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Aspecto ainda não estudado da história de Leopoldina, os Caminhos do Povoamento da zona da

mata mineira estão sendo pesquisados em parceria por Nilza Cantoni e Joana Capella e deste
trabalho foi extraído o
material utilizado em
palestra realizada no Cefet,
campus Leopoldina, na
abertura do II Festival de Arte
e Cultura, neste ano de 2012.
O convite para encontrar-me
com os profissionais da
Educação que atuam em
Leopoldina foi um grande
presente. Ao longo do tempo
eu venho colhendo dados e
buscando interpretá-los à luz
do conhecimento produzido
pelos especialistas de
diversas áreas, tendo
chegado a algumas
Figura 1- Localização de Leopoldina pelo Google Earth
conclusões que gostaria
de dividir com vocês. Hoje falarei sobre um estudo inédito que acredito ser importante para
ampliar o conhecimento sobre a então Vila Leopoldina.
Neste recorte, destaquei os pontos importantes para o assunto de hoje: a localização de Ouro
Preto, Mariana, Barbacena, Cataguases, Leopoldina, Cantagalo, Campos dos Goitacazes e Rio de
Janeiro.
A seguir viajaremos para 1847.

Figura 2- Cartografia de 1847


Esta cartografia[1] foi produzida por João José da Silva Teodoro e concluída em 1847. O original
encontra-se na Biblioteca Nacional. Fazendo um recorte no mapa, verifica-se que a cartografia
detalha os termos do Pomba, Presídio de São João Batista (atual Visconde do Rio Branco) e São
João Nepomuceno:

Figura 3 - Os termos do Pomba, do Presídio e de São João Nepomunceno em 1847

Figura 4 - No território de São João Nepomuceno, o distrito do Feijão Cru em destaque.

Procurando saber quem foram as pessoas que se estabeleceram no Feijão Cru[2], verifiquei que,
à exceção de uma das primeiras famílias que aqui se fixaram, todas as que consegui identificar
procediam de região agrícola. Donde se derruba um dos mais arraigados mitos da história de
Leopoldina, ou seja, de que os povoadores eram deserdados do ouro.
Voltemos ao mapa completo de João José da Silva Teodoro.
Figura 5 - Rio Paraíba do Sul na zona da mata mineira, recebendo o Pomba e seus dois principais afluentes: o Novo e o Xopotó

Além dos rios Paraíba do Sul, Pomba, Novo e Xopotó, e do Caminho Novo à esquerda, acima
destacamos as localidades de Ouro Preto, Presídio, Campos dos Goitacazes e Cantagalo.
Acrescentado o provável percurso do Caminho do Cantagalo [na cor vinho] mencionado em
diversas Cartas de Sesmaria[3] e aberto pelas tropas de Pedro Afonso Galvão de São Martinho
nas investidas de 1784[4] e 1786[5]. Pelo que nos foi dado apurar, o Caminho do Cantagalo foi o
trajeto utilizado pela maioria dos povoadores do Feijão Cru e serviu de base para uma estrada de
rodagem de São João del Rei a Cantagalo[6].

Figura 6 - Em verde a estrada Presídio-Campos

Prosseguindo, temos agora a Estrada Presídio – Campos dos Goitacazes[7], aberta por volta de
1812[8]. O trajeto desta estrada foi definido a partir de anotações colhidas em correspondência
de Guido Marliére, referências em Cartas de Sesmarias[9], em Spix & Martius[10] e em
Burmeister[11].
Segundo Helena Guimarães Campos[12],
O estudo dos caminhos é determinante para a compreensão dos processos históricos,
pois eles estão associados à exploração, ocupação e povoamento dos territórios [...] A
existência, a inexistência ou as condições dos caminhos traçam os rumos dos limites e
das possibilidades da história dos povos, que tem ou não seus territórios articulados
com outros.
Abordando as pesquisas realizadas sobre o Caminho Novo, o professor Ângelo Alves Carrara[13]
informou que os Diários de Viagem dos Soldados Dragões demonstram que havia um caminho
“vertebrador” e uma boa quantidade de variantes, sendo de notar que os soldados
eventualmente faziam o percurso de ida por um trecho e na volta utilizavam outra variante,
dando notícia precisa da distância entre cada parada que faziam.
Embora não tenhamos “diários de viagem” sobre os nossos caminhos, as referências encontradas
na cartografia que pesquisamos indicam que o Caminho do Cantagalo e a Estrada Presídio-
Campos dos Goitacazes também não eram uma via de percurso único. No caso do acesso a
Cantagalo, temos referências sobre alternativas existentes em 1858, quando a viajante Ida
Pffeifer o atingiu na altura da Aldeia da Pedra, hoje Itaocara[14].
Trilhando e abrindo novos caminhos, os povoadores do Feijão Cru foram ampliando sua área de
influência, conforme podemos verificar no mapa seguinte.

Figura 7- Na cartografia produzida por Halfeld e Tschudi, 1855, destacada a Vila Leopoldina.

Pensar os nossos antigos caminhos é fundamental para compreendermos a nossa história. Por
esta razão eu convido a todos para refletirem sobre a ocupação das áreas cortadas pelo Caminho
do Cantagalo e pela Estrada Presídio-Campos dos Goitacazes. De onde vieram as pessoas que
implantaram em nossa terra a lógica colonial? Quais eram as suas práticas culturais? Como se
alimentavam? Como supriam as necessidades básicas de suas famílias? Por onde escoavam a
produção? De que forma produziam riqueza?
Voltando o olhar para estes aspectos, as informações acumuladas nos fizeram chegar à imagem
abaixo, montada a partir de topografia disponível no Arquivo Público Mineiro[16].

Segundo Bloch[17], “textos ou documentos […] não falam senão quando sabemos interrogá-los”.
Para Le Goff[18] a “memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar
o passado para servir ao presente e ao futuro”. Nosso trabalho tem tido como objetivo resgatar
textos e documentos sobre a história de Leopoldina, analisando-os e divulgando-os para que
todos tenham acesso.

a) Nilza Cantoni
NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] TEODORO, João José da Silva. Carta Topographica dos Termos do Presidio, Pomba e S. João
Nepomuceno. 1847. Disponível na Biblioteca Nacional, Seção de Mapas, 2617.
[2] CANTONI, Nilza. Povoadores do Feijão Cru. In: História Social através da Genealogia.
Comunicação apresentada no 2º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo. São João del Rei:
21 agosto 2011.
[3] Carta de sesmaria consultada no Arquivo Histórico Municipal Professor Altair Savassi, de
Barbacena: MACHADO, José Joaquim Machado, Fundo PJ, Grupo 1SVC, Série AC. Caixa 42, Ordem
12.
Sesmarias consultadas no Arquivo Público Mineiro: Códice SC 275 [BRANDÃO, Manoel Carvalho
/ p. 164]; Códice SC. 352 [CARVALHO, Domingos Gonçalves de/ p. 73 v; MATTOS, Marcelino
Pereira de/ p. 74 v; NICACIO, Antonio Dutra/ p. 78 v]; Códice SC. 377 [ANNA Margarida/p. 119;
AZEVEDO, Manoel Ferreira de/p. 95; BAPTISTA, Joanna/p. 123; BARROS, Francisco Xavier de/p.
5; CARNEIRO, João Nepumuceno – sac/p. 136; CASTRO, Antonio José de/p. 93; CASTRO, Clara
Maria de Sá e/p. 106; CASTRO, Jacintho Manoel de/p. 126; CASTRO, Maria do Carmo de/p. 121;
CONCEIÇÃO, Maria Joanna da/p. 97; CONSTANCIA, Francisca/p. 107; CORREA, Je. Joaquim – sgt
mor/p. 48; FERREIRA, José Lopes/p. 149; FIGUEIREDO, Luiza Alexandrina da Mota e/p. 80; GAMA,
Francisco Xavier Monteiro da/p. 125; GAMA, Maria Balbina Monteiro da/p. 108; JOZÉ, Maria/p.
103; MARGARIDA, Eufrásia/p. 96; MATTOS, Matheus Herculano Monteiro da Cunha e/p. 124;
MONTEIRO, Francisca de Assis/p. 129; MONTEIRO, José Maria/p. 105; MONTEIRO, Lucas
Antonio/p. 92; MONTEIRO, Miguel Antonio/p. 102; MOTTA, José Luiz da/p. 81; OLIVEIRA, João
José/p. 138; PAULA, Barbara Marcelina de/p. 47; PIMENTEL, Alexandre Pereira/p. 43; PIMENTEL,
João Pereira alf./p. 42; SÁ, Ana Maria de/p. 120; SILVA, Francisco Antunes da/p. 140; SILVA,
Joaquim José da (tem.)/p. 137; SOARES, João Teixeira/p. 139; SOUZA, Fernando José de Almeida
e/p. 41].
[4] CARTAS do sargento-mor Pedro Afonso Galvão de São Martinho para Luiz da Cunha Meneses,
de São Manuel do Pomba, 12 de maio e 7 de agosto de 1784; da Margem do Paraíba, 22 de maio
e 10 de junho de 1784; do Porto Novo do Cunha, 5 e 18 de junho de 1784; do Sertão do Rio
Novo, 24 de junho de 1784. Disponíveis no Arquivo Público Mineiro, Coleção Casa dos Contos,
caixa 13, item 10266; caixa 3, itens 10060, 10061, 10071, 10072.
[5] CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. Os Sertões de Leste: achegas para a história da zona
da mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987.
[6] PLANTA da Estrada de Automóvel São João del Rei a Canta Galo, 1928. Disponível no Arquivo
Público Mineiro, Fundo Secretaria de Agricultura, SA – 263(10) e MAPA de saída dos gêneros
alimentícios de Cantagalo para Baependi, Sabará, Tamanduá, Barbacena, Pitangui, São João,
Jacuí, Vila Rica, Caeté, Vila do Príncipe e Campanha, 30 de setembro de 1819, Coleção Casa de
Contos, caixa 37, item 30094.
[7] PINTO, A. P. Mapa Topográfico do Povoamento da Ex-Vila do Presídio. 1854. Disponível no
Arquivo Público Mineiro, Fundo Presidência da Província, PP 012.
[8] Em correspondência. ao Presidente do Conselho da Província, datada de 07.01.1826, Revista
APM, vol. XI, pag 123, Guido Tomaz Marlière declara, sobre a Estrada de Minas aos Campos de
Goytacazes: “Esta utilissima Estrada desde que se abrio em 1812, pela authoridade do Exmo.
Governador e Capitão General Conde de Palma, não vio o menor concerto […] desde a Serra da
Onça, no Prezidio de S. João Baptista, até o Registro da Pomba nossa fronteira em hua extenção
de 33 leguas.” Afirma ainda que a estrada era utilizada pelos tropeiros para aprovisionar colonos
dosTermos de Mariana, Barbacena e Caeté.
[9] Sesmarias consultadas: Códice 352 [ARAUJO, Manoel (Marçal) José de/p. 39; CABRAL.
Francisco de Assis Ferreira/p. 60; CANDIDO, Antonio Gomes/p. 62; CANDIDO, Francisco de
Paulo/p. 61; COSTA, Antonio Pereira da/p. 43 v; COSTA, Salvador Pereira da/p. 44 v; FRANCISCO,
Antonio/p. 63; GODOY, Anna Joaquina de/p. 41 v; JARDIM, Manoel Roiz – sac./p. 39 v;
MACHADO, Antonio da Cruz/p. 55; MELLO, Manoel Ignacio de/p. 33 v; MONTEIRO, Francisco de
Assis Lopes/p. 34 v; MONTEIRO, João Procópio Lopes/p. 36; PICADO, José Marinho Lopes/p. 57
v; PINTO, Luiz Maria da Silva/p. 38; RIBEIRO, Diogenia Pereira (Izabel Dioguina Ribeiro Pereira de
Vasconcelos)/p. 46; RIBEIRO, Joaquim José Lopes Mendes – padre/p. 35; ROCHA, Candido
Joaquim da – sac./p. 32 v; SACRAMENTO, Joanna Umbelina Clara do/p. 37; UMBELINA, Anna
Roza/p. 62 v; VASCONCELLOS, Fernando Pereira de/p. 49; VASCONCELLOS, Joanna Jacintha
Pereira Ribeiro de Vasconcellos/p. 42 v; VELASCO, Francisco José Pereira de/p. 56]; Códice SC 363
[ARAUJO, Lucas José de/p. 114; COSTA, Joaquim Marques da/p. 137 v; FONSECA, Manoel Escorcia
da/p. 9 v; GOMES, Antonio José/p. 15; MOREIRA, Antonio Marques/p. 178; MOREIRA, Francisco
Antunes/p. 76 v; PIRES, Joaquim Correa/p. 73; VASCONCELLOS, Antonio Francisco/p. 8]; Códice
SC 377 [ALMEIDA, Manoel Carlos de/p.202; COURA, Manoel Barbosa/p.85; FERREIRA, Joaquim
de Freitas/p.165 ]. Disponíveis no Arquivo Público Mineiro.
[10] SPIX, Johann Baptista von e MARTIUS, Carl Friedrich von . Viagem pelo Brasil: 1817-1826.
São Paulo: Melhoramentos, 1976
[11] BURMEISTER, Herman. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980
[12] CAMPOS, Helena Guimarães. Caminhos da História: Estradas Reais e Ferrovias. Belo
Horizonte: Fino Traço, 2012. p. 15
[13] CARRARA, Ângelo Alves. O Caminho Novo em 3D. Comunicação apresentada no 3º Encontro
de Pesquisadores do Caminho Novo. Conselheiro Lafaiete: 30 jun 2012
[14] LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e a Serra. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 223
[15] HALFELD, Henrique Guilherme Fernando e TSCHUDI, Johann Jakob von. A Província
Brasileira de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998
[16] Cartas Topográficas das cidades de Cataguases, Além Paraíba e Ubá, produzidas pela
Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, publicadas pela Seção Cartográfica da
Companhia Melhoramentos, de São Paulo, em 1926 e 1927, folhas 18, 19, 20, 22 e 23.
[17] BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001. p. 79-80, 102-104
[18] LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5. ed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2003. p. 471Os
Caminhos do Povoamento e a Origem da Vila Leopoldina

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