Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Koellreutter e Dalcroze Reflexoes Sobre
Koellreutter e Dalcroze Reflexoes Sobre
FLORIANÓPOLIS, SC
2014
2
FLORIANÓPOLIS, SC
2014
3
4
AGRADECIMENTOS
RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 82
INTRODUÇÃO
medida pude, na Oficina de Música para Cantores, alcançar estes objetivos de organização da
aula, tendo como suporte o modelo proposto por Swanwick (1979).
No segundo capítulo irei expor brevemente as concepções de educação musical de
Hans-Joachim Koellreutter apresentadas por Teca Alencar de Brito em seu livro Koellreutter
educador: O humano como objetivo da educação musical (2001), relacionando-as com as
repercussões práticas destas concepções nas tomadas de decisão como estagiário, relatadas
nos Planos de Aula e nos Protocolos.
No terceiro capítulo, proponho possíveis relações de minha atuação e prática no
estágio junto aos princípios desenvolvidos por Emile Jaques-Dalcroze, visando meu
aprofundamento e uma maior ampliação teórico-prática. A Rítmica Dalcroze será
contextualizada e apontada como possibilidade prática para a realização dos ideais propostos
por Koellreutter, uma vez que estes puderam me encaminhar, de minha parte mesmo que
intuitivamente, para a construção de um conceito onde educação e formação musicais
dirigem-se de mãos dadas com a percepção e a sensibilização do corpo.
No quarto capítulo, teço algumas reflexões a respeito do conceito de “método”
inserido na História da Música do Ocidente, uma vez que o identifico como termo central para
o entendimento das propostas de Hans-Joachim Koellreutter e de Emile Jaques-Dalcroze, bem
como para compreender tanto um quanto outro compositores como sujeitos históricos.
Finalizo este trabalho traçando breves considerações finais a respeito das reflexões
aqui propostas.
A relação entre teoria e prática pedagógica é um tema tanto instigante como polêmico
e atual e que, na música do mundo ocidental remete-nos a pensadores, filósofos e teóricos da
Grécia antiga, adentrando o início da Idade Média, com Boécio (ca. 480 – ca. 524).
Não caberia aqui apresentar um estudo filosófico-histórico sobre o embate entre teoria
e prática pedagógicas, embora entenda que uma das inquietações a qual permeou toda a minha
graduação seja justamente esta dicotomia, que pude vivenciar com profundidade em meu
estágio de final de curso. Segundo Viviane Beineke (2001, p. 88), esta relação é intensamente
discutida por educadores e pesquisadores e, na área da educação, “são apontadas lacunas entre
os processos de formação de professores e os problemas concretos que eles encontram na
realidade escolar”. Ainda segundo a autora, dessa problemática derivam-se muitos
questionamentos quanto à relevância dos conhecimentos presentes nos cursos de formação,
12
pela dificuldade em aplicá-los na prática de ensino. Nesse contexto, existe, muitas vezes, uma
polarização entre pesquisadores e professores, “como se os primeiros apenas ‘pensassem’ e os
segundos, apenas ‘fizessem’”. Dessa forma, a validade dos conhecimentos teóricos é
questionada por muitos professores, uma vez que os teóricos (pesquisadores) não participam
do “mundo prático”.
Esta distância entre o conhecimento teórico e o conhecimento prático se reflete na
dificuldade encontrada pelos estudantes de licenciaturas ao relacionarem ambos, enxergando
estes dois âmbitos como “mundos diferentes” e criando assim uma dicotomia entre os dois.
Conforme Beineke (2001, p. 88), esta dicotomia é reforçada pela ideia de que a teoria
deve ser aplicada na prática pelos professores para que, através da aplicação das teorias que
derivam do conhecimento científico, estes consigam resolver os problemas da prática. De
acordo com Gimeno Sacristan (1999, p. 23 apud BEINEKE, 2001, p. 88), tal pensamento
condiciona as relações entre teoria e prática, limitando o entendimento da interação entre
conhecimento e ação em educação.
Como aponta Beineke (2001), as teorias que são aprendidas na universidade são por
vezes desconsideradas pelos professores em formação por não conseguirem visualizar a sua
aplicação na prática.
Imerso neste paradoxo, a elaboração de um projeto de estágio que contenha
fundamentação teórica, se dá muitas vezes num processo de abstração. O aluno de graduação
nem sempre consegue relacionar a sua prática docente com o conhecimento já desenvolvido
por outros autores. Construir um projeto de estágio torna-se uma condição de ter que escolher
alguns autores para com eles dialogar num trabalho escrito. Esta acaba sendo, por vezes, uma
atividade meramente burocrática e que não ganha sentido real de reflexão, de embasamento,
de construção teórica e menos ainda de aprendizado, para o futuro professor.
Objetivando aproximar teoria e prática, Schon (1983; 2000 apud. BEINEKE, 2001, p.
89) desenvolveu a teoria da epistemologia da prática profissional, na qual o professor é
entendido como ativo e reflexivo, construindo assim também um conhecimento na reflexão de
sua prática. Segundo Beineke (2001):
pedagógica, caracterizando-se, portanto, como uma reorganização do que foi feito enquanto a
ação estava sendo executada; já as reflexões propostas no presente trabalho caracterizam-se
em “reflexão-sobre-a-ação”, pois foram construídas depois que a ação foi concluída, com o
professor “livre dos condicionamentos da prática”.
O relatório de estágio é construído ao longo do semestre com reflexões semanais a
respeito das práticas presentes nos Protocolos. Esta é já uma excelente oportunidade de se
relacionar teoria e prática. Deste modo, vejo que a reflexão após a ação, presente neste
trabalho, é de grande valia na medida em que se pode aprofundar as reflexões com maior
seriedade sobre os reais impactos que têm as concepções, as teorias, no âmbito prático.
Ainda a respeito da epistemologia da prática, Beineke (2001, p. 90) afirma que “o
professor é considerado um profissional que reflete criticamente sobre a prática e, a partir
dela, desenvolve conhecimentos próprios relacionados ao contexto em que atua, as suas
experiências e as suas concepções sobre educação”.
Porém, é preciso ressaltar que a “reflexão-na-ação” e a “reflexão-sobre-a-ação” são
reforçadas e enriquecidas quando construídas em diálogo com o conhecimento teórico. Como
afirma Gimeno Sacristan (1999, p. 54 apud BEINEKE, 2001, p. 94) “seria ridículo renunciar a
bagagem de informação acumulada, argumentando que o professor só se forma na prática,
mas seria igualmente errôneo esperar que todo esse conhecimento substituísse a prova da
experiência”. Desta forma, a prática e a teoria estão intimamente interligadas de modo que,
em diálogo, constroem novos conhecimentos.
Considerando, portanto, a dicotomia existente entre teoria e prática pedagógica, este
trabalho tem como objetivo analisar o relatório de estágio para verificar de que modo as
teorias, ou seja, a fundamentação teórica, as ideias preconizadas no Projeto estão presentes na
prática descrita nos Planos de Aula e Protocolos. Para além desta perspectiva, objetiva-se
também identificar quais “teorias” poderiam fundamentar a prática ocorrida e discutir os
possíveis encontros e desencontros entre as referências teóricas utilizadas. Desta forma, neste
trabalho objetiva-se, num âmbito mais abrangente, relacionar e aproximar a teoria e prática
pedagógica a partir de uma experiência teórico-prática.
ANÁLISE DE DISCURSO
realização do estágio, pude observar uma consonância entre minhas experiências de utilização
da movimentação corporal no aprendizado musical e o sistema de educação musical proposto
por Emile Jaques-Dalcroze: a Rítmica1. Esta proposta de educação musical é muito conhecida
no Brasil por “Método Dalcroze” (MARIANI, 2011, p. 27) e no próprio site do Institut
Jaques-Dalcroze (IJD) pode-se encontrar frequentemente a utilização da expressão “la
méthode Jaques-Dalcroze”.
Num primeiro contato com as propostas de Koellreutter e com aquelas de Dalcroze,
poderíamos identificar que o primeiro, por ser contrário ao “método” pedagógico musical,
seria reativo ao “Método Dalcroze”, por se tratar de um método pedagógico musical. Neste
caso, haveria uma incoerência de minha parte: num momento concordo com uma postura
“anti-método” de Koellreutter e em seguida proponho a utilização de um “método” para a
atuação em sala de aula junto aos alunos, com bases no “Método Dalcroze”. No entanto,
buscando compreender melhor como a palavra “método” ganhou significado para cada um
destes educadores musicais, e considerando os posicionamentos destes como discursos,
utilizando assim os princípios apontados por Eni P. Orlandi em seu livro Análise de Discurso
(2000), pude perceber que esta possível contradição se dá mais por um problema de palavras,
uma questão de como as palavras significaram e significam em contextos e experiências
históricas diferentes e ditas por sujeitos distintos.
De acordo com Orlandi (2000, p. 17), ao contrário da análise de conteúdo, que busca
compreender o que os textos querem dizer, a análise de discurso busca compreender como os
textos significam. Para Orlandi (2000, p. 42-43), “[...] podemos dizer que o sentido não existe
em si, mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-
histórico em que as palavras são produzidas. As palavras mudam de sentido segundo as
posições daqueles que as empregam”.
Além deste entendimento de que os discursos significam de formas diferentes
dependendo das posições ideológicas e sócio-históricas dos sujeitos, Orlandi (2000, p. 43)
afirma ainda que os discursos se inscrevem, cada um, numa formação discursiva específica,
numa ideologia, e desta forma se constituem em seus sentidos.
As palavras não têm um sentido nelas mesmas, elas derivam seus sentidos das
formações discursivas em que se inscrevem. As formações discursivas, por sua vez,
representam no discurso as formações ideológicas. Desse modo, os sentidos sempre
são determinados ideologicamente. (ORLANDI, 2000, p. 43).
1
Que será melhor apresentada no terceiro capítulo deste trabalho.
15
O sentido é assim uma relação determinada do sujeito – afetado pela língua – com a
história. É o gesto de interpretação que realiza essa relação do sujeito com a língua,
com a história, com os sentidos. Esta é a marca da subjetivação e, ao mesmo tempo,
o traço da relação da língua com a exterioridade: não há discurso sem sujeito. E não
há sujeito sem ideologia. [...] (ORLANDI, 2000, p. 47).
Não é vigente, na Análise de Discurso, a noção psicológica de sujeito empiricamente
coincidente consigo mesmo. Atravessado pela linguagem e pela história, sob o modo
do imaginário, o sujeito só tem acesso à parte do que diz. Ele é materialmente
dividido desde sua constituição: ele é sujeito de e sujeito à. Ele é sujeito à língua e à
história, pois para se constituir, para (se) se produzir sentidos ele é afetado por elas.
Ele é assim determinado, pois se não sofrer os efeitos do simbólico, ou seja, se ele
não se submeter à língua e à história ele não se constitui, ele não fala, não produz
sentidos. (ORLANDI, 2000, p. 48-49).
2
O Coral UDESC é um órgão setorial da Universidade do Estado de Santa Catarina coordenado pelo Professor
Sergio Figueiredo desde 2006, do qual participam tanto alunos e professores de diversos cursos oferecidos pela
UDESC, quanto pessoas da comunidade.
17
3
Somente a última atividade não contém seu Protocolo, devido à continuação da Oficina para além da data de
entrega do Relatório Final de Estágio para avaliação.
19
Holly (1989 p. 61-81 apud ZABALZA, 2004, p. 15) aponta diversos tipos de diários
em função da modalidade de narração que se emprega: Jornalística; Analítica; Avaliadora;
Etnográfica; Terapêutica; Reflexiva; Introspectiva; Criativa e Poética.
Identifico que foram exclusivamente utilizadas as seguintes modalidades de narração:
Reflexiva, quando tratei de aclarar as próprias ideias através do processo de escrita refletindo
sobre a prática; Introspectiva, quando o conteúdo do relato se voltou para meus próprios
pensamentos, sentimentos e vivências; e Criativa e Poética, quando os processos foram
relatados com caráter mais poético dando a possibilidade de se imaginar e recriar as situações
narradas.
Embora cada atividade tenha tido suas especificidades que demandavam necessidades
variadas de reflexão e, posteriormente, de escrita, pude observar que cada um dos Protocolos
ocupa em média uma página do documento. Os Planos de Aula, por sua vez, ocupam em
média duas páginas.
Nos Planos de Aula, ao lado das atividades, mesmo tendo posto por escrito as
estimativas de quanto tempo demandariam, no momento da aula, sempre agia com liberdade
para atender às demandas do momento, às necessidades dos alunos.
Como pude observar nas aulas das disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado
III e IV, em alguns campos de atuação de estágio, como em alguns corais e bandas, já existe
um trabalho desenvolvido pelo regente do grupo, com uma concepção definida de forma de
trabalho, atividades, metodologia, inclusive com repertório já definido, seja para uma
apresentação no fim do ano ou para a liturgia semanal na igreja. Nestes casos, o que se pode
observar é que, muitas vezes, o estagiário tem pouca liberdade de atuação, devendo seguir os
caminhos já apontados pela estrutura que já existe. A atuação destes acaba se resumindo a,
por exemplo, ensaiar determinadas músicas e/ou fazer aquecimentos, exercícios de técnica e
assim por diante. Isso ocorre em maior e em menor grau, conforme a liberdade e a
delimitação de atuação que o professor/regente do campo permite ao estagiário.
Em minha experiência enquanto estagiário, posso dizer que praticamente fui o próprio
professor da turma. Naturalmente, fui orientado pela professora Simone Gutjahr e
supervisionado pelo prof. Sérgio Figueiredo, que acompanharam o trabalho contribuindo com
suas experiências, mas tive grande liberdade para atuar conforme as minhas ideias, vontades e
concepções. Nas orientações e reuniões, recebia sugestões, mas nunca imposições. Percebo
que houve sintonia de ideias entre Simone, Sergio e eu, criando uma sincronia na qual
20
facilmente nos entendíamos, possibilitando uma atuação na qual os vetores apontavam para
possibilidades consonantes.
Vejo de forma muito positiva a liberdade que me foi oferecida, pois foi através dela
que tive a possibilidade real de construir um projeto de atuação amplo e que estivesse de
acordo com as minhas ideias, minhas vontades, com a linha de pensamento em educação
musical que havia construído até aquele momento no decorrer da minha formação. Sobretudo
enxergo esta liberdade que me foi oferecida por ambos os professores, como a principal
geradora de dúvidas e inquietações, o que pôde proporcionar na elaboração deste trabalho de
conclusão de curso, um aprofundamento, tanto nas linhas de pensamento da didática musical
com os quais sinto-me atualmente identificado, como ampliar meu horizonte de
questionamentos.
Este fator de liberdade possibilitou, por exemplo, que eu partisse do seguinte princípio
de Koellreuter: “Meu método é não ter método” (BRITO, 2001, p. 29). No início da Oficina,
eu não tinha de fato um método específico, uma forma clara de como trabalhar, não havia
clareza de quais atividades eu iria utilizar no decorrer do semestre. Objetivando ter o foco nos
alunos, decidi partir das suas práticas, seus saberes prévios e suas dificuldades. Busquei
“aprender a apreender dos alunos o que ensinar” (KOELLREUTTER apud BRITO, 2001, p.
18). E esta abordagem só foi possível porque tive apoio para assim fazê-lo.
De início, na construção do “esqueleto” da Oficina, utilizei o modelo C(L)A(S)P que
me serviu, desse modo, de base organizacional da estruturação das atividades dentro da
Oficina de Música para Cantores. Para apresentar as principais atividades desenvolvidas,
inicio a próxima seção com uma breve explicação sobre o modelo C(L)A(S)P.
C - Composition (composição)
(L) - Literature studies (estudos acadêmicos)
A - Apreciation (apreciação)
(S) - Skill acquisition (aquisição de habilidades)
P - Performance (performance)
21
4
Link da entrevista: http://revistaescola.abril.com.br/arte/fundamentos/entrevista-keith-swanwick-sobre-ensino-
musica-escolas-instrumento-musical-arte-apreciacao-composicao-529059.shtml acessado em 10 de Setembro de
2014.
22
musical partindo do fazer musical dos alunos, refletindo sobre alguns dos conceitos vindos do
músico e educador Koellreutter, que vê a educação musical através da “superação do
currículo fechado” e que, nesta superação, o educador musical busca “aprender a apreender do
aluno o que ensinar” (BRITO, 2001, p. 31). Mais adiante, na segunda parte deste trabalho, irei
expor algumas considerações sobre as posições de Hans-Joachim Koellreutter que serviram de
suporte conceitual para a construção da Oficina e, posteriormente, para a elaboração deste
trabalho de conclusão de curso.
considerei mais pertinentes. No segundo Registro, por exemplo, percebi ser necessário
construir o ritmo e a melodia da canção folclórica Marcha Soldado juntamente com a turma,
e esta atividade necessitava de bastante tempo, ocupando assim duas aulas inteiras. De forma
semelhante, a Composição ocupou praticamente todo o restante das aulas. Além disto,
entendi que as atividades de Apreciação que havia programado poderiam ficar “soltas” na
nova dinâmica que a Oficina havia tomado.
As atividades de Rodas de Dança serão melhor detalhadas na terceira parte deste
trabalho, uma vez que as relaciono com a Rítmica proposta por Emile Jaques-Dalcroze.
A técnica da Manossolfa, presente no Método Kodály, foi utilizada em atividades em
que os alunos se apropriavam da técnica para explorar as alturas, “reger”6 a turma ou
pequenos grupos, identificar padrões melódicos, realizar o solfejo a partir da minha
“regência” e da partitura, bem como relacionar com trechos do repertório. A técnica foi
introduzida aos poucos, iniciando com as notas mi e sol, e acrescentando a cada encontro uma
altura nova.
No primeiro Registro propus aos alunos que escrevessem, individualmente, conforme
a sua percepção, a melodia da música “Baião” de Edino Krieger (Apêndice B – Baião
(partitura)). Escolhi esta, dentre outras do repertório do Coral UDESC, por considerar como
sendo a mais singela melódica e ritmicamente. No segundo Registro, a mesma tarefa, só que
desta vez com a canção Marcha Soldado. Escolhi esta canção também pela simplicidade das
estruturas musicais e por trabalhar, justamente, com elementos musicais, em sua maioria, já
abordados na Oficina.
A partir da análise destes registros, e considerando as dificuldades do grupo na
realização dos mesmos pude traçar caminhos mais próximos da realidade de cada integrante
do grupo. No primeiro Registro identifiquei que o grupo não apresentava praticamente
nenhuma compreensão das estruturas mais básicas da notação musical. O segundo Registro
desencadeou, nos dois encontros que se seguiram, a construção em grupo da melodia da
música Marcha Soldado. O Registro mostrou a urgência de serem abordados vários
conteúdos relativos à escrita, direcionando a Oficina para este caminho.
Estava previsto no Projeto (MEURER, 2014, p. 7-8) que fossem realizados três
Registros: no início, no meio e no final do semestre. Porém, após o dois registros, optei por
fazer uma atividade especificamente de Composição que contemplasse os conteúdos já
6
Trata-se aqui de comandar um grupo para a performance de uma melodia improvisada e que é representada
pela Manossolfa.
25
Numa análise mais generalizada pode-se dizer que houve duas atividades que
exploraram a “atividade composicional”: a atividade de Improviso, e a de Composição,
ambas realizadas no fim do semestre, com o objetivo de consolidar os elementos musicais que
foram explorados ao longo do curso. Vejo que, tanto uma, quanto outra atividades puderam
favorecer, como afirma França (2002, p. 16), “o entendimento do funcionamento das ideias
musicais contribuindo, portanto, para tornar a performance mais coerente e consistente.”
A atividade de Improviso foi antecedida de uma exploração mais livre através da
Manossolfa da estrutura dó-mi-sol no próprio dia da atividade e no encontro da semana
anterior. Na improvisação, utilizei um padrão de acompanhamento de um trecho da música
“Boi de Mamão”, presente no repertório do Coral UDESC, para o grupo executar enquanto
um aluno improvisava. Terminado o trecho, todos cantavam outro trecho da Canção: “Eu
caio, eu caio, na boca da noite serenou eu caio” 2x (Apêndice B). O improviso consistia na
exploração melódica da estrutura dó-mi-sol utilizando a técnica da Manossolfa, buscando
utilizá-la agora sobre uma estrutura rítmica já definida.
Desta forma, fez-se uso do improviso como possibilidade criativa de domínio das
estruturas. De acordo com Janet Mills (1991, p. 31, apud FRANÇA, 2002, p. 10), “a
composição também pode promover um progressivo domínio da técnica e controle dos
instrumentos para realização do resultado musical desejado, pois ‘fortalece a associação entre
a ação e o som’”.
Na atividade de Composição, os alunos, em dois grupos, criaram efetivamente uma
canção cada um, a partir da escolha entre estruturas rítmicas já definidas e a utilização das
estruturas melódicas exploradas durante o semestre. Posteriormente, um grupo ensaiou e
26
apresentou a canção criada pelo outro grupo, tendo, portanto, a clareza e a precisão da escrita
musical como objetivos a serem alcançados.
Observo, no entanto que, além destes objetivos de âmbito técnico, um processo como
este, no qual articula-se necessariamente aspectos que envolvam a subjetividade dos alunos,
as suas vidas e experiências, pode tornar o aprendizado mais significativo. Conforme afirma
França:
Percebe-se que o aspecto criativo esteve presente não somente nestes dois momentos,
mas também de forma diluída, principalmente, ao longo das atividades em que se explorou as
estruturas melódicas utilizando a Manossolfa. Como visto anteriormente, nestas atividades
especificamente ligadas à Manossolfa, os alunos eram sempre solicitados a regerem a turma,
ou pequenos grupos, improvisando uma melodia. Inicialmente, com estruturas simples, os
alunos exploravam livremente as alturas e com isso buscou-se um envolvimento mais
significativo dos mesmos para com os conteúdos, de forma que os percebessem e
compreendessem. Por vezes, alguns padrões que se utilizavam das estruturas exploradas com
a Manossolfa eram postos no quadro e os alunos eram chamados a fazer alterações nos
mesmos, interagindo de forma criativa com os elementos musicais.
Como afirma Swanwick (1979, p. 43, apud FRANÇA, 2002, p. 9), “além de formar
compositores especialistas, a composição é uma ferramenta poderosa para desenvolver a
compreensão sobre o funcionamento dos elementos musicais, pois permite um relacionamento
direto com o material sonoro”.
De acordo com França (2002, p. 12), percebo que a Apreciação é uma forma legítima
e imprescindível de engajamento com a música. Através dela podemos expandir nossos
horizontes musicais e nossa compreensão, pelo fato de que Apreciação, da maneira como é
posta por Swanwick, está diretamente ligada à percepção e à sensibilização.
Em algumas das atividades de Apreciação a escuta foi direcionada para determinado
aspecto musical, porém noutras não houve sugestão inicial da minha parte. Após a escuta, o
grupo discutia a respeito do que ouviu, sendo estimulado por questões que eu lançava e que
27
para tal, faz parte do processo de formação de seres humanos sensíveis e reflexivos, capazes
de perceber, sentir, relacionar, pensar, comunicar-se”.
Ao traçar o caminho acima que descreve a minha opção em fazer uso do modelo
C(L)A(S)P proposto por Swanwick (1979), percebo que essa organização das aulas na Oficina
de Música para Cantores remete à trajetória posta por Hans-Joachim Koellreutter rumo à uma
pedagogia musical dos sentidos e à ampliação, através disso, da consciência. Mais adiante, no
segundo capítulo, proporei reflexões sobre o conceito da palavra “consciência”, tendo como
motivação o contato com os pensamentos de Koellreutter sobre educação musical para a
ampliação da consciência. Destaco já aqui que o significado de “consciência” que irei
empregar neste trabalho é originado em Awareness, palavra inglesa que se refere à
consciência que perpassa os limites do intelecto e que brota da percepção corpórea. A partir
desta concepção, sinto-me apto a pensar numa didática da música em que a sensibilização, a
percepção física e a geração do movimento do corpo passam a ser núcleo da didática e da
performance musical, como proposto pela Rítmica, sistema de educação musical
desenvolvido por Emile Jaques-Dalcroze, que será apresentado no terceiro capítulo deste
trabalho.
7
Performance, Etim. ing (1531), de to perform ‘alcançar’, ‘executar’ e, este, do fr. ant. parfourmer ‘cumprir,
acabar, concluir’, de former, ‘formar’, ‘dar forma a’, ‘criar’, do lat. formãre, ‘formar’, ‘dar forma’. (HOUAISS,
2001, p. 2.187).
29
como “embaixador da vontade do autor da obra” (DUNSBY, 1995, apud BITTAR, 2012, p.
xiii).
Segundo Bittar (2012, p. 129), no modus operandi da mentalidade do método
canonicista do século XIX “a performance restringe-se à habilidade em adequação ao treino
proposto pelo método, visando desempenho = execução. Busca-se o acerto, evitando-se, a
todo custo, o erro e o improviso (motivos para a desqualificação)”. Para Bittar (2002, p. 34),
“o aprendiz de música, atualmente, é formado dentro dos princípios do método do
Conservatoire, lentamente forjado no Iluminismo e na Revolução Francesa e, mais adiante e
de maneira efetiva, no cientificismo positivista ao longo do século XIX”.
Como afirma França (2002, p.13), a performance musical é tão frequentemente
associada ao virtuosismo instrumental e a salas de concertos que se chega a questionar a
validade do ensino instrumental com fins não profissionais. Visto que a formação musical
especializada ainda se orienta pela concepção de performance-desempenho8 e de
demonstração de desempenho técnico, vejo que o músico e educador musical deve estar
atento para seus modos de compreender a função da performance dentro da didática musical.
Mesmo não caminhando exatamente na mesma direção de Bittar (2012), França
aponta caminhos também mais significativos para a utilização da performance em sala de
aula:
As crianças devem ser encorajadas a cantar ou tocar a mais simples peça com
comprometimento e envolvimento, procurando um resultado criativo, expressivo e
estilisticamente consistente. Isso deve ser almejado por ser essa a única forma pela
qual a performance - em qualquer nível – pode-se tornar uma experiência
esteticamente significativa. (FRANÇA, 2002, p. 14).
8
Curiosamente o próprio editor de texto utilizado para a escrita deste trabalho sugere a troca da palavra
performance pela a palavra desempenho.
30
Juntamente com a ideia de que as diferentes modalidades do fazer musical devem estar
integradas num contexto de educação musical, o modelo C(L)A(S)P prevê que as
modalidades principais (composição, apreciação e performance) estejam equilibradas entre si.
Analisando a quantidade de encontros em que cada atividade foi realizada, pode-se
observar um desequilíbrio: as atividades de Rodas de Dança e Manossolfa, essencialmente
performáticas, foram muito mais exploradas que as de Apreciação ou mesmo de
Composição.
9
Quando ocorriam, geralmente derivavam de alguma dúvida do grupo ou de relação possível das atividades
práticas com o conhecimento mais teórico.
31
Porém há que se observar que, como afirma França (2002, p. 18), dentro da concepção
do modelo C(L)A(S)P, “o equilíbrio deve ser qualitativo, e não, quantitativo”. Ou seja: não é
a quantidade de tempo que é utilizado que deve ser equivalente entre as modalidades, mas a
qualidade das mesmas é que deve ser respeitada. Sendo assim, uma atividade de apreciação de
alguns minutos, por exemplo, pode sugerir uma continuidade na performance que dure
algumas aulas. Desta forma, cabe observar que o modelo C(L)A(S)P não determina que as
diferentes modalidades estejam todas presentes numa mesma aula, mas que ao longo do curso
o aluno tenha tido contato com as diferentes formas de se fazer música10.
Para compreender melhor o princípio de equilíbrio, penso ser necessária a
compreensão do princípio de interação entre as modalidades.
Enxergo, deste modo, uma interação natural entre as modalidades. Porém o modelo
C(L)A(S)P prevê que as atividades interajam entre si, de forma a darem suporte umas às
10
A disposição gráfica da sigla “C(L)A(S)P” também não determina a ordem em que as modalidades devem ser
experimentadas.
32
outras, evitando que a aula ou mesmo o curso seja uma “colcha de retalhos”, um conjunto de
atividades isoladas que não se comunicam.
Nos Planos de Aula e Protocolos pode-se observar uma atenção de minha parte para
com a interação entre as atividades: “Cheguei a pensar que a parte de apreciação ficou um
pouco desconectada, mas creio que não. Até porque a mesma música foi trabalhada em
seguida. São só formas diferentes de experiência com a música.” (MEURER, 2014, p. 17).
Isto se reflete num padrão observável nas atividades desenvolvidas que é o de abordar
um mesmo aspecto musical de diferentes formas. Isto se deu quando, por exemplo, propus
uma apreciação da música “Cravo e Canela” (MEURER, 2014, p. 30) sendo executada ao
vivo com uma métrica diferente do arranjo que os alunos cantavam no Coral UDESC, sendo o
primeiro organizado em compasso ternário e o segundo em compasso binário. Após a
apreciação, propus a atividade de Rodas de Dança de forma a explorar 3 opções de
organização/interpretação métrica (Apêndice D, Apêndice E e Apêndice F). E, no fim desta
atividade, pudemos relacioná-la com a escrita musical, indicando como ficariam distribuídas
as semínimas nos compassos de 2/4 e de 3/4. Deste modo, observei certa ampliação nas
possibilidades de compreensão e percepção permitindo uma proximidade com as diferentes
formas de aprender de cada aluno. Começar a atividade musical pela escuta ou pela
performance, enfim, pela vivência perceptiva da música e somente depois analisá-la e
intelectualizá-la através da escrita musical é um princípio de base da Rítmica Dalcroze, como
será melhor abordado mais adiante no terceiro capítulo deste trabalho.
As Rodas de Dança se relacionavam com as questões rítmicas de pulsação e
compasso. As práticas com a Manossolfa se relacionavam com as questões melódicas: alturas
e intervalos. Pude observar que as atividades da Manossolfa eram posteriormente
relacionadas com a notação musical, o que não ocorreu na mesma intensidade com as
atividades de Rodas de Dança. Tanto foi que percebi no fim do semestre que as questões da
notação rítmica estavam menos compreendidas.
Ora pelos conteúdos, ora pelo repertório, as atividades desenvolvidas durante o
semestre interagiam entre si. Além disso, o mesmo tipo de atividade era utilizado para
33
diferentes situações, músicas e conteúdos e, no meu entender, isso deu coesão e coerência à
proposta.
34
2 COMPREENDENDO KOELLREUTTER
11
“[...] além de regente consagrado, Scherchen foi um pensador, teórico, pedagogo, conferencista, escritor,
editor e um pioneiro da rádio.” (KATER, 2001, p. 45).
35
De acordo com Kater (2001), entre os anos de 1965 e 1969, Koellreutter viajou para a
Índia, onde fundou e dirigiu a Delhi School of Music, de Nova Delhi, estudou canto
(performance vocal), com Pandit Vineay Chandra, fundou a Orquestra de Cordas de Nova
Delhi (1966), além de ter se apresentado como solista (flauta), regido duas orquestras e
composto duas peças: Sunyata, para flauta, orquestra de câmara e fita magnética, e Advaita,
para sitar e tabla, com acompanhamento de orquestra de câmara.
Depois de ter morado também no Japão, no ano de 1975, Koellreutter retornou ao
Brasil, dando continuidade a suas aulas particulares de Composição, Harmonia, Estética e
Pedagogia Musical.
Observo que, nas falas e nos depoimentos de Koellreutter, são comuns as frases de
efeito com sentido amplo e que levam a pensar: “‘Ideias são mais fortes que preconceitos’,
‘Somos os primitivos de uma nova era’, ‘Os artistas-criadores são os arquitetos do espírito
humano', ‘Arte musical é o reflexo do essencial na realidade’” (KOELLREUTTER apud
BRITO, 2001, p. 14), “A música é, em primeiro lugar, uma contribuição para o alargamento
da consciência e para a modificação do homem e da sociedade” (KOELLREUTTER, 1997, p.
72 apud BRITO, 2001, p. 26), “É preciso aprender a apreender do aluno o que ensinar”
(KOELLREUTTER apud BRITO, 2001, p. 31).
Carlos Kater comenta, na apresentação do livro Koellreutter educador (BRITO, 2001,
p. 14) que tais expressões são “florescência de princípios” que norteiam o trabalho de
Koellreutter e que “se tornaram marcantes na postura e na direção profissional, senão mesmo
de vida, de várias gerações”. Desta forma, Koellreutter é reconhecido como “o grande mestre
de muitas gerações de músicos brasileiros”. (BRITO, 2001, p. 19).
Neste capítulo busco compreender e refletir sobre o pensamento de Koellreutter,
sobretudo, a partir de três posicionamentos que considero estruturantes: 1) O posicionamento
crítico e o questionamento constantes; 2) Aquilo que considera ser a “função” da educação
musical; 3) Sua postura: “É preciso aprender a apreender do aluno o que ensinar”12 (BRITO,
2001, p. 31).
algumas reflexões sobre os termos utilizados por Koellreutter que apontam, em meu entender,
em direção à “formação integral”.
[...] nos dias de hoje, o grande desafio da educação continua sendo atingir o ser
humano. Como a gente melhora o ser humano? O que temos de fazer da escola para
que o ser humano seja melhor e viva com plenitude? Essa é uma questão
absolutamente atual neste momento da educação brasileira. (FIGUEIREDO, 2012,
p. 90).
13
Vale considerar que ambos os autores, Teca Alencar de Brito e Carlos Kater, foram alunos de Koellreutter.
39
Através dos escritos de seus alunos e do próprio Koellreutter, entendo que em seu
pensamento o conceito de “formação integral” está diretamente ligado à ideia de
“alargamento da consciência”. Cabe comentar aqui que Koellreutter é fruto de uma época,
como todos o somos, e que determinados conceitos implícitos em seu discurso são reflexos de
uma mentalidade, de um discurso existente no mundo entre e pós-guerra. Dentre o grande
número de pensadores, psicólogos e pedagogos contemporâneos de Koellreutter que
trabalharam questões como “formação integral do ser humano” e “alargamento da
consciência” podemos citar brevemente: Carl Gustav Jung, Mme. Blavatsky, Rudolf Steiner,
Krishnamurti. A busca pelo “humano” na educação musical teve diferentes caminhos
apontados por muitos músicos que viveram entre o final do séc. XIX até meados do séc. XX e
mesmo aqueles que ainda viveram os primeiros anos do séc. XXI, como os compositores,
intérpretes e pensadores: Emile Jaques-Dalcroze (1862-1950), Carl Orff (1895-1892), Zoltán
Kodály (1882-1967), Béla Bartók (1882-1945), Paul Hindemith (1895-1963) – de quem
Koellreutter foi aluno em um curso de extensão.
[...] a possibilidade de dar atenção aos próprios modos de ser e às próprias ações,
bem como de exprimi-los com a linguagem.
[...] significado comum, de estar ciente dos próprios estados, percepções, ideias,
sentimentos, volições, etc., quando se diz que um homem “está consciente” ou “tem
consciência”, se não está dormindo, desmaiado, nem afastado, por outros
acontecimentos, da atenção a seus modos de ser e a suas ações. (ABBAGNANO,
2000, p. 185, grifo meu).
40
Desse modo entendo que para o autor Nicola Abbagnano (2000, p. 185), a palavra
awareness se refere ao uso comum do termo “consciência”, significando a possibilidade de
exprimir com a linguagem os “próprios modos de ser e às próprias ações”, sendo que esta
possibilidade é o próprio estado de vigília de quando se está acordado, diferenciando-se de
quando se está “inconsciente”.
Aproximando-me do termo consciência, em arte, encontro em manifestações e
conceitos tecidos a partir do “teatro pós-dramático”, em especial nos escritos do diretor e
encenador Jerzy Grotowski do teatro de vanguarda polonês. Grotowski apresentará
considerações diferentes quanto à aplicação do termo consciência, enquanto awareness:
“Awareness quer dizer a consciência que não é ligada à linguagem (à máquina de pensar),
mas à Presença”. (GROTOWSKI, 2001, p. 235 apud. BITTAR, 2012, p. 182).
Seguindo na mesma direção da performance em arte, a educadora corporal Neide
Neves, em seu livro “Klauss Vianna – Estudos para uma dramaturgia corporal” (2008, p. 38-
39) compreende awareness como estado de alerta “do corpo e de seus movimentos”,
considerando assim, a “[...] percepção, a prontidão ou a consciência [...] como condição
fundamental para a expressão. [...] Expressão de cada corpo num determinado momento; dos
recursos e da história deste corpo e não a repetição ou execução desatenta, que ele [Klauss
Vianna] identifica como forma desprovida de verdade e vida”. Segundo a autora, awareness,
“diferentemente de consciousness, é a experiência física, que lida com conteúdos diretamente
acessíveis; um estágio indispensável ao corpo para lidar com a informação. A consciousness é
o saber da awareness. [...]” (NEVES, 2008, p. 38-39).
Tanto para Grotowski (2001) quanto para Neves (2008) o termo awareness se refere à
“consciência” como estado perceptivo de “prontidão” ou de “presença” do corpo, justamente
porque compreendem que awareness dá início na percepção e que percepção é um processo
que se dá no corpo. Um corpo automatizado (adestrado) é um corpo inconsciente e, por sua
vez, a sua desautomatização, saindo do gesto cotidiano e do movimento técnico adestrado, é
que torna possível the awareness (BITTAR, 2012). Dessa maneira, entendo que awareness
diferencia-se claramente da visão de consciência como um processo da linguagem, da
“máquina de pensar”.
Mais que um conceito, este é um posicionamento filosófico que parte das experiências
dos autores nos campos do teatro e da dança de vanguarda, nos quais, a partir do século XIX,
as práticas corporais e o corpo ganham foco e novos sentidos. Não se trata do “uso comum”
do termo, mas uma concepção específica e conceitual, na qual o núcleo da formação do
41
performador que o direciona para uma formação integral e amplia a sua consciência, está no
corpo do performador.
Prosseguindo então com o significado do termo consciousness, conforme consta no
mesmo Dicionário de Filosofia (ABBAGNANO, 2000, p. 185), entendo que este se refere ao
uso do termo “consciência” na filosofia que “tem pouco ou nada a ver com o significado
comum [awareness]”. O significado de consciousness:
14
Disponível em: < http://www.ceaec.org/index.php?option=com_content&view=article&id=42&Itemid=20>.
Acesso em: 20 set. 2014.
42
No Yôga, temos quatro grandes linhagens que são: Tantra-Sámkhya (Yôga Pré-
Clássico – mais de 5.000 anos), Brahmácharya-Sámkhya (Yôga Clássico – século III
a.C.), Brahmácharya-Vêdánta (Yôga Medieval – século VIII d.C.), e Tantra-Vêdánta
(Yôga Contemporâneo – séculos XIX e XX). Cada linhagem possui uma
fundamentação filosófica (Sámkhya ou Vêdánta) e uma fundamentação
comportamental (Tantra ou Brahmácharya). [...] Já os ramos, em número
15
Refiro-me às diversas expressões religiosas e filosóficas orientais que têm entre si alguma semelhança, mas
que, ao longo de mais de 5 mil anos, cada uma foi desenvolvendo suas especificidades e não devem ser
entendidas como sendo uma única expressão religiosa e/ou filosófica. Faço aqui uma referência generalizada não
para colocar todas num único rótulo, mas simplesmente reconhecendo certa unidade no que diz respeito ao
discurso, à crença e a prática sobre a “expansão da consciência”, às práticas meditativas, ao controle da
bioenergia (como por exemplo: hinduísmo, zenbudismo, taoismo), que contrastam com a maioria das práticas
religiosas ocidentais.
16
DeRose é brasileiro e nasceu em 1944. Começou a lecionar no ano de 1960, aos 16 anos de idade, e inaugurou
sua primeira escola em 1964, tendo formado desde então mais de 5.000 instrutores no Brasil, Américas e Europa.
Com 25 anos de viagens à Índia e mais de 20 livros publicados, é o sistematizador do SwáSthya Yôga.
43
O Yôga com o qual tive certa aproximação é o SwáSthya Yôga que, segundo o Mestre
de Yôga Sérgio Santos (2003, p. 15), é uma sistematização do Yôga Pré-Clássico feita pelo
Mestre DeRose, sendo este um Yôga de linhagem Tantra-Sámkhya (matriarcal, sensorial,
desrepressor e naturalista). Nada garante a ancestralidade desta tradição, mas o que pode ser
percebido é um esforço em se remontar os primórdios do Yôga.
Estando dentro desta tradição, o Mestre de Yôga Sérgio Santos (2003, p. 18, p. 111 e
p. 115) conceitua o samádhi como um estado expandido de consciência (hiperconsciência ou
megalucidez) e de autoconhecimento, sendo uma meta específica que só pode ser alcançada
pelo ser humano através do Yôga. Segundo o mesmo autor (2008, p. 15), o Yôga, por sua vez,
“é qualquer metodologia estritamente prática que conduza ao samádhi”.
O “Yôga Sútra” é o texto básico do Yôga Clássico e é tido como um dos textos mais
importantes sobre Yôga. É um texto escrito em aforismos (sútras) no idioma sânscrito pelo
sábio Pátañjali, e, conforme DeRose (2006, p. 26), “sua importância foi muito grande, pois
graças a Pátañjali o Yôga passou a ser reconhecido pelos indianos de então como um
darshana, um dos seis pontos de vista da filosofia hindu”. Utilizo aqui o “Yôga Sútra de
Pátañjali”, uma tradução de DeRose (2006), na qual os sútras são apresentados de três
maneiras distintas: em sânscrito (originalmente em caracteres devanágari), a sua transliteração
para o alfabeto latino e, por último, a sua tradução/interpretação para o português.
Faço referência à definição de Yôga presente no segundo sútra do capítulo I deste
texto:
Ilustração 1 - O que é Yôga
Apesar de comumente o termo chitta ser traduzido como “mente”, DeRose (2008)
afirma que se trata de algo além da mente:
De qualquer maneira, DeRose (2008, p. 37) admite que se o praticante “parar as ondas
mentais”, ele controla o pensamento, e consequentemente, estabiliza a consciência. Estas
considerações teóricas de Yôga fazem referência a práticas de concentração mental, presentes
em técnicas e práticas corpóreas17 visando à meditação e, em estados mais avançados, ao
17
Tais práticas contemplam exercícios gestuais, exercícios de identificação e sintonização com arquétipos,
vocalização de mantras, exercícios respiratórios, purificação das mucosas, posições técnicas corporais
específicas, descontração e concentração.
45
18
Para os dois mestres de Yôga aqui mencionados, atingir o samádhi implica em muitos outros esforços noutras
práticas e isto está melhor descrito em seus livros, citando aqui o “Tratado de Yôga” de autoria de DeRose, o
mais completo.
19
“ETIM lat. conscientia,ae ‘conhecimento, consciência, senso íntimo’” (HOUAISS, 2009, p. 526).
46
Se, por um lado, na prática docente em meu estágio, para mim estava clara a ideia de
que não seria uma aula de Teoria da Música e nem de Percepção Musical, em suas formas
mais convencionais, nas quais o conteúdo estaria já pré-estabelecido, com metas e resultados
a serem atingidos, tinha também clareza de que pretendia partir sempre das experiências, das
vivências musicais dos coralistas/alunos com o repertório musical vivenciado no Coral
UDESC, como também das vivências musicais próprias de cada aluno. Por outro lado, não
sabia, de fato, quais atividades eu desenvolveria com os participantes da Oficina e, ao mesmo
tempo, não fazia sentido estabelecer um programa, sem ao menos conhecer os alunos.
Deste modo, posso afirmar que, no processo de educação musical, podemos partir de
ações musicais originadas em propostas trazidas pelo professor, como também por propostas
de experiências musicais trazidas pelos alunos, não se fazendo necessária uma imposição, a
priori, fechada em objetivos e metas de ordem estritamente teórico-abstratas, como esclarece
Brito, sobre o posicionamento de Hans-Joachim Koellreutter dirigido à didática da música:
Referindo-se ao livro Método de Edgar Morin (1999, p. 21), Brito (2001, p. 30) faz
uma relação com as considerações e propostas em educação musical de seu professor,
Koellreutter, que partem da experiência / pesquisa como fontes de toda a educação:
20
(BRITO, 2001, p. 31).
47
Edgar Morin [...] defende que o “método só pode ser formado durante a pesquisa”,
recorrendo, para salientar essa ideia, aos versos de Antonio Machado: “Caminante,
no hay camino, se hace el camino al andar”. [...] O mesmo conceito pode aplicar-se
à concepção de método pedagógico para Koellreutter (BRITO, 2001, p. 30).
Em minha atuação docente no estágio, através dos Registros elaborados pelos alunos
coralistas, pude identificar quais os entendimentos a respeito da notação musical dos mesmos,
tanto no início do semestre, quanto no meio, buscando assim partir das necessidades dos
alunos.
Nas vezes em que trabalhamos questões específicas de notação musical, procurava não
fornecer logo no início as respostas já prontas, explicadas, tabeladas. Sempre que possível,
incentivei os alunos a grafarem e a escreverem no quadro, para todos da classe, a maneira pela
qual percebiam determinados trechos das músicas que estávamos cantando no Coral e qual
seria a maneira mais apropriada para a escrita deste ou daquele trecho. Após a proposta de
escrita ser realizada, abríamos para a discussão em grupo sobre os resultados alcançados: se
estava satisfatória aquela maneira de escrita, se a escrita era clara e precisa; fazíamos,
coletivamente, uma avaliação do processo que envolvia desde a percepção auditiva, passando
pela grafia do que se percebia pela audição, até chegarmos ao processo de interpretação do
fenômeno grafado. Muitas das vezes o próprio grupo conseguia resolver as situações de
impasse, embora em algumas situações fazia-se necessária a minha intervenção. Somente
quando percebíamos coletivamente que algo ainda não estava claro o suficiente, é que
partíamos para uma informação ou para uma explicação, tendo como fonte, um ou outro
modelos teóricos e conceituais.
Adentrando mais e mais nas propostas didáticas expostas por Koellreutter, entendo
agora que as posturas por mim adotadas na Oficina de Música para Cantores são ressonâncias
das considerações do músico e didata Koellreutter, muitas delas geradas em sua reação ao
método musical oitocentista21, o qual sempre questionou e considerou ser tolheidor de todo o
processo de ensino e aprendizado da música, conforme expõe Brito:
A melhor hora para apresentar um conceito, ou ensinar algo novo, é aquela em que o
aluno quer saber. E o professor deve estar sempre atento e preparado para perceber e
atender às necessidades de seus alunos. [...] Não é preciso ensinar nada que o aluno
possa resolver sozinho. É preciso aproveitar o tempo para fazer música, improvisar,
experimentar, discutir e debater. O mais importante é – sempre – o debate e, nesse
sentido, os problemas que surgem no decorrer do trabalho interessam mais do que as
soluções. (BRITO, 2001, p. 32).
O professor [Koellreutter] sempre defendeu como fator principal a necessidade da
presença do “espírito criador”, princípio vital ao ambiente necessário ao ensino
artístico. Presos a métodos e modelos programados, educadores acabam por minar o
espírito criativo, vivo e curioso que habita nos alunos (BRITO, 2001, p. 30).
21
Considerações históricas sobre “método” serão apresentadas no quarto capítulo deste trabalho.
49
Por encontrar afinidade também nos poucos conhecimentos que tive em meu curso de
licenciatura em música aqui na UDESC, com a Rítmica Dalcroze, apresentarei neste capítulo,
inicialmente, uma breve contextualização histórica da vida de Emile Jaques-Dalcroze,
traçando posteriormente algumas reflexões a respeito do pensamento deste educador musical,
compreendendo a Rítmica Dalcroze como pertencente à classificação de “métodos ativos” de
educação musical (FONTERRADA, 2005). Apresento, mais adiante, a minha experiência
com a movimentação corporal na educação musical nas atividades de Rodas de Dança
propostas por mim no estágio realizado. Em seguida, traço breves considerações a respeito
das minhas experiências com movimentação corporal que fazem parte do caminho traçado até
a escrita do presente trabalho. Por fim, faço algumas considerações a respeito das bases da
Rítmica Dalcroze com a intenção de aprofundar meus conhecimentos sobre esta técnica ativa
e perceptiva.
Emile Jaques-Dalcroze22, educador musical suíço, viveu de 1865 a 1950 e foi iniciado
ao piano aos seis anos de idade. Segundo José Rafael Madureira (2007, p. 269), o nome
Dalcroze foi “criado e adotado profissionalmente por Émile Jaques [sic] que esteve sempre
envolvido pela música, arte que reunia os interesses mais caros de sua modesta família
burguesa.” De acordo com Madureira (2007):
[Jaques Dalcroze] foi um músico virtuose, celebrado pelas suas habilidades na arte
da improvisação ao piano num momento em que o jazz ainda encontrava-se em
gestação. Na qualidade de compositor, ele produziu uma obra musical completa:
óperas, cantatas, idílios, oratórios, concertos, sonatas, poemas sinfônicos, balés,
22
Devido a controvérsias quanto à escrita correta do nome (Émile-Jacques Dalcroze, Émile Jaques-Dalcroze
etc), adotei Emile Jaques-Dalcroze (sem acento agudo no Emile, sem a letra c em Jaques e com o hífen entre os
nomes Jaques e Dalcroze) conforme pode-se encontrar no site do ijd - institut jaques-dalcroze:
http://www.dalcroze.ch/index.php?option=com_content&view=article&id=53&Itemid=61. Sendo assim, sempre
que fizer citações diretas a outros autores manterei as diversas formas de escrita utilizadas sempre que necessário
com o termo [sic] para indicar a divergência para com o padrão aqui estabelecido.
51
noturnos, suites [sic], quartetos de cordas, peças para coral, peças para piano e
centenas de canções internacionalmente premiadas e traduzidas em diversas línguas.
A necessidade criativa ocupou sempre um lugar preponderante em sua vida, basta
observar a catalogação de sua obra musical que totaliza mais de 2 mil composições.
Foi o desejo em se tornar compositor que o impulsionou, aos 19 anos, a deixar a
Universidade de Genebra e buscar no estrangeiro os meios de realizar os seus
anseios como artista. Apesar das expectativas e de todo o investimento realizado, a
carreira como compositor não alcançou as dimensões almejadas. (MADUREIRA,
2008, p. 22-23).
Para Madureira (2008, p. 27), “Dalcroze não foi o único a investigar a potência
estético-filosófica do ritmo.” Segundo Edgar Willems (1954, p. v apud MADUREIRA, 2008,
p. 27), a redescoberta do ritmo foi a tônica de uma época: “O ritmo ganhou, na música do
século XX, uma importância capital. Por vezes ele acabou tornando-se objeto de um
verdadeiro culto”.
O “culto ao ritmo” não se limitou aos domínios dos compositores, envolvendo ainda
filósofos, médicos, artistas e intelectuais cuja idéia central repousava no desejo em
retornar aos ritmos da natureza, recuperar no ser humano a sua Eurritmia, um termo
que Dalcroze traduz como “um estado que assegura a todas as ações um perfeito
equilíbrio natural”. (MADUREIRA, 2008, p. 27).
Marisa Trench de Oliveira Fonterrada (2005, p. 109), afirma que “as grandes
transformações artísticas e científicas produziram os pedagogos da música no século XX”.
Segundo Mariani (2011, p. 28), as ideias de Jaques-Dalcroze podem ser melhor
compreendidas se considerado o contexto do pensamento pedagógico de sua época, as
52
tendências que surgiam na educação, “as quais caminhavam rumo a uma pedagogia ativa.
Essa pedagogia, conhecida como ‘escola nova’, passou a dar valor à experiência, chamando o
aluno a participar ativamente do processo de aprendizagem”.
Suas ideias surgem também num momento em que a dança sofre uma revolução: os
moldes fixos e já pré-estabelecidos do balé clássico, cujas bases encontram-se no sistema e na
forma da música tonal dos séculos XVIII e XIX (períodos alto-Barroco, Classicismo e
Romantismo), passam a ser questionados a partir dos movimentos da dança moderna, estes
por sua vez surgem concomitantes aos movimentos de ruptura ocorridos na música no final do
século XIX e início do século XX. Segundo Bittar (2012, p. 178-179), sobretudo no teatro,
tais rupturas ocorreram desde o Teatro e a Ópera de Moscou de Stanislavsky e a
“biomecânica” de Meyerhold, até os inúmeros movimentos do chamado “teatro pós-
dramático”, que invertem o eixo, primeiramente assentado na dupla autor-texto, e que passa
então para o eixo ator-corpo.
De acordo com Matteo Bonfitto (2011, p. 10), vê-se “nos países de cultura alemã um
movimento complexo no qual podemos reconhecer como eixo a ‘redescoberta do corpo’”.
Neste contexto, destaca-se a Köperkultur (cultura do corpo) “que levou a uma revolução da
mentalidade, do gosto e do uso da higiene” (BONFITTO, 2011, p. 10) e que “pretende uma
transformação do extremo racionalismo para uma consciência do corpo” (BITTAR, 2012, p.
147). É neste contexto que Jaques-Dalcroze entende a Rítmica como não tendo somente a
função de criar belos corpos, mas sim de “desenvolver a sensibilidade sufocada pelo
intelecto” (BONFITTO, 2011, p. 12).
23
Mais adiante, no quarto capítulo, proporei uma reflexão crítica a respeito do uso de termo “Método Dalcroze”
para se referir à proposta de educação musical de Jaques-Dalcroze.
53
Rythme/Der Rhythmus (O Ritmo) que teve grande circulação pela Europa nas
primeiras décadas do século XX. (MADUREIRA, 2008, p. 25-26).
De maneira crítica, Fonterrada (2005, p. 111-115) afirma que muitas ideias de Jaques-
Dalcroze estão impregnadas pelo pensamento romântico. Para a autora, pode-se observar em
seus textos, assim como é característica dos pensadores românticos, os sentimentos de
“melancolia” e de “utopia”. A “melancolia” se mostra na sua insatisfação com a situação da
sociedade de seu tempo, de maneira geral e mais especificamente uma insatisfação com as
escolas, cujas autoridades “não conseguiram ir além dos procedimentos rotineiros” e não
tomavam conhecimento das mais recentes e inovadoras teorias educacionais. O aspecto de
“utopia” se manifesta no entusiasmo, na convicção e na crença de que a sua proposta de
educação musical seria capaz de reverter o estado das coisas, uma vez que, se implantada,
proporcionaria “o pleno desenvolvimento das capacidades sensório-motoras, sensíveis,
mentais e espirituais da criança e, em consequência, de toda a população”. Madureira (2008)
acrescenta que:
Suas ambições [de Dalcroze] não eram nada modestas. Na juventude, sonhou em
ocupar um lugar no Panteão dos grandes compositores, ao lado de Bach, Mozart e
Beethoven, que ele considerava um “pai espiritual”. Na idade madura, convenceu-se
de que a Rítmica, sistema de educação musical por ele concebido, iria garantir a
redenção da humanidade, sensivelmente empalidecida devido aos novos modos
socioeconômicos de subsistência. (MADUREIRA, 2008, p. 17).
De acordo com Marisa Trench de Oliveira Fonterrada em seu livro De tramas e fios:
um ensaio sobre música e educação (2005, p. 163-165), durante o século XX, classifica-se os
54
Por método ativo entende-se uma educação musical pautada na experiência de vida,
na vivência prática, que aproxima a música e o educando, diferenciando-se, assim,
da prática tradicional do ensino de música, em que o contato do aluno com a música
se dá por meio da teoria e da técnica, com ênfase na compreensão racional de
conceitos, apartada da vivência musical. (MANTOVANI, 2009, p. 39).
24
“Os românticos decidiram criar seus próprios modelos clássicos, valendo-se da ideia muito especial de que a
música era um meio “autônomo”, “absoluto”. Assim, a música poderia passar de ofício a arte: poderia se tornar
“clássica”. Compositores tornaram-se heróis, promovidos ao status de gênios. Panteões musicais foram erigidos,
e fábricas de gesso produziram bustos de compositores, como os de tantos imperadores romanos antigos. Um
55
performance deste texto serem ambas realizadas através da figura de um “gênio”25 cultivada
no Romantismo, refletiu em posicionamentos de ruptura para com o sistema tonal / formal
ocidental, como também em diferentes maneiras de pensar o ensino e a performance da
música.
Fonterrada (2005, p. 107-108) afirma que parte dos “métodos ativos” chegaram a ser
introduzidos no Brasil nas décadas de 1950 e 1960 em alguns grandes centros e escolas de
música, mas que, “por uma série de circunstâncias, entre as quais a exclusão da disciplina
Música dos currículos escolares, substituída pela Educação Artística desde 1971 (LDB
n.5692/71), muitas dessas abordagens ficaram esquecidas [...]”.
O “método” proposto por Dalcroze, como afirma a autora Silvana Mariani (2011, p.
32-33), foi implantado em 1937 no Brasil no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de
Janeiro, mas tanto naquela ocasião, como na atualidade, não há escolas especializadas no
método no país. A proposta hoje é adotada apenas por alguns professores seguidores que
buscaram a formação no exterior, e que hoje oferecem ocasionalmente oficinas em festivais e
encontros de educação musical, como é o caso do brasileiro-suíço Iramar Rodrigues26.
Curiosamente, como afirma Regina Santos (2001 p. 7. apud MARIANI, 2011, p. 33),
no Brasil as “zonas de ressonância dalcroziana se instalaram nos territórios cênico-teatral e
musicoterapêutico e não repercutiram tão intensamente no meio pedagógico musical”. No
âmbito das terapias corporais, Madureira (2008) afirma que:
cânone de obras “clássicas” começou a se firmar, tendo as sinfonias de Beethoven como base. Essa maneira de
pensar, chamada canonicismo, foi o alicerce do movimento romântico desde seu início e representa uma
mudança fundamental na cultura musical do Ocidente. Uma expressão atual dessa atitude canônica é a
sobrevivência de várias instituições musicais fundadas no século XIX: editoras, jornais, orquestras, casas de
ópera e conservatórios.” (HAYNES, 2007, p. 5 apud SANTOS, 2011, p. 93).
25
Segundo Schlegel a definição de gênio desenvolve-se como a de “mediador entre o Infinito e o finito”
(ABBAGNANO, 1998, p. 481 apud BITTAR, 2012, p. 62); o Gênio, conforme é preconizado por Bergson, já no
século XX, “também é a encarnação do Absoluto destina-se a realizar o Absoluto no mundo.” (ABBAGNANO,
1998, p. 482 apud BITTAR, 2012, p. 62).
26
“Iramar Rodrigues graduou-se em piano pela Universidade Federal de Uberlândia, foi professor na Escola de
Música da Universidade Federal de Goiás e, algum tempo depois, conquistou na Suíça o certificado de
rythmicien. Há mais de 30 anos Iramar Rodrigues se ocupa da formação musical de crianças, jovens e
profissionais nas mesmas salas ocupadas por Dalcroze no Instituto Jaques-Dalcroze de Genebra, situado na rua
Terrassière, número 44, inaugurado em 1915.” (MADUREIRA, 2008, p. 5).
27
Gerda Alexander foi a responsável pela elaboração do conceito de Eutonia que, voltando-se para a cultura dos
helenos, “recuperou o termo eutonia (ευτονία), no sentido de um ‘tônus justo’ ou ‘tônus equilibrado’. [...] Tonus
é uma variação latina para τονος (do grego clássico: tensão). Originalmente, o termo τονος foi empregado como
tensão relativa às cordas da lira. Afinar as cordas de um instrumento musical significa ajustá-las numa tensão
precisa, para que possam vibrar na freqüência adequada à sua tonalidade original (harmônicos). Tal qual um
56
[...] a referência à sua pessoa e à sua obra limita-se ao formato enciclopédico – notas
de rodapé – que em nada contribuem para o entendimento estético-filosófico de seu
pensamento. Se não bastasse a insuficiência de dados concretos, as citações
apresentam-se num conjunto de informações vagas e contraditórias. (MADUREIRA,
2008, p. 3).
Se, neste trabalho de conclusão de curso, considero a Rítmica como abordagem prática
possível perante os posicionamentos conceituais de Koellreutter, percebo que, mesmo sem ter
tido contato especificamente com a Rítmica, este foi um caminho naturalmente iniciado por
mim já na experiência docente. Afinal, enxergo que numa ideologia de recusa ao “método”,
da busca pela expansão da consciência, da mudança do ser humano e da valorização das
experiências dos alunos, o caminho mais coerente seria o da exploração da vivência
perceptiva. Desta forma, entendo a abordagem de Dalcroze de uma educação musical a partir
instrumento musical, o corpo, constituído por feixes de músculos, precisa ser afinado numa tensão adequada,
numa Eutonia, que é justamente o ponto de equilíbrio entre a hipertonicidade e a hipotonicidade que se
constituem como disfunções psicofísicas.” (MADUREIRA, 2008, p. 35-36).
57
Em formato de círculo e de mãos dadas, o grupo inteiro caminha para frente, para trás
e para os lados, conforme a indicação do professor que elabora uma “coreografia” para cada
música. A coreografia é composta pela combinação de determinada quantidade de passos para
determinadas direções numa sequência específica, mantendo o caminhar na pulsação da
música em questão. Uma quadratura de dezesseis compassos de quatro tempos cada pode ser
representada, como exemplo, com 4 passos para a direita, 4 para a esquerda, 4 para frente e 4
para trás, retornando, assim, ao ponto inicial e recomeçando a contagem. Desta forma,
desenvolve-se a percepção de pulso, compasso, frase e forma.
Cabe aqui o detalhamento de uma escolha minha com relação à contagem dos pulsos
na caminhada: o primeiro pulso é representado pelo movimento de uma das pernas, em
qualquer uma das direções, e o segundo pulso pelo “recolhimento” da outra perna na mesma
direção, de forma que os pés terminem juntos. Sendo assim, a contagem se dava sempre em
pares, juntando, portanto, as pernas a cada dois pulsos. Isto dá ênfase às acentuações naturais
dos pulsos ímpares, considerando as pulsações pares como que consequências das primeiras.
A execução, dá-se na prática de forma mais simples do que parece e percebo sua utilidade nos
compassos binário e quaternário. Quando enfrentamos os compassos quinário e ternário, optei
pela mudança na forma de caminhar: os passos marcavam com autonomia os pulsos,
cruzando-se uma perna na frente da outra, no caso da caminhada para as laterais.
58
Coerente com a proposta inicial da oficina, parti do repertório que os alunos entraram
em contato nos ensaios do Coral UDESC: Climbing’up the Mountain (cujo refrão contém
exatamente a estrutura exemplificada acima) (Apêndice G); Baião de Edino Krieger
(compasso binário, com duas possibilidades de percepção e compreensão da forma)
(Apêndice H e Apêndice I); Cio da Terra (alternância entre os compassos binário, quaternário
e quinário) (Apêndice I); Cravo e Canela (experimentando três possibilidades de
interpretação: ternária, binária e a combinação das duas) (Apêndice D, Apêndice E e
Apêndice F).
As atividades se davam nas seguintes possibilidades: contando os tempos de cada
compasso, em silêncio, cantando a música ou ouvindo uma gravação.
Meu interesse pela busca da relação da música com o movimento corporal foi
reforçado por algumas experiências durante minha formação acadêmica que estiveram
relacionadas a encontros com algumas pessoas em alguns cursos de curta duração e em uma
montagem artística que ocorreram dentro da universidade: o contato com a
atriz/dançarina/cantora Barbara Biscaro, assistindo suas apresentações, trocando ideias,
participando de alguns de seus ensaios, e, mais intensamente, sendo dirigido por ela na
experiência cênica como “Narrador”, personagem criado para a montagem O Fantasma da
Ópera em 2012; a participação na oficina “O Corpo Musical” ministrada por Jean-Jacques
Lemêtre (integrante e compositor da companhia francesa de teatro Théâtre du Soleil) em
2013; a participação nas disciplinas de “Técnicas de Dança I e II” ministradas
respectivamente pelas professoras Jussara Xavier e Sandra Meyer do curso de Licenciatura
em Teatro também em 2013; o cuidado cênico nas performances musicais das disciplinas de
“Expressão Vocal I, II, III e IV” em 2012 e 2013 ministradas pela professora Alicia Cupani.
Percebo que essa abordagem do ritmo que parte da movimentação corporal utilizada
por mim na Oficina de Música para Cantores é também influência do contato com os livros
Rítmica (1999) e Rítmica Viva (2008) do brasileiro José Eduardo Gramani28 nas aulas de
28
“José Eduardo Gramani nasceu em Itapira, São Paulo, em 20 de março de 1944 e faleceu em Campinas em
1998. Músico talentoso, cedo rumou para São Paulo, onde teve aulas de violino com Moacir Del Picchia,
atuando como músico profissional em diversas orquestras e grupos de câmara. Iniciou seu trabalho pedagógico
na Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS) [...]. Em 1975 foi convidado pelo maestro Benito Juarez
para participar da renovação da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, exercendo funções de destaque
nesta instituição, como concertino, spalla e solista, até 1983. Neste ano, deixou a orquestra para se dedicar
integralmente às suas atividades como professor de rítmica e percepção musical na Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), e a atuação em grupos de câmara diversos e, posteriormente, regente, compositor e
arranjador.” (FIAMMENGHI, 2008, p. 179).
59
Percepção Musical. Para Madureira (2008, p. 4), é possível encontrar na obra de Gramani
vários passos de uma tradição fundada por Jaques-Dalcroze:
Este livro foi escrito aos alunos dos cursos de Rítmica do Instituto Jaques-Dalcroze
e às escolas que tenham adquirido o direito de ensinar a Rítmica. Seu objetivo é
auxiliar os alunos na recapitulação e análise das noções desenvolvidas durante os
estudos experimentais. A Rítmica, antes de mais nada, é uma experiência pessoal.
Os leitores deste livro, que não estão dispensados dessa experiência conduzida por
um professor autorizado, não podem pretender ao direito de ensinar este método.
Ainda mais existindo, entre a Rítmica corporal e a música que a regula no tempo e
no espaço, íntimas relações cujo estudo não se encontra neste volume. Ademais, os
leitores não encontrarão aqui qualquer instrução sobre a maneira de se conquistar as
faculdades de improvisação ao piano sem as quais o ensino da Rítmica é impossível.
(JAQUES-DALCROZE, 1916, p. 5 apud MADUREIRA, 2008, p. 74).
Dalcroze alerta-nos, portanto, que não é possível compreender seu método através de
livros, e que, para tanto, faz-se necessário vivenciar na prática as propostas coordenadas por
um rythmicien. Assim, podemos dizer que Dalcroze parte da performance da música do
começo ao fim, no ensinar e no aprender da música. Mesmo que fosse possível conhecer
verdadeiramente a proposta através de textos, os livros e materiais didáticos elaborados por
Jaques-Dalcroze, ou por seus alunos, estão traduzidos somente para o inglês, o italiano e o
alemão e não existe sequer um texto de Dalcroze traduzido em português (MADUREIRA,
2008, p. 3). O material mais completo que encontrei em português a respeito da Rítmica é a
apostila “A Rítmica de: Emile Jaques-Dalcroze – Uma Educação por e para a Música”
elaborada pelo professor Iramar Rodrigues e disponibilizada por ele aos participantes da
oficina “A Rítmica Dalcroze”29. A apostila, com 75 páginas, contém a vida e a obra de
Dalcroze, os princípios fundamentais, propostas didáticas, os objetivos e as finalidades da
Rítmica Dalcroze e diversos exercícios práticos, bem como as partituras das músicas
utilizadas na respectiva oficina.
Desse modo, encontra-se grande dificuldade de acesso à prática da Rítmica atualmente
no Brasil, e, portanto, uma dificuldade em escrever sobre esta prática. Até o término do
processo de escrita deste trabalho, o único texto em português que se dedica a ilustração de
atividades práticas de Rítmica é o capítulo “Émile Jaques-Dalcroze [sic]: a música e o
movimento” escrito por Silvana Mariani presente no livro “Pedagogias em Educação
Musical” (2011). Ainda assim, trata-se de atividades elaboradas pela autora a partir da
29
Ocorrida em Caxias do Sul/RS de 16 a 19 de Outubro de 2014.
61
experiência que teve como estagiária no Institut Jaques-Dalcroze (IJD). Antes das
exemplificações práticas, Mariani (2011) faz apontamentos amplos das diretrizes da Rítmica:
O próximo passo foi ornamentar as marchas com movimentos dos braços. Para cada
tempo do compasso havia um gesto correspondente. Dalcroze apropriou-se das
convenções preestabelecidas da regência, em especial para os compassos básicos
(binário, ternário e quaternário), alongando um pouco mais os movimentos do braço
até a extensão ou flexão total dos cotovelos. Dalcroze não negligenciou os
compassos divididos em 5, 6, 7, 8 e 9 tempos, pouco usuais no ensino de música,
criando para estes novas seqüências de movimento.
[...]
62
Segundo Mariani (2011, p. 32), para Jaques-Dalcroze o movimento corporal tem uma
dupla função: “a manifestação visível de elementos musicais experimentados pelos sentidos,
pensamentos e emoções, ao mesmo tempo em que é estratégia para aperfeiçoar a consciência
rítmica através da expressão”.
Na Rítmica, a atividade de solfejo ganhou um caráter de “dança”. De acordo com
Madureira (2008, p. 13), “a Plastique Animée é um dos fundamentos da Rítmica de Jaques-
Dalcroze, podendo ser imaginada como solfejo corporal, ou seja, uma leitura da escrita
musical realizada através de gestos corporais”.
30
A Manossolfa é um recurso de aprendizagem presente no Método Kodály no qual cada altura possui um gesto
correspondente.
64
De acordo com o violinista brasileiro Luis Otavio de Sousa Santos (2011, p. 5), a
forma de ensino musical do período anterior ao século XIX, se deu por milhares de anos por
meio da antiga tradição de ensino dos artesãos: a relação mestre-aprendiz, como exposto a
seguir:
[os tratados] São os documentos musicais que relatam e descrevem uma práxis
específica de um instrumento ou da utilização prática de uma teoria musical,
normalmente escritos com caráter autoral e individual. Podem eventualmente se
chamar essay ou mesmo méthode, porém o que os define é o descompromisso com
uma lógica pedagógica progressiva e autossuficiente. Por isso, eles podem ser
ambíguos, repletos de lacunas e com opiniões autorais a respeito de determinados
temas. São frutos de um pensamento artesanal, com a intenção de registrar o métier
do autor, mas, para atingir a sua completude, sempre dependentes dos segredos
implícitos e não revelados pelo mestre. (SANTOS, 2011, p. 3).
66
Reforçando esta visão, a flautista Valeria Bittar (2012, p. 21) completa que esta
pedagogia artesanal foi substituída pela instituição do ensino de música padronizado, a partir
dos ideais de igualdade e acesso universal ao conhecimento, ditados pela Revolução Francesa.
Neste período:
Segundo Bittar (2012, p. 128), é possível tomar posição, mesmo hoje em dia, que na
didática metodológica da performance musical, especificamente, a mentalidade do método
conservatorial tem seu modus operandi no controle técnico, a partir do controle corpóreo,
como observamos nas seguintes afirmações:
Sob essa ótica, entendo que o professor de música necessita traçar um caminho em
direção ao conhecimento e à experiência das mais diversas formas existentes de se trabalhar
com a educação musical e ainda estar aberto e atualizado para a ampliação e criação
constantes de seus próprios modos de ensinar.
Em meu entender, a alienação quanto à história da educação musical, o desinteresse, a
indiferença e a ignorância para com os “métodos ativos” de educação musical podem
contribuir para o fechamento, para a limitação e para a imposição muito mais que as
estruturas rígidas de alguns métodos, pois considero que para “abrir, transcender, transgredir,
ir além”, enfim, para superar o método, é preciso conhecê-lo.
Seguindo esta reflexão a respeito dos “métodos ativos” e o impacto do pensamento de
Koellreutter na formação dos futuros educadores musicais, reforço que, como já mencionado,
compreendo que o conceito de “método” utilizado por Koellreutter se refere à mentalidade
rígida do método conservatorial e não necessariamente aos “métodos ativos” de educação
musical.
Deste modo, irei refletir criticamente na próxima seção sobre o uso do termo “Método
Dalcroze” para se referir à “Rítmica”, considerando que a proposta de Jaques-Dalcroze se
difere em muito da mentalidade de la méthode.
Dessa forma, proponho uma reflexão crítica a respeito da utilização do termo “Método
Dalcroze” para se referir à Rítmica, observando a ideia central da Rítmica como “negação de
um modelo pré-estabelecido” e como “experiência pessoal” (MADUREIRA, 2008, p. 36).
Nas obras consultadas, percebe-se que são usados diferentes termos para se referir à
proposta de Dalcroze: “Método Dalcroze” (MARIANI, 2011, p. 27); “sistema de educação
musical – denominado Rítmica (Rythmique)” e “Ginástica Rítmica ou simplesmente Rítmica
(Rythmique)” (MADUREIRA, 2008, p. XII e p. 3); “Pedagogia Dalcroze”, “Rítmica” e
“Rítmica Dalcroze” (MANTOVANI, 2009, p. 15, p. 18 e p. 41); “método chamado
31
‘eurritmia ’” (SUQUET, 2009, p. 515), “Dalcroze Eurhythmics” são alguns exemplos.
Segundo Madureira (2008, p. 73), Dalcroze se referia a seu sistema de educação
musical como “Ginástica Rítmica”. Porém, “para evitar confusões com outros sistemas de
ginástica fundamentados no ritmo, Dalcroze passou a denominar o seu método simplesmente
de Rítmica (La Rythmique).”
No entanto, mesmo não usando o termo “Método Dalcroze”, o próprio Jaques-
Dalcroze refere-se indiscriminadamente à Rítmica como “meu método” (MADUREIRA,
2005). Compreendo que é justamente por estar inserido num movimento de transição, que
Dalcroze não vê problema algum na palavra método, visto que as discussões a respeito da
“mentalidade do método”, por exemplo, são recentes (SANTOS, 2011; BITTAR, 2012).
Penso que, atualmente, o uso da palavra “método” está diretamente relacionado à
necessidade encontrada pelos criadores e difusores de algumas propostas de educação de
registrar as suas marcas (trademark) de forma que estas tenham grande impacto comercial no
“mercado da educação”. A palavra Method, neste caso, dá força às patentes de marcas, uma
vez que faz referência a algo que está bem estruturado e que tem comprovada eficácia.
Seguem alguns exemplos de utilização do termo método por algumas propostas de “métodos
alternativos” de educação e conscientização corporais na trademark: “Método DeRose”,
“The Feldenkrais Method of Somatic Education”, “Rolf Method Body Work”, “Método
GDS” – aqui, no caso, todos métodos de educação somática.
31
Neste caso, conforme afirma Madureira (2008, p. 3), a Rítmica, a proposta de educação musical de Dalcroze, é
confundida com a Euritmia, uma técnica de movimento corporal que nasceu como uma das muitas ferramentas
pedagógicas da Antroposofia e da Educação nas Escolas Waldorf construída por Rudolf Steiner. Conforme pude
confirmar pessoalmente com o professor Iramar Rodrigues na oficina “A Rítmica Dalcroze” em Caxias do
Sul/RS, esta confusão se deve a uma tradução errônea de Rythmique (do francês) para Eurhythmics (em inglês).
71
32
Disponível em: <http://www.dalcroze.ch/index.php?option=com_content&view=article&id=53&Itemid=61>.
Acesso em: 27 ago. 2014.
33
Num dos intervalos da oficina “A Rítmica Dalcroze” ocorrida em Caxias do Sul/RS de 16 à 19 de Outubro de
2014.
72
“método” já está incluída no mesmo “pacote” de significados das ideias que precisavam ser
superadas da música tradicional ocidental, significando, de antemão, um conceito que remete
a algo ultrapassado. Já Dalcroze está inserido historicamente no início do século XX, o que o
coloca numa relação diferente com as transformações que a música ocidental estava
enfrentando e com os significados e repercussões contrárias à sua postura que a palavra
“método” poderia desempenhar futuramente. Relacionando com Orlandi (2000):
Se toda vez que falamos, ao tomar a palavra, produzimos uma mexida na rede de
filiações dos sentidos, no entanto, falamos com palavras já ditas. E é nesse jogo
entre paráfrase e polissemia, entre o mesmo e o diferente, entre o já-dito e o a se
dizer que os sujeitos e os sentidos se movimentam, fazem seus percursos, (se)
significam. (ORLANDI, 2000, p. 36).
De acordo com Brito (2001, p. 41), Koellreutter propunha uma educação musical
como um meio “que tem a função de desenvolver a personalidade do jovem como um todo
[...]”. Por sua vez, no início do século XX, Emile Jaques-Dalcroze já preconizava um conceito
mais abrangente de educação musical que buscava a direção de uma educação integral. Como
afirma Fonterrada (2005):
Penso que podemos encontrar e construir uma ponte, uma ligação entre as tomadas de
posição de Jaques-Dalcroze e os conceitos expostos algumas décadas depois pelo músico
alemão Koellreutter, principalmente no tocante à função da educação musical como
possibilidade de desenvolvimento integral do ser humano: “O humano, meus amigos, como
objetivo da educação musical” (KOELLREUTTER, 1998, p. 45 apud. BRITO, 2001, p. 42).
apenas “eu sei”, mas “eu sinto”, e depois, cultivar neles um desejo de auto-
expressão.” (JAQUES-DALCROZE, 1917, p. viii apud MADUREIRA, 2008, p. 70).
Ainda, segundo Dalcroze (1948):
O ensino tradicional da música geralmente começa pelo estudo dos sinais que
servem para anotar as melodias, os ritmos, os valores e os acordes. Não seria mais
lógico fazer o contrário, ou seja, estudar a notação somente no momento em que o
ouvido tenha aprendido a apreciar as relações entre as sonoridades, suas associações,
valores e nuances? Não seria estranho ensinar a criança a escrever antes que ela
saiba falar? (JAQUES-DALCROZE, 1948, p. 170 apud MADUREIRA, 2008, p.
69).
Dalcroze não tinha a pretensão de que a Rítmica fosse autossuficiente, ou mesmo que
tivesse como meta final o desempenho virtuosístico, mas compreendia que o seu “método”
tinha uma “técnica particular”.
Na verdade, a Rítmica possui, com toda certeza, uma técnica particular. No entanto,
as relações que estabelece com a arte coreográfica não são suficientes para garantir o
seu virtuosismo. Nosso sistema de solfejo também não é completo o bastante como
técnica vocal destinada aos cantores profissionais, assim como os nossos estudos de
improvisação não podem dispensar as técnicas especializadas de piano. A Rítmica
não é, do ponto de vista corporal, uma arte para virtuoses, ela é uma preparação para
as artes especializadas. Ela realiza a educação do sistema nervoso, suaviza os
músculos em todas as nuances de energia e duração e regula os movimentos
corporais naturais no tempo e no espaço (JAQUES-DALCROZE, 1926, p. 2 apud
MADUREIRA, 2008, p. 30-31).
A maior parte dos professores do colégio, desde a tenra idade, impunha-nos deveres
sem nos explicar o seu sentido e eles não faziam – salvo raras exceções – qualquer
esforço para nos conhecer, motivar ou ajudar (JAQUES-DALCROZE, 1948, p. 195
apud MADUREIRA, 2008, p. 33).
34
Segundo Madureira (2008, p. 13): “Rythmicien é uma palavra francesa que indica o profissional ou o estudante
do sistema de Jaques-Dalcroze conhecido como Rítmica (Rythmique).”
76
Prosseguindo junto às reflexões de Fonterrada (2005), percebo que faço parte deste
contexto e que a minha experiência, a qual exponho e sobre a qual reflito neste trabalho de
conclusão de meu curso de licenciatura em música, foi fruto, inclusive, da minha ignorância
para com os “métodos ativos”. Isto desencadeou em minha atuação como estagiário numa
“proposta pessoal”, de certa forma, baseada em “ensaio-e-erro” e que parte e partiu de uma
minguada experiência com a realização das propostas destes grandes pensadores da música do
século XX. Isto pode ser observado na fundamentação teórica, por exemplo, pois os dois
referenciais teóricos utilizados na seção Projeto do relatório não dizem respeito à prática em
si, às atividades a serem desenvolvidas: a primeira é de cunho conceitual - o pensamento de
Koellreutter - e a segunda de cunho organizacional - o Modelo C(L)A(S)P proposto por
Swanwick (1979). Em todo o trabalho de estágio, registrado em meu relatório, salta à vista a
falta de bases referenciais no que diz respeito a técnicas e ferramentas de trabalho em
educação musical.
Enxergo uma lacuna na minha formação como professor em música naquilo que diz
respeito exclusivamente aos procedimentos práticos, às técnicas, às ferramentas e propostas
práticas que, como entendo, estão bastante fundamentadas em “métodos ativos” como
também em propostas posteriores, originadas na “segunda geração”. Vejo que se partíssemos,
no período de nossa formação para futuro músico-professor, em direção a uma proximidade e
um aprofundamento para com a prática ativa destas metodologias as quais iniciaram seus
caminhos no início do século XX e, por serem em seu fundamento, baseadas no “fazer
musical", o que, em si, já lhes delega uma boa carga de flexibilidade e possibilidades de
transformações pessoais, poderíamos, aí sim, escolher um destes caminhos como início de um
fundamento particular, próprio. Deste modo, encontro na didática musical proposta por
35
O conceito de arte e música como lazer e entretenimento tem sua origem na mentalidade construída pela
“indústria cultural”, termo desenvolvido por Max Horkheimer e Theodor Adorno e no seu prolongamento atual,
o qual denomina-se “indústria do entretenimento”. Este conceito reduz a experiência em arte ao entretenimento e
ao lazer. Percebo que há uma prática e um discurso mais ou menos aceitos que caminham na direção de trazer
músicas presentes na grande mídia impostas pela “indústria do entretenimento” para as aulas de música, sob o
pretexto de “caminhar ao encontro da realidade musical do aluno”. Vejo inclusive que esta pode ser uma
interpretação possível da concepção de Koellreutter de que devemos ensinar “aquilo que o aluno quer saber”
(BRITO, 2001, p. 31), apesar de, eu mesmo, não a entender asim. Considero esta uma posição extremamente
comodista, pois há um esquecimento de que esse “desejo”, esse “querer” infantil, de que a memória musical
possa vir a ser um discurso condicionado culturalmente e o mesmo relativo às potencialidades “criativas”. A
música veiculada e imposta pela mídia já tem significado muito forte na vida da maioria das pessoas e, a partir
daí, entendo a escola como sendo um espaço onde se apontam outras possibilidades, onde se propiciam
experiências outras, para que os alunos possam vir a ter outras perspectivas, ganhem mais autonomia, “alarguem
a consciência”, confrontem-se com o “outro” e com as “diferenças”.
78
[...] Cada um desses métodos tem a sua coerência interna. Eu posso não concordar,
mas há uma coerência. Há uma tentativa de tratar o fenômeno musical de maneira
organizada.
Essa é uma questão importante não apenas para os métodos tradicionais, mas para
qualquer estudo, qualquer matéria a ser levada para a escola. Temos de estudar mais
profundamente e entender os métodos. Vamos enxergar mais coisas novas do que
estamos acostumados. (FIGUEIREDO, 2012, p. 92).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando estamos dentro de um processo de prática docente, temos que dar conta do
dia-a-dia, do planejamento das próximas atividades e, em muitas das vezes, estamos
escolhendo o caminho a ser seguido. Em minha experiência pedagógica aqui analisada, o
caminho não estava já determinado, foi escolhido ao caminhar. As reflexões feitas neste
trabalho de conclusão de curso se deram numa distância temporal à prática docente o que
possibilitou uma maior percepção do processo na sua totalidade.
O relatório de estágio se mostrou um bom instrumento de [auto]pesquisa. Nele está
presente a produção reflexiva pré-atuação, realizada na elaboração do projeto, e uma reflexão
que se dá durante toda a atuação mediante a elaboração dos planos e protocolos de cada aula.
Considero também que o documento possibilita a reflexão pós-atuação, tal qual feita agora na
realização deste trabalho.
Através da análise do relatório de estágio, pude verificar como se deram: 1) a minha
formação em licenciatura em música e 2) a construção de um caminho pedagógico. Também,
através do meu trabalho analítico-reflexivo sobre o relatório de meu estágio docente junto à
Oficina, pude verificar de que forma aquilo que estava preconizado como fundamentação
teórica teve sentido na prática e quais outros sentidos foram e puderam ainda ser
acrescentados a esta.
Ao elaborar este trabalho pude deparar-me com algumas questões necessárias para se
compreender o discurso de Hans-Joachim Koellreutter, o qual utilizei como fundamentação
conceitual da Oficina com relação a sua postura perante a educação musical. Percebo que a
reflexão aqui exposta sobre como a palavra “consciência” significa no discurso de
“alargamento da consciência” proposto por Koellreutter precisaria ser muito mais ampla, uma
vez que diz respeito a uma aproximação arbitrária e pessoal minha referente a um possível
entendimento do termo “consciência” do autor H.- J. Koellreutter, a respeito da utilização
deste termo junto às filosofias orientais com as quais, em determinados períodos de sua vida,
veio a travar contato.
Considero que o posicionamento questionador de Koellreutter pode servir para nós de
inspiração para uma postura crítica e reflexiva, como futuros educadores musicais, para que
busquemos entender com maior seriedade quais são os reais objetivos da educação musical.
No entanto, observo que, assim como no meu caso, geralmente se toma conhecimento das
80
concepções de educação musical de Koellreutter através das suas expressões de efeito e com
sentido amplo.
Na inexistência de textos do próprio autor em que sejam justificadas e esmiuçadas
estas frases e axiomas, considero que, mesmo que, obviamente, tenham sido proferidas
dentro de um contexto histórico-pessoal, estes posicionamentos de Koellreutter, por não terem
sido vivenciados pelas gerações de músicos que vieram depois de seus alunos, como Kater e
Brito, podem ser interpretadas de diversas formas, abrindo precedentes para entendimentos
possivelmente vagos e superficiais, e conferindo a estes posicionamentos um caráter
“profético” ou mesmo “bíblico”, “canônico”. Isto, de certa forma, dificulta a utilização das
ideias do autor para a fundamentação de um trabalho em educação musical.
O quarto capítulo deste Trabalho de Conclusão de Curso surgiu da necessidade de um
esclarecimento sobre o conceito de método. Essa minha necessidade de “explicar” o nome
método foi crescente na construção deste TCC pelo fato de que nos dois autores sobre os
quais fundamentei as Oficinas e os quais utilizo aqui como objeto de estudo, Jaques-Dalcroze
e H.-J. Koellreutter, são sinalizados como criadores de um “método”, no primeiro e de um
“anti-método” no segundo.
Ao contrário da possível interpretação de que haveria um antagonismo entre as
proposições de Koellreutter e Jaques-Dalcroze, pude perceber que ambos defenderam uma
ação pedagógica musical que nascesse da prática e da percepção, do fazer musical, para que,
posteriormente, se pudesse analisar e intelectualizar os conteúdos musicais. Desta forma,
considerei a Rítmica Dalcroze como possibilidade de abordagem prática para os
posicionamentos de Koellreutter de reação ao “método”, de expansão da consciência,
mudança do ser humano e valorização das experiências dos alunos. Apesar de que
Koellreutter, não diretamente, abordasse o corpo como centro de seus posicionamentos sobre
a formação do músico, a sua postura perante a música, de maneira geral, pôde me encaminhar
para a construção de um conceito onde educação e formação musical caminham de mãos
dadas com a percepção e a sensibilização do corpo.
Sendo assim, na construção deste trabalho percebi ser necessário um aprofundamento
nas propostas de uma educação musical que partisse do corpo, propostas estas que
intuitivamente realizei em minha experiência de estágio e que me direcionaram para a Rítmica
Dalcroze.
Entendendo este trabalho como fruto de uma busca por maior coerência na relação
entre teoria e prática pedagógicas, considero que ter escrito este Trabalho de Conclusão de
Curso pôde contribuir de forma positiva à minha formação como futuro professor de música,
81
pois nele pude partir de uma prática minha, analisá-la e refletir sobre a fundamentação teórica
utilizada, bem como, a partir desta análise, identificar quais outras referências poderiam me
ajudar a pensar as aulas de música.
82
REFERÊNCIAS
BITTAR, Valeria Maria Fuser. Músico e Ato. Tese de Doutorado em Artes Cênicas.
Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2012.
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: O humano como objetivo da educação
musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.
______. Música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança. São
Paulo: Peirópolis, 2003.
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. Roda de conversa 3. In: A Música na Escola. São
Paulo: Allucci & Associados Comunicações, p. 90-95, 2012.
______. O que podemos esperar da educação musical em projetos de ação social. Revista da
ABEM, Porto Alegre, v. 10, p. 43-51, mar. 2004.
MEURER, Rafael Prim. Relatório Final de Estágio: Oficina de Música para Cantores.
Florianópolis: Universidade Estadual de Santa Catarina, 2014.
NEVES, Neide. Klauss Vianna – estudos para uma dramaturgia corporal. São Paulo: Cortez,
2008.
SOUZA, Jusamara; TORRES, Maria Cecília de Araújo. Maneiras de ouvir música: uma
questão para a educação musical com jovens. Música na educação básica. Porto Alegre, v. 1,
n. 1, outubro de 2009.
SWANWICK, Keith. A Basis for Music Education. London: Routledge, 1992 [1979].
FLORIANÓPOLIS
2014
96
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2 PROJETO ................................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO
2 PROJETO
2.1 JUSTIFICATIVA
No entanto, essas vagas para bolsistas raramente são preenchidas totalmente. Há pouca
procura. Por isso, algumas vagas são preenchidas com pessoas que tem pouca experiência
com leitura musical e que são de outros cursos, principalmente do curso de artes cênicas.
Essas pessoas são incentivadas a participarem da oficina, sendo uma das causas que justifica
esta Oficina neste contexto.
Este coral não faz teste de seleção para participar do mesmo e neste semestre entraram
muitos novos integrantes no coro que tem pouca experiência musical. Serão estes que
formarão, a princípio, a maioria dos participantes da Oficina, visto a grande procura que
tivemos quando foi anunciada a realização desta. É importante dizer que esta Oficina se
justifica não só pela necessidade dessas pessoas se desenvolverem musicalmente para terem
uma experiência melhor no coro, mas pela vontade saírem mais cedo de suas casas para
aprender coisas novas.
2.3 OBJETIVOS
Por esta razão, o foco desta oficina está nos alunos e nos seus processos de
aprendizagem. Visando uma atividade ativa dos mesmos para que possam criar relações do
objeto de estudo e os seus processos de aprendizado com as atividades desenvolvidas no
Coral UDESC e com eles próprios. Segundo Koellreutter, “o professor não ensina nada; ele
sempre conscientiza” (BRITO, 2001, p.47). Nesta perspectiva, o professor não é o detentor do
conhecimento que vai depositar a quantidade exata em cada aluno, mas sim é o vetor que
orienta e coordena.
A proposta desta oficina é inspirada e embasada no Modelo C(L)A(S)P proposto por
Swanwick no livro A Basis for Music Education (1979). Como está bem representado
graficamente na sigla C(L)A(S)P, Swanwick enfatiza a importância e o foco da experiência
musical nas atividades de composição “C”, apreciação “A” e performance “P”, considerando
a aquisição de habilidades “(S)” (skill acquisition) e os estudos acadêmicos “(L)” (literature
studies) como atividades subordinadas ou periféricas (FRANÇA, 2002, p.17).
Dentro deste Modelo, essas cinco formas de experiência musical devem estar
integradas e equilibradas dentro de um programa de educação musical. Objetiva-se um
equilíbrio entre as atividades que não diz respeito à quantidade, mas sim a qualidade. As cinco
não precisam estar todas numa mesma aula, o importante é o professor proporcionar que os
alunos tenham essas experiências no decorrer das atividades (FRANÇA, 2002).
6
Como mencionado anteriormente, esta oficina está vinculada ao Coral UDESC. Neste,
os coralistas experienciam basicamente a performance “P” e a aquisição de habilidades “(S)”,
sendo esta última diretamente relacionada aos desafios da primeira.
Portanto, à luz do Modelo C(L)A(S)P, num desejo de complementar a formação
musical dos coralistas participantes, poder-se-ia concluir que esta oficina pode contribuir no
que diz respeito às experiências de composição, apreciação e de estudos acadêmicos. Esta
afirmação é verdadeira, porém, é necessário destacar que o foco da mesma é, na verdade, a
aquisição de habilidades, só que, neste caso, as habilidades estão relacionadas à compreensão
e à apropriação da escrita musical. E a performance na oficina será um dos “carros chefe”
através de vivências e experiências direcionadas às habilidades a serem adquiridas.
Desta forma, considerando tanto as atividades de ensaio do Coral UDESC quanto as
atividades da Oficina, pretende-se oportunizar aos coralistas uma experiência musical
abrangente e integrada para que possam tornar mais rica, proveitosa e significativa a sua
participação como cantores dentro do coral.
Em consonância com o princípio do Modelo C(L)A(S)P de Swanwick, o autor João da
Cunha Caldeira Filho (1971) afirma que há uma tríplice expressão pela música: compor,
executar e ouvir.
Educação musical é portanto aquela que tem por fim tornar o indivíduo apto a
exprimir-se musicalmente pela composição, interpretação e audição. A primeira via
é apanágio dos compositores; a segunda, dos intérpretes, e a terceira, geral e não
técnica no sentido artístico, manifesta-se pelo ato de ouvir. (CALDEIRA FILHO,
1971, p. 11).
Neste sentido, poder-se-ia dizer que esta oficina visa desenvolver a segunda expressão
do ciclo da obra de arte musical, o da execução. Isso não é totalmente incorreto. No entanto,
no processo de aprendizado, cada uma das expressões é complementada pelas demais, e, cada
uma das expressões contém elementos das outras. Sendo assim, existem processos necessários
de composição e de apreciação dentro da performance musical que serão abordados nesta
oficina.
Essas relações entre as diferentes atividades musicais são evidentes, mas o processo
deve ser direcionado a fim de valorizar essas relações, a interdependência.
7
2.5 METODOLOGIA
Teca Alencar de Brito em seu livro “Koellreutter educador: o humano como objetivo
da educação musical” conta um princípio de seu professor: “‘Meu método é não ter método’,
disse-nos o professor inúmeras vezes. ‘O método fecha, limita, impõe... e é preciso abrir,
transcender, transgredir, ir além...’” (2001, p.29).
Os métodos tem o foco no ensino, ou seja, na atividade do professor. Como essa
oficina tem o foco no aprendizado dos participantes, não se utiliza de nenhum método. Ela
está sim embasada no modelo C(L)A(S)P que não se propõe a ser método, e não o é. É apenas
um princípio de integração e equilíbrio da experiência musical, que pode se dar de diferentes
maneiras.
O estudo do que se chama comumente de “Teoria da Música”, quando não
informalmente entre músicos, se dá formalmente nos cursos de Teoria da Música oferecidos
nas escolas de música, com diversas finalidades. Nesses cursos o que geralmente é ensinado
primeiramente é aquele conhecimento que envolve o decifrar e a apropriação da escrita
musical, em seguida vem conteúdos como construção dos acordes, relações tonais, escalas...
Sendo assim, posso afirmar que um dos objetivos desta oficina é assimilação dos conteúdos
desta primeira parte relacionada à leitura e escrita.
Da mesma forma, existem cursos de Percepção Musical, estes mais restritos,
geralmente são encontrados nos cursos de graduação em música. Mas, nesta oficina o termo
“percepção” está relacionado com habilidades perceptivas inerentes ao canto coral como:
afinação com o grupo, sonoridade e a expansão da consciência musical e vocal.
No entanto, esta oficina é em suma diferente de um curso de Teoria da Música
tradicional, com aulas expositivas sobre o assunto, seguindo uma apostila ou um dos livros
tradicionais. E é diferente também dos cursos de Percepção Musical, onde há um treinamento
técnico que pode não se relacionar com o que os participantes fazem como seres musicais.
Esta oficina parte da prática musical.
Todos os integrantes estarão envolvidos numa mesma prática musical, que é o Coral
UDESC, e toda a atividade estará voltada para as necessidades dos coralistas com relação ao
repertório e as atividades feitas nesta prática comum. Dessa forma os participantes já vão
encontrar certo significado para os conteúdos e habilidades que serão adquiridas, pois estarão
vinculados diretamente a uma prática da qual todos fazem parte.
8
24/03 Observação
31/03 Observação
07/04 1ª atividade
14/04 2ª atividade
28/04 3ª atividade
05/05 4ª atividade
12/05 5ª atividade
19/05 6ª atividade
26/05 7ª atividade
02/06 8ª atividade
9
09/06 9ª atividade
16/06 10ª atividade
23/06 Não houve atividade devido ao jogo do Brasil na copa.
30/06 11ª atividade
3 ESTÁGIO DE OBSERVAÇÃO
Data: 24/03/2013
Horário: 19h às 21h30min
36
Isso está mais bem descrito na Introdução deste projeto.
10
serve para as pessoas olharem um pouco para si mesmas, para seu corpo, sua voz, também
serve de “ritual” de concentração para as atividades que vem logo em seguida.
O regente Sergio Figueiredo assume então a condução das atividades dando avisos e
fazendo comentários referente principalmente aos que estavam chegando pela primeira vez no
coro - neste dia, muita gente estava ali pela primeira vez - orientando para não se
preocuparem com nada, que mesmo não tendo experiência, todos poderiam cantar e, com
certeza, se desenvolverão.
Foram passadas as músicas “Baião de Ninar” e “Cravo e Canela”. E depois o grande
grupo se desfez para realizar ensaios de naipe da música “Cio da Terra”.
Como parte da disciplina de “Prática de Regência III”, eu tenho atividades no próprio
Coral da UDESC que são determinadas pelo próprio regente e professor desta disciplina -
Sergio Figueiredo. Neste dia, até meio de surpresa para mim, Sergio perguntou, na hora do
ensaio, se eu poderia realizar o ensaio de naipe dos tenores, e claro, eu aceitei. Como já havia
estudado bastante a música, foi até tranqüilo fazê-lo, mas se estivesse consciente que o faria,
talvez o tivesse feito mais organizadamente. No entanto, a impressão que tenho é que o recado
do Sergio foi: “se você pretende ser regente, fazer um ensaio de naipe deve ser uma
brincadeira de criança”. E sinto que teve um impacto positivo, pois eu fiquei tranqüilo, até
porque eu era capaz de fazê-lo.
Após o ensaio de naipes, todos retornaram ao auditório ensaiamos as músicas agora no
palco do mesmo.
Data: 31/03/2013
Horário: 19h às 21h30min
a segunda parte que diz respeito ao ensaio propriamente dito das músicas geralmente tem
sempre dinâmicas específicas para aquele dia, para aquela música.
E, como numa peça musical, houve uma “variação sobre o tema”. Logo depois da
primeira parte, ao invés de sentarmos cada um no seu lugar, o regente convidou os homens,
baixos e tenores, para subirem no palco do auditório de frente para as mulheres, explorando
assim uma disposição diferente da usual. Imagino que o regente tinha a intensão de que
pudéssemos escutar-nos sob outra perspectiva e nos olharmos e percebermos questões de
expressão corporal, abertura da boca nos colegas. Nessa disposição ensaiamos a música
“Baião” de Edino Krieger fazendo o cânone.
Sentamos todos no nossos lugares e o regente passou a letra da música que comento a
seguir e depois tivemos 15min de intervalo.
Vai que é tua, Rafael!
Como aluno da Prática de Regência III fiquei incumbido de realizar o ensaio de naipe
dos tenores de uma música cuja primeira parte já havia sido ensaiada em naipes num outro
ensaio, mas para alguns que ainda não pertenciam ao grupo esta era a primeira vez que
estavam ensaiando-a: Climbin’up The Mountain. O ensaio ocorreu bem e considerando que a
letra estrangeira foi trabalhada em separado com todos juntos pelo regente, quando nos
separamos para o ensaio de naipe, somente reforcei questões de pronúncia e partimos para a
junção da letra com a melodia ensaiando a música do começo ao fim: sentados, em pé, bem
piano, agora mais acelerado. Creio também que não cabe tanto avaliar em maiores detalhes a
minha performance neste protocolo. Assim como foi no outro ensaio, percebo que essas
experiências estão sendo importantes para a minha formação como professor/regente/ser
humano.
“Por hoje é só, pessoal.”
Após os ensaios de naipe, todos se reuniram novamente no auditório onde ensaiamos a
“Climbin’up The Moutain” e “O Cio da Terra” com o regente fazendo apontamentos do que
deve ser aprimorado.
4 ESTÁGIO DE ATUAÇÃO
Data: 07/04/2014
Horário: 18h – 19h
Repertório:
12
Conteúdos Musicais:
Forma, compasso, classificação vocal e disposição das vozes na partitura,
funcionamento básico da escrita musical.
Recursos Didáticos:
Aparelho de som, gravação do Coral UDESC cantando o Cio da Terra, gravação de
Climbin’up The Mountain com sopros, folhas, lápis, canetas.
Atividades:
1. Climbin’up The Moutain (20min)
Convido a todos para formarem um círculo, ou um ovo conforme for possível na sala
16. Chamo todos a fazer o que vou fazer: 8 passos para a esquerda, 8 para a direita, 4 para a
esquerda, 4 para a direita, 2 para a direita, 2 para a esquerda. Nas primeiras vezes, contarei
junto os números dos tempos, mas depois executaremos tudo em silêncio.
- Agora, vamos ficar só no quatro. (quatro tempos/passos para cada lado)
(...)
- Isso é um compasso quaternário, ou seja, de quatro tempos cada.
Ponho a gravação da música Climbin’up The Mountain com sopros
Vamos ficar repetindo, pelo menos duas vezes, até que eu vou indicar o momento em
que acrescentaremos o andar para frente e para trás, também 4 passos para cada movimento.
(...)
- Portanto, quantos compassos tem essa melodia?
2. Registrar (10min)
Entregar algumas folhas de papel, lápis, caneta e pedir que registrem como acharem
mais adequado a música “Baião” que acabamos de vivenciar.
Comunicar o grupo que este registro será refeito na metade curso e também no fim do
mesmo, afim de que todos possam acompanhar seu desenvolvimento e também para que eu
possa ter um retorno do aprendizado de cada participante.
13
3. Apreciar (10min)
Ouvir gravação do próprio Coral da UDESC cantando “Cio da Terra”. Discutir a
respeito (abrir para discussão, o que se pode dizer dessa peça? O que se consegue analisar?
levantar questões importantes de serem percebidas: o que está bom, o que pode melhorar, por
quê?)
5. Conversa (10min)
Tempo para esclarecer algumas coisas
Condição de estagiário.
Esclarecer os objetivos iniciais da Oficina e que, pode-se mudar os rumos conforme as
necessidades dos integrantes e do próprio Coral.
Certificado?
Qual a melhor comunicação: e-mail ou FACEBOOK?
Tempo para o pessoal conferir seus dados.
4.1.1 Protocolo
Como o planejado.
Fizemos tudo que foi planejado. Tudo ocorreu de forma fluida. Senti que estava
bastante concentrado e que sabia bem quais atividades eu queria fazer, como fazer e o que
queria com elas. Houveram alguns pontos técnicos: na hora o cabo do som estava
desconectado (eu havia desconectado antes e esqueci de conectar), na lista de reprodução do
14
Windows Media Player haviam duas músicas, e sempre que terminava uma, começava a
outra, mas isso causou na verdade boas risadas.
Num momento, algumas pessoas tiveram que sair das suas cadeiras para poder ver a
projeção, mas isso não foi nenhum inconveniente. Algumas pessoas mais jovens se sentiram
muito a vontade e sentaram no chão, outros permaneceram em pé e muitos puderam
permanecer sentados.
Foi uma atividade muito boa. Eu gostei muito de como as pessoas se envolveram nas
atividades e, pelo que percebi, elas também gostaram. Eu já estava animado, agora estou
ainda mais.
Apreciação
Nessa seção, após ouvirmos a gravação, perguntei se tinham algo a dizer a respeito do
que acabaram de ouvir: alguns comentaram questões com relação ao resultado sonoro (que
não conseguiam ouvir nos ensaios quando estavam cantando, por estarem muito concentrados
nas suas linhas; que perceberam que várias vezes o som estava embolado). “Mas e com
relação à música em si? Deixemos a nossa interpretação um pouco de lado. O que acontece
primeiro?” A partir daí, comentamos a respeito da classificação vocal.
Atividade!
Nessa oficina espero uma relação totalmente ativa dos participantes, e é isso que está
acontecendo. Eles fazem muito, e eu oriento, coordeno, observo e, claro, quando é preciso,
explico.
A Conversa
Na conversa que tivemos no fim da atividade, pedi sugestões. Falaram de enviar as
partituras por e-mail e muitos se interessaram em que eu mande por e-mail materiais teóricos
a respeito dos conteúdos abordados na oficina.
A Senhora
Uma senhora participante que diz ser formada em comunicação e ser professora de
português, fez algumas sugestões: listar, por música, os diversos signos que eles tem que
saber, e lá escrever o conceito, para que serve... mas acho que isso não vai ajudar as pessoas a
cantarem melhor, e esse não é foco da oficina, pelo menos agora. Creio que ela pensou que,
com a olhada rápida que demos em aula na música Cio da Terra, eu já esperava que ela
tivesse compreendido tudo que lá está presente. Também por isso, deixarei claro num e-mail
pros participantes qual a intenção daquele exercício.
Será?
15
Tive uma percepção: Logo no início, quando convidei a todos para formarem um
círculo, pedi para que as pessoas dessem as mãos para o círculo ficar melhor distribuído. Na
hora que demos as mãos, eu senti uma coisa boa, aconchegante. Isso não estava previsto, mas,
o que aconteceu é que fizemos toda essa primeira parte de mãos dadas. Terá isso contribuído
para um decorrer saudável e amigável de todas as atividades? Isso contribuiu para as pessoas
se sentirem à vontade? Refletindo agora, tenho a impressão que sim.
Ah, os registros!
Já percebi que a ideia de fazer esses registros foi muito boa. Pude perceber, através de
uma rápida análise sobre os registros da música “Baião”, que a maioria dos participantes
conhece pouco ou não conhece a escrita musical. O único integrante que foi mais longe
registrou a letra dando indicações de altura e de ritmo através de pontos (notas curtas) e de
traços (notas longas).
Data: 14/04/2014
Horário: 18h – 19h
Repertório:
Cio da Terra, Baião, Climbin’up The Mountain
Conteúdos Musicais:
16
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro; gravação do pout pourri das músicas “Baião” e
“Barra da Lagoa” feito pelo coral Portal do Sol.
Atividades:
1. Roda de Dança. (15min)
De forma bem objetiva, convido todos a formarem um círculo, damos as mãos e digo:
- 8, 8, 4, 4, 2, 2, vamos lá, comigo.
Fazemos umas 2 vezes este ciclo.
- Só que agora, bem próximos uns dos outros, ombro com ombro, em silêncio, quem
determina o ritmo é o grupo. Olhando os colegas.
Agora, distanciando-se um pouco, de mãos dadas, 4 pra cá, 4 pra lá, 4 pra frente, 4 pra
trás. Canta uma vez o “Climbin’up The Mountain” em cima desta “dança”. – Agora vamos
ver se o Baião encaixa nesse mesmo ritmo?
Cantar duas ou três vezes.
- E, então, quantos compassos tem essa melodia? Quantos tempos tem cada compasso?
Usando essa base, poder-se-ia dizer que tem 8 compassos de 4 tempos cada, como
acontece no “Clibin’up The Moutain”. Porém, esta música é dividida em compassos de dois
tempos.
- Experimentemos então fazer assim: dois passos para cada lado, dois pra frente e dois
pra trás. Mas para termos uma dimensão maior de como a música é estruturada, podemos
fazer quatro compassos (ou seja, 8 passos) para cada lado.
2. Apreciação (10min)
Ouviremos a gravação de um pout pourri da música “Baião” com a música “Barra da
Lagoa” gravado pelo coral Portal do Sol.
Discutir a respeito. Quantas vozes nós ouvimos? Que vozes são essas? Como sabemos
disso? Que instrumentos estão tocando? O que acontece de diferente? Essa interpretação é
diferente que cantamos?
Com a minha regência. Proponho uma nota inicial (lá) e determino uma altura do meu
gesto para ela (peito). Brincamos um pouco só com ela ritmicamente. Depois proponho a nota
“si” com o gesto na altura da cabeça. A turma canta a minha improvisação com essas duas
notas a partir do meu gesto. Peço que alguém comande uma improvisação para a turma cantar
com essas duas notas. Acrescento a nota “dó” na altura acima da cabeça. Improvisamos
novamente. E chamo outra pessoa para reger com as três notas.
Agora proponho uma melodia que chega descendentemente na nota “sol” e faço
somente com o gesto (agora na região pélvica) para ver o que acontece. É bem provável que
as pessoas intuitivamente cantem a nota sol. Se não, eu canto e mostro qual nota eu quero ali.
Agora faço, exatamente com esses gestos, a melodia das sopranos no início da música
“Cio da Terra” e pergunto se alguém reconhece a melodia. Escrevo, no quadro que contém a
pauta musical, só o início da melodia e só com as “cabeças” das notas (lá-lá-lá-si-dó-si, ou
seja, “debulhar o trigo”).
Questiono quanto ao ritmo. Como podemos representar melhor o ritmo deste trecho?
Insiro as hastes e os colchetes (no caso das colcheias)
Proponho que alguém siga com as próximas notas da melodia (se ninguém se arriscar,
eu mesmo proponho, mas aí farei com algum erro proposital). Discutimos se está certo e, se
não estiver, o que precisa ser feito para ficar melhor?
Logo no início aparecerá a nota “sol”. Se for necessário, posso propor uma dinâmica
para mostrar isso, ou seja, que há uma nota nova que é mais grave que aquelas três primeiras.
Comentar também que vou aproveitar o feriado para enviar alguns vídeos com
gravações diversas do repertório.
Obs: terminar uns 5min antes para dar tempo para o pessoal assinar a lista de
presença.
4.2.1 Protocolo
pra mim, me denunciando! E, é claro que digo: “era só pra ver se vocês estavam ligados!”.
Esse clima inicial é muito leve, e isso tudo acaba sendo bastante divertido.
Apreciação
No momento de apreciação, as pessoas tiveram percepções bem interessantes: “parece
que eles estão indo pra lavoura”; “tem umas horas que alguém faz um movimento com a voz
que parece uma foice”; “eu não gosto dessa versão, não é harmoniosa como a que a gente
canta, parece um monte de gente cantando forte pra ver quem canta mais alto”... Nesta última
fala, fiz um comentário destacando a diferença das duas propostas: uma tem quatro vozes,
sendo que muitas pessoas cantam a mesma voz, na outra são muitas pessoas cantando, cada
uma numa voz diferente.
Cheguei pensar que a parte de apreciação ficou um pouco desconectada, mas creio que
não. Até porque a mesma música foi trabalhada em seguida. São só formas diferentes de
experiência com a música. Mas, faltou comentar sobre a sonoridade, a colocação das vozes...
fica pra próxima.
Um próximo direcionamento para apreciação pode ser algo que se relacione com a
escrita...
Cio da Terra
A terceira atividade fluiu bem, a não ser na hora em que escrevemos no quadro, que eu
não tinha muito claro qual a lógica que eu ia usar para abordar o ritmo. Mas na hora eu
improvisei e tudo foi bem. Esta atividade fluiu mais rápido do que eu imaginava.
Quero propor atividades que eles estejam mais ativos. Eu poderia ter propiciado mais
momentos em que eles comandam a turma. Fá-lo-ei na próxima semana.
Entrou mais um integrante e no fim ainda vieram me procurar mais duas pessoas que
queriam participar da oficina, e eu permiti.
Como na semana que vem é feriado, nos encontraremos só daqui a duas semanas.
Data: 28/04/2014
Horário: 18h – 19h
Repertório:
Cio da Terra; Climbin’up The Mountain
19
Conteúdos Musicais:
Compasso de cinco tempos, altura (notas dó, mi e sol), intervalos (3ª menor, 3ª Maior
e 5ª justa), figuras rítmicas (semínima e mínima).
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro; câmera para filmar
Atividades:
1. Manossolfa (20min)
Optei por utilizar como recurso de aprendizado o “manossolfa”, modelo de
representação das notas a partir de gestos feitos com as mãos elaborado por Kodaly.
Peço para que façam um semicírculo na sala. Espero que caibam todos. Se não
couberem, arranjamos uma forma que de certo, talvez em duas filas. O importante é que todos
consigam me ver.
A partir do meu gesto (manossolfa), peço que todos cantem a nota mi e façam o gesto
comigo. Agora acrescento a nota sol, e, também com gesto, todos repetem comigo. Brinco
um tempo razoável com as duas notas.
Para que todos possam experimentar a sensação de improvisar melodias e de
comandar o grupo, optei pela seguinte estratégia:
Dentro da formação que estão, dividiremos em quatro grupos de mais ou menos cinco
pessoas cada. Agora, cada grupo será “regido” por um dos integrantes do grupo. Quem vai
reger utilizará somente essas duas notas e seus respectivos gestos, que são simples, e os
“regidos” também devem executar os gestos. Momento de experimentação. Todos
experimentam isso.
Agora, chamo a atenção de todos para mim.:
- Eu vou fazer uma melodia só com os gestos e vocês cantam em seguida o que eu
acabei de fazer, certo?
Faço algumas vezes isto.
Proponho que, dividindo a turma em dois grupos e usando, para cada um, uma das
minhas mãos, eles cantem conforme as indicações das minhas mãos. Usando, portanto, duas
mãos, valorizarei o intervalo de 3ª menor e os uníssonos, observando e instigando-os a
afinarem.
Peço para que tragam as suas cadeiras para perto do quadro que contém as pautas
musicais.
20
Ainda seguindo o meu gesto, peço que cantem com os gestos a seguinte melodia:
Como podemos escrever essa melodia? As notas nós já sabemos. Alguém pode
escrevê-las pra mim? Enquanto isso, vamos pensando na questão rítmica... Como podemos
fazê-lo?
Ótimo! Agora, enquanto este grupo faz esta melodia, quero que este outro cante e
sustente a nota dó. Como podemos escrever?
A partir dessa questão, vamos discutindo e vendo quais as soluções (figura pontuada,
ligadura de valor) para este caso.
O resultado da escrita deve ser este:
2. Apreciação (é possível que não dê tempo, aí, pulo para a próxima atividade).
Vamos ouvir uma gravação de um grupo de homens cantando um arranjo bem
semelhante ao que cantamos no coral, só que com uma interpretação, caráter e sonoridade
totalmente diferente.
Pretendo que só escutemos (sem ver o vídeo) e discutamos a respeito. Acho
importante discutirmos a respeito da interpretação, da sonoridade, do tipo e o número de
vozes, o possível local em que está sendo executada a peça.
Depois, assistiremos ao vídeo, primeiramente, por que é muito interessante ver o
grupo, e também para ver se o visual cumpre com as expectativas e as especulações que
tivemos/fizemos a partir do áudio.
Segue o link do vídeo no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=ITS_bPH5ZRE
21
Conversa:
Pretendo terminar uns 5min mais cedo para ter uma conversa, um retorno deles,
enquanto assinam a lista de presença, sobre as atividades que estamos desenvolvendo, se eles
estão aprendendo, se está interessante...
4.3.1 Protocolo
Troca
22
Obs: vieram somente 10 coralistas, metade dos outros dias. O que aconteceu?
Data: 05/05/2014
Horário: 18h – 19h
Conteúdos Musicais:
alturas (notas dó, mi e sol), figuras rítmicas (colcheia, semínima, mínima), indicações
de dinâmica.
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro; câmera para filmar,
23
Atividades:
Obs: deixar escrito no quadro o exercício da aula passada e, num canto superior, as
figuras rítmicas utilizadas com seus nomes.
4.4.1 Protocolo
A Improvisação
O momento da improvisação foi bastante desafiador. Na verdade, antes mesmo, no
exercício em que eu cantava (sem nome de nota e gesto) uma melodia para que eles
repetissem com gesto e nome de nota, eu já percebi uma dificuldade geral na turma.
Confundiam bastante as coisas. Quando eu fazia os gestos, era mais fácil para a turma, mas
neste caso, no qual eu não indicava quais eram as notas, houve maior dificuldade. Eu fiquei
num embate, será que arrisco botá-los pra improvisar... pois muitos ainda estavam inseguros,
alguns haviam faltado na semana passada, e , por tanto, havia muita coisa nova para eles...
Fato é que na hora eu optei por arriscar.
Alguns conseguiram ir bem, mas a maioria teve dificuldades. Empacavam. Quando
isso ocorria, às vezes, eu pedia para pararmos e aí relembrava as notas, noutras eu corria do
lado da pessoa, pedia ao grupo que ela tentasse novamente, e aí eu sugeria uma melodia
simples para ela ir me acompanhando e depois a “soltava” (como quando a gente aprende a
andar de bicicleta e que alguém vai nos segurando até que uma hora este solta a bicicleta e
nos aventuramos por conta própria). Alguns foram mais soltos e faziam, mesmo que errando
notas, desafinando, mas faziam. Outros ficavam envergonhados e se fechavam. Mas quando
eu chegava perto e os ajudava, eles topavam a proposta e a maioria conseguia explorar
alguma coisa.
Quando terminamos um rodada, eu disse algo do tipo:
- “Pessoal, é claro que este é um exercício desafiador para todos nós. E nós somos
ainda iniciantes nisso tudo... mas, afinal, a gente está aqui para ser aquilo que nós somos,
então não tenhamos medo das nossas limitações, estamos aqui para aprender. Então, se
arrisquem.”
E fizemos mais uma vez.
Muitos ainda tiveram dificuldades, e aqueles que foram bem na primeira, se enrolaram
nesta. Com alguns eu ainda cheguei junto e ajudei, mas alguns que antes, por timidez ou
vergonha, empacavam, estes já se arriscaram e fizeram aquilo que conseguiam.
26
Quando chegou o fim, eu fiquei pensando: “nossa, agora eu corri com todo mundo da
oficina!”. No entanto, quando chegamos ao fim da roda de improviso, todos se aplaudiram!
Isso é muito significativo, pois mostra que, em vez de terem achado chato, acharam
desafiador, e encaram o desafio, e se aplaudiram, ou seja, “nós encaramos!”.
Penso que devemos retomar este exercício na semana que vem, mas eu vou propor de
uma forma diferente que dê mais segurança a eles, pois talvez, o desafio tenha sido grande de
mais. Mas ninguém vai “morrer” por causa disso, a vida é assim mesmo.
A música é um potente transformador. Esta experiência foi muito forte para mim.
Muita coisa que diz respeito àqueles sujeitos, às suas subjetividades, foi aflorada, foi colocada
na mesa... eles se mostraram e se viram. Eu acredito que é esse tipo de experiência que reforça
e intensifica a visão que concordo com Koellreutter de que “A música é, em primeiro lugar,
uma contribuição para o alargamento da consciência e para a modificação do homem e da
sociedade” (BRITO, 2001, p.26).
Retorno
No fim, sentamos todos em roda e eu pedi um retorno deles do que estavam achando
da oficina. Algumas frases:
“Eu estou adorando”; “Gosto muito da tua didática”; “As coisas que nós estamos
trabalhando aqui na Oficina estão fazendo com que eu perceba outras coisas no ensaio do
coro”; “Eu estou aprendendo muito”; “Muitas coisas estão fazendo sentido”; “E é muito bom
porque nós usamos o corpo, e quando usamos o corpo aprendemos melhor, fica registrado”;
“Você é bastante paciente”.
Obs:
No meio do caminho, optei por seguir na atividade de improvisação em vez de
retomarmos o exercício feito na aula passada. Por consequência, dei uma outra tarefa pra
casa: assistir, cantando e fazendo os gestos, o vídeo que eu enviei sobre a “manossolfa”, e
brincar com as três primeiras notas dó, ré e mi. Ficamos também sem a atividade de
improvisação.
Data: 12/05/2014
Horário: 18h – 19h
Conteúdos Musicais:
27
Alturas (notas dó, ré, mi e sol), figuras rítmicas (colcheia, semínima, mínima),
indicações de dinâmica (p, mf, f).
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro; câmera para filmar; gravação do coral cantando As
Cantigas do Boi de Mamão
Atividades:
Obs: deixar escrito no quadro o exercício da aula passada e num canto superior,
as figuras rítmicas utilizadas com seus nomes.
1. Manossolfa – dó, ré, mi e sol. (30min)
(Próximos do quadro, em formato de pequeno coral para que todos me vejam)
a. Ao meu comando, cantam as notas dó, mi e sol com seus nomes e
gestos (manossolfa). (2min)
b. Relembramos o exercício da semana passada. “como é mesmo que se
lê? Este grupo canta a linha de baixo e este outro a linha de cima. Um,
dois, três...” Eu acrescento as dinâmicas “p” e “f” (piano e forte). “E
agora, o que mudou?” Altero uma ou outra nota e experimentamos para
ver o que fica de diferente. Uma ou outra pessoa faz uma alteração
também e conferimos como fica. (3min)
c. “Mas e se eu quisesse escrever assim: (aí canto um exemplo onde
necessita do uso de colcheias). Como escrevemos isto?
d. Exploração do uso das colcheias. Monto diferentes disposições de
colcheias e semínimas no quadro para lermos. (5min)
e. Acrescento à sequência, um compasso de 4/4 com a seguinte estrutura:
g. Ao meu comando, cantam as notas dó, ré, mi e sol com seus nomes e
gestos (manossolfa).
28
4.5.1 Protocolo
No “frigir dos ovos”, acabei deixando a parte de exploração do uso das colcheias para
o fim dessa primeira parte, e não fiz o exercício de “ditado”. Quando terminamos essa
primeira parte, já eram 18h50min! Mas tudo bem, achei bem proveitoso. Ao mesmo tempo
que, vimos e experimentamos muitos conteúdos (anacruse, figuras rítmicas, dinâmicas outras
que eu não havia previsto, mudanças de compasso, tempo e contratempo), e partirmos,
diferentemente das outras vezes, da notação musical para a prática, cuidamos também da
qualidade da emissão vocal. As alterações que os alunos iam fazendo no quadro serviam de
motivação para compreender novos conteúdos e revisitar alguns outros. Até pelo
envolvimento da turma é que acho que rendeu tanto, e ao mesmo tempo não ficou cansativo,
monótono. Foi uma atividade dinâmica, como havia sido prevista.
Como já era o fim da aula, decidi “pularmos” pra o entendimento da partitura do
“Cantigas do Boi de Mamão”. Foi um pouco corrido, mas creio que deu pra dar um
entendimento geral das funções de ritornelo, casa 1 / casa 2, Da Capo e Coda.
Data: 19/05/2014
Horário: 18h – 19h
Conteúdos Musicais:
30
Alturas (notas dó, ré, mi, fá e sol), figuras rítmicas (colcheia, semínima, mínima),
indicações de dinâmica (p, mf, f), compasso (alteração de), interpretação, forma, quadratura.
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro; câmera para filmar; gravação em vídeo da música
Cravo e Canela
Atividades:
Obs: deixar escrito no quadro o exercício da aula passada e num canto superior,
as figuras rítmicas utilizadas com seus nomes.
3. Registro (15min)
31
5. Manossolfa (10min)
a. Ao meu comando, todos cantam, primeiramente, as notas dó, mi e sol
com seus nomes e seus gestos.
b. Acrescento a nota ré
c. Agora, acrescento a nota fá
d. Pequenos grupos. Mesma dinâmica da semana passada. Fazer
pequenos grupos em que, um por vez, cada um dos integrantes vai reger
o seu grupo, mas, agora com as notas dó, ré, mi, fá e sol.
e. Vocalizes
6. Repertório (5min)
Ver rapidamente o que as pessoas acharam, cantar os trechos e comparar a
escrita.
4.6.1 Protocolo
18h43!
Ao fim da primeira proposta (apreciação da música Cravo e Canela e a vivência dos
dois tipos de compassos), surpreendi-me ao espiar as horas no celular: 18h43! Eu não
imaginava que ficaria tanto tempo nesta atividade. Mas isso não é nenhum problema. A
32
atividade realmente despendia desse tempo, e este tipo de vivência amplia a consciência
musical do ritmo. Além do que é muito divertida.
Registro
Fizemos, por fim, a atividade de registro. Fui auxiliando conforme as pessoas iam me
solicitando. Vejamos a análise que fiz dos registros, criando categorias a partir dos elementos
que os integrantes usaram para o registro:
Só a letra: 1
Só a letra com acentos nas sílabas fortes: 2
Só a letra com os pulsos por sílabas: 1
Ritmo correto: 2
Ritmo e melodia, mas falhos: 6
Concluo que é possível que tenhamos vivenciado bastante as relações das notas, mas
fizemos pouca relação com a escrita. Faz-se importante relacionar mais com o repertório, por
exemplo.
Tarefa
Somente duas pessoas fizeram a tarefa que eu propus, mas, pelo visto, as duas se
envolveram bastante, pois fizeram várias alterações e compuseram até uma letra para a
variação.
Data: 26/05/2014
Horário: 18h – 19h
Conteúdos Musicais:
Alturas (notas dó, ré, mi, fá e sol), figuras rítmicas (colcheia, semínima, mínima),
indicações de dinâmica (p, mf, f), compasso, ponto de aumento.
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro; câmera para filmar.
Atividades:
Obs: - Deixar escrito no quadro a letra de Marcha Soldado.
33
1. Parlenda: (10min)
Com os pés: “Um, dois, três.”
Com as mãos nas coxas: “Quatro, cinco, seis.”
Com as palmas das mãos: “Sete, oito, nove, para doze faltam três.”
a. Ritmo
i. Transformando a música Marcha Soldado numa parlenda,
falamos o texto batendo palmas junto conforme o ritmo do
texto.
ii. “Repitam comigo: (com palmas) Marcha soldado cabeça de
papel. [...] e seguindo (com as palmas das mãos no peitoral)
Quem não marchar direito vai preso pro quartel.”
34
iii. Uma vez piano, outra forte, e outra sem a letra decrescendo.
No quadro
iv. 1ª abordagem: “O ritmo é sempre igual? Vamos utilizar as
figuras semínima e colcheia. Em quais sílabas vamos utilizar as
semínimas? E nas outras? Muito bem, onde podemos perceber
uma acentuação natural no ritmo? Portanto, onde podemos
colocar as barras de compasso? Qual a fórmula de compasso?”
v. 2ª abordagem: “Vamos marchar? Como que podemos marchar
enquanto cantamos? Alguém tem alguma ideia? Ver pelos
menos três possibilidades de marcha (em semínimas, em
colcheias e em mínimas). Qual fica melhor?”.
vi. Apagar o que foi feito e recomeçar. Vamos agora anotar em
quais sílabas nós tocamos o pé no chão, ou seja quais sílabas
estão no tempo, no pulso. Muito bem, e quanto a essas sílabas
que não estão no pulso? Temos portanto momentos em que
temos duas sílabas por tempo. O que isso significa? [...] Como
escrever a marcha?”
Nestas duas abordagens, pretendo chamar as pessoas para irem elas mesmas
respondendo no quadro as questões que vou fazendo. Desta forma, possíveis
dificuldades e facilidades dos alunos surgirão, o que contribui para que eu e a
turma tenhamos consciência das mesmas e possamos esclarecer o que for
necessário.
o com a letra
o com nome de nota
o só com a manossolfa (cantar interiormente)
4.7.1 Protocolo
Gostei muito desta aula. A dinâmica de ir pedindo ara que as pessoas fossem
escrevendo no quadro é muito boa, pois, desta forma, posso fazer apontamentos e
esclarecimentos pertinentes às diversas compreensões da escrita musical da turma.
Eu fico me perguntando às vezes se não estou fugindo da proposta inicial da oficina
que é partir do repertório... e acho que estou sim. Mas por uma demanda da própria turma que
estava interessada numa compreensão mais aprofundada da escrita musical, e acho pertinente
este aprofundamento que estamos fazendo na música Marcha Soldado, uma vez que ela
trabalha justamente com elementos simples, de fácil assimilação e que nós já vivenciamos na
oficina em outros momentos. Um cuidado se faz importante: não perder o aspecto vivencial e
de experimentação musical.
Ao mesmo tempo em que, claro, as pessoas estão expondo se “erros”, e isso sempre
desestabilizar alguns, tudo isso se acontece num clima leve e divertido: as vezes a escrita se
pareceu com minhocas e com flores. E todo mundo riu.
Obs: a minha orientadora prof.ª Simone esteve presente na aula.
Data: 02/06/2014
Horário: 18h – 19h
Conteúdos Musicais:
Alturas (notas dó, ré, mi, fá, sol e lá), figuras rítmicas (colcheia, semínima, mínima),
indicações de dinâmica ( >, <).
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro (pegar uma melhor, pois aquela já está acabando);
câmera para filmar; arquivo da partitura do Cio da Terra para ser projetada.
Atividades:
Obs: - Deixar escrito no quadro o ritmo de Marcha Soldado
36
3. Vocalizes
Começar a atividade com diversos vocalizes, chamando a atenção para as notas
que estão sendo utilizadas
a. Boca chiusa – glissando da nota dó para a nota sol e glissando
novamente para dó. Como se escreve isto?
b. Brim brim brim – dó mi sol mi dó.
c. Mei, mai, mei, mai, mei... sol, fá, mi ré dó mi sol mi dó
i. Ressaltar a diferença entre graus conjuntos e saltos.
ii. Escrever e utilizar as chaves de som (> e <)
iii. Subindo e descendo em semi-tons, ressaltar que tratam-
se de modelos que podem ser executados em diversas
alturas.
Observar hoje no ensaio quais padrões a Simone vai propor
4.8.1 Protocolo
Ficamos bastante tempo na primeira atividade. O que era já de se supor. Mas ficamos
bastante tempo nela porque estava rendendo muito. Existia um espírito investigativo no
descobrir quais eram as alturas da melodia. Fomos experimentando as possibilidades que
eram sugeridas pelos participantes, e esforçamo-nos para ler o que escrevíamos e conferir se
era assim mesmo. Acho que foi bem esclarecedor.
Na verdade, ocupamos a aula inteira com ela, e, portanto, no fim, quando faltavam 5
minutos, optei por mostrar as como as estruturas dos vocalizes experimentados por eles na
prática coral podem ser identificadas a partir do que já vivenciamos na oficina.
As pessoas tem dúvidas e elas estão à vontade pra perguntar. Considero isso bastante
positivo. Se a aula tem o foco no aluno, as suas dúvidas são importantes:
A partir de um comentário de alguém, falamos sobre intervalos. Aproveitei e fiz um
exercício que deixa isto evidente: dó, ré, dó, mi, dó, fá, dó, sol, dó, fá, dó, mi, dó, ré, dó, dó.
Falamos dos intervalos de terça, geralmente utilizados pelas duplas sertanejas nos seus
cantares.
Eu tenho conversado mais com as pessoas antes de iniciar a atividade, vendo se
fizeram os exercícios, se tiveram dúvidas, e isso me ajuda a compreendê-las. Eu me permito
direcionar as atividades para as necessidades e interesses dos alunos. Claro que as
38
“necessidades”, muitas vezes, sou eu que identifico “o que é necessário”. Mas é uma
constatação minha a partir deles, das suas práticas.
No fim da atividade, tirei algumas pequenas dúvidas de alguns.
Eu comentei com eles sobre continuarmos no semestre que vem e da possibilidade de
ampliarmos o tempo da oficina pra 1h30min.
Data: 09/06/2014
Horário: 18h – 19h
Conteúdos Musicais:
Alturas (notas dó, ré, mi, fá, sol e lá), figuras rítmicas (colcheia, semínima, mínima).
Recursos Didáticos:
Caneta para escrever no quadro; câmera para filmar; arquivo da partitura do Cio da
Terra para ser projetada.
Atividades:
Obs: - Deixar o computador e o projetor afinados.
37
São cartelas rítmicas em 4/4 que alternam em figuras de semínima e colcheia.
39
6. Composição (35min)
Em dois grupos. Cada grupo vai compor uma canção. O ritmo deve ser composto pelas
estruturas das cartelas, escolhendo quais estruturas rítmicas utilizar. A melodia deve ser criada
a partir do ritmo escolhido. Claro que pode ou não haver letra, mas pelo que conheço do
grupo, isto não será uma dificuldade e sim uma alegria.
Todos devem escrever em seu caderno a versão final e o grupo deve elaborar uma
partitura final com tudo que tem direito: Nome da canção e os compositores.
Anexos:
4.9.1 Protocolo
A primeira atividade exigia mais dos alunos do que eu imaginava. Mas talvez o tenha
sido porque eu decidi na hora (até pela logística da projeção) fazer, logo muito no começo, a
duas vozes, inserindo, portanto as sopranos com as notas lá e si, que havíamos visto pouco.
Mas tudo bem, deu pra tirar diversas dúvidas.
A atividade das cartelas foi rápida e não apresentou grandes desafios para a turma.
Na atividade de composição, eu sugeri que os grupos ficassem, cada um numa sala e
assim o fizeram. Utilizando o piano, os grupos foram escolhendo as figuras rítmicas e as
alturas. É interessante que um grupo escolheu 4 cartelas e o outro fez 7, mas só não fizeram 8
porque faltou tempo. Os grupos tinham, pelo visto, uma concepção já de quadratura. Ficou só
faltando colocarem uma letra.
Data: 16/06/2014
Horário: 18h – 19h
Conteúdos Musicais:
40
Atividades:
1. Finalização da canção (15min)
Tempo para os grupos terminarem a composição e elaborarem a partitura oficial.
2. Ensaio (15min)
Agora, um grupo vai ensaiar para apresentar a composição do outro.
3. Apresentação (5min)
Um grupo apresenta para o outro.
4. Discussão (10min)
Discussão a respeito das performances:
Um grupo avalia se a música aconteceu da forma esperada. Se não, o que
aconteceu? A escrita estava clara? O que pode ser melhorado?
Um dia atípico. Às 18h, haviam apenas duas pessoas na sala, sendo que uma delas não
estava presente na aula passada. Como a atividade dependia de quem participou na outra
semana, eu comecei a pensar em uma atividade alternativa. Pedi para que uma delas
escrevesse a melodia que estava pronta no quadro (para trabalhar encima desta colocando
letra, arranjando...), liguei o computador cogitando a possibilidade de uma atividade de
apreciação, uma vez que tenho ainda vários áudios selecionados para isto. Mas as pessoas
foram chegando aos poucos e às 18h15 haviam 8 pessoas na sala. Aí eu optei por fazermos o
que estava previsto mesmo, já que eu havia planejado com tempo sobrando.
41
Mas, o que eu pensava que seria rápido, demorou muito. Um dos grupos havia feito
uma melodia mais complexa e longa com alterações (sustenidos), e ainda demorou muito para
terminar de elaborar uma versão mais compreensível da sua partitura. Isto dificultou o ensaio
do outro grupo que, portanto, teve menos tempo para ensaiar algo mais sofisticado e longo.
Por fim, não tivemos tempo para tudo. Na hora eu fique bastante incomodado com a
situação e creio que isto ficou claro para os alunos. Da minha parte, percebo que não deixei
claro, na semana anterior, qual seria a continuidade da atividade de composição e também que
deveria ter delimitado melhor: só utilizar as notas que nós trabalhamos.
Mas o grupo é interessado. Foram eles mesmos que sugeriram de começarmos mais
cedo, às 17h30, no dia 30 para terminarmos a atividade. Eles mesmos se organizaram para
digitalizar e enviar para todos as partituras das composições.
Acho que são acidentes de percurso que vão nos dando experiência e maturidade,
servindo de referência para próximas ações.
Data: 30/06/2014
Horário: Excepcionalmente das 17h30 – 19h
Conteúdos Musicais:
Todos os conteúdos que estiverem presentes nas composições.
Atividades:
1. Ensaio (10min)
Tempo para os grupos ensaiarem para apresentar a composição do outro.
2. Apresentação (5min)
Um grupo apresenta para o outro.
3. Discussão (10min)
Discussão a respeito das performances:
38
A ser realizada e, por tanto, sem protocolo.
42
4. Avaliação
Eu entrego as folhas com os questionários de avaliação. Leio com o grupo as questões
e as comento esclarecendo eventuais dúvidas.
43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta parte final do trabalho, trago algumas reflexões a respeito da atuação docente no
estágio ao longo deste semestre.
A oficina que começou com vinte participantes, terminou com dez. Pelo que pude
avaliar, isto se deve a alguns fatores: houve uma baixa de integrantes do próprio coral,
algumas pessoas (como comentaram comigo) não poderiam continuar por que o horário não
era viável, e, suponho, algumas não se identificaram com a proposta da oficina. As pessoas
que permaneceram são muito interessadas e se envolvem com as propostas.
Os alunos tinham interesse pelo que era pelas propostas
Apesar da seriedade, construiu-se um clima leve e de bom humor na relação professor-
aluno e entre alunos, um fator importante que demonstra a construção de relações afetivas
saudáveis.
Formação e identificação
Esta foi uma experiência bastante nova para mim. Em momentos anteriores, em que
atuei como professor, tive experiências bastante diversas desta: PIBID (inicialmente em dupla
e depois sozinho, atuei dentro do currículo escolar dividindo espaço com um professor em
sala), Estágios I e II (inicialmente em trio e depois em dupla, atuei na educação infantil num
projeto interdisciplinar com alunos do curso de Teatro). Por tanto, vejo esta experiência como
uma grande contribuição para a minha formação como professor de música, uma vez que,
nesta, os alunos são adultos, estão lá porque querem, portanto, são interessados e eu sou
próprio professor.
Apesar de ter gostado muito das outras experiências que tive, nutro um carinho e uma
identificação especial com esta. Naturalmente entusiasmado, fiquei muito à vontade para agir
com liberdade dentro daquilo que julgava importante.
O que foi alcançado?
Sendo a ampliação da consciência musical um objetivo amplo, esta oficina tinha clara
a ideia de ser “de música” e não só “sobre música”. Ou seja, o intuito inicial era proporcionar
experiências práticas a partir do repertório do Coral UDESC que tornassem possível, claro,
num âmbito intelectual, o conhecimento, a compreensão, a análise, a síntese de conteúdos,
mas que também necessariamente, considerando o caráter vivencial e perceptivo do fazer
musical, essas experiências práticas fossem significativas não só por estarem vinculadas à
assimilação intelectual, mas por fazerem sentido no que diz respeito à ampliação da percepção
44
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: O humano como objetivo da educação
musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.