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Resumo. Os mapas conceituais são ferramentas que secundários ou específicos. Um bom mapa caracteriza-se
promovem a aprendizagem significativa no ensino de por um entrelaçamento das ideias do conteúdo abordado
Biologia, o principal objetivo dos mapas conceituais é condizentes aos conceitos estudados (MOREIRA, 2000).
promover ambientes de aprendizagem significativa e a O uso de mapas conceituais se configura como
colaboração entre os alunos. Esta pesquisa tem como objetivo uma estratégia pedagógica consistente com a teoria da
geral analisar aspectos da aprendizagem significativa aprendizagem significativa do teórico David Ausubel,
nas aulas de Biologia de alunos do ensino médio através citado em Moreira (2011), além de se apresentar como
de mapas conceituais. Um bom mapa caracteriza-se por uma possibilidade no ensino de Biologia.
um entrelaçamento das ideias do conteúdo abordado Segundo Moreira (2010), trata-se basicamente
condizentes aos conceitos estudados. de uma técnica não tradicional de avaliação que busca
informações sobre os significados e relações significativas
1. Introdução entre conceitos-chave da matéria de ensino segundo o
ponto de vista do aluno. Os mapas conceituais serão úteis
Os mapas conceituais são ferramentas que não só como auxiliares na determinação do conhecimento
promovem a aprendizagem significativa no ensino de prévio do aluno, mas também para investigar mudanças
Biologia, segundo o autor Moreira (2011), são diagramas em sua estrutura cognitiva durante a instrução.
que indicam relações entre conceitos, sua existência
deriva da estrutura conceitual de uma disciplina ou de um 2. Materiais e Métodos
corpo de conhecimentos. O principal objetivo dos mapas
conceituais é promover ambientes de aprendizagem Este trabalho vem sendo desenvolvido nas aulas
significativa e a colaboração entre os alunos. Esta de Biologia, nas turmas dos 1°, 2° e 3° anos do Ensino
pesquisa tem como objetivo geral analisar aspectos da Médio Integral e Regular, no ano letivo de 2017 no Colégio
aprendizagem significativa nas aulas de Biologia de Estadual Professor Hamilton Alves Rocha, no Conjunto
alunos do ensino médio através de mapas conceituais. Eduardo Gomes, no bairro Rosa Elze. A metodologia
Neste trabalho, apresentamos os mapas do trabalho vem sendo realizada nas seguintes etapas:
conceituais construídos pelos educandos durante as levantamento do conhecimento prévio do aluno,
aulas de Biologia, envolvendo diferentes conteúdos, como pesquisas interdisciplinares na internet, textos didáticos
Citologia e Metabolismo Energético (1° ano), Seres Vivos e paradidáticos sobre os conteúdos estudados em sala
(2° ano) e Genética (3° ano). Na construção de um mapa de aula abordando temas contextualizados, exposição
conceitual, o aprendiz elucida quais os conceitos mais dos mapas nos corredores da escola, com os principais
relevantes e quais as suas conexões em um corpo de conteúdos curriculares como: Citologia e Metabolismo
conhecimento. Energético (1º ano), Seres Vivos (2º ano) e Genética (3º
Os Mapas não precisam ter um tipo de ano). Os mapas conceituais confeccionados não seguem
hierarquia. Por outro lado, sempre deve ficar claro no orientações padronizadas, os materiais inicialmente
mapa quais os conceitos mais importantes e quais os utilizados foram lápis de cor e folhas de papel oficio, nos

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mapas, orientamos, apenas quando possível, conectar diferentes conteúdos, como Citologia e Metabolismo
ideias primárias, secundárias, terciárias dos conteúdos Energético (1º ano), Seres Vivos (2ª ano) e Genética (3º
envolvidos e quantos forem necessários. ano). Na construção de um mapa conceitual, o aluno
A partir das confecções dos mapas conceituais mostrou quais os conceitos mais relevantes e quais as suas
nos cadernos dos educandos, começou-se a transpor os conexões em um corpo de conhecimento. Ficou claro nos
mapas para as cartolinas coloridas, pois à medida que o mapas elaborados quais os conceitos mais importantes
conhecimento se torna mais complexo, mais pontes cognitivas e quais os secundários ou específicos. Um bom mapa
são capazes de serem feitas pelos alunos, com o passar da caracteriza-se por um entrelaçamento das ideias do
prática educativa de confecção dos mapas, os espaços dos conteúdo abordado condizentes aos conceitos estudados
cadernos ficaram pequenos para tantas conexões. e foi notável a evolução na construção dos mapas com
a prática da ferramenta. Os mapas conceituais foram
3. Resultados e discussão auxiliares na determinação do conhecimento prévio do
aluno e também serviu para averiguar as mudanças na
Por fim, a análise dos dados foi feita por estrutura cognitiva do aluno.
meio das observações da complexidade dos conceitos
abordados e mais destacados nos mapas elaborados pelos 3.1 Confeccionando os mapas conceituais
educandos. Os mapas conceituais inicialmente eram
construídos de forma pequena, tímida e, com o passar do Os mapas conceituais foram confeccionados
tempo, os alunos foram adquirindo maiores habilidades e, pelos alunos inicialmente com orientação do professor.
chegando ao final do trabalho, sendo confeccionados em Os primeiros mapas para apresentação da técnica
papel madeira, cartolina, papel cartão, folhas de isopor. foram feitos no quadro negro com giz (figura 01),
Adquiriram a complexidade esperada e foram inúmeras foram feitos em torno de 5 mapas com a orientação
as conexões feitas, tornando o conhecimento estudado direta do professor, em seguida os alunos foram
na disciplina de Biologia cada vez mais interdisciplinar e ganhando autonomia e confiança e foram elaborando
contextualizado. Nessa pesquisa, os mapas se mostraram em grupos, trios, duplas até começarem a confeccionar
como uma ferramenta opulenta, indicando suas individualmente (figura 02). Inicialmente, tivemos
relações entre os conceitos e evidenciando a existência um pouco de rejeição por parte de aproximadamente
da estrutura conceitual de um corpo de conhecimento, 10% dos alunos, pois acreditavam ser complexos
promoveram ambientes de aprendizagem significativa demais, mas no final, todos aprovaram a técnica. E
e a colaboração entre os alunos, apresentamos nesse relatam: “Os mapas fazem com que nós aprendamos
trabalho os mapas conceituais construídos pelos mais rápidos os conceitos de Biologia” (aluno E. F. B.
educandos durante as aulas de Biologia, envolvendo do primeiro ano, turma A).
Tabela 01- Médias das conexões de conceitos
Análise da Complexidade Bimestre 01 Bimestre 02
Mapas 01 3,2 3,2
Mapas 02 4,3, 2 5, 6
Mapas 03 5 8, 9
Paulo: Editora Livraria da Física, 2011.

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inúmeras as conexões feitas, tornando o conhecimento
estudado na disciplina de Biologia cada vez mais
interdisciplinar e contextualizado. Nesse trabalho, o aluno
mostrou habilidades de evidenciar conceitos relevantes,
conexões e significância nos conteúdos estudados nas
aulas, essa ferramenta destacou entrelaçamentos das
ideias significativas dos conteúdos abordados condizentes
aos conceitos estudados e foi notável a evolução na
construção dos mapas com a prática da ferramenta.
Os mapas conceituais foram essenciais na determinação
do conhecimento prévio do aluno e também serviu para
apurar as mudanças na estrutura cognitiva em todo o
Figura1. Mapa conceitual elaborado pelos alunos coletivamente (Fon-
te: arquivo pessoal).
processo educativo.

Referências

MOREIRA, M.A. Aprendizaje significativo: teoría y práctica.


Madrid: Visor, 2000. MOREIRA, M.A. Mapas conceituais e
aprendizagem significativa. São Paulo: Centauro Editora, 2010.
MOREIRA, M.A. Aprendizagem significativa: a teoria e texto
complementares. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2011.

Figura 2. Mapa conceitual elaborado pelos alunos individualmente


(Fonte: arquivo pessoal).

Conclusão

Trabalhar com mapas conceituais favorece
pontes cognitivas, pontes entre subsunções e aumenta
a capacidade cerebral de absorção de conhecimentos,
favorecendo a verdadeira aprendizagem significativa dos
alunos. A observação da complexidade dos conceitos
abordados e mais destacados nos mapas elaborados pelos
educandos pode comprovar a existência da evolução no
processo educativo do aluno. Assim, foi possível no final
do processo observar a complexidade esperada e foram

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Resumo. O presente trabalho foi desenvolvido com os ações de depredação e vandalismo, um grande problema
alunos do Ensino Fundamental e Médio do Colégio presente nas escolas públicas. Na maioria das vezes, essas
Estadual Arabela Ribeiro, em Estância/SE. Tendo como práticas desastrosas e que geram gastos ao poder público
objetivo resgatar a valorização do patrimônio escolar pela partem daqueles que deveriam ter o maior interesse pela
comunidade local. Foram realizadas atividades de pesquisa, preservação da escola e dos seus bens, os próprios alunos
produção textual e artística que reportaram os alunos ao e moradores do entorno da unidade escolar. Associado
contexto histórico de sua escola e ao reconhecimento dos a este problema, a falta de identidade com a escola e do
sujeitos que fizeram parte deste processo. sentimento de pertencimento em relação à mesma tem
provocado evasão e até mesmo migração de muitos
1. Introdução alunos para escolas de outros bairros.
Diante desse contexto, o objetivo do presente
Todo patrimônio, seja ele de natureza material trabalho é fazer com que os alunos e os moradores do
ou imaterial, está intimamente relacionado ao processo entorno do Colégio Estadual Arabela Ribeiro possam
de formação da identidade de uma nação ou de um reconhecer a história desta escola dentro da história do
indivíduo. Dessa forma, a preservação e valorização de próprio bairro e da história das pessoas que ali vivem,
bens públicos ou privados fazem-se necessárias para despertando a identificação com a escola e o desejo pela
manter viva a memória de um povo ou até mesmo de preservação do espaço escolar e de seus pertences para
uma comunidade, pois como afirma Magalhães (2009), benefício de todos e das futuras gerações.
os bens patrimoniais estão vinculados com sua origem e
com um passado que não cessa e que é sempre presente. 2. Materiais e métodos
Resgatar a história da sua própria escola e a importância
que ela tem na formação de gerações e no desenvolvimento O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual
da comunidade local é fundamental no processo de Arabela Ribeiro no período de março a julho de 2017.
identificação do aluno com a escola. Alunos e comunidade Foram envolvidas nas atividades todas as turmas do
precisam ser envolvidos em ações e atividades que Ensino Fundamental e Médio. A primeira etapa do
despertem atitudes de preservação e respeito à escola e projeto foi a realização de uma oficina em sala de aula:
a tudo aquilo que lhe pertence. Para tanto, a educação é “A escola que tenho versus a escola que desejo”. Através
a principal ferramenta de transformação, desencadeando desta atividade realizada em pequenos grupos, os alunos
um processo de desenvolvimento do ser humano na sua puderam discutir e apresentar o que pensam sobre a
capacidade intelectual e moral, afinal, “se a educação escola e também refletir como podem contribuir para que
sozinha não transforma a sociedade, sem ela a sociedade ela se torne um lugar melhor.
não muda” (FREIRE, 2000, p.31). O resultado do que foi discutido e apresentado
O Colégio Estadual Arabela Ribeiro, situado no durante a oficina foi exposto em um Jornal Mural
Bairro Bonfim, uma das localidades de profundo valor produzido pelos próprios alunos. Após esta atividade,
econômico e cultural de Estância-SE, tem sido alvo de foi realizada uma conferência escolar denominada “O

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Arabela na minha história”. Os discentes foram reunidos até então, nenhum aluno conhecia. A quarta etapa do
no pátio e os representantes das turmas foram à frente projeto foi a realização de um mutirão envolvendo alunos,
apresentar sugestões de como a comunidade escolar funcionários da escola e a comunidade em uma ação
poderia contribuir para tornar a escola um lugar melhor. cooperativa de limpeza e restauração de alguns espaços e
Além disso, alguns ex-alunos foram convidados para utensílios da escola.
participar da programação e puderam compartilhar
com os estudantes o quanto as experiências vivenciadas 3. Resultados e discussões
e o conhecimento obtido por eles naquela escola foram
significativos para suas vidas. Conseguir envolver as 19 turmas do colégio e ter a
A terceira etapa foi de caráter investigativo, participação dos 496 alunos que atendemos foi um desafio
através da busca de documentos com informações sobre vencido através da cooperação de todo o corpo docente
a fundação da escola, fotografias antigas, e entrevistas que trabalha no Colégio Estadual Arabela Ribeiro. Cada
a ex-alunos, ex-funcionários e moradores do bairro professor se responsabilizou por uma turma no sentido
onde se localiza a escola. Os alunos puderam conhecer de orientar e motivar os alunos a participarem de todas as
e reconstruir a história da sua escola e reproduzir o que atividades do projeto. Foi necessário também diferenciar
conheceram, como mostra a Figura 1. algumas atividades que os alunos teriam que elaborar de
acordo com a faixa etária da turma e observando o nível
de complexidade das atividades propostas.

3.1 A escola que tenho versus A escola que desejo

O objetivo desta oficina foi permitir que os


alunos se sentissem à vontade para expor o que pensam
sobre a escola, o que observam e o que consideram bom
ou ruim. Além disso, a equipe tinha como foco, por meio
dessa atividade, fazer com que os discentes refletissem
sobre como cada um pode contribuir para melhorar a
Figura 1. Alunos entrevistando a professora aposentada Raimunda
escola. Cada grupo fez os seus registros de forma escrita e
Oliveira. em seguida apresentou para a turma, promovendo assim
uma discussão direcionada pelo professor (Figura 2).
As turmas do Ensino Médio produziram
documentários, teatros, cordéis e cartazes contando
de forma criativa a história da escola, dando ênfase aos
grandes projetos realizados e às pessoas que contribuíram
para o crescimento do Arabela Ribeiro. As turmas do
Ensino Fundamental produziram frases e pequenos
poemas sobre o patrimônio escolar, fazendo relação entre
o Colégio Arabela Ribeiro e a história do Bairro Bonfim.
Também houve a elaboração de cartazes e paródias
alertando sobre a necessidade do descarte consciente
do lixo na escola. Os alunos do 7º ano ilustraram e
Figura 2. Realização da Oficina “A escola que tenho x A escola que
apresentaram, em forma de coral, o hino da escola que, desejo”.

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A partir disso, foi possível perceber que os alunos outros bairros, arriscando-se a atravessar a rodovia. No
entenderam que a escola é importante, no entanto, para entanto, os nossos alunos além de não valorizarem a sua
eles, o ambiente escolar é pouco atrativo, fazendo com escola nada sabiam sobre a sua história.
que os estudantes não se identifiquem com esse espaço, A busca por documentos antigos fez com que os
a não ser pelo vínculo que criam com os colegas e com estudantes se deparassem com informações que sempre
alguns professores. Foram muitas as queixas apresentadas, tiveram curiosidade de saber e com outras que não
todos os grupos foram bem detalhistas ao apontarem os imaginavam que a escola poderia ter. Um exemplo disso foi
problemas estruturais da escola e o quanto eles se sentem a surpresa de todos ao saberem que a escola tem um hino,
incomodados com o fato de a escola apresentar tantos composição de Raimunda Andrelina, ex-diretora do Arabela
utensílios e equipamentos danificados ou em falta. Os Ribeiro. Nas fotografias encontradas, foi possível perceber
discentes também reconheceram que muitos objetos o olhar atento dos alunos quando se depararam com as
foram destruídos e danificados por ações de depredação mudanças que a escola sofreu ao longo do tempo. Alguns,
cometidas pelos próprios alunos. No final da atividade, os inclusive, identificaram as pessoas das fotos, reconhecendo
grupos apresentaram os seus sonhos em relação à escola vizinhos e parentes que já estudaram ali (Figura 4).
e o que eles mesmos poderiam fazer a partir daquele
momento para a recuperação e conservação do espaço
escolar. O resultado da oficina foi exposto em um Jornal
Mural (Figura 3).

Figura 4. A história do C. E. Arabela Ribeiro em Fotografias.

Figura 3. Jornal Mural - Exposição do resultado da oficina.


Ao recontar a história da escola, fazendo uso
de diferentes gêneros textuais, como literatura de cordel,
3.2 Reconstruindo a história e a identidade escolar teatros e paródias, os alunos puderam reconhecer e fazer
uso da linguagem oral e escrita para organizar e transmitir
O Colégio Estadual Arabela Ribeiro foi fundado o conhecimento (Figura 5). Foi possível também fazer
em 1973. São 44 anos fazendo parte da história do uso de tecnologias como celular e computador de
Bairro Bonfim. A construção de uma escola de Ensino maneira educativa, através da captação de informações
Fundamental e Médio dentro do bairro favoreceu a vida audiovisuais e produção de vídeos e slides.
dos moradores, possibilitando que seus filhos pudessem
concluir a formação básica sem ter que se deslocar para

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estar danificado, nos dias chuvosos as goteiras inundavam
uma das salas de aula. Algumas mães também vieram
ajudar na limpeza. Cada turma arrumou a sua sala,
confeccionou lixeiros para as salas e conseguiu deixar
o espaço de aula muito mais bonito. Todas essas ações
foram propostas pelos próprios alunos na conferência
escolar e foram eles os que mais se envolveram. As tintas,
telhas e outros materiais utilizados foram provenientes de
doações e arrecadação feitas pelos alunos e professores.
Pudemos perceber o zelo dos alunos pelo
espaço que melhoraram e principalmente pela sala de
aula. Ações como essas despertam no aluno o sentimento
Figura 5. Narrativa sobre a vida de Arabela Ribeiro e a fundação da
de pertencimento em relação a sua escola, ele passa
escola que recebeu o seu nome. a entender que pertence àquele espaço e que a escola
sempre vai fazer parte da sua história.
3.3 Recuperando o espaço escolar, produzindo novos
significados Conclusão

O mutirão foi um momento muito especial do O projeto conseguiu envolver equipe


projeto. Pais, alunos e funcionários da escola se uniram pedagógica, alunos e comunidade em ações voltadas
para realizar ações de restauração de alguns espaços e ao reconhecimento de que a escola é um patrimônio
mobiliários da escola. Os bancos dos corredores foram histórico, formado, diacronicamente, por diversos
pintados com as cores que representam o Colégio ramos sociais. A ação investigativa presente no projeto
Estadual Arabela Ribeiro. Algumas portas e paredes, que e o encontro com outras gerações que já passaram pelo
estavam sujas, também foram pintadas (Figura 6). Arabela Ribeiro fez com que os alunos descobrissem
novas perspectivas dentro de um espaço que eles
achavam que já conheciam. A escola passou a ter novos
significados a partir do momento em que os discentes
puderam participar do processo de restauração desse
espaço, no qual todos os dias eles estão presentes e podem
se sentir satisfeitos e orgulhosos com os resultados das
ações que melhoraram a imagem da escola, aumentando
o sentimento de pertencimento em relação à mesma.

Referências

MAGALHÃES, Leandro Henrique; ZANON, Elisa; BRANCO, Patrícia


MC. Educação Patrimonial: da teoria à prática. Londrina: Unifil, 2009.
Figura 6. Mutirão envolvendo escola e comunidade. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 15. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
LÜCK, Heloisa. Dimensões de gestão escolar e suas competências.
Para recuperação da unidade, foi de fundamental Curitiba: Editora Positivo, 2009.
importância a colaboração de um carpinteiro da
comunidade que consertou uma parte do telhado que, por

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Resumo. Este estudo tem por objetivo apresentar estudamos vários conteúdos de lugares diferentes que nos
os resultados da pesquisa desenvolvida pelos alunos impressionam nos chamam atenção e não conhecemos,
vinculados ao PIBIC Júnior, a qual retratou a análise da não sabemos o que está acontecendo no lugar onde
expansão comercial do bairro Siqueira Campos, também vivemos. Para Callai (2004) “o mundo da vida precisa
conhecido pelo seu antigo nome Aribé. O bairro supracitado entrar na escola, para que esta seja viva, que consiga
foi escolhido para o desenvolvimento do projeto, haja vista acolher os alunos e dar-lhes condições de realizarem a
que é o local das imediações onde está localizado o Colégio formação, além de desenvolver o senso crítico e ampliar a
Estadual John Kennedy. É importante destaca, também, sua visão de mundo (CALLAI, 2004, p.2)”.
a necessidade de conhecimento do local onde as relações Neste viés objetivamos compreender a expansão
sociais acontecem. Além disso, a temática do comércio e do setor terciário a partir do estudo do comércio e dos
da prestação de serviços fazem parte do rol de conteúdos serviços oferecidos no bairro Siqueira Campos. Através
ministrados na disciplina de geografia. de entrevistas, buscar a história do bairro com antigos
moradores, mapear a rede comercial, o setor de serviços do
1. Introdução bairro e as transformações nas diferentes temporalidades;
assim como estudar a configuração sócio espacial do
Fundamentado na busca de novas metodologias comércio formal e informal. Demo (1997), Freire (1996),
e ao observar a dinâmica do bairro Siqueira Campos, Callai (2004) ressaltam a importância da inserção da
que reflete as diferentes funcionalidades dos setores pesquisa como uma possibilidade de busca investigação e
econômicos e as transformações no espaço, constatamos produção do conhecimento na educação básica.
a necessidade de averiguar por meio de pesquisa as
alterações no lugar. É visível o crescente aumento dos 2. Materiais e Métodos
estabelecimentos comerciais de médio a pequeno porte,
de cunho diversificado, que têm ocupado o espaço A pesquisa envolveu procedimentos e
geográfico e, consequentemente, contribuído para a atividades relacionadas ao levantamento de dados em
alteração espacial. fontes primárias e secundárias. Deste modo, foi feito
O bairro Siqueira Campos foi escolhido para um levantamento bibliográfico com busca em jornais e
o desenvolvimento do projeto por estar localizado nas artigos publicados, livros, revistas, estudos urbanísticos
mediações do Colégio Estadual John Kennedy, bem como a respeito da expansão do bairro, assim como registro
estão situadas diversas residências do público escolar. É iconográfico com a história de formação do bairro,
importante destacar a necessidade do conhecimento do utilizando aplicativos tecnológicos como o google maps.
local onde as relações sociais acontecem. Como ressalta Dessa forma, os estudantes puderam comparar os dados
Santos (1997), a proximidade entre a população local e antigos e atuais disponíveis na plataforma tecnológica.
o comércio é de grande importância para criar laços Foi definida a área a ser pesquisada no bairro, enfatizando
profundos de identidade e solidariedade. as ruas Bahia e Mariano Salmeron, que serviram como
Por vezes conhecemos diferentes paisagens, amostragem, assim como para identificar junto ao

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IBGE/Sergipe, dados sobre o setor terciário em Sergipe
priorizando o bairro Siqueira Campos, buscou-se
junto a órgãos governamentais como: Prefeitura de
Aracaju (Secretaria de Planejamento – Plano Diretor),
Universidade Federal de Sergipe, Departamento de
Geografia/UFS, e Federação do Comércio/Se, dados e
estudos realizados sobre a distribuição e expansão do
setor terciário em Sergipe.
Recorremos à pesquisa de campo para identificar
os tipos de estabelecimentos comerciais e o setor de Figura1. Tela do Google Maps, do bairro Siqueira Campos. (Fonte:
prestação de serviços, utilizamos uma tabela simplificada https://www.google.com.br/maps/@-10.9164028,-37.0828751,15z)
para anotação das casas comerciais em atuação no espaço Seguimos exatamente as rotas traçadas, como
traçado para aquisição de dados necessários a pesquisa demonstra a Figura 1. A linha vermelha no sentido leste/
em foco. oeste está sob a Rua Mariano Salmeron, enquanto que
Posteriormente foi efetivada a correlação dos a linha de rota no sentido norte/sul foi demarcada sob
dados primários coletados em órgãos de pesquisa com a Rua Bahia. Essas duas ruas foram visitadas e servem
as informações obtidas nas investigações de campo. de amostragem para identificar os estabelecimentos
Esse procedimento ocorreu mediante a tabulação e a comerciais e prestadores de serviços locais, haja vista que,
conversão desses dados em tabelas, gráficos, quadros, diante de investigação prévia, essas ruas são apontadas
fluxogramas e esquemas. como referenciais, pois de acordo com França (2014) “ao
longo das ruas Mariano Salmeron e Avenida Osvaldo
3. Resultados e discussão Aranha destaca-se a oferta de produtos (vendas de peças
e acessórios para veículos) e serviços (oficina, chaparia,
Apoiado numa pesquisa prévia relacionada ao pintura, ferro-velho, entre outros) direcionados para
bairro Siqueira Campos, constatamos que no Relatório os automóveis” (FRANÇA, 2014, p. 31). Ainda destaca
Final do Diagnóstico da Cidade de Aracaju, concluído em França (2014) que “observa-se a expansão dos serviços
janeiro de 2014, França (2014) apresenta que “de acordo de saúde ao longo da Rua Bahia, principalmente as
com os dados do cadastro imobiliário contabilizam-se em atividades de clínicas médicas e laboratórios para exames
2012, 837 usos voltados para essas atividades, sendo 377 (FRANÇA, 2014, p. 32)”. Diante dos fatos apresentados
comércios e 459 serviços, o que corresponde a 21,22% adotamos um quadro simplificado (Tabela 1) para anotar
do total dos usos do bairro” (FRANÇA, 2014, p. 131), ou as informações e dados pertinentes aos trabalhos, deste
seja, o bairro em estudo se configura como expressiva modo podemos comparar e analisar os fatores a que se
área de comércio e prestação de serviços. Envolto neste predispõem os trabalhos.
conhecimento norteou-se a pesquisa em andamento.
Comércio e Número Absoluto de Percentual %
Munidos da representação de carta cartográfica Prestação de Serviço Estabelecimentos
do traçado das ruas do bairro Siqueira Campos (Figura Saúde e correlatos 26 35,52%
Automotivos e acessórios 04 5,26%
1), pesquisada no Google Maps, foi possível visualizar as Vestuário e acessórios 12 15,78%
áreas a serem visitadas e elaborar nossa rota de pesquisa. Alimentação 13 17,10%
Eletro/eletrônicos 07 9,21%
Observe a figura abaixo: Outros 14 18,42%
TOTAL 76 100%
Tabela 1. Estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços da
Rua Bahia, do bairro Siqueira Campos, 2017. (Fonte: a autora (2018)).

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A partir dos dados encontrados no trabalho de
campo, seguindo os tipos de estabelecimentos que foram
selecionados em seis categorias, a saber: saúde e correlatos,
automotivos e acessórios, vestuário e acessórios,
alimentação, eletro/eletrônicos e outros (móveis,
vidraçarias, ferragens etc.). Os dados apresentados sobre
a Rua de Bahia, no bairro Siqueira Campos, resultaram no
gráfico setorial (Gráfico 1) apresentado logo abaixo.

Gráfico 2: Comércio e prestadores de serviço instalados na Rua Maria-


no Salmeron, 2017. (Fonte: a autora (2017)).

Conclusão

Ao final dos trabalhos, ficou evidenciado que o


conhecimento pode ser adquirido por várias vertentes,
podendo utilizar recursos e métodos diferenciados
para dar maior visibilidade aos conteúdos e maior
compreensão do assunto abordado.
Através do levantamento bibliográfico, por via
Gráfico 1: Comércio e prestadores de serviço instalados na Rua Bahia, virtual ou em bibliotecas locais, o estudante adquire uma
2017. (Fonte: a autora (2017)).
experiência com relação à seleção de documentos, as
Podemos identificar no gráfico acima que o visitas de campo, fazendo com que os conteúdos tomem
comércio e a prestação de serviços relacionados à saúde vida e passem a ser inseridos na realidade vivenciada
e correlatos se destacam com mais de 35% em relação a cotidianamente pelos estudantes da escola.
todas outras atividades, demonstrando, assim, que a rua As atividades aplicadas nesta pesquisa nos
em análise se configura com área especializada nestes trouxeram aprendizados individuais e coletivos, uma vez
serviços e produtos. França (2014) nos indica que esta os estudantes participantes do projeti obtiveram maiores
área oferece atendimento para o segmento popular, pois conhecimentos na área da cartografia, pois precisaram
ali são praticados os preços mais acessíveis. mapear a região em estudo, utilizando o Google Maps.
No Gráfico 2, baseado em dados obtidos em Ainda no campo da informática foi possível trabalhar com
visita de campo na Rua Mariano Salmeron, percebemos os aplicativos do Excel na construção de gráficos, tabelas.
uma diferenciada função daquele espaço que se aponta Por fim, através da exposição da pesquisa, do
como área voltada ao comércio e prestação de serviços painel imagético e nos gráficos que foram produzidos,
com destaque aos automotivos e acessórios (autopeças, foi possível demonstrar que as Ruas Bahia e Mariano
chaparia, mecânicas, entre outros.), desta forma a Salmeron, do bairro Siqueira Campos, se configuram
pesquisa se alinha com as análises prévias, corroborando como espaços geoeconômicos importantes das áreas
com o diagnóstico de França (2014). circunvizinhas, assim como em todo o estado de Sergipe.

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Referências

CALLAI. Helena. O estudo do lugar como possibilidade para de


construção da identidade e do pertencimento. In: Anais do VIII
Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra:
Setembro 2004, p1-10;
CORRÊA, Antonio Wanderley de Melo e NEVES, Mauricio
da Conceição e NAJOS, Marcos Vinícius Melo dos. Sergipe –
Sociedade e Cultura. Aracaju. Ed. Do Autor.2007.
DEMO, P. Pesquisa – princípio científico e educativo. 5.ed. São
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FRANÇA, Vera. Relatório Final do Diagnóstico da Cidade de
Aracaju. SEPLOG, 2014.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à
prática educativa. 34.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MINAYO, M.C.S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
23. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
SANTOS, Milton. O Espaço dividido: os dois circuitos da
economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 2004.
_______. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e
emoção. 2. Ed. São Paulo: Hucitec, 1997.

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Resumo. Este trabalho tem como objetivo analisar e A área da pesquisa abrange o Loteamento São
caracterizar os problemas ambientais às margens do Rio Braz, no bairro Taiçoca, em Nossa Senhora do Socorro,
do Sal, afluente do Rio Sergipe, tomando como referência na margem esquerda do rio do Sal, onde há um grande
a Prainha do São Braz, localizada entre os municípios de número de habitações irregulares que adentram ao
Aracaju e Nossa Senhora do Socorro. Para obter informações, mangue. Essas habitações, na sua maioria, não possuem
foram utilizadas várias ações de educação ambiental junto serviços essenciais de saneamento básico (energia elétrica,
à comunidade, como palestra, aplicação de questionários, água encanada, rede de esgoto), ou seja, rio e o manguezal
registros fotográficos e visuais com a finalidade de despertar tornam-se receptores desses efluentes domésticos. (Foto 1)
na comunidade a necessidade de proteger, preservar e
recuperar a natureza, além de sensibilizar e conscientizar
sobre os problemas ambientais, proporcionando a reflexão,
o debate e a troca de experiências entre os membros da
comunidade local.

1. Introdução

Como é comum não só no Brasil, mas em todo


o mundo, a ocupação desordenada e transformação das
paisagens nas margens dos rios causam prejuízo ambiental
aos mesmos, ocasionado pelo lançamento de esgoto, lixos
domésticos e industriais e a destruição dos manguezais. Foto 1. Destruição dos manguezais pelos moradores da comunidade.
De acordo com Kuhnen (2000), o lixo é considerado Fonte: Nilzete Novais, 2017.
um dos responsáveis pelos graves problemas ambientais
da atualidade. Seu volume vem aumentando de forma Para melhorar o atendimento à comunidade, foi
intensa e progressiva, trazendo sérias consequências para realizada a revitalização e urbanização da orla do São Braz,
a sociedade, a exemplo da transmissão de doenças. Assim, às margens do rio do Sal, projeto elaborado pela Prefeitura
o lixo deve ser bem acondicionado, recebendo tratamento Municipal de Nossa Senhora do Socorro e executado
adequado, dentre os quais se destacam a incineração, a pelo Governo do Estado, com recursos do Proinvest,
reciclagem, o aterro sanitário, as valas sépticas, entre garantindo, assim, mais conforto e segurança aos
outros. Para minimizar tal problemática, é mencionada frequentadores. Contudo, as águas do rio e os manguezais
a fórmula dos RE’s (Reduzir, Reutilizar, Reciclar e continuam sendo agredidas e poluídas por indivíduos
Repensar), que consiste numa apresentação sugestiva de que continuam descartando no local lixo doméstico,
como se pode atingir o objetivo de conscientização para eletrônicos, restos de construções etc. Partindo desse
a prática de reaproveitamento de materiais em busca da contexto, este trabalho tem como objetivo caracterizar os
qualidade de vida e preservação do meio ambiente. impactos ambientais ocasionados pela ação antrópica na

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  17 


área de estudo; captar a impressão da comunidade local
sobre o ambiente onde vive e despertar uma consciência
crítica sobre a mudança de hábitos e atitudes visando
valorizar os recursos existentes, contribuindo dessa forma
para a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

2. Materiais e Métodos

O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual


João Batista Nascimento, no período de junho a setembro
de 2017, pelos alunos do 6º ao 9º anos do Ensino
Fundamental. A metodologia implementada no presente
trabalho caracteriza-se como um estudo exploratório Foto 2. Coleta de dados no local de estudo. Fonte: Aluno Fábio A. dos
visando maior conhecimento sobre a temática proposta. Santos Junior, 2017.
Para obter informações sobre a temática em questão foram
3.1 Perfil sociocultural dos entrevistados
utilizados os seguintes procedimentos metodológicos:

pesquisa bibliográfica, registros fotográficos e visuais
Ao analisar o perfil dos moradores locais
e aplicação de questionários com a comunidade local.
evidenciamos que cerca de 77,5% dos entrevistados
Visando facilitar o processo ensino-aprendizagem, além
pertencem ao sexo feminino e que a faixa etária varia de
de estimular a participação e envolvimento dos alunos
17 a 65 anos. Já 69% dos entrevistados possuem ensino
e da comunidade, foram utilizadas diversas atividades
médio completo.
pedagógicas como trabalhos em grupo e individuais,
debates, palestras e excursões educativas na área em estudo.
3.2 Percepção dos impactos ambientais associados ao
uso e ocupação do solo e do rio
3. Resultados e discussão

Os impactos ambientais associados ao uso
Para facilitar a análise da percepção da população
e ocupação do solo às margens do rio do Sal mais
e dos alunos em relação ao uso e à ocupação da Orlinha
expressivos nas respostas foram aqueles resultantes do
do São Braz foram utilizados os seguintes instrumentos
tipo de moradia. Constatou-se que 89% dos entrevistados
técnicos: pesquisa de campo, questionários, visitas
residem em moradias regulares.
domiciliares, palestra educativas. A amostra da pesquisa
Com relação ao destino final do lixo doméstico,
foi composta por trinta moradores. As questões foram
100% dos entrevistados relataram que o mesmo é
organizadas em quatro blocos, a saber: perfil sociocultural
realizado através da coleta regular promovida pela
dos entrevistados, percepção dos impactos ambientais
Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro.
associados ao uso e ocupação do solo às margens do rio e
percepção acerca do ecossistema manguezal. (Foto 2)
3.3 Percepção acerca do ecossistema manguezal

Para este bloco de perguntas procurou-se
partir do aspecto mais geral (meio ambiente) para o
mais específico (manguezal). Assim, as questões que
eram lançadas aos entrevistados iam aos poucos se
aprofundando na temática manguezal.

18 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Com relação ao manguezal, percebeu-se, Conclusão
através da análise instrumentais, que a importância
dos manguezais para os entrevistados está presente nos No sentido de sensibilizar e desenvolver o
seguintes termos: pesca como meio de sobrevivência, conhecimento da população com relação à importância
lazer, proteção do meio ambiente, reprodução da vida social, cultural, biológica e econômica do rio e do
marinha, purificação do ar e bem-estar do ser humano. manguezal, algumas atividades podem ser realizadas sem
Segundo as respostas dos entrevistados percebe- causar prejuízos ao ecossistema, como a pesca esportiva
se que os mesmos têm consciência da importância da e de subsistência, cultivo de ostras, atividade turística,
preservação dos manguezais e que é preciso não desmatar recreativa, educacional e pesquisa científica.
e nem aterrá-los. Eles informam, ainda, que é necessário Ao concluir esse trabalho ficou claro que é imprescindível
fazer o replantio das árvores que foram retiradas durante que os moradores e alunos estejam engajados nas
as ocupações ilegais, além de chamarem atenção para a questões em prol da preservação do meio ambiente. Por
necessidade de denunciar aqueles que poluem. (Foto 3) essa razão, espera-se que os resultados obtidos nessa
pesquisa possam servir de subsídio para a continuação
dos programas de educação ambiental formal e informal
voltados para a comunidade.

Referências

EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema


brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa Produção
de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA (IBGE). Rio de Janeiro: ENG, Crise próxis e
autonomia: espaços e resistências. Porto Alegre 2010.
KUHNEN, Ariane. Reciclando o cotidiano: representações
sociais do lixo. Coleção teses.
Foto 3. Placa de alerta para o não descarte de lixo no local. Fonte:
Aluno Fábio A. dos Santos Junior, 2017.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  19 


Resumo. Na escola, a criação de um sistema de produção elaborada a partir do Projeto central “Sustentabilidade
orgânica fornece meios para promover a educação Ambiental, Social e Cultural”, que desde 2012 promove
ambiental e a discussão de temáticas como o consumo o desenvolvimento de atividades relacionadas à coleta
de alimentos saudáveis. Este trabalho objetivou ampliar seletiva, reciclagem de resíduos sólidos, preservação
o conhecimento dos alunos acerca da sustentabilidade e do patrimônio escolar e cultural de Sergipe. A partir
incentivar uma alimentação escolar saudável. Alunos do do desenvolvimento de atividades da disciplina de
9˚ ao 2˚ ano receberam capacitação com respeito ao tema Matemática percebeu-se que dentre o montante de
horta orgânica. Foram construídas horta e estufa, além resíduos sólidos produzidos semanalmente na escola,
do setor de compostagem e minhocário para auxiliar a os resíduos orgânicos representavam uma parcela
produção de hortaliças. O quintal ecológico tem permitido significativa, sendo necessária uma ação para redirecionar
a execução de Circuitos Educativos interdisciplinares que o destino desses resíduos. A partir desta problemática o
fazem dos alunos protagonistas sociais e propagadores de presente trabalho foi elaborado, objetivando ampliar o
saberes para a comunidade escolar. conhecimento dos alunos acerca de práticas sustentáveis,
bem como incentivar a alimentação saudável na escola
1. Introdução através da produção e consumo de hortaliças orgânicas
pela comunidade escolar.
A implementação de sistemas de produção
orgânica em escolas de nível fundamental e médio 2. Materiais e Métodos
viabiliza uma série de ações interdisciplinares e estimula
o debate sobre temas como sustentabilidade, preservação Para o desenvolvimento e manutenção das
ambiental e nutrição. Essa experiência vem sendo relatada atividades ligadas à horta orgânica, alunos do 9˚ ano
por muitos autores como uma ponte eficiente entre a do Ensino Fundamental ao 2˚ ano do Ensino Médio se
teoria e a prática, permitindo a sensibilização dos alunos voluntariaram para fazer parte do grupo de “Fiscais do Meio
com respeito à questão ambiental e à criação de hábitos Ambiente”. A esse grupo de alunos foi oferecida capacitação
alimentares saudáveis (Cribb, 2010; Pimenta & Rodrigues, por meio de recursos audiovisuais e aulas expositivas sobre
2011). Além disso, a produção de hortaliças orgânicas, minhocultura, compostagem e horticultura orgânica,
no ambiente escolar, permite um diálogo interdisciplinar promovidas pelos professores da escola e instituições
que passa pela matemática, com o cálculo da área para parceiras, como a EMBRAPA (Empresa Brasileira de
montagem da horta e proporção de materiais necessários Pesquisa Agropecuária) e a SEMARH (Secretaria do Meio
para a produção do composto orgânico, pela química, Ambiente e Recursos Hídricos).
com a visualização prática da transformação da matéria, e Após a capacitação dos alunos, que ocorreu
pela biologia, com a identificação das espécies cultivadas durante os sábados letivos, foi realizado o processo de
e abordagens sobre nutrição. construção da horta orgânica. Para montagem da horta,
A ideia de criar um sistema de produção foi feita a capinação de uma área de 200 m2 do terreno
orgânica no Colégio Estadual Barão de Mauá foi não utilizado da escola e realizado o procedimento de

20 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


correção do solo com orientação do técnico agrícola da matemática com relação às medidas socioambientais
disponibilizado pela SEED (Secretaria Estadual de no “saber cuidar”, os alunos foram estimulados a fazer a
Educação e Desporto), o Sr. Givaldo dos Santos. Foram manutenção da horta, medição dos espaços e manipulação
selecionadas algumas espécies de hortaliças e plantas dos resíduos orgânicos. Os alunos identificaram as medidas
medicinais para serem cultivadas na horta, dentre elas a de peso e dados percentuais referentes a cada material
cebolinha, coentro, alface, couve-manteiga, tomate cereja orgânico (folhagens viva e serrada, esterco bovino, resto de
e o capim limão. Além da horta, foram construídos um alimentos), realizaram as medidas de comprimento para
minhocário, um setor de compostagem e uma estufa, a confecção das bases do minhocário, calcularam o seu
para auxiliar o processo de manutenção e permitir que volume e a quantidade de adubo produzido mensalmente.
fiscais e demais alunos vivenciassem na prática todos os Para a irrigação da horta, os alunos foram estimulados a
aspectos ligados ao tema. Para a execução do processo de compreender o gasto de água e as transformações das
minhocultura, os Fiscais do Meio Ambiente, auxiliados medidas de capacidade para o cálculo de volume da água.
pelo professor Sergio Andrade, da disciplina Matemática, Na disciplina Química, os alunos trabalharam
realizaram o corte das bases de madeira (1,20 x 1,60 m) que conteúdos como as transformações e reações químicas,
serviram de estrutura para o minhocário, o qual permite a temperatura, misturas, compostos orgânicos e compostos
produção de cerca de 45 Kg de humos a cada dois meses. Já inorgânicos, tabela periódica e pH.
para a montagem do setor de compostagem foi destinada
uma área equivalente à horta orgânica. Neste setor são 3. Resultados e discussão
adicionados, periodicamente, esterco bovino, vegetação
viva e cerrada, água e resíduos orgânicos numa proporção Sendo a compostagem um processo biológico
de 3:3:3:1. Dentre os resíduos orgânicos utilizados estão de reciclagem da matéria orgânica, questionamos o
cascas de batata, cebola, tomate, melancia, banana e ovos, aluno quanto aos tipos de transformações que podem ser
cerca de 100 Kg mensais provenientes da merenda escolar. observadas na compostagem. Os alunos puderam identificar,
Para auxiliar o processo de semeadura e desenvolvimento nessa formulação, os materiais de origem orgânica e de
inicial das hortaliças, foi construída uma estufa com 1,70 origem inorgânica e questionar-se a respeito do que seria
metro de altura, a qual foi montada pelo técnico agrícola feito desses resíduos se não tivessem esse destino.
da escola utilizando como materiais básicos canos de PVC, Ainda a respeito do processo de compostagem, os
tela de nylon e arame galvanizado. alunos puderam refletir sobre o porquê não é aconselhável
Finalizada a montagem do quintal ecológico, iniciaram- adicionar restos de alimentos cozidos ou cascas de frutas
se as atividades do Circuito Educativo no qual os Fiscais cítricas e cascas de ovos sem uma lavagem e trituração
do Meio Ambiente promoveram palestras semanais prévias, e por que se deve revolver esse material verificando
para alunos de todas as séries do ensino fundamental e a sua temperatura de 30 em 30 dias. Esta ação mostrou a
médio. Além do circuito educativo, foram desenvolvidas Química na prática.
atividades como workshop, seminários, cafés filosóficos, Em sala, mostramos que a mistura inicial é
exposições, visitas técnicas a escolas e empresas parceiras. heterogênea, pois fica fácil observar visualmente os
Em Matemática, os conteúdos trabalhados em aulas materiais que estão sendo agregados, mas que o produto
práticas no Quintal Ecológico foram área de figuras final deve ser o mais homogêneo possível, o que indica que
planas, perímetro, sólidos geométricos, poliedros e não- toda a matéria orgânica foi decomposta de forma eficiente.
poliedros, medidas de peso, medidas de capacidade, Desse modo, levou-se o aluno a observar que a adição de
porcentagem, volume, operações com números decimais água favorece o processo de decomposição da matéria
e transformação de medidas de comprimento. Para que orgânica e que essa não pode ser em grande quantidade,
os discentes pudessem compreender melhor o mundo pois pode compactar o material dificultando a aeração;

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  21 


nesse momento foram feitos questionamentos como: esse
processo é anaeróbico ou aeróbico? Por que verificar a
temperatura? Qual é a temperatura ideal na compostagem?
Assim, trabalhamos o tema temperatura e a importância
de se ter o controle dela no processo da compostagem.
O projeto teve a proposta de sensibilizar a
comunidade escolar a sair do cômodo diagnóstico do
uso inapropriado dos resíduos sólidos e da preocupação
com a melhoria da merenda escolar no que diz respeito à
alimentação saudável. Foi através do cronograma de ações
planejadas e desenvolvidas pelos professores, por eixo
temático (água, resíduos sólidos, coleta seletiva e alimentação Figura 2. Palestras promovidas pelos fiscais do meio ambiente.
saudável), que promovemos a capacitação dos protagonistas
sociais, alunos denominados fiscais do meio ambiente. Conclusão
Através desse processo prático ficou visível o prazer em
aprender como ferramenta de concretização dos objetivos A criação da horta orgânica tem contribuído
alcançados no cronograma de atividades, como a catação no processo de ensino e aprendizagem de ciências e
dos resíduos orgânicos na cozinha da escola para a produção da temática sustentabilidade. Por meio de Circuitos
do adubo, a promoção das medidas socioambientais pelos Educativos, que abrangem as disciplinas Matemática,
monitores através do Circuito Educativo, a confecção do Biologia, Arte e Química, os “Fiscais do Meio Ambiente”
quintal ecológico, a realização do intercâmbio entre escolas assumem o papel de protagonistas sociais e repassam o
organizado pelos nossos protagonistas, e a integração do conhecimento sobre as atividades desenvolvidas para os
corpo docente. A visibilidade das medidas socioambientais demais alunos, tanto da própria escola, como das escolas
e experimentos científicos pelos alunos está fundamentada parceiras que nos visitam. Além dessas atividades, a horta
na arte de saber ensinar de modo interdisciplinar e na orgânica tem estimulado a alimentação saudável dentro
satisfação do aluno em reconhecer os conteúdos ensinados e e fora dos muros da escola, visto que toda produção da
experienciar as teorias aprendidas. horta tem sido incluída na merenda escolar e repassada
para a comunidade local.
O resultado das ações socioambientais e das
intervenções educativas está estimulando e sensibilizando
a autonomia e integração entre os alunos no que diz
respeito às pesquisas no campo científico e à logística na
gestão das tarefas operacionais, promovidas pelos próprios
alunos na manutenção da horta, a exemplo de mutirão
de capinação da área verde, do revolver dos resíduos
orgânicos no processo da compostagem, do cultivar e
o regar das plantas. Toda essa dinâmica é de relevante
importância para a tão desejada sustentabilidade, a
referência “ser ambiente”, o querer e saber cuidar.

Figura 1. Quintal Ecológico do Colégio Estadual Barão de Mauá.


Em A o minhocário, em B a estufa e em C e D a horta orgânica com
algumas das hortaliças produzidas na escola.

22 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Referências

PIMENTA, José Calisto; RODRIGUES, Keila da Silva Maciel.


Projeto Horta Escola: Ações de educação ambiental na Escola
Centro Promocional Todos os Santos de Goiânia (GO). II
SEAT- Simpósio Ambiental e Transdisciplinaridade, maio, 2011.
CRIBB, Sandra Lucia de Souza Pinto. Contribuições da educação
ambiental e horta escolar na promoção de melhorias ao ensino,
à saúde e ao ambiente. REMPEC- Ensino, Saúde e Ambiente, v.
3, n. 1, abril, 2010.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  23 


Resumo. Iniciado em 2017, o projeto de pesquisa teve como formar indivíduos capazes de se sentirem responsáveis
objetivo principal empregar uma abordagem sustentável não somente por suas ações no presente, mas que, através
e responsável do uso do solo para o cultivo de plantas do hoje, terá uma possibilidade ou não de continuidade
medicinais e de ervas aromáticas que são utilizados na da existência.
merenda escolar, visando os benefícios de uma alimentação Nesse paradigma arquetípico evidencia-se de
saudável. Podemos, assim, afirmar que esse projeto foi de forma cristalina a ligação da responsabilidade
salutar importância, devido à grande contribuição no com o Ser vivo. Somente o Ser vivo, em sua
processo ensino-aprendizagem, pois o aluno conseguiu natureza carente e sujeita a riscos – e por isso,
vivenciar a interdisciplinaridade através da construção da em princípio, todos os seres vivos - pode ser
horta, de maquetes, do plantio das mudas e da produção objeto da responsabilidade. Mas essa é apenas a
de chás e sucos, além de compreender a relação entre uma condição necessária, não a condição suficiente
alimentação equilibrada, uma vida saudável e o cuidado para tal. A marca distintiva do Ser humano,
com meio ambiente. de ser o único capaz de ter responsabilidade,
significa igualmente que ele deve tê-la pelos
1. Introdução seus semelhantes – eles próprios, potenciais
sujeitos de responsabilidade –, e que realmente
Devido à constatação da falta de responsabilidade ele sempre a tem, de um jeito ou de outro: a
e cuidado com a conservação do meio ambiente e da faculdade para tal é a condição suficiente para a
alta incidência de doenças de base no público jovem, sua efetividade. (JONAS, 2006, p.175-176)
tornou-se relevante apontar novas maneiras de cuidar do
ambiente que nos circunda e de obter uma vida saudável Para tanto, no decorrer do processo, foram
a partir do zelo com o solo, seu cultivo e alimentação. realizadas com os discentes várias ações relacionadas
Por isso, tivemos como objetivo principal compreender, ao cultivo do solo, a exemplo demonstração de práticas
através de uma abordagem sustentável, o cuidado com o alternativas de cultivo e a verificação da necessidade
meio ambiente por meio do uso do solo e o cultivo de de sais minerais na constituição do ambiente para o
ervas aromáticas e medicinais. desenvolvimento das culturas. Efetuamos, também,
Sendo assim, precisamos reaprender como nos intercâmbios e visitas técnicas e, por último, estimulamos
relacionar com o outro e com a natureza. Isso requer boas práticas relacionadas à saúde por meio da produção
um fio condutor, uma direção, partindo do princípio de chás, examinando a função de cada planta medicinal no
da responsabilidade jonasiano através da educação organismo humano. Desse modo, a cada etapa concluída,
como ação que desenvolve a vida, pois como o próprio os alunos conseguiram perceber como é imprescindível
Jonas (2006, p.189) afirma “a educação tem, portanto, cuidar da vida, desde a conservação do solo e de tudo
um fim determinado como conteúdo: a autonomia do o que dele pode brotar, contribuindo para a formação
indivíduo, que abrange essencialmente a capacidade de e constituição de um ser saudável e consciente das suas
responsabilizar-se.” Essa é a tarefa da educação, isto é, ações diante da natureza e do outro.

24 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


dimensões ética, econômica, social, ambiental e política
2. Materiais e Métodos da sustentabilidade. Cada uma, a partir de seu objeto
de estudo, desenvolveu temas pertinentes à prática e à
A metodologia empregada fundamentou-se em construção de ações que efetivassem a relação equilibrada
uma abordagem qualitativa, partindo do desenvolvimento entre homem e natureza no espaço geográfico, onde os
de aulas teóricas e práticas na sala de mídia, no laboratório alunos vivem 40 horas de sua vida por semana em regime
e na área de cultivo da horta com os alunos do 1º ano integral, despertando para o cuidado com o meio ambiente
do ensino médio integral do Centro de Excelência Profº que o circunda. Os educandos promoveram, além da
José Carlos de Sousa, no período de abril a setembro de implantação da horta, a melhoria de áreas de vivência em
2017. Foram abordados conhecimentos como tipos de seu entorno, preocupando-se em manter o ambiente da
solos e plantas medicinais, composição química do solo, sala de aula e corredores limpos e acolhedores, mediante
precursores da qualidade de vida, grandezas e medidas, ações protagonistas e de conscientização como colagem
escala e construção de gráficos, pressão e sistema de de cartazes por toda a escola e avisos semanais nas salas
irrigação. Tendo como objetivo principal o trabalho de aulas.
interdisciplinar desses diversos campos, direcionados A contribuição foi contínua e permanente, a
para a construção da horta e da obtenção de uma exemplo da disciplina educação física, que desenvolveu
alimentação saudável. em suas aulas a importância dos alimentos em nosso
Fez-se necessário, então, executar alguns organismo como percussores da qualidade de vida. Ao
procedimentos metodológicos, a exemplo do mesmo tempo, trabalhou com os alunos a necessidade
levantamento bibliográfico sobre a construção do em transformá-los em agentes multiplicadores na
pensamento ambiental no tocante à relação entre homem, comunidade onde moram, pois os conhecimentos que
natureza e responsabilidade; produção de apostilas eles aprenderam na escola são disseminados em casa, e,
juntamente com apresentações de vídeos sobre o cuidado nessa interação com a família, foram relatadas mudanças
com o solo e o sistema irrigação; visitas técnicas à horta comportamentais e alimentares. Ademais, houve também
do Colégio Estadual Barão de Mauá; palestras sobre o momento de aprendizado sobre a função e os efeitos
produção de mudas por meio de aulas no laboratório de das ervas medicinais no corpo humano. A partir de então,
Biologia; confecção de maquetes; construção da estufa; foram pesquisados os benefícios das plantas, trouxeram
podas das árvores; capinagem e preparação do solo. as mudas, explicaram suas indicações e contraindicações
Por conseguinte, esse projeto proporcionou aos e confeccionaram placas de identificação com nomes
alunos que participaram uma maior compreensão da científicos e populares para serem então cultivadas na
responsabilidade que temos com a natureza e com a qualidade horta, construindo um momento rico em conhecimento
de vida para geração presente, tal como uma reflexão sobre e vivência prática entre ser e natureza.
qual mundo devemos deixar para geração futura. Faz-se necessário destacar a contribuição do
ensino da matemática, que consistiu, num primeiro
3. Resultados e discussão momento, na apresentação dos objetivos e explanações
sobre os conhecimentos utilizados para a construção da
O nosso projeto teve início em maio de 2017 horta e das atividades práticas que foram desenvolvidas
com aulas e discussões teóricas das áreas de conhecimento na execução da mesma.
envolvidas: matemática, geografia, educação física, química,
física e biologia. Todas essas disciplinas colaboraram a fim
de provocar uma reflexão sobre a responsabilidade que
devemos estabelecer com o meio ambiente através das

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Os PCNs (BRASIL, 1998) ao tratar do ensino- Na culminância do projeto conseguimos
aprendizagem da geometria destacam que despertar nos alunos o gosto pela disciplina matemática,
os conceitos geométricos constituem parte o estímulo pelo estudo, além de facilitar no aprendizado,
importante do currículo de Matemática no pois este foi construído na prática, criando um vínculo
ensino fundamental, porque, por meio deles, significativo com o discente, contribuindo para a
o aluno desenvolve um tipo especial de construção de cidadãos mais críticos e ativos, capazes
pensamento que lhe permite compreender, de utilizar os conhecimentos adquiridos na escola na
descrever e representar, de forma organizada, o solução de situações de seu cotidiano. Ou seja, esses
mundo em que vive (BRASIL, 1998 p.51). conhecimentos terão aplicabilidade para a vida, e, por
meio deles, talvez haja uma transformação da realidade.
Dessa forma, nas aulas iniciais foram revistos Já na disciplina geografia foi demonstrado
alguns conceitos e conteúdos matemáticos com os e discutido como uma relação sustentável pode ser
quais nos deparamos no decorrer das atividades, como construída entre homem e natureza, por intermédio de
grandezas e unidades de medidas, perímetro e área de conceitos filosóficos como cuidado e responsabilidade.
uma região plana e figuras geométricas, que foram de Com base no pensamento de Jonas (2006), o Princípio
fundamental importância no planejamento espacial do Responsabilidade abre uma nova perspectiva da ação
cultivo. Em seguida, foi realizada a medição e cálculo da através de uma projeção de longo prazo, direcionada
área onde seria construída a horta. Em posse dos números ao agir humano no que concerne aos seus resultados e
da área proposta, foi realizada a confecção de uma planta efeitos. Dessa forma, esse princípio, voltado para educação,
baixa. As turmas foram divididas em grupos, em que deve apresentar como meta uma formação pedagógica,
cada grupo explorou sua criatividade para a confecção visando uma gradativa transformação de conduta diante
da planta. Na aula seguinte realizamos uma eleição da relação com o outro e com a natureza, o que implicará
para escolher a planta baixa vencedora. Nessa escolha no cuidado com os valores e as atitudes que fazem da vida
foram considerados os seguintes critérios: criatividade, um bem primordial.
diversidade de figuras geométricas para os canteiros e Nessa direção, precisamos de um novo
maior aproveitamento da área. A planta baixa vencedora, paradigma de convivência, uma relação diferenciada
foi, desse modo, utilizada como modelo para a construção com o outro e com a terra, objetivando à preservação
da horta. Na edificação da estufa (Figura 1), mais uma da vida. E a proposta de Jonas de uma ética que parta
vez calculamos a distância entre os canos utilizados na da responsabilidade com o futuro da Humanidade
armação e também realizamos os cálculos de área dos possibilitará a viabilidade pedagógica para formação do
canteiros onde foram produzidas e preparadas as mudas. indivíduo, fundamentada em dois grandes imperativos:
o primeiro que consiste na existência e o segundo que
os homens vivam bem, uma vez que a possibilidade da
existência precisa ser mantida, o que significa cumprir o
dever de existir, pois o cuidado que devemos ter com a
vida requer atitude, ação e responsabilidade.
Após essa reflexão inicial, começamos a
trabalhar, de acordo com Brady (1979), o cuidado
primeiramente com a formação do solo, perfis, horizontes,
textura, porosidade, estrutura, erosão, fertilidade, biologia
e desenvolvimento das plantas no solo. Um momento de
especial destaque foi a experiência em que foram extraídas
Figura 1. Construção da estufa. (Fonte: Profª.: Elvira Suzi)

26 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


do solo cores para pintar, método chamado colorteca, da escola. Sendo assim, foi um momento em que eles
colorindo com o solo. Foi um momento de construção perceberam que é possível construir e aprender com a
em grupo e compreensão de que do solo podemos criar e natureza a viver de forma sustentável e equilibrada, pois,
recriar. Através de vídeos, discutimos sobre a capacidade segundo Grun (1996), a ética ambiental conduz o homem
que o solo tem em acumular água e também seu nível de pelo caminho da harmonia e do respeito com a terra e
porosidade. os seres vivos, fazendo com que ele se reconcilie com a
Mediante as vivências na área física da horta, natureza, afetiva e espiritualmente, mantendo uma visão
ocorreram também rodas de conversa com o técnico agrícola holística e integrada do mundo.
Sr. Givaldo sobre o cuidado com as plantas e o solo. Nesse Nas demais áreas do conhecimento, como na
momento e espaço, também começamos a limpar o terreno disciplina química, uma amostra do solo foi coletada e
e aerar o solo sob seu direcionamento. Após um estudo discutida a importância do conhecimento do pH do mesmo,
detalhado do terreno, inclusive com o intermédio de órgãos de acordo com Ernani (2008) para as práticas agrícolas, bem
externos especializados, realizamos a poda das árvores (figura como a sua correção. No laboratório foi realizada experiência
2), na qual os alunos interagiram de maneira participativa e para verificar a salinidade do solo.
enriquecedora. Começamos também a construção da estufa, Na disciplina física, foram apresentados programas
utilizando canos de PVC, manufaturando-a na forma de que mostravam a importância da pressão em um sistema
uma concha acústica e, por fim, realizamos a abertura dos de irrigação. Posteriormente foi realizado um experimento
canteiros para o plantio das mudas. utilizando uma garrafa pet com água, contendo nela um
pequeno buraco para que o aluno fizesse a relação entre altura
e pressão. A partir desse entendimento, foi construída uma
maquete (figura 3), que demonstrava a utilização da água do
ar condicionado para a irrigação da horta. Sendo assim, esse
momento de aprendizado, foi de grande enriquecimento
prático de tudo aquilo que eles se apropriaram na teoria,
configurando-se numa verdadeira vivência.

Figura 2. Poda das árvores (Fonte: Profª.Elvira Suzi B. Garção)

Para estimular ainda mais os alunos, fizemos um


intercâmbio com o Colégio Estadual Barão de Mauá, que
já tem uma horta bem desenvolvida. Os alunos puderam,
assim, ver o resultado do trabalho que eles apenas
ainda estavam iniciando, aprenderam sobre a biologia
do solo, mediante o conhecimento e visualização da
macrofauna, composta por formigas, minhocas e cupins,
Figura 3. Maquete da Horta (Fonte: Profª.: Elvira Suzi B. Garção)
estabelecendo a relação entre esses seres e a fertilidade e
equilíbrio do solo e a contribuição dos micro-organismos
na decomposição do material orgânico. Depois, os alunos
cultivaram sementes na horta e tiveram uma palestra
sobre todo o desenvolvimento do projeto socioambiental

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  27 


Conclusão

Entendemos, portanto, que houve uma grande


interação entre os conhecimentos de todas as áreas, pois
conseguimos construir uma aprendizagem significativa,
relevante e expressiva, contribuindo para a formação de
um cidadão autônomo, criativo e responsável. Apesar de
todas as dificuldades e obstáculos que se apresentaram no
desenvolvimento desse projeto, como a falta de verba e de
apoio, conseguimos alcançar a nossa maior meta, a reflexão
dos alunos e professores de perceberem-se como seres
responsáveis pela preservação da nossa única morada,
a Terra, começando pelo lugar em que compartilhamos
uma boa parte do nosso dia-a-dia. Por isso, temos como
perspectivas a continuidade desse projeto pedagógico e
de vida no ano de 2018, envolvendo cada vez mais alunos,
professores e funcionários na constituição de uma única
rede, a rede da vida. “Assim, a esfera da educação mostra
de maneira mais evidente como se interpenetram (e se
complementam) a responsabilidade parental e a estatal,
a mais privada e a mais pública, a mais íntima e a mais
universal, na totalidade dos seus respectivos objetivos.”
(Jonas, 2006, p.181)

Referências

BRADY, N. C. Natureza e propriedade dos solos. Freitas Bastos,


Rio de Janeiro, 1979. 647 p.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros
Curriculares Nacionais- Matemática 5ª a 8ª série. Brasília: SEF,
1998
ERNANI, P.R. Química do Solo e Disponibilidade de Nutrientes.
Lages: O autor, 2008. 230p
GRUN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão
necessária. 11ª edição, Campinas, SP, Papirus, 1996.
JONAS, Hans. O Princípio Responsabilidade: Ensaio de uma
ética para a civilização tecnológica. Trad. Marijane Lisboa e Luiz
Barros Montes. Rio de Janeiro. Rj. Ed. Puc-Rio, 2006.

28 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Resumo. A caatinga é referenciada nos livros didáticos de Sergipe, observaram que um número muito baixo de
como bioma de chuvas escassas e pouca variedade de obras se adequou a aspectos satisfatórios, como abordagem
organismos, além de enfatizar vegetais adaptados à da riqueza de espécies e características culturais do bioma.
vida na seca (xerófilos), ocultando a grande variedade Do mesmo modo, a maioria dos materiais utilizados
de espécies existentes e suas inter-relações. O objetivo do traziam informações de forma incompleta e distanciada
presente estudo foi de despertar o interesse dos educandos da realidade, como a pouca diversidade de espécies e
pela biodiversidade da caatinga através de fotografias. ausência de discussão de impactos socioambientais, o
Foram registrados diversos organismos, dentre eles insetos, que reforça a necessidade de abordar as características
aracnídeos, vegetais e aves em diferentes ambientes desse bioma de maneira contextualizada. Dessa forma, a
do município de Poço Verde/SE. Observou-se grande importância da escolha correta do material a ser adotado
variedade de espécies, cujas fotografias foram expostas em pela escola é imprescindível.
painéis espalhados pela escola. Assim, faz-se necessária a Baseadas nas mencionadas reflexões, ascendem
inserção de componentes locais nas atividades didático- as seguintes indagações: é possível inserir a discussão sobre
pedagógicas, visando tornar o processo de ensino- a biodiversidade local nas aulas de Biologia? De que forma
aprendizagem significativo. desmistificar a visão simplista do bioma caatinga trazida
pelos livros didáticos? Como utilizar tecnologias, de forma
1. Introdução a enriquecer o conhecimento sobre a biodiversidade da
caatinga de forma contextualizada à realidade? Partindo
A riqueza de organismos, sejam eles animais, desse questionamento, o objetivo do presente trabalho foi
vegetais, fungos ou demais seres vivos, é denominada despertar o interesse dos educandos pela biodiversidade
biodiversidade. Esta tem nos biomas brasileiros o da caatinga por meio de registros fotográficos.
ambiente ideal de expressão das inter-relações ecológicas,
devido à variedade climática e dos demais componentes 2. Materiais e Métodos
biofísicos existentes. Entre os referidos biomas, a caatinga
é mais conhecida por características como baixos índices 2.1 Proposta de atividade
pluviométricos, altas temperaturas e precárias condições
de vida humana em detrimento da riqueza de vegetais As práticas aconteceram como proposta
e animais adaptados a este ecossistema, principalmente complementar às aulas de Biologia da 2ª série do Ensino
plantas xerófilas (NASCIMENTO; MACHADO; Médio Regular (noturno) do Colégio Estadual Prof. João
DANTAS, 2015). Esse limitado conhecimento pode estar de Oliveira, localizado na cidade de Poço Verde/SE. Foi
relacionado às informações insuficientes trazidas pelos solicitado aos educandos que fotografassem, com seus
livros didáticos que, em sua maioria, são editados em aparelhos celulares, organismos encontrados em diferentes
outras regiões do país. locais do município, tanto na zona rural, quanto na urbana.
Matos e Landim (2014), ao analisarem o conteúdo Os discentes foram divididos em grupos, de forma a
de livros didáticos adotados por escolas públicas do Estado abranger temáticas distintas, escolhidas de acordo com a

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  29 


preferência dos componentes. Nesse contexto, por se tratar outros. Com a exposição das fotos, foi possível observar
de uma atividade complementar relacionada às unidades a curiosidade dos demais estudantes em aprofundar
de conteúdo, a pesquisa foi conduzida por um bimestre o conhecimento sobre o nicho ecológico daqueles
letivo, entre os meses de agosto a outubro de 2017. organismos, dos quais muitos já eram conhecidos por
eles, além de poder aplicar os conceitos de Taxonomia
2.2 Trabalho de campo aprendidos durante as aulas regulares de Biologia. Do
ponto de vista pedagógico, o protagonismo discente
A pesquisa de campo foi conduzida e organizada possibilitado por essa prática ofertou um maior
pelos próprios educandos, em contraturno às atividades envolvimento e interesse pela temática, fazendo com que
de aula, de acordo com as possibilidades, pois se tratavam os conteúdos abordados durante as aulas fossem aplicados
de alunos matriculados no turno noturno, que trabalham à realidade, como também permitiu o conhecimento e
em período contrário. Com isso, foram fotografados valorização do bioma em que estão inseridos.
cerca de 60 organismos, que variaram entre fungos,
insetos, aracnídeos, plantas e aves. As fotografias foram
selecionadas junto às duas turmas envolvidas na pesquisa
e os organismos foram identificados, primeiramente,
a nível de nomes populares, habitat e nicho ecológico.
Posteriormente, contou-se com o auxílio de especialistas
em taxonomias animal e vegetal para identificar, de
maneira básica, as espécies estudadas.

2.3 Exposição

A fim de possibilitar a divulgação dos trabalhos


e promover a interação com os demais estudantes do Figura 1. Inseto da Família Syrphidae
Fonte: Jaqueline Santana, 2017
colégio, as imagens foram expostas em painéis espalhados
por locais de grande circulação no ambiente escolar, a
exemplo dos corredores e espaços de convivência. Durante
três semanas, as fotografias foram expostas e a cada uma
delas a temática do evento modificava, sendo substituídas
as fotografias anteriores por novas, que expunham outros
grupos de seres vivos. Junto a cada fotografia estava a ficha
de identificação que continha dados da espécie, local onde
foi fotografada, autor e data, além de informações acerca
do nicho ecológico que trata do modo de vida como cada
organismo interage com o ecossistema.

3. Resultados e Discussão

Nas fotografias selecionadas, pôde-se observar


grande variedade de espécies, como insetos (Figura 1), Figura 2. Ipomoea nil – Convolvulaceae
plantas (Figura 2), aracnídeos (Figuras 3 e 4), dentre Fonte: Joana Aparecida Rabelo, 2017

30 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


interajam com os processos de ensino-aprendizagem não
mais como espectadores, e sim como protagonistas do seu
aprendizado”. A exemplo dessa prática, a aprendizagem
pôde se tornar significativa, pois possibilitou que a
realidade do seu lugar pudesse vir à tona entre os
conteúdos curriculares comuns, fazendo com que o
discente pudesse ver seu cotidiano abordado e seu
conhecimento de mundo valorizado.
A possibilidade de reunir tecnologias, hoje tão
presentes no cotidiano escolar, como os smartphones,
pode ser uma forma de associar esses elementos ao
Figura 3. Escorpião amarelo - Tityus serrulatus
desenvolvimento da aula, ofertando possibilidades que
Fonte: José Cláudio Trindade Júnior vão de encontro aos entraves estabelecidos entre tais
tecnologias e as práticas pedagógicas tradicionais de
ensino, que não admitem tal protagonismo. Dessa forma,
o processo de ensino-aprendizagem torna-se interativo
e fornece elementos para a ativa participação discente,
onde o educando interage e traz recursos que enriqueçam
a discussão sobre o conteúdo curricular e permita ao
professor a reflexão sobre sua prática e, assim, avalie-a
com múltiplos recursos.

Conclusão

Associar as tecnologias utilizadas pelos


educandos em atividades relacionadas ao conteúdo que
está sendo desenvolvido pode ser um meio eficaz para
despertar o interesse dos estudantes à temática trabalhada.
Figura 4. Aranha de prata - Argiope argentata As fotografias revelaram uma biodiversidade antes oculta,
Fonte: Daniel Victor Vieira
até mesmo para os que convivem diariamente com essa
Com as atividades de campo, os discentes realidade, indo além das plantas xerófilas, tão comum
puderam observar com mais precisão os organismos nos livros didáticos, e que sequer foram registradas. De
componentes da biodiversidade local. Do mesmo modo, igual maneira, a inserção de componentes que estejam
o fato de estarem munidos do celular para capturar relacionados ao cotidiano discente mostra-se importante,
as imagens pôde iniciar o educando à condição de pois dota de sentido e amplia a apreensão dos conteúdos
pesquisador, estimulando o prazer pelas atividades de desenvolvidos em sala de aula, uma vez que os estudantes
pesquisa, pelo simples fato dos discentes terem construído começam a visualizar a aplicação dos conteúdos curriculares
o conteúdo a ser exposto durante a aula, fazendo-se, à sua realidade. Assim, estimular a participação discente
assim, parte do processo. por meio do uso de instrumentos presentes no cotidiano,
Para Santos, Melo e Souza e Costa (2017), como o celular, e incentivar a observação do entorno pode
é necessária, na escola, “[...] uma prática que abranja incentivar a construção de conhecimentos acerca do bioma
características locais, que permitam que os educandos caatinga, estimulando a autonomia.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  31 


Referências

MATOS, Elaine Cristine do Amarante; LANDIM, Myrna. O


bioma caatinga em livros didáticos de Ciências nas escolas
públicas do alto sertão sergipano. Alexandria, Florianópolis, v.7,
n.2, p. 137-154, nov. 2014.
NASCIMENTO, Eliane Oliveira do; MACHADO, David Dias;
DANTAS, Marcelo Campêlo. O bioma caatinga é abordado
de forma eficiente por escolas no semiárido? Revista Didática
Sistêmica, Rio Grande, v. 17, n. 1, p. 95-105. 2015.
SANTOS, Luiz Ricardo Oliveira; MELO e SOUZA, Rosemeri;
COSTA, Jailton de Jesus. A metodologia da problematização
no contexto da educação básica: possíveis caminhos para a
formação de reeditores ambientais. Cadernos de Estudos e
Pesquisa na Educação Básica, Recife, v. 3, n. 1, p. 257-274. 2017.

32 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Resumo. Os estudantes do Colégio Estadual Edélzio Vieira documentos oficias (BRASIL, 2000) e em grupos de
de Melo, assim como toda a população da cidade de Capela/ pesquisa (SANTOS e MORTIMER, 1999; LUTFI, 1998),
SE, convivem com o ônus e o bônus da atividade canavieira. como a contextualização e a interdisciplinaridade.
Neste sentido, foi proposta uma intervenção interdisciplinar A escolha do tema a ser trabalhado se deu pelas
com o objetivo de inserir no contexto educacional as interações construídas com uma turma de terceiro ano do
problemáticas ambientais, sociais, econômicas, éticas e ensino médio do CEEVM, através do estudo de fontes de
políticas, que são comumente encontradas na região. O energia. Nesta oportunidade, as questões que envolvem
trabalho, que tem como tema gerador a cana-de-açúcar, a substituição dos combustíveis fósseis por outras
iniciou-se com um levantamento bibliográfico sobre a tecnologias menos poluentes permitiram apresentar aos
questão histórica-geográfica. O cálculo da contribuição alunos três questões motivadoras a serem pesquisadas. A
da atividade, para a composição do Produto Interno cana-de-açúcar apareceu com maior ênfase nas respostas
Bruto por Pessoa (PIB per capita) da cidade e do estado dadas pelos estudantes e se constituiu num tema de
foi contemplado, assim como a discussão sobre a presença trabalho relevante para a comunidade, visto que, na cidade
de metais e organoclorados, em córregos próximos às de Capela e seu entorno, a atividade de cultivo, manejo e
áreas de cultivo. Outro fator importante é a queima da beneficiamento do produto constitui uma das bases da
palha seca, que libera toneladas de gases para atmosfera, economia. Quase a totalidade da turma tem algum amigo,
como o dióxido de carbono (CO2). Por fim, foi proposto parente ou vizinho que trabalha, direta ou indiretamente,
aos aprendizes praticarem a elaboração da autoria, com a com atividades relacionadas à indústria do açúcar/álcool.
confecção de um cordel. Além disso, o assunto é explorado nas avaliações oficiais,
como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
1. Introdução O objetivo geral do trabalho foi de utilizar a
cana-de-açúcar como tema gerador para ensinar
Diferentes pesquisadores têm discutido a ciências por uma perspectiva interdisciplinar e tendo
importância de introduzir no dia-a-dia da escola novas a contextualização como ferramenta para conectar os
perspectivas de ensino/aprendizagem, principalmente as campos do conhecimento. Para testar a hipótese do
vinculadas às situações da vida e para vida do aprendiz, uso da interdisciplinaridade como perspectiva para
ou seja, questões do cotidiano. No entanto, é preciso ficar ensinar ciências, solicitamos as alunas e aos alunos
claro que não se trata de citar exemplos no início ou no fim que escrevessem e exercitassem a autoria, através da
da aula como algo ilustrativo, para dar ênfase ou chamar construção de uma espécie de cordel, que chamamos de
a atenção para um aspecto do conteúdo trabalhado. É “cordel da cana”.
preciso ir mais fundo. No intuito de promover a inserção de
problemáticas, essencialmente vividas pela comunidade
do Colégio Estadual Edélzio Vieira de Melo (CEEVM),
do município de Capela no estado de Sergipe, utilizamos
procedimentos metodológicos que são defendidos nos

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  33 


2. Materiais e Métodos • ciências da natureza e suas tecnologias – presença
de contaminantes, como metais e organoclorados,
Durante as aulas sobre fontes de energia, em córregos próximos as áreas de cultivo da cana-
incluídas no planejamento curricular do primeiro de-açúcar (CORBI et al, 2006) e a queimada da
bimestre, nas turmas de terceiro ano do ensino médio, as palhada, antes da colheita (RONQUIM, 2010);
questões que envolvem a substituição dos combustíveis • ciências humanas e suas tecnologias –
fósseis por tecnologias menos poluentes, permitiram levantamento bibliográfico da questão histórica e
apresentar aos alunos três questões motivadoras a serem geográfica que levou a implantação da atividade
pesquisadas: na região, inclusive com dados sobre a escravidão
e a presença de quilombos no Vale do Cotinguiba,
• quais os impactos provocados pela agroindústria
durante o século XIX (OLIVEIRA, 2015);
da cana-de-açúcar?
• linguagens, códigos e suas tecnologias – praticar
• quais os impactos provocados pela implantação de
a elaboração da autoria, baseando-se em Orlandi
um parque eólico?
(1996), que afirma que aprender a se representar
• quais os impactos provocados pela construção de
como autor é assumir, diante da escola e fora dela,
uma usina termelétrica?
um papel social;
Para o encaminhamento da pesquisa • matemática e suas tecnologias – entender a
bibliográfica, que teve como base o banco de dados da contribuição da atividade sucroalcooleira, para a
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), composição do Produto Interno Bruto por pessoa
pedimos que o foco principal fosse na região nordeste e (PIB per capita) de Sergipe (LOPES, 2014).
em especial no estado de Sergipe. Foi dado um prazo de
uma semana para que os grupos, compostos cada um por Para facilitar a organização das tarefas e a orientação
seis alunos, apresentassem os resultados encontrados. Os dos professores, dividimos a proposta por campos do
relatos deveriam destacar os aspectos sociais, econômicos, conhecimento, com destaque para os conteúdos e os
ambientais e éticos envolvidos no uso destas tecnologias. referenciais a serem utilizados pelos docentes:
No encontro, os alunos descreveram oralmente o que Para avaliar a profundidade dos trabalhos
observaram. Foi fácil perceber uma maior familiaridade desenvolvidos, antes do seminário uma mostra dos
com a problemática que envolve a cana-de-açúcar. Neste resultados foi realizada, tendo uma abordagem bem
contexto, foi construída uma abordagem contextualizada simples, ou seja, foi construído um “varal” com a descrição,
e com ênfase na perspectiva interdisciplinar, tendo como em uma folha, dos dados encontrados.
culminância final um seminário e a confecção de um
cordel, que chamamos, simplificadamente, de “cordel da 3. Resultados e discussão
cana”. A primeira parte da ação (seminário) aconteceu
somente com a turma e os professores, mas a segunda A pesquisa bibliográfica (PB) do rigor acadêmico
teve a exposição dos resultados aos interessados. tem como característica principal o estímulo a
O intuito desta atividade foi de divulgar o leitura e ao fichamento de um conteúdo teórico que
conhecimento científico com a comunidade escolar, para visa, principalmente, dar sustentação ao trabalho.
que os professores pudessem refletir sobre novas formas Acreditamos que qualquer área do conhecimento exige
de ensino, e os alunos de conhecerem outros caminhos uma PB antes da construção de um trabalho, mas esta se
para a aprendizagem. torna essencial quando envolve a educação básica, pois
representa um segmento que carece de novas atitudes de
ensino/aprendizagem e que venha a romper com o ensino

34 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


tradicional (tecnicista e racionalista). Freire (2001, p.32) que o professor deve ser um pesquisador que constrói
afirma que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem e reconstrói seu projeto pedagógico, ou seja, é preciso
ensino”. Nesse contexto, o professor deve respeitar os produzir ou reelaborar o material didático, buscando
saberes dos educandos adquiridos em sua história, assim sempre inovar a prática em sala de aula.
como estimular a curiosidade, instigar à observação e o A PB feita pelos grupos de trabalho e conduzida
questionamento para elaborar hipóteses. pelos professores, segundo o referencial cientifico
Com posse dos dados recolhidos da BDTD, foi proposto pelo tema gerador da cana-de-açúcar, resultou
selecionado o tema da cana-de-açúcar, devido a uma na separação das TD por campo do conhecimento,
maior identidade com a região em que se encontra a segundo a tabela 2.
escola. A tabela 1 relaciona a PB feita pelos estudantes. A Campos do Resultados da
Conhecimento Pesquisa
preocupação foi de utilizar a BDTD como fonte principal de
pesquisa, e se deu pela forma de tratamento dos conteúdos Pesticidas no alto do rio Poxim e os riscos de
Ciências da Natureza contaminação;
que permite associar os saberes trazidos pelos alunos e e suas Tecnologias Influência do cultivo da cana-de-açúcar nas nascentes do
alto e baixo rio Japaratuba;
comparar com o rigor cientifico da academia. No entanto,
estimulamos a conexão dos saberes/conhecimentos, mas Ciências Humanas
Do latifúndio e do agronegócio: as novas territorialidades
do capital no campo sergipano e as formas em que se
sem valorizar ou subjugar um ou outro. e suas Tecnologias reveste o domínio do senhor ao escravo;
Assentados e não assentados no povoado Boa Vista,
Capela/SE: sustentabilidade e pequena propriedade;
Grupos Resultados da Pesquisa
Matemática e suas Efeitos de estresses bióticos sobre os parâmetros
Assentados e não assentados no povoado Boa Vista, Capela/SE: Tecnologias ecofisiológicos e componentes de produção de quatro
sustentabilidade e pequena propriedade/(RIBEIRO JÚNIOR, A. E. P., variedades de cana-de-açúcar;
1
2010); http://bdtd.ufs.br/handle/tede/1313 Eficiência de uso da água no cultivo de cana-de-açúcar, 1ª
Do latifúndio e do agronegócio: as novas territorialidades do capital no folha, em diferentes épocas de plantio;
2 campo sergipano e as formas em que se reveste o domínio do senhor ao
escravo/(DE OLIVEIRA, S. S, 2011); Linguagens, Códigos Plano de gestão sustentável dos resíduos na agroindústria
http://bdtd.ufs.br/handle/tede/2218 e suas Tecnologias canavieira em Sergipe;
Plano de gestão sustentável dos resíduos na agroindústria canavieira em Das interfaces do projeto de irrigação de fruticultura platô
3 Sergipe/(DA CRUZ, I. S., 2011); http://bdtd.ufs.br/handle/tede/1119 de Neópolis ao agronegócio da cana-de-açúcar
Pesticidas no alto do rio Poxim e os riscos de contaminação
4 (BRITO, F. B., 2011); http://bdtd.ufs.br/handle/tede/382
Influência do cultivo da cana-de-açúcar nas nascentes do alto e baixo rio
5 Japaratuba/(LIMA, J. F. dos S., 2013); Tabela 2. Separação das Teses e Dissertações por Campos do Conheci-
http://bdtd.ufs.br/handle/tede/1136 mento, tendo a cana-de-açúcar como tema gerador
Efeitos de estresses bióticos sobre os parâmetros ecofisiológicos e
6 componentes de produção de quatro variedades de cana-de-açúcar/(DA A construção da tabela 2 teve o intuito de
SILVA, F. L. S., 2015); http://bdtd.ufs.br/handle/tede/2761
Das interfaces do projeto de irrigação de fruticultura platô de Neópolis demonstrar a importância do papel do professor na condução
7 ao agronegócio da cana-de-açúcar/(VASCONCELOS, J. S. de O., 2015);
http://bdtd.ufs.br/handle/tede/3112
do trabalho, seja para contribuir na superação do senso
Eficiência de uso da água no cultivo de cana-de-açúcar, 1ª folha, em comum ou estimular o rigor cientifico da investigação. No
8 diferentes épocas de plantio/(DE CARVALHO, T. B., 2016);
http://bdtd.ufs.br/handle/tede/3085 entanto, não desprezamos o respeito ao contexto e à situação
Tabela 1. Pesquisa Bibliográfica através da Biblioteca Digital de Teses e cultural em que estão inseridos os aprendizes.
Dissertações (BDTD), para o tema cana-de-açúçar O espaço da sala de aula que mantém o professor
apenas como transmissor de conhecimentos precisa
A seleção das teses/dissertações (TD) a serem ser repensado e transformado. Portanto, é fundamental
utilizadas pelos grupos seguiu uma ordem cronológica. desenvolver o trabalho em equipe e perseguir a valorização
Ainda assim tivemos a preocupação de propor uma da cidadania, com o uso do pensamento crítico para
escolha que promovesse a relação entre as disciplinas e contestar situações que são hegemônicas na escola a
favorecesse a contextualização dos conteúdos, respeitando muito tempo. Concordamos novamente com Demo
as problemáticas de cada trabalho encontrado na PB. (2007) ao levantar a questão de que a base da educação
Contudo, concordamos com Demo (2007) ao afirmar escolar é a pesquisa, pois só o conhecimento é capaz de

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  35 


intervir de forma competente, crítica e inovadora para Santos e Mortimer (2010) destacou, de forma
transformar a realidade: crítica, que a contextualização no ensino de ciências tem
[...] não é possível sair da condição de objeto sido abordada na escola erradamente, onde esbarra na
(massa de manobra), sem formar consciência forma tradicional do professor em ensinar, com destaque
crítica desta situação e contestá-la com iniciativa para a memorização de conteúdos, cálculos matemáticos e a
própria, fazendo deste questionamento o caminho preocupação com fixação de nomes de compostos químicos:
de mudança. Aí surge o sujeito, que o será tanto A contextualização esteve presente em todas as
mais se, pela vida afora, andar sempre de olhos etapas de nossa proposta de trabalho, ou seja, desde a
abertos, reconstruindo-se permanentemente PB até a culminância e que envolve a prática da autoria
pelo questionamento. Nesse horizonte, pesquisa e com a literatura de cordel, manifestação artística
educação coincidem, ainda que, no todo, uma não tipicamente nordestina.
possa reduzir-se à outra (p. 8). A escolha do cordel se deu pela linguagem
informal, com humor, sarcasmo, ironia e que é tão
Das diversas abordagens, a contextualização presente nas manifestações dos estudantes. Portanto,
e a interdisciplinaridade têm se mostrado eficientes o uso de rimas, da métrica e da oralidade permitem
para inserir no contexto educacional as problemáticas discutir e refletir a realidade social, sem abrir mão do
ambientais, sociais, econômicas, éticas e políticas, pensamento científico.
que são comumente encontradas na região. Essas A interdisciplinaridade (ID), como perspectiva
abordagens podem contribuir para que os aprendizes de trabalho no ensino de ciências, facilita a integração
contestem a realidade em que vivem e possam entre as diferentes áreas do conhecimento, promovendo
transformá-la para melhor. a interação entre o aluno e o professor. Mas para que a ID
ocorra é preciso tornar as disciplinas comunicativas entre
3.1 A Contextualização e a Interdisciplinaridade si. De acordo com Brasil (1999), a interdisciplinaridade é
importante pois
Diferentes grupos de pesquisa, assim como os [...] o ensino de ciências, na maioria de
pesquisadores Santos e Mortimer (1999), têm alertado nossas escolas, vem sendo trabalhado de
para o equívoco que alguns professores da educação básica forma descontextualizada da sociedade
têm feito com os termos contextualização e cotidiano, e de forma dogmática. Os alunos não
muitas vezes sendo utilizados como sinônimos. conseguem identificar a relação entre o que
Os autores defendem a contextualização abordando estudam em ciência e o seu cotidiano e, por
o ensino de ciências/química, através de uma relação com isso, entendem que o estudo de ciências se
o contexto econômico, social, cultural e político, no intuito resume a memorização de nomes complexos,
de formar indivíduos para exercitar a cidadania com classificações de fenômenos e resolução de
abordagens contextualizadas sobre ciência e tecnologia, problemas por meio de algoritmos (p.4).
além de favorecer o desenvolvimento de atitudes e valores
que contribuirão para a tomada de decisões. A ID não cria novas disciplinas ou saberes,
A conclusão que os autores chegaram foi a de mas utiliza os conhecimentos de várias disciplinas para
que os professores entendiam a contextualização como resolver um problema ou compreender um determinado
uma descrição científica de fatos e processos envolvidos fenômeno sob diferentes pontos de vista. Sendo assim,
no cotidiano do aluno, mas sem muita profundidade fica mais fácil compreender a ID levando em conta o
para criar atividades que levem a reflexão crítica sobre diálogo permanente que existe entre as disciplinas,
problemas reais.

36 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


[…] não dilui as disciplinas, ao contrário, A combinação das duas atitudes,
mantém sua individualidade. Mas integra as contextualização e interdisciplinaridade, vislumbra
disciplinas a partir da compreensão das múltiplas novos caminhos para discutir na escola questões afro-
causas ou fatores que intervêm sobre a realidade descendentes, por exemplo, visto que a cidade é campo
e trabalha todas as linguagens necessárias para a histórico de mão-de-obra escrava.
constituição de conhecimentos, comunicação e
negociação de significados e registro sistemático Referências
dos resultados (p. 89). BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média
e Tecnológica (Semtec). Parâmetros Curriculares Nacionais para o
O que buscamos com esse trabalho foi propor Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec, 2000.
um ensino pautado na prática interdisciplinar, formando CORBI, J. J. et al. Diagnóstico ambiental de metais e organoclorados em
córregos adjacentes a áreas de cultivo de cana-de-açúcar (Estado de São
estudantes com uma melhor visão de mundo e tendo Paulo, Brasil). Química Nova, p. 61-65, 2006.
a possibilidade de contextualizar os conhecimentos DEMO, Pedro. Educar Pela Pesquisa. 8 ed. Campinas: Autores
adquiridos. Associados, 2007.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
Conclusão LOPES, R. C. et al. Efeitos do investimento em capital físico e humano
no crescimento econômico local: uma análise para os municípios do
A familiaridade dos estudantes com a Estado de Sergipe. 2014.
problemática que envolve a cana-de-açúcar foi um LUTFI, M. Cotidiano e educação em química: os aditivos em alimentos
como proposta para o ensino de química no segundo grau. Ijuí: Unijuí,
facilitador para aproximar o conhecimento científico com 1988.
os saberes trazidos pela convivência em comunidade, OLIVEIRA, I. F. de. “Por não querer servir ao seu senhor”: os quilombos
visto que muitos deles têm na atividade canavieira uma volantes do Vale do Cotinguiba (Sergipe Del Rey, século XIX). 2015.
realidade cotidiana. RONQUIM, C. C. Queimadas na colheita da cana-de-açúcar: impactos
ambientais, sociais e econômicos. Embrapa Monitoramento por
O trabalho encontra-se em fase de finalização, Satélite-Documentos (INFOTECA-E), 2010.
com os resultados da interação entre as disciplinas sendo SANTOS, W.L.P. e MORTIMER, E.F. Concepções de professores sobre
catalogadas para o seminário. A confecção do cordel contextualização social do ensino de química e ciências. In: REUNIÃO
abre novas possibilidades de trabalho, pois valoriza a ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 22, 1999.
Anais. Poços de Caldas: Sociedade Brasileira de Química, 1999.
oralidade, a autoria e a cultura popular. SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Tomada de decisão para ação
A utilização da interdisciplinaridade, tendo um responsável no ensino de ciências. Ciência e Educação, Brasília, DF,
tema gerador muito presentre nas avaliações oficiais, v.7, n.1, p.95-111, 2001. Disponível em: <http://www2.fc.unesp.br/
motivou os alunos à pesquisa. Apesar do pouco contato cienciaeeducacao/viewarticle.php?id=115>. Acesso em: 06 out. 2010.
que os estudantes têm com a PB, a presença dos professores
para conduzirem à coleta dos dados contribuiu para a
seleção das teses/dissertações pelos grupos.
A contextualização com o envolvimento de
aspectos econômicos, éticos, ambientais, sociais e politicos
não só permitiu aos alunos uma nova abordagem do coteúdo,
como também possibilitou aos professores modificarem a
proposta de ensino, caucada no tradicionalismo e com o
livro didático como principal fonte.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  37 


Resumo. A usina termoelétrica é uma instalação 2. Materiais e Métodos
industrial na qual a energia elétrica é produzida a partir
da combustão de produtos combustíveis, como o carvão, O projeto foi desenvolvido por estudantes
óleo combustível, gás natural ou biomassa. O Estado de do 3° Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual
Sergipe terá em funcionamento em 2020 a maior usina Deputado Guido Azevedo. Nesse trabalho, os discentes
termoelétrica do país, com capacidade de atender cerca apresentaram dois experimentos de conversão de
de 15% da demanda por energia no Nordeste. Assim, é energia térmica em elétrica na sala de aula. As atividades
importante discutir com os alunos essa forma de produção foram solicitadas pelo professor para a discussão do
de energia elétrica. Para tal, foi proposto aos discentes que tema Produção de Energia.
apresentassem experimentos sobre o tema. Nesse trabalho, No primeiro, observaram a corrente elétrica
os discentes exibiram dois experimentos de conversão de produzida a partir de duas junções de fios condutores de
energia térmica em elétrica. diferentes metais quando estão a distintas temperaturas
(Figura 1). Foram utilizados arrames, fios de cobre,
1. Introdução recipiente com água, fonte de calor e multímetro.

Diante da expansão constante das economias
mundiais e do crescimento populacional, a demanda
global de energia vem aumentando a um ritmo acelerado.
Para reduzir os impactos dessa necessidade, deve-se
apresentar uma participação maior das distintas formas
de produzir energia elétrica (LELLIS et al, 2016).
No Brasil, a maior parte da energia elétrica é
produzida nas usinas hidroelétricas. No período de falta
de chuvas, principalmente no Nordeste Brasileiro, os
níveis de água nas represas das hidrelétricas registram
diminuição expressiva, resultando em significativa redução
na produção de energia elétrica. O país tem algumas Figura 1. Esquema do experimento do Efeito Seebeck.
termoelétricas que são utilizadas em situações nas quais as
hidroelétricas não atendem toda a demanda, como nesses Os fios de cobre e o arrame foram enrolados nas
períodos de seca (MARTINS e FREITAS, 2015). pontas, formando as junções cobre/ferro. Uma junção
A proposta deste projeto é apresentar dois foi colocada em um recipiente com água e gelo e a outra
experimentos: a produção de uma mini usina termoelétrica junção na chama de uma vela. Com o auxílio de um
e o Efeito Seebeck, para discutir a conversão de energia multímetro, mediu-se a corrente elétrica gerada.
térmica em energia elétrica de forma contextualizada.

38 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


No segundo experimento, demonstraram uma
mini termoelétrica fabricada com materiais recicláveis,
como lata de alumínio, arrames, motor de aparelho DVD
e seringas (Figura 2).

Figura 3. Execução do experimento do Efeito Seebeck na sala de aula.

O Efeito Seebeck deve-se à movimentação dos


elétrons livres dos metais da junção quente para a junção
fria proporcionando a tensão elétrica, medida com o
auxílio do multímetro. Assim, os níveis de energia dos
elétrons em cada metal mudaram de forma diferente e
uma diferença de potencial entre as junções criou uma
corrente elétrica e, portanto, um campo magnético em
torno dos fios. O Efeito Seebeck depende dos materiais
utilizados e da diferença de temperatura, quanto maior a
Figura 2. Esquema da mini usina termoelétrica.
variação, maior corrente será produzida (SOUZA, 2013).
Conforme visto na Figura 2, para a produção O segundo experimento foi a produção de uma
da mini usina, foi preparado um suporte para a lata mini usina termoelétrica (Figura 4). A usina é utilizada
de refrigerante. No suporte de madeira com pregos, para a geração de energia elétrica a partir da energia
é colocada uma fonte de calor, nesse experimento liberada por materiais que possam gerar calor, tais como
utilizou-se um recipiente de metal com álcool. A lata óleo diesel, gás natural, madeira.
de refrigerante deve ter um pequeno orifício na frente
e certa quantidade de água. Com o aquecimento da lata,
a água vaporizará e fará com que o motor de DVD gire
suas hélices e produza energia elétrica. Posicione o motor
de DVD de forma que suas hélices se movimentem com
o vapor que sai da lata de refrigerante. Para adicionar
água na lata, foi usada uma seringa.

3. Resultados e discussão

O experimento do Efeito Seebeck foi realizado
com materiais simples. Com esse, foi possível identificar
o aparecimento do potencial elétrico quando a junção
de metais condutores foi submetida a uma diferença de Figura 4. Experimento da mini usina termoelétrica em funcionamento
temperatura, conforme demonstrado na Figura 3. da sala de aula.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  39 


Para a produção de energia elétrica, a água é
colocada na lata de refrigerante e aquecida. A lata tem
apenas um orifício pequeno, é aquecida e após certo
tempo, inicia a saída de vapores de água. Um motor de
aparelho DVD é posicionado para girar com a força do
vapor liberado. Com o funcionamento do motor, pode-
se conectar um multímetro em seus fios para medir a
corrente elétrica produzida.
A utilização desses procedimentos experimentais
oferece a discussão de fontes de produção energia
elétrica, conversão de energia, necessidade energética no
país, vantagens e desvantagens da termoelétrica, além de
trabalhar com uma forma de produção de energia que
será produzida em breve no Estado de Sergipe.

Conclusão

Este trabalho apresenta procedimentos
experimentais com materiais simples e de fácil acesso que
docentes e discentes poderão reproduzir em suas escolas,
mesmo as que não apresentam laboratórios de Ciências.
Desta forma, com estas atividades, pode-se
discutir o tema conversão de energia térmica em energia
elétrica de forma contextualizada com participação ativa
dos alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Referências

LELLIS, M. DE; MENDONÇA, A. K.; SARAIVA, R.; TROFINO, A.;


LEZANA, Á. Electric power generation in wind farms with pumping
kites: An economic analysis. Renewable Energy, 86, 2016.
MARTINS, J. C. V.; FREITAS, S. N. L. Aspectos sociambientais de uma
usina termelétrica no Rio Grande do Norte. Anais do IV SINGEP, São
Paulo – SP, 2015.
SOUZA, R. F. Caracterização do Efeito Seebeck em junções heterogêneas
de óxido de cobre. Anais do VIIIEPCC, Maringá-PR, 2013.

40 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Resumo. É de conhecimento geral que a queima de emissão de resíduos poluentes, alternativo ao uso de
combustível fóssil é altamente poluente e traz grandes combustíveis fósseis, a exemplo do gás natural.
prejuízos ao meio ambiente. Nessa perspectiva, o presente O biogás é um gás incolor, altamente
trabalho propõe o uso do biogás como combustível combustível, de alto poder calorífico e queima com um
sintetizado por processos biológicos, alternativo ao uso de mínimo de poluição. Obtido a partir da fermentação
combustíveis fósseis como o gás natural. Para a execução anaeróbia de dejetos animais, de resíduos vegetais e
deste trabalho, utilizamos como método a decomposição da de lixo residencial. É uma mistura gasosa combustível,
matéria orgânica pela ação de microrganismos anaeróbios composta basicamente de dois gases, o metano (CH4),
para a produção de biogás. Como matéria prima, foram que representa 60-70% da mistura, e o gás carbônico
usados os rejeitos orgânicos produzidos na cozinha do (CO2) que representa os 40-30%. Havendo ainda
Centro de Excelência Maria das Graças de Azevedo Melo, outros gases como o nitrogênio (N2), hidrogênio (H2)
local onde foi desenvolvido o referido projeto. e gás sulfídrico (H2S) que participaram da mistura em
proporções menores (COMASTRI FILHO, 1981).
1. Introdução O metano (biogás) é produzido por meio de
processos biológicos de fermentação anaeróbia a partir da
O planeta terra, ao longo dos anos, vem sofrendo matéria orgânica na presença de bactérias e isto se faz por
com a ação do homem que explora a natureza de maneira meio de um biodigestor, que transforma esses materiais
predatória ocasionando vários problemas ambientais. em condições anaeróbias, ou seja, na ausência do ar
A poluição das águas e do ar são consequências graves atmosférico (VESPA, 2005). Sendo, esse gás, coletado e
causadas pela interferência humana e compromete a estocado ao longo do processo pelo gasômetro.
qualidade de vida na terra. Pensar sobre a reversão desse Segundo Dos Santos et al (2012), as principais
quadro em face ao nível de devastação a que chegamos reações bioquímicas que ocorrem no processo de
constitui-se em uma ação nobre e cidadã, embora saibamos fermentação anaeróbia e produção de biogás estão
que as condições naturais do nosso planeta dificilmente divididas em: hidrólise, acidogênese, acetogênese e
recobrariam seu perfeito funcionamento. Contudo, nesse metanogênese, nessa última ocorre a conversão do acético
cenário, torna-se imprescindível discutir sobre fontes de em CH4; e do H2 em CH4, sendo esse o metano, o biogás.
energia renováveis e pensar sobre isso é contribuir para a O uso do biogás como fonte energética
sustentabilidade do nosso planeta, visto que a produção alternativa, além de emitir menos poluentes que a queima
de energia limpa contribui diretamente para a melhoria de combustíveis de origem fóssil, tem sua matéria prima
das condições socioambientais do planeta. Partindo dessa para realização do processo proveniente de restos de
compreensão, investir em sustentabilidade torna-se um alimento de origem vegetal, os quais seriam descartados
caminho viável para descontinuar o processo incauto e gerariam um outro fator preocupante e problemático,
iniciado pelo homem. Propõe-se, desta maneira, o biogás, a produção de lixo. O resíduo obtido ao final do seu
combustível sintetizado por processos biológicos, como processo de produção também pode ser aproveitado,
uma alternativa sustentável, eficiente e com menor sendo utilizado como biofertilizante.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  41 


O biofertilizante é o efluente gerado pela 3. Resultados e discussão
biodigestão que, resultado do processo de fermentação
anaeróbia da biomassa de um biodigestor, possui O presente trabalho teve início no mês de maio,
grande importância para a agricultura (BARBOSA; na primeira semana do ano letivo de 2017 do Centro de
LANGER, 2011). Excelência Maria das Graças de Azevedo Melo. Partindo
Comastri Filho (1981) afirma que, após a da sugestão dos professores orientadores de desenvolver
digestão anaeróbica no interior do digestor, os resíduos um projeto de pesquisa com relevância ao cenário
sobrenadantes apresentam alta qualidade (em média socioeconômico atual, os estudantes pesquisadores
apresentam 1,5 a 2,0% de nitrogênio, 1,0 a 1,5% de fósforo trouxeram a proposta da utilização do biogás como
e 0,5 a 1,0% de potássio) para uso como fertilizante fonte alternativa de energia, em substituição ao uso de
agrícola (biofertilizante). Dessa forma, temos um adubo combustíveis fósseis (gás natural).
de origem orgânica, isento de agentes causadores de A Tabela 1 evidencia o cronograma das atividades
doenças e pragas às plantas, reestabelecendo o teor de realizadas para idealização e execução do projeto:
húmus do solo. Tabela 1. Cronograma de atividades.
Maio/2017 - Apresentação da atividade de pesquisa aos educandos;
2. Materiais e Métodos - Proposta do tema biogás pelos educandos.
Maio, junho e - Pesquisa e consulta às referências bibliográficas relevantes à
julho/2017 temática;
O presente trabalho foi realizado por um grupo - Levantamento do material necessário a execução do projeto.
de seis educandos do primeiro ano do Ensino Médio Agosto e - Pesquisa e consulta às referências bibliográficas relevantes à
setembro/2017 temática;
em tempo integral do Centro de Excelência Maria das - Sensibilização das servidoras da escola para separação do material
Graças de Azevedo Melo, localizado no bairro Coqueiral biológico a ser utilizado;
- Montagem do experimento;
do município de Aracaju/SE. As atividades tiveram início - Observação e registro dos resultados;
- Redação do artigo.
em maio de 2017 com a proposta central de apresentar
uma fonte alternativa, menos poluente e sustentável de O experimento foi montado e executado
energia. A sugestão por parte dos alunos foi o uso do utilizando a seguinte metodologia:
biogás para essa finalidade. Foram consultados trabalhos
realizados com a mesma temática em busca de referencial 1° ETAPA – os estudantes pesquisadores, no turno
teórico e informações norteadoras para início e execução matutino, solicitavam às servidoras que trabalham na
do projeto. Após revisão da bibliografia disponível, teve cozinha da escola a separação dos restos vegetais, os quais
início a fase de execução do trabalho. seriam descartados no lixo comum, em baldes plásticos.
O protejo foi realizado com materiais simples, Nessa etapa, os educandos fizeram um trabalho
de baixo custo, com materiais reutilizáveis e com matéria de sensibilização com as servidoras da escola, apontando
orgânica que seria descartada como rejeito: 2 vasilhames os objetivos do trabalho e explicando o destino do
de água mineral com 20 litros de volume e 2 garrafas material biológico. Houve adesão e colaboração de 100%
pet, de refrigerante, com volume igual a 2 litros (esses desses profissionais.
recipientes atuam como os biodigestores); 2 balões de 2° ETAPA – Ao final do almoço, esse material orgânico
borracha utilizados em festas, 2 balões de borracha, era recolhido e depositado nos recipientes de 20 litros e
gigantes; balde plástico; elástico para prender cédulas de nas garrafas pet de 2 litros.
dinheiro; sacolas plásticas utilizadas em supermercado Sempre após o depósito do material orgânico, os
para embalar compras; restos de legumes, verduras e recipientes tinham suas aberturas fechadas com sacolas
frutas; e fezes de animais equinos e bovinos. plásticas (vasilhames de 20 litros) e suas respectivas

42 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


tampas (garrafas pet), evitando o contato com o ar
atmosférico. O ar atmosférico possui 21% de oxigênio
gasoso, O2. Essa substância é indispensável ao processo
de respiração celular realizado pelos organismos
aeróbios, mas é letal aos anaeróbios estritos, como os que
participam dos processos fermentativos para a produção
do biogás, devendo assim evitar o contato direto com o
O2 presente no ar atmosférico.
Nesta etapa, foi possível observar a formação de
bolhas de ar na fase aquosa da mistura, o que evidencia a
produção de gases no processo, resultado da proliferação
e ação fermentativa das bactérias presentes no sistema.
3° ETAPA – Após preenchidos cerca de 1/2 do volume de
cada recipiente com restos de vegetais, foi acrescentado
aproximadamente 1/3 do volume de cada recipiente com
fezes equinas e bovinas, sempre fechando a abertura dos
recipientes após o processo.
Com a adição das fezes, foi observado um
aumento na formação de bolhas, fato explicado pela
presença de bactérias anaeróbias em grande quantidade
nesse material. Esses microrganismos compõem a flora
intestinal de animais equinos e bovinos, realizando
naturalmente o processo fermentativo com produção de
metano (biogás) no trato intestinal desses animais.
4° ETAPA – Ao final do processo descrito nas etapas
anteriores, foram colocados balões de borracha gigantes
nos recipientes de 20 litros, e nos recipientes de 2 litros
balões de borracha comum e fixados com elástico.
A fermentação anaeróbia e formação do biogás é
um processo relativamente lento, embora seja observável
a formação de bolhas no sistema indicativo da produção
dessa substância gasosa, a obtenção em quantidades
satisfatórias para sua utilização ocorre no período médio
de um mês. Sendo assim, a produção ainda é pequena, Figura 1 e figura 2 - Produção de Biogás
porém já se observa nos balões a presença de gás metano
(Figura 1 e Figura 2). Conclusão

Após a realização deste trabalho, podemos
concluir que, por se tratar de um processo biológico
relativamente lento, a produção do biogás em quantidade
utilizável deve ser realizada em um período superior
a trinta dias, embora ainda em pequena quantidade,
proporcional ao sistema utilizado (biodigestor e

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  43 


gasômetro). Para substituir a utilização do gás natural
(gás de cozinha) em uma residência, o sistema utilizado
no processo deve ser construído proporcionalmente à
demanda dessa fonte energética.
Podemos concluir que o biogás (metano –
CH4) é uma alternativa viável ao uso de combustíveis
de origem fóssil. A utilização de produto orgânico,
matéria prima para produção dessa substância, a qual
seria descartada, alinhada ao fato de que todo o resíduo
produzido é aproveitado como adubo orgânico rico em
nutrientes proporcionando bom desenvolvimento de
espécies vegetais cultiváveis, atribui caráter sustentável à
realização desse processo.
No que diz respeito ao aprendizado e vivência
dos estudantes, este projeto foi uma oportunidade para a
construção de um conhecimento necessário não só como
um saber acadêmico, mas também um saber aplicável à
vida dos educandos de maneira positiva. Essa iniciativa
os permitiu vislumbrar outra alternativa para utilização
de resíduos domésticos, não só o descarte como lixo, e
os fez refletir sobre o uso responsável e consciente dos
recursos naturais, bem como uma nova visão da ciência e
seu compromisso com o processo de aprendizagem.

Referências

BARBOSA, George; LANGER, Marcelo. Uso de biodigestores em


propriedades rurais: uma alternativa à sustentabilidade ambiental.
Unoesc & Ciência-ACSA, v. 2, n. 1, p. 87-96, 2011.
COMASTRI FILHO, José Anibal. Biogás: independencia energetica do
Pantanal Mato-Grossense. 53 p. Embrapa Pantanal-Circular Técnica
(INFOTECA-E), 1981.
DOS SANTOS, Kenia Gabriela et al. FERMENTAÇÃO ANAERÓBIA:
UMA ALTERNATIVA PARA A PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO.
Revista Brasileira de Energias Renováveis, v. 1, p. 1-12, 2012.
VESPA, Izabel Cristina Galbiatti. Características minerais e energéticas
do lixo urbano em processos de compostagem e biodigestão anaeróbia.
57 p. Dissertação de Mestrado – Curso de Agronomia - Área de
Concentração em Energia na Agricultura. Faculdade de Ciências
Agronômicas da Unesp - Campus de Botucatu, 2005.

44 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


Resumo. A experimentação desperta o interesse dos alunos utilização de materiais alternativos no ensino de Química
pelas disciplinas de Ciências Naturais devido seu caráter faz com que o aluno produza experimentos com materiais
motivador e lúdico. Deficiência na infraestrutura do de seu cotidiano. A experimentação pode ser investigativa ou
ambiente escolar com frequência é descrita como limitadora demonstrativa, com planejamento adequado à infraestrutura
para a inserção da atividade experimental no processo disponível. Para este tipo de proposta, o professor leva o
de ensino-aprendizagem. As aulas práticas podem ser material necessário para os experimentos ou informa aos
desenvolvidas com materiais simples, acessíveis ao aluno alunos como obtê-los ou produzi-los (VIEIRA et al, 2007).
e que ofereçam contextualização e interdisciplinaridade. No ano passado, foi criado um blog (www.
Este trabalho tem o objetivo de apresentar um canal no quimicacegjaf.blogspot.com) para divulgação de
YouTube para a divulgação de experimentos com materiais experimentos adaptados de Livros Didáticos de
alternativos denominado Química em Areia Branca. Vídeos Química do Ensino Médio com materiais alternativos
de experiências realizadas com materiais alternativos são (SANTOS et al, 2017). Com a finalidade de melhorar
apresentados para que professores e/ou alunos possam a proposta de divulgação de atividades experimentais
reproduzi-las sem dificuldades. que podem ser utilizadas em sala de aula, foi produzido
um canal no YouTube. Desta forma, este trabalho tem
1. Introdução o objetivo de apresentar o canal denominado “Química
em Areia Branca” desenvolvido por alunos do Colégio
As atividades experimentais são práticas Estadual Deputado Guido Azevedo para a divulgação de
promotoras incondicionais da aprendizagem e da experimentos com materiais alternativos.
motivação no processo de ensino-aprendizagem das
Ciências Naturais. O desenvolvimento dos experimentos 2. Materiais e Métodos
deve superar o caráter meramente ilustrativo de
conhecimentos teóricos e criar situações problemas e O projeto foi realizado por alunas bolsistas e
investigações para o melhor conhecimento da Ciência. A voluntárias PIBIC JR do Colégio Estadual Deputado
ausência de laboratórios equipados nas escolas, ou seja, Guido Azevedo dos 2º e 3º Anos do Ensino Médio. Para o
com materiais, reagentes e equipamentos sofisticados, desenvolvimento deste trabalho, as etapas seguidas foram:
não deve ser causa da não realização de experimentos.
* Pesquisa de experimentos em Livros Didáticos de
Essa situação deve ser superada pelos docentes com
Química, endereços eletrônicos e revistas científicas;
criatividade para promover as aulas investigativas e
* Seleção dos experimentos;
práticas (GONÇALVES e MARQUES, 2011).
* Teste de experimentos;
Nesse sentido, há a proposta de utilizar materiais
* Filmagem das atividades experimentais;
diversos para confeccionar instrumentos ou aparelhos (por
* Adequações dos vídeos;
exemplo, destiladores, calorímetros) similares aos disponíveis
* Publicação dos vídeos no canal do YouTube
comercialmente, com potencial para aperfeiçoar e viabilizar
Química em Areia Branca.
as atividades experimentais em escolas sem laboratórios. A

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  45 


Os experimentos foram realizados sob a No canal do YouTube, são apresentados
orientação do docente. Para a gravação dos vídeos, os os materiais que podem ser facilmente adquiridos/
discentes utilizaram seus aparelhos celulares. A edição encontrados e os procedimentos simples e de fácil
dos vídeos foi através do software Windows Movie Maker. reprodução para a realização dos experimentos.
A falta de laboratórios apropriados nas escolas
3. Resultados e discussão é um argumento que alguns professores utilizam
para não conduzirem aulas experimentais. A falta de
Diante dos resultados apresentados infraestrutura, especialmente em instituições públicas de
anteriormente (SANTOS et al, 2017), foi proposto a educação no Brasil, é denominada “situação limite”. Essa é
evolução do projeto com a inserção de vídeos com considerada como barreira aos sujeitos, pois pode inibir
experimentos no YouTube. Esse site tem grande acesso o desenvolvimento de atividades experimentais (FREIRE,
pela população e o canal com divulgação de atividades 2005). Por outro lado, há a possibilidade de realizar
experimentais pode servir para a popularização e experiências, mesmo na ausência de laboratórios, com
incentivo à Ciência. Além disso, os discentes envolvidos materiais alternativos.
encontram-se num ambiente de pesquisa de experimentos A figura 1 apresenta o slogan do canal
para adaptá-los, gravá-los e divulgá-los. Além de “Química em Areia Branca”. Nele, há a presença de
incentivar o estudo de fenômenos ocorridos durante as elementos referentes à Química e à cidade Areia
atividades experimentais, os vídeos divulgados darão Branca, conhecida pelas tradicionais Festas Juninas.
oportunidade a outros estudantes e professores de utilizar A figura 2 apresenta uma fotografia de um vídeo
estes experimentos de fácil manuseio e aquisição em sala divulgado no canal do YouTube.
de aula, sem necessidade de Laboratórios de Ciências.
A produção de vídeos para o canal do YouTube
torna-se uma metodologia colaborativa, pois provoca
a busca de conhecimento nos estudantes que foram
desafiados a participar do projeto e aos alunos que utilizarão
as atividades experimentais após serem divulgadas.
Para ampliar a busca de experimentos, nesse
projeto, utilizaram-se Livros Didáticos de Química, Figura 1. Slogan do canal do YouTube “Química em Areia Branca”.
Endereços Eletrônicos e Revistas Científicas, tais como:
Revista Feira de Ciência & Cultura, Química Nova na
Escola, Química Nova. Após a seleção das atividades,
foram realizados testes e a gravação dos vídeos. Os vídeos
divulgados no canal “Química em Areia Branca” estão
listados a seguir:
* Há espaço vazio na matéria?
* Preparo de soluções
* Diluição de soluções
* Bomba de Hidrogênio
* Produção de sabão
* Produção de desinfetante
Figura 2. Fotografia de vídeo divulgado no Youtube: Produção de
* Pilha com limão Bomba de Hidrogênio.
* Pilha com tomate.

46 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


A utilização de vídeos presentes no YouTube Referências
como recurso didático no ensino de Química possibilita
efeitos positivos no processo educacional, pois o uso BISPO, L. M. C.; BARROS, K. C. Vídeos do YouTube como
de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) recurso didático para o ensino de História. Atos de Pesquisa em
Educação, 11, 3, 2016.
permite ao docente aproximar-se da linguagem e vivência
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 40 ed. Rio de Janeiro: Paz
dos alunos. Além disso, há experiências com resultados e Terra, 2005.
positivos sobre a inserção de vídeos no YouTube como GONÇALVES, F. P.; MARQUES, C. A. A problematização das
instrumento de ensino-aprendizagem. Um exemplo atividades experimentais na educação superior em química:
é a disciplina de graduação “Learning from YouTube” uma pesquisa com produções textuais docentes. Química Nova,
ofertada na Pitzer College (BISPO e BARROS, 2016). 34, 5, 2011.
O site de entretenimento YouTube se SANTOS, D. O.; MUNIZ, D. C.; ROSÁRIO, M. R. Divulgação de
popularizou pelo compartilhamento de vídeos na Experimentos com Materiais Alternativos através de um Blog.
internet. Desta forma, sua utilização para a divulgação Revista Feira de Ciência & Cultura, 4, 6, 2017.
VIEIRA, H. J.; FIGUEIREDO-FILHO, L. C. S.; FATIBELLO-
de experimentos pode ser efetiva e alcançar grande
-FILHO, O. Um Experimento Simples e de Baixo Custo para
quantidade de docentes e discentes. Além disso, pode
Compreender a Osmose. Química Nova na Escola, 26, 2007.
ocorrer interesse maior pela Ciência visto que as
atividades experimentais apresentadas são facilmente
reproduzidas em escolas que não apresentam
laboratórios de Ciências.

Conclusão

A produção de vídeos e divulgação no YouTube


permite criar um banco de dados de experimentos com
materiais simples que podem ser reproduzidos em sala
de aula, sem necessidade de materiais e/ou equipamentos
sofisticados.
Os docentes podem sugerir a observação dos
vídeos para realizar as experiências em casa ou na sala,
como também podem apresentar o conteúdo digital
em suas aulas como ferramenta no processo de ensino-
aprendizagem.
O canal “Química em Areia Branca” possibilitou
aos alunos participantes a atividade de pesquisa
científica com busca, adaptação dos experimentos, além
do incentivo à criatividade com a produção de vídeos
para o canal. Dessa forma, o projeto contribuiu para a
formação dos estudantes participantes e para a melhoria
no processo educacional para os docentes e discentes que
assistiram aos vídeos.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  47 


De um modo geral, a arte faz com que
nossos educandos se desliguem desse “adestramento”
de respostas prontas e passem a pensar, reconstruir,
transformar o meio, seja através da forma dinâmica
(teatro, dança, música, etc.) ou estática (desenho, pintura,
escultura etc.). Sabe-se que, atualmente, o mundo precisa
de seres pensantes e pulsantes. Uma obra de arte é para
ser vivenciada, sentida e não copiada. A falta de contato
com o “humano” torna a violência, o ódio, a ira, a única
forma de expressão das emoções. Não só a apreciação
teatral, mas o teatro na escola é de fundamental
importância por proporcionar aos alunos um trabalho
em equipe, dando-lhes oportunidade de enriquecimento
e desenvolvimento da linguagem oral, da expressão
corporal e da criatividade. O objetivo não é formar o
aluno “ator”, mas dar a oportunidade de desenvolver
habilidades de observação, percepção e criação. Nessa
perspectiva, foi criado a disciplina de Improvisação
teatral no Colégio Estadual Maria das Graças de Menezes
Moura, na cidade de Itabi/SE. Os alunos que participaram
da disciplina estão desde o início do ano letivo fazendo
parte do ensino em tempo integral.
No 1º bimestre foram trabalhadas algumas
técnicas de improvisação teatral, segundo Viola Spolin,
na qual o aluno-ator é o principal protagonista de cada
ação. A cada aula é feito um alongamento e aquecimento
corporal, seguidos de jogos e dinâmicas de grupo com o
intuito de interação entre os alunos. No 2º bimestre foram
abordadas algumas técnicas vocais e o uso da fala em
cena, sendo encerrada a disciplina com a produção de um
espetáculo teatral que aborda a cultura do sertão, uma vez
que a cidade fica no sertão sergipano. A disciplina teve
uma duração de quase 6 meses, tendo alunos dos 1º anos
A, B e C, em um total de aproximadamente 30 alunos.

48 |  Revista Feira de Ciências e Cultura


O resgate da história da nossa escola nos faz
reviver momentos importantes que elucidam vários
questionamentos alçados cotidianamente. Nesse resgate,
podemos unir diferentes áreas do conhecimento, tais
como: História, Arte e Português. Nessa perspectiva, foi
criada a peça teatral “Repintando o sete” (https://www.
youtube.com/watch?v=bqbPYsnpijM), que resgata,
unindo o poético ao real, a história de idealização e
criação do Centro de Educação Básica Auxiliadora
Paes Mendonça. Tal trabalho objetivou, em caráter
interdisciplinar, retratar a história do centro com base nas
informações e conclusões extraídas do projeto “O sonho,
uma história e minha escola” realizado na instituição com
alunos do 8º ano em 2017.
No processo criativo da peça, produzida pelos
alunos do 9º ano, são recriadas apresentações de teatro,
oficinas que fizeram parte do “Projeto Pintando o Sete”,
primeiro projeto idealizado e executado pela Fundação
Pedro Paes Mendonça voltado para a juventude de
Serra do Machado, Ribeirópolis/SE. A ideia foi recriar
apresentações que fizeram parte do projeto implementado
na mesma comunidade. Com esse trabalho, os alunos
tiveram a oportunidade de adquirir conhecimento sobre
pesquisa histórica, gênero dramático e performance.
Esse conhecimento possibilitou o resgate da história da
instituição e reconhecimento do impacto positivo na vida
dos alunos e da comunidade em que o centro está inserido.

Revista Feira de Ciências e Cultura  |  49 


Este trabalho é resultado da disciplina eletiva
Dance Comigo, da parte diversificada do Ensino Médio
Integral do Centro de Excelência Santos Dumont. A
disciplina foi realizada articulando teoria e prática a partir
de diferentes tipos de danças, como as Urbanas, de Salão,
Moderna e Árabes. Foram realizados, também, estudos do
corpo sob o olhar da Filosofia e da Educação Física - essa
interdisciplinaridade proporcionou um conhecimento
acerca do corpo, da dança e do movimento. Faz-se
necessário ir além dos entendimentos de dança como
junção de passos, repetições de coreografias, e de que a
área da Dança não constrói conhecimento.

Referências

DARIDO, Suraya Cristina. JÚNIOR, Osmar Moreira de Souza.


Para Ensinar Educação Física: Possibilidade de intervenção na
escola. 7ª edição. Campinas/SP: Editora Papirus, 2013.
HASS, Jacqui Greene. Anatomia da Dança. [Tradução Paulo
Laino Cândido]. – Barueri, SP: Manole, 2011.

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