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Revisto histórico...

Alvor-Silves & Odemaia


Fevereiro de 2011. Volume 2, nº 2.

Alinhamento piramidal Pensacola


&
Zapatera

(página 3)

Âncoras Suiças

O Alinhamento das pirâmides de Gizé leva-nos a um


meridiano que junta a linha dos Camarões, que inclui as
ilhas de St. Tomé e Príncipe, ao Estreito de Magalhães (página 2)
(outrora Cola do Dragão), ou ainda a Heliopolis
(Baalbek) e ao Monte Ararat…
(página 6)
A última viagem de
Cáspio Gulliver a Lilliput
(página 22)

Alvor-Silves
2 ... Âncoras Suiças
3 ... Pensacola e Zapatera
Ou como um aumento do nível do mar torna consistente 4 ... João de Lisboa, piloto de Magalhães
algumas descrições feitas em mapas antigos… Mares que 6 ... Alinhamento piramidal
passaram a lagos, como o Cáspio, ou ainda lagos 8 ... Idade do Bronze e Oricalco
desaparecidos, como o Parime. 10 ... Erro na longitude?
(página 12) 12 ... Cáspio
Erro na Longitude? 14 ... Porto de Mós e Dom Fuas
16 ... Mar Eritreu, vulgo Vermelho
18 ... Taybencos, a que agora chamamos Chins
A. Carvalho da Costa (1682) explica 20 ... A última viagem de Gulliver a Lilliput
em poucas linhas como o problema Odemaia
da longitude não era inultrapassável. 22 ... Axum e Lalibela,
23 ... Alinhamento piramidal (cont.)
24 ... Romanas maiúsculas
(página 10)
25 ... Tasmânia .-muralhas de Jerusalém

alvor-silves.blogspot.com odemaia.blogspot.com Página 1


AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Âncoras suiças
Fala-se frequentemente das evoluções climáticas e Galvão faz este relato nos anos 1560's, e só
geográficas que podem ter ocorrido durante a história encontramos figuras ilustrativas na Austrália, em
da Terra, e em particular durante a presença humana. Wreck Beach
A teoria de que o planeta teria saído de uma idade do
gelo há 12 500 anos é do suiço Agassiz.

Se houve mudanças climáticas recentes assinaláveis, o


mesmo já não se pode dizer de alterações geográficas.
Essas grandes mudanças são reportados a períodos
de milhões de anos... eventualmente os únicos
testemunhos de tais mudanças seriam contem-
porâneos de dinossauros. É claro que são reportados
achados de pegadas humanas em conjunto com as de
dinossauros - coisa típica de sites criacionistas, e
difícil de atestar a veracidade ou não.... afinal um [várias âncoras incrustadas na rocha, pretensamente ocorridas em 2
achado desses implicaria uma revisão de toda a naufrágios no Séc.XIX, na Austrália]

enfabulação "científica" de datações. Neste momento


deveria dizer que sendo possível datar com seriedade Que os ingleses levaram Galvão muito a sério, e
a evolução terrestre, também seria do universo... e traduziram-no antes de começarem os seus
isto só não é uma piada, porque é suposto ser teoria descobrimentos, é facto assente, como já aqui
científica aceite a datação do universo! mencionámos várias vezes. Nós também levamos, e
Afinal, as amibas também podem construir uma se Galvão escreve que era relatado esse achado na
teoria semi-consistente do seu universo, antes de Suiça, é porque ele daria crédito a essa informação,
serem confrontadas com um corante na lamela do que circulava na época.
microscópio.
O que se passa é simples, e bem conhecido Âncoras e cascos de navios incrustados nos Alpes...
estatisticamente - com um conjunto qualquer de Dir-se-ia que isto seria um daqueles segredos do
dados pode fazer-se uma teoria e uma extrapolação Vaticano, guardado pelos suiços, desde essa época, ou
que se adaptará à maioria dos casos conhecidos... talvez um pouco antes, desde 1506:
quando há dados que caem fora do intervalo, pois
esses dados são tornados secretos e eliminados.
Chama-se a isto manipulação científica - quem aceita
está dentro, quem não aceita fica de fora.

Vem esta introdução a propósito do relato de


António Galvão sobre achados na Suiça:

[guarda suiça no Vaticano desde 1506]

(...) "Assim contam que acharam cascos de naus,


âncoras de ferro, nas montanhas da Suissa,

nunca houve mar nem água salgada".


muy metidas pela terra, onde parece que
Alvor-Silves, publicado em 1 de Fevereiro de 2011

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/ancoras-suicas.html Página 2
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Pensacola e Zapatera
Continuamos com um dos relatos das viagens de E. A menção à pequena ilha Pensacola (que Squier
G. Squier, neste caso à Nicarágua, onde encontramos coloca à distância de tiro de canhão do antigo castelo
registos de estátuas interessantes. de Granada) parece ter desaparecido, e todas as
Squier vai abordar ainda a questão do Canal... na estátuas são identificadas à ilha grande, Zapatera. A
hipótese de vir a ser na Nicarágua e não no Panamá, confusão com o nome Pensacola, chega mesmo
como depois veio a ser escolhido. a várias batalhas, com mesma designação.

Comecemos por apresentar os "ídolos de Pensacola", Nessa ilha de Zapatera, no lago da Nicarágua, são
conforme Squier lhes chamava: encontradas outras estátuas notáveis, e com algumas
característica semelhantes:

Estátuas de ídolos em Zapatero - desenhos de E. G. Squier

São alguns destes desenhos que vamos encontrar de


Estátuas de ídolos em Pensacola - desenhos de E. G. Squier novo na obra de Bovallius, alguns anos mais tarde. A
forma acidental como eram encontrados nas florestas
Através destes desenhos, vemos que se enquadram da Nicarágua denota que havia bastantes vestígios
bem nalguns mitos, e poderá quem queira ver nelas ainda no Séc. XIX, já depois da inspecção e
algum factor alienígena. inquisição espanhola. Talvez pelo facto da Nicarágua
ter conseguido resistir ao primeiro ímpeto invasor, e
Quanto às estátuas originais, chegámos a duvidar se ter mantido uma resistência prolongada nas mon-
ainda existiriam... inicialmente só encontrámos os tanhas. O destino posterior destes vestígios, seria
desenhos de Squier e também no trabalho um pouco muito naturalmente, no Séc. XIX, a ida para museus
posterior do sueco Carl Bovallius, na obraNicaraguan ou colecções privadas... Squier parece ter participado
Antiquities (1886), que é focado em Zapatero - ilha nisso.
de Zapatera. Porém, acabamos de localizá-las
num museu de Granada (Nicarágua), É pelo registo posterior de Bovallius que entendemos
consideravelmente mais degradadas: o destino de algumas estátuas:

The statues were less well preserved, and had evidently been
subjected to greater violence, probably also to attempts at
removal. Indeed we know through Squier, that such has been
the case.Some statues had been transported to Granada before
his visit, and Squier himself sent some to Washington.

Alvor-Silves, publicado em 5 de Fevereiro de 2011


As estátuas de Pensacola/Zapatera num museu de Granada,
Nicarágua. Têm os nomes "montezuma" e "el diablo".

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/pensacola-e-zapatero.html Página 3
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

João de Lisboa, piloto de Magalhães


É frequentemente aqui citado o Tratado ou Livro de A diferença é que se à data de Vernhagen ele seria
Marinharia de João de Lisboa, porém tinha-nos "impublicável“… Agora, apesar de estar acessível
escapado um detalhe importante, que encontrámos na na internet, continua como se estivesse fechado no
obra "História Geral do Brasil", do historiador cofre mais seguro, ou perdido para sempre.
brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen (1816-78, Por muito que se fale da velocidade de propagação da
visconde de Porto Seguro): informação na internet, isso é um puro mito... só
funciona se tiver um circuito lubrificado que estimula
o boato. Pela nossa parte, há um ano que temos
mantido essa informação acessível, e certamente
chegou a centenas de pessoas, mas não tem depois
nenhum efeito retransmissor visível.
O próprio interesse das pessoas é canalizado para
assuntos de outra natureza, por boa fé na sociedade
Francisco Varnhagen onde cresceram, e onde definiram os seus valores.
Desconhecem como a História pode influenciar
A certa altura, sobre a viagem de Magalhães, definitivamente a actualidade... no fundo, não querem
Varnhagen começa por notar que Magalhães teria largar o conforto maternal das certezas, e concluir
começado por tentar mudar o nome do Rio de todas as incertezas!
Janeiro, para Baía de Santa Luzia... facto de menor Esta informação adicional, só tem importância no
importância, mas que ilustra que num dos objectivos contexto.
da viagem de Magalhães se encontraria uma Afirmámos que os mapas de João de Lisboa, que
renomeação dos vários pontos geográficos tinham o Estreito de Magalhães, eram de 1514,
conhecidos (página 31, do Tomo 1): anteriores à viagem... conforme datado no Livro. A
"Cola do Dragão" foi assim representada antes da
Façamos porém excepção em favor da pequena frota do viagem oficial, conforme já dissera António Galvão...
primeiro circum-navegador Fernão de Magalhães. Em vão quiz
este mudar para bahia de Santa Luzia o nome do golfo, em Ao encontrarmos João de Lisboa como piloto de
que aportou no dia do orago daquella santa, e ao qual os Magalhães, encaixam várias coisas... e coloca em
primeiros navegantes chamaram tão impropriamente Rio de causa a datação da sua morte. Pura e simplesmente,
Janeiro. Deixemo-lo passar adiante sem detença; que o resoluto João de Lisboa não consta na lista de 18
nauta portuense tem reservadas para si paginas mais brilhantes sobreviventes da viagem. A história contada por
na historia das navegações em torno do globo, que ele Magalhães a Pigaffeta sobre um eventual mapa de
emprehendeu levar avante a preço da propria vida e do labéo, Martin Behaim ganha ainda outros contornos de
miseravelmente mal cabido, quando se trata de tão grande simples despiste ao cronista.
homem e de tão grande feito, de traidor a um rei e a um paiz Já tínhamos referido que Pedro e Jorge Reinel teriam
que o não ajudavam. ajudado Fernão de Magalhães com os mapas. Agora,
conclui-se que ainda levava consigo João de Lisboa
Mas, a parte mais importante é sem dúvida a seguinte: que tinha desenhado 5 anos antes um mapa com o
Estreito, e que mais uma vez recordamos...
Consignemos porém de passagem que com o Magalhães ia
o piloto portuguez João de Lisboa, que já no Brazil
havia estado antes, e que escreveu um livro sobre
marinharia, cujo aparecimento seria talvez
de trascendente importancia para a historia
geographica.

Não restam dúvidas que o aparecimento do Tratado


de Marinharia seria de transcendente importância...
apesar de nunca ter sido dado como perdido!

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/joao-de-lisboa-piloto-de-magalhaes.html Página 4
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

O facto de já estar escrito "estreito dos Magalhãis"


aparenta ter sido uma "torta" inclusão posterior
(conforme já extensamente mencionado). Aliás alguns
dos nomes coincidem (São Julião... Puerto de San
Julian, Baía de São Matias... Golfo de São Matias, Rio
da Cruz... Rio de Santa Cruz), mas a maioria não... e
de um modo geral, o contorno não corresponde a
uma fiável linha de costa.
De entre os nomes que não coincidem... destacamos
o singular nome:
Cabo dos Trabalhos
... e assim a expressão "cabo dos trabalhos" tem outro
significado relacionado com esta empresa!

Já nos tínhamos apercebido ser duvidosa a data da


morte de João de Lisboa em 1525, aliás Vernhagen
acaba por dizer em nota, que se sabia que em 1535
era morto, pois nessa data Heitor de Coimbra pedia o
seu lugar de "piloto mor do Reino". Apesar do seu
nome não constar no desembarque com Sebastian
Elcano, não é de excluir que João de Lisboa tenha
desembarcado num qualquer outro ponto do império
português (afinal a nau Trinidad acabaria por ser
capturada). Apesar do serviço a esta empreitada
espanhola, continuaria como "piloto mor do reino"?

Todo o registo histórico é suficientemente estranho, e


apenas claro no sentido de mostrar que a viagem de
Magalhães acabou por servir mais como uma
formalidade necessária, acordada talvez uma ajuda
adicional de D. Manuel a Carlos V, para consumar a
partilha dos hemisférios. Varnhagen parece ir no
mesmo sentido, ainda que escudado pela menção à
história brasileira:

A navegação de Magalhães, com respeito à historia do Brazil,


só interessa pelo facto da conquista das Molucas, que fez
descubrir as primeiras dúvidas na intelligencia dos pontos
questionáveis do tratado de Tordesilhas, pontos que a historia
hoje elucida; mas que em direito nunca se aclararam, apezar
dos muitos gastos e esforços ostensivos feitos pelas duas coroas,
como veremos.

Esta aventura conjunta, ou consentida, terá


profundas consequências na demarcação do anti-
meridiano. A obstinação de D. Sebastião em recusar a
união com a casa de Filipe II, que oferecia as Filipinas
como dote da sua filha, teria consequências
irreversíveis para Portugal.

Alvor-Silves, publicado em 9 de Fevereiro de 2011

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/joao-de-lisboa-piloto-de-magalhaes.html Página 5
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Alinhamento piramidal
Num comentário recente, Calisto indicava-nos Os impérios mamelucos e persas tinham ficado
um artigo na Discovery News, Giza Pyramids Align fortemente danificados pela acção de Francisco de
Toward City of Sun God, sobre uma investigação de Almeida e Afonso de Albuquerque, e os otomanos
Giulio Magli, professor universitário do Politecnico acabaram por definir o novo centro de poder para
de Milano. Istambul.
Sem ir tão longe, é facilmente observável que as duas Perante a curta invasão napoleónica e o posterior
grandes pirâmides de Gizé estão perfeitamente domínio inglês, seguiu-se uma conjuntura
alinhadas, conforme evidenciamos com a ajuda do internacional de guerra-fria, onde a independência
Google Maps: esbarrava com os grandes centros de decisão
americanos e russos.
Se as pirâmides ainda guardam segredos, para além
do conhecido, pois isso é muito natural e terá sido
bem guardado, a pedido de centros de decisão
externos…

A questão é sempre a mesma, e não aplicável apenas


ao Egipto... com a mudança de regime haverá uma
efectiva liberdade para o seu espólio arqueológico, ou
os segredos que minam os regimes irão prevalecer?

Alvor-Silves, publicado em 11 de Fevereiro de 2011

E dada a notícia, é de facto notável, reparar o


alinhamento com Heliopolis, ou Baalbek, no Líbano!

Aditamento [em 12/02/2011]


Curiosamente decidimos prolongar o meridiano que
segue o alinhamento piramidal, já que depois de
Baalbec, parecia-nos provável a passagem pelo Monte
Ararat - e assim se confirmou!
Não só... nesse prolongamento está a linha de ilhas
que sai do Golfo da Guiné, e que passa por São
Tomé, Santa Helena, em direcção às Malvinas e ao
Estreito de Magalhães. A evidência é colocada no
Google Earth

As linhas paralelas tornam evidente o alinhamento de Gizé


com Heliopolis-Baalbek
(Nota: a projecção deste meridiano num planisfério não
seria exactamente uma recta, mas dada a proximidade, a
diferença é negligenciável).

O último poder independente do Cairo caiu em 1516


com a derrota dos mamelucos às mãos dos
otomanos.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

E listamos lugares relevantes para esse meridiano Este transporte solar pode ser tipicamente
(circulo máximo): relacionado com a linha Equatorial. Ora o monte está
próximo do Equador, e curiosamente também sobre
•Gizé - alinhamento das pirâmides esta linha piramidal que segue a Linha dos
•Baalbec Camarões... o ponto de intersecção será mais
•Monte Ararat próximo do Ilhéu das Rolas, em S. Tomé e Príncipe,
•Mar Cáspio (Aqtau, Cazaquistão) conforme já referido [cf. Odemaia].
•Astana (Cazaquistão)
•Lago Baikal A outra nota relevante é a posição singular da
•Hokaido (Sapporo) minúscula Sta. Helena, segundo cativeiro de
•Ilhas Phoenix Napoleão, sendo que o primeiro lugar de cativeiro, a
•Ilhas Cook ilha de Elba, ficava também alinhada na
•Estreito de Magalhães (Cola do Dragão) perpendicular. Coincidências de cativeiro para quem
•Ilhas Malvinas (ou Falkland) empreendeu uma expedição singular ao Egipto, a
•Ilha de Santa Helena primeira sob orientação da modernidade ocidental.
•Ilha de São Tomé e Príncipe
•Ilha de Fernando Pó
•Monte Camarões
•N'Djamena

2º Aditamento [em 17/02/2011]


Não terei dado a devida importância ao ponto na
linha costeira, o Monte Camarões (é um vulcão, com
última actividade em 1999-2000, e o ponto mais alto
da África Ocidental):

Na antiguidade clássica o Monte, com o seu cume fumegante,


de que só havia notícia incerta, era conhecido pelo "Carro dos
Deuses", uma alusão ao carro que transportava o Sol no seu
movimento diurno. (wikipedia)

Monte Camarões um dos pontos da chamada Linha dos


Camarões, que inclui as ilhas Fernando Pó, S. Tomé e
Príncipe, e Ano Bom... que coincide assim com a linha de
Gizé.

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Idade do Bronze e Oricalco


Bronze, liga de cobre e estanho, tem pronúncia e metáfora, talvez signifique ter sido exactamente nessa
escrita semelhante em quase todas as línguas altura que foi generalizada a escravidão, enquanto
europeias (mesmo no basco, magiar, suomi...), com sistema social. De qualquer forma, havendo diversos
excepção do grego onde a palavra é bastante diferente registos megalíticos impressionantes na Idade do
- Kratéroma. Bronze, isso envolveria trabalho necessariamente
Quem leu as traduções que nos passam do relato de pesado para uma parte da população.
Platão sobre a Atlântida, deve ter reparado na
referência a um metal quase tão valioso quanto o
ouro... o chamado oricalco. Há um progresso substancial ao passar do cobre para
o bronze ou latão, mais complexos no fabrico das
ligas metálicas, do que na consolidação do ferro em
Oricalco (Ορείχαλκο) é a palavra grega para a liga de aço pela adição de carbono.
cobre e zinco, ou seja, o latão ou pechisbeque! Torna-se quase indiscutível que isto levou a uma
Está instalada mais uma confusão... já que as civilização comercial de cariz global, pelo simples
designações para bronze e latão confundem-se em facto de serem raras as minas de estanho, necessário
várias línguas. ao bronze. Os pontos de extracção eram tipicamente
Por exemplo, em grego, a Idade do Bronze é também as ilhas britânicas e também a península ibérica. Há
chamada Idade do Oricalco. aliás traços claros de uma civilização do Atlântico
Ocidental, que ligava toda a costa atlântica,
começando em Portugal, indo até às ilhas britânicas e
estendendo-se até à Dinamarca ou Noruega,
provavelmente.

Cassitérides
As Cassitérides foram tomadas literalmente como
Ilhas do Estanho (Κασσίτερος), sendo normalmente
identificadas à Grã-Bretanha, havendo porém quem
advogue tratarem-se de ilhas na Aquitânia, antes do
assoreamento... entre outras teorias. Eram ainda alvo
O disco Nebra. Um artefacto de bronze e ouro, de índole de referência longínqua para os Romanos, e
astronómica, onde se vê a Lua, o Sol, e provavelmente as 7
aparentemente não foi dada nenhuma indicação de
Pleiades, entre outras estrelas.
confusão com a Britânia.
A transição da Idade do Bronze para a Idade do
Ferro parece ter sido devastadora.
É natural que os efeitos dessa devastação ainda se O geógrafo Estrabão (séc. I) coloca as ilhas
façam sentir hoje, pelas razões que tentamos explicar. Cassitérides a noroeste da Hispania, em número de
Em quase todas as culturas permaneceu a ideia de que 10 pequenas ilhas, dispostas em forma de anel... Para
a felicidade se teria perdido nessa transição. esta descrição, a única localização que nos ocorre é a
Na cultura greco-romana isso é simbolicamente do Arquipélago dos Açores, se bem que sendo hoje 9
representado pela deposição de Saturno/Cronos pelo ilhas, e só o grupo central se poderá considerar
seu filho, Júpiter/Zeus. disposto em forma minimamente anelar... Para além
disso, é claro que não há nenhuma referência a
As saturnálias, correspondentes carnavalescas em exploração de nenhum minério nessas ilhas (a menos
Roma, pretendiam reviver esse tempo de felicidade que o chá se dê bem com o estanho).
popular, ao ponto dos escravos, por um dia, trocarem
de lugar com os seus senhores. Este indício de

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Os touros de Creta cravar o Ferro num símbolo da idade do Bronze. A


Os vestígios da civilização minóica, em Cnossos, são luta é propositadamente desigual e não se pretende
um dos mais interessantes monumentos da idade do qualquer surpresa para o desfecho. Nesse ponto, os
Bronze. Magníficos murais ilustram uma paixão pelos incas tentaram reproduzir o mesmo cenário desigual
touros... atando um condor a um touro, procurando desfazer
simbolicamente a invasão, na sua interpretação.

O que mais impressiona é a nossa aceitação natural


deste cenário de touros em Creta, sem questionar a
ausência de vestígios de touros nessas paragens. A
própria presença de touros nos registos
mesopotâmicos deixa a dúvida da sua original
existência nessas paragens, ainda que aí seja mais
natural uma extinção, de forma semelhante à que
supostamente ocorreu com os leões.

... e como bem sabemos são conhecidos os enormes Os povos do mar


prados com inúmeros touros em Creta! O final da idade do Bronze está muito associado à
Bom, não será bem em Creta... talvez na Grécia, invasão pelos chamados "povos do mar"...
talvez em Itália, talvez na Turquia. desconhecidos que invadiram e pilharam as
É escusado, se há local onde sempre se associaram civilizações clássicas. É o período que se segue ao
touros, e uma forte tradição taurina, é a Hispania! registo da Guerra de Tróia, e vai fazer a transição de
Creta dificilmente teria condições para a criação milénio ~ 1000 a.C. introduzindo a idade do Ferro.
taurina, tal como toda a Grécia, em geral.
Na linha do que aqui temos sugerido, há uma efectiva
A tradição era de tal forma forte que criou a ideia do hipótese de que uma civilização de carácter comercial
Minotauro... do rei Minos. Ora, há especificamente e marítimo ligasse toda a Idade do Bronze, não
um sítio que tem o registo "Minus", desde o tempo apenas na costa atlântica, mas estendendo-se ainda a
dos Romanos - é o Rio Minho! entrepostos mediterrânicos, nalgumas ilhas, como
Será que no palácio dos nossos Vice-Reis na Índia Malta, Sicília ou Creta.
não haveria murais, ou quadros com representações A Guerra de Tróia poderá ter significado o fim dessa
de paisagens portugueses? Ou seja, por que não estrutura organizativa, deixando na sociedade
considerar que estamos na presença de um palácio fracturada alguns marinheiros, entregues a um novo
num entreposto comercial avançado, em Creta, destino de pilhagem. Ou seja, os "povos do mar"
destinado a negociar com os povos próximos - seriam o resto da sociedade que se fracturava com o
gregos, egípcios, hititas, etc... fim da organização centrada numa Tróia ocidental.
Não restou um único vestígio semelhante na Uma parte significativa desta população ocidental
Hispania, é claro! poderá ter levado a uma reorganização em torno de
Da mesma forma que não restaram vestígios Tiro, e de Sídon... a fénix iria renascer sob o nome
identificáveis da presença árabe em Portugal, apesar Fenícia, e depois em Cartago, mantendo o espírito e a
de ser bem mais recente e ter sido prolongada, com tradição de navegação.
importantes taifas independentes, como a de Silves.
O nível de destruição de registos históricos em Alvor-Silves, publicado em 16 de Fevereiro de 2011
Portugal tem aí um exemplo bem ilustrativo.

Na Hispania, só na tradição dos forcados os touros


seriam respeitados da mesma forma que vemos no
mural. Pela parte da aristocracia, que entretanto se
implantou, o espectáculo consistia, e consiste, em

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Erro na Longitude?
O folclore habitual, repetido a leigos, ensina que a
determinação da longitude era um problema quase
inultrapassável, até à invenção do cronómetro por
Harrison, em 1714, aquando do Longitude Prize...

Três décadas antes, em 1682, no prólogo do seu


tratado de Astronomia Metódica, começava assim o
padre António Carvalho da Costa:

Se para matéria tão larga te parecer pequeno este livrinho, sabe


que não foi nossa tenção escrever volume corpulento, senão
doutrina substancial; porque mais queremos aproveitar com a
lição breve & clara do que ostentar erudições dilatadas &
sempre confusas, nas quais de ordinário com pouco fruto se
consome o tempo. (...) E quando as erudições te façam
saudade, aí estão os Ptolomeus, os Copérnicos, os Tichos
Brahes, os Longomontanos, os Ricciolios, os de Chales &
outros infinitos, onde não só poderás gastar o teu tempo, mas
também a paciência. Se este nosso método te agradar, prossegue: É claro que cépticos de serviço argumentarão que
que aqui começa a obra; & se não for do teu gosto, fecha o para efeitos de navegação, ninguém estaria à espera
Livro, porque aqui se acaba. de eclipses lunares para se movimentar... e certamente
Carvalho da Costa saberia isso muito bem.
Por isso, logo na página 9, tem um capítulo intitulado:
O que interessa é o princípio!
"Como se achará a diferença de longitude entre Ou seja, a partir da afirmação de possibilidade de usar
quaisquer dois lugares" a Lua para determinar a longitude, é quase imediato
pensar-se noutros processos eficazes de o fazer em
Observe-se em cada um dos lugares o tempo, em que se acaba o tempo real. Assim que li isto, tornou-se óbvio que se
eclipse da Lua: a diferença entre os dois tempos observados poderia usar a predição da Lua Nova, ou outro
convertida em arco do Equador dará a diferença de longitude conhecimento absoluto sobre o movimento lunar. De
buscada. facto, se Harrison ganhou o 1º prémio, o 2º prémio
foi dado a um método de distância lunar, de Tobias
Não é preciso dizer mais nada... é esta a suposta Mayer e de Euler, coisa que também estaria nos
complexidade inultrapassável, quando na realidade planos de Newton.
basta uma boa observação lunar. Na realidade,
Carvalho da Costa diz mais, ilustrando a relação entre
15º e a diferença de 1 hora, dá um exemplo da
diferença de latitude entre Londres e Lisboa para 42
minutos, ou seja 10º30', que era o valor visível em
quase todos os mapas da época, mas que terá um erro
de 1º face ao actual. Como sabemos, é preferível
admitir um excesso de 4 minutos no relógio do que
sequer imaginar que a crosta terrestre se pode
movimentar 1º em 300 anos.
método de distância lunar - wikipedia

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/erro-na-longitude.html Página 10
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Como os cronómetros eram raros e caros, durante Qual então o Erro na Longitude?
um século acabou por ser este método de distância A longitude não seria de tão fácil verificação quanto a
lunar a ser usado pela generalidade dos marinheiros, latitude (coisa ao alcance de crianças), mas como
com o auxílio de tabelas lunares. vimos o método lunar substituiu-se ao cronómetro
Os detalhes podem ter sido descritos no concurso na durante um século, com o uso de tabelas, conforme
proposta de Mayer e Euler, mas a ideia fulcral proposto por Meyer e Euler. Ou seja, não era
encontramo-la antes em Carvalho da Costa. Haveria necessário nenhum mecanismo sofisticado, bastava
um problema de medição associado à refracção uma observação astronómica cuidadosa e organizada.
atmosférica... e por isso mesmo, as 8 páginas O erro na longitude é um erro induzido nos
anteriores são parcialmente dedicadas a esse tema. historiadores, de forma a convencerem-se da extrema
dificuldade da navegação e reportá-la apenas a
tempos recentes. São iludidos com nomes diferentes
A ideia de Carvalho da Costa não se aplicava à para coisas semelhantes, como quadrantes, sextantes,
navegação, mas era extremamente eficaz para a octantes, astrolábios, nónios... aparelhos simples que
cartografia. Aquando de um eclipse lunar, bastaria apenas se destinavam a medir ângulos, fazendo crer
que todos os enviados do reino registassem numa longa evolução.
eficazmente a hora local, para que se soubesse
exactamente a longitude desse ponto, com a maior O erro na longitude é exagerar-se nas consequências
precisão devida à brevidade do eclipse. Isso permitiria que esse erro traria. É uma forma análoga de trazer
desvios inferiores a 1º, se o relógio estivesse monstros, a ideia da terra plana, e outros medos,
operacional. como justificação para o injustificável.

Seria esta uma ideia original de Carvalho da Costa?


Quase de certeza que não. Ele não a propõe, nem a Alvor-Silves, publicado em 17 de Fevereiro de 2011
detalha... apenas a indica, já que se trataria de um
livro para estudantes ou divulgação.
Sendo algo simples, um método da distância lunar
seria conhecido pelos marinheiros portugueses... e
bastará seguir correspondência do reino, para ver se
foram reportadas horas exactas de eclipses. Há um
livro de Jerónimo Chaves, de 1534, que evidencia o
interesse sistemático nos eclipses lunares.

Pela sua simplicidade, o método lunar permitiria a


qualquer estado organizado saber as longitudes, de
forma tão fácil quanto as latitudes. Seria muito
provavelmente conhecido na antiguidade. É claro que
é suposto dizer-se que na antiguidade não haveria
relógios, mas também sabemos que isso não seria
verdade, já que o mecanismo de Antícítera veio
mostrar o contrário.

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/erro-na-longitude.html Página 11
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Cáspio
Não nos chegaram mapas dos geógrafos antigos, colocada a uma altura razoavelmente baixa. Para
ainda que certamente os haverá guardados... e um dos tornarmos a situação mais clara identificámos todo o
candidatos naturais será a biblioteca do Vaticano. registo de baixa altitude (essencialmente a verde) com
Porém, pelas descrições encontram-se incertezas nas o registo do oceano, obtendo-se o seguinte cenário
descrições de alguns pontos importantes, e que dada a (computação automática):
proximidade de contacto, com gregos e romanos, não
deveriam oferecer grandes dúvidas.

Um deles é o Mar Cáspio... nuns casos era


considerado lago, noutros casos mar:
- Heródoto, Ptolomeu: consideravam-no como lago;
- Hecateu, Dionísio Periegetes, Pompónio Mela,
Estrabão: consideravam-no como mar ligado ao
oceano (a norte ou a nordeste).

Situação orográfica com um incremento do nível do mar nalgumas


centenas de metros

Ou seja, basicamente toda a Europa de Leste, e


grande parte da Rússia desapareceria com um
incremento do nível do mar nalgumas centenas de
metros. A Europa ficaria basicamente reduzida a uma
ilha ligando as cadeias montanhosas da meseta ibérica
pelos Alpes ao Peleponeso. A Índia passaria a ser
uma ilha... e nesse caso talvez se devesse chamar
Mapa-reconstrução de Estrabão Taprobana!
- ligação do Mar Cáspio ao Oceano
- Não é necessário porém exagerar a situação ao ponto
A ligação do Cáspio ao Oceano parece difícil ser anterior, para que se compreenda como uma menor
proposta sem razão. subida do nível do mar poderia deixar o Cáspio ligado
Por isso, consideramos um simples mapa orográfico, ao Oceano:
que põe em evidência as altitudes dos diversos pontos
no globo:

Neste mapa fica evidente uma separação


Europa/Ásia que é definida pelos Urais, mas também
A verde estão representados os locais de mais baixa altitude até pela depressão que ligaria o Cáspio ao Oceano, pelo
500m, altura que já é representada por um beije acastanhado até
norte. Ou seja, a inexistente separação entre os dois
valores superiores a 1500m, já a branco.
continentes ficaria assim evidenciada, com algumas
Isto torna evidente que grande parte da Europa de consequências explicativas, que até aqui têm ficado
Leste, em particular a grande extensão russa está por explicar.

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/caspio.html Página 12
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

(i) Havendo uma continuidade entre a Europa e a Desertos e areia...


Ásia, como se justificaria a significativa diferença Há ainda uma outra questão razoavelmente
entre as características dos povos asiáticos e europeus, complexa, e que diz respeito à excessiva quantidade
sem uma clara continuidade pelas estepes russas? de areia em desertos interiores. A areia é tipicamente
Com um nível do mar mais elevado, haveria um resultante da acção prolongada da erosão marítima, e
efectivo isolamento entre os dois continentes, a é difícil encontrar outra força erosiva que permita
menos de passagem pelos Himalaias/Tibete... Uma reduzir uniformemente pedras em grãos minúsculos.
Índia reduzida a uma grande ilha Taprobana, deixaria
ainda o Nepal e o Tibete como zonas quase costeiras.

(ii) A invasão dos Hunos, que ensombrou a Europa


com o pesadelo asiático, pode ter sido consumada
pela consolidação da paisagem, em que a taiga russa
ganhou terreno a esse espelho de água do Cáspio.
Com o recuo das águas esse mar teria-se desvanecido,
numa evolução pantanosa que ainda caracteriza a
taiga siberiana.
(De forma semelhante, em Portugal uma parte significativa da Areias no deserto Gobi - Mongólia... onde chega a nevar!
paisagem foi ganha ao mar pela consolidação de grandes extensões
de areia, com pinhais. As coníferas são também as árvores que
definiram a taiga.)
Esta hipótese diluviana, em que o nível das águas
(iii) A localização de algumas cidades, no interior da esteve prolongadamente alto, permitiria justificar a
Ásia, no Afeganistão, no Cazaquistão, como Astana, presença costeira de zonas internas, como o Deserto
teriam uma razão de relevância diferente nessa de Góbi, ou mesmo o Deserto do Saara. Seria essa
conexão marítima para um Cáspio mar. Uma presença marítima que teria produzida grande
significativa parte da rota da seda poderia ser quantidade de areia. Com o progressivo recuo das
resultado de uma remniscência dessa ligação águas, e por acção de ventos, estas paisagens foram
marítima. consolidadas em grandes dunas, nalguns casos -
quando o clima não permitiu a consolidação da
(iv) Curiosamente, neste segundo mapa, a América do paisagem com vegetação.
Sul aparece desenhada com um lago interior, Porém, na maioria dos casos terá havido uma
conforme indicado em mapas do séc. XVII, o consolidação que progressivamente foi levando à
chamado Lago Parime supostamente lendário... paisagem actual.
Curiosamente aponta ainda para uma grande entrada
Como exemplo entre nós, basta reparar que há uns duzentos anos
no rio da Prata, conforme aparecia exagerado em Alfeizerão era considerado um bom porto marítimo, e agora está a
mapas portugueses iniciais. uns 5 Km da costa... ou então ver como a Figueira da Foz foi
ficando com uma praia de grandes dimensões. A fixação desse
Uma boa parte dos vestígios arqueológicos situam-se terreno arenoso com pinheiros seria uma ideia semelhante à que D.
Dinis teve relativamente à parte de Leiria.
em pontos interiores, que nada teriam para uma Alcobaça teria sido muito provavelmente uma cidade costeira,
escolha particular. Porém, na perspectiva diluviana, antes do progressivo assoreamento... mas isso são outros mapas,
com o nível do mar algumas centenas de metros que guardamos para outra altura!
acima do actual, uma boa parte desses locais, agora
interiores, seriam locais costeiros. Progressivamente a
descida do nível do mar, consolidada com vegetação,
pode ter permitido uma fixação posterior, em pontos Alvor-Silves, publicado em 19 de Fevereiro de 2011

mais baixos.

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/caspio.html Página 13
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Porto de Mós e Dom Fuas


Há várias localidades cujo nome tem um associação Pederneira. Aqui é bastante revelador que a antiga vila
marítima difícil de ignorar. da Pederneira, está algumas dezenas metros acima da
O caso mais singular é Porto de Mós, que teve como actual Nazaré, que só se afirmou como lugar no séc.
alcaide, Dom Fuas Roupinho, o primeiro almirante XIX. O mesmo se passa com Alfeizerão, uma
da Marinha Portuguesa. pequena vila interior, e que até ao Séc. XVIII era
Actualmente, Porto de Mós está bastante longe da considerada como porto de navios.
linha de costa, aproximadamente a 20Km... que Também é conhecido que Óbidos tinha uma ligação
sentido colocar um almirante e um nome de Porto a marítima através da sua lagoa, que Peniche chegou a
uma localidade inserida na Serra dos Candeeiros? ser uma ilha, e que o porto costeiro era Atouguia da
Baleia, agora bem no interior.
Mais uma vez recorremos a simples mapa orográfico
e a um aumento do nível do mar, abaixo de 50 m:

Mapa do Séc. XVII com a costa da Estremadura,


A costa da Estremadura, com um aumento de algumas dezenas de evidenciando ligações marítimas perdidas.
metros no nível do mar. O estuário do Mondego tinha ilhas interiores
e seria semelhante à ria de Aveiro.

Torna-se evidente que há uma depressão que segue


pela Marinha Grande, Leiria, até Porto de Mós. Ou Citamos Lorenzo Anania, que no Séc. XVI faz um
seja, faz sentido considerar uma possível ligação relato sobre os portos nacionais:
marítima que tornasse estas cidades costeiras. Por Vedesi por Viana, Possende, Villa del Conde, & poco
outro lado, tornam-se ainda evidentes outras ligações discosto sbocca il Doro, maggior fiume di Spagna, il quale
marítimas... Uma delas avançaria até Coimbra, pela nascendo appresso Moncaio, prende tanti fiumi, che fattosi alla
actual bacia do Mondego, começando em sembianza d'un stretto di mare, rende il debito all Oceano à
Buarcos/Figueira da Foz. canto à Porto, laquale é una città, dove hora si lavorano
finissime arme: quindi si passa à San Giovanni della Fos,
É claro que algumas destas depressões estão Hovar, & Avero; onde si parte ogni anno la flotta di molte
associadas a vales de rios, e pode admitir-se que navi, che và à pescare i Baccallai à Terra Nuova. Segue
foram os rios que provocaram por erosão essas appresso Boarco su la bocca del Mondego, Pedernera,
depressões... porém, nada impede o cenário Alfizzaraona, Ataguia, & Pignieri: al cui rincontro si scuopre
equivalente - os rios seguiram os percursos definidos l'isola Barlinga, detta anticamente Landobria:
pelas depressões. Aconteceria algo semelhante se o
nível do mar descesse na costa da Galiza - algumas Para além de revelar que o Douro, seria o rio maior
dessas entradas costeiras assemelham-se a erosão da Espanha, aparentava ter um estreito de mar na
fluvial, e poderiam ser confundidas como tal. Foz (dita S. João da Foz), diz em 1576 que todos os
anos partia de Aveiro uma frota de numerosos navios
Outro ponto interior que se revela no contacto para a pesca do Bacalhau na Terra Nova.
marítimo é Alcobaça, pela entrada no antigo porto da

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Os portos relevantes que se seguem são: Buarcos,


Pederneira, Alfeizerão, Atougia. O nome Pignieri
deve indicar Peniche, pela sua ligação às Berlengas.
Continua directamente para o "Cabo de Cascais" e
Sintra.
Conclui-se assim que há não muitos séculos houve
portos relevantes que se tornaram interiores,
resultado de um assoreamento e de duma fixação de
dunas.

Por outro lado, a imagem que gerámos computacio-


nalmente revela-nos um Mar da Palha ainda mais
largo, ao ponto de deixar a península de Setúbal
como uma verdadeira ilha...
O que é significativo é que este aumento do nível do
mar não submerge nenhuma das vilas antigas.
Para além disso, justifica melhor a sua localização, e
vários nomes interiores claramente ligados a portos, a
marinhas, ou a actividades marítimas.

Nota: É claro que não estamos aqui a falar de movimentos


tectónicos, mais antigos... no entanto não deixa de ser
interessante reparar num pormenor - é suposto cadeias
montanhosas como os Pirinéus, os Alpes, ou os Himalaias
estarem associados a esses movimentos, no entanto a cada
um deles associa-se uma extensa parte de baixa altitude. No
caso dos Pirinéus, à "ilha ibérica" sucede uma planície da
Aquitânia, no sul de França. No caso dos Alpes, o vale do
Pó antecede a "ilha italiana". No caso dos Himalaias, o vale
do Indo e Ganges antecede a "ilha indiana".

Alvor-Silves, publicado em 20 de Fevereiro de 2011

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Mar Eritreu, vulgo Vermelho


Quando publico um deste tópicos normalmente
reúno diversas informações que me convencem da
verosimilidade do conteúdo, mas nem sempre coloco
todos, muitas vezes por puro esquecimento.
Foi o caso do texto sobre o Mar Vermelho
(ou Ebreus do Ebro), onde já teria tido oportunidade
de colocar este assunto relativo ao Mar Eritreu.

Literalmente, Mar Eritreu vem do grego ερυθρό -


vermelho, ou seja seria o Mar Vermelho.
Em latim a variação seria Mare Rubrum.
Não há grandes dúvidas, por isso apresentamos os
mapas de Estrabão, Pompónio Mela, e Dionísio Reconstrução de Bunbury do Mapa de Dionísio Periegetes

Periegetes, segundo a reconstrução de Edward


Bunbury (1879)...
Reconstruções são o que são... por exemplo, para
Pompónio Mela (encontrámos outras duas... uma do
o Mar Vermelho seria o Oceano Índico:
séc.XVII e outra de 1898).
Não têm significado especial no aspecto gráfico, mas
no conteúdo são reveladoras.

Não há propriamente espaço para dúvidas... pelo


simples facto de que o actual Mar Vermelho era desi-
gnado por Mar Arábico (ou Golfo/Sinus Arabicus).

Quando se deu a mudança? Definitivamente foi


consolidada no final do Séc. XIX, com a colonização
Reconstrução de Bunbury do Mapa de Estrabão italiana da província da Eritreia... assim
convenientemente nomeada, pela sua localização na
costa do Mar Vermelho. No entanto, a confusão que
levava o nome Mar Vermelho em vez de Sinus
Arábico encontra-se já em quase todos os mapas do
Séc. XVI e posteriores.

A questão não fica por aqui... porque os próprios


romanos tratavam das suas próprias confusões.
-Colocar uma Eritreia no Oriente, por contraposição
aos gregos e à sua Ilha Eriteia (Ἐρύθεια)... uma ilha
Ocidental!

Ilha Eritheia
Essa ilha Eritheia era associada às ilhas míticas
Hespérides, onde estaria Gades, agora associada a
Cadiz.
Reconstrução de Bunbury do Mapa de Pompónio Mela
Porém, reparamos que aumentando o mapa de
Pompónio Mela, vemos representadas Gades e
Erytheia (para além das Fortunatas, e Hespérides)
enquanto ilhas diferentes...

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

confunde com o Mar Vermelho... noutras paragens.

Termino, com algumas passagens dos Lusíadas:

Tu, que a todo Israel refúgio deste


Por metade das águas Eritreias;
(...)
Passam também as ondas Eritreias,
Que o povo de Israel sem nau passou;
(...)
Lá no seio Eritreu, onde fundada
Arsínoe foi do Egípcio Ptolomeu,
(...)
E assim a água, com ímpeto alterada,
Parecia que doutra parte vinha,
Bem como Alfeu de Arcádia em Siracusa
Vai buscar os abraços de Aretusa.
(...)
Passadas tendo já as Canárias ilhas,
Eritheia - zoom do "mapa de Pompónio Mela“ Que tiveram por nome Fortunadas,
Entramos, navegando, pelas filhas
Com um suposto aumento do nível do mar, a Do velho Hespério, Hespérides chamadas;
península ibérica ganha um aspecto ligeiramente (...)
diferente Que quem da Hespéria última alongada,
Rei ou senhor de insânia desmedida,
Há de vir cometer com naus e frotas
Tão incertas viagens e remotas?

... ou seja, as zonas montanhosas da serra algarvia


poderiam ser ilhas. Assim, a mítica Eritheia, com a
sua cidade Gades, não teria que ficar confinada à
minúscula ilhota de Cádis.

O mapa aqui apresentado tem um cenário que mostra O jardim das três deusas Hespérides: Eritheia, Aretusa e Héspera.
ainda que bastaria um aumento do nível do mar na
ordem das duas centenas de metros para tornar a
península ibérica numa grande ilha ocidental.

Assim, quando no texto "Ebreus do Ebro", falámos


de uma possível ligação à Ibéria, e na existência de Alvor-Silves, publicado em 21 de Fevereiro de 2011
um Monte Moisés no Estreito de Gibraltar,
acrescenta-se agora esta designação Eritheia, Ilha
Vermelha, ligada a Gades-Cádiz, e que assim se

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Taybencos, a que agora chamamos Chins


Já houve tempos de censura... e hoje estamos a ser chamamos Chins... e alegam para isso serem já senhores da
conduzidos para tempos de auto-censura. Índia até ao Cabo de Boa Esperança, e a Ilha de São
O exemplo do wikileaks não é tanto um caso de Lourenço por ser povoada deles ao longo da praia (...)
censura, é uma indicação para auto-censura. O que é
difundido pelos meios de comunicação tem um O nome Taybencos (Taibencos, ou Tabencos)
propósito. Neste caso, os jornalistas são avisados que associado aos Chineses encontro-o exclusivamente na
devem ser contidos na liberdade de expressão... ou obra de Galvão e nas citações que lhe foram feitas.
arriscam-se às consequências. Seria mais associável à Tailândia, mas Galvão é claro,
Se os agentes secretos devem estar reservados ao e as traduções seguem-no.
sigilo, pelo seu compromisso profissional, os Há ainda que notar que Galvão usa uma expressão
jornalistas que sabem dessa informação não fizeram geral de Índios... talvez a única adequada à época.
nenhum voto de sigilo, para estarem comprometidos Os índios não seriam mais do que todos os povos de
a uma efectiva limitação da sua liberdade de feição oriental. Por isso, haveria as Índias Ocidentais
expressão. e as Orientais... as feições do povo eram consideradas
semelhantes, em partes geográficas distintas.
António Galvão, que é uma nossa fonte preferida, Também não havia notícia de chineses em
dizia algo bastante instrutivo: Madagáscar (Ilha de São Lourenço)... e porém aqui
está o registo do seu povoamento ao longo das praias
(…) não podia ser a Terra toda sabida, e a gente comunicada, da ilha.
uma com a outra, porque quando assim fosse se perderia pela
malícia e sem justiça, dos habitantes dela. É sempre preciso colocar António Galvão no seu
devido lugar, e para isso é preciso recorrer a autores
É um efectivo aviso ao mundo onde começava a estrangeiros.
viver... um mundo global, sem qualquer alternativa,
nunca se livraria da malícia e da injustiça dos homens, Quando o Almirante Charles Bethune reedita a obra
seus governantes. de Galvão em 1862, traduzida por Hayklut em 1601,
Mais do que um mundo global, avizinhava-se uma diz claramente que:
prisão global.
Como é claro, a prisão só é percepcionada por But his deeds were not limited to earthly conquest. Galvano, so
aqueles que viram a altura das paredes que os intrepid at the head of this troops, might also be seen, with a
cercam... todos os outros, que não vislumbram crucifix in this hand, preaching the Gospel publicly, whereby he
restrições, esses consideram-se livres. Afinal, nunca became known as the "Apostle" of the Mollucas. (...)
nenhuma ditadura suprimiu a liberdade de expressão Faria e Sousa sums up his high qualities in these words:
para receitas de culinária e casos de futebol. "His fame will never perish so long as the world endures;
Os limites da liberdade de expressão só são for neither weak kings, nor wicked ministers, nor blind
perceptíveis por quem tem algo inconveniente para fortune, nor ages of ignorance, can damage a reputation so justly
revelar. merited"

Feita esta pequena introdução conjuntural,


continuamos com António Galvão, acerca dos He spent the latter part
descobrimentos chineses: of his life in compiling
an account of all known
E porque os maiores descobrimentos e mais compridos foram voyages, and thus
por mar feitos, principalmente em nossos tempos, desejei saber he may be styled the
quais foram os primeiros inventores disto, depois do Dilúvio. father of
Uns escrevem que foram os Gregos, outros dizem que os historical geography.
Fenícios, outros querem que os Egípcios... Os Índios não
consentem nisso, dizendo que eles foram os primeiros que
navegaram, principalmente os Taybencos, a que agora

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/taybencos-que-agora-chamamos-chins.html Página 18
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Para o Almirante Bethune, Galvão é o Pai da ventos tão destemperados que alevantem as águas, nem as
Geografia Histórica, para os portugueses será um façam soberbas. E por experiência o vemos nos pequenos barcos
completo desconhecido, ausente de qualquer em que navegavam, com um ramo por mastro, & vela, & um
referência condicente na História de Portugal. remo na mão com que governam, correm muito mar e costa. E
O último registo é a reedição de Miguel Lopes assim, nuns paus a que chamam Catamarões, em que se
Ferreira, em 1731, dedicada ao Conde da Ericeira, D. escancham ou assentam & vão com o outro remando. E
Luiz Meneses. O tempo de D. João V irá terminar, e querem ainda que estes Chins fossem senhores da maior parte
com o Marquês de Pombal, todos os registos vão cair da Scithia & que navegassem toda a sua costa, que parece
na destruição do Terramoto. estar até 70º da parte norte. Cornélio Nepote referido, assim o
O livro ficará com o epíteto de "raríssimo" até aos aprova, onde diz, que Metelo, colega de Afranio, estando por
dias de hoje... tão somente porque as mesmas forças consul em França, el rey da Suévia lhe mandara certos índios,
que condenaram a figura ímpar de Galvão à que vieram pela parte do norte, às praias da Alemanha, &
mendicidade, nunca deixaram de estar presentes e a segundo isto devia ser da China, por estar de 20º, 30º, 40º
comandar os nossos destinos. para cima, e tem naus fortes e de pregadura que podeiam sofrer
mares e terras tão frias e destemperadas como aquela.
Galvão prossegue na descrição:
... e os Jaos [Java], Timores, Selebres [Celebes], Macasares Se o primeiro argumento está envolto naquilo a que
[?], Malucos [Molucas], Borneos, Mindanaos, Luções, nos habituámos a ver como mito do Dilúvio, os
Léquios, Japões e outras ilhas, que há muitas, e as terras outros argumentos já são de mais difícil contra-
firmes de Cauchenchinas [Conchinchina, Vietname], Laos, argumentação. Por um lado encontramos o primeiro
Siamis [Sião, Tailândia], Bremas [Birmânia], Pegus registo aos Catamarãs... designados por Catamarões, e
[Birmânia], Arracões [?], até Bengala & além disto, a Nova de facto a navegação naquelas partes nada tem a ver
Espanha, Perú, Brasil, Antilhas e outras conjuntas a elas, com as dificuldades atlânticas.
como se parece nas feições dos homens, mulheres & seus Por outro lado, o registo romano de Cornélio Nepote
costumes, olhos pequenos, narizes rombos, & outras proporções (100-30 a.C), mostra um argumento de navegação
que lhe vemos. E chamarem ainda agora a muitas destas ilhas organizada, exploratória, que contactou a Alemanha -
& terras Batochinas, Bocochinas, que quer dizer Terras da os Suevos, Suevos que depois se iriam instalar em
China. Portugal e Galiza. Ou seja, esse registo pode não ter
sido esquecido dos reis Suevos, ao focarem a sua
Ou seja, Galvão aparenta deduzir pela semelhança migração ibérica. Esse registo é tanto mais notável
fisionómica que todos estes povos [basicamente a quanto mostraria uma eventual travessia da Passagem
maioria das ilhas do Pacífico, Indico, e toda a Nordeste.
América] estavam ligados aos chineses, e eram seus
descendentes, por colonização... invocando a Galvão tem o relato vivido da época. Se os
designação Batochinas com possessões chinesas. portugueses conquistam o Indico e atingem a China
em menos de 20 anos, com D. Manuel, isso mostra
Mas Galvão acrescenta ainda mais razões para serem um enfraquecimento de qualquer poderio naval, seja
os Chineses os primeiros navegadores: dos muçulmanos, seja dos chineses. No entanto,
Galvão procura ter o distanciamento suficiente para
Além disto os nossos escritores deixaram escrito que a Arca de aceitar que os relatos chineses corresponderiam a
Noé, se assentara da parte norte dos montes da Arménia, que efectivas navegações... e essa verdade contrariaria
está de 40º para cima [o monte Ararat está a 39º42'], e que toda a História que se estava a preparar para ser
logo dali fora a Schytia povoada por ser terra alta e a primeira contada durante séculos até hoje!
das águas a ser descoberta. E como a província dos Thaibencos
seja uma das principais da Tartaria (se assim é como dizem)
bem se mostra serem eles dos mais antigos povoadores e
navegadores. Pois neles se acaba aquela terra do levante & os Alvor-Silves, publicado em 22 de Fevereiro de 2011
mares são tão bons de navegar como os rios destas partes, por
jazerem entre os trópicos onde dias e noites não fazem muita
diferença, assim nas horas como na quentura, por onde não há

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

A última viagem de Gulliver a Lilliput


Diz Diogo de Couto, na sua Quarta Década da Ásia: controlo holandês em 1851. Pela influência dos
missionários dominicanos portugueses, a população
O quinto Arquipélago é o de Amboino, que está ao sul de remanescente tornou-se católica até hoje, e a
Maluco, tem muitas ilhas, que se governam por suas cabeças miscenização levou a que fossem chamados
(...) Há muitos povos por estas ilhas, em que os filhos comem os "Portugueses Pretos" pelos Holandeses.
pais como são velhos - têm muitos ritos e costumes bárbaros,
que nós não relatamos por fugir proxilidade. (...) A sul de These have no Forts, but depend on their Alliance with the
Amboino estão as Ilhas de Banda, e a Leste delas perto de Natives: And indeed they are already so mixt, that it is hard
300 léguas, segundo alguns afirmam, está uma ilha de muito to distinguish whether they are Portuguese or Indians. Their
ouro, cujos naturais não passam de 4 palmos de alto, e se assim Language is Portuguese; and the religion they have, is Romish.
é, são os verdadeiros Pigmeus. They seem in Words to acknowledge the King of Portugal for
their Sovereign; yet they will not accept any Officers sent by
Pouca gente terá lido as Décadas da Ásia de João de him. They speak indifferently the Malayan and their own
Barros, continuadas por Diogo de Couto, e se native Languages, as well as Portuguese.
chegaram a ler este relato, não terá despertado
nenhuma especial atenção... passando por mítico. Texto de W. Dampier, oficial inglês, em 1699

Acontece que em 2004 foram descobertos na Ilha das Tudo o que não conhecemos, tem sido epitetado
Flores, na Indonésia, restos humanos, agora como descrições míticas e fabulosas... e por isso os
denominados Homo Floresiensis que comprovam a marinheiros têm tido a fama, ao longo de séculos, de
existência de humanos cuja dimensão rondava 1 grandes mentirosos.
metro de altura... os tais 4 palmos de altura, que Face à mentira instituída, a verdade será sempre
referia Diogo de Couto. mentira.

A única maneira de passar a informação tem sido por


vezes sob forma ficcional... é aqui que entra Johnatan
Swift e as suas populares Viagens de Gulliver
(retomadas no cinema em 2010).

comparação entre um crânio floresensis


e um crânio humano microcefálico

Para termo de comparação, lembramos que a maioria


das crianças com 3/4 anos tem mais de 1 metro de
altura! Esta ilha seria uma autêntica Lilliput povoada Johnatan Swift e as Viagens de Gulliver
por pequenos humanos.
O aspecto tenebroso é a extinção... não há nenhuma
razão para duvidar do relato de Diogo de Couto, que
Esta informação recentemente colocada no blog é corroborado pelo achado de ossadas na Ilha das
Portugalliae despertou-me a atenção nesta leitura do Flores. Não é nada claro que Diogo de Couto se
texto de Diogo de Couto. Conforme José Manuel referisse às Flores, mas sim a outra ilha nas
dizia, os portugueses mantiveram lugares chave na proximidades, adicionando-lhe a riqueza em ouro.
sua exploração do Mundo, enquanto puderam. Após
invasão parcial, a ilha das Flores acabou por passar a

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/ultima-viagem-de-gulliver-liliput.html Página 20
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Fala-se do Dodó, e da sua extinção nas Ilhas No final das viagens de muitos Gullivers, menos bem
Maurícias, sob controlo holandês, em 1681, e um intencionados, os liliputianos ou gigantes
pouco menos do Tigre-da-Tasmânia, em 1937... mas desapareceram do nosso registo. Ora é assim que, ao
o aspecto do genocídio ter chegado ao ponto da jeito surpresa, se anuncia que somos afinal a única
extinção de uma raça humana, em tempos recentes, espécie humana sobrevivente. Poderia ter sido
tem contornos tenebrosos. diferente?

Alvor-Silves, publicado em 23 de Fevereiro de 2011

Extintos: o Dodó das Maurícias e o Tigre da Tasmânia

É na sequência da extinção do Dodó, que aparece o


conto de Lilliput e Gulliver em 1726.

Usa-se o aspecto alegórico, e a comparação entre as


guerras anglo-francesas, mas não convém esquecer o
aspecto sinistro de uma raça humana ameaçadora
Yahoo, nem tampouco o registo da ilha flutuante de
Laputa (mais uma vez sinalizamos o blog Portugalliae
e a referência à cidade flutuante de Laputa).
Finalmente, sobre o contraponto gigante... os
Brobdingnag, poderíamos encontrar a referência
mítica aos gigantes da Patagónia... também estes
extintos.

Convém notar que nos populares mapas de John


Tallis, de 1851, a Patagónia permanecia ainda como
território inexplorado... habitado por "índios". Pouco
tempo depois o estado de La Plata daria origem à
moderna Argentina com a brutal anexação desses
territórios a sul.

A Patagónia, antes da anexação Argentina, em 1851

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/02/ultima-viagem-de-gulliver-liliput.html Página 21
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Axum e Lallibela
Talvez na linha da tradição egípcia, a Etiópia resistiu à pressão muçulmana,
fez obeliscos, e foi alvo da lenda europeia enquanto Terra do Prestes João,
factor muito citado nos textos à época dos descobrimentos.

Apesar do seu controverso transporte por Mussolini para Roma, e demora


na devolução recente (longo processo finalizado entre 2002 e 2008) são
pouco conhecidos os enormes e surpreendentes obeliscos de Axum, na
Etiópia:

Também surpreendente, e claramente prova


da primeva presença cristã na Etiópia, é a
insólita igreja de Lalibela. Quando a defesa e a
estrutura da igreja é esculpida a partir da
própria rocha, num conjunto uno:

Este obelisco estaria


fraccionado aquando do
transporte para Itália, e foi
ainda danificado por um
relâmpago em 2002, quando
foi decidido devolvê-lo.
Tem 24 metros de altura e
datará do Séc. III.

As suas inscrições em relevo


sugerem motivos e corte de
rocha que encontramos, por
exemplo, em Tiahuanaco...

http://odemaia.blogspot.com/2011/02/axum-e-lalibela.html Página 22
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Alinhamento piramidal (cont.)


Conforme referido no blog alvor-silves as duas
grandes pirâmides de Gizé estão alinhadas, e sendo
aí referido a afirmação de G. Magli, face ao
alinhamento a Baalbec, podemos extrapolar a
linha, e seguir ainda a linha perpendicular.
No sentido desse alinhamento corresponder a uma
possível indicação de um antigo equador...
se o admitirmos, o aspecto desse outro
alinhamento terrestre seria este:

... ou seja, temos uma perspectiva em que o clima teria forçosas alterações.

A zona europeia mais a norte corresponderia à Galiza, Bretanha, Irlanda e Grã-Bretanha, Noruega.
A Islândia (Thule) e a Gronelândia (Ultima Thule), teriam climas amenos, e o pólo norte ficaria próximo de
Washington! A América do Norte faria o papel de uma enorme Antártida, enquanto esta faria o papel de uma
luxuriante América do Sul!
A inclinação axial da rotação terrestre é de 23º face à normal órbita. Esta alteração corresponderia ao dobro, ou
melhor 45º, e a uma rotação não inclinada face à órbita. Pode já ter acontecido? Poderá corresponder a uma
transição brusca, quando o eixo de rotação ultrapassa uma exagerada inclinação?

Curiosamente, um dos dois pontos, onde se intersectam o actual equador e este meridiano de Gizé (que poderia
referir um antigo equador) está em São Tomé e Príncipe, mais propriamente, no (ou próximo do) Ilhéu das
Rolas :

Esta é uma boa imagem, pois mostra o mapa,


apontando justamente na direcção do meridiano
de Gizé...

http://odemaia.blogspot.com/2011/02/alinhamento-piramidal-via-alvor-silves.html Página 23
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Romanas maiúsculas
Sabemos que os gregos usavam letras maiúsculas (... ou será
majúsculas?!) e minúsculas.
No entanto, o que nos chegou dos romanos aparece sempre escrito
em maiúsculas... as minúsculas que usamos são essencialmente
fabrico posterior, de influência gótica.
Analisando algumas interessantes imagens de inscrições romana em
Pompéia, podemos ver uma diversidade de escrita corrente, algumas
da qual dificilmente legíveis para leigos.

É perfeitamente natural que


houvesse uma variedade de
caligrafia popular, para além do
standard majúsculo que nos
chegou.

A este detalhe (actual correspondência comercial-institucional em maiúsculas) junto a herança


romana, com a sua ausência institucional de minúsculas. Algo que foi mantido ainda durante todo
o período medieval. As inscrições que vemos em igrejas, ou epitáfios, adoptaram sempre a forma
maiúscula, mesmo muito depois da queda do império romano.
Afinal, o latim manteve-se institucionalmente como língua oficial durante a Idade Média.

Alvor-Silves, publicado em 20 de Fevereiro de 2011

http://odemaia.blogspot.com/2011/02/romanas-maiusculas.html Página 24
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 2.

Tasmânia
– muralhas de Jerusalém
Num comentário antigo foi referida a existência na Tasmânia de Parques
Naturais, denominados

Walls of Jerusalem

Cradle Mountain

... mas também interessante é sem dúvida o


"Campo de Adão"... ou melhor, Adamsfield:

Esta estrutura torna-se apenas visível a uma certa


altitude... provavelmente nem é notada por quem
visite o parque.

Sob certa forma é semelhante à Estrutura de Richat, uma


formação circular, que está localizada bem no meio do
Saara:

Tem o epíteto de
"olho de África"
e foi anunciado pela
observação da missão
espacial Gemini, em 1965.

Ainda uma estrutura circular


curiosa é o Lago Bosomtwe, no
Ghana. Essa orografia é vísivel
pelas montanhas circundantes que
fazem um lembrar um lago numa
cratera vulcânica.

http://odemaia.blogspot.com/2011/02/tasmania-muralhas-de-jerusalem.html Página 25
AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 1.

João de Lisboa, 1514

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Volume 2 – Número 2
Fevereiro de 2011

Página 26

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