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2.2.

Fim do Império, prenúncios da República e Industrialização do


Maranhão: uma revisão historiográfica.

2.2.1 Do Império à República: os antecedentes.

MEIRELES (2001) aponta o período do Império como “a base áurea do


Maranhão”. Essa assertiva, segundo o próprio historiador, diz respeito ao fato
de ter sido instalada aqui ainda em fins do século XVIII, portanto ainda na
Colônia, a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Instituída
pelo então secretário do Estado Português, o Marques de Pombal, em 1755,
que funcionou até os idos de 1778.

Conforme Meireles, a instalação desta Companhia teria trazido “um


período de franco progresso” ao estado desencadeando um enriquecimento
material e até mesmo aprimoramento intelectual da população local o que teria
propiciado certo destaque ao Maranhão no cenário nacional. Sendo assim,
ainda conforme a visão desse historiador, o Maranhão adentra o século XIX e
em seguida o Império apto ao crescimento e ao desenvolvimento. (MEIRELES,
2001, p. 256-257)

O desenvolvimento da lavoura teria assim despertado, aos seus olhos,


o interesse das chamadas ‘nações amigas’, logo quando da abertura dos
portos, instalando-se assim um forte comércio em São Luís. Este comércio,
assumiu cunho mais exportador de início, e depois “por um sem-número de
firmas inglesas”, logo seguidas por francesas, estas últimas mais
especializadas em artigos de luxo” passou ao nível local mesmo. (MEIRELES,
2001, p. 258).

Entretanto, FARIA (1998, p. 32) esclarece que a expansão da lavoura


algodoeira foi na realidade favorecida pela crescente demanda causada em
primeiro lugar pelos avanços técnicos da indústria têxtil, “ponta de lança da
Revolução Industrial, que absorvia cada vez mais matéria-prima” e depois pela
Guerra de Independência das colônias inglesas da América do Norte que
impossibilitou o abastecimento norte americano de algodão ao mercado inglês,
contribuiu significativamente para alavancada da agroexportação maranhense.

2.2.2 O sistema agroexportador e a ação colonizadora.

Aos trancos e barrancos o sistema agroexportador contribui ainda em


mais um item ao Maranhão, a ação colonizadora. Na primeira década do
século XIX, é ela a – agroexportação, a responsável em ampliar a conquista
de territórios por áreas próximas ao litoral, especialmente em Alcântara,
Baixada Ocidental e nas ribeiras dos rios, com destaque para o rio Itapecuru.
(FARIA, 1998, p. 37)

O grande avanço da lavoura algodoeira trouxe, de fato, como acima


mencionado, certo enriquecimento material demonstrado através do
crescimento da cidade de São Luís e ostentado através dos sobrados
construídos na área da Praia Grande, local central e mais nobre por aqueles
tempos (Guia de arquitetura, 2008).

Entre as duas primeiras décadas do século XIX, a plantação algodoeira


atinge o seu ápice, fazendo entrar pelo porto de São Luís cerca de 45.477
escravos, o que nos aponta um crescimento real da economia no Maranhão
nos primeiros anos de Império. (FARIA, 1998, p. 40)

Todavia, as décadas seguintes provariam o gosto amargo da


diminuição das exportações o que gerou como consequência a diminuição da
produção. De acordo com Faria (2005), além do fato de que a concorrência
externa voltou ao seu normal com o fim do processo de independência das
colônias norte-americanas, o que já foi um golpe por demais duro na economia
maranhense, a produção algodoeira do Maranhão ainda foi fortemente atingida
pelas lutas da Balaida, revolta ocorrida entre os anos de 1838 a 1841(FARIA,
2005, p. 231-232)

Quanto a esta revolta Astolfo Serra, elucida que:


“as ideias da Convenção francesa, transplantadas para a
América, faziam, por estes rincões varados de luz e onde
o sangue em caldeamento escaldava nas veias de
mestiços, o seu prurido de violências, as suas agitações,
que provocaram, da parte do absolutismo da corte, os
mais bárbaros meios de repressão e os castigos mais
desumanos” (SERRA, 2008).

Influência ou não da Convenção francesa, como quer Astolfo Serra, o


fato é que a situação do Maranhão durante o segundo quartel do século XIX
não era nada promissora.

2.2.3 A agroindustrúia açucareira

Para tentar esquivar-se da crise da agroexportação algodoeira, muitos


fazendeiros passaram a reverter sues investimentos para plantação da cana-
de-açúcar e tentar explorar a agroindustria açucareira. (VIVEIROS, 1954)

FARIA acrescenta a nossa discussão que isto ocorre ‘devido á


desorganização temporária da produção açucareira das Antilhas Inglesas, que
haviam abolido a escravidão’ favorecendo, portanto, a entrada do Maranhão
nessa produção. Esse favorecimento, segundo Faria, fez o então Presidente de
Província Joaquim Franco de Sá, tomar medidas de incentivo a produção, para
aumentar o número de engenhos de açúcar no Maranhão e assim voltar a
alavancar a economia maranhense. (FARIA, 234-235)

Segundo consta na obra Estatística histórico-geográfica da Província


do Maranhão de Antonio Bernardino Pereira do Lago, o Maranhão até o ano de
1822 só dispunha de então sete engenhos de açúcar, visto que exigiam muitos
gastos para sua implantação. Em contrapartida, o mesmo Pereira do Lago
(2001), nos informa ainda que os engenhos de aguardentes, que exigiam
menos custos eram em número de 115. (PEREIRA DO LAGO, 2001)

No entanto, o maranhão aposta suas fichas a partir de um momento


tormentoso de determinado região agroexportadora, a concorrência
internacional tornou-se novamente um impecílio na medida em que ao longo
dos anos houve, cada vez de forma mais intensa, a inserção de outros locais
de produção e variedade da mesma, especialmente com o crescimento da
produção do açúcar de beterraba que chega a alcançar o índice de 48% da
produção mundial já nos idos de 1880. Além disso, havia ainda o açúcar
cubano de qualidade superior ao do açúcar oferecido pelo Maranhão. (FARIA,
2005, p. 236)

Assim, o Maranhão assiste mais uma vez ao seu sistema


agroexportador entrar em crise, que se agrava ainda mais com a também crise
do sistema escravista iniciado com o fim do tráfico de escravos em 1850 e
complicando-se ainda mais com o passar dos anos e da publicação das leis
abolicionista até a final Lei Aurea.

2.2.4 As relações escravocratas no Maranhão Imperial

Sobre esta temática, é Josenildo de Jesus Pereira em seu trabalho


intitulado “Na fronteira entre o cárcere e o paraíso: um estudo sobre as práticas
de resistência escrava no Maranhão oitocentista” que irá nos trazer à luz as
informações acerca de como se davam este tipo de relação no Maranhão por
este período.

PEREIRA (2001), afirma que as relações escravistas eram:

“o elemento basilar das relações sociais quanto ao


pertencimento, ao prestígio e à exclusão social de
pessoas no cotidiano da vida social, assim como, de
conflitos, em particular, entre os senhores de escravos e
os próprios escravos.” (p.18)

Assim é de fundamental importância discutir esta temática, visto a


relevância do mesmo para a melhor entendimento da sociedade maranhense
no período imperial.

Inicialmente convém destacar que nas primeiras décadas do século


XIX a população escrava era superior a livre. Podemos utilizar como exemplo a
Ribeira do itapecuru que no ano de 1805 possuía uma população que girava
em torno de 14.692 habitantes, dos quais apenas 2.917 eram livres, ou seja
apenas 19,85%. (PEREIRA, 2001, p. 20)
PEREIRA explica que isto se deve ao tráfico de escravo que por este
tempo estava bastante intenso no litoral maranhense. E nos aponta ainda a
importância destes dados para entendermos o processo de povoamento do
Norte do Maranhão por este tempo. Sendo a população escrava essencial para
esta povoação. (2001, p. 21)

A partir de 1850, com a proibição do tráfico de escravos, o cenário


maranhense vai ser um pouco modificado. A população escrava vai diminuir
consideravelmente, primeiro por conta do fim do tráfico, como mencionado, e
depois pelas condições e possibilidade do aumento do número das cartas de
alforria.

Assim, pelos idos de 1872 o censo demográfico fará o registro de uma


população de 339.040 habitantes no Maranhão, sendo que destes, 74.989
eram escravos, representando 28,9% da população total. (GOMES & CÔRTES,
2005, p. 364)

Estes dados são de alta relevância, principalmente se levarmos em


consideração que no início do século referido, no ano de 1822 a população não
alcançava a casa dos 153 mil habitantes. Muito embora outras províncias
tenham chegado a esse número de habitantes muito tempo antes do
Maranhão. (LAGO, 2001)

2.2.5 Aumento populacional e discursos civilizatórios

Esse aumento populacional concentra-se em grande parte na capital


da província. Era comum grandes proprietários de terras terem casa em São
Luís, prova disto são as muitas dezenas de inventários nos quais grandes
senhores de terras anunciam estas propriedades com bastante frequência.
(MOTA; MANTOVANI & SILVA, 2001)

Convém lembrar que o país na segunda metade do século XIX recebia


forte influencia dos discursos europeus de superioridade racial. O Brasil bebia
em fontes europeias e buscava a toda força enquadrar o Brasil nestes
discursos.
Lilia Moritz Schwarcz esclarece que a partir da década de 70 os
discursos de eugenia invadem as Academias brasileiras e os lares. Estudos
ditos ‘científicos’ realizados no período aparecem em geral classificando as
populações, segregando negros em maior medida e o índio em seguida. O
discurso da eugenia estabelece o ser branco como o ideal, a Europa aprece
como centro de desenvolvimento e em consequência o elemento branco como
o mais apto ao desenvolvimento humano. (SCHWARCZ, 1993)

O elemento negro passa a ser objeto de estudos constantes. Formato


do rosto, da cabeça, das orelhas, tamanho do cérebro, etc. Tudo para arrumar
uma justificar para provar a superioridade do branco em detrimento do negro.
Lombroso, reconhecido cientista de época chegou mesmo a diagnosticar
esteriópos para classificar, ladroes, mentirosos, e prostitutas a partir de traços
físicos, como meio de segregar estes personagens da sociedade, tudo em
busca de um ideal de civilização. (SCHWARCZ, 1993)

Nas Academias teorias como as de Spencer, Charles Darwin dentre


outras que pregavam uma ideia de evolução da espécie eram as mais
discutidas. Nas Faculdades de Medicina este era o tema de maior frequencia
nas teses de conclusão de curso.

Cidades como Rio de janeiro e São Paulo passaram por grandes obras
de reformas urbanas tudo para se encaixarem no ideal do momento. O Brasil
parecia querer se encontrar como pais e mostrar para Europa que não era
bárbaro como pensavam e por fim buscava imitar Paris e a França como um
todo, considerada então como berço da civilização. O Brasil queria ser
civilizado. (CHALHOUB, 1992)

Essa ideias não tardaram a chegar ao

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