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Parto normal ou cesárea? O que toda mulher deve saber (e todo homem também)

Article  in  Interface - Comunicação Saúde Educação · August 2005


DOI: 10.1590/S1414-32832005000200020

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Daphne Rattner
University of Brasília
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LIVROS

Par to normal ou cesár


arto ea? O que toda mulher dev
cesárea? devee
saber (e todo homem também)
DINIZ, S. G.; DUARTE, A. C. Editora UNESP, 2004. 179p.

A cesariana é a cirurgia de grande porte encontrado ao menos noventa hospitais


mais freqüentemente realizada nos notoriamente recomendáveis: esses
Estados Unidos e (também) a mais apresentavam taxas de cesárea inferiores a
freqüente cirurgia realizada sem 15% e taxas de parto normal após cesárea
necessidade. Hoje em dia, cerca de uma (PNAC) iguais ou superiores a 45%.
em cada quatro mulheres que Se no hemisfério Norte valores assim
ultrapassa as portas de um centro elevados de cesarianas são considerados
obstétrico será submetida a uma ultraje ao bom exercício da Obstetrícia – que
cirurgia abdominal de grande porte. podemos dizer de nosso país? Terá essa
Muitas dessas operações, que epidemia migrado para nossas plagas?
apresentam riscos de complicações Teremos conseguido impedir que nossos
maternas, inclusive morte, maiores que profissionais se ‘contaminem’ dessas práticas
os partos vaginais, são medicamente inadequadas?
desnecessárias. É impensável que a Infelizmente, a situação aqui é ainda mais
cirurgia cesariana desnecessária seja grave: já há algumas décadas essa epidemia
cotidianamente realizada em milhares ‘contagiou’ nosso país, e pesquisas
de mulheres, esbanjando valiosos mostraram que a prática obstétrica em
milhões de dolares dos serviços de nossos hospitais não é nada exemplar – ao
saúde, enquanto quase 40 milhões de menos no estado de São Paulo, houve
americanos não têm acesso aos serviços hospitais que chegaram a praticar taxas de
básicos de saúde. (Gabay & Wolfe, 1994, até 100%!!! (Rattner, 1996).
p.7. tradução da autora da resenha) Apesar das medidas adotadas pelo governo
federal e até por alguns seguros-saúde para
O relatório Unnecessary Cesarean Sections – coibi-las, o número de cesáreas
Curing a National Epidemic, publicado pelo desnecessárias continua a ascender,
Public Citizen’s Health Research Group mostrando que outras estratégias, além das
(1994), também denunciava que, dos 3.159 governamentais e coercitivas, se fazem
hospitais para os quais havia dados necessárias.
disponíveis, a mais alta taxa de cesáreas É inquestionável que a indicação de
encontrada era de 63,7%, seguida de outro cirurgia é atribuição dos médicos. Mas até
hospital com taxa no valor de 57,1%. Referia, que ponto as mulheres não foram
por outro lado, a satisfação de haver involuntariamente cúmplices, por absoluto

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desconhecimento de como seu corpo deve ser o protagonismo no parto, se da


funciona e de qual a lógica que subjaz no mulher e seu bebê, ou do profissional – e
aconselhamento profissional que muitas como pode ser em cada caso. Numa
recebem durante o acompanhamento pré- perspectiva feminista, de empoderamento
natal? Ou por terem embarcado na ‘moda’ de feminino, vai sendo
que cesárea é parto ‘tecnologicamente constituído o cenário
avançado’? Mais prático, não requer para o parto do seu Em meu livrinho de
preparação, é possível agendar, e outras desejo: com presença convênio há quase
‘vantagens’? de acompanhante? cinqüenta nomes de
médicos. Se eu marcar
Mulheres (e homens!) agora já podem De doula? Onde?
uma consulta por
contar com muita informação, e informação Qual profissional
semana, vou chegar no
é poder! É o poder de compreender o que se prestará assistência?
final da gestação sem
passa para poder fazer escolhas sobre o que é Como fazer a lista de conhecer todos eles.
melhor para si e para poder negociar, com o expectativas (plano Como encontrar um
profissional que a acompanha, como deseja de parto)? Como bom profissional de
que seja atendido o seu parto negociá-la com o saúde para me
Vale a pena – de forma esclarecida e profissional? Quais acompanhar na
lutar por um parto consciente. Este singelo livro é são os sinais de que o gestação e no parto?
normal depois da o mapa da mina para quem profissional tem p.69
cesárea?
anda em busca do bom parto! escuta para essas
p.133
expectativas e pretende atendê-las? E quais
O livro elucida em os sinais que apontam para o oposto?
linguagem acessível os mais recentes avanços
do conhecimento: esclarece os fundamentos Por outro lado, não omite que, às vezes, a
da medicina baseada em evidências cirurgia pode ser indicativa, essencial para o
científicas; comenta sobre o contexto da sucesso da finalização de uma trajetória de
atenção ao parto em nosso país; em nove meses de espera. O capítulo ‘Quando a
linguagem coloquial, por meio de perguntas cesárea é necessária’ informa de forma
e respostas, vai, pouco a pouco, iluminando honesta e sem o subterfúgio do linguajar
o trajeto para quem busca saber mais: Como técnico as ocasiões em que a cirurgia deve ser
é a dor no caso da cesárea? Por que o parto indicada, ao mesmo tempo em que aponta
dói? O que é a dor provocada pela assistência alguns dos artifícios adotados por maus
ao parto (dor iatrogênica)? O que é mais profissionais para induzir a mulher a
seguro, para a mulher e o bebê, o parto acreditar que a
normal ou a cesárea? Por cirurgia se fez Esta semana encontrei uma amiga
que, no Brasil, não se necessária (falta e ela disse que o médico
O que me dá pânico informam adequadamente de dilatação, recomendou uma cesárea porque
de parto é pensar em os riscos da cesárea ou dos bacia muito o bebê estava com o pé
cortar minhas partes procedimentos usados no estreita, bebê enganchado na costela dela. Mas
mimosas. Toda mulher se o bebê está no útero, como o pé
parto? Por que é muito grande,
tem que fazer o tal dele estava preso na costela? Juro
importante manter o gestante jovem
pique para o bebê que não entendi. p.119
perineo íntegro no parto? O demais
nascer? Se for preciso
cortar embaixo, prefiro que deixa a mulher mais (adolescente),
uma cesárea. p.95 satisfeita: o parto normal gestante idosa demais...
ou a cesárea? É de forma bem carinhosa que as autoras
introduzem o homem – o companheiro – no
Adotando um tom bem humorado para cenário: “a participação do parceiro não
suas explicações, vai desvendando de quem deve ser pensada como um dever, uma

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obrigação, mas como um direito, que pode enriquecedora de um parto normal, com
ou não ser exercido”. No mesmo estilo tudo o que lhes é de direito, certamente este
coloquial e bem humorado vão sendo será o “ponto de mutação” das curvas
oferecidas respostas aos questionamentos ascendentes de nossas taxas de cesarianas
que porventura o parceiro possa colocar. No desnecessárias.
contexto atual de recente sanção do Enfim, como consta na capa posterior, este
Presidente à tão aguardada Lei do livro
Acompanhante – Lei 11.108 de 7 de abril de
2005 -, esse capítulo é valoriza as dimensões saudáveis,
Gostaria muito de um grande recurso para positivas, emocionantes e belas da
estar no parto. Aliás ela esclarecer e dar experiência do parto, para que não seja
está me cobrando segurança aos vivido como uma tortura imposta às
isso. Mas passo mal
companheiros que mulheres pelo pecado original ou pela
só de estar em um
desejam ser mais natureza, mas, sim, como uma
hospital. Tenho medo
participantes. Saliente- experiência emocional, social e corporal
de desmaiar na hora.
Isso aconteceu com se, todavia, que a lei saudável, uma aventura humana que

um amigo meu. Não é dispõe que o/a pode ser vivida com segurança graças às
coisa de boiola, para acompanhante será a técnicas disponíveis.
outros assuntos eu pessoa de escolha da
sou muito macho. mulher – contemplando Ou, como também foi comentado por
p.149 mulheres que Maria Cecilia Dias de Miranda (2005), a
eventualmente não respeito do lançamento: “É mais do que um
tenham companheiro. livro, um coringa para trazer no bolso.
Diferentemente do livro do insigne Tudo aquilo que precisávamos para virar a
escritor Michel Odent - também lançado maca, quero dizer dobrar a mesa.”
recentemente (2004), um outro excelente
recurso que aborda questões referentes à Daphne Rattner
Área Técnica de Saúde da Mulher, Departamento
cesárea, principalmente nas perspectivas de Ações Programáticas Estratégicas, Ministério da
antropológico-cultural, obstétrica, primal (da Saúde. <drattner@ibest.com.br>
sabedoria instintiva primitiva) e reflexiva -
este é um guia eminentemente prático, com
respostas claras às questões que podem afligir
quem busca uma vivência enriquecedora do
nascimento de sua criança. Ao final consta
um glossário de termos do âmbito médico e Referências
uma lista de outros recursos de informação, GABAY, M.; WOLFE, S.M. Unnecessary cesarean
como livros, vídeos e páginas da internet sections: curing a national epidemic. Washington (DC):
recomendadas: recursos eletrônicos Public Citizen’s Health Research Group, 1994. (brochura)
disponíveis para quem busca mais RATTNER, D. Sobre a hipótese de estabilização das taxas de
informações para consusbstanciar uma cesárea no Estado de São Paulo. Rev. Saúde Pública, n.30,
decisão consciente e informada. Com 179 p.19-33, 1996.
páginas e preço bem acessível (R$ 22,00), em ODENT, M. A cesariana. Florianópolis: Saint Germain, 2004.
breve se tornará referência constante para
MIRANDA, M. C. D. Lista de discussão. Disponível em:
casais (e, possivelmente, para profissionais de <rehunabrasil@yahoogrupos.com.br>. Acesso em: 23 mar.
saúde abertos a questionamentos da prática 2005.
obstétrica atual). Se a consumidora tem
sempre razão e muitas mulheres decidirem
que não abrem mão da vivência
Recebido para publicação em: 13/05//05.
Aprovado para publicação em: 20/05/05.

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