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O que faz um editor-chefe?

assume essa função acompanhar e supervisionar


todo o processo de produção e veiculação. Em
Acessar o site n vezes todos os dias; ler e re-ler tese, eu preciso estar a par desde a concepção da
todas as edições do impresso; comparecer a todas pauta até o retorno que recebemos do público
as reuniões de pautas; (tentar) ler todas as pautas leitor – isso quer dizer: tudo. Mas, ao mesmo
enviadas, todas as matérias publicadas, todos os tempo, não há nada que eu faça, ou seja, que o
comentários e todos os e-mails da lista de editor-chefe faz, que não possa ser feito pelos
discussão, além de todas as postagens do Blog da outros membros da equipe – e, de fato, são feitas.
Redação; acompanhar as diversas atividades Naquela lista aparentemente imensa lá do primeiro
paralelas, tais como o trabalho da Comunicação parágrafo constam funções minhas, mas que
Institucional e da Editoria de Fotografia, entre também são desempenhadas por várias outras
outras; estar atento ao que está sendo publicado pessoas (e seguindo essa linha, talvez, o editor-
também na TV Comunicação e na Rádio chefe seja a peça mais dispensável deste
Comunicação; lembrar de todos os prazos e datas complexo quebra-cabeça... ou não).
que não devem ser esquecidos e fazer com que a
equipe não os esqueça também... parece muito Enfim, mais do que ser responsável por toda essa
para você? rotina produtiva, ‘chefiar’ a equipe do
Comunicação representa acreditar neste projeto. E
Vejamos sob outra perspectiva: o editor-chefe não acreditar que cada um, cada pessoa que compõe
precisa trazer sugestão de pauta a todas as essa equipe, vai fazer a sua parte... e da melhor
reuniões – embora ele sempre tenha uma ou outra forma possível – não só por precisarem da carga
sugestão; não precisar fazer duas, três, quatro ou horária da disciplina ou da nota no final do
cinco pautas semanais, nem editar as matérias semestre, mas por terem certeza que nós,
após serem produzidas pelos repórteres; o editor- estudantes, também podemos fazer um trabalho
chefe, aliás, não precisar produzir matérias e de qualidade e que ateste a qualidade dos futuros
reportagens; ele também não tem que cumprir a profissionais que seremos. Claro que, às vezes, na
meta de postagens semanais, nem a de publicação condição de editor-chefe, é preciso discordar,
mensal no impresso – ele só precisa tentar fazer discutir, e lembrá-los de que somos um jornal de
com que essas metas sejam cumpridas; ele não verdade e não de ‘faz-de-conta’. Às vezes, é
tem que gerenciar o site, atendendo a todos os preciso ser rígido, cobrar prazos e tarefas e até
pedidos do secretário do on-line, do subsecretário, mesmo ‘brigar’. Muitas vezes também é preciso
dos editores e até do editor-chefe; ele não precisar deixar um pouco de lado a rigidez profissional e
prever e executar as políticas de divulgação e lembrá-los de que estamos todos –
comunicação interna do jornal, nem organizar os indicustivelmente, todos – aprendendo. Mas na
eventos a serem realizados; não precisa ‘correr’ maioria das vezes, resta ao editor-chefe várias
eternamente atrás de fontes e contatos, surpresas. Surpreender-se com a qualidade do
entrevistar incansavelmente pessoas e mais trabalho realizado, com a disposição, o empenho e
pessoas, utilizar o senso estético para fotografar, a responsabilidade da equipe, com o
editar e postar fotografias, corrigir erros amadurecimento ao longo dos dias. Surpreender-
gramaticais, de estrutura ou de digitação, se com as coisas boas que foram feitas e que, por
desenhar charges, ‘correr’ atrás de artigos de um ou outro motivo, ele nem ficou sabendo.
opinião, fazer e enviar a newsletter semanal,
cobrar que os repórteres e editores sigam as Mais do que tarefas a desempenhar, na minha
regras de padronização do veículo, diagramar o opinião, o editor-chefe precisa fazer com que a
impresso, avaliar cada um dos mais de 50 alunos, equipe se sinta uma equipe. Ele deve ajudar a
administrar a infindável guerra de egos que tornar a produção laboratorial natural, atraente e
permeia as relações interpessoais etc, etc, etc... até mesmo empolgante. Precisa ser tudo – quando
Ufa! alguém clama por ajuda ou necessita de um
‘empurrãozinho’ – e nada – quando sabe que sua
Quando decidi escrever sobre ‘o que faz um editor- presença vai atrapalhar mais do que ajudar.
chefe’ me deparei com um paradoxo: acabei
concluindo que ele faz tudo e nada. Vou tentar RENATA ORTEGA
Editora-chefe do Comunicação.
explicar: no Comunicação, cabe à pessoa que
A tal da linha editorial
Por Julio Daio Borges em 15/2/2005

Com raríssimas exceções, pode-se dizer que hoje não mais existem veículos com uma
linha editorial. Essa coisa quase extinta é bastante difícil de se definir e as pessoas
praticamente não percebem quando ela está lá. Inconscientemente, os leitores mais
sensíveis sabem que determinado periódico tem uma "cara" com a qual eles se
identificam – mas, se perguntados, não saberiam defini-la de maneira objetiva. É um
troço assim e tal...

Várias são as causas da atual situação. Quando o veículo é rico ou poderoso (ou as duas
coisas), sofre com as pressões e sacrifica inevitavelmente a linha editorial. Pegue
qualquer semanário de grande circulação ou qualquer diário dos mais importantes. No
primeiro caso, são as publicações de maior tiragem (e, portanto, de maior influência),
assim devem contemplar os interesses do Brasil inteiro. Literalmente. É o último ato do
governo, a guerra de blocos aliados, a empresa que financia a sua existência, o evento
de algum fulano famoso, a fofoca para derrubar inimizades, o disco do amigo do alheio, a
carreira jornalística da filha do interventor etc. – gente da qual a revista depende e à
qual tem de atender, prontamente, no balcão.

No caso dos diários, é basicamente a mesma coisa – com a diferença de que eles não são
mais tão lidos (e influentes) como antes e, com as oscilações de preço do papel
(importado), são quase todos deficitários. Com a ascensão do audiovisual no século 20
(cinema, televisão, vídeo), a mídia impressa de massa par excellence ficou sendo a
revista (ilustrada) e não mais o jornal. Não é uma questão de gosto; é fato. Logo –
apesar das pressões, que ainda são fortes –, os diários podem elevar o nível um pouco
mais e se sacrificar menos do que o normal. Alguns espaços são tão ou mais disputados
do que nas revistas (vide as colunas sociais), mas são focos isolados e não a regra geral.

Cena clássica

O editor, então, se submete a uma hierarquia que, não necessariamente, respeita as


suas intenções. O veículo, antes de tudo, é uma empresa que tem de sobreviver; assim,
no mínimo, tem de vender mais exemplares (tiragem) e mais anúncios (publicidade).
Quando não depende de ajuda governamental, via financiamentos do BNDES, para citar
um exemplo. O imperativo econômico é o mais forte e dele derivam outros. Como a
ordem é vender, a ordem – indiretamente – é ficar mais barato (mais lucrativo) e
chamar mais a atenção. Para ficar mais barato, o periódico diminui de tamanho, encurta
os textos e reduz o espaço.

O editor tem de sambar para encaixar o quebra-cabeça onde todas aquelas pressões,
mais esta (física, do centímetro quadrado), são válidas. Fora isso, tem de agüentar as
injunções do marketing – para quem o deus-mercado ou o deus-pesquisa é o único a ser
louvado. Se o leitor de hoje, digamos, se fixa em celebridades, vamos espalhá-las por
toda parte. No contra-ataque, as assessorias de imprensa fazem seu trabalho – isto é,
tirando as pressões internas (do próprio veículo) sobre o editor, as empresas que
trabalham com divulgação empurram seus releases e têm de emplacar matérias, afinal,
para isso são pagas.

Sim, o quadro é caótico. Imagine, nesse contexto, a cabeça do pobre do editor, tendo de
contentar a todos. Gregos e troianos, às vezes. Claro, nem todos os editores nominais
editam de verdade. É bastante comum a figura do editor-celebridade, que, por mais que
você ligue na redação, ele nunca está lá – perdido entre eventos, viagens e almoços
intermináveis. E esses tipos são necessários; conferem glamour aos periódicos. Aí sobra
para o editor-assistente ou para o editor-adjunto, que é quem edita de verdade.

Resumindo a ópera, o leitor. O leitor abre, no outro dia, o jornal ou a revista e não
entende nada. O caderno ou a seção estão cada vez mais retalhados, coalhados de
notinhas, entulhados de adendos gráficos, sem respeito pelo projeto, numa balbúrdia que
em vez de captar a sua atenção só faz dispersá-la. Mais e mais. Por conseguinte, na
próxima edição, o veículo vai ter de gritar ainda mais para se comunicar com o leitor e,
novamente, vai ser tanto ruído e tanta estática que não vai conseguir nada... – e assim
caminha a humanidade.

Lógico que, quando eu não conhecia esse jogo todo, como leitor sensível, apenas podia
reclamar. Com o tempo, fui entrando nos meandros, ouvindo as confissões de editores
vários, e tirando minhas conclusões pessoais. Não é fácil.

O editor contemporâneo manda muito pouco, essa é que é a verdade. Continuo


cobrando, como é meu dever, mas tenho agora em mente as dificuldades. O jornalista,
nessas grandes engrenagens, é cada vez mais uma peça num processo enorme, que
acontece, independentemente do que ele possa pensar. Na Folha de S.Paulo se usa a
expressão "operário da palavra" e a imagem mais próxima, que me ocorre, é a de
Charles Chaplin freneticamente apertando porcas, na cena clássica deTempos Modernos.
Conclusão: se você não quiser fazer, eles vão achar alguém que faça.

Primeira sangria

E os veículos que têm uma linha editorial, como funcionam? A partir de uma certa


estatura não há como fugir dessa roda-vida descrita acima, mas, abaixo dela, há
esperança. Outro dia, alguém me disse que existem dois caminhos para uma publicação
nova: ou ela dá certo e é vendida para uma grande editora, entra na indústria e perde a
sua cara; ou ela dá errado e, naturalmente, mais dia menos dia, acaba. Felizmente, o
conceito de "dar certo" é relativo e existe uma sobrevida entre, digamos, "dar quase
certo" e dar errado. Os editores se seguram nessa faixa.

Tenho captado, ultimamente, de editores da grande imprensa o desejo quase confesso


de migrar para a imprensa dita alternativa. Estão, claramente, cansados da linha de
montagem de revistas e jornais e, à procura de algo mais desafiador, estão dispostos a
arriscar do lado de cá... E eu, que os tomava como modelos, não imaginava que
poderia servir de modelo para eles, nesta altura do campeonato – mas é o que ocorre.
De tanto repetir que a internet e as pequenas publicações são o novo mundo, pareço ter
convencido uns três ou quatro.

A internet pode se apresentar como um paraíso, aparentemente, mas tem também os


seus problemas. Por ser uma mídia que está se afirmando, sofre, antes de mais nada, de
falta de credibilidade. Aliás, foi a própria imprensa (impressa) que bateu forte na internet
em seus primórdios; mas eu não vou retomar essa história...

Um exemplo prático: quando uma empresa (de cultura, que é a minha área) se dispõe a
anunciar, imagina anúncios em revistas e permutas em sites. Alguém lá atrás (e a
própria internet tem culpa) convencionou que ações na web são feitas de graça mas que,
para ações na imprensa impressa, é necessário pagar...

Outro exemplo prático: quando uma editora ou publicação em papel convida um site ou
autor da internet para colaborar, inicialmente, não pensa em pagar – afinal de contas, na
web, os projetos são majoritariamente colaborativos, no sentido de que a produção de
conteúdo, sobretudo em publicações independentes, é feita na base do investimento,
supondo uma remuneração ou um trabalho futuros, que compensem aquela aposta etc. e
tal... –, então, você vai cobrar?

Conseqüentemente, esse estado de coisas interfere no trabalho do editor de internet (e


até no de pequenas publicações). Vou falar do meu caso. Como na web, conforme foi
dito, as colaborações normalmente não são pagas (leia-se: o colaborador não recebe
pelo que escreve, porque geralmente o site não tem como pagar), o editor pode vir a se
tornar refém de seus colaboradores – principalmente se a publicação estiver se
afirmando ou em seu estágio inicial. Todos têm a mesma idade e todos querem palpitar
sobre a (senão impor uma) linha editorial. Ainda mais no faroeste daworld wide web,
onde tendências duelam entre si mas ninguém sabe qual lei vai imperar. No embalo das
atualizações sucessivas (às vezes desnecessárias), o editor publica o que chega e nada
pode recusar.

Para complicar, paira a crença de que a internet deve, por definição, ser anárquica e que
ao editor resta apenas a imolação no "altar de sacrifícios" da liberdade de expressão.
Particularmente, não acredito nesses preceitos e nem rezo por essa cartilha. A mim me
parece suficientemente razoável que se eu acreditasse na consagração individualista dos
blogs e na orgia perpétua dos comentários, teria, há muito, desistido do Digestivo
Cultural (www.digestivocultural.com). Depois da primeira sangria aqui, em 2002, houve
uma grita geral no sentido de se proclamar o fim das revistas eletrônicas e a apoteose
dos blogueiros em fúria. Aconteceu, porém, que esses mesmos blogueiros, anos depois,
quiseram virar papel e, ao tomar contato com livros, revistas e jornais, lá estavam,
indefectíveis,... os editores.

Era das navegações... virtuais

Do lado dos leitores, ou leitores-colaboradores para especificar, a linha editorial vivencia


uma situação cômica ou tragicômica, se se deixar levar. Como a internet, em geral, é
muito indulgente e aceita qualquer coisa, alguns colaboradores virtuais acham que têm
o direito de publicar em qualquer lugar. E que o editor tem o dever de aceitar. Para ir
além, se nem na grande imprensa (que, como vimos, subsiste uma linha editorial muito
tênue ou muito falha) os colaboradores sabem como se comportar, imagine na internet,
onde a luta é de todos contra todos?

Um exemplo a mais: depois que o Digestivo participou com um suplemento da


revistaGV-executivo, têm aportado mensagens oferecendo artigos sobre temas como
carreira, sucesso, motivação... E, outro dia, um sujeito apareceu com um diálogo muito
mequetrefe num blog e, quando eu disse que aquilo era sobre comportamento e que eu
não iria publicar, ele se voltou contra mim e bradou retumbante: "Você não publicaria o
Verissimo, então". Nem respondi...

Claro que o mundo não vai acabar. E claro que não penso que o jornalismo está morto. A
situação é, efetivamente, calamitosa na grande imprensa, para o editor. E não estou
afirmando isso por motivo de inveja ou porque quero que o circo lá pegue fogo. Estou
apenas retransmitindo pontos de vista de gente de dentro (insiders) – como Israel do
Vale, ex-editor-assistente do caderno "Ilustrada", da Folha. Israel, atualmente no
site Cultura e Mercado (http://culturaemercado.terra.com.br/), proclamou aos quatro
ventos, na televisão, que enxerga uma grande mídia inevitavelmente condenada à
"agenda" e à "promoção de produtos", e que avista uma internet promissora (hoje, a seu
ver, muito mais interessante, por exemplo, em matéria de jornalismo cultural – sua
área).

E, se no mainstream editorial, esse movimento de mercantilização e de agonia lenta do


editor aponta para um horizonte tenebroso e inescapável, no off-mídia, tudo parece
possível e nada parece provável. A bagunça de blogs, comentários e da permeabilidade
de sites e portais vai acabar? Não. O editor vai ressuscitar das cinzas e colocar ordem na
web? Também não. Vamos ter grandes polarizações, grandes concentrações, grandes
conglomerados (como temos fora)? Já temos: Microsoft, Google... O sonho da internet
acabou? Em parte. E o pesadelo da bolha, ainda continua? Sei lá.

E para usar uma metáfora bastante comum na Grande Rede, é como se tivéssemos
voltado à era das grandes navegações. Virtuais... Uns poucos revelaram continentes e
ganharam fortunas. A maioria ficou à deriva e teve seu barco afundado. Outros
continuam... Descobrem uma ponta de terra, exploram, regressam à metrópole. Eu devo
ser um desses loucos. Algo me diz, contudo, que os ventos finalmente sopram a favor do
editor.

Disponível em [http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=316JDB005]
Acessado 14/02/2011

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