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Filosofia da Ciência

Conhecer as características do conhecimento do senso comum


O conhecimento vulgar é uma espécie de primeiro nível de conhecimento e
está ligado à apreensão imediata e concreta de cada ser humano. Assim, este constata
regularidades empíricas no funcionamento do mundo e com elas constrói soluções
eminentemente práticas, que permitem responder aos prolemas do dia a dia, sem
quaisquer preocupações com explicações teóricas baseadas em métodos específicos.
Por exemplo, sabemos que o autocarro para à hora X na paragem Y e que,
conseguindo apanha-lo, chegamos à escola antes do toque da campainha. Pouco ou
nada nos importa conhecer como funciona a mecânica por trás do autocarro, do
relógio ou da campainha. Nesse sentido, podemos caracterizar o conhecimento vulgar
como um saber superficial e espontâneo, pois resulta da necessidade de resolver
problemas do quotidiano, que neste cado é chegar a horas à escola. É empírico,
concreto e subjetivo uma vez que surge da experiência de cada ser humano situado
num tempo e num espaço concretos, é assistemático, acrítico e dogmático, na medida
em que não se fundamenta em nenhum estudo prévio, mas na acumulação de
observações cujos resultados se repetem. Como é expresso numa linguagem vulgar, e
não numa linguagem técnica e especializada, a ambiguidade é muitas vezes possível.
Assim, podemos concluir que este tipo de conhecimento não é totalmente
fiável pois apesar de ser fundamental para a experiência quotidiana, uma vez que é ele
que permite resolver problemas imediatos com que nos vamos confrontando, como o
exemplo referido anteriormente, a sua subjetividade, superficialidade e acriticismo
tornam-no insuficiente para resolver questões mais complexas, para além de que a sua
linguagem pode-nos induzir muitas vezes em erro.

Apresentar as características do conhecimento científico


Em ciência procura-se sobretudo descrever e explicar fenómenos, por exemplo,
como se transmitem as características de pais para filhos ou como é que uma mulher e
um homem de olhos castanhos podem ter um filho de olhos azuis. Assim, os cientistas
partem de hipóteses explicativas e estabelecendo relações de causalidade entre os
fenómenos observados, pretendem prever a ocorrência de novos fenómenos.
O conhecimento científico, ao contrário do senso comum, pode ser assim
caracterizado como um conhecimento sistemático, metódico e objetivo. Para além
disso, é portador de uma linguagem própria, técnica e exata, que evita ambiguidades
interpretativas (a que o conhecimento do senso comum está muitas vezes sujeito).
É, por definição, um conhecimento experimental, crítico e revisível, pois nada é
assumido como absoluto ou definitivamente fechado, por mais seguro ou justificado
que, à partida, pareça ser, uma vez que, o que hoje entendemos ser verdade pode
revelar-se futuramente uma ilusão, ou mesmo um enorme erro científico (por
exemplo: Na antiguidade, acreditava-se que a Terra estava parada pois ninguém a via
ou sentia mover-se, atualmente sabemos que esta teoria está completamente errada).
Nesse sentido, se afirma então, a revisibilidade do conhecimento científico, fruto da
sua natureza critica e antidogmática, que se constitui como mais uma das diferenças
fundamentais que o separam do conhecimento vulgar.

Relação entre o senso comum e a ciência


Após conhecer as características de ambos os tipos de conhecimento, diríamos
logo à partida que há uma enorme relação de oposição. Mas esta é uma perspetiva
demasiado simplista. Conhecimento científico e senso comum são, em primeiro lugar,
formas diferentes de conhecer, que respondem a objetivos claramente distintos, mas,
de alguma forma, complementares. Não podem, pois, substituir-se (nem sempre é
comodo ou até possível recorrer ao conhecimento cientifico para resolver problemas
de índole mais pratica e concreta). Em segundo lugar, é importante termos presente
que o senso comum, à semelhança do que acontece com o conhecimento científico, se
vai alterando ao longo do tempo. Por outro lado, muitos conhecimentos que outrora
foram científicos são hoje de senso comum, por exemplo, saber que a Terra está em
movimento.

Distinguir método indutivo, de hipotético dedutivo e de científico simples


͢͢• Método indutivo – Francis Bacon

Este método parte do pressuposto de que a ciência tem o objetivo de estabelecer leis.
Em função deste objetivo, o cientista deve observar os fenómenos e realizar uma
enumeração exaustiva das suas manifestações estabelecendo, posteriormente,
relações entre os fenómenos através da análise e interpretação dos dados observados,
retirando desse processo uma generalização. Para que este método funcione Bacon
considera que os praticantes teriam de ser capazes de eliminar 4 classes de “ídolos
intelectuais”: as ilusões da perceção ou “ídolos da tribo”, as inclinações pessoais ou
“ídolos da caverna”, as ambiguidades linguísticas ou “ídolos do mercado” e os sistemas
filosóficos dogmáticos ou “ídolos do teatro”.

• Método hipotético-dedutivo – Galileu, Popper


Este método pressupõe como ponto de partida uma hipótese ou teoria geral como,
por exemplo, “Todos os planetas têm orbitas circulares”, a partir da qual se deduz uma
afirmação particular como “Dada a informação de que Mercúrio é um planeta,
podemos deduzir que a sua orbita é circular”. Por fim, a afirmação é testada (no caso
de Galileu para verificar a hipótese, no caso de Popper para falsifica-la). Quando, no
teste experimental, a hipótese se confirma, o enunciado transforma-se em lei
universal. Caso o resultado seja negativo, a hipótese terá de ser abandonada ou
reformulada.

• Método experimental / Método Científico Simples


Neste método, o cientista começa por observar os factos (observação) a partir dos
quais constrói teorias ou hipóteses para tentar explicar esses factos (formulação de
hipóteses). De seguida, realiza diversas experiências para verificar se a hipótese se
confirma (verificação experimental/experimentação). Por fim, quando a hipótese se
confirma um grande número de vezes, deixa de ser encarada como uma simples
hipótese e adquire o estatuto de lei científica. Se a experimentação não verificar a
hipótese, esta é abandonada e tem de se construir uma outra que passará pelo mesmo
processo.

Objeções à perspetiva simples do método científico


A perspetiva simples do método científico é insatisfatória fundamentalmente
por 2 razões: a primeira deve-se ao facto de considerar como ponto de partida a
observação e a segunda deve-se à utilização da indução.
Comecemos pela primeira objeção, a que se refere à natureza da observação.
Será que esta poder ser o ponto de partida?
A resposta é que não. Porquê?
Primeiro porque as observações são profundamente influenciadas pelos
conhecimentos prévios e pelas expectativas do observador, mas também pelas suas
ideologias, valores, afetos e desejos. Como tal, conclui-se que não existe observação
pura.
Em segundo lugar, porque a observação é falível e leva-nos a tirar conclusões
erradas. Caso contrário, a teoria da antiguidade que referia que a Terra está parada
porque ninguém a vê ou sente mover-se seria correta, mas como sabemos está
completamente errada.
Por último, tem-se que esta, para além de não ser pura e ser falível, é também
seletiva, uma vez que nenhum cientista consegue registar todas as observações de
todos os fenómenos e como tal, os cientistas acabam por se concentrar em
determinados aspetos e ignorar outros.
Relativamente à segunda objeção, a questão que se coloca é se uma hipótese,
enquanto enunciado universal, poder ser justificada por casos particulares.
A realidade é que não, por exemplo, nunca podemos inferir da visualização de
um certo número de metais (por maior que seja) que todos os metais se dilatam com o
calor, até porque basta um contraexemplo para acabar com a teoria.
Assim, podemos concluir que as críticas à perspetiva simples do método
científico, debruçam-se essencialmente sobre as falhas que tanto a indução como a
observação apresentam.
Karl Popper
Conhecer o critério de demarcação
Popper apresentou o falsificacionismo como critério de demarcação. Nesse
sentido, uma teoria só tem estatuto de científica se for falsificável, isto é, se puder ser
colocada à prova através de um teste que torne possível a sua refutação. Assim,
pegando num exemplo, imaginemos que eu digo que tenho um gnomo invisível que
me ajuda a elaborar respostas durante os testes e como tal, os gnomos existem. Como
podemos, segundo Popper, recusar a cientificidade a este enunciado? Usando este
mesmo critério, ou seja, como não há maneira de demonstrar que a afirmação é falsa,
então esta não é científica.

Analisar o método das conjeturas e refutações como sendo um método


hipotético-dedutivo
Para compreendermos o facto do método das conjeturas e refutações ser
considerado um método hipotético dedutivo é importante:
Em primeiro lugar, saber que o método hipotético-dedutivo pressupõe como
ponto de partida uma hipótese ou teoria geral como, por exemplo, “Todos os planetas
têm orbitas circulares” a partir da qual se deduz uma afirmação particular como
“Sabendo que Mercúrio é um planeta então a sua orbita é circular” que é testada
através de testes experimentais. No caso de o resultado desses testes ser positivo a
teoria ganha o estatuto de lei universal, caso seja negativo a afirmação é abandonada
(e constrói-se uma nova hipótese que passará pelo mesmo processo) ou reformulada.
Em segundo lugar, conhecer o método das conjeturas e refutações. Para
Popper, os cientistas iniciam o seu trabalho por uma teoria que não passa de uma
simples conjetura, na medida em que nunca pode ser verificada. De seguida, essa
mesma teoria deve ser sujeita a rigorosos testes experimentais que a tentem falsificar.
Assim sendo, o importante não é provar a verdade de uma teoria, mas tentar mostrar
que ela é falsa pois, por mais provas que tenhamos, nunca poderemos dizer que uma
teoria é absolutamente verdadeira, com isto, quer se dizer que no fim de contas o
teste que confirma a teoria é apenas mais um e, no fundo, nada prova, enquanto que,
um único teste que tende falsifica-la pode desmentir todo uma teoria e provocar um
avanço científico, conduzindo-nos em direção à verdade. Por isso mesmo, neste
método o erro é o motor do avanço da ciência.
Assim, após conhecermos as características de ambos os métodos podemos
concluir que o método das conjeturas é uma vertente do método hipotético-dedutivo,
isto porque, têm o mesmo ponto de partida (hipótese/teoria), o mesmo segundo
passo (afirmação particular) e terceiro passo (experimentação), contudo neste ultimo,
no método hipotético-dedutivo o teste pode ter a função de verificar (no caso de
Galileu) ou falsificar (no caso de Popper), sendo que a ultima hipótese é a escolhida no
método das conjeturas e refutações.
Distinguir o modelo falsificacionista de Popper do modelo verificacionista dos
positivistas
O método de Popper, o falsificacionismo, também denominado como método
das conjeturas e refutações, vem precisamente pôr em causa o verificacionismo
positivista e o indutivismo.
Para Popper, os cientistas não iniciam o seu trabalho pela observação, mas por
uma teoria, que, na medida em que não pode nunca ser confirmada, é uma simples
conjetura que deve ser sujeita a rigorosos testes experimentais que a tentem falsificar.
Portanto, contrariamente ao que acontece com o método tradicional, que é
verificacionista, a experimentação não procura verificar a teoria, mas, ao invés,
falsifica-la, ou seja, o importante não é provar a verdade de uma teoria, mas sim tentar
mostrar que é falsa até porque, um teste que confirme uma teoria, no fundo, é só mais
um, enquanto que um simples teste que tente refuta-la pode-nos aproximar mais da
verdade através de um avanço científico.
Por tal motivo, se considera que o erro, para Popper, é o motor do avanço da
ciência. Como tal, se uma teoria não resiste à falsificação, é abandonada e substituída
por outra ou retificada. Contudo, mesmo que a teoria seja abandonada, a descoberta
do erro constitui sempre um acréscimo do conhecimento: o conhecimento de que a
teoria estava errada ou incluía erros. Assim, contrariamente aos verificacionista, não é
a posse da verdade irrefutável que caracteriza a ciência e os cientistas, mas sim a
procura critica da verdade.

Problematizar as respostas de Popper às questões epistemológicas do


progresso e desenvolvimento científico e à questão da objetividade científica
No que diz respeito à questão do progresso e desenvolvimento científico,
Popper crê que a eliminação de erros, conduz, por aproximação, à verdade, ou seja, de
cada vez que um erro é encontrado numa teoria e por isso, a teoria é falsificada
estamos um passo mais perto da verdade (ainda que esta seja inatingível), por isso
mesmo, considerasse que, para Popper, o erro é o motor do avanço da ciência. Neste
ponto, o autor estabelece, então, uma analogia com o evolucionismo e a ideia de
seleção natural: as teorias que melhor resistirem ao erro são as que se mantêm.
No que diz respeito ao problema da objetividade da ciência, Popper considera
que não se pode falar de objetividade no sentido tradicional mesmo que o seu método
seja objetivo e racional em relação à eliminação do erro e aproximação à verdade, a
verdade é que as teorias científicas são sempre meras conjeturas que sobrevivem
enquanto forem corroboradas, isto é, enquanto resistirem aos testes de falsificação.

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