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SALOMÉ

MARIANA

Será correto ter filhos de forma artificial? (falar como iso está envolvido com a bioética)

A verdadeira revolução na área da reprodução humana ocorreu a partir de 1978, com o


nascimento do primeiro ser humano produzido fora do organismo materno, ainda que
gerado no útero da mãe. (fiv) A partir de então, as técnicas de reprodução medicamente
assistida começaram a desenvolver-se e transformar-se numa realidade clínica no
tratamento da infertilidade.

No entanto, isto fez surgir grandes polémicas de caráter moral e ético. Devido à falta de um
consenso natural em relação aos problemas éticos que surgiram, alguns países optaram
por regulamentar a reprodução medicamente assistida através de legislações específicas
ou guias de referência.

Assim, devido à facilidade com que a ciência pode manipular a vida, é necessária a
intervenção da Bioética.

Esta tem um papel fundamental no desenvolvimento de valores morais e princípios éticos, a


ser aplicados nos procedimentos médicos, impondo limites às descobertas científicas e à
sua utilização, para que estas não prejudiquem a dignidade do ser humano e não
transformem este num mero objeto de experiência.

resolução da infertilidade
Através desta técnica foi possível resolver inúmeras situações de infertilidade conjugal,
fazendo-se nascer milhares de crianças que em condições naturais jamais teriam sido
originadas, permitido a muitos casais a concretização do desejo de
maternidade/paternidade.
No entanto, geraram-se seres humanos cuja origem biológica é diferente daquela que
durante milénios marcou a história do ser humano, estabelecendo-se, assim, uma
dissociação entre o afetivo e o biológico, uma rotura entre o ato sexual e a reprodução.
As tecnologias de reprodução medicamente assistida (RMA) enquadram-se no tratamento
de problemas relacionados com a fertilidade, sendo bem claro que o recurso às mesmas
deve ser entendido como um método que auxilia, e não alternativo de reprodução.

Assim, para que ocorra fecundação é necessária a junção de um gâmeta feminino e um


gâmeta masculino:

Fertilização homóloga:
O material genético pertence ao casal envolvido, no qual o ser concebido herdará
informações genéticas do casal.

Fertilização Heteróloga:
Para além do casal, ocorre a participação de um terceiro envolvido no procedimento.
Assim, o nascituro recebe metade da herança genética de um dos membros do casal e
metade do doador, ou nenhuma do casal, se por ventura os dois gâmetas tiverem sido
doados

Questões bioéticas da aplicação das técnicas de reprodução medicamente assistida


(informações apresentadas de acordo com a lei portuguesa (janeiro, 2021))

1.os relativos à utilização do consentimento informado;


-direito de livre escolha que o indivíduo possui com relação aos procedimentos que
pretende submeter-se, cabendo a equipe de saúde atender a sua vontade, respeitando os
limites éticos e morais.
-bem estar do indivíduo, os procedimentos a serem realizados devem objetivar benefícios a
saúde do mesmo evitando-se prejuízos e danos.
-acesso de forma igualitária aos serviços de sáude, pois a saúde é direito de todos além de
ser um dever do Estado
2.a doação de gâmetas e embriões;
-A doação de gâmetas é possível devido à possibilidade de criopreservação destes, ou seja de
espermatozoides ou ovócitos (bancos de gâmetas)provenientes de terceiros

-é um procedimento normalmente utilizado quando há ausência, baixa qualidade ou


problemas genéticos relacionados com os gâmetas dos progenitores;
As questões debatidas em relação às doações são em referência a definição do doador
genético (desconhecidos, membros da família, amigos, banco de gametas), a ocorrência de
compensação financeira e o anonimato do doador genético.

-É mantido o anonimato do doador de material genético;

-É possível fornecer informações genéticas no caso de existência de impedimentos por


dano psíquico, perigo à sua saúde ou de relacionamentos consanguíneos.

-Não é atribuída a paternidade biológica ao doador, para que se preserve a unidade da


relação familiar e da paternidade socioafetiva.

-É proibida a venda de óvulos e esperma

3.seleção de embriões com base na evidência de doenças ou problemas associados;

● O PGD (diagnóstico genético pré-implantacional) é um procedimento em que uma


célula do embrião é retirada e submetida a uma análise genética.
● objetivo:selecionar e transferir embriões sem anomalias genéticas para o útero
materno
● A manipulação genética não é permitida para a definição de características físicas
– como cor da pele, dos olhos e dos cabelos;

● Preocupa, eticamente, manipulações que visem um “melhoramento da espécie”,


no sentido de eliminar diversidades corporais (eugenia) que fujam de padrões
estéticos, funcionais e raciais hegemónicos (dominantes).
● A adoção de tecnologias biomédicas deve estar comprometida com a promoção da
autonomia e liberdade das pessoas, e não com a manutenção de padrões morais
hegemônicos e com a hierarquização de valor instaurada na comparação entre
seres humanos distintos entre si. Os procedimentos de manipulação genética de
embriões com a intenção de eliminação da diversidade humana considerada
indesejada merecem especial atenção dado seu viés discriminatório e eugênico.

4.SELEÇÃO DO SEXO
● Não pode ser feito um melhoramento de determinadas características não médicas
do nascituro, designadamente a escolha do sexo (importante salientar para países
como a China, em que há uma preferência de escolha pelo sexo masculino);

● Esta é justificada apenas quando utilizada para evitar transtornos genéticos


ligados ao sexo.

5. Estatuto do embrião

● É controverso o momento exato em que a vida se inicia Dessa forma, não há


consenso se o embrião é uma vida humana e deve ser tratada como tal, ou não;
● O que não podemos contestar, é que estamos na presença de um ser vivo da
espécie humana;
● Em Portugal, a posição que o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida
(CNECV) tomou em 1997 relativamente ao estatuto do embrião foi " O embrião é,
em qualquer fase e desde o início, o suporte físico e biológico indispensável ao
desenvolvimento da pessoa humana e nele antecipamos aquilo que há-de vir a ser:
não há, pois, razões que nos levem a estabelecer uma escala de respeito."

6. NECESSIDADE DE ESTADO CIVIL ESPECÍFICO E ACESSO DE PESSOAS


SOLTEIRAS E CASAIS HOMOAFETIVOS

-A reprodução humana assistida tem sido uma biotecnologia muito procurada por casais
com problemas de fertilidade, além de casais homoafetivos e pessoas solteiras que
procuram a sua realização enquanto família.

- o reconhecimento da união estável entre homem e mulher não se distingue da união


estável homoafetiva, pois as convivências de ambos possuem a mesma base, ou seja, o
afeto, portanto, a opção sexual não pode ser critério para se garantir o direito da família de
ter filhos ou não
Da mesma forma as pessoas que optaram em levar uma vida sem se envolver num
relacionamento e com desejo de ter filhos, não lhes pode ser negado o direito a utilização
das RMA

Na perspectiva dos direitos humanos, é fundamental resgatar o direito à constituição de


família como direito universal.

-Podem recorrer às técnicas de RMA os casais de sexo diferente ou os casais de mulheres,


respetivamente casados ou casadas ou que vivam em condições análogas às dos cônjuges,
bem como todas as mulheres independentemente do estado civil e da respetiva orientação
sexual. (18 anos de idade e não se encontre interdito ou inabilitado por anomalia psíquica.9

As técnicas de RMA são um método de auxílio, e não alternativo de procriação (só pode
verificar-se mediante diagnóstico de infertilidade ou por outra razão médica grave)

ex: No Brasil, duas mulheres lésbicas produziram uma gestação, em que o oócito II de uma
delas foi fertilizado in vitro por material seminal adquirido em banco de esperma, tendo sido
implantado o embrião no útero da segunda mulher. Isto abalou a própria noção de
maternidade.

7.EMBRIÕES EXCEDENTÁRIOS CRIOPRESERVADOS (congelados)

-Na fecundação in vitro há possibilidade de ocorrer uma gestação múltipla.

-Os embriões que se originam a partir da fecundação in vitro ficam congelados-


criopreservação (temperatura na ordem dos -900ºC (em azoto líquido)) - à espera de
implantação no útero da mãe, permitindo o seu congelamento por longos períodos de
tempo, para que possam ser utilizados em tentativas posteriores de engravidar,
comprometendo-se os beneficiários a utilizá-los em novo processo de transferência
embrionária no prazo máximo de três anos,

- e consequentemente aumentam a quantidade de embriões criopreservados nas clínicas de


reprodução humana assistida, surgindo à discussão quanto ao destino correto destes
embriões(fiv)
-objetivo principal: evitar submeter a mulher a sucessivas aspirações foliculares
(procedimento realizado para captação de oócitos)

Assim, posteriormente, este excedente pode ser utilizado:

-por outro casal estéril, por doação, para fins reprodutivos;

-para a obtenção de células estaminais (células com capacidade de dar origem a células
especializadas do nosso corpo);

-para experimentação científica;

- para descongelação e rejeição;

8. redução embrionária
-Devido à impossibilidade de controlar a qualidade da gravidez, a solução encontrada foi a
superprodução de óvulos – por meio da hiperestimulação ovariana – e de embriões.
-Objetivo: ampliação da margem de sucesso do tratamento para engravidar
Assim, gravidezes múltiplas são de certa forma frequentes devido à transferência de
múltiplos embriões para o útero materno.

- é possível reduzir o número de fetos a serem gerados através da redução embrionária.


O procedimento consiste em eliminar alguns embriões, normalmente os menos viáveis ou
com localização pouco favorável dentro do útero, e dar continuidade à gravidez.
-Esse procedimento é discutível por se assemelhar ao aborto e ter as mesmas questões
éticas e morais envolvidas.
(zift)Importante salientar que confirmada à fecundação do óvulo, diminui-se
consideravelmente a ocorrência de gravidez múltipla, já que poucos zigotos são
introduzidos na mulher.

-o número de embriões resultantes da fertilização in vitro deve ser estritamente limitado ao


que se entenda mais conveniente, segundo o estado actual da ciência, para o êxito da
procriação. Neste caso, 3 embriões, no mesmo ciclo, para o útero da mulher.

9. a maternidade substitutiva/útero de substituição;


-O útero de substituição é geralmente utilizado por mulheres com alterações anatômicas no
útero ou em caso de contraindicação clínica de gravidez.
Mais recentemente, também tem sido utilizado por casais homoafetivos masculinos e
reprodução póstuma.
- Em relação a esse procedimento, as questões mais discutidas são em torno da escolha da
doadora de útero, o vínculo desta com o casal que está requerendo a gravidez e se deve
ocorrer compensação financeira pela cessão temporária de útero

-Portanto a mulher que gera um filho no seu ventre recebendo gametas de terceiros, não
tem a informação genética transmitida ao filho, tecnicamente falando, os pais biológicos são
os que forneceram o material genético.

-É proibido qualquer tipo de pagamento ou a doação de qualquer bem ou quantia dos


beneficiários à gestante de substituição pela gestação da criança,

9.inseminação post-mortem/reprodução póstuma


-O congelamento de gametas e embriões também tornou viável a reprodução póstuma.

-Sendo assim, em casos de falecimento é possível que o cônjuge remanescente possa


exercer a parentalidade mesmo após a perda de um membro do par.
-As questões que surgem com essa possibilidade é em relação à motivação em gerar o
descendente:
- Em muitos casos, a razão principal pode ser a dificuldade de superar o luto e até
mesmo para obter compensação financeira em partilha de herança
-Os casos mais comuns são quando o falecimento é do cônjuge masculino. No caso de
falecimento do cônjuge feminino, é necessário que a reprodução póstuma seja realizada
através do útero de substituição.
lei pt:
1 - Após a morte do marido ou do homem com quem vivia em união de facto, não é lícito à mulher ser
inseminada com sémen do falecido, ainda que este haja consentido no ato de inseminação.
3 - É, porém, lícita a transferência post mortem de embrião para permitir a realização de um projeto
parental claramente estabelecido por escrito antes do falecimento do pai, decorrido que seja o prazo
considerado ajustado à adequada ponderação da decisão.

10. clonagem reprodutiva (obter um ser vivo a partir de núcleos de células somáticas
adultas, geneticamente reprogramadas e revertidas ao estado embrionário)
1. É proibida

11. existência de cobertura por plano de saúde ou assistência do governo para TRA

Fazer um tratamento de fertilidade num centro público de PMA é gratuito,


sendo que os medicamentos são comparticipados em 69%, mesmo que os
utentes optem pelo privado.

Mas o tempo de espera pode ser longo, pode ir dos 30 aos 339 dias.

Em países como Portugal há incentivo do governo para os casais procriarem devido


ao baixo crescimento demográfico dessas populações.

12. Será lícito o bem da mulher versus o bem do futuro fi lho?

-Muitas vezes nos deparamos com a saúde da mulher debilitada, a maior parte das vezes
por Síndrome de Hiperestimulação Ovárica (SHO),( resposta excessiva aos medicamentos
usados para o crescimento dos óvulos.) (Estas mulheres possuem um grande número de
folículos crescentes e altos níveis de estradiol. Isso leva à libertação de líquido no abdômen
podendo causar inchaço e náuseas.)
-No Estatuto da Ordem dos Enfermeiros diz que se deve “Atribuir à vida de qualquer
pessoa igual valor, pelo que protege e defende a vida humana em todas as circunstâncias”.
-Assim, Não podemos pôr em risco a vida da mulher, para não prujedicar o embrião, pois
nem sequer sabemos se o embrião se vai desenvolver.

Predomina um silêncio sobre o alto índice de insucesso das tecnologias


reprodutivas, aliado à exaltação da tecnologia biomédica e à falsa ideia de que não
haveria impedimentos para a consumação da procriação

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