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A) ARTICULAÇÕES E FRASEADO

Os exemplos de articulações e frases que se seguem obedecem a regras


e normas utilizadas, extraídas de manuais de época, conforme já
mencionado no rodapé deste texto. Muito se tem escrito sobre o assunto,
e muito se tem discutido. Há muita coisa que a tradição nos ensina e ao
mesmo tempo pode ser contestada por alguns, no entanto, mostro a
seguir o que é usual, e o que é aceito como norma de interpretação para
a época. Vale ressaltar que não apresento tudo, apenas o que no
momento julgo mais importante.

Exemplo 1

As primeiras figuras
do desenho devem ser levemente mais valorizadas que as segundas,
fazendo com que a segunda nota seja levemente mais tênue e mais
curta. A primeira nota funciona como uma appoggiatura da segunda
nota.
Exemplo 2

Este tipo de escrita faz com que a frase vá perdendo força dentro do
contexto musical, não importando se ela está dentro de um compasso ou
se está utilizando diversos compassos.

Exemplo 3

Notas iguais devem soar diferentemente entre si, evitando a simples


repetição das notas na mesma altura. Se há uma dinâmica expressa,
esta dinâmica sinaliza que este é o ponto máximo da expressão, por
isso, deve-se iniciar um pouco menos até atingir o ponto máximo
indicado na partitura.

Exemplo 4

A dinâmica vai perdendo força dentro de cada desenho, não importa se


ela está dentro de um ou mais compassos. Cada seqüência é
independente uma da outra, a última nota de cada agrupamento deve ser
ligeiramente separada para a retomada do próximo seguimento.

Exemplo 5

Antes de uma fermata há sempre uma preparação que é feita através de


um pequeno rallentando, que só aparece nas notas próximas à fermata.

Exemplo 6

Observar que no ritmo acima a nota mais importante não seja a figura
longa e sim a primeira - asemínima – diminuindo a ênfase para o final.

Exemplo 7
No caso da seqüência musical escrita não possuir qualquer indicação de
interpretação, cuidar para que a nota mais aguda não seja mais forte que
a nota mais grave. Sempre pensar no contexto do compasso. O início do
compasso recebe o impulso para toda a seqüência.

Exemplo 8

Nos acompanhamentos de um solista, por exemplo, quando surge este


tipo de escrita, formada por notas iguais e não havendo outras
indicações de dinâmica, a primeira nota é a mais forte das demais notas.

Exemplo 9

Observe-se que as notas ligadas de um compasso para o outro,


representam uma antecipação do tempo forte sobre o tempo fraco, ou
seja, o impulso recai na primeira nota e não sobre a segunda que se
encontra na cabeça do compasso, ou seja, a segunda por sua função,
deveria ser a mais forte por se encontrar no tempo forte do compasso,
mas isso não acontece nesse caso.

Exemplo 10

Nesta formação rítmica, as notas longas são as mais importantes e


devem ser valorizadas por meio de expressividades de dinâmica, não
permanecendo estáticas.
Exemplo 11

O princípio das notas iguais permanece, observe-se que o ponto máximo


do desenvolvimento é a primeira nota do compasso (fa) no início do
segundo compasso.

Exemplo 12

Nas notas longas, o ataque inicial deve ser suave - mezza di voce - e
sem vibrato, deixando que ovibrato surja naturalmente e gradativamente
na medida que se vai aproximando o final da nota dirigindo-se para a
mudança na frase. O vibrato é uma técnica de expressão a serviço do
músico (instrumentista ou cantor) e não um meio de esconder
deficiências técnicas.

Exemplo 13

Notas com duração


exata. Até o início da pausa.

Exemplo 14

Cuidar para que a semínima no segundo compasso não seja curta


demais ou forte demais. Quando não se tem esse cuidado a nota fica
mais evidente que a primeira, que possui o fp.
Exemplo 15

As notas devem ser


levemente articuladas, levemente separadas.

Exemplo 16

Notas iguais: a semicolcheia é bem curta (staccato), visto ser da mesma


altura da semínima. Asemínima ligada à colcheia deverá ser ligeiramente
mais enfática e a colcheia mais suave e curta.

Exemplo 17

A primeira semicolcheia é curta por estar na mesma altura


da colcheia pontuada. O segundo conjunto de figuras deve ser separado
do primeiro, levando-se em conta que o início do conjunto, identificado
pela nota pontuada, é a figura de maior importância do grupo.

Exemplo 18

Em primeiro lugar, a ligadura não é sinônimo de portamento (advertência


para os cantores), e sim indica que as notas devem ser ligadas. A figura
mais grave é a nota mais importante e a terceira nota a menos
importante das três.

Exemplo 19
Neste tipo de desenvolvimento, o princípio se aplica, evitando que a
última nota, por ser mais longa, não se destaque das demais. O ideal é
realizar um sutil diminuendo na direção do fim. Caso seja de uma
passagem vocal, a passagem deveria ser cantada com volatura,
valorizando a passagem.

Exemplo 20

Quando aparece um compasso com esta indicação, ou seja, com a


presença de uma fermataentre notas, isso indica que neste lugar há a
possibilidade de se inserir uma cadência livre ou umornamento que
sempre será preparada por um ralentando. A velocidade
do ralentando está de alguma forma associado à duração da fermata,
como, fermatas longas, podem se utilizar de um ralentando maior e
assim por diante.

Exemplo 21

Exemplo 22

As notas longas devem sempre ser expressivas, não se trata de um


crescendo e sim de executar a nota expressivamente e a figura de menor
valor menos forte em comparação à mais longa.
Exemplo 23

No caso de ser uma passagem para ser cantada, as


quatro colcheias ligadas do início docompasso devem ser realizadas
com vibrato moderado e com volatura. Os demais grupos de notas já
foram devidamente explicados em exemplo anteriores.

Exemplo 24

O cuidado deve ser dirigido para as semínimas e para as colcheias, para


que não recebam acentos ou fiquem curtas em demasia, fazendo com
que estas figuras fiquem mais evidentes que as demais.

Exemplo 25

Observar a sílaba tônica da palavra. A palavra não é Deó e sim Déo.


Como o texto é o ponto alto da passagem, mesmo que o Deo estivesse
no levare, seria obedecida a mesma regra: o respeito à sílaba tônica da
palavra.

Exemplo 26
Terminação feminina. Neste período, as terminações femininas são
particularmente numerosas e devem ser concluídas por um diminuendo,
especialmente nos movimentos lentos ou moderatos. Ou seja, a nota
resolutiva, segunda nota ligada, deve ser executada suavemente, A
primeira nota da ligadura é a figura mais valorizada e a mais importante
das três notas. Vale ressaltar aqui que a primeira nota não deve receber
nenhum acento a não ser que este esteja indicado.

Exemplo 27

a) A colcheia pontuada é a figura principal e a mais expressiva.


A semicolcheia soa de forma mais branda.
b) Em movimentos lentos, esta forma de escrita é interpretada ao estilo
francês, ou seja, a figura pontuada demora mais tempo e
a semicolcheia transforma-se numa fusa, apresentando assim um ritmo
bem marcante.

Exemplo 28

Este tipo de articulação usa-se tanto para graus conjuntos como


para graus disjuntos. A primeira nota do conjunto é a mais valorizada das
duas notas. Na prática a primeira nota é levemente mais longa que a
segunda. O texto aqui colocado é apenas sugestivo para demonstrar a
intenção.

B) APPOGGIATURAS E ACCIACCATURA

É uma nota apoiada anterior à nota principal, normalmente por grau


conjunto superior ou inferior. Costuma criar dissonâncias que são
resolvidas sobre a nota principal, que aparece sempre como tempo fraco.
Pode ser apresentada como ornamento – nota pequena – ou por
extenso, - no tamanho normal.
Neste período, havia o hábito que mesmo que não estivesse escrita,
a appoggiatura poderia ser adicionada a uma frase sempre que a
conclusão terminasse com notas repetidas, a primeira em tempo forte.
Essa primeira nota deveria então ser cantada ou tocada com uma nota
imediatamente acima ou abaixo, ou na nota precedente.

Há dois tipos que recebem os seguintes nomes:

i - A longa: appoggiatura
ii - A breve: acciaccatura

A indicação da acciaccatura é sempre feita por uma pequena nota cotada


por um pequeno traço. Podem haver appoggiaturas simples (uma nota),
duplas ou triplas.

Exemplo 29

Todas as pequenas notas (appoggiatura ou acciaccatura) fazem parte do


tempo que a segue. Nunca abreviar a nota precedente. É a nota seguinte
que perde valor. Por tanto, a nota pequena cai junto com o baixo ou com
a parte forte do tempo.
Exemplo 30

Exemplo 31

A mínima deve ser expressiva – figura de maior duração – atacando a


nota sem vibrato (mezza di voce), ornando o restante da nota
com vibrato até atingir o ápice do desenvolvimento melódico – nota fa –
tendo uma leve perda de intensidade para poder preparar
a appoggiatura, que será levemente separada do compasso anterior,
primeiro, porque são duas notas iguais – nota do - e segundo, por se
tratar de uma appoggiatura.

Exemplo 32

As appoggiaturas que possuem o mesmo valor da nota seguinte devem


ser divididas igualmente dentro do compasso. Havendo pausa, ela será
suprimida e preenchida.

Exemplo 33

a) Esta appoggiatura representa dois terços da nota escrita, assim ela na


prática rouba à nota principal este valor, alterando assim o resultado
da harmonia e a melodia.
b) Neste caso a escrita não é exata, não se respeitam os silêncios.
Exemplo 34

Observar o que já foi dito anteriormente com relação às articulações de


duas notas. Mesmo quando ficar debaixo de uma grande ligadura a
forma de articular é a mesma.

Exemplo 35

Quando as appoggiaturas estão escritas dessa forma, é conveniente que


se transforme o conjunto em uma quiáltera. Assim obtem-se a correta
articulação dos grupos.

C) ORNAMENTOS, TRINADO, VIBRATO, PORTAMENTO

Os trinados dão graça à linha melódica, e por isso são indispensáveis.


Podem ser utilizados após uma appoggiatura, ou quando uma das notas
se repete. A técnica do trinado é uma das mais difíceis, e não está
acessível a todos. Quem deseja resolver este mistério deve dedicar-se
ao seu estudo. Deve ser simétrico e rápido, embora nos movimentos
lentos é aceitável um trinado um pouco mais lento. Existem basicamente
dois tipos de trinado: o harmônico e o cadencial que termina com um
grupeto.
O cantor deve deixar claro a diferença entre um trinado e um vibrato.
Gostaria de tecer algumas observações sobre o vibrato. O vibrato é uma
técnica, e como todas as demais técnicas tem de ser dominada com
maestria. O vibrato é a oscilação de altura de uma nota musical durante
um certo período. Pode ser utilizado tanto nos instrumentos de corda e
sopro, como entre os cantores. A técnica do vibrato passou a ser
adotada a partir do século XVI. Nos instrumentos de corda, esse efeito é
produzido através da oscilação do dedo sobre a corda. Ao longo do
tempo as técnicas do vibrato foram se alterando. A primeira forma que se
tem notícia, é a de que um dedo segurava a corda na nota escrita e outro
dedo roçava a corda com uma certa delicadeza, no entanto está técnica
deixou de existir pela dificuldade, assim a oscilação do dedo, de forma
ascendente e descendente, sem tirar o dedo sobre a nota, produz o
efeito do vibrato que conhecemos hoje. Os músicos não gostam de
comentar sobre o assunto. Existem vários tipos de vibrato: resumo a dois
tipos:

* O vibrato lento
* O vibrato rápido

O vibrato é uma técnica que deve ser dominada, é uma forma de


ornamento, apesar de alguns teóricos como Francesco
Geminiani[1] (1687-1762) defender seu uso de forma constante, técnica
essa que veio a se incorporar definitivamente apenas no século XIX, pela
necessidade de uma sonoridade mais rica. A técnica do vibrato nos
instrumentos de sopro se dá através da oscilação da coluna de ar,
técnica essa que passou a ser conhecida por volta de 1707. Também no
canto essa técnica foi utilizada deste o século XVI, mas um cantor
devidamente treinado pode deliberadamente alterar ou suprimir o vibrato
para poder atender às necessidades artísticas de uma obra.
Todos os instrumentistas de cordas friccionadas e cantores associam a
todos os sons o vibratocomo recurso. Alguns utilizam o vibrato como
recurso de “camuflagem” das imperfeições da voz ou da afinação. Alguns
cantores utilizam-se de vibratos longos (com intervalos que podem ir de
uma segunda, terça ou quarta), impedindo dessa forma a identificação de
uma nota real. O vibrato é uma forma de ornamento, é uma de
enriquecer a nota ou frase musical.
Neste período, o vibrato não deve ser utilizado em todas as notas, mas
sim nas notas de longa duração, e ao final delas, valorizando assim a
nota e ao mesmo tempo preparando o que se segue musicalmente.
Com relação à ornamentação, Mozart em suas cartas mencionava que
preferia que os cantores não ornamentassem suas melodias lentas e
enterrar a obra que ele:

“tenho me esmerado tanto para elaborar…”.


Mozart, também brigava com seus músicos quando estes atacavam uma
nota longa vibrando-a. A técnica do ataque sem vibrar, vale para os
cantores e instrumentistas. A sugestão está expressa no exemplo abaixo:

[1] Violinista, compositor e teórico italiano

Existem basicamente os seguintes sinais para indicar um trinado:

Exemplo 36

Os trinados começam por intervalos de segunda, em geral iniciando-se


com a nota superior.

Exemplo 37
Trinado cadencial
sem grupeto

Exemplo 38

Trinado cadencial com grupeto

Exemplo 39

Quando o trinado é precedido de uma appoggiatura, esta indica o


caminho inicial do trinado. Como a nota inicial do trinado é igual
à appoggiatura, ela deverá ser separada.

Exemplo 40

Também pode ser


indicado assim

Exemplo 41
Quando há um trinado sobre uma nota pontuada seguida de uma nota
curta, admite-se terminações com o encerramento no ponto, com um
micro ruptura para indicar o final do trilo e adicionar o grupeto com a
conseqüente conclusão sobre a figura de menor valor.

Exemplo 42

Há outras possibilidades de trinado: precedido de uma appoggiatura

Exemplo 43

Trinado precedido de uma nota repetida

Exemplo 44

Os trinados podem aparecer de diferentes formas: sobre noras longas,


após longos saltos e junto com uma fermata.

Exemplo 45

Também podem ser utilizados em células, ou logo após


uma appoggiatura. Quando estas indicações de trinados não estiverem
explícitas, ficam a critério do intérprete utiliza-las ou não. O ornamento
sempre é bem vindo em movimentos lentos, ou também nas árias Da
Capo. Mas como o próprio Mozart disse é eu já mencionei anteriormente,
se o músico tiver dúvidas como utilizar um ornamento é preferível não
utiliza-lo.

Exemplo 46

Numa série de
trinados descendentes, por exemplo, não se utiliza a terminação, estes
se localizam especialmente sobre notas longas e a terminação é
ocupada por notas breves.

Exemplo 47

Portamentos por dupla appoggiatura. Especialmente Mozart e os


compositores da época abominavam os portamentos, era uma das
maiores brigas especialmente com cantores. Uma técnica de
ornamentação possui grande força de expressão, chamada de Coulé, em
geral está escrita por extenso, conforme o exemplo acima. Mas em
movimentos lentos, árias Da Capo, quando estes ornamentos e outros
não estão indicados, podem ser feitos. O Coulé é uma passagem rápida
que inicia uma terça abaixo ou acima da nota principal, que normalmente
é incluída dentro do valor da figura, como se fosse uma dupla
appoggiatura.

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