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POSMEC 2014 – Simpósio do Programa de Pós - Graduação em Engenharia Mecânica

Faculdade de Engenharia Mecânica – Universidade Federal de Uberlândia


26 a 28 de Novembro de 2014, Uberlândia - MG

DESEMPENHO DO GRAFITE COMO LUBRIFICANTE SÓLIDO NO


TORNEAMENTO DA LIGA TI-6AL-4V

Ricardo Ribeiro Moura, Universidade Federal de Uberlândia, ricardoribeiromoura@gmail.com


Márcio Bacci da Silva, Universidade Federal de Uberlândia, ,mbacci@mecanica.ufu.br

Resumo. A usinagem da liga de titânio é dificultada pela sua alta reatividade, baixa condutividade térmica e esforços
elevados, que levam a elevada temperatura de corte e vibração. Por se tratar de um material amplamente utilizando
na indústria aeronáutica e de alto valor agregado, qualquer avanço que leve a melhoria do processo é de extrema
importância industrial e científica. Devido às pobres propriedades térmicas do titânio, a ferramenta de corte sofre
desgastes elevados, desta forma, este trabalho relata um estudo envolvendo a utilização de lubrificantes sólidos
durante a usinagem da liga Ti-6Al-4V no processo de torneamento com a utilização da técnica de mínima quantidade
de lubrificante (MQL). Este trabalho tem como foco estudar o desempenho dos lubrificantes sólidos na usinagem desta
liga, realizando testes com solução contendo fluido de corte com 20% de lubrificante sólido em peso. Para efeito de
comparação foram realizados testes a seco, com lubrificante (MQL e jorro) e solução contendo lubrificante sólidos
(grafite 325 e grafite 625). O parâmetro analisado foi a vida da ferramenta de corte. Os resultados mostram que a
utilização dos lubrificantes sólidos permite o aumento da vida da ferramenta, o grafite 625 obteve o melhor
desempenho, sendo até 29% melhor que o jorro convencional.

Palavras chave: Lubrificantes sólidos, grafite, Ti-6Al-4V, torneamento, vida da ferramenta e MQL.

1. INTRODUÇÃO

As ligas de titânio se destacam devido a duas propriedades, resistência específica elevada e excelente resistência à
corrosão. Isso também explica o seu uso preferencial no setor aeroespacial, indústria química e engenharia médica
[Moura, 2014].
Segundo Ezugwu e Wang (1997), o progresso na usinagem de ligas de titânio não manteve o ritmo com avanços em
usinagem como em outros materiais, devido à sua resistência mecânica em altas temperaturas, baixa condutividade
térmica, baixo módulo de elasticidade e alta reatividade química. Assim, o sucesso na usinagem das ligas de titânio
depende em grande parte da superação dos principais problemas associados com as propriedades inerentes destes
materiais.
Um dos principais problemas associados a usinagem das ligas de titânio é a elevada temperatura gerada durante a
usinagem, diversas formas de aplicação e diferentes tipos de fluidos de corte são utilizados. Entre os meios auxiliares,
os principais métodos utilizados são os de aplicação com fluido em abundância (jorro) e o de Mínima Quantidade de
Lubrificante (MQL).
Pesquisas recentes investigaram o uso de grafite como um meio lubrificante no processo de usinagem para reduzir o
calor gerado. O papel efetivo do grafite como lubrificante foi evidente a partir da melhoria global do processo.
Diferentes parâmetros do processo, como forças de corte, temperatura, energia específica e rugosidade superficial foram
observados e relatados como inferiores quando comparadas com as de usinagem com refrigeração convencional
(Venugopal e Rao, 2004; Shaji e Radhakrishnan, 2003). Soluções de Grafite utilizadas no processo de usinagem
assistida relataram melhoria considerável no desempenho do processo, em comparação com a de usinagem com fluido
de corte convencional em termos de forças de corte, qualidade da superfície e energia específica (Reddy et al.; Rao e
Krishna, 2006).
A presente pesquisa se concentra na usinagem com lubrificação sólida, contribuindo para uma usinagem sustentável
de materiais avançados de engenharia. Além disso, esta pesquisa passa a ser uma alternativa à tradicionais técnicas de
usinagem. Com os resultados obtidos será́ ́ possível analisar a viabilidade da utilização dos lubrificantes sólidos na
usinagem de uma liga de baixa usinabilidade como a Ti-6Al-4V.

2. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Os ensaios foram conduzidos nas dependências do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Usinagem da Faculdade de
Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Uberlândia (LEPU/FEMEC/UFU). Foi utilizado um Torno CNC
ROMI Multiplic 35D, com rotação máxima de 3000 rpm. O corpo de prova de Titânio ASTM F136 grau 5, conhecido
como liga Ti-6Al-4V, barra cilíndrica com dimensão de Ø200 x 300 mm. Foi utilizado fluido de corte sintético Super
Fluido 3 (fabricado pela Quimatic®) aplicado utilizando um sistema de Mínima Quantidade de Fluido (MQL) e o fluido
Ricardo R. Moura, Márcio Bacci da Silva
Desempenho do Grafite como Lubrificante Sólido no Torneamento da Liga Ti-6Al-4V

de corte solúvel sintético de base vegetal ME-3 (Quimatic®) aplicado pelo sistema de jorro da própria máquina-
ferramenta. As ferramentas utilizadas possuem o código SNMG120408-SM 1105, metal-duro da classe S15, revestidas
com TiAlN (PVD) e produzidas pela Sandvik®.
Os testes foram realizados a seco, com jorro e com MQL (apenas com fluido de corte e com solução contendo
fluido de corte e lubrificantes sólidos). Na usinagem com jorro a vazão utilizada foi de 4,2 l/min com concentração de
15%. As soluções utilizadas continham fluido de corte e lubrificante sólido na proporção de 20% em peso. Foram
utilizados o grafite malha 625 (GR625, granulometria máxima de 20 µm) e o grafite malha 325 (GR325, 40 µm).
O sistema de Mínima Quantidade de Lubrificante (MQL) utilizado foi o Accu-Lube® 02A0-DMO, com pressão de
3 bar e vazão de 4 ml/min. Os 2 bicos nebulizadores do MQL foram posicionados de forma a facilitar o escoamento do
cavaco, sob a superfície de saída e aresta principal de corte da ferramenta. A Tabela (1) mostra as condições de corte
utilizadas nos testes experimentais.

Tabela 1. Condições de corte.

vc  (m/min)   f  (mm/rev)   ap  (mm)   Vbmáx.  (mm)  


130   0,20   1,00   0,60  
150   0,20   1,00   0,60  

3. RESULTADOS

Os resultados experimentais obtidos com ambas as velocidades de corte (130 e 150 m/min) são significativamente
afetados pelas condições de lubri-refrigeração utilizadas em cada teste.
A Figura (1) apresenta os valores de tempo de usinagem (vida da ferramenta) para a velocidade de corte de 130
m/min, a Fig. (2) apresenta os resultados para a velocidade de corte de 150 m/min. Na usinagem da liga Ti-6Al-4V com
lubrificantes sólidos (GR325 e GR625), observa-se uma vida de ferramenta maior para ambas as velocidades de corte
quando comparado com as condições a seco, jorro e MQL (apenas com fluido de corte).
Na velocidade de 130 m/min o aumento na vida da ferramenta utilizando o GR625 como lubrificante sólido em
suspensão foi de 29% quando comparado com o usinagem a Jorro convencional. Utilizando a mesma comparação Jorro
x GR625 na velocidade de 150 m/min, o aumento na vida da ferramenta foi de 16%.
A diferença de desempenho entre o GR325 e o GR625 pode ser atribuída a variação da granulometria, o grafite com
malha 625 possui um tamanho máximo de partícula equivalente a metade do tamanho do grafite malha 325 (20 µm e 40
µm respectivamente), o que colabora para maior eficiência do GR625 em aumentar a vida da ferramenta. Acredita-se
que o menor tamanho de partícula permite o melhor acesso do lubrificante sólido a região de corte, confirmando os
resultados obtidos em pesquisas anteriores (Rao e Krishna, 2008).

Figura 1. Vida da ferramenta com vc = 130 m/min.


POSMEC 2014 – Simpósio do Programa de Pós - Graduação em Engenharia Mecânica
26 a 28 de Novembro de 2014, Uberlândia - MG

Figura 2. Vida da ferramenta com vc = 150 m/min.

4. CONCLUSÃO

ü A utilização dos lubrificantes sólidos mostrou-se eficiente no aumento da vida da ferramenta, proporcionando
maior tempo de usinagem;
ü Na comparação entre os dois tipos de grafite utilizados, os melhores resultados foram obtidos com o GR625
que possui menor granulometria;
ü Os resultados mostram que a usinagem MQL com fluido e o Jorro apresentam resultados próximos, não
havendo diferença significativa entre os dois métodos de aplicação;
ü A usinagem a seco apresentou o menor valor de vida dentre as condições testadas;
ü O grafite não possuí um histórico clínico patogênico, ou seja, é um lubrificante relativamente livres de perigos
inerentes ao uso para o operador, combinado com o uso da técnica MQL contribui para uma usinagem
sustentável de materiais avançados de engenharia;
ü Os Lubrificantes sólidos não são proibitivamente caros e os resultados demonstram claramente a viabilidade
econômica do seu uso na usinagem de ligas de baixa usinabilidade.

5. REFERÊNCIAS

EZUGWU, E.O.; WANG, Z. M. “Titanium Alloys and their Machinability – a review”, Journal of Material Processing
Technology, v. 68, p. 262-274. 1997.
MOURA, R. R.; SILVA, M.B. “Efeito do lubrificante sólido (MoS2) na rugosidade da liga Ti-6Al-4V no
torneamento”. VIII Congresso Nacional De Engenharia Mecânica, 8 ̊ CONEM, Uberlândia: ABCM, v. CD-ROM,
2014.
RAO, N. D., KRISHNA, V. P. The influence of solid lubricant particle size on machining parameters in turning. Int. J.
Mach. Tools Manuf. 2008 48, 107–111.
REDDY, N. S. K., RAO, P. V. Experimental investigation to study the effect of solid lubricants on cutting forces and
surface quality in end milling. International Journal of Machine Tools and Manufacture 46 (2006) 189–198.
SHAJI, S., RADHAKRISHNAN, V. An investigation of a solid lubricant moulded grinding wheels. International
Journal of Machine Tools and Manufacture 43 (2003) 965–972.
VENUGOPAL, A., RAO, P. V. Performance improvement of grinding of SiC using graphite as a solid lubricant.
Materials and Manufacturing Processes 19 (2) (2004) 177–186.

6. RESPONSABILIDADE PELAS INFORMAÇÕES

O(s) autor(es) é (são) os únicos responsáveis pelas informações incluídas neste trabalho.

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