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Journal of Research in Special Educational Needs  Volume 16  Number s1  2016 619–624

doi: 10.1111/1471-3802.12193

~ E FORMAC
INCLUSAO ~ DO PROFESSOR
ß AO
Rosimar Bortolini Poker1 and Antonio dos Reis Lopes Mello2
1
Universidade Estadual Paulista; 2Universidade de Marılia

Palavras-chave: Formacßa~o inicial do professor, Formacßa


~o do professor e inclusa
~o escolar, Proposta de
~o de professor.
formacßa

Primeiramente analisando um aspecto filosofico da ques-


Quais as condic ßo~ es pelas quais ve ^ m se material- t~ao da diversidade podemos considerar os postulados de
izando a formac ßa~ o de professores, com vistas a Arendt (2009, p.188), quando diz:
atender os desafios da perspectiva educacional
inclusiva? Esse e  o foco desse Simpo  sio, refletir,
 tica de diferentes pesquisadores, a relac ~o
A pluralidade humana,condicß~ao basica da acßa~o e do
sob a o ßa
 ficos, teo ricos, pedago  gi- discurso, tem duplo aspecto de igualdade e diferencßa.
entre os princípios filoso
cos e pra  ticos que vem fundamentando as pro- Se n~ao fossem iguais os homens seriam incapazes de
postas de educac ~ o inclusiva e a formac
ßa ~ o inicial
ßa compreender-se entre si e aos seus ancestrais, ou de
de professores. Pretende-se discutir a respeito dos fazer planos para o futuro e prever as necessidades
limites e possibilidades alcanc ß ados por diferentes das geracß~oes vindouras. Se n~ao fossem diferentes, se
modelos e processos de formac ~ o inicial de pro-
ßa cada ser humano n~ao diferisse de todos os que existi-
fessores, o que implica a compreensa ~ o de ques- ram, existem ou vir~ao a existir, os homens n~ao precis-
~ 
toes epistemologicas e conceituais, que refletem ariam do discurso ou da acß~ao para se fazerem
em metodologias alternativas e diferenciadas, ele- entender.
mentos fundamentais para a consolidac ~ o de con-
ßa
dicßo~ es favora  veis para a aprendizagem de todos
~ o do educador sobre
A alteridade, a autonomia, a cidadania por serem con-
os alunos. Assim, a concepc ßa
strucß~oes subjetivas das inter-relacß~oes possıveis no con-
a escola, o ensino e a aprendizagem precisam ser
resignificados, tratados sob uma nova perspectiva, texto sociocultural, as condicß~oes de interacß~oes com o
em contextos educativos que favorec ß am a inter- meio tornam-se fator imprescindıvel, quando sabemos
acßa~ o crítica bem como a participac ~ o efetiva de
ßa que parte dele ocorre no processo de escolarizacß~ao. A
todos os agentes da escola. atencß~ao se volta a formacß~ao do professor, que sabemos
devera interagir neste contexto dialetico da condicß~ao do
educador. Reconhecer tanto as diferencßas e as igual-
dades, s~ao partes de um mesmo fazer, em que nem por
Quais s~ao os sentidos que vem se materializando nos cur- um nem por outro aspecto poder-se-iam justificar a
sos de formacß~ao inicial de professores para atuar na per- exclus~ao ou qualquer manifestacß~ao de omiss~ao ou
spectiva educacional inclusiva no Brasil? Esse e o foco viol^encia.
desse simp osio, refletir sobre os princıpios filosoficos e
teoricos que fundamentam a proposta de educacß~ao inclu- Quando os documentos internacionais recomendam que a
siva e, por conseguinte, as praticas educacionais que reve- formacß~ao dos professores deveria visar a orientacß~ao posi-
lariam a aplicacß~ao dos nossos ideais. Gostarıamos de tiva sobre a defici^encia, n~ao reduz a responsabilidade das
perceber evid^encias da possibilidade da formacß~ao de pro- escolas para que consigam avancßar em direcß~ao ao atendi-
fessores capazes de compreender a diversidade de sujeitos mento de todos os alunos, inclusive daqueles com neces-
presentes na escola, educando-os em salas de aulas regu- sidades educacionais especiais. Nesse sentido s~ao
lares, garantindo deste modo a perspectiva da educacß~ao apontadas as habilidades e compet^encias necessarias aos
inclusiva. professores garantir condicß~oes para a aprendizagem de
todos, considerando-se as suas especificidades.
Alguns marcos historicos importantes devem ser lembra-
dos como motivadores dos objetivos de uma formacß~ao de O Decreto N. 6946, que promulga no Brasil a convencß~ao
educadores em direcß~ao a educacß~ao inclusiva, por exem- de Nova York, registra no art. 24, inciso 4, um impor-
plo: em 1990, a Confer^encia Mundial sobre Educacß~ao tante ideal para a tarefa docente:
para Todos, em Jomtien, Tail^andia; em 1994, a
Declaracß~ao de Salamanca, na Espanha; em 2006, a Con- A fim de contribuir para o exercıcio desse direito, os
vencß~ao sobre os Direitos das Pessoas com Defici^encia, Estados Partes tomar~ao medidas apropriadas para
em Nova York., assinada no Brasil em 30 de marcßo de empregar professores, inclusive professores com
2007, promulgada o Decreto N. 6949/2009

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defici^encia, habilitados para o ensino da lıngua de da educacß~ao especial, denominado professor especial-
sinais e/ou do braille, e para capacitar profissionais e izado. Ao professor capacitado cabe:
equipes atuantes em todos os nıveis de ensino. Essa
capacitacß~ ao incorporara a conscientizacß~
ao da defi- - perceber as necessidades educacionais especiais dos alu-
ci^encia e a utilizacß~
ao de modos, meios e formatos nos;
apropriados de comunicacß~ ao aumentativa e alterna- - flexibilizar a acß~ao pedagogica nas diferentes areas do
tiva, e tecnicas e materiais pedagogicos, como apoios conhecimento;
para pessoas com defici^encia. - avaliar continuamente a eficacia do processo educativo;
- atuar em equipe e em conjunto com o professor espe-
Os documentos, em seu conjunto, apontam conhecimen- cializado.
tos e aptid~oes necessarias para o professor, a fim de que
se alcance uma boa pedagogia. Pensarıamos que tais De outro modo, tambem e peculiar perceber o que cabe
cuidados e procedimentos incluem: a capacidade de ava- ao professor especializado em educacß~ao especial:
liar as necessidades especiais, de adaptar conte udos para
programas de estudos, de programar o uso da tecnologia - identificar as necessidades educacionais especiais;
informatizada, de saber individualizar procedimentos - definir e implementar respostas educativas;
pedag ogicos quando houver tal demanda e, complemen- - apoiar o professor da classe comum;
tando a acß~ao educativa, articular o trabalho especializado - atuar no processo de desenvolvimento e aprendizagem
em conjunto com especialistas e pais. dos alunos;
- desenvolver estrategias de flexibilizacß~ao, adaptacß~ao cur-
Quando na Declaracß~ao de Salamanca vemos destacada a ricular e praticas alternativas.
import^ancia das novas compet^encias necessarias ao pro-
fessor, estas ja se referiam ao educador que atua no O documento das Diretrizes Nacionais para a Educacß~ao
ensino regular. Considerou-se, no texto, uma formacß~ao na Especial na Educacß~ao Basica,de 2001, traz avancßo no
perspectiva da educacß~ao inclusiva ao professor que atua sentido de apontar atribuicß~oes para o professor da classe
na classe comum e, alem disso, foi mantida a formacß~ao regular em direcß~ao a educacß~ao inclusiva. Tambem respon-
de educadores para o atendimento educacional especial- sabiliza a Uni~ao, os Estados e os Municıpios na garantia
izado (Educacß~ao Especial), que seria o servicßo de apoio da formacß~ao continuada dos professores regentes das
complementar para o aluno com necessidade educacional classes comuns. O documento parece incompleto pela sua
especial. funcß~ao de regulamentacß~ao da Educacß~ao Especial, porque
prev^e a educacß~ao ao aluno com necessidades educa-
Sob a influ^encia do movimento internacional de inclus~ao, cionais especiais em classe regular,com um professor
os educandos com necessidades educacionais especiais capacitado, mas n~ao explicita quais conhecimentos nem
adquiriram, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da compet^encias pedagogicas perfazem o perfil desse profes-
Educacß~ao Nacional (LDBEN), n. 9394/96, Artigo 59 que sor capacitado.
“Os sistemas de ensino assegurar~ao aos educandos com
necessidadesespeciais” e complementa no inciso “III - Em 2006, com a aprovacß~ao das novas Diretrizes do Curso
professores com especializacß~ao adequada em nıvel medio de Pedagogia, as habilitacß~oes foram extintas e se prop~ oe
ou superior, para atendimento especializado, bem como uma formacß~ao inicial do professor de forma generalista.
professores do ensino regular capacitados para a inte- Significa que os cursos de Pedagogia passaram a oferecer
gracß~ao desses educandos nas classes comuns”. Outra con- para todos os alunos, conhecimentos relacionados com as
quista importante da LDBEN foi que ela seria um marco series iniciais do ensino fundamental, sobre ensino infan-
para a exig^encia de formacß~ao superior para os professore- til, gest~ao e, tambem, conhecimentos a respeito da
que atuariam na Educacß~ao Infantil e no Ensino Funda- educacß~ao especial. Isso porque, neste documento, foi reit-
mental e Medio. Mas o Artigo 69 da LDBEN foi alterado erada a ideia do ensino para a diversidade. Entretanto,
pela Lei n 12.014, em 2009, cuja redacß~ao do inciso I apesar de estar subentendido que todos os alunos, inde-
passou a ser: “professores habilitados em nıvel medio ou pendentemente de sua condicß~ao sensorial, org^anica, com-
superior para a doc^encia na educacß~ao infantil e nos ensi- portamental, fısica, intelectual ou motora, tem o direito de
nos fundamental e medio”. freq€uentar os ambientes regulares de ensino, junto com os
pares da mesma faixa etaria, as Diretrizes da Pedagogia,
A polıtica educacional brasileira e a formacß~ao de profes- que constitui o documento que norteia a formacß~ao inicial
sores n~ao parecem simples. Em 2001, com a aprovacß~ao dos professores, n~ao faz mencß~ao direta e explıcita de
das Diretrizes Nacionais para a Educacß~ao Especial na como deve ser organizada a formacß~ao do professor para
Educacß~ao Basica, Resolucß~ao CNE/CEB 2/2001, s~ao apon- atuar na perspectiva da inclus~ao escolar. Foca apenas
tados dois perfis de professores que dever~ao ser formados aspectos gerais da educacß~ao como atendimento a diversi-
pelos cursos superiores para atuar com alunos com neces- dade e a multiculturalidade, apresentando um discurso
sidades educacionais especiais: o professor da classe vago e generico sobre a formacß~ao de professores para o
comum, denominado professor capacitado e, o professor atendimento as necessidades educacionais especiais dos

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alunos. Ha assim, omiss~ao quanto a definicß~ao das com- defici^encias, com transtornos globais de desenvolvimento
pet^encias necessarias para a pratica pedag
ogica com esse e alunos com altas habilidades, de freq€uentarem as salas
alunado especıfico. regulares de ensino. Alem disso, aponta o lugar que o
servicßo de apoio especializado, de suporte a educacß~ao,
Alem disso, nas Diretrizes do Curso de Pedagogia, n~ao e deve assumir nesse processo. Do ponto de vista polıtico
apresentada qualquer discuss~ao a respeito da import^ancia fica evidente, ent~ao, que tanto os profissionais egressos
do trabalho colaborativo, no contexto escolar, entre pro- dos cursos de Pedagogia, quanto os demais licenciados
fessores do ensino regular e o professor do atendimento precisam estar capacitados para ensinar os alunos da
educacional especializado. No documento n~ao s~ao abor- demanda atual da escola. A escola precisa estar atual-
dadas as praticas de ensino cooperativo e articulacß~ao izada. Entretanto, n~ao esta do mesmo modo evidente, seja
entre as diferentes areas do conhecimento, imprescindıvel nas normativas legais vigentes, seja nas propostas de
para se desenvolver um ensino fundamentado na perspec- investimentos em formacß~ao continuada, a preocupacß~ao
tiva educacional inclusiva. Sobre isso, Peterson (2006) explıcita para se desenvolver os conhecimentos
destaca que os programas de inclus~ao n~ao podem ser necessarios para a adequacß~ao do trabalho educacional
bem-sucedidos em escolas p ublicas se ambos, professores com demanda especıfica constatada por direito. Afinal,
da educacß~ao geral e da Educacß~ao Especial, n~ao forem todo professor atuara com os alunos com necessidades
capacitados para implementar programas de ensino colab- educacionais especiais e, por isso mesmo, precisam saber
orativo. refletir e oferecer praticas educativas na perspectiva da
educacß~ao inclusiva.
Hoje, no Brasil, o professor de escola regular esta rece-
bendo em sua sala de aula todos os alunos, inclusive o Gatti (2013), em estudo realizado sobre o conjunto de
alunado que antes frequentava apenas a escola de disciplinas que comp~oem os cursos de Pedagogia, encon-
educacß~ao especial. Este fato tem gerado mudancßas sub- trou 3378 nomes diferentes para as disciplinas no referido
stanciais na forma de organizar e de planejar o trabalho curso. Constatou, ainda, que essa n~ao e uma caracterıstica
escolar. Assim, n~ao se pode mais trabalhar na educacß~ao apenas do curso de Pedagogia, mas das demais licenciat-
segundo o modelo tradicional, de concepcß~ao de aluno uras, como Biologia, Artes, Letras entre outras. Isso e um
ideal, com uma didatica homogeneizadora. Na escola indicador de que n~ao ha uma definicß~ao a respeito dos
inclusiva professores e gestores precisam estar preparados conhecimentos necessarios para capacitar o professor,
para acolher e oferecer um atendimento com qualidade ainda que seja possıvel reconhecer uma representacß~ao
para todos os alunos, em que as oportunidades de apren- social de que o curso de pedagogia forma professor para
dizagem estejam a contento de suas diferencßas, com ade- a educacß~ao de criancßas pequenas. A pesquisadora mostra
quacß~ao de recursos, com metodologias direcionadas e que o costume vem desde o inıcio do seculo XX, em que
estrategias diversificadas. Isso quer dizer que a respons- no Brasil, para atender a demanda de Licenciados, sim-
abilidade pela aprendizagem de alunos com comprometi- plesmente, acrescentou-se um ano a mais de estudo aos
mentos fısicos, intelectuais, motores, comportamentais ou cursos de bacharelados, contendo disciplinas voltadas a
sensoriais n~ao e apenas do professor especialistas, mas educacß~ao. E essa concepcß~ao n~ao mudou ainda.
dos profissionais da educacß~ao, ainda que cada um possa
assumir diferente papeis nas suas interacß~
oes. Os estudos de Gatti (2013) mostram ainda que desde
1996, os sistemas educacionais no Brasil comecßaram a
A educacß~ao especial oferecida no Atendimento Educa- investir na formacß~ao continuada do professor, mas, por
cional Especializado (AEE) tem a finalidade de suporte e outro lado, n~ao se v^e a mesma preocupacß~ao da Universi-
de apoio ao aluno e ao professor. N~ao tem mais um cara- dade em reconhecer a necessidade de uma formacß~ao mais
ter substitutivo, ou mesmo de reforcßo, como vem ocor- voltada para nossa realidade escolar. Nesse contexto par-
rendo. Quando o professor especialista se interp~oe na ece que, no Brasil, n~ao ha uma Polıtica Nacional Educa-
relacß~ao com os alunos ou com o professor deve comple- cional preocupada, verdadeiramente, com a formacß~ao dos
mentar ou suplementar as condicß~ oes para que a apren- profissionais, voltada para a realidade educacional recon-
dizagem de qualidade ocorra. hecidamente brasileira. O que percebemos e que desde
que se passou a compartilhar as responsabilidades finan-
Nesse sentido, estudos de Bueno (1999), Mittler (2003), ceiras, conforme foi exigido na Constituicß~ao Federal Bra-
Goes e Laplane (2004), Mendes (2006), Rodrigues sileira (1988), foi criado primeiramente o FUNDEF
(2006), defendem a formacß~ao inicial e continuada de pro- (Fundacß~ao para o desenvolvimento da Educacß~ao Funda-
fessores para lidarem com a diversidade, e a formacß~ao de mental) e depois modificada para o FUNDEB (Fundacß~ao
educadores para o atendimento educacional especializado para o desenvolvimento da Educacß~ao Basica) e se sup^ os,
e para o apoio e suporte a inclus~ao. desse modo, que cada Estado e cada Municıpio seriam
capazes de fazer o seu melhor na educacß~ao.
Em 2008, o Governo Federal aprovou a Polıtica Nacional
de Educacß~ao Especial na Perspectiva da Educacß~ao Parece que o problema da formacß~ao de professores
Inclusiva. Tal documento reitera o direito de alunos com comecßa pela sua concepcß~ao, que e apresentada de forma

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descontextualizada, quando o fen^ omeno educacional, o para pensar e fazer do espacßo escolar um lugar de cir-
contexto escolar e a formacß~ao do professor s~ao conce- culacß~ao de informacß~oes, de troca, de auto-organizacß~ao, de
bidas em realidades distintas e ate mesmo “tomados como trabalho coletivo e, consequentemente, de aprendizagem,
relacß~
oes polarizadas e distantes”. (LIMA; BARRETO; respeitadas as individualidades.
LIMA, 2007, p. 96).
Bueno (1999) coloca os seguintes desafios que a
As polıticas educacionais atuais parecem assumir medidas educacß~ao inclusiva imp~oe a formacß~ao de professores: for-
saneadoras de problemas, as acß~ oes realizadas n~ao s~ao efi- macß~ao teorica solida ou uma formacß~ao adequada no que
cazes para garantir a formacß~ao inicial de professores, com se refere aos diferentes processos e procedimentos
a qualidade necessaria. As medidas desenvolvidas pedagogicos que envolvem tanto o “saber” como o “saber
enquanto programas compensat orios ou supletivos de for- fazer” pedag ogico; formacß~ao que possibilite dar conta das
macß~ao de professores deveriam estar voltadas exclusiva- mais diversas diferencßas, entre elas, as criancßas deficien-
mente para atender as defasagens existentes no sistema tes que foram incorporadas no processo educativo regular;
Nacional, contudo, passados treze anos da vig^encia da formacß~ao especıfica sobre caracterısticas, necessidades e
LDBEN/1996, s~ao constatados sinais claros de mantencßa procedimentos pedagogicos para as diferentes areas de
de problemas na formacß~ao dos professores. defici^encia.

A formacß~ao continuada de professores deve permanecer Os numeros dos resultados em educacß~ao, no Brasil,
como condicß~ao de atualizacß~ao de profissionais bem for- demonstram essa realidade complexa, que segue a  otica
mados. Enquanto a formacß~ao n~ao tiver um perfil de quali- do desperdıcio. 85% dos alunos brasileiros que cursam a
dade, com vis~ao e pedagogia explıcita para a inclus~ao, as Educacß~ao Basica est~ao matriculados nas escolas p
ublicas,
evid^encias da exclus~ao, do ensino de baixa qualidade, da 20% desses se perdem em evas~ao escolar ate o final do
falta de planejamento educacional ter~ao perpetradas suas 9 ano. Desses 80% que permanecem na escola, apenas
perman^encias nas escolas brasileiras, pela falta de obje- 50% ingressam no Ensino Medio e apenas 30% dos
tividade nas propostas educacionais. Os objetivos da ingressantes concluem esse nıvel escolar nesta modali-
educacß~ao inclusiva n~ao ser~ao consolidados enquanto n~ao dade.
se modificar a atual concepcß~ao em prol do pensar e do
fazer a escola na perspectiva inclusiva. Ha que se considerar que os problemas externos a escola,
as dificuldades sociais presentes no Brasil, interferem sig-
Um movimento interno ao Governo Federal e constatado nificativamente nestas perdas, mas e importante observar
pelas diversas publicacß~oes do Ministerio da Educacß~ao. que os problemas relacionados a formacß~ao dos profes-
Suas obras apontam as possıveis adequacß~ oes da escola, sores contribuem sensivelmente para a essa situacß~ao
visando ao atendimento aos alunos com necessidades caotica na qual a escola brasileira, de fato, se encontra.
educacionais especiais. Tais publicacß~
oes e programas pre- Diante desse quadro, e possıvel pontuar as seguintes
tendem defender a ideia da escola inclusiva, apontam os reflex~oes:
princıpios norteadores da educacß~ao inclusiva e prop~oe
alguns ajustes na escola e na sala de aula. Porem, tais - Como articular e desenvolver, em um mesmo curso de
acß~oes governamentais focam aspectos superficiais que n~ao formacß~ao inicial de professores, conhecimento a
atingem o cerne da quest~ao que se refere exatamente a respeito do ensino para a diversidade e a multiculturali-
concepcß~ao de escola, de aluno, de avaliacß~ao, de currıculo, dade e, tambem, sobre diferencßas significativas e pro-
de ensino e de aprendizagem que precisariam ser revistas cessos especıficos de aprendizagem?
a partir de outro paradigma. - Como os cursos, ao trabalhar a quest~ao da formacß~ao de
gestores e professores para o ensino regular, tratam a
Nesse contexto entende-se que os principais desafios para organizacß~ao da escola inclusiva, do uso dos espacßos
a formacß~ao de professores em uma perspectiva educa- escolares, do currıculo adaptado e do atendimento as
cional inclusiva seja a revis~ao da concepcß~ao da formacß~ao necessidades educacionais especiais?
dos professores, superando os delineamentos baseados na - A formacß~ao inicial do professor trabalha com a con-
homogeneizacß~ao do ensino com uma orientacß~ao de for- cepcß~ao de um projeto polıtico pedagogico que tem
macß~ao a partir de um enfoque mais interativo, criativo e como base a perspectiva educacional inclusiva?
din^amico do processo de ensino e de aprendizagem, com - No curso de formacß~ao inicial de professores e trabal-
base no atendimento a diversidade. hada a quest~ao do trabalho colaborativo e cooperativo
entre o professor especializado e o professor da classe
Em uma perspectiva inclusiva, ha necessidade de se criar regular, imprescindıvel para o processo de escolarizacß~ao
contextos educativos que favorecßam n~ao apenas o desen- do aluno com necessidades educacionais especiais?
volvimento de conte udos, mas a interacß~ao crıtica bem - A formacß~ao inicial enfatiza a import^ancia do envolvi-
como a participacß~ao efetiva de todos os agentes da escola mento da comunidade escolar, especialmente da famılia
envolvidos no processo. Nessa direcß~ao, o curso de for- para a construcß~ao coletiva do projeto polıtico ped-
macß~ao inicial de professor devera preparar o professor agogico da escola?

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- A formacß~ao de professores e concebida numa proposta Brasil.Casa Civil. Ministerio Da Educacß~ao.Parecer n.


inter e transdisciplinar? CNE/CES 491/2001. Diretrizes Curriculares Nacionais
- Os estagios s~ao organizados em uma perspectiva educa- dos cursos de Filosofia, Historia, Geografia, Servicßo
cional inclusiva? Social, Comunicacß~ao Social, Ci^encias Sociais, Letras,
Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia.
Alem desses aspectos e preciso pensar a respeito de difer- Disponıvel em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/
entes modelos e formatos de formacß~ao inicial de profes- pdf/CES0492.pdf>
sores, bem como a respeito do desenvolvimento de Brasil.Casa Civil. Resolucß~ao CNE/CP N 1, De 15 De
quest~
oes epistemologicas e conceituais que devem refletir, Maio De 2006. Diretrizes Curriculares Nacionais para
tambem, em metodologias alternativas e diferenciadas que o Curso de Graduacß~ao em Pedagogia, licenciatura.
constituem elementos fundamentas para a consolidacß~ao de Disponıvel em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/
condicß~
oes favoraveis para a aprendizagem de toda a pdf/rcp01_06.pdf>
diversidade de alunos. Brasil.Casa Civil. Coordenadoria Nacional Para Integracß~ao
De Pessoas Portadoras De Defici^encias. Declaracß~ ao de
O curso de formacß~ao de professores, com vistas ao para- Salamanca e Linhas de Acß~ao sobre Necessidades
digma inclusivo, precisa ter a miss~ao de potencializar a Educacionais Especiais. Brasılia: MEC, 1994.
autonomia, fomentar a criatividade, a iniciativa, a busca Brasil.Casa Civil. Secretaria Da Educacß~ao Especial.
por novas estrategias, recursos e metodologias. Para tanto, Diretrizes Nacionais para a Educacß~ao Especial na
os futuros professores precisam ter acesso a determinados Educacß~ao Basica. Brasılia: CNE/CEB, 2001.
saberes, devem conhecer as condicß~ oes diferenciadas de Brasil.Casa Civil. Ministerio Da Educacß~ao. Lei n. 9394/
aprendizagem existentes que exigem novas metodologias 96.Diretrizes e Bases da Educacß~ao Nacional. Brasılia:
e estrategias de ensino. Afinal, a inclus~ao educacional MEC/SEESP, 1996.
requer transformacß~oes paradigmaticas o que envolve Bruno, Marilda, M. G. A educacß~ao inclusiva e as novas
mudancßas conceituais e uso de diferentes referenciais exig^encias para a formacß~ao de professores: algumas
pedagogicos. So assim e possıvel atender a complexidade consideracß~oes. In: Bicudo, M. A.; Silva Jr., C. A.
inerente ao convıvio e interacß~ao entre diferentes sujeitos e (Org.) Formacß~ao de educadores e avaliacß~ao
garantir uma escola de qualidade para todos os alunos. educacional. S~ao Paulo: UNESP, 1999.
Bueno, J.G.S. Criancßas com necessidades educativas
Conflicts of interest especiais, polıtica educacional e a formacß~ao de
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Address for correspondence satisfacß~ao das necessidades basicas de aprendizagem
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Email: poker@marilia.unesp.br
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624 ª 2016 NASEN

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