim como quase todos os políticos e
médicos da época, era também um produtor rural. E parece que desenvolveu uma
percepção bastante coerente com os caminhos possíveis naquele momento. Não teria
sido, como querem alguns, o herói da política de imigração. Deixemos esta
denominação no passado e analisemos a realidade sobre outro prisma.
Conforme declaramos em nossas publicações sobre a Colônia Agrícola da
Constança10, fundada em Leopoldina em 1910, a região buscou alternativas que
mantivessem o colono europeu na terra, não só nas propriedades cafeicultoras como
também na agricultura de subsistência. São frequentes as menções à atuação do Dr.
Joaquim Dutra não só em Leopoldina como também nas cidades vizinhas. Fazendo
uma ponte entre o poder central e sua base política, arrebanhou um grande número de
partidários que deram curso a uma de suas propostas.
Em fevereiro de 1894 era registrada, no Cartório do 2º Ofício de Cataguases 11,
uma das transações realizadas pela empresa Dutra & Companhia, constituída por volta
de 1890. Segundo este registro, Antonio David Alves Ferreira e sua mulher Altina Maria
dos Prazeres vendem a Dutra & Companhia, sociedade agrícola sediada em Itamarati,
a fazenda Boa Vista, com 60 alqueires de terras em cafezais, 20 alqueires em matas,
31 alqueires em culturas diversas, além de 119 alqueires de terras ocupadas por
pastos, cafezais e capoeiras. Localizava-se à margem do rio Novo, local que hoje
pertence ao município de Cataguases e marca o encontro entre as divisas de
Cataguases, Itamarati de Minas e o distrito de Piacatuba, município de Leopoldina.
Quem eram os sócios da Dutra & Companhia? A resposta, obtida no mesmo
livro, folhas adiante, demonstra que em setembro de 1895 foi dissolvida a empresa que
era então constituída por Joaquim Gomes de Araújo Porto e sua mulher Teresa Maria
de Araújo; Joaquim Antonio Dutra e sua mulher Eugência Murgel Dutra; João Antonio
de Araújo Porto e sua mulher Florentina Dias de Araújo; Joaquim Fajardo de Melo
Campos e sua mulher Guilhermina Balbina de Melo Campos; Francisco de Paula
Ladeira e sua mulher Francisca de Paula Ribeiro; José Henriques Pereira da Mata e

10
RODRIGUES, José Luiz Machado e CANTONI, Nilza. Centenário da Colônia Agrícola da
Constança. Leopoldina, MG: Leopoldinense, 2010
11
Cartório do 2º Ofício de Notas Cataguases, Livro 21, fls 53 e 60
8

sua mulher Maria Celestina de Almeida; Mariano Pereira de Almeida e sua mulher
Maria Faustina de São José; Porfírio Henriques Valente e sua mulher Ana Isabel de
Araújo; Francisco Fajardo de Melo Campos e sua mulher Ambrosina Esméria de Melo
Campos; José Fajardo de Melo Campos e sua mulher Maria Esméria de Melo Campos;
Maria Balbina Soares; e, João Teodorico de Araújo Porto e sua mulher Maria Carolina
de Araújo.
Esta fazenda Boa Vista, que pertenceu à Dutra & Companhia, veio a constituir a
Colônia Agrícola Major Vieira, estadual, oficializada em 1911. Recebeu inúmeros
imigrantes que deixaram sua terra natal para virem construir uma nova história em
terras brasileiras, trazendo novas práticas agrícolas e sociais.
9

Carreira Política
A mais antiga referência encontrada sobre a atuação de Joaquim Antonio Dutra
nas hostes políticas é de 188012:
A 30 de Novembro de 1880 é que foi creado o municipio de S. João
Nepomuceno, até então, com existencia meramente legal. [...] A 25 de Outubro
de 1881 foi elevada a cathegoria de cidade a villa de S. João Nepomuceno.
A 25 de Setembro de 1882 procedeu-se a eleição para vereadores, sendo
eleitos em 1º escrutinio: [...] Joaquim Antonio Dutra. (pag. 571-572
Empossado no dia 7 de janeiro do ano
seguinte13, em julho de 1885 foi substituído naquela
Casa Legislativa por ter transferido residência para
Piacatuba. Em Leopoldina foi Vereador, Presidente
da Câmara e Agente Executivo, cargo equivalente
ao atual Prefeito. Em 1887 foi eleito Deputado da
Assembléia Provincial de Minas Gerais, sendo
membro da 27ª legislatura, 1888-1889.
Em 1893 foi “encarregado de verificar e
extremar os limites do município de Leopoldina”14 e
atuou em diversas outras frentes de trabalho,
especialmente no que diz respeito à higienização do espaço público. Sobre este
aspecto, lembramos que o final do século XIX representou um momento específico no
desenvolvimento da urbanização. Conforme destacou Heloiza Manhães15, engenheiros
e médicos ocuparam-se do planejamento urbano, promovendo mudanças que
estirpassem os focos de contaminação que chegaram a causar número elevado de
óbitos em diferentes cidades. No caso de Leopoldina, temos notícias em jornais da
época citando os trabalhos realizados pelo Dr. Joaquim Dutra no sentido de evitar que
ocorressem novamente epidemias como a que assolou o município no início da década
de 1890. Por essa época, transferiu a sede da administração municipal provisoriamente

12
REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Notas Chorograficas: municipio de S. João
Nepomuceno. Imprensa Oficial de Minas Gerais, v. 04, ano 1899, pag. 569-573
13
Revista do Instituto de Estudos Genealógicos, vol. 4, p. 572.
14
GUIMARÃES, Joaquim Custódio. História da Medicina em Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1987. pag.
1.
15
ALVES, Heloiza Manhães. A sultana do Paraíba. Rio de Janeiro: APRJ, 2009
10

para Tebas, em razão da epidemia que chegou a interromper os sepultamentos no


cemitério da cidade.
No dia 30 de junho de 1896 Joaquim Dutra foi eleito para vaga de um deputado
do pleito de 1891 que se afastara, passando a exercer o cargo de 2º Secretário no
Senado Mineiro16. Em 1897 recebeu grande votação em Leopoldina, para o cargo de
Chefe do Executivo Municipal17, mas continuou atuando na esfera provincial. Reeleito
para o Senado Mineiro, ali permaneceu até o episódio de 1899 já mencionado.
Sua atuação política pode ser observada nos Anais do Parlamento Brasileiro,
com destaque para o volume publicado em 190018 no qual aparece em evento descrito
nas páginas 345 e 346.

16
APM, Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, vol 1 pags. 90-91.
17
Livro de Atas de Eleições Municipais de Leopoldina - 1897, fls 3.
18
BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Annaes do Parlamento Brazileiro. 1900, vol.
2
11

Transferência para Barbacena


Com a inauguração do Hospital de Assistências aos Alienados no dia 2 de
outubro de 1903, Joaquim Antonio Dutra deixa a política para dedicar-se à medicina,
com um trabalho relevante no período de 1903 a 1935, quando aposentou-se.
Não se pode dizer que abandonou a militância porque ainda em 1936 foi eleito e
assumiu como Juiz de Paz, em Barbacena.
Naquela cidade faleceu aos 16 dias de outubro de 1943 aquele que, nascido aos
21 de agosto de 1853 em São João Nepomuceno, teve a trajetória de vida entremeada
por atividades diversas, desde as primeiras letras com o professor Januário Carlos de
Almeida, em sua terra natal.
Cursou Humanidades em Teresópolis e formou-se pela antiga Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, em 1881, tendo feito a residência médica no Hospital São
João Batista de Niterói.
Quando se transferiu para Barbacena, voltou à medicina, merecendo de
Joaquim Moretzsohn as seguintes palavras19:
Aliando seus conhecimentos de clínica médica ao seu permanente apego aos
livros e ainda à vocação humanística, pouco a pouco, foi abraçando a
psiquiatria, fazendo dela sua real especialização e tornando-se um distinto
especialista. Contemporâneo dos famosos psiquiatras Juliano Moreira e Franco
da Rocha, mantinha com eles lúcida e científica troca de informações. (pag. 185)
Fomos informados de que teria publicado, em 1933, o opúsculo denominado
Notícia Histórica sobre a Assistência a Alienados em Minas Gerais. Não logramos
encontrar um exemplar, o que nos impede de comentá-lo.
As duas principais funções deste personagem foram objeto, também, de um
comentário por Marisa Ribeiro Silva20
Político e médico [Joaquim Antonio Dutra] instalou e dirigiu o hospital-colônia
para alienados mentais em Barbacena. Foi vereador, agente executivo
municipal, deputado provincial (1888-1889), deputado estadual (1891-1895),
senador estadual (1895-1902). No Império, pertenceu ao PL e, na República, ao
PRM.
Encontramos muitos outros políticos na família, alguns lembrados em obras
específicas. Desde o início do século XIX os Dutra Nicácio espalharam progresso e

19
MORETZSOHN, Joaquim Affonso. História da Psiquiatria Mineira. S.l: Coopmed, 1989
20
Revista do Arquivo Público Mineiro de 2007, vol. 43, O Artífice da Memória, de Marisa Ribeiro Silva,
página 89
12

desenvolvimento por uma vasta região de Minas ao sul do Espírito Santo e talvez em
outras paragens. Para nós, leopoldinenses, o sobrenome remete mais diretamente a
Joaquim Antonio Dutra, médico e político que viveu em nosso município durante cerca
de 20 anos.
13

Sua Família
O pai do Dr. Joaquim Dutra foi homenageado com o nome em logradouro de
São João Nepomuceno: Rua Coronel José Dutra. É destaque na história daquele
município. Segundo pudemos apurar, a Serra dos Dutras, na divisa entre São João
Nepomuceno e Piacatuba, é uma referência ao local onde a família se estabeleceu.
Naquela cidade há uma ponte denominada Dr. Murgel, sogro do Dr. Joaquim
Antonio Dutra. Em Leopoldina a família do médico é lembrada pela rua no distrito de
Piacatuba.
Piacatuba e Joaquim Antonio Dutra são indissociáveis porque ali se
desenrolaram muitos episódios que marcaram
a vida de uma e de outro. Casado aos 17 de
janeiro de 1881 com Eugenia Murgel, filha de
um médico e político atuando em São João
Nepomuceno, em Piacatuba batizou os filhos
Omar (1888) e Consuelo (1894). No município
de Leopoldina também nasceram os filhos
Margarida (1895), Oroncio (1896), Agenor
(1898) e Maria (1900).
Dos demais filhos, e foram 14, não
sabemos locais nem datas de nascimento.
Todos, entretanto, guardavam boas
lembranças de Leopoldina, como demonstram
os documentos que guardaram em seus
arquivos e que os netos Eugênio e Eunice nos forneceram.
Por acreditarmos que trajetórias individuais se cruzam todo o tempo, refletindo
as singularidades no espaço comum, buscamos as relações de nosso personagem
com o momento social, político e cultural do qual participou. O pequeno logradouro de
Piacatuba é um monumento à memória de um homem que representa uma parte da
história local e que não foi construída exclusivamente por ele, mas por todos os que ali
habitavam.
Quando abordamos uma individualidade, é importante que a situemos no
contexto, oferecendo informações que permitam localizá-lo no tempo e no espaço. Não
14

nos sentimos capazes de integrar, no nosso relato, uma análise mais completa das
forças sociais, econômicas, culturais e religiosas que permearam aquele período.
Esperamos ter atingido o objetivo de justificar nossa convicção de que Joaquim
Antonio Dutra não pode ser esquecido.
Que nossos textos reencontrem o tempo perdido, que chamem à cena os
fantasmas da história, que tenham capacidade de conversar com os mortos.
Que permitam a magia de entrar na vida de outrem e que façam dos
historiadores, caçadores de almas capazes de encantar os leitores graças às
biografias históricas.21

21
PRIORE, Mary del. Biografia: quando o indivíduo encontra a História. In: Topoi, v. 10, n. 19, jul.-dez.
2009, p. 7-16.
15

Você também pode gostar