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Fisiologia
Humana
DR. FELIPE NATALI ALMEIDA
Híbrido
GRADUAÇÃO
Fisiologia
Humana
Dr. Felipe Natali Almeida
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; ALMEIDA, Felipe Natali.
13
Sistemas
Fornecedores de
Oxigênio: Sistema
Cardiovascular e
Respiratório
49
O Sistema Nervoso
e o Movimento
71
Hormônios
99
Fisiologia da
Atividade Física
Voltada para a Saúde
123
77 Neurônios
Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dr. Felipe Natali Almeida
Bioenergética e
Metabolismo: Como o
Corpo Obtém Energia?
PLANO DE ESTUDOS
Substratos Metabolismo
Energéticos do Exercício
Demandas Bioenergética
Energéticas
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender os elementos envolvidos no gasto ener- • Abordar o conceito de bioenergética por meio da discus-
gético. são sobre a produção anaeróbia e aeróbia de ATP.
• Discutir sobre os diferentes tipos de substratos energé- • Discutir o metabolismo energético mediante a interação
ticos. do uso das vias anaeróbias e aeróbias de ressíntese de
• Entender o conceito de fosfato de alta energia. ATP no repouso e nas diferentes fases do movimento.
Demandas
Energéticas
Figura 1 - Alimentos consumidos cotidianamente formam a base energética para produção de ATP
UNIDADE 1 15
Logo, para manter nosso organismo funcionando, precisamos gastar energia e ao gasto energético
ocorrido em 24 horas damos o nome de “gasto energético diário”. De uma forma geral, ele pode ser
subdividido em quatro elementos (Figura 2):
a) Taxa metabólica basal (ou de repouso): energia necessária para manutenção dos sistemas
corporais.
b) Efeito térmico dos alimentos: aumento do gasto de energia que segue a ingestão da
comida e está associada à digestão, à absorção e ao metabolismo dos alimentos e de seus
nutrientes.
c) Efeito térmico das atividades: gasto de energia associado à realização de movimentos es-
pontâneos e de atividades musculares planejadas (incluindo aqui atividades cotidianas, como
lavar um carro e limpar a casa, por exemplo, assim como a realização de exercícios físicos
efetivamente).
d) Gastos com o crescimento.
- Dependente da fase do
Crescimento
desenvolvimento do indivíduo
- Genética
- Idade
Taxa metabólica - Sexo
- Massa corporal magra
basal - Área de superfície
- Níveis hormonais
- Atividade do sistema nervoso
Importante salientar que esses quatro elementos podem ser influenciados, aumentando ou diminuindo
sua participação no gasto energético diário total (MAUGHAN; BURKE, 2004). A Figura 2 também
apresenta os principais agentes influenciadores de cada um deles.
UNIDADE 1 17
Carboidratos
UNIDADE 1 19
Os fosfolipídeos não são usados
como fonte de energia (ao menos
não como função primordial),
carne são lipídeos combinados a dife-
GORDURAS gorda rentes moléculas de ácido fosfó-
BOAS rico, responsáveis por formarem
todas as membranas celulares de
todas as organelas das células. Já
queijo
os esteroides apresentam como
abacates elemento principal o colesterol,
um componente de todas as
membranas biológicas junta-
salmão
mente com os fosfolipídeos, além
sorvete de serem utilizados para síntese
de todos os hormônios ditos
“esteroides”, onde incluímos os
nozes comida
hormônios sexuais (estrogênio,
frita progesterona e testosterona), os
GORDURAS glicocorticoides (cortisol) e os
RUINS mineralocorticoides (aldostero-
na). As gorduras nos alimentos
azeite
são encontradas em diversas
fontes, podendo ser considera-
GORDURAS BOAS vs GORDURAS RUINS das nutricionalmente benéficas
ou maléficas (Figura 4) (McAR-
Figura 4 - Diferentes tipos de gorduras encontradas nos alimentos
DLE; KATCH; KATCH, 2011).
Proteínas
As proteínas são macronutrientes compostos por asparagina, a cisteína, a glicina, a glutamina, a proli-
unidades menores chamadas de aminoácidos. O na, a serina e a tirosina (DEVLIN, 2011).
corpo necessita de 20 aminoácidos para formar os Um indivíduo típico de 70kg dispõe de um
diversos tipos de proteínas necessárias ao bom fun- reservatório corporal de aproximadamente 12kg
cionamento corporal. Existem nove aminoácidos, de aminoácidos, sendo que a grande maioria de-
chamados de aminoácidos essenciais, que não po- les existe na forma de proteína e uma pequena
dem ser sintetizados pelo corpo e, dessa forma, pre- quantidade (cerca de 200g), na forma de aminoá-
cisam ser consumidos com os alimentos e incluem cidos livres. Durante o dia, acontece um processo
a fenilalanina, a histidina, a isoleucina, a lisina, a constante de circulação das proteínas, envolvendo
leucina, a metionina, a treonina, o triptofano e a a ocorrência simultânea de sua quebra e síntese
valina. Já os aminoácidos não essenciais, ou seja, e uma troca contínua de aminoácidos entre os
aqueles que podem ser produzidos pelo organismo, vários reservatórios. O sistema musculoesque-
são o aspartato, o glutamato, a alanina, a arginina, a lético responde pela maior reserva de proteínas
Nitrogênio Convertido em
Fezes perdido na carboidratos e
(C e N) urina ou suor gorduras
Como fonte de energia, as proteínas contêm cerca de 4 kcal por grama, mas devem ser quebradas em
aminoácidos para poderem ser utilizadas com este propósito. Para fornecerem energia, ou deverão ser
convertidas em glicose ou em algum intermediário das vias metabólicas (processo de gliconeogênese)
(MAUGHAN; BURKE, 2004).
UNIDADE 1 21
Fosfatos de Alta Energia
A fonte de energia imediata para o funcionamento do corpo humano (incluindo aqui para a realização da
contração muscular) é um composto de fosfato de alta energia, o trifosfato de adenosina (ATP). Embora
o ATP não seja a única molécula transportadora de energia na célula, é a mais importante. Na ausência
de ATP em quantidade suficiente, a maioria das células morrem rapidamente. Basicamente, a energia
obtida dos alimentos e dos reservatórios celulares serve para manutenção dos estoques celulares de ATP.
Isso ocorre pelo fato de uma parte da energia contida nas ligações químicas das moléculas dos substratos
energéticos serem armazenadas nas ligações químicas existentes entre os átomos do ATP e, ao desfazer
estas ligações, a energia liberada será utilizada pelas células (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
A estrutura do ATP consiste em três partes principais: (1) uma porção adenina, (2) uma porção
ribose e (3) três fosfatos ligados (Figura 6). A formação de ATP ocorre a partir da ligação do difosfato
de adenosina (ADP) com o fosfato inorgânico (Pi) e requer uma ampla quantidade de energia, sendo
que uma parte dessa energia é armazenada na ligação química que une essas moléculas. Quando a
enzima ATP quebra essa ligação, a energia é liberada e pode ser usada para realização de trabalho
(exemplo: contração muscular) (NELSON; COX, 2014).
Secreção Transmissão
glandular neural Contração
muscular
O O-
ATP
H N NH2
P
O C C
O O-
P N C
O- C N
O O
P CH2 O N C
O O C H H C H
H H
OH OH
Trifosfato Ribose Adenina
Digestão Adenosina
Circulação
Síntese
tecidual
Aminoácidos Proteína
ATP
UNIDADE 1 23
O método mais simples e, consequentemente, mais rápido para que converte piruvato em lacta-
produzir ATP envolve a doação da energia contida na PC ao ADP, para to) que ocorrem exclusivamente
que ele possa se unir ao Pi e formar o ATP. Esta reação é catalisada pela no citoplasma da célula e pro-
enzima creatina quinase e consiste, primeiramente, na quebra da PC move um ganho líquido de duas
em creatina livre e Pi e, posteriormente, a utilização da energia libera- moléculas de ATP (NELSON;
da desta quebra para unir o ADP com o Pi (Figura 7) (MAUGHAN; COX, 2014).
GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Na glicólise, observa-se que
as reações entre glicose/glicogê-
nio e piruvato podem ser subdi-
vididas em duas fases distintas,
uma fase de investimento de
Figura 7 - Reação enzimática de ressíntese do ATP a partir da fosfocreatina
energia (primeiras cinco rea-
Fonte: o autor. ções) e uma fase de geração de
energia ou fase de lucro (últimas
Quando um indivíduo necessita de um suprimento rápido de ATP, cinco reações). As cinco primei-
ele utiliza o sistema ATP-PC (Figura 8)(MAUGHAN; GLEESON; ras reações constituem a fase de
GREEENHAFF, 2000). investimento de energia pelo fato
de gastarmos duas moléculas
Trabalho biológico de ATP para fosforilar os inter-
Mecânico mediários dessa via tornando a
Químico
molécula energeticamente mais
Transporte
favorável. Já as últimas cinco rea-
ções da glicólise representam a
ATPase fase de geração de energia da gli-
ATP ADP + Pi + Energia
cólise na qual quatro moléculas
de ATP são produzidas. Dessa
creatinoquinase forma, o ganho líquido da gli-
PCr + ADP Cr + ATP
cólise é igual a dois ATPs (Figura
9). A Figura 10 ilustra a glicólise
Figura 8 - Papel da hidrólise da creatina-fosfato na geração de trabalho
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 142). completa, com suas dez reações
juntamente com a conversão do
piruvato, último intermediário
Uma segunda via metabólica capaz de produzir ATP rapidamente da glicólise, em lactato. Note
sem o envolvimento de O2 é denominada glicólise. A glicólise envol- que a glicólise envolve a con-
ve a quebra de glicose ou glicogênio para formação de duas moléculas versão da glicose, que tem seis
de piruvato, que na ausência de oxigênio serão convertidas em duas carbonos, em piruvato, que tem
moléculas de lactato. De forma simplificada, a glicólise é uma via três carbonos. Por isso que cada
anaeróbia usada para transferir energia das ligações existentes na molécula de glicose é capaz de
molécula de glicose para unir a adenosina difosfato (o ADP) com o formar duas moléculas de piru-
fosfato inorgânico (Pi) formando ATP. Esse processo envolve uma vato (MAUGHAN; GLEESON;
série de reações químicas (dez reações até piruvato, e uma última GREEENHAFF, 2000).
2 4 ATP
Fase de produzidos
geração
de energia 2 NADH
Produção líquida produzidos
Entrada Saída
1 glicose 2 piruvatos ou 2 lactatos
2 piruvatos ou
2 ADP 2 ATP
2 lactatos
2 NAD+ 2 NADH
Figura 9 - Glicólise
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 52).
Uma pergunta que você deve estar fazendo seria: se o ATP já foi
produzido, por que formar o lactato? Sabemos que, na via glico-
lítica, o transportador de elétrons NAD+ (nicotinamida adenina
dinucleotídeo) recebe elétrons e é reduzido à sua forma NADH
(nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzido) (reação 6 da gli-
cólise), que, necessariamente, deveria entrar na mitocôndria e doar
estes elétrons para a cadeia transportadora de elétrons, processo este
que só ocorre na presença de oxigênio. Na ausência de oxigênio,
para que não haja o acúmulo de NADH no citoplasma das células
(que seria prejudicial/tóxico para a célula), o piruvato aceita os
elétrons, sendo convertido em lactato (Figura 11) (McARDLE;
KATCH; KATCH, 2011).
Como não há o envolvimento direto do oxigênio na glicólise, a
via é considerada anaeróbia, entretanto, na presença de oxigênio
na mitocôndria, o piruvato pode participar da produção aeróbia
de ATP. Dessa forma, além de ser uma via capaz de produzir ATP
sem oxigênio, a glicólise pode ser considerada a primeira etapa da
degradação aeróbia de carboidratos.
UNIDADE 1 25
CH2OH
O
H H H
HO OH H OH
H OH
Glicose
ATP
1 hexoquinase
ADP
2 glicose-fosfato
isomerase
frutose
6-fosfato
ATP
3 fosfofrutoquinase
ADP
P H2C CH2 P
frutose 1,6-fosfato H HO
OH
4 Aldose
HO H
fosfato de
triosefosfato
5 di-hidroxiacetona
isomerase
3- fosfogliceraldeído 3- fosfogliceraldeído
NAD+ 6 NAD+
gliceraldeído 3- fosfato
NADH + desidrogenase NADH +
1,3- difosfoglicerato 1,3- difosfoglicerato
ADP 7 ADP
HO OH H OH
H OH
Glicose
2 NAD+
ADP
Glicólise
ATP
2 NADH +2 2 NAD+
NAD+
COO- COO-
Regeneração
C O H C OH
desidrogenase
CH3 CH3
láctica
2 Piruvato 2 Lactato
A produção aeróbia de ATP ocorre dentro da mitocôndria e envolve a interação de duas vias meta-
bólicas cooperativas: 1) o ciclo do ácido cítrico (antigo ciclo de Krebs) e 2) a cadeia transportadora de
elétrons. A função primária do ciclo do ácido cítrico é completar a oxidação de carboidratos, gorduras
ou proteínas, usando o NAD+ e o FAD como transportadores de elétrons que serão enviados para a
cadeia transportadora de elétrons onde os doarão para os componentes dessa via. O oxigênio não
participa das reações do ciclo do ácido cítrico e é utilizado apenas na cadeia respiratória como o últi-
mo aceptor de elétrons, sendo convertido em H2O (Figura 12) (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
UNIDADE 1 27
Fígado
Tecido muscular Tecido adiposo
Glicogênio Reservas
intramusculares de energia
• ATP
Glicose Aminoácido
• PCr
desaminado
• Triacilgliceróis
• Glicogênio
• Esqueletos de carbono
provenientes dos aminoácidos
Triacilgliceróis
Corrente sanguínea
Ácidos graxos
Ciclo do
Ácido
Cítrico
Transporte
Mitocôndria de elétrons
ATP
Figura 12 - Integração das vias dos diferentes substratos energéticos no ciclo do ácido cítrico
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 148).
A entrada no ciclo do ácido cítrico requer a formação de uma molécula de dois carbonos denominada
Acetil-CoA, que pode ser formada a partir da quebra dos carboidratos, das gorduras ou proteínas
(McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Dando um enfoque inicial sobre os carboidratos, sabemos
que pela via glicolítica a glicose é convertida em piruvato. Este, na presença de oxigênio, ao invés de
ser convertido em lactato (conforme visto anteriormente), será quebrado em Acetil-CoA, que, em
seguida, se combinará com o oxaloacetato para formar o citrato, compreendendo a primeira reação do
ciclo do ácido cítrico. Posteriormente, um conjunto de sete reações será responsável por ressintetizar
o oxaloacetato e ao mesmo tempo formar três moléculas de NADH, uma molécula de FADH2 e uma
molécula de GTP (que será convertido em ATP). Para cada molécula de glicose que entra na glicólise,
duas moléculas de piruvato são formadas, dando origem a duas moléculas de acetil-CoA que girará
o ciclo do ácido cítrico duas vezes (Figura 13) (DEVLIN, 2011).
CO2 NADH +
1 coenzima A (CoA)
O
H3C C S CoA
Acetil-CoA
CoA
citrato
sintase
ato
NAD+
Ox
se
Citr
alo
ita
ac
on
NADH + to
eta
H20 ita
ac
3 n
to
de m co
sid alat is-a
ro o c
ge e
Ma na n itas
lato se 11 aco
4
H20 Isocitrato
Fumarase 10 Ciclo do NAD+
su rog
ce
8 H20
sid 7
to
to
de
gl
teta oA
ina
α-c idroge
ut
Com glutara e
sin ato-C
cc
des
ar
Succinil-CoA
se
eto
Su
at
o
ple
cin
NAD+
xo o
suc
nas
t
NADH +
GTP GDP
CO2
ATP ADP + Pi
UNIDADE 1 29
Até aqui enfocamos o papel dos carboidratos na produção de ace- As proteínas conseguem
til-CoA para a entrada no ciclo do ácido cítrico, porém, como as entrar nas vias bioenergéticas
gorduras podem ser utilizadas? Se nos lembrarmos do tópico “subs- em diversos locais. Entretanto,
tratos energéticos”, recordaremos que um dos tipos de gordura a primeira etapa é a quebra da
presente no nosso corpo é o triglicerídeo. Este, após sofrer a ação proteína em aminoácidos. Os
de lipases (enzimas que quebram as ligações químicas existentes eventos subsequentes depen-
nos triglicerídeos), libera moléculas de ácido graxo e de glicerol. dem de quais aminoácidos es-
Os ácidos graxos, após passar por um conjunto de reações químicas tão envolvidos. Alguns aminoá-
(beta-oxidação), resultarão em moléculas de acetil-CoA que serão cidos, por exemplo, podem ser
utilizadas tal qual o acetil-CoA proveniente do piruvato (Figura 14) convertidos em glicose ou piru-
(DEVLIN, 2011). vato, enquanto outros são con-
vertidos em acetil-CoA, e ou-
tros, ainda, em intermediários
Triacilgliceróis
(50.000-100.000 kCal) do ciclo do ácido cítrico (Figura
Tecido adiposo
15) (MAUGHAN; GLEESON;
Fragmento de GREEENHAFF, 2000).
pele abdominal Lipase sensível
aos hormônios Em resumo, o ciclo do áci-
do cítrico completa a oxida-
Ácidos graxos Glicerol
ção dos carboidratos, gordu-
ras ou proteínas, produz CO2
e fornece elétrons que serão
Triacilglicerol intramuscular
(2.000-3.000 kCal) passados pela cadeia de trans-
porte de elétrons para forne-
Ácidos + Albumina AGL Ácidos Glicose cer energia destinada à pro-
graxos graxos
Plasma
dução aeróbia de ATP (Figura
Músculo 15). As enzimas catalisadoras
O2 das reações do ciclo do ácido
Mitocôndria cítrico estão localizadas den-
Acetil-CoA
tro das mitocôndrias
Ciclo do
Ácido
Cítrico
Transporte
de elétrons
ATP
Glicólise Desaminação
Lipídios
Nucleotídeos Treonina Alanina Amônia
Açúcares amino Serina
Glicolipídios Piruvato
Cisteína
Ureia
Glicoproteínas Aminoácidos Glicina
Pirimidinas Lactato
Urina
Isoleucina
Leucina
Acetil-CoA Lisina
Tirosina
Corpos Fenilalanina
cetônicos Triptofano
Aspartato
Outros aminoácidos Colesterol
Oxaloacetato Citrato
Purinas Ácidos graxos
Pirimidinas Ciclo do
Ácido arginina metonina
Cítrico asparagina (metionina)
asparato fenilalanina
Heme Succinil-CoA α-cetoglutarato glutamato prolina
glutamina treonina
histidina tirosina
isoleucina valina
Interconversões predomimantes
Glutamato
Gorduras e aminoácidos Outros aminoácidos
Carboidratos
não essenciais Purinas
Aminoácidos
Gorduras
não essenciais
Carboidratos
Proteínas
ou gorduras
UNIDADE 1 31
Cadeia Transportadora de Elétrons
A produção aeróbia de ATP é possível graças a um mecanismo que usa a energia potencial disponível
nos transportadores de elétrons reduzido, como o NADH e o FADH2, para fosforilar o ADP em ATP.
Os transportadores de elétrons reduzidos não reagem diretamente com o oxigênio. Em vez disso, os
elétrons removidos dos átomos de hidrogênio passam por uma série de proteínas (complexo I, II, III
e IV) e ao final destes é doado ao O2 (Figura 16) (NELSON; COX, 2014).
Retículo Núcleo
endoplasmático
Nucléolo
Ribossomos Ribossomos
Citoesqueleto Membrana
plasmática
Aparelho
Mitocôndria
de Golgi
Citosol
Centríolos
Fase 1 Fase 2
Piruvato proveniente A cadeia de transporte de
da glicólise elétrons oxida os componentes
das coenzimas reduzidas
coenzima A
H
H H
H H
Acetil - CoA H
H H
H H H
e- e- Cadeia de
H H H H
e- e- transporte
Ciclo do As coenzimas reduzidas de elétrons
H Ácido CO2 (moléculas carreadoras) e- e-
Cítrico transportam o hidrogênio até a ADP + Pi ATP
H H cadeia de transporte de elétrons
H CO2
2 H+ + O H2O
ATP
Tecido adiposo marrom: Você sabia que existem dois tipos de tecido adiposo no corpo humano?
Muitos de nós conhecemos apenas o chamado tecido adiposo branco, constituído por células adiposas
especializadas (entre outras funções) no armazenamento de energia excedente. Além deste, também
apresentamos um segundo tipo de tecido adiposo denominado de tecido adiposo marrom, que ao
invés de acumular, gasta energia. Sabemos que esta capacidade é possível devido a uma grande
quantidade de mitocôndrias que, ao invés de apresentarem o complexo V da cadeia respiratória,
tem uma proteína chamada de UCP (uncoupling protein). Infelizmente, seus níveis em humanos são
muito reduzidos em comparação aos demais mamíferos, especialmente na fase adulta, sendo seu
papel de pouco significado no gasto energético diário.
Fonte: adaptado de Nelson e Cox (2014).
UNIDADE 1 33
Membrana
mitocondrial externa
Membrana
mitocondrial interna
Espaço
intermembrana Terceira
Segunda bomba
bomba
1 2 H+
H2O
Primeira bomba
2H + 1/2 O2 3
4 H+
e -
1 ADP
ATP sintase
+ ATP
Pi
4 H+ NAD+
NADH Matriz
UNIDADE 1 35
Metabolismo
do Exercício
Necessidade Energética
Durante o Repouso
Quando saímos da condição do repouso para a condição exercício, as necessidades energéticas também
aumentam e com elas o consumo de oxigênio. Porém, durante esta fase de transição, o aumento do
consumo de oxigênio não é proporcional à nova demanda energética do organismo. Desta maneira,
até o corpo atingir o estado estável (período em que o corpo se readequou à nova demanda e é capaz
de fornecer oxigênio de forma satisfatória), as fontes de energia anaeróbia contribuem para geração
de ATP no início do exercício (Figura 18) (POWERS; HOWLEY, 2014).
De fato, as evidências sugerem que no início do exercício o sistema ATP-PC é a primeira via bioener-
gética a ser ativada, seguida da glicólise e, por fim, a produção de energia por via aeróbia. A efetividade
das vias anaeróbias é tão grande que mesmo que o uso de ATP se torne muito elevado, com o início
do exercício, os níveis de ATP na musculatura permanecem praticamente inalterados. Conforme o
consumo de O2 em estado estável é alcançado, as necessidades de ATP no corpo vão sendo atendidas
pelo metabolismo aeróbio.
O principal ponto a ser enfatizado em relação à bioenergética das transições do repouso ao trabalho
(exercício) é o envolvimento de vários sistemas energéticos. Em outras palavras, a energia necessária
ao exercício não é fornecida pela simples ativação de uma via bioenergética isolada, e sim por uma
mistura de vários sistemas metabólicos que atuam com uma considerável sobreposição (McARDLE;
KATCH; KATCH, 2011).
UNIDADE 1 37
que não haja moléculas de oxigênio disponíveis compostos começam a aumentar e passam a sina-
para aceitar elétrons ao final das cadeias de trans- lizar para que a cadeia transportadora de elétrons
porte de elétron. Nitidamente, se isso estiver corre- se torne mais ativa (POWERS; HOWLEY, 2014).
to, a taxa de fosforilação oxidativa e, portanto, todo Os indivíduos treinados atingem o estado está-
o consumo de oxigênio corporal, seria restrito. vel do VO2 mais rápido do que os indivíduos sem
A segunda hipótese sustenta a ocorrência de um treinamento (Figura 19) e, como consequência,
atraso, pois os estímulos para fosforilação oxidati- apresentam um déficit de oxigênio menor. Qual a
va demoram algum tempo para atingir seus níveis explicação para essa diferença? Teoricamente, isso
finais e produzir totalmente seus efeitos em uma decorre de adaptações cardiovasculares e/ou mus-
dada intensidade de exercício. Sabe-se que a cadeia culares induzidas pelo treinamento de resistência.
transportadora de elétrons é estimulada por ADP Em termos práticos, isso significa que a produção
e Pi e no começo do exercício as concentrações aeróbia de ATP está ativa antes do início do exer-
de ADP e Pi estão meramente acima dos níveis cício e acarreta uma produção menor de lactato
de repouso, uma vez que a concentração de ATP e H+ no indivíduo treinado, em comparação ao
está sendo mantida pela PC e glicólise acelerada. indivíduo sem treinamento (McARDLE; KATCH;
No entanto, chega um momento que estes dois KATCH, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014).
20
VO2 no
ritmo estável
Consumo de oxigênio (ml/kg/min)
15
10
5
Repouso
0
0 2 4 5 8 10
Duração do exercício (min)
Da mesma forma que a taxa metabólica não aumenta instantaneamente com o início do exercício,
ao finalizar uma sessão de treinamento, a taxa metabólica não cai instantaneamente, mas continua
alta por algum tempo, variando esse tempo, principalmente, pela intensidade do exercício realizado.
A este consumo elevado de oxigênio após a interrupção do exercício físico, damos o nome de con-
sumo excessivo de oxigênio pós-esforço, o EPOC (do nome em inglês excess post-exercise oxygen
consumption) (Figura 20). Estudos apontam que o EPOC poderia ser dividido em duas partes: 1) parte
rápida, imediatamente subsequente ao exercício (cerca de 2-3 minutos após o exercício) e 2) parte
lenta, que persiste por mais de 30 minutos após o exercício (POWERS; HOWLEY, 2014).
(a)
3
VO2 em estado estável
2,5
Déficit de O2 O suprimento
de ATP aeróbio
2 Componente rápido
atende à demanda
1,5
VO2 (L • min-1)
1
Componente lento
VO2 em EPOC
0,5 repouso basal
-4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14
Tempo (minutos)
(b)
5
Necessidade de O2
4,5
4 Déficit de O2
Término do exercício
3,5
3 Componente rápido
2,5
VO2 (L • min-1)
VO2 mais
2 alto alcançável
1,5 Componente
lento
1 VO2 em EPOC
repouso basal
0,5
-4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Figura 20 - Consumo de oxigênio pós-esforço: a) Alcançar o estado estável durante o exercício resulta num EPOC curto
b) Não alcançar o estado estável durante o exercício resulta um EPOC prolongado
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 72).
UNIDADE 1 39
A restauração das reservas de PC e de oxigênio no músculo
(O2 ligado à mioglobina) e no sangue (O2 ligado à hemoglobina) é
concluída em 2-3 minutos de recuperação e compreendem a parte
rápida. Em adição, a temperatura corporal elevada, a gliconeogênese
para converter lactato em glicose, os níveis elevados de adrenalina
e noradrenalina e os valores acima da normalidade de frequência
cardíaca e frequência respiratória seriam os influenciadores da fase
lenta do EPOC.
UNIDADE 1 41
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
42
3. Quando terminamos uma sessão de exercício, o nosso corpo continua consu-
mindo mais oxigênio e gastando mais energia em comparação ao repouso por
um determinado período de tempo. Esta fase compreende o EPOC. O EPOC pode
ser dividido em uma fase rápida e uma fase lenta. Sendo assim, que condições
influenciam a porção rápida do EPOC?
a) Frequência cardíaca e respiratória elevadas, níveis dos hormônios adrenalina
e noradrenalina elevados.
b) Remoção do lactato, ressíntese do ATP e recuperação das reservas de O2.
c) Ressíntese da PC e recuperação das reservas de O2 na mioglobina e hemo-
globina.
d) Temperatura elevada e remoção do lactato da circulação.
e) Remoção de lactato, ressíntese do ATP e temperatura elevada.
43
5. Na célula, onde ocorrerá a reação da fosfocreatina, glicólise, o ciclo do ácido
cítrico e a cadeia transportadora de elétrons, respectivamente?
a) Citosol, Citosol, Citosol, Mitocôndrias.
b) Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria, Mitocôndria.
c) Mitocôndria, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria.
d) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria.
e) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Citosol.
44
LIVRO
45
DEVLIN, T. M. Manual de bioquímica com correlações clínicas. São Paulo: Blucher, 2011.
MAUGHAN, R.; GLEESON, M.; GREEENHAFF, P. L. Bioquímica do exercício e do treinamento. São Paulo:
Manole, 2000.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. I. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
46
1. D.
2. C.
3. C.
4. A.
5. D.
6. B.
47
48
Dr. Felipe Natali Almeida
Sistemas Fornecedores de
Oxigênio: Sistema Cardiovascular
e Respiratório
PLANO DE ESTUDOS
Sistema
Respiratório
Sistema
Cardiovascular
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Fornecer uma visão geral da estrutura e da função do • Entender a estrutura e função do sistema respiratório.
sistema cardiovascular.
Sistema
Cardiovascular
O sistema cardiovascular consiste em um sistema fechado por meio do qual o sangue circula por todos
os tecidos corporais. Basicamente, consiste em uma conexão contínua de uma bomba, um circuito de
distribuição de alta pressão, canais de permuta e o circuito de coleta e de retorno de baixa pressão. Se
forem estendidos em uma única linha, os aproximadamente 160.000 km de vasos sanguíneos de um
adulto de tamanho médio circundariam a Terra cerca de quatro vezes (McARDLE; KATCH; KATCH,
2011). Como dito, a circulação sanguínea requer a ação de uma bomba muscular, o coração, que cria a
força propulsora necessária para movimentar o sangue ao longo do sistema de vasos. O sangue viaja pelo
corpo saindo do coração pelas artérias e retornando pelas veias. Este sistema é considerado fechado
porque as artérias e veias permanecem em continuidade entre si por meio de vasos menores. As artérias
ramificam-se extensivamente para formar uma rede de vasos menores denominados arteríolas, que
continuam se ramificando em vasos menores denominados de capilares. Estes são os menores e mais
numerosos vasos sanguíneos do corpo. A partir deste ponto, o sangue passa a retornar em sentido ao
coração por meio do reagrupamento dos vasos capilares em vênulas. Conforme as vênulas seguem de
volta ao coração, aumentam de tamanho e transformam-se em veias. As veias principais esvaziam-se
no coração (POWERS; HOWLEY, 2014).
Coração
O coração proporciona o impulso para o fluxo de sangue. Localizado na parte mediana da cavidade to-
rácica, cerca de dois terços de sua massa ficam à esquerda da linha média do corpo. Esse órgão muscular
pesa cerca de 310 g para um homem adulto de tamanho médio e 255 g para uma mulher de tamanho
médio e bombeia cerca de 70 mL em cada batimento, totalizando, em repouso, cerca de 7.200 L/dia
(McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
UNIDADE 2 51
Está dividido em quatro câmaras e, frequentemente, é descrito como sendo duas bombas em uma.
O átrio e ventrículo direitos formam a bomba direita, enquanto o átrio e ventrículo esquerdos consti-
tuem a bomba esquerda. Estes lados são separados por uma parede muscular denominadas de septo
interatrial (entre átrios direito e esquerdo) e septo interventricular (entre ventrículos direito e esquerdo),
evitando que o sangue presente em cada um dos lados se misture. Funcionalmente, as câmaras ocas
que compreendem cada lado do coração apresentam funções distintas (McARDLE; KATCH; KATCH,
2011; POWERS; HOWLEY, 2014):
• “coração direito”: responsável por receber o sangue que retorna de todas as partes do corpo
(especificamente o átrio direito) e por bombear o sangue para os pulmões, para que possa ser
oxigenado (especificamente o ventrículo direito);
• “coração esquerdo”: lado que recebe sangue oxigenado proveniente dos pulmões (átrio esquer-
do) e que bombeia o sangue para a aorta a fim de ser distribuído por todo o corpo (ventrículo
esquerdo).
Veia cava
superior Artéria pulmonar
Veia pulmonar
Átrio direito
Átrio esquerdo
Valva tricúspide
Valva mitral
Valva pulmonar
Valva aórtica
Ventrículo direito
Septo Ventrículo esquerdo
Figura 1 - Visão simplificada do coração: observe aqui a localização das valvas entre os átrios e ventrículos e entre os
ventrículos e os grandes vasos
Pericárdio
fibroso
Pericárdio
seroso
Cavidade pericárdia
UNIDADE 2 53
Circulação Pulmonar e Sistêmica
Volume sanguíneo
Área corporal ml %
Pulmões
Sistêmica
Artéria femoral
Átrio Átrio
direito esquerdo
Pulmão Pulmão Arco dorsal
Ventrículo Ventrículo
direito esquerdo
Veias Artéria hepática
hepáticas
Veia porta
Veia cava Canal
inferior alimentar
Rins Figura 3 - Visão geral da cir-
culação pulmonar e sistêmica,
associado a uma visão geral dos
Veias
provenientes Pernas Artérias para ramos da aorta, responsáveis por
da parte inferior a parte inferior distribuir sangue para os demais
do corpo do corpo tecidos que não o pulmão
Fonte: McArdle, Katch e Katch
(2011, p. 314).
UNIDADE 2 55
Ciclo Cardíaco
O ciclo cardíaco refere-se ao padrão repetitivo ainda nos ventrículos. Esses, então, enchem-se
de contração e relaxamento do coração. A fase de sangue durante a diástole seguinte (POWERS;
de contração é denominada sístole e o período HOWLEY, 2014).
de relaxamento é chamado de diástole. Átrios Para termos uma noção do tempo necessário
e ventrículos se contraem e relaxam. A contra- para realização de cada ciclo, se apresentarmos
ção atrial ocorre durante a diástole ventricular, uma frequência cardíaca de 75 batimentos por
enquanto o relaxamento atrial ocorre durante minuto, isso significa que o ciclo cardíaco total
a sístole ventricular. O coração, portanto, exibe terá uma duração de 0,8 segundos (60s dividi-
uma ação de bombeamento em duas etapas: pri- do por 75 batimentos), sendo que 0,5 segundos
meiro, os átrios contraem-se juntos, esvaziando corresponderá à diástole e 0,3 segundos à sístole.
o sangue atrial dentro dos ventrículos e, num se- Se os batimentos por minuto aumentarem (por
gundo momento (cerca de 0,1s após a contração exemplo, para cerca de 180 batimentos por mi-
atrial), os ventrículos contraem-se e distribuem nuto), observa-se uma redução no tempo total de
o sangue para dentro dos circuitos sistêmico e cada ciclo cardíaco que, em especial, sofrerá di-
pulmonar. Em repouso, a contração ventricular minuição no tempo de diástole (a diminuição no
durante a sístole ejeta cerca de 2/3 do sangue tempo da sístole é menor) (Figura 4) (POWERS;
contido nos ventrículos, deixando cerca de 1/3 HOWLEY, 2014).
Sístole Diástole
Repouso
Frequência cardíaca = 75 bpm
0,3 segundo 0,5 segundo
Sístole Diástole
Exercício intenso
Frequência cardíaca = 180 bpm
0,2 segundo 0,13 segundo
Durante o ciclo cardíaco também ocorre alteração de pressão dentro das câmaras. De uma forma
geral, sabemos que o fluxo sanguíneo sempre se direciona de um ambiente de maior pressão para um
ambiente de menor pressão. Desta forma, quando os átrios estão relaxados, a pressão em seu interior é
baixa, o que possibilita a entrada de sangue a partir do sistema venoso. Conforme vai se enchendo, sua
pressão aumenta e torna-se superior à pressão nos ventrículos, momento que o sangue direciona-se
para esta câmara. Conforme o sangue vai se direcionando para os ventrículos, a pressão ali vai aumen-
tando também, o que direcionará o sangue para as artérias (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
O sangue exerce pressão ao longo de todo o sis- A regulação a curto prazo é realizada pelo
tema vascular, contudo esta pressão é mais in- sistema nervoso simpático e, de uma forma re-
tensa junto às artérias, onde, em geral, é medida. sumida, ocorre da seguinte maneira: uma queda
Logo, a pressão arterial consiste na força exercida na pressão arterial (que pode ocorrer durante um
pelo sangue contra a parede das artérias, sendo quadro de desidratação, por exemplo, devido à
influenciada pelos seguintes fatores: a) volume diminuição do volume sanguíneo associada) será
sanguíneo; b) frequência cardíaca; c) volume de sinalizada ao sistema nervoso central que ativará
ejeção; d) resistência vascular periférica; e) visco- o sistema nervoso simpático, aumentando a fre-
sidade sanguínea. Todos os fatores são diretamen- quência cardíaca, a força de contração do coração
te proporcionais aos valores da pressão arterial, ou (aumentando o volume de ejeção) e a resistência
seja, um aumento em qualquer um destes levará vascular periférica, resultando no aumento da
a um aumento na pressão arterial e uma redução pressão arterial. Já um aumento na pressão arte-
em qualquer um destes levará a uma queda na rial (resultante de um susto, ou durante o exer-
pressão arterial (HALL, 2011). cício, por exemplo) ao ser sinalizado no sistema
A pressão arterial pode ser estimada com o nervoso central, levará a um bloqueio do sistema
uso de um esfigmomanômetro. A pressão arterial nervoso simpático, reduzindo a pressão arterial.
normal de um homem adulto é de 120/80 mmHg Em relação à regulação a longo prazo, ela é de-
(milímetros de mercúrio), enquanto a pressão pendente dos rins, que regulam a pressão arte-
de mulheres tende a ser um pouco mais baixa rial controlando o volume sanguíneo (POWERS;
(110/70 mmHg). O número maior, em geral, re- HOWLEY, 2014).
fere-se à pressão arterial sistólica, sendo a pres- Quando estes mecanismos não são eficientes,
são gerada durante a sístole ventricular. Durante a pressão arterial pode permanecer cronicamen-
o relaxamento ventricular (diástole), a pressão te alta (denominada hipertensão arterial), sendo
arterial diminui e representa a pressão arterial caracterizada, assim, com pressão arterial acima
diastólica (geralmente o valor mais baixo) (PO- de 140/90 mmHg. A hipertensão é classificada
WERS; HOWLEY, 2014). em uma dentre duas categorias: 1) hipertensão
Ao longo de um dia, a pressão arterial não per- primária ou essencial; 2) hipertensão secundária.
manece igual, ou seja, ela apresenta oscilações de A causa de hipertensão primária é multifatorial,
acordo com os eventos passados nas 24 horas. ou seja, existem vários fatores cujos efeitos combi-
Sendo assim, como essas oscilações ocorrem? nados produzem a hipertensão. Constitui cerca de
Conforme visto anteriormente, a pressão arte- 90-95% de todos os casos relatados da doença. Já a
rial é dependente de cinco fatores e variações, em hipertensão secundária resulta de alguns proces-
qualquer um deles resultará em modificações na sos patológicos comprovados e, portanto, é secun-
pressão. Porém, esta pressão não pode perma- dária à outra doença e, ao contrário da hiperten-
necer alta ou baixa durante todo o tempo. Para são primária que não apresenta resolução (apenas
tanto, apresentamos mecanismos de regulação controle), a hipertensão secundária é “curada” a
da pressão arterial, denominados de mecanismos partir do momento que se trata da doença que
de regulação aguda (curto prazo) e de regulação levou ao seu desenvolvimento (McARDLE; KAT-
a longo prazo. CH; KATCH, 2011).
UNIDADE 2 57
cardíaco. Quando o nodo SA atinge o limiar de
despolarização e dispara, a onda de despolariza-
ção dissemina-se ao longo dos átrios e resulta na
A hipertensão arterial é definida como o aumento contração atrial. A onda de despolarização atrial
contínuo da pressão arterial acima dos valores não pode atravessar diretamente para dentro
de 140 mmHg para pressão arterial sistólica e 90 dos ventrículos, mas deve ser transportada por
mmHg para pressão arterial diastólica. Inúmeras meio de um condutor especializado. Este tecido
são as estratégias farmacológicas para o seu tra- condutor irradia a partir de uma pequena massa
tamento. De uma forma geral, os efeitos benéficos de células denominada de nodo atrioventricular
do exercício físico envolvem, primeiramente, a (nodo AV). Esse nodo distribui esta informação
prevenção da instalação da hipertensão arterial aos ventrículos por um par de vias condutoras
e, após instalada, o tratamento inicial do indiví- denominadas de ramos direito e esquerdo (é im-
duo hipertenso, visando evitar o uso ou reduzir portante ressaltar que a passagem da atividade
o número de medicamentos e de suas doses. Em elétrica pelo nodo AV é retardada em cerca de
indivíduos sedentários e hipertensos, reduções 0,1 segundo, tempo necessário para que os ven-
clinicamente significativas na pressão arterial trículos se encham antes que a informação elétri-
podem ser conseguidas com o aumento relativa- ca, que irá levá-lo à despolarização e contração,
mente modesto na quantidade de atividade física chegue). Ao chegarem nos ventrículos, estas vias
realizada semanalmente. condutoras se ramificam em fibras menores de-
Fonte: Monteiro (2004). nominadas de fibras de Purkinje, que espalham
a onda de despolarização por todo o ventrículo,
levando à completa contração do coração (Figura
5) (POWERS; HOWLEY, 2014).
Atividade Elétrica
do Coração Nodo atrioventricular
Nodo
sinoatrial
Não sei se você já reparou, mas você não precisa
Feixe de His
enviar um sinal consciente para o coração con-
trair e relaxar. Ele bate, acelera e desacelera sem Ramo esquerdo
O débito cardíaco é o produto da frequência cardíaca (FC) pelo volume sistólico (VS - quantidade
de sangue bombeada por batimento cardíaco). Desta forma, o débito cardíaco pode aumentar em
decorrência da elevação da frequência cardíaca e/ou do volume sistólico. A Tabela 1 apresenta valores
de débito cardíaco em repouso e exercício de pessoas sedentárias e treinadas.
Tabela 1 − Débito cardíaco: observe os valores de débito cardíaco entre indivíduos sedentários e treinados nas condições
repouso e exercício e identifique as variações na FC e VS entre eles
Indivíduo FC VS Q
(batimentos/min) (mL/batimento) (L/min)
Repouso
Basicamente, quando pensamos no controle das variáveis que influenciam no débito cardíaco, sabemos
que a frequência cardíaca é influenciada principalmente pela atividade do sistema nervoso autônomo,
no qual a porção parassimpática resulta numa diminuição e a porção simpática leva ao seu aumento
(HALL, 2011). Já o volume sistólico depende de três fatores principais: 1) enchimento das câmaras
ventriculares; 2) resistência à saída do sangue do coração; 3) força de contração do coração. De uma
forma geral, sabemos que quanto maior o enchimento ventricular e maior a força de contração, maior
será o volume sistólico e quanto menor for a resistência à saída do sangue do coração, maior será o
volume sistólico (HALL, 2011).
UNIDADE 2 59
Sistema
Respiratório
Estrutura do
Sistema Respiratório
Brônquios 2
Zona condutora
4
Brônquio
8
Bronquíolos 16
32
is
Bronquíolos terminais
6 x 104
órios
Bronquíolos respiratórios
Zona respiratória
5 x 105
Pulmão direito Pulmão esquerdo
Ductos alveolares
Figura 6 - Visão geral das vias aéreas
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 220).
Sacos alveolares 8 x 106
UNIDADE 2 61
Funcionamento do Sistema Respiratório: Ventilação Pulmonar
A ventilação pulmonar envolve o movimento do ar para dentro e para fora dos pulmões por meio de
um gradiente de pressão existente entre o interior dos pulmões e a atmosfera. Logo, quando a pressão
é maior no interior dos pulmões em relação à atmosfera, o ar sai (expiração), e quando a pressão na
atmosfera é maior do que a pressão no interior dos pulmões, o ar entra (inspiração) (HALL, 2011).
Durante a inspiração, alguns músculos estão envolvidos na diminuição da pressão pulmonar
por provocarem a expansão da caixa torácica. Estes músculos, ditos músculos inspiratórios, en-
volvem o diafragma (principal músculo inspiratório), os músculos intercostais externos e, durante
o exercício, ainda são solicitados músculos inspiratórios adicionais, como o músculo peitoral,
esternocleidomastoideo, levantador da escápula, escalenos, entre outros, que aumentam ainda
mais a expansibilidade torácica (TORTORA; DERRICKSON, 2010).
Já a expiração durante o repouso é um processo passivo, ou seja, sem a necessidade de contração de
nenhuma musculatura, ocorrendo apenas pelo relaxamento das musculaturas inspiratórias. Contudo,
durante situações forçadas, tal qual durante o exercício, observamos a contração de musculaturas
auxiliares, incluindo os músculos reto abdominal, músculos oblíquos interno e externo e músculo
transverso abdominal (TORTORA; DERRICKSON, 2010).
Além do processo de entrada e saída de ar dos pulmões, estes precisam adentrar na circulação sanguínea
para poderem ser disponibilizados a todos os demais tecidos corporais. Para que esta troca ocorra, os
gases são trocados por um processo denominado de difusão.
A difusão é um processo de troca de compostos (no caso em questão, gases) por meio de uma mem-
brana permeável a eles, sem a necessidade de um transportador, a favor do gradiente de concentração
(ou seja, do local mais concentrado para o menos concentrado) e sem gasto de energia (HALL, 2011).
Dois são os locais no organismo onde ocorre esta troca: a) na zona respiratória pulmonar; b) nos
demais tecidos que requerem oxigênio. Na zona respiratória, o sangue que entra em contato com esta
região apresenta-se ricamente concentrado em CO2 e com uma baixa concentração de O2. Em con-
trapartida, o ar que foi inspirado e que se encontra no interior desta estrutura apresenta-se rico em O2
e com uma baixa quantidade de CO2. Desta forma, durante o processo de difusão e troca, o O2, mais
concentrado na zona respiratória, passa para a circulação sanguínea e será direcionado aos demais
tecidos, e o CO2, mais concentrado no sangue que chegou naquela região, passa para o interior da zona
respiratória e será exalado durante a expiração. Já nos tecidos, o sangue que chega até eles é rico em O2
e pobre em CO2, enquanto que os tecidos apresentam-se com uma baixa quantidade de O2 (usado para
produção de ATP) e uma alta quantidade de CO2 (produto do metabolismo oxidativo). Desta forma,
a difusão e troca nesta região ocorre com a entrada de O2 do sangue para os tecidos e a saída de CO2
dos tecidos para o sangue (Figura 8) (TORTORA; DERRICKSON, 2010).
Ar alveolar
Circuito pulmonar
Transporte
de gases Sangue Sangue
O2 transportado desoxigenado oxigenado
dos alvéolos PO2 40 mmHg PO2 95 mmHg
para os tecidos PCO2 46 mmHg PCO2 40 mmHg
sistêmicos
O CO2 é
transportado
dos tecidos
sistêmicos até
os alvéolos
Circuito sistêmico
CO2 O2
Figura 8 - Trocas gasosas existentes entre o sangue e os alvéolos pulmonares e entre o sangue e os tecidos corporais
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 224).
Dois gases de extrema importância para a manutenção do correto funcionamento corporal são o
oxigênio e o gás carbônico. Contudo, para que seus níveis estejam adequados e para que possam ser
eliminados quando em excesso ou fornecidos aos tecidos que precisam deles necessitam ser transporta-
dos no sangue, sendo que cada qual apresenta mecanismos de transporte específicos descritos a seguir.
UNIDADE 2 63
Transporte de O2
Transporte de CO2
Assim como o oxigênio, o dióxido de carbono também encontra-se livre no plasma (cerca de 3%). Em
adição, ele também pode ser transportado ligado à hemoglobina (cerca de 27%), porém seu principal
mecanismo de transporte é na forma de bicarbonato, por meio da reação da anidrase carbônica. Quando
os níveis de CO2 estão elevados na circulação, a anidrase carbônica catalisa a reação de junção da H2O
com o CO2 formando ácido carbônico, que rapidamente se dissocia em bicarbonato e H+ (Figura 9)
(HALL, 2011).
Quando o sangue chega nos pulmões e os níveis de CO2 não são tão altos quanto nos tecidos, a reação
ocorre na forma inversa, liberando CO2 que será difundido para dentro dos alvéolos e será expirado.
UNIDADE 2 65
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
66
4. A hemoglobina é o principal transportador de oxigênio presente no organismo.
Para que se possa realizar este transporte, necessita ligar-se a este elemento.
Sabemos, entretanto, que esta ligação pode ser influenciada por alguns fato-
res. Sendo assim, quais fatores influenciam na ligação da hemoglobina com o
oxigênio? Assinale a melhor alternativa.
a) Níveis de dióxido de carbono.
b) pH sanguíneo.
c) Temperatura corporal.
d) Níveis de oxigênio.
e) Todas estão corretas.
5. Assim como o oxigênio, o gás carbônico também pode ser transportado de dife-
rentes maneiras na corrente sanguínea. Sobre estes mecanismos de transporte,
assinale a alternativa que melhor representa as possibilidades de transporte
que podem ser utilizadas por este gás.
a) Proteínas transportadoras específicas do dióxido de carbono.
b) Ligado à albumina e ligado à hemoglobina.
c) Livre no plasma, ligado à hemoglobina e na forma de bicarbonato.
d) Livre no plasma e ligado à mioglobina.
e) Na forma de bicarbonato e ligado à albumina.
67
LIVRO
68
BRONZATTO, H. A.; SILVA, R. P.; STEIN, R. Morte súbita relacionada ao exercício. Revista Brasileira de
Medicina do Esporte, v. 7, n. 5, p. 163-169, 2001.
HALL, J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
KENNEY W. L.; WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 5. ed. São Paulo:
Manole, 2013.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. E. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano.
7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
MONTEIRO, M. F.; SOBRAL-FILHO, D. C. Exercício físico e controle da pressão arterial. Revista Brasileira
de Medicina do Esporte, v. 10, n. 6, p. 513-516, 2004.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2010.
69
1. C.
2. E.
3. D.
4. E.
5. C.
70
Dr. Felipe Natali Almeida
Sistema Musculoesquelético
e a Geração do Movimento
PLANO DE ESTUDOS
Grandes
Vias Motoras
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compreender o papel do sistema nervoso na geração do • Determinar os mecanismos ocorridos no músculo esque-
movimento humano. lético associados à geração do movimento.
• Estudar as grandes vias nervosas envolvidas no movimen-
to humano (vias motoras).
O Sistema Nervoso
e o Movimento
UNIDADE 3 73
Grandes
Vias Motoras
As vias eferentes motoras estabelecem ligação entre as estruturas suprassegmentares relacionadas com
o controle da motricidade e os efetuadores, ou seja, os músculos estriados esqueléticos. Na Figura 2,
observa-se uma síntese das conexões dessas estruturas, assim como de suas vias de projeção sobre o
neurônio motor, proporcionando uma visão conjunta das principais vias que regulam a motricidade
somática. Ela mostra as principais conexões do cerebelo com suas projeções para o córtex cerebral,
via tálamo, e para o neurônio motor, via núcleo rubro, núcleos vestibulares e formação reticular.
Mostram também as conexões do corpo estriado e suas conexões com o córtex cerebral através do
UNIDADE 3 75
circuito córtico-estriado-talamo-cortical, e as projeções do córtex cerebral sobre o neurônio motor,
diretamente por meio dos tratos corticoespinal e corticonuclear, ou indiretamente, por meio das vias
corticorubroespinal, corticoreticuloespinal e corticotetoespinal.
Entretanto, o fato mais importante que o esquema mostra é que, em última análise, todas as vias
que influenciam a motricidade somática convergem sobre o neurônio motor que, por sua vez, inerva
a musculatura esquelética. Sabe-se que um neurônio motor da coluna anterior da medula espinal do
homem pode receber 1500 botões sinápticos, o que dá uma ideia do grande número de fibras que
atuam sobre ele, podendo ser excitatórias ou inibitórias. Além dessas fibras, o neurônio motor recebe,
também, fibras envolvidas nos reflexos integrados na medula. Assim, o neurônio motor constitui a
via motora final comum de todos os impulsos que agem sobre os músculos estriados esqueléticos. Se
ele dispara ou não um potencial de ação, vai depender do balanço entre os impulsos excitatórios e
inibitórios que agem sobre ele (MACHADO; HAERTEL, 2014).
CÓRTEX CEREBRAL
Substância
negra
Ponte
Striatum
Tálamo Pallidum
C
E
Núcleo
R subtalâmico
E Núcleo Formação Tecto
B rubro reticular
E
L
O
retícu
c
tecto-e cto
ór
Tract
t
lo-es
i
rub
c
Tr
Tracto
o-esp
Tra espin
a
ro-
spinhal
o
p
cto ha
i n
inhal
ves
hal
Núcleos
tíb Trac
vestibulares ulo to
l
-es
pinh
al
Neurônio motor
Via motora
final comum
Músculo estriado
esquelético
Na organização do ato motor voluntário, distingue-se uma etapa de preparação, que termina com a
elaboração do programa motor, e uma etapa de execução. A primeira envolve áreas motoras de asso-
ciação do córtex cerebral em interação com o cerebelo e o corpo estriado. A segunda envolve a área
motora primária, a área pré-motora do córtex e suas ligações diretas e indiretas com os neurônios
motores. Como parte da etapa de execução, temos também os mecanismos que permitem ao sistema
nervoso central promover os necessários ajustes e correções no movimento já iniciado.
Para que se tenha uma visão integrada do papel dos diversos setores do sistema motor envolvidos na
organização de um movimento voluntário delicado, imaginemos o caso de um cirurgião ocular prestes a
fazer uma incisão na córnea de um paciente, o que envolve movimentos precisos dos dedos da mão que
segura o bisturi. A intenção de realizar a incisão foi feita na área pré-frontal com base nas informações que
ele tem sobre as características da incisão e sua adequação às condições daquele paciente.
Essas informações são transmitidas para as áreas encarregadas de elaborar o programa motor: a zona
lateral do cerebelo, por meio da via corticopontocerebelar, o corpo estriado e a área motora suplementar.
Nessas áreas, é elaborado o programa motor que define quais músculos serão contraídos, assim como o
grau e a sequência temporal das contrações. O programa motor é, então, enviado à área motora primária,
principal responsável pela execução do movimento da mão. Desse modo, são ativados determinados
neurônios corticais que, atuando sobre os neurônios motores, via trato corticoespinal, determinam a
contração na sequência adequada dos músculos responsáveis pelo movimento da mão. Assim, o cirurgião
pode executar os movimentos precisos necessários à incisão na córnea.
As vias mediais da medula são ativadas para ajustes posturais e da musculatura proximal, para apro-
ximar o corpo do cirurgião do alvo. Informações sobre as características desses movimentos, detectados
por receptores proprioceptivos, são levados à zona intermédia do cerebelo pelos tratos espinocerebelares.
As informações obtidas antes do movimento, ou durante, antes de
o bisturi tocar a córnea, permitem ajustes por anteroalimentação.
O cerebelo pode, então, comparar as características do movimento
em andamento com o programa motor e promover as correções
necessárias por anteroalimentação, agindo sobre a área motora
por meio da via interpósito-tálamo-cortical.
Após tocar o alvo, informações sensoriais proprioceptivas,
originadas no segmento onde ocorre o movimento, ou seja, no
exemplo na mão do cirurgião, geram ajustes por retroalimentação
quanto ao peso do bisturi e a força necessária ao procedimen-
to. Ajustes posturais também são feitos por retroalimentação. O
trato reticuloespinal pontino o mantém na postura ereta imóvel,
atuando sobre a musculatura antigravitacional. Toda a informação
gerada na execução do movimento será usada para melhorar a
execução de movimentos futuros semelhantes, por meio do apren-
dizado motor, a cargo principalmente do cerebelo (MACHADO; Neurônios
HAERTEL, 2014).
UNIDADE 3 77
Locomoção
Estrutura do
Músculo Esquelético
Tendão
i
Fáscia
Osso
Músculo
Epimísio Fascículo
Perimísio
Endomisio
Fibras musculares
Axônio do
Miofibrilas Sarcoleoma neurônio motor
Vaso sanguíneo
Retículo Núcleo
sarcoplasmático
Filamentos
Cada fibra muscular individual consiste em um cilindro estreito e alongado, que geralmente se estende
por todo o comprimento do músculo. A membrana celular que circunda a fibra muscular é denominada
sarcolema. Localizado no espaço entre as fibras musculares, existe um grupo de células precursoras
musculares chamadas de células satélite. Estas são células indiferenciadas que exercem papel central
no crescimento e reparo musculares. Quando as fibras musculares são destruídas (por motivo de lesão
UNIDADE 3 81
Conforme observado na Figura 4, as miofibrilas podem ser subdivididas em segmentos individuais
chamados de sarcômeros. Os sarcômeros estão separados uns dos outros por uma lâmina delgada de
proteínas estruturais denominadas linha Z. Os filamentos de miosina estão localizados, principal-
mente, na parte escura do sarcômero, que é denominada banda A, enquanto os filamentos de actina
ocorrem, sobretudo, nas regiões claras do sarcômero, denominadas bandas I. No centro do sarcômero
é encontrada uma parte do filamento de miosina que não está sobreposto aos filamentos de actina,
denominada de zona H (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
No interior do sarcoplasma do músculo, existe uma rede de canais membranosos que cerca cada
miofibrila e segue paralelamente a ela. Esses canais são conhecidos como retículo sarcoplasmático e
são os locais de armazenamento de cálcio (que irá apresentar um papel fundamental na contração
muscular, conforme visto posteriormente). Outro conjunto de canais membranosos, chamados de tú-
bulos transversos ou T, estende-se do sarcolema para dentro da fibra muscular e atravessa totalmente a
fibra, servindo como uma extensão da membrana para áreas mais internas da fibra muscular (também
apresenta papel importante na contração muscular) (Figura 5) (McARDLE; KATCH; KATCH; 2011).
Sarcolema
Miofibrilas
Tríade do retículo:
Cisternas terminais
Túbulo transverso Banda A
Banda I
Retículo sarcoplasmático
Linha Z
Mitocôndria
Núcleo
Cada célula muscular esquelética está conectada muscular. Isso causa um aumento na permeabi-
a uma ramificação da fibra nervosa (motoneurô- lidade ao sódio na fibra muscular, resultando em
nio). O local onde o motoneurônio e a fibra mus- uma despolarização chamada potencial de placa
cular se encontram é chamado de junção neuro- terminal, que, se for forte o suficiente, constituirá
muscular (Figura 6) e é semelhante a um ponto o sinal para iniciar o processo de contração mus-
de conexão entre dois neurônios. A extremidade cular, processo este semelhante à sinapse química
do motoneurônio não está fisicamente em con- aprendido no módulo de “bases neuromotoras”
tato com a fibra muscular, mas sim separados por (McARDLE; KATCH; KATCH; 2011).
um espaço denominado de fenda neuromuscular. É importante salientar que um motoneurônio
Quando um impulso nervoso atinge a extremi- inervará várias fibras musculares e, a esse con-
dade do neurônio motor, o neurotransmissor junto de motoneurônio, juntamente com todas
acetilcolina é liberado, difunde-se pela fenda si- as fibras musculares inervadas por ele, damos o
náptica (fenda neuromuscular) e se liga a sítios nome de unidade motora (McARDLE; KATCH;
de receptores existentes na membrana da fibra KATCH; 2011).
Mitocôndrias
Vesículas sinápticas
Fenda sináptica
Sarcolema pregueada
Placa motora
Figura 6 - Junção neuromuscular
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 168).
Fadiga neuromuscular: a fadiga representa o declínio na capacidade de gerar tensão ou força mus-
cular com a estimulação repetida ou durante um determinado período de tempo. Muitos fatores
podem levar à fadiga, porém também observa-se fatores neurais envolvidos nesse processo. A fadiga
neuromuscular é aquela que ocorre no caminho da informação entre o sistema nervoso central e a
fibra muscular. Atualmente, sabe-se que a diminuição de neurotransmissores, como a serotonina,
a dopamina e a acetilcolina, estão envolvidos neste tipo de fadiga, porém acredita-se que outros
mecanismos estejam envolvidos, mas ainda não foram identificados.
Fonte: adaptado de Powers e Howley (2014).
UNIDADE 3 83
Contração Muscular
c)
b)
c)
UNIDADE 3 85
O termo acoplamento excitação-contração refere-se à sequência de eventos em que um impulso ner-
voso atinge a membrana muscular e causa encurtamento do músculo via atividade de ponte cruzada
(o processo todo pode ser acompanhado pelas Figuras 8 e 9).
Segundo Powers e Howley (2014), a primeira etapa desse processo ocorre por meio da excitação,
que engloba dois processos:
a) A geração de um potencial de ação em um motoneurônio causa liberação de acetilcolina dentro
da fenda sináptica da junção neuromuscular.
b) A acetilcolina se liga aos receptores localizados na placa motora terminal, produzindo um poten-
cial de placa terminal que acarreta a despolarização conduzida ao longo dos túbulos transversos,
profundamente, para dentro das fibras musculares. Essa despolarização ocasiona a saída de cálcio
de dentro do retículo sarcoplasmático.
1 Potencial de ação
muscular propagado Membrana plasmática muscular
Túbulo transverso
Retículo
Saco lateral
sarcoplasmático
Ca2+ Ca2+
Figura 8 - Primeira ilustração das etapas envolvidas na excitação, contração e no relaxamento muscular
Fonte: Powers e Howley (2014, p. 173).
UNIDADE 3 87
1 As vesículas saciformes
dentro do axônio terminal,
liberam ACh, que se difunde
através da fenda sináptica e
fixa-se aos receptores espe-
cializados de ACh sobre o
2 O potencial de ação do ACh sarcolema.
músculo despolariza os
túbulos transversos na
junção A-I do sarcômero.
Receptor
de ACh
Onda de Vesículas
despolarização sinápticas
Túbulo T
3 A despolarização do siste-
Fenda
ma de túbulos T acarreta a
sináptica
Retículo liberação de Ca 2+ pelos
sarcoplásmico sacos laterais do retículo ACh
sarcoplásmico.
Ca2 + Ca2 +
Ca2 +
Ca2 +
Ca2 +
Ca2 + Ca2 +
Ca2 +
Ca2 +
Ca2 + Ca2 + Ca2 +
Ca2 +
Complexo Locais de Ca2 +
Ca2 + troponina fixação da miosina
4 Ca2 + fixa-se à troponina- 9 A remoção da Ca2 + restaura na
Filamentos Ca2 + Ca2 + Ca2 + ação inibitória de troponina-
tropomiosina nos filamentos Ca2 +
de actina tropomiosina. Na presença de
de actina. Isso elimina a
inibição que impedia a Ca2 + Ca2 + Ca2 + ATP, actina e miosina conti-
Filamento Ca2 + nuam no estado dissociado e
combinação de actina com
miosima. de miosina relaxado.
O músculo esquelético humano pode ser dividido em classes principais, com base nas características
histoquímicas ou bioquímicas das fibras individuais (o modo como estas fibras são “tipadas” está
ilustrado na Figura 10).
A B
Êmbolo (pistão)
C D
IIB I IIB I
IIC IIC
IIA IIA
Sem coloração pH 4,6
E F
IIB I IIB I
IIC IIC
IIA IIA
pH 4,6 pH 4,6
Figura 10 - Tipagem muscular: após o processo de biópsia muscular (A e B), as amostras serão preparadas para marcação
imunohistoquímica
Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 383).
UNIDADE 3 89
De modo geral, as fibras musculares são classificadas em duas categorias gerais: a) fibras lentas tipo I
e b) fibras rápidas tipo II. O músculo humano possui apenas um tipo de fibra muscular lenta do tipo
I, porém, de uma forma geral, apresenta dois tipos de fibras rápidas do tipo II, as fibras do tipo IIa e as
fibras do tipo IIx ou IIb (para mais informações sobre as diferenças entre estes três tipos de fibras, veja
a Tabela 1). Embora alguns músculos sejam compostos predominantemente por fibras rápidas ou por
fibras lentas, a maioria dos músculos do corpo contém uma mistura de tipos de fibras lentas e rápidas.
Tabela 1 − Diferenças entre os três tipos de fibras musculares
Como pudemos ver, o mecanismo de contração é algo de grande complexidade e requer uma série de
passos entre sua geração no sistema nervoso central e a execução propriamente dita. Logo, o estudo
em pequenas partes se faz necessário, mas lembrem-se que tudo ocorre numa grande velocidade e
com sobreposição de alguns passos no funcionamento real.
Nesta unidade, estudamos a fisiologia do movimento humano e pudemos perceber que, apesar
de os movimentos serem realizados em uma grande velocidade, existe uma grande quantidade de
eventos que ocorrem desde o ato da tomada da decisão da realização do movimento até a ocorrência
do movimento propriamente dito.
Num primeiro momento, aprendemos que o sistema nervoso tem um papel fundamental para a
geração do movimento, sendo o responsável por receber informações diversas provenientes do am-
biente interno e externo, integrá-las e, a partir disso, tomar a decisão de realizar o movimento. Passada
esta etapa, teremos a elaboração de um esboço do movimento, seguido dos sinais para contração e
relaxamento dos músculos específicos. Como vimos no início de nossa unidade, este é o papel do
sistema nervoso na geração do movimento, que enviará todos estes sinais por meio de alterações no
potencial elétrico dos neurônios.
UNIDADE 3 91
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
92
3. Sabemos que para controle dos movimentos das porções distais dos membros,
temos como principal via motora o trato corticoespinal lateral. Entretanto, ou-
tra via pode auxiliá-lo nesta função. Assinale a alternativa a seguir que melhor
representa esta(s) via(s) alternativa(s).
a) Trato tetoespinal.
b) Trato rubroespinal.
c) Trato corticoespinal medial.
d) Trato corticonuclear.
e) Trato vestibuloespinal.
93
5. Para que a contração muscular possa ocorrer, nosso sistema nervoso deve co-
mandar a musculatura mediante a liberação de um neurotransmissor específico,
que iniciará a sequência de alterações necessárias para que o processo de des-
lizamento das fibras ocorra. Sabendo disso, qual o neurotransmissor utilizado
para transmissão da informação do motoneurônio ao músculo esquelético?
a) Noradrenalina.
b) GABA.
c) Acetilcolina.
d) Glutamina.
e) Actina.
94
LIVRO
95
HALL J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
KENNEY, W. L.; WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 5. ed. São Paulo:
Manole, 2013.
MACHADO, A.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2000.
MACHADO, A.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2014.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. E. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano.
7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
96
1. A.
2. C.
3. B.
4. A.
5. C.
6. C.
97
98
99
100
Dr. Felipe Natali Almeida
Hormônios
PLANO DE ESTUDOS
Visão Geral
do Sistema Endócrino
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
UNIDADE 4 103
Com o advento da tecnologia,
foram caracterizadas células
secretoras que se encontram
dispersas em determinados
locais, sem formar um tecido Hipotálamo Glândula pineal
especializado, e muito menos TRH, CRH, GHRH Melatonina
Dopamina
um órgão (ou glândula). Como somatostatina Glândula pituitária
exemplo, temos células disper- vasopressina (hipófise)
sas na glândula tireoide espe- TSH, ACTH, FSH, LG
Tireóide e GH, prolactina
cializadas na síntese e secreção Paratireóide
Vocitocina, vasopressina
T3, T4, calcitonina
do hormônio calcitonina, im- PTH
Timo
portante na regulação dos níveis Timopoitina
Fígado
de cálcio no sangue. Além disso, IGF, THPO
à medida que evoluímos mais, Estômago
Adrenal Gastrina, Grelina
observou-se que praticamente Andrógenos Histamina
todos os tipos celulares do orga- Glicocorticóides Somatostatina e
Adrenalina Neuropeptideo Y
nismo são capazes de produzir Mineralocorticóide Pâncreas
um ou mais hormônios (como, Insulina
por exemplo, o tecido adiposo, Rins Glucagon
Calcitriol, Renina
que secreta a leptina). Essa ob- Eritropoetina Ovário
servação expandiu o sistema Estrogênio
Progesterona
endócrino para muito além das Testículos
clássicas glândulas endócrinas, Andrógenos
inicialmente caracterizadas
(AIRES, 2012). Figura 1 - Visão geral das glândulas endócrinas iniciais
Hormônios
Os hormônios são substâncias químicas sintetizadas e secretadas pelos variados tipos celulares des-
critos anteriormente. De uma forma geral, todos têm por função modular a atividade de uma célula/
tecido/órgão e, como veremos mais a frente, vários são os hormônios presentes em nosso corpo (AI-
RES, 2012). Diante desse fato, buscou-se classificá-los, sendo a afinidade deles por ambiente aquoso
utilizado para tal finalidade. Dessa forma, classifica-se quimicamente os hormônios em hidrofílicos
(aqueles que têm afinidade por ambiente aquoso) e em hidrofóbicos (aqueles que têm aversão por
ambientes aquosos) (HALL, 2011).
Os hormônios hidrofílicos ou hidrossolúveis são a maioria e envolvem todos os hormônios que
quimicamente são considerados peptídeos ou proteínas. Assim como todas as demais proteínas do
corpo são constituídas de cadeias de aminoácidos que se ligam por ligações peptídicas, a composição
desses hormônios varia desde um único aminoácido modificado até grandes proteínas (com cente-
nas de aminoácidos). Sua síntese depende de transcrição gênica, por não passarem livremente pela
104 Hormônios
membrana, podem ficar estocados em vesículas na célula produtora até serem liberados e não, obri-
gatoriamente, precisam de proteínas transportadoras na circulação. Em geral, apresentam meia-vida
curta (AIRES, 2012).
Em contrapartida, os hormônios hidrofóbicos ou lipossolúveis são derivados, em sua grande maioria,
do colesterol, que sofre uma série de reações químicas, dando origem aos variados hormônios chamados
de esteroides. Diferentemente dos hormônios hidrossolúveis, os lipossolúveis não são armazenados
em grânulos, sendo secretados por difusão na membrana plasmática à medida que são produzidos,
não havendo estoque. Ao atingirem a circulação, por sua característica de “aversão à água”, necessitam
de uma proteína com função de transporte, que facilita sua migração até a célula em que irá agir. Em
geral, apresentam meia-vida longa (AIRES, 2012).
Baseado no conceito da palavra esteroide, ou seja, aquele que deriva do colesterol, devemos refletir
se todo esteroide induz anabolismo (crescimento muscular) e se todo anabólico é esteroide. Esses
conceitos estão se fundindo e muitos os usam como sinônimos de forma incorreta.
Sistemas Hormonais
Ao lermos na definição de sistema endócrino sobre a “atuação em curtas e longas distâncias” estamos
tratando dos chamados sistemas hormonais. Sistemas hormonais compreendem os meios pelo qual
um hormônio atinge a célula-alvo (Figura 2). Antigamente, o único sistema hormonal descrito envolvia a
ação chamada endócrina, caracterizada pela ação do hormônio em uma célula-alvo distante, na qual ele
chega através do sangue. Posteriormente a isso, foram descritos o sistema parácrino, no qual o hormônio
se difunde pelo líquido intersti-
cial (localizado entre as células) Autócrino Parácrino
agindo em células vizinhas da
célula secretora, não necessitan-
do atingir a circulação sanguínea
Células secretoras Células-alvo
e o sistema autócrino, no qual adjacente
o hormônio é secretado e atua
na própria célula que o secretou Endócrino
(HALL, 2011).
Atualmente, outros sistemas Vasos sanguíneos
UNIDADE 4 105
Receptores Hormonais
Quando escutamos que um hormônio desenvolve efeitos no organismo humano, tendemos a achar que
é o hormônio propriamente dito que realiza esta ação. Como exemplo, ao entrarmos em contato com
a informação que a insulina é responsável por reduzir a glicose do sangue, a imaginamos “pegando e
lançando a glicose” para dentro das células.
A ação hormonal é desencadeada por meio de sua ligação a receptores específicos de hormônios
no órgão-alvo, ou seja, é por meio da ligação do hormônio ao seu receptor que se inicia uma cascata
de eventos que culmina com a ação propriamente dita (MOLINA, 2007). Fazendo uma analogia, o
hormônio é só a primeira peça do dominó a cair em um efeito dominó (Figura 3).
De uma forma geral, a ligação do hormônio a um receptor segue um princípio chave-fechadura
(Figura 4), ou seja, cada determinado hormônio
apresentará um ou vários tipos de receptores que
são específicos ao hormônio em questão, impe-
dindo que um hormônio se ligue a receptores que
não são específicos a ele (AIRES, 2012).
Esses receptores podem, de uma forma geral,
ser subdivididos em receptores de membrana
celular e em receptores intracelulares (localiza-
dos no citoplasma ou no núcleo celular) (Figura
5). Em geral, hormônios capazes de atravessar a
membrana plasmática (hormônios lipossolúveis)
apresentam receptores intracelulares. Em contra-
Figura 3 - Efeito dominó: analogia à forma como os hor-
partida, hormônios hidrossolúveis apresentam mônios atuam, iniciando uma série de eventos que resultará
receptores de membrana (MOLINA, 2007). em seu efeito biológico final
Importância da insulina
Receptor de insulina Molécula
lipofílica
Célula Receptor
Insulina no citosol
Molécula lipofílica
Canal de Glicose ou lipofóbica Receptor
no núcleo
Glicose
Receptor na superfície
da membrana celular
106 Hormônios
Hormônios
e suas Funções
Hormônios Hipofisários
UNIDADE 4 107
A hipófise posterior é responsável pela secreção GLÂNDULA HIPÓFISE
HIPÓFISE
Córtex Seio
adrenal
Pele
Prolactina
Ocitocina
Rim
Gonadotrofinas
Osso
Ovário
Tireóide
Músculo Testítculo
108 Hormônios
Gonadotropinas (FSH e LH)
Os hormônios gonadotrópicos (FSH e LH) são sintetizados e secretados por um conjunto de células
da adenohipófise chamados de gonadotropos, em resposta à estimulação destas células por um hor-
mônio proveniente do hipotálamo chamado de hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH). O
FSH e o LH exercem seus efeitos fisiológicos sobre múltiplas células do sistema reprodutivo (células
da granulosa e da teca no ovário e células de Leydig e de Sertoli nos testículos) resultando na síntese
dos hormônios sexuais (estrogênio e testosterona), espermatogênese, foliculogênese e ovulação. Dessa
forma, pode-se resumir o papel desses hormônios em controle da função reprodutiva de ambos os
sexos (MOLINA, 2007).
O TSH é um hormônio liberado por células da hipófise anterior chamadas de tireotropos em resposta
a um hormônio estimulador proveniente do hipotálamo, chamado de hormônio liberador de tireo-
tropinas (TRH). Ao cair na circulação, o TSH atinge a tireoide e estimulará o crescimento da glândula
e a produção dos hormônios tireoidianos (HALL, 2011).
O ACTH é um hormônio liberado pela hipófise anterior, mais especificamente por células denominadas
de corticotropos, estimulado por um hormônio hipotalâmico denominado de hormônio liberador de
corticotropinas (CRH). O ACTH resulta de uma molécula proteica maior, denominada de proopiome-
lacortina (POMC), após ser sintetizado e liberado, é clivado em várias moléculas menores, incluindo o
hormônio estimulador de melanócitos (que atua no controle da produção dos melanócitos na pele), as
beta endorfinas (opioides endógenos) e o ACTH. Após sua liberação na circulação, o ACTH se dirige
por meio do sangue até o córtex da glândula suprarrenal e estimula a síntese e secreção de cortisol e,
em menor grau, da aldosterona (AIRES, 2012).
Prolactina
UNIDADE 4 109
Hormônio do crescimento (GH) Hormônio Antidiurético (ADH)
O GH é um hormônio liberado pelos somatotro- O ducto coletor dos néfrons no rim constituem o
pos na adenohipófise em pulsos, sendo mais pro- principal alvo da ação do ADH. A permeabilidade
nunciado no período noturno, especialmente na à água é relativamente baixa neste local, mas na
fase de ondas lentas do sono. Sofre influência de presença do ADH, aumenta-se grandemente a per-
fatores estimuladores (GHRH, dopamina, cateco- meabilidade (devido ao aumento na quantidade de
laminas, aminoácidos, hormônio tireoidiano) e de canais de água nesta região) aumentando a reab-
fatores inibidores (somatostatina, IGF-1, glicose, sorção de líquidos com consequente diminuição
ácidos graxos, cortisol) (HALL, 2011). no volume urinário formado (MOLINA, 2007).
O GH induz efeitos fisiológicos sobre as células-
-alvo diretamente por meio da ativação do receptor
de GH ou indiretamente por meio da estimulação Hormônios Tireoidianos
da síntese e secreção do IGF-1. O principal efeito fi-
siológico do GH consiste em regular o crescimento, A glândula tireoide fica localizada na parte ante-
estimulando condrogênese e o alargamento da pla- rior do pescoço, em frente a traqueia (Figura 8).
ca epifisária, seguido da deposição de matriz óssea. É constituída por dois lobos (direito e esquerdo),
Em adição, estimula a captação de aminoácidos e conectados por um istmo. Apresenta como prin-
síntese de proteínas musculares (efeito anabólico), cipal elemento constituinte as células foliculares,
lipólise, resistência à ação da insulina e manuten- que darão origem aos folículos produtores dos
ção da função imune (MOLINA, 2007). hormônios tireoidianos (triiodotironina, ou T3
Já o IGF-I estimula a formação óssea e a reab- e a tiroxina, ou T4). O T4 é o principal produto
sorção óssea, captação de glicose no músculo, so- sintetizado e secretado pela tireoide, porém, por
brevida dos neurônios e síntese de mielina. Atua ser a forma inativa do hormônio, necessita so-
ainda na inibição da degradação proteica e estí- frer uma ação hormonal para conversão à forma
mulo de sua síntese, além de estimular a síntese e ativa T3 (MOLINA, 2007).
inibir a degradação de colágeno (MOLINA, 2007). Suas ações fisiológicas envolvem uma grande
gama de tecidos. De uma forma geral, estimulam
a termogênese auxiliando na manutenção da
Ocitocina temperatura corporal, estimula a formação de
células adiposas, em excesso (como no caso do
A mama em fase de lactação e o útero durante a hipertireoidismo) estimula a lipólise, aumenta
gravidez constituem os dois principais órgãos- a quantidade de receptores de catecolaminas no
-alvo dos efeitos fisiológicos da ocitocina. Na organismo, tornando-o mais suscetível à ação
mama, durante a lactação, a ocitocina estimula da adrenalina e noradrenalina (elevando a fre-
a ejeção do leite por meio da produção da con- quência cardíaca e a força de contração do co-
tração das células mioepiteliais que revestem ração, por exemplo), atua na remodelação óssea,
os alvéolos e ductos da glândula mamária. No na eritropoese, é essencial para o crescimento
útero gravídico, a ocitocina produz contrações e desenvolvimento normal da criança, assim
rítmicas para induzir o trabalho de parto e a como do desenvolvimento do sistema nervoso
regressão do útero após o parto (AIRES, 2012). (AIRES, 2012).
110 Hormônios
Além dos hormônios tireoidianos, a tireoide apre-
senta um conjunto de células denominadas de
células parafoliculares, envolvidas na produção de
calcitonina, um hormônio que atua na regulação
dos níveis de cálcio no sangue. De uma forma
geral, a calcitonina age diminuindo a reabsorção
óssea e a absorção intestinal de cálcio, com o in-
tuito de minimizar os níveis de cálcio circulantes
(MOLINA, 2007).
Paratormônio
UNIDADE 4 111
Cortisol
Aldosterona
Como dito anteriormente, a aldosterona é um dos hormônios secretados pela glândula suprarrenal,
mais especificamente na zona glomerulosa. Sua principal função fisiológica consiste no estímulo para
reabsorção renal de sódio (e indiretamente de água) associado à excreção renal de potássio (HALL, 2011).
Adrenalina
A adrenalina é um hormônio secretado pela região central da glândula adrenal, conhecida como
medula da suprarrenal. É de fundamental importância visto que potencializa a resposta do sistema
nervoso simpático em nosso corpo. Dentre suas ações, podemos citar o aumento da frequência car-
díaca e da força de contração do coração, dilatação da pupila, broncodilatação, aumento na produção
de calor, lipólise, glicogenólise, relaxamento da musculatura lisa do intestino, bexiga e útero, aumento
na produção de suor, maior atividade cerebral e estado de alerta (AIRES, 2012).
112 Hormônios
Insulina
A insulina é um hormônio proteico produzido por um tipo celular específico do pâncreas (Figura 11)
chamado de células beta. Liberada, principalmente, em resposta ao aumento nos níveis glicêmicos,
têm como principal função remover o excesso de glicose do sangue e mantê-la em níveis
considerados adequados; porém, seus efeitos metabólicos vão muito além de apenas remover a
glicose da corrente sanguínea. De uma forma geral, sabemos que a insulina é um hormônio
anabólico, ou seja, estimula todas as vias de síntese e estoque de substratos energéticos no
organismo e inibe praticamente todas as vias de degradação de substratos (MOLINA, 2007).
Sobre o metabolismo dos carboidratos, a insulina es-
timula o transporte de glicose para o interior do tecido
adiposo e do músculo esquelético, estimula a glicólise e a
síntese de glicogênio no fígado e no músculo esquelético.
Em adição, inibe a glicogenólise (hepática e muscular) e
a gliconeogênese hepática. No metabolismo dos lipídeos,
é responsável por estimular a síntese de ácidos graxos, de
triacilglicerol e de colesterol e reduz a taxa de oxidação das
gorduras e a síntese de corpos cetônicos. Em relação ao
metabolismo das proteínas, estimula o transporte de ami-
noácidos para os tecidos e síntese de proteínas, inibindo a
degradação protéica e a formação de ureia (AIRES, 2012). Figura 11 - Visão geral do pâncreas
Glucagon
O glucagon é um outro hormônio sintetizado e secretado pelo pâncreas, porém por uma população
celular diferente das secretoras de insulina, denominadas de células alfa pancreáticas. Tem por finalidade
principal impedir que a glicose sanguínea atinja valores demasiadamente baixos (ação contrária a da
insulina, por isso sua denominação de hormônio contrarregulador). Seus principais efeitos fisiológi-
cos envolvem o fígado e incluem um estímulo para a glicogenólise e gliconeogênese hepática, duas
vias metabólicas que têm por finalidade aumentar a glicose na corrente sanguínea (MOLINA, 2007).
Testosterona
UNIDADE 4 113
O tecido adiposo é um órgão endócrino e era
considerado apenas como o principal local de
armazenamento para a gordura, sobretudo tri-
glicérides. Quando a ingestão calórica excede o
gasto, aumentamos as reservas de gordura e o
inverso se faz verdadeiro. Entretanto, nas últimas
duas décadas, essa visão sobre o tecido adiposo
foi modificada em decorrência da comprovação
que este tecido é capaz de secretar um conjunto
de hormônios.
Entre estes hormônios, temos a leptina, hormô-
nio secretado de maneira diretamente propor-
cional à quantidade de massa adiposa e que tem
por finalidade influenciar o apetite diretamente
sobre os centros de controle de fome e saciedade
no hipotálamo. Estudos com camundongos sem
a capacidade de produzir leptina observaram
que eles comem em demasia e ficam obesos. A
adiponectina é outro hormônio secretado pelo
tecido adiposo, tendo como função a melhoria
da sensibilidade corporal à insulina. Entretanto,
seus níveis são incrementados quanto menores
forem os estoques de tecido adiposo.
Figura 12 - Visão geral dos testículos e ovários
Fonte: adaptado de Powers e Howley (2014).
Estrogênio
O estrogênio é o principal hormônio esteroide envolvido com a função sexual no sexo feminino. É
produzido, principalmente, nas células da granulosa nos ovários (Figura 12), a partir de androgênios
produzidos nas células da teca. Tem como principais efeitos sistêmicos a influência sobre o humor,
manutenção da densidade mineral óssea, crescimento e diferenciação dos órgãos sexuais femininos,
crescimento e proliferação do tecido mamário, auxilia na manutenção do ciclo menstrual e fertilidade,
estimula a produção de HDL e triglicerídeos e inibe a produção de LDL, aumenta a disponibilidade
de fatores de coagulação e inibe a adesão plaquetária.
114 Hormônios
Como vimos, hormônios são fundamentais
para o bom funcionamento corporal, com seus
níveis oscilando dentro de uma faixa conside-
rada ótima. Lembrem-se que qualquer altera-
ção nestes níveis hormonais podem magnificar
ou impedir o correto funcionamento corpo-
ral. Nenhuma alteração hormonal permanece
por longos períodos sem alteração corporal.
Chegamos ao final de mais uma unidade na qual
nos aprofundamos no universo dos hormônios.
Inicialmente, entramos em contato com a parte
conceitual e introdutória do tema, esclarecendo
conceitos importantes para uma boa base de es-
tudo do sistema endócrino. Nesta primeira parte,
chamo a atenção novamente para algo que trouxe
na seção “reflita” e envolve o conceito de este-
roides. Há muito, a palavra esteroide vem sen-
do adotada como sinônimo para tratar todas as
substâncias que simulam os efeitos anabólicos
da testosterona. O conceito correto da palavra
esteroide trata de hormônios que derivam qui-
micamente do colesterol e não “substância que
hipertrofia”. Vários são os esteroides presentes em
nosso organismo e somente um deles, a testos-
terona, leva à hipertrofia. Portanto, cuidado no
emprego desta palavra.
Num segundo momento, discutimos isolada-
mente os principais hormônios presentes no orga-
nismo, seguindo uma sequência de raciocínio que
englobou os locais de produção no corpo humano
e suas principais funções.
Conforme abordado na introdução da unida-
de, o estudo dos hormônios é algo muito atrativo
e muitas dúvidas os cercam, sendo que indepen-
dentemente da área de atuação do profissional
da saúde, os conceitos sobre hormônios deverão
receber especial atenção e serão indagados pelo
público-alvo do profissional. Portanto, espero ter
atraído sua atenção de vocês e que você tenha
aproveitado a oportunidade.
UNIDADE 4 115
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
1. Diversos hormônios circulam pelo nosso organismo realizando funções das mais
variadas possíveis, necessárias para o bom funcionamento corporal. Entre estas
funções, temos o aumento na síntese proteica muscular. Sendo assim, assinale
a alternativa a seguir que melhor representa hormônios que têm por finalidade
o crescimento muscular.
a) Testosterona e ocitocina.
b) Estrogênio e TSH.
c) GH e prolactina.
d) Testosterona e GH.
e) GH e cortisol.
116
3. Durante uma corrida em um clima muito quente, experimenta-se um incremento
na temperatura corporal e, consequentemente ,aumento na transpiração. Com
o intuito de evitar uma perda acentuada de água corporal, o organismo libera
qual dos hormônios a seguir?
a) Hormônio antidiurético.
b) Insulina.
c) Glucagon.
d) T4.
e) TSH.
4. Sabendo que uma das funções da insulina é remover a glicose do sangue e levar
para dentro da célula muscular e do tecido adiposo, esperamos que os níveis
de insulina durante o exercício:
a) Aumente.
b) Diminua.
c) Aumente após os 20 minutos iniciais.
d) Aumente somente em exercícios de força.
e) Aumente após 2 horas de treinamento aeróbio.
5. Ao longo de um dia, nossa glicemia oscila entre aumentos (que ocorreram após
as refeições) e quedas (que ocorreram durante períodos de jejum). Sabemos
que a queda da glicemia é extremamente danosa ao organismo, pois afeta o
funcionamento do sistema nervoso, sendo assim, diante de uma situação de
queda na glicemia, assinale a alternativa que melhor representa os hormônios
que atuarão com o intuito de combater esta queda:
a) Insulina e estrogênio.
b) Glucagon e cortisol.
c) Adrenalina e testosterona.
d) Cortisol e aldosterona.
e) Glucagon e insulina.
117
LIVRO
Fisiologia Endócrina
Autor: Patricia E. Molina
Editora: Lange
Sinopse: livro inteiramente destinado ao estudo da fisiologia endócrina, trazendo
informações de forma aprofundada a todos aqueles que querem incrementar
seus conhecimentos.
118
AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2012.
HALL, J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. E. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano.
7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
Referências on-line:
1
Em: https://www.slideshare.net/felipecavalcante33/fisio-endcrino?ref=. Acesso: 12 jul. 2019.
119
1. D.
2. D.
3. A.
4. B.
5. E.
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121
122
123
124
Dr. Felipe Natali Almeida
Fisiologia da Atividade
Física Voltada para a Saúde
PLANO DE ESTUDOS
Exercícios para
Populações Especiais
Atividade Física
e Saúde
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Entender o conceito de atividade física voltada para saúde. • Explanar sobre a prática de exercícios físicos para popu-
lações especiais.
Atividade Física
e Saúde
Figura 1 - Vida urbana: marcada por comportamentos associados ao baixo nível de movimentação corporal
UNIDADE 5 127
Os seres humanos foram “construídos” para serem ativos. Do ponto de vista fisiológico, não nos adap-
tamos muito bem a este estilo de vida sedentário, informação esta podendo ser comprovada mediante
análise da grande quantidade de doenças associadas ao sedentarismo e que tem crescido em incidência
nas últimas décadas. Somado a isto, muitos são os estudos que demonstram que um estilo de vida mais
ativo é de fundamental importância para uma boa saúde (Figura 2) (HAMER; LAVOIE; BACON, 2014).
Figura 3 - Associação entre exercícios com melhores hábitos de vida levam a um fenótipo mais saudável
Dentro deste contexto, um campo específico do conhecimento é utilizado para estudar a associação
entre atividade física e saúde e trata-se da epidemiologia da atividade física. Esta área aplica definições
específicas para caracterizar os padrões comportamentais e as consequências. A terminologia relevante
inclui o seguinte:
• Atividade física: movimento corporal produzido pela contração muscular e que faz aumentar
o dispêndio de energia.
• Exercício: atividade física planejada, estruturada, repetitiva e intencional.
• Aptidão física: atributos relacionados com a maneira pela qual se executa uma atividade física;
• Saúde: bem-estar físico, mental, social e espiritual e não apenas ausência de doenças.
• Aptidão física relacionada à saúde: componentes da aptidão física associados a algum aspecto
de boa saúde ou à prevenção da doença.
UNIDADE 5 129
Desta forma, a atividade física torna-se um termo genérico que engloba praticamente todo tipo de
movimento. A saúde concentra-se num espectro que varia desde a ausência completa dos elementos
(presentes num extremo de quase morte) aos mais altos níveis de função do organismo. Em relação à
aptidão física, muitas são as variáveis mensuráveis que se enquadram neste elemento, porém, quando
tratamos de atividade física voltada à saúde, seus componentes mais importantes envolvem o condi-
cionamento aeróbio, a composição corporal, a força e resistência muscular e a flexibilidade (POWERS;
HOWLEY, 2014).
De uma forma geral, os elementos relacionados ao exercício necessários para uma boa saúde estão
explicitados na pirâmide a seguir (Figura 4).
• carregando os mantimentos
DIARIAMENTE • subindo as escadas
(COM A MAIOR FREQUÊNCIA POSSÍVEL) • caminhando até o trabalho
• empurrando o cortador de grama
Diabetes
UNIDADE 5 131
Saudável Insulina Receptor de
insulina
Glicose
Os sintomas iniciais envolvem
urina frequente, muita sede,
muita fome e emagrecimento.
Por não produzirem insulina
suficiente, esses indivíduos se-
rão dependentes da adminis-
tração de insulina para manter
a glicemia dentro de valores
normais (HALL, 2011).
Diabetes tipo I Insulina Receptor de
insulina
Glicose
Em relação à prática de exer-
cícios físicos por indivíduos dia-
béticos tipo I, alguns cuidados
devem ser tomados, visto que,
por serem dependentes de in-
sulina e pelo fato da dose ser
ajustada com base nas ativida-
des cotidianas do indivíduo e na
alimentação, a inserção do exer-
Diabetes tipo II Insulina Receptor de
insulina
Glicose
cício físico pode ser um agente
dificultador do ajuste da dose
de insulina, facilitando o desen-
volvimento de hipoglicemia.
Contudo, devido aos amplos
benefícios da prática regular
de exercícios físicos, tal prática
deve ser estimulada em indiví-
Figura 5 - Diferença do pâncreas funcionando normalmente e em diabéticos duos portadores de diabetes tipo
tipo I e tipo II I (POWERS; HOWLEY, 2014).
Antes do início da prática
de exercícios físicos, idealmen-
Diabetes tipo I te seria necessária a avaliação
por um profissional médico,
O diabetes tipo I (Figura 6), também chamado de insulino-depen- especialmente se o indivíduo
dente, ocorre principalmente em indivíduos mais jovens (abaixo apresenta mais de 40 anos, tem
dos 20 anos) e está associado a um ataque do corpo do indivíduo a doença a mais de 10 anos e
às células produtoras de insulina. Isto é, o organismo, por algum permaneceu sedentário por
motivo, acredita que as células beta sejam agentes invasores (tal todo este período; tem hiper-
qual uma infecção por vírus ou bactérias) e direciona o sistema tensão arterial associada; fuma;
imune para combatê-las, resultando em sua destruição (AIRES, apresenta níveis de lipídeos san-
2012). Este tipo acomete cerca de 5-10% dos indivíduos diabéticos guíneos alterados ou problemas
tipo I (POWERS; HOWLEY, 2014). na retina ou no rim já instala-
Figura 6 - Imagem representativa de um indivíduo com diabetes tipo I: observar aplicação da insulina em região abdominal
UNIDADE 5 133
Portanto, acredita-se que embora não possa ser considerado como fator essencial para a manuten-
ção da glicemia na faixa normal (apesar de auxiliar), o fato de que diabéticos tipo I, que permanecem
fisicamente ativos, sofrem menos complicações diabéticas já seria a razão suficiente para continuar com
uma vida ativa (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2011).
Diabetes Tipo II
Hipertensão Arterial
A hipertensão arterial é caracterizada pelo aumento crônico da pressão arterial acima dos valores conside-
rados normais para o repouso (Figura 8). As diretrizes atuais consideram valores acima de 140/90 mmHg
para pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente, como classificação de hipertensão arterial.
A pressão arterial considerada normal envolve valores abaixo de 120/80 mmHg e os valores presentes
entre estas duas escalas considera o indivíduo como pré-hipertenso (entre 120-139 mmHg para pressão
arterial sistólica e entre 80-89 para pressão arterial diastólica) (AIRES, 2012).
Indivíduos hipertensos devem tomar medicação para controle da pressão arterial e, geralmente, este
uso perdurará por toda a vida, evitando, assim, o desenvolvimento de problemas associados à elevação da
pressão (Figura 9). O fato da pressão arterial estar controlada na presença da medicação não permite a reti-
rada do medicamento, visto que esta atitude (sem o consentimento de um profissional médico) geralmente
desregulará a pressão arterial novamente. Aliado à medicação, recomenda-se o uso de medidas conhecidas
como não farmacológicas para o controle da pressão arterial e incluem, principalmente, o controle do peso
corporal, controle alimentar e prática regular de exercícios físicos (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2011).
Complicações
da hipertensão
Obesidade
A obesidade (Figura 10) é caracterizada pelo acúmulo de gordura corporal acima de valores conside-
rados normais, no qual em resposta a variados motivos a ingestão energética ultrapassa cronicamente
o dispêndio de energia. São relatados como causas as influências genéticas, ambientais, metabólicas,
fisiológicas, comportamentais, sociais e, talvez, raciais (POWERS; HOWLEY, 2014).
UNIDADE 5 137
COMPLICAÇÕES MÉDICAS DA OBESIDADE e adultos. O maior risco para
Doenças pulmonares a saúde envolve a deposição
Acidente
vascular cerebral da gordura na área abdominal
(obesidade central ou androi-
Catarata
de), visto que ela, em compa-
Doença hepática ração com a obesidade ginoide
gordurosa não alcoólica Doença
coronariana (aquela onde a deposição de
Distúrbios da gordura ocorre na região do
vesícula biliar Câncer quadril e coxa), aumenta a pro-
pensão para doença cardíaca,
hiperinsulinemia, intolerância
Figura 12 - Distúrbios associados à adiposidade excessiva à glicose, diabetes tipo II, cân-
cer de endométrio, hipertrigli-
Em números, utiliza-se o percentual de gordura ou o Índice de ceridemia, dislipidemias, hiper-
Massa Corporal (IMC) para caracterizar o indivíduo como obeso. tensão e aterosclerose. De uma
Em relação ao percentual de gordura, estima-se que homens jovens forma geral, utiliza-se os valores
são considerados com padrões de adiposidade excessiva acima de de circunferência de abdome de
20% de gordura corporal (com homens mais velhos aceitando até 102 cm para homens e 88 cm
25-30%), enquanto em mulheres estes valores devem ser superiores para mulheres como limítrofe
a 30% (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). em relação aos riscos (McAR-
Tratando-se do IMC, sabemos que segundo a Organização Mun- DLE; KATCH; KATCH, 2011).
dial de Saúde, os valores e sua classificação correspondentes seguem Em relação à redução ou
a tabela a seguir. controle do peso corporal, as
Tabela 1 - Índice de Massa Corporal (IMC), calculado pela divisão do peso (Kg)
recomendações partem de algo
pela altura (m) ao quadrado a muito descrito em literatura: a
primeira lei da termodinâmica,
Valores de IMC Classificação
que postula que a energia pode
<18,5 Baixo peso ser transferida de um sistema a
18,6-24,9 Normopeso outro, mas não pode ser criada
25-29,9 Sobrepeso nem destruída. Em termos de
30-34,9 Obesidade grau I peso corporal, significa que se a
ingesta calórica for igual ao gas-
35-39,9 Obesidade grau II
to, o peso corporal não modifi-
>40 Obesidade grau III (mórbida) cará. Caso a ingesta seja maior
do que o gasto, o peso corporal
Fonte: Abeso (2009).
aumenta e, se o gasto for maior
Além do excesso de adiposidade, também devemos levar em con- do que a ingesta, o peso corpo-
sideração a distribuição da gordura corporal (Figura 13), visto que ral tenderá a reduzir (Figura 14)
este fator altera os riscos para a saúde em crianças, adolescentes (KENNEY; WILMORE; COS-
TILL, 2013).
UNIDADE 5 139
Idosos
De uma forma geral, pesquisadores esperam, atualmente, que uma grande parte da deterioração
fisiológica considerada previamente como “envelhecimento normal” possa ser reflexo do estilo de
vida adotado pela pessoa ao longo dos anos, com o envelhecimento bem-sucedido, incluindo quatro
elementos, de acordo com McArdle, Katch e Katch (2011):
1. Saúde física.
2. Espiritualidade.
3. Saúde emocional e educacional.
4. Satisfação social.
Sendo que, de acordo com os autores, a manutenção e até mesmo o aprimoramento das funções físicas
e cognitivas, o engajamento pleno nas atividades vitais e a participação em atividades produtivas e
relações interpessoais contribuem para a concretização desses objetivos.
Em relação às adaptações fisiológicas, observa-se alterações em:
1. Força muscular: homens e mulheres alcançam seus níveis de força mais altos entre os 20 e os
40 anos, declinando a partir da meia-idade. Esta velocidade de perda é diretamente proporcional
à mobilidade e estado de aptidão do indivíduo.
2. Redução de massa muscular: ocorre por atrofia muscular por desnervação, uma degeneração
irreversível das fibras musculares, particularmente das fibras do tipo II.
Sobre a relação entre o envelhecimento e a prática de exercícios físicos, pesquisas mostram que a parti-
cipação em atividades atléticas na condição de adulto jovem não garante uma boa saúde e longevidade
nas fases subsequentes da vida. Em contrapartida, a manutenção de níveis mais altos de atividade
física e de aptidão durante a vida inteira, proporciona benefícios significativos em termos de saúde e
longevidade (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013).
Além disso, surgiram gradientes inversos de risco por meio das categorias de aptidão baixa, moderada
e alta, com uma taxa de morte mais baixa entre os indivíduos moderadamente aptos em comparação
com os grupos de baixa aptidão. Homens e mulheres menos aptos comportavam uma probabilidade
quase duas vezes maior de virem a morrer em virtude de todas as causas do que seus congêneres mais
aptos durante um acompanhamento de 8 anos (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
Dessa forma, algumas orientações são específicas para o idoso em relação à prática de exercícios
físicos. Recomenda-se que os idosos devam realizar, ao menos, 150 minutos semanais de atividade
física de intensidade moderada; porém, se o idoso não puder realizar devido à alguma condição crô-
UNIDADE 5 141
nica, deverá ser tão ativo quanto o permitirem suas habilidades e condição. Em adição, o idoso deve
realizar exercícios que melhorem o equilíbrio (contudo, eles tendem a ser mais vantajosos no idoso
pré-frágil em relação ao já fragilizado), fortalecimento muscular e flexibilidade. Somado a isso, o
idoso com algum problema crônico deve ter conhecimento de como sua condição afeta a capacidade
de praticar atividade física em segurança (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
Exercício e morte súbita: muito se comenta sobre a probabilidade de sofrer uma morte súbita ao
realizar um esforço físico. E realmente, mesmo com a taxa de morte durante o exercício declinando
no transcorrer dos últimos 30 anos (apesar do aumento global da participação de exercícios), sabemos
que o esforço físico intenso comporta um pequeno (porém maior) risco de morte súbita (uma morte
súbita por 1,51 milhões de episódios de esforço) durante a atividade, em comparação com o repouso
por período de tempo equivalente, particularmente para pessoas sedentárias.
Porém, estudos comprovam que este risco é, particularmente, elevado se você não realiza esforços
com frequência. Dados mostram que pessoas que treinam cinco vezes semanais correm um risco de
morte súbita cerca de sete vezes menos do que aqueles que se exercitam apenas uma vez por semana.
Fonte: adaptado de McArdle, Katch e Katch (2011).
Crianças
Há, ainda, muitas questões pendentes em relação às respostas fisiológicas da criança saudável a vários
tipos de exercício. Isso se deve ao número limitado de pesquisas envolvendo este público.
Dentre as poucas informações observadas, uma delas envolve as características do sistema cardiopul-
monar. Acreditava-se que o coração da criança não resistiria tão bem à sobrecarga imposta por exercícios
aeróbios de longa duração, chegando a levantar a hipótese de que treinamentos de alta intensidade em
crianças e adolescentes resultaria em lesões irreversíveis neste sistema. Contudo, relatos científicos atuais
demonstram que crianças inseridas em treinamento aeróbio de longa duração podem apresentar evolução
física semelhante ao do adulto sem demonstrar índice de lesão (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
Em adição, outra dúvida referente ao impacto de programas e treinamento sobre crianças tratava do
déficit de crescimento que viria associado à treinamento de alta intensidade em crianças. Entretanto,
atualmente, sabe-se que o crescimento e o desenvolvimento tanto de meninos quanto de meninas não
é afetado adversamente por programas de treinamento bem orientados; mais ainda, espera-se que um
programa de treinamento bem orientado seja capaz de estimular e otimizar o crescimento. Somado a
isso, sabemos também que crianças envolvidas em programas bem elaborados de treinamento de força
não apresentam qualquer prejuízo ósseo, muscular ou cartilaginoso e que seu ganho de força é obtido,
em sua grande maioria, por mudanças que ocorrem no sistema nervoso, associado a uma limitada hi-
pertrofia (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011).
UNIDADE 5 143
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
144
3. O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida antropométrica amplamente
utilizada para definir padrões de acúmulo de peso corporal, devido a sua fácil
mensuração por meio de medidas relativamente simples de obter (peso e es-
tatura). Sabendo disso, dentre os valores de IMC a seguir, assinale a alternativa
que representa um indivíduo com obesidade grau I.
a) 34,2.
b) 29,8.
c) 35,1.
d) 39.
e) 43.
145
LIVRO
146
ABESO. Associação Brasileira para estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de
obesidade 2009/2010, 2009.
HALL, J. E. Guyton e Hall: tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
HAMER, M.; LAVOIE, K. L.; BACON, S. L. Taking up physical activity in later life and healthy ageing: the English
longitudinal study of ageing. Br J Sports Med, 2014.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. E. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano.
7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011.
STEIN, R. Atividade Física e Saúde. Rev Bras Med Esp, v.5, n. 4, 1999.
KENNEY, W. L.; WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do Esporte e do exercício. 5. ed. São Paulo:
Manole, 2013.
147
1. D.
2. B.
3. A.
4. D.
5. E.
148
149
150
151
CONCLUSÃO
Caro(a) aluno(a), neste livro, entramos em contato com uma série de informações
sobre mecanismos de funcionamento corporal. Discutimos, na Unidade 1, sobre
mecanismos de obtenção de energia anaeróbia (por meio da quebra da creatina
fosfato e da glicose) e aeróbia (por meio da oxidação da glicose, gorduras e proteí-
nas mediante atividade do ciclo do ácido cítrico e da cadeia respiratória) e formas
de obtenção de oxigênio e remoção do gás carbônico por meio da integração do
funcionamento do sistema cardiovascular e respiratório (Unidade 2).
Tratamos, também, do papel do sistema nervoso como gerador dos sinais que
levarão o músculo esquelético ao ciclo contrátil. Descobrimos que existem áreas
cerebrais específicas para geração de padrões de movimento e vias específicas de
controle de determinados músculos em áreas do organismo humano. Sabemos que
por meio da junção neuromuscular o neurônio motor envia o sinal que irá alterar
elementos das células musculares que levarão à contração muscular (Unidade 3).
Posteriormente, na Unidade 4, passamos a discutir o papel de outro sistema
de grande importância para o comando e controle do corpo humano: o sistema
endócrino. Um sistema dotado de hormônios produzidos por glândulas endócri-
nas com o intuito de alterar o funcionamento de determinadas regiões do corpo.
Encerrando nosso módulo (Unidade 5), trabalhamos com o conceito de ativi-
dade física e saúde e a relação do exercício físico com algumas das doenças mais
prevalentes na sociedade atual, assim como em idosos e crianças.
Espero que tenha aproveitado os conteúdos trabalhados em cada unidade,
e tenha compreendido a importância desta disciplina em sua formação profis-
sional. Há muitos anos eu tive meu primeiro contato com a fisiologia e até hoje
me surpreendo com a importância dela na formação de um profissional bem
capacitado na área da saúde.
Um grande abraço.