Você está na página 1de 3

WEBER, Max. Congregação.

In: Economia e Sociedade: fundamentos da


sociologia compreensiva. Tradutor: Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. 6a
edição. Brasília: Ed. UnB. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999,
p. 312-314, 464p.

RELIGIOSIDADE CONGREGACIONAL
Segundo Max Weber, usando a sua teoria da DOMINAÇÃO, as relações entre o
poder politico e a comunidade religiosa, originaram dois conceitos:
- Confissão Religiosa – cada uma das igrejas que professam o cristianismo;
- Religiosidade Congregacional – fenômeno lábil e nem sempre unívoco que só
pode existir quando os leigos:
a) Encontram-se associados numa ação comunitária permanente;
b) Sobre cujo decurso influem ativamente de alguma maneira.
Vale aqui ressaltar o conceito de congregação, balizado há pouco por Leandro:

Cada congregação de fiéis, unida pela adoração, observação dos


sacramentos e disciplina cristã, é uma Igreja completa, não subordinada
em sua administração a qualquer outra autoridade eclesiástica senão a
de sua própria assembleia, que é a autoridade decisória final do governo
de cada igreja local.

ASSOCIAÇÕES RELIGIOSAS
Desta forma, podemos analisar alguns modelos de associações religiosas a fim de
verificar se elas cumprem estes dois critérios acima mencionados:
a) Paróquia – trata-se de um puro distrito administrativo, que delimita as
competências dos sacerdotes, quiçá dos leigos; portanto não é uma
congregação.
b) Religiosidade chinesa, da Índia Antiga e, hoje a hinduísta – sequer existe uma
organização distinta da comunidade mundana de caráter político ou
econômico.
c) Fratrias helênicas, outras da Antiguidade e comunidades cultuais – sequer
são paroquias, mas associações políticas ou de outra natureza, cuja ação
comunitária estava sob o patrocínio de um deus.
d) Paróquia do budismo antigo – constitui um distrito dentro do qual os monges
ambulantes ocasionalmente se encontram para participar das assembleias
quinzenais obrigatórias.
e) Paróquia medieval ocidental, anglicana, luterana, e oriental (cristã e islâmica)
– é substancialmente uma associação eclesial passiva com obrigações
tributárias e um distrito de competência do pároco; porém o conjunto de todos
os leigos permanecem sem caráter congregacional. Pequenos resíduos de
direitos congregacionais, resquícios das comunidades primitivas, se
encontram ainda conservados em algumas igrejas cristãs orientais e
ocidentais e no luteranismo.
f) Monaquismo budista antigo, antiga comunidade guerreira islâmica, o judaísmo
e a cristandade antiga – constituíram congregações, ainda que com graus
variados de rigor nas relações associativas.
g) Paróquias islâmicas xiitas – contam com certa influência efetiva dos leigos,
não garantida juridicamente, por exemplo, o xá não costuma indicar nenhum
sacerdote sem antes ter certeza do consentimento dos leigos locais
(compatível com a ausência de uma organização congregacional local
submetida a regras fixas).
h) Seitas – constituem um caso peculiar por as diversas congregações locais se
basearem justamente na relação associativa fechada (sentido técnico do
termo e seu verdadeiro fundamento). Exemplos do protestantismo: batistas e
independentes, congregacionalistas, que, mesmo em vista de serem
universais, consideram membros somente aqueles que, mediante contrato,
entram numa das congregações locais ou ‘’particulares’’.

CONSEQUÊNCIAS DO DESENVOLVIMENTO DE UMA AUTÊNTICA


RELIGIOSIDADE CONGREGACIONAL: analisemos as consequências para as
relações de poder quando uma associação religiosa se constitui em uma autêntica
congregação religiosa:
1. que agora dentro da congregação, a relação entre sacerdotes e leigos assume
importância decisiva para a atuação prática da religiosidade – ou seja, quanto
mais especificamente congregacional o caráter da organização, tanto mais a
posição poderosa dos sacerdotes enfrenta a necessidade de ter em conta as
necessidades e opiniões dos leigos, em prol da conservação e propagação do
grupo de adeptos.

Essa situação é comum a todo tipo de sacerdócio. Para manter sua


posição de poder, frequentemente tem de ser condescendente, em alto
grau, com as necessidades dos leigos.
2. Peculiaridades do relacionamento do sacerdote com as três forças atuantes no
círculo dos leigos: a profecia, o tradicionalismo leigo e o intelectualismo leigo.
a. O profeta ético e exemplar: em regra, é um leigo que apoia sua posição
de poder sobre o grupo de adeptos leigos; em virtude de seu sentido,
toda profecia, ainda que em grau diverso, desvaloriza os elementos
mágicos do sacerdócio organizado. Por rejeitar a magia, ele ocupa uma
posição cética em relação às atividades sacerdotais propriamente ditas.
Por isso, há por toda parte tensões entre os profetas, seus adeptos e os
representantes da tradição sacerdotal, e é uma questão de poder,
condicionada também pela situação política externa, até que ponto o
profeta pode cumprir sua missão ou se torna mártir dela.

Exemplos ilustrativos de Profetas: Buda e seus iguais e os profetas


israelitas rejeitam não apenas a pertinência dos magos e adivinhos
qualificados, mas também a própria magia como inútil. Somente a
especificamente religiosa relação significativa com o eterno traz a
salvação.

o não são holocaustos o que o deus dos israelitas quer, mas obediência a
seus mandamentos,

o nada se consegue com o saber e o ritual védico para a salvação do budista,

o e o venerável sacrifício do soma para o Ahuramazda dos gâthâs mais


antigos era algo horrendo.

Exemplos ilustrativos de sacerdotes: Zaratustra, Maomé e os profetas da


Índia se apoiaram sobre a própria família e linhagens aristocráticas e
principescas contra o profeta adverso anônimo. Os sacerdotes israelitas
se apoiaram sobre a classe média burguesa e camponesa

o Mas, todos eles se aproveitaram do prestigio que o carisma profético


encontrou entre os leigos em relação aos técnicos do culto cotidiano: a
santidade da nova revelação defronta-se com a santidade da tradição e,
dependendo do êxito de ambas as partes, o sacerdócio compromete-se com
a nova profecia, adota-a ou sobrepuja sua doutrina, elimina-a ou é
eliminado ele mesmo.

b. Leigo tradicional.
c. Leigo intelectual.

Você também pode gostar