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alvSEMINÁRIO: CAPOEIRA ESCRAVA NO RIO DE JANEIRO,

CAPÍTULO 2
“DE CABINDAS E CRIOULOS: AS NAÇÕES DA CAPOEIRA

Preâmbulo

- Objetivo do capítulo: reconstruir a composição sócio-cultural dos


indivíduos presos por capoeira.

- Fonte principal: códices da polícia, em especial o códice 403


Detalhe: Guarda Real de Polícia - instituição fundada pelo
príncipe regente Dom João, após a chegada da família real no Brasil
Posteriormente, essa instituição passou a ser chamada de
“Corpo Militar da Guarda Real de Polícia.

- Consideração a respeito dos conceitos de nação e de etnia


empregados na pesquisa. (primeiro parágrafo da página 53)

- Duas hipóteses da origem da capoeira:


Originalmente brasileira
Predominantemente relacionada a algumas etnias africanas
(primeiro e segundo parágrafos da página 78)

- Método utilizado pelo autor: análise comparativa dos dados dos


escravos presos por capoeira com o conjunto global de elementos
referentes a criminalidade escrava na cidade.

- Dificuldades provenientes da imprecisão das fontes.

- Ao fazer essa busca nos arquivos da polícia, o autor traz diversos


detalhes que contribuem para uma contextualização mais ampla da
escravidão no Rio de Janeiro.

Alguns detalhes interessantes:

- Prestígio dos capoeiras devido ao seu companheirismo, habilidade


de liderança e conhecimentos mágico-religiosos. (ultimo parágrafo
da página 53)

- Sapatos: símbolos de liberdade almejados pelos escravos (terceiro


parágrafo da página 61).

- A maior parte das ocorrências de capoeira do Códice 403 são de


conflitos entre negros, fossem escravos, libertos ou livres (primeiro
parágrafo da página 64).

- Nas documentações, os capoeiras e os escravos presos por fugas


não convergem. (último parágrafo da página 57 e dois primeiros da
58).

- O códice 403 demonstra que a capoeira tinha um caráter


inexoravelmente urbano. No volume 3 do códice trata-se dos presos
remetidos do interior da província, onde constam centenas de
quilombolas, fugitivos e revoltosos, mas apenas um capoeira.
(terceiro parágrafo da página 65).
O instrumento dos gráficos:

- O instrumento dos gráficos como forma de desvendar o códice


403. Através deles, em comparação com outros estudos, o autor
pretende encontrar indícios que mostram se a capoeira era uma
atividade generalizada entre os escravos da cidade ou uma
iniciativa de etnias determinadas, o que pode abrir caminho para
desvelar suas raízes africanas mais longínquas. (ultimo parágrafo
da página 65)

O procedimento que o autor utiliza nos gráficos é, frequentemente,


o de comparar dados específicos para os presos dos capoeiras e os
dados de todos os negros presos pela polícia. Desse modo, ele
pretende compreender quem eram os capoeiras dentro da
sociedade da época no que diz respeito a aspectos como: origem,
condição civil, “nação”

Obs: os gráficos que seguem variam desde 1809 até 1829.

- Gráfico 1: origens dos presos por capoeira - predominância de


africanos, mas com presença de crioulos*
Crioulo, no texto, se refere a negros nascidos no Brasil.

- Gráfico 2: capoeiras por condição civil (escravos ou livres).


Predominância maciça de escravos: 91%

Esses dois gráficos nos permitem afirmar que a capoeira era


fundamentalmente uma prática escrava, antes de africana. As
origens da capoeira, afirma o autor, tem que ser procuradas na
escravidão urbana, onde o Rio de Janeiro tem um papel
fundamental.
- Gráfico 4: africanos por região: predominância da África Central
(nações: Quissama, Ganguela, Mofumbe, Longo, Monjolo, Rebolo,
Abunda, Cessante, Angola, Cabinda, Benguela, Congo).

- Gráfico 3: capoeiras da África Central e Ocidental. Predominância


da África Central e, dentro desta classificação, predominância das
nações Benguela e Congo.

- Gráfico 10: atividades dos capoeiras por ano, de 1810 até 1821. O
ápice das atividades foi 1815, com cerca de 100 registros.
O autor destaca que esse aumento de atividades coincide com
o aumento do tráfico negreiro clandestino e o consequente aumento
de escravos.

- Gráfico 20: réus africanos por nações. O gráfico mostra claro


predomínio dos Benguela, sendo estes 26%. Comparando esse
gráfico ao Gráfico 3, que afirma que os Benguela eram, junto com os
Congo, nação predominante entre os capoeiristas, temos o que o
autor coloca como a primeira evidência de que a capoeira
corresponde a um estrato étnico específico.

A busca por mais dados nos registros dos espaços para onde os
escravos condenados eram enviados.

- Gráfico 37: africanos ocidentais no calabouço (a grande prisão de


escravos da cidade). Predomínio dos Benguela e dos Congo.
Envio de escravos condenados por crimes para marinha, na qual
eles viviam num local denominado presiganga e no Dique (colossal
construção naval da época para reparos de navios de guerra, que
demorou 30 anos para ser concluído). Nesses ambientes, os
escravos faziam trabalhos forçados.

- Gráfico 25: africanos presos na presiganga. Predomínio dos


Cabinda e Moçambique, seguidos dos Congo e Benguela.

Entre os escravos presos da marinha, a maioria (56%) ia trabalhar


no Dique. - Gráfico 32

Entre os escravos que trabalhavam no dique, os Africanos


Ocidentais eram maioria (57%) - Gráfico 33

Entre as nações de africanos que trabalhavam no dique, predomínio


dos Benguela e dos Moçambiques - Gráfico 34

Em resumo, em grande medida os padrões étnicos dos africanos


levados para o Dique são bastante aproximados dos registros
policiais sobre a capoeiragem escrava da segunda década do
século XIX.

Tensões na cidade do Rio de Janeiro

- Apesar da lei que proibia o tráfico de escravos a partir de 1831,


continuavam chegando africanos no Brasil, de forma clandestina.
Consequentemente, a população de africanos continuava a
aumentar.

- Rebeliões escravas no ano de 1835 no país que pipocavam desde o


sul farroupilha até o norte amazônico ameaçavam a estabilidade do
regime regencial.

- A chegada de um navio com dezenas de africanos da Bahia, que


fugiam da repressão desesperada em Salvador, aumenta mais a
tensão na cidade do Rio.

- Boatos de revolta escrava no campo em cidades como Barra


Mansa, Bananal, Rezende Areais e São José do Príncipe contribuem
para o aumento da tensão e o medo das revoltas.

- Insurreição nas cadeias - negros se negando a fazer trabalhos


ordinários nas celas.

- 1835 como um ano de intensa atividade das maltas de capoeiras e,


proporcionalmente, de maior repressão policial.

Os capoeiras deixam de sair à luz do dia ou enfrentar em campo


aberto a agressor policial. Agora, o palco são as grandes multidões,
e o momento propício as festas do calendário popular.

1838: fracasso das rebeliões escravas e adoções de outras


estratégias.

- A troca do enfrentamento direto pela construção de canais de


solidariedade dentro da “cidade negra” que permitissem a
circulação e a fuga onde da vigilância dos senhores e do estado.
- Zungús, uma das mais importantes instituições escravas da
década de 1830. Locais de encontro para saborear o angu, além de
festas, músicas, tradições religiosas e tudo que pudesse recompor
a vida cultural dos negros. Também sofriam com a repressão
policial. (Terceiro parágrafo da página 97). Os Zungús eram a prova
cabal de que muitos escravos, ao invés da fuga, esperavam
reconstruir suas vidas no coração da cidade dos brancos, lado a
lado com o perigo, a denúncia de vizinhos hostis e as invasões
policiais. (Quarto parágrafo)

- Um recurso utilizado por muitos negros para escaparem da


repressão policial era assentar praça, ou seja, se alistar nos
regimentos militares. Os africanos livres tinham mais chance de
ficar, enquanto os escravos eram devolvidos aos seus senhores
após serem descobertos.

- Gráfico 41: diferentes nações africanas de presos por capoeira na


década de 1830. Predominância dos Cabinda.

- Mesmo sendo perseguida ferozmente pelas hostes policiais, a


capoeira não era crime tipificado no código criminal de 1830.

Resumo da década de 30: do terceiro parágrafo da página 103 até o


segundo da 104.

- Detalhe importante: crescimento da presença de pardos e crioulos


entre os capoeiras.

Os anos derradeiros - final da primeira metade do século XIX

- A constituição do tráfico clandestino de africanos se tornara uma


verdadeira indústria, mobilizando quantias milionárias e
institucionalizando a corrupção em diversos níveis do Estado. O
receio de conflitos com a Inglaterra, que foi quem proibiu o tráfico.

- Em 1849 a população africana no Rio atingira níveis nunca vistos.


Cerca de metade da população era escrava, em torno de 80.000
pessoas. Em decorrência disso, o medo de um levante escravo
ressurgia na cidade.

- Para Graden (citado pelo autor), essa tensão foi o motivo da


extinção definitiva do tráfico de escravos na década de 1850.
- Crescimento da presença de crioulos nas maltas.

Já no final de 1850 a capoeira permanecia sendo majoritariamente


escrava. - Gráfico 52: capoeiras por condição jurídica.

- Os crioulos se tornam cada vez mais numerosos entre os


capoeiristas - Gráfico 53: escravos capoeiras por origem.

- O fim do tráfico negreiro em 1850 como o início do declínio da


escravidão. (página 108, parágrafo 2).

- Destinos dos capoeiras presos de 1810 a 1850 (primeiro parágrafo


da página 110).

- O autor afirma que a presença de cativos de diversas origens


dentro da capoeira indica que este era um dos espaços
fundamentais de sociabilidade escrava, embora afirme que esta era,
segundo todos os indíces, exclusivamente masculina.

- Com o fim do tráfico negreiro e a mortalidade, a quantidade de


africanos presos por capoeira começa a declinar, e a de crioulos, a
aumentar - Gráfico 67: escravos capoeiras na casa de correção.

- Em 1850, assim como na década de 1830, os Cabinda aparecem


como maioria entre as etnias dos presos por capoeira na Casa de
Correção, o que é interessante, pois estes nunca foram antes
majoritários no conjunto da população africana. Esse dado pode ser
um índice que ligue a capoeira a algumas tradições da foz do Rio
Zaire e norte de Angola. - Gráfico 69: capoeiras africanos por nação

- Metamorfose étnica. Já no período de 1852 até 1858, os registros


de capoeiras presos na casa de correção de 1858, que constavam
apenas de crioulos e pardos. - Gráfico 71.

Conclusão

- Reafirmação do conceito utilizado de nações e etnias africanas


(primeiro e segundo parágrafos da conclusão.

- Apesar da generalidade com que se denominavam as nações,


estas se referenciavam quase sempre a grandes regiões africanas
específicas, o que permitiu a perpetuação de determinadas
características, como por exemplo os Congo e os Cabinda, que
guardam uniformidades linguísticas, culturais e simbólicas, que
permitem distinguí-los de outros povos de outras regiões da África.

- Seguramente podemos afirmar que, durante a primeira metade do


século XIX, a capoeira foi uma instituição criada e mantida por
escravos (que no seu ápice compunham 50% da população do Rio).

- O autor compreende a capoeira como uma instituição criada pelos


africanos escravos e herdada pelos crioulos e pobres livres,
mantida por estes.

- A presença de danças africanas no Caribe de tradições


proveniente do Congo como um dado a favor da hipótese da relação
da capoeira com alguns grupos étnicos específicos.
- Desafios para o rastreamento das origens da capoeira (terceiro
parágrafo da página 129).

- No caso da capoeira, duas origens étnicas aparecem com mais


força, diante dos dados encontrados. A lista das “nações”
configuram uma presença marcante, mas nunca hegemônica, dos
povos da bacia do Zaire: os Congo e os Cabinda.

- A tese do autor pode ser resumida da seguinte forma: a capoeira


tem diversos pais, espalhados por todo continente africano, mas
somente germinou como a conhecemos em terras americanas, onde
também tem diversos primos.

- Consideração a respeito da limitação das fontes no primeiro


parágrafo da última página do capítulo.

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