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Direito, poder e dominação em Weber

Textos-base:
WEBER, Max. [Capítulo VII — § 7. As qualidades formais do direito
revolucionariamente criado. O direito natural e seus tipos, pp. 133-143].
Economia e Sociedade – Fundamentos da Sociologia Compreensiva. Vol. 2.
Brasília: Ed. da UnB: Imprensa Oficial, 2004.
WEBER, Max. “Os conceitos de poder e dominação”. In: Conceitos Básicos
de Sociologia. São Paulo: Centauro, 2002, p. 97-98.
Bibliografia complementar:
WEBER, M. [Capítulo VII - § 8. As qualidades formais do direito moderno, pp.
142-153]. Economia e Sociedade – Fundamentos da Sociologia
Compreensiva. Vol. 2. Brasília: Ed. da UnB: Imprensa Oficial, 2004.

Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa


INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA
Direito, poder e dominação em Weber

AÇÃO SOCIAL / PODER / DOMINAÇÃO


Weber: “Entende-se por poder a oportunidade existente
dentro de uma relação social que permite a alguém
impor a sua própria vontade mesmo contra a resistência
e independentemente da base na qual essa oportunidade
se fundamenta” (CBS, p. 96)
Assim, o exercício do poder, a dominação, representa
a incidência de estímulos externos sobre o modo de
conduzir a vida (a ação social)
 A dominação implica na probabilidade de “ter o
comando de um dado conteúdo específico, obedecido
por um dado grupo de pessoas” (CBS, p. 96)
Poder expressa a competição entre vontades
Direito, poder e dominação em Weber

AÇÃO SOCIAL / PODER / DOMINAÇÃO


Ser dominado implica na aceitação de um modo
de condução da vida “vinda de fora”
Cultura engendra a preponderância de uma
forma de conduta em determinado contexto
 INSTITUIÇÃO = enquadramento da ação
PERSPECTIVA DA ASSIMETRIA SE EXPLICA PELA
DOMINAÇÃO É INTRÍNSECA À APROPRIAÇÃO DIFERENCIADA
VIDA SOCIAL DE RECURSOS ESCASSOS (NÃO
APENAS ECONÔMICOS)

LEGITIMAÇÃO: Aceitação da
dominação como algo válido
Direito, poder e dominação em Weber

Na perspectiva weberiana, situação “ótima”


(ideal) da DOMINAÇÃO é rara, não obstante os
esforços do dominante
O cenário é de instabilidade permanente (daí, a
importância da LEGITIMIDADE)
Disposição à aceitação/obediência diante da dominação, seja por
motivos racionais, afetivos ou vinculados ao carisma

 Por isso, para Weber ser equivocada a interpretação


(que vê como recorrente no materialismo dialético) de
que basta conhecer o cenário para pressupor as ações (ou
seja, o sentido do que é feito pelo “agente”)
Direito, poder e dominação em Weber

No que entendemos por modernidade (e prevalece


o capitalismo), o exercício do poder e da
dominação se dá, predominantemente, mediante
dinâmicas de racionalização, que se expressam,
especialmente, por meio do direito:
EXPRESSÕES DO DIREITO COMO RACIONALIDADE

Racionalidade formal: se estabelece mediante caráter


calculável de ações e seus efeitos, previstos em alguma
forma especializada (no caso, o direito positivado)
 Racionalidade material: sistematização de interesses,
levando em conta valores, exigências éticas, políticas,
ideológicas, etc.
Direito, poder e dominação em Weber
No campo do Direito a dinâmica de
racionalização vai do “material” ao “formal”

Do material
para o formal
“[...] a ‘construção’ jurídica dos fatos
da vida, na base de ‘disposições
jurídicas’ abstratas e sob a máxima
dominante segundo a qual aquilo
“As ‘expectativas’ destes interessados que o jurista, à razão dos ‘princípios’
orientam-se no ‘sentido’ econômico ou obtidos por trabalho científico, não
prático, quase utilitário, de uma pode ‘pensar’ não existe
disposição jurídica; este, porém, do juridicamente [...]”. (E&S, p. 145)
ponto de vista lógico-jurídico, é
irracional”. (E&S, p. 145)
Direito, poder e dominação em Weber

Forma do direito representa o “tipo ideal” das


condutas desejadas
Racionalidade do direito moderno engendra
situação de “condutas expectáveis”

Expressão tanto da necessária


previsibilidade de ação no contexto das
relações sociais (caracterizadas, no
Que
capitalismo, pelo grande peso das
nome se
instituições do mercado) quanto das dá a
esse
decisões daqueles que mediam os princípio
conflitos nessas relações no léxico
jurídico
Direito, poder e dominação em Weber

 CALCULABILIDADE COMO PRESSUPOSTO DA VIDA


ECONÔMICA
 «para os interessados no mercado de bens, a
racionalização e a sistematização do direito
significaram, em termos gerais e com a reserva de
uma limitação posterior, a calculabilidade crescente
do funcionamento da justiça – uma das condições
prévias mais importantes para empresas econômicas
permanentes, especialmente aquelas de tipo
capitalista, que precisam da "segurança de tráfico"
jurídica» (E&S, p. 144).
Direito, poder e dominação em Weber

DINÂMICA DE RACIONALIZAÇÃO FORMAL DO


DIREITO SE EXPRESSA DO SEGUINTE MODO PARA
WEBER: “1) que toda decisão jurídica seja a
‘aplicação’ de uma disposição jurídica abstrata a
uma ‘constelação de fatos’ concreta; 2) que para
toda constelação de fatos concreta deva ser
possível encontrar, com os meios da lógica jurídica,
uma decisão a partir das vigentes disposições
jurídicas abstratas; 3) que, portanto, o direito
objetivo vigente deva constituir um sistema ‘sem
lacunas’ de disposições jurídicas ou conter tal
sistema em estado latente (...)”. [E&S, p. 13]
Direito, poder e dominação em Weber

POR QUE A CALCULABILIDADE É NECESSÁRIA?


Troca econômica moderna: contrato entre
completamente estranhos  não há
consangüinidade ou confraternização

 Ideia de calculabilidade rompe com os


fundamentos do comércio primitivo: baseado na
confiança e na lealdade do outro
 não há garantia formal ao cumprimento de
determinados requisitos da transação (E&S, p.
145)
Direito, poder e dominação em Weber

DIREITO NATURAL É FUNDAMENTO DAS


NOVAS ORDENS SOCIAIS

Direito natural: Não é obra do legislador:


possui qualidade imanentes

 Forma de legitimação das ordens


revolucionariamente criadas
Modo pelo qual as classes que se
revoltam contra a ordem legitimam a
criação de um novo direito (E&S, p. 134)
Direito, poder e dominação em Weber

Sentimento de justiça
espontâneo (natural)

Direito “artificial”, criado


racionalmente com p. 134

determinado fim (formal)


Direito, poder e dominação em Weber

 No direito inglês, o razoável acabou se


confundindo com o praticamente conveniente:
“Pela ‘justificação’ dessas, a ‘razão’ do direito
natural era facilmente levada ao caminho de um
modo de ver utilitário, e isto se manifestou na
modificação do conceito do "razoável”.
 “No direito natural puramente formal, o
razoável é aquilo que se pode deduzir das ordens
eternas da natureza e da lógica – as quais se
tende a confundir entre si” (p. 137).
PRETENSÃO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS INTERESSES MATERIAIS DE UMA CLASSE
Direito, poder e dominação em Weber

LIBERALISMO: direito não deve imiscuir-se nos


eternos direitos de liberdade
«Por isso, uma ordem jurídica tem, por exemplo, o
dever, derivado do direito natural – como afirmaram
ocasionalmente certos fanáticos ainda no século XIX
– de antes permitir a decadência do Estado do que
manchar a existência legítima do direito pela
ilegitimidade da criação "artificial" de papel-moeda,
pois uma violação do direito legítimo anula o
"conceito" de Estado» (p. 136).
Direito, poder e dominação em Weber

Predomínio das determinações do mercado


definem o “justo”, o “natural”, pela
concorrência
Por outro lado, as ideias socialistas fizeram
avançar os dogmas materiais do direito natural
«O crescimento do socialismo significou, então,
primeiro, o domínio crescente de dogmas
materiais do direito natural nas cabeças das
massas e mais ainda nas cabeças de seus
teóricos, pertencentes à camada dos
intelectuais» (p. 139).
Direito, poder e dominação em Weber

Vinculação aos interesses da classe dominante


Direito natural formal
Vinculado aos interesses daqueles que pretendem a
apropriação dos meios de produção (p. 138)

Vinculação aos interesses da classe trabalhadora


Direito natural material
Vinculado aos interesses daqueles que protestam contra
o “fechamento” da comunidade de proprietários (p. 138)
Direito, poder e dominação em Weber

Época moderna produz o


desaparecimento dos privilégios
estamentais

 Todavia, contempla do mesmo


modo uma particularização crescente
do Direito: direito mercantil é
exemplo disso (p. 142).
Direito, poder e dominação em Weber

PARTICULARIDADES JURÍDICAS SÃO


DESENCADEADAS POR:
1) Crescente influência da burguesia no que diz
respeito à espera de que seus direitos seja
analisados por especialistas
2) Desejo dessas classes em contar com um tipo de
justiça mais rápida e adequada à matéria
econômica (p. 143)

Em ambos os casos, vê-se a debilitação do


formalismo jurídico por interesses materiais

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