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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

Ronilson Otávio Dutra Pereira

Ensaio sobre o filme “Que horas ela volta?”

São João del Rei


2019
ENSAIO

Ronilson Otávio Dutra Pereira1

O filme “que horas ela volta?”, com direção de Anna Muylaert, retrata o cotidiano de Val, uma
empregada doméstica interpretada por Regina Casé que sai do interior de Pernambuco e vai para São
Paulo em busca de mobilidade social deixando sua filha Jéssica, interpretada por Camila Márdila, com
a promessa de buscá-la quando conseguir “subir na vida”.
Após mais de uma década morando e trabalhando na casa de seus patrões, Val tem um salário
suficiente para cobrir as despesas básicas diárias dela e de sua filha que continua morando em
Pernambuco, enquanto seus patrões, uma típica família da elite brasileira dotada de vários privilégios,
dependem dela para praticamente todas tarefas domésticas.
Bárbara, a patroa de Val, é uma estilista aparentemente famosa e está sempre fora da casa cumprindo
seus compromissos enquanto Val, além de ser responsável por todas as tarefas de casa, cria o filho da
dona da casa que parece ter mais afeto pela empregada do que pela mãe.
Praticamente todos os temas estudados na unidade 3 das aulas de sociologia são abordados no filme.
Alguns com muita clareza, outros de maneira mais sutil.
Por exemplo, a diferença da condição sócio econômica da Val e de seus patrões, apesar dela morar
sob o mesmo teto que eles, ela dorme em um quartinho nos fundos, não tem direito a usar a piscina,
entre outros privilégios. Essa desigualdade de direitos e a estratificação social fica mais evidente com
a chegada de sua filha, que foi muito bem recebida na casa pelos patrões, mas depois causou um certo
conflito por usufruir de alguns privilégios que era somente dos donos da casa, como tomar sorvete e
usar a piscina.
A mobilidade social é revelada quando a filha de Val passa na primeira fase do vestibular. Cabe aí uma
reflexão sobre a meritocracia. Teoricamente, o filho dos patrões tinha muito mais condições de
conseguir uma vaga, pois estudou a vida inteira em escola particular fez cursinhos e afins, só que quem
consegue passar é a filha da empregada. Apesar dela ter passado na primeira etapa do vestibular e o
Fabinho não, os limites da meritocracia vêm à tona quando Fabinho anuncia sua ida para o exterior
para estudar em uma universidade conceituada, enquanto Jéssica tinha apenas uma chance que era a
de conseguir uma vaga na USP.
Confesso que com a chegada da Jéssica na casa, senti um pouco de repulsa de suas atitudes. Achei ela
bem invasiva e folgada. Mas com o desenrolar da trama, mudei de lado e passei a ficar do lado dela.

1
Graduando em Música
Refleti bastante sobre certas regras impostas pela sociedade, sobre os limites referentes ao que
podemos e o que não podemos fazer de acordo com a classe social ao qual pertencemos, que também
têm relação direta com o nosso capital econômico, cultural e social. Por exemplo, o capital econômico
de Jéssica e sua mãe está no mesmo nível, mas Jéssica teve mais oportunidades que a mãe e
desenvolveu maior capital cultural e social, tornando-a mais crítica e questionadora.
Saindo um pouco da sociologia e compartilhando um pensamento mais filosófico, termino
parafraseando Eduardo Marinho: “o rico é muito inseguro e isso é natural porque ele depende do
pobre para tudo. Não limpa sua sujeira, não faz sua comida, não conserta o pneu do seu carro, não
costura sua própria roupa. O rico é frágil, depende de segurança, depende de empregados..."

REFERÊNCIAS

MARINHO, Eduardo. Eduardo Marinho.avi. (10m38s). Disponível em:


<https://youtu.be/1hgZKHkG120>. Acesso em: 03 junho. 2019.

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