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A sala de aula como campo de pesquisa:

aproximações e a utilização de equipamentos digitais

Oldimar Cardoso
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Universidade de São Paulo

Resumo

Este artigo apresenta considerações de ordem metodológica sobre


pesquisas de observação de sala de aula realizadas na cidade de
São Paulo, em 2002 e 2005, e em duas cidades francesas, no ano
letivo 2006-2007. Com base na metodologia utilizada nessas pes-
quisas e no diálogo com a bibliografia sobre pesquisas de campo,
inclusive de outras áreas, os autores analisam as dificuldades en-
frentadas nesse contexto e propõem a utilização de equipamen-
tos digitais em campo como contribuição ao rigor e à validade
desse tipo de pesquisa. Na primeira parte do artigo, são discutidos
problemas fundamentais da pesquisa de observação de sala de
aula, como o estranhamento do familiar, a conquista da “solidari-
edade” e da “camaradagem” dos atores de campo e o estabeleci-
mento de certa diferença entre observação e interpretação. Na
segunda parte, são apresentados equipamentos digitais utilizados
nas pesquisas citadas que não apenas agilizam ou facilitam o ofí-
cio do pesquisador. O uso desses equipamentos, orientado por
uma metodologia que lhes dê sentido, pode auxiliar os pesquisa-
dores de sala de aula a ampliar significativamente o rigor e a va-
lidade de seu trabalho ao multiplicar as possibilidades de criação
de tipos de fonte de dados. Nessa parte do artigo, é discutido o
uso de palmtops, gravadores de áudio e câmeras fotográficas di-
gitais, smartphones, microcâmeras sem fio, notebooks e editores
de áudio e vídeo em pesquisas de observação de sala de aula.

Palavras-chave

Metodologia de observação de sala de aula — Observação participante


interpretativa — Representações.

Correspondência:
Oldimar Cardoso
Rua Afonso José de Carvalho, 196
05451-000 – São Paulo – SP
e-mail: oldimar@gmail.com

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The classroom as a research field: approximations and
the use of digital equipment

Oldimar Cardoso
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Universidade de São Paulo

Abstract

This article offers considerations of a methodological order about


classroom observation studies carried out in 2002 and 2005 in the
city of São Paulo and in the 2006/2007 academic year in two
French cities. Based on the methodology employed in these studies,
and on a dialogue with the literature on fieldworks, including those
from other areas, the authors analyze the difficulties faced within
this context and propose the use of digital equipment in the field as
a contribution to the rigor and validity of this kind of research. In the
first part of the article, fundamental problems of the research
involving classroom observation are discussed, such as the perplexity
with the familiar, the conquest of the “solidarity” and “camaraderie”
of the field agents, and the establishment of a difference between
observation and interpretation. The second part of the text describes
digital equipment used in the above-mentioned studies which do
more than just speed up or facilitate the task of the researcher. The
use of these equipments, guided by a methodology that gives them
meaning, can help researchers in the classrooms to expand
significantly the rigor and validity of their work by multiplying the
possibilities of creating types of data sources. This part of the article
discusses the use of palmtops, audio recorders and digital cameras,
smartphones, wireless micro-cameras, notebooks, and audio and
video editors in researches involving classroom observation.

Keywords

Classroom observation methodology — Interpretive participative


observation — Representations

Contact:
Oldimar Cardoso
Rua Afonso José de Carvalho, 196
05451-000 – São Paulo – SP
e-mail: oldimar@gmail.com

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A busca de uma melhor explicação para As conclusões a que as pesquisas de cam-
os fenômenos educacionais orienta-se por di- po pretendem chegar não se referem a todos os
ferentes perspectivas teóricas e diversas abor- “casos” existentes na realidade, mas também não
dagens metodológicas de pesquisa. Ainda que se restringem apenas ao “caso” observado. Essas
as definições metodológicas se relacionem de pesquisas enfocam um número restrito de contex-
forma estreita com a perspectiva teórica adota- tos para descrever características que possivelmente
da por um pesquisador, é possível discutir a se apresentam em uma quantidade significativa de
respeito dos espaços e dos modos de investi- outros contextos. Cabe ao pesquisador diferenci-
gação no interior de um tipo de pesquisa. Si- ar as idiossincrasias observadas nos atores de cam-
tuando-se no âmbito da categoria de pesquisa po de suas características possivelmente existentes
social denominada estudo de campo e mais entre os atores de vários outros contextos.
especificamente referindo-se a estudos de caso, O que define o rigor de uma pesquisa de
pretende-se neste texto discorrer a respeito de campo não é a quantidade de atores observa-
abordagens, métodos e de equipamentos pro- dos ou a quantidade de dados criados sobre
missores ao alcance e ao desvelamento de fe- eles, mas a variedade de tipos de fonte de
nômenos educacionais específicos que ocorrem dados e as possibilidades de comparação entre
nas escolas, no espaço das salas de aula. eles. As pesquisas de campo criam suas próprias
fontes de dados, não recorrendo àquelas cria-
Aproximações ao campo de das por terceiros, como séries documentais e
estudo e ao caráter da estatísticas. Faz-se necessário, então, elaborar
observação uma quantidade significativa de tipos de fon-
te de dados para que o pesquisador de campo
No início do século XX, os primeiros cien- possa criar os dados amparado em fontes de
tistas sociais foram a campo com o objetivo de naturezas distintas.
ultrapassar a descrição daquilo que Bronislaw A observação de sala de aula, como um
Malinowski (1984) chamava de “esqueleto” de uma tipo específico de pesquisa de campo, também
cultura. Eles passaram a preocupar-se também com exige a elaboração de uma quantidade significa-
a “vida cotidiana” e com o “comportamento habi- tiva de tipos de fonte de dados. Este artigo pro-
tual”, que seriam, por assim dizer, a “carne” e o põe que a utilização de equipamentos digitais em
“sangue” dessa mesma cultura (p. 32). campo contribui profundamente com isso e apre-
As metodologias de pesquisa de campo senta considerações elaboradas com base na uti-
criadas a partir de então visam superar a reifi- lização desses equipamentos em pesquisas de
cação do social promovida pelas perspectivas observação de sala de aula realizadas pelos auto-
que generalizam fatos encontrados somente nas res na cidade de São Paulo, em 2002 e 2005, e
fontes privilegiadas pelo pesquisador. Ao estu- em duas cidades francesas, no ano letivo 2006-
dar casos específicos no cotidiano, as pesqui- 2007. Este artigo está focado no conceito de
sas de campo procuram desfazer o mito de observação participante interpretativa proposto
uma homogeneidade social passível de descri- por Frederick Erickson (1985) e no contexto
ção por um número restrito de categorias. Por dessas três experiências de pesquisa, optando-se
outro lado, ao negar esses princípios genera- por não polemizar o tema. Isso, porém, não im-
lizantes, as pesquisas de campo passam a cor- pede que se beneficiem deste relato os pesquisa-
rer o risco ainda mais sério de “sacralização do dores que utilizam outras metodologias para
indivíduo”, podendo resvalar num “individualis- observação de sala de aula.
mo metodológico” que, de acordo com Claudia Antes de tratar especificamente do uso
Fonseca (1999), leva à máxima “cada caso é de equipamentos digitais na observação de sala
um caso” (p. 59). de aula, é necessário analisar as características

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mais básicas desse tipo de pesquisa. Uma pri- tipo de pesquisa, a de observação de sala de
meira característica das pesquisas de observa- aula não representa uma “ponte entre dois
ção de sala de aula é sua contribuição para mundos culturais”3.
superar o que ficou conhecido como “antropo- A pesquisa de observação de sala de aula
logia de varanda” em referência aos etnógrafos também não precisa ter compromissos rígidos com
que coletavam informações dos nativos nas alguns conceitos e métodos que são canônicos
varandas das casas dos governantes coloniais1. para a antropologia. Por exemplo, o estranhamento
Apesar de deixar seus gabinetes para ir a cam- do familiar, que é fundamental para a pesquisa an-
po, o que já representa uma mudança signifi- tropológica, não é necessariamente uma condição
cativa para a antropologia, os antropólogos de de êxito da pesquisa de observação de sala de
varanda apenas entrevistam os que se dirigem aula. O problema do estranhamento existe para os
até eles. Já os observadores de sala de aula não antropólogos desde que estes deixaram de se de-
se dirigem até a escola apenas para entrevistar dicar exclusivamente às culturas que lhes parecem
professores e alunos, mas para conviver e exóticas e passaram a observar também as cultu-
experienciar com eles os diferentes espaços e ras urbanas nas quais eles próprios estão inseridos.
ambientes de ensino e de aprendizagem esco- Essa mudança paradigmática exigiu deles um
lar. Os conceitos de experiência — Erfahrung — esforço de estranhamento, necessário para não
e vivência — Erlebnis — são utilizados aqui criar uma descrição redundante de sua própria
conforme a tradição da filosofia alemã, que cultura. O problema do estranhamento transfe-
define a experiência como o começo de todo o riu-se posteriormente para a etnografia da
conhecimento e a vivência como a mera passa- escolarização, pois como seu pesquisador já foi
gem do tempo num dado lugar. O substantivo aluno e muitas vezes também já foi ou ainda é
Erfahrung é constituído pelo verbo fahren — professor, tudo que ele observa na sala de aula
viajar —, que lhe dá o sentido de “partir em pode lhe parecer extremamente familiar. Ainda
viagem para explorar ou ficar a conhecer algo” que o estranhamento possa ser um processo
(Inwood, 1997, p. 130). Por isso, um professor importante para a pesquisa de observação de
com quarenta anos de “experiência profissional” sala de aula — tanto quanto seu inverso, a
— no sentido vulgar dessa expressão —, tem empatia com o estranho —, o estudo da cultu-
quarenta anos de vivência, mas pode não ter ra escolar pode descrever situações familiares
qualquer experiência – Erfahrung. A presença do sem obrigatoriamente estranhá-las. A descrição
pesquisador em sala de aula também não tem do familiar pode ser realizada de forma sufici-
garantias de ser sempre uma experiência. Um ente se o olhar do pesquisador estiver ampara-
pesquisador pode ter uma vivência de um ano em do em uma teorização, com conceitos e cate-
campo sem mesmo um dia de experiência. O que gorias de análise consistentes, permitindo uma
faz da presença na cultura escolar uma experiên- melhor compreensão desse familiar.
cia é a possibilidade de interlocução e reflexão O estranhamento não se apresenta neces-
sobre essa cultura. Nesse caso, o pesquisador se sariamente como uma condição de êxito de
constitui como quem partiu para explorar e o pesquisas de observação de sala de aula porque
professor como quem ficou para conhecer.
Ainda que as pesquisas de observação
1. Para uma referência à antropologia “de varanda” – on the verandah –, ver
de sala de aula possam beneficiar-se das refle- Stocking, 1983.
xões dos antropólogos sobre sua atuação em 2. O estabelecimento de paralelos entre culturas distintas, prática co-
mum entre os antropólogos, tem um de seus exemplos clássicos na rela-
campo, elas nem sempre se focam nas compa- ção sugerida por Clifford Geertz entre a briga de galos balinesa e a arte
rações com elementos externos à sua própria europeia. Para essa relação, ver GEERTZ, 1978, p. 318. Para críticas a
essa relação, ver Schneider, 1993; Freitas; Batitucci, 1997.
cultura — o que é uma prática corrente na 3. Sobre a definição da “ficção antropológica” como uma “ponte entre
pesquisa antropológica2. Diferentemente desse dois mundos culturais”, ver Caldeira, 1988.

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as diferentes experiências e vivências profissio- escrevia um livro sobre o seu bairro. Para esse
nais do pesquisador na área da Educação não autor, isso era extremamente vago e exigia mai-
são obstáculos à análise do contexto de campo. ores explicações. Todavia, para os atores de cam-
Inversamente, o confronto das experiências e po, essa explicação já era suficiente, e poderia sig-
vivências do pesquisador com as do contexto de nificar algo bom ou ruim, dependendo apenas da
campo pode ser um elemento positivo para opinião que tivessem sobre sua pessoa. Foote-
observações mais argutas a respeito da sala de White (1980) também percebeu nessa pesquisa
aula. Essas experiências e vivências não são que atores de campo não esperavam que ele fosse
uma parte da subjetividade do pesquisador que um igual, inclusive rejeitando suas tentativas
precisaria ser subtraída. Em vez de eliminá-la, equivocadas nesse sentido. A expectativa dos
o pesquisador precisa dela para adquirir cons- atores de campo era apenas de uma integração
ciência e eventualmente explicitá-la aos atores com o pesquisador, mas não de uma “integração
de campo com o intuito de administrá-la. completa” com ele.
O processo de explicitação das experiênci- Um observador de sala de aula não
as e vivências do pesquisador cumpre ainda, na pode depender de um episódio inesperado,
pesquisa de observação de sala de aula, papel como o que ocorreu com Geertz (1978), para
semelhante ao que tem nas pesquisas antropoló- o estabelecimento de relações pessoais sem a
gicas a criação de laços com os atores de campo. pretensão de se tornar um igual, como suge-
De acordo com Clifford Geertz (1978), a conquis- re Foote-White (1980). Um dos cuidados que
ta da “solidariedade” e da “camaradagem” dos um observador de sala de aula pode tomar
atores de campo torna-se necessária porque o para estabelecer relações pessoais com os ato-
pesquisador é um “invasor profissional”. Por isso, res de campo é a aproximação direta com os
ele precisa conquistar a confiança dos atores de professores, para evitar que a presença do
campo para garantir que sua convivência no con- pesquisador pareça alguma imposição da dire-
texto seja a mais significativa possível. Ele relata ção da escola ou de outra instância burocrá-
como, em uma de suas pesquisas, a criação tica hierarquicamente superior. Se o pesquisa-
desses laços dependeu de um episódio inespe- dor não tomar esse cuidado, os atores de
rado: a invasão pela polícia da aldeia em que campo podem se esquivar dele ou até proibi-
ele pesquisava. De acordo com esse autor, o fato lo de observar suas aulas (Cardoso, 2003).
de ele também fugir da polícia durante esse epi- Além desse cuidado inicial, é importan-
sódio, mesmo sem precisar, garantiu a aproxi- te que o pesquisador procure todo o tempo
mação necessária em relação aos atores de compartilhar suas experiências com os atores
campo pesquisados, mudando sua relação com de campo, tanto para ajudá-los a solucionar
eles e interferindo positivamente nos resultados problemas cotidianos quanto para, pelo menos,
da pesquisa. esboçar um sentido aos problemas insolúveis.
Outro autor que refletiu sobre a necessida- O pesquisador também pode compartilhar suas
de da criação de laços com os atores de campo foi vivências com os atores de campo, para ser visto
William Foote-White (1980). Confundido inicial- como igualmente submetido aos problemas da
mente pelos atores de campo de sua pesquisa com cotidianidade 4. Numa pesquisa realizada na
um investigador da polícia federal, precisou agir França, uma professora recebeu com ressalvas
rapidamente para adquirir sua confiança. O autor um dos autores deste artigo, dizendo aos alu-
percebeu que valiam mais as “relações pessoais nos no momento de sua apresentação: “— Nós
que desenvolvesse do que as explicações que somos um pouco suas cobaias”. No entanto,
pudesse dar” (p. 79). Ele notou que, para os ato- essa professora tornou-se menos incomodada
res de campo de sua pesquisa — moradores de um
bairro de migrantes italianos em Chicago —, ele 4. Para o conceito de cotidianidade, ver Penin, 1989.

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com a presença do pesquisador assim que sou- (Erickson, 1985). A pesquisa de campo apre-
be que ele era professor da mesma disciplina. senta as interpretações do pesquisador sobre as
A identidade profissional com os atores de representações dos atores de campo. Descrever
campo facilita o mimetismo do pesquisador e a as representações de atores de campo é mais
obtenção da solidariedade e da camaradagem do que registrar o que eles dizem ou fazem: é
necessárias à sua pesquisa. O momento-chave buscar compreender suas palavras e suas outras
para a aceitação da presença do pesquisador práticas sociais também por meio de suas au-
pela professora citada foi o diálogo que se es- sências – por meio da compreensão de por que
tabeleceu entre eles sobre a inspeção que ela eles não fazem uma parte do que dizem, por
sofreria na semana seguinte. Os professores fran- que eles jamais falam sobre uma parte do que
ceses são subordinados a um inspecteur de sua fazem e por que eles não falam ou não agem
disciplina, que assiste a suas aulas e lhes atri- sobre alguns dos aspectos do trabalho de sua
bui notas com impacto sobre sua progressão na área de atuação6.
carreira e sobre seus salários. Essa professora Uma pesquisa de observação de sala de
estava iniciando o segundo ano da carreira no aula pode buscar uma relação de empatia com os
momento da pesquisa e foi então inspecionada atores de campo, analisando suas representações
pela primeira vez. A aceitação do pesquisador por a partir da compreensão de seus pontos de vis-
parte da professora parece ter aumentado depois ta. Para isso, é necessário estabelecer uma certa
que esse compartilhou com ela dicas sobre a diferença entre observação e interpretação7. É
inspeção – coletadas com outros professores necessário dizer “uma certa diferença”, pois ob-
franceses – e ofereceu-lhe um livro que pode- servação e interpretação são parte de um mesmo
ria ajudá-la a preparar a aula da inspeção. Ao processo8. Observamos o mundo por meio de
demonstrar-se solidário aos problemas cotidianos sentidos culturalmente enformados, impossibilita-
dos professores, o pesquisador pôde garantir a dos de isenção. Procurar distinguir observação de
aceitação necessária à sua pesquisa. interpretação não significa a crença na objetivi-
Se a solidariedade e a camaradagem são dade científica absoluta. Isso significa a busca
condições essenciais para a realização de uma constante da maior proximidade possível com o
pesquisa de observação de sala de aula, elas objeto, mesmo sabendo que, por definição, ele
não precisam levar o pesquisador a reproduzir nunca será alcançado. Para Karel Kosik (apud
o discurso dos atores de campo. Uma pesqui- Penin, 1980), a “totalidade não significa todos os
sa de observação de sala de aula não precisa fatos” (p. 29) e acumulá-los não implica conhe-
ter a pretensão documentadora de resgatar ou cer a realidade. Os fatos são conhecimento de
de preservar para a posteridade as falas dos realidade somente se compreendidos como par-
professores. Ela também não precisa ter “aspi- tes de um todo. Nesse sentido, a totalidade não
rações democráticas” de incluir objetos tradici- significa tudo, mas as articulações essenciais que
onalmente desprezados pela pesquisa social 5. ligam o objeto de estudo a eventos específicos.
Uma pesquisa de observação de sala de aula Aqui não está em discussão o fato de a
não precisa contemplar essas duas aspirações pesquisa de observação de sala de aula represen-
porque não tem o poder de apresentar objeti-
5. Sobre a ideia de democratização dos objetos da pesquisa social, ver
vamente os pensamentos, as falas ou outras
Thomson, 1996.
ações dos atores de campo. O que a pesquisa 6. Sobre os conceitos de “representação”, “palavras”, “prática social”
de campo apresenta são dados construídos pelo e “ausência”, ver Lefebvre, 1983; e Penin, 1989; 1994; 1995.
7. Para um exemplo de pesquisa que diferencia observação de interpre-
pesquisador. Todas as informações obtidas pelo tação, ver Willis, 1991.
pesquisador em campo são fontes e não dados. 8. Norwood Russell Hanson (1975) considera que as “observações e
interpretações são inseparáveis – não apenas no sentido de que nunca se
Os dados são construídos com base nessas manifestam separadamente, mas no sentido de que é inconcebível mani-
informações por um meio formal de análise festar-se qualquer das partes sem a outra” (p. 127).

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tar uma ciência dura — hard science — ou uma evitar juízos de valor muito rígidos em campo
ciência mole — soft science —, já que os pesqui- para permitir um papel importante à reflexão
sadores de qualquer disciplina utilizam olhos, cé- efetuada fora dele. Em outros casos, mais com-
rebro e linguagem para observar o mundo. Tanto plexos do que os expressos nesses exemplos,
uma ciência humana — Geisteswissenschaft — essa separação é impossível. Então, observação
quanto uma ciência social — Sozialwissenschaft — e interpretação fundem-se em campo de forma
ou uma ciência da natureza — Naturwissenschaft indistinguível. Por isso, essas tentativas de se-
– nunca atingem a objetividade científica absolu- parar observação de interpretação não garantem
ta. Ainda assim, dado seu status institucional, a nenhuma objetividade à interpretação do pes-
pesquisa de observação de sala de aula tem a res- quisador, mas expressam sua responsabilidade
ponsabilidade de estabelecer como meta a máxi- de aproximar-se constantemente de seu obje-
ma aproximação em relação ao objeto para não to. Essa responsabilidade é necessária para
resvalar num ficcionismo incompatível com suas evitar que a pesquisa de observação de sala de
funções no interior de uma universidade pública. aula fique refém da autoridade do pesquisador
Buscar distinguir observação de interpre- e para permitir que essa pesquisa assuma como
tação significa realizar uma observação mais critérios de validade a apresentação de “provas”
refletida do que espontânea, focada também nos e a adequação de suas afirmações ao real9.
gestos, não somente nos sentidos atribuídos a A pesquisa de observação de sala de
eles. Para um exemplo concreto, a tentativa de aula gera uma interpretação não totalizante da
separar observação de interpretação ocorre cultura escolar10. Essa pesquisa não interpreta
quando o pesquisador registra em campo que o as representações dos atores de campo, mas
professor chegou atrasado 10 minutos e 30 representações de atores de campo. Por isso,
segundos e não que ele chegou muito atrasado. ela se restringe a observar intensamente um
O mesmo ocorre quando se registra o número pequeno número de professores ou alunos. Os
de alunos fora da carteira e o que exatamente resultados de uma pesquisa de observação de
esses alunos faziam, em vez de registrar que a sala de aula não dizem respeito a todos os
sala estava desorganizada. Ou ainda, essa ten- professores e alunos, mas identifica fenômenos
tativa de separar observação de interpretação que não se encerram sobre os poucos atores
ocorre quando se registra que um professor de observados na pesquisa. Enfim, ela identifica
História afirmou que os populistas eram “dema- novos fenômenos, mas não busca determinar a
gogos” — e se pergunta ao final da aula para sua grandeza.
o professor o que exatamente essa palavra sig-
nifica para ele naquele contexto —, em vez de Observação e coleta de dados
registrar que o professor criticou o populismo. em sala de aula: a utilização de
O objetivo dessa tentativa de separação equipamentos digitais
entre observação e interpretação é garantir que
a retomada do material elaborado e coletado Quando os primeiros cientistas sociais
pelo pesquisador em campo permita atribuir foram a campo, contavam apenas com lápis,
aos gestos um sentido diferente daquele que blocos de papel e máquinas de escrever para
seria atribuído no calor do campo. Se o pesqui- criar suas fontes de dados. Hoje, as máquinas
sador registra que o professor chegou muito de escrever podem ser substituídas por computa-
atrasado, que a sala estava desorganizada ou
que o professor criticou o populismo, não há a 9. Como escreveu Paul Willis (1991), as “teorias devem ser julgadas,
oportunidade de reinterpretar esses gestos de em última instância, pela adequação que representam em relação à com-
preensão do fenômeno que elas pretendem explicar – não em relação a si
uma forma mais refletida. Em suma, buscar mesmas” (p. 236). Sobre o conceito de “prova”, ver GINZBURG, 2002.
separar observação de interpretação significa 10. Sobre o conceito de cultura escolar, ver Chervel, 1990; 1998.

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dores pessoais e notebooks; os blocos de notas secutivo a diferentes grupos de alunos pela sala
por palmtops; e as câmeras fotográficas e grava- de aula. Além disso, a luz de fundo de tela
dores de áudio, surgidos posteriormente, por permite ao pesquisador realizar anotações mes-
câmeras de vídeo portáteis ou microcâmeras. mo no escuro, quando os alunos estão assistin-
Esses aparelhos digitais poderiam ser entendidos do a vídeos.
como mera modernização de seus antepassados O segundo problema relativo aos apon-
mecânicos. No entanto, o que se propõe aqui é tamentos que um palmtop ajudou a solucionar
que o uso de equipamentos digitais na pesquisa foi a observação pelos alunos daquilo que se
de campo não apenas agiliza ou facilita o ofício anotava. Como sua tela reflete a luz em várias
do pesquisador. O uso desses equipamentos, direções, somente quem o está utilizando pode
desde que orientado por uma metodologia que visualizar o que está sendo escrito e os alunos
lhes dê sentido, pode auxiliar os pesquisadores a à volta do pesquisador têm sempre grande di-
ampliar significativamente o rigor e a validade de ficuldade para enxergar o que ele escreve. Isso
seu trabalho ao multiplicar as possibilidades de garante que as observações do pesquisador
criação de tipos de fonte de dados. sobre a aula não sejam vistas pelos alunos. É
claro que em alguns momentos as observações
Elaboração de notas de campo do pesquisador podem ser compartilhadas com
digitais professores e alunos. Todavia, é importante que
tal instrumento de pesquisa garanta o conhe-
A elaboração de notas de campo em cimento das notas de campo apenas quando
formato digital foi o recurso mais comum pro- isso for do interesse do pesquisador.
porcionado pelo uso desses equipamentos. Tal A elaboração de apontamentos e notas de
formato garantiu um processo sistemático de campo em formato digital auxilia o pesquisador
recuperação e regulação das notas durante o a evitar a tipificação prematura dos acontecimen-
trabalho de campo e viabilizou sua comparação tos observados, indicada por Frederick Erickson
instantânea e posterior com as conclusões de (1985) como uma das ameaças ao rigor de uma
outras pesquisas. observação participante interpretativa. Quando os
Segundo Roger Sanjek (1990), o tipo mais apontamentos e as notas de campo são elabora-
comum de nota de campo é o “apontamento” ou dos em papel, fica praticamente impossível resga-
scratch note. Os apontamentos são produzidos tar as informações neles contidas depois de me-
diante dos atores de campo, enquanto são ob- ses de pesquisa. Nesse caso, a única função do
servados ou se conversa com eles. Normalmen- apontamento é servir de base para a elaboração
te, os apontamentos são escritos de forma abre- das notas de campo. Isso ainda exige a criação de
viada e mnemônica em pequenos blocos de um índice que permita recuperar o grande volu-
notas. Entretanto, quando elaborados num me de informações resultante da presença em
palmtop , diversos problemas metodológicos campo por um longo prazo.
existentes em torno deles podem ser soluciona- Com a elaboração de notas de campo em
dos como ocorreu nas pesquisas anunciadas. formato digital, todas as informações podem
A falta de agilidade nas anotações foi o ser resgatadas a qualquer momento por meio
primeiro problema minimizado pelo uso de um de uma ferramenta de busca. Basta digitar
palmtop . Esse equipamento permitiu que as qualquer palavra nessa ferramenta para que ela
aulas fossem registradas com facilidade mesmo localize todos os trechos de anotações de aula
caminhando pela sala. Um caderno de notas ou que a contém, o que desobriga a criação de um
mesmo um notebook dificultam as anotações do índice. Sem ter de elaborar um índice, o pesqui-
pesquisador, quando, por exemplo, ele tem de sador evita a tendência a tirar conclusões
acompanhar o professor no atendimento con- indutivamente desde as etapas iniciais do pro-

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cesso de pesquisa. Com a ferramenta de busca, é normalmente superior à dos emuladores de
não há o risco de se perder uma informação, editor de texto existentes nos handhelds. A
considerada irrelevante no início da pesquisa e utilização dos emuladores não é recomendada
importante mais adiante, pelo fato de ela não nos handhelds, pois seus arquivos exigem muito
fazer parte do índice. espaço na memória do aparelho e seus recur-
No palmtop, os apontamentos precisam sos de formatação, desnecessários aos objetivos
ser realizados sempre na ordem cronológica da pesquisa, tornam muito lentas as anotações
dos acontecimentos, que é a forma mais rápi- do pesquisador.
da. Qualquer outro critério de anotação envolve Os apontamentos realizados num palmtop
a procura do local certo para dispor a informa- podem ser perdidos em função de quedas aciden-
ção, o que desvia demais a atenção do pesqui- tais, do fim da carga das baterias ou de invasões
sador daquilo que ele precisa observar. Para por vírus — durante a conexão a um computador
facilitar a organização dos apontamentos, é pessoal. Para que a informação contida em seus
relevante que seja criado no palmtop um novo arquivos de texto não seja perdida, é necessário
arquivo de texto para cada turma por dia, que utilizar constantemente um software que realize
receba como nome a data, a turma e o profes- a sincronia de dados entre o palmtop e um com-
sor observados. No início dos arquivos que putador pessoal. Uma vez nele, os apontamentos
registram aulas também gravadas em vídeo, podem ser salvos em cópias de segurança.
podem ser anotados os tempos de início e fim De acordo com Roger Sanjek (1990), as
da gravação para facilitar a comparação das notas de campo propriamente ditas são realiza-
informações presentes nos apontamentos e nas das a partir dos apontamentos, quando o pes-
fitas de vídeo. Além disso, os nomes desses quisador se retira do contexto. Anteriormente,
arquivos precisam receber um símbolo que os Margaret Mead (1977) afirmou que isso deve ser
diferencie dos arquivos com anotações das feito oportunamente, antes que os apontamen-
aulas que não foram gravadas. Efetuando uma tos fiquem “frios”. As notas de campo são resul-
busca por esse símbolo, é possível separar com tado da complementação e do aprofundamento
apenas uma operação digital no próprio dos apontamentos a partir das lembranças do
palmtop todos os arquivos que contenham pesquisador. Segundo Sanjek (1990), as lem-
anotações de aulas gravadas e não gravadas. branças são registradas na memória do pesqui-
Esse mesmo artifício pode ser utilizado para fa- sador independentemente de sua vontade e
cilitar a posterior localização no interior dos constituem as recordações dos fatos vivenciados
apontamentos de informações específicas que em campo. As lembranças variam de acordo com
precisem ser reunidas e sistematizadas para a capacidade que o pesquisador tem para me-
análise. Os símbolos utilizados nesse caso de- morizar os acontecimentos e com as alterações
vem ser decorados pelo pesquisador para que sofridas pelas relações afetivas que ele estabelece
seu uso não diminua a velocidade de elabora- com os atores de campo pesquisados. As lem-
ção dos apontamentos. Por via das dúvidas, branças são as notas de campo menos rigoro-
vale a pena criar no palmtop um arquivo que sas e, ao mesmo tempo, podem ser aquelas que
funcione como um menu desses símbolos. mais influenciam o pesquisador nas conclusões
Para a realização dos apontamentos em que tira de seu trabalho. Isso ocorre porque as
campo, não é necessário utilizar um palmtop lembranças estão sempre submetidas aos pre-
com editor de texto compatível com os existen- conceitos do pesquisador e porque é difícil
tes nos computadores pessoais. Basta a utiliza- controlar a influência desses preconceitos so-
ção de um handheld com um software de blo- bre elas. Para administrar os preconceitos arrai-
co de notas capaz de criar arquivos de texto gados em suas lembranças, é importante que o
sem formatação. A performance deste software pesquisador resgate de relatórios de pesquisas

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anteriores os preconceitos já identificados em gráfica digital sempre em poder do pesquisador
suas notas de campo. São exemplos de precon- pode garantir o registro de alguma situação
ceitos comuns à pesquisa de observação de sala envolvendo os atores de campo, o registro de
de aula a visão de escola do pesquisador como um texto escrito num cartaz que pode ser ar-
aluno e como professor, suas representações rancado antes que o pesquisador tenha tempo
sobre seus professores preferidos, sua indigna- para copiá-lo ou o registro de um trecho de
ção diante de algumas posturas dos atores de livro que não poderá ser emprestado ao pesqui-
campo, sua maior simpatia por perspectivas de sador. Um smartphone combina todos esses
ensino e posições ideológicas que são as suas equipamentos portáteis num só: permite a re-
próprias. É importante que o pesquisador elabo- alização dos apontamentos num bloco de no-
re e utilize a lista de preconceitos que influenciam tas digital, a gravação de voz em formato di-
sua leitura do que ocorre em campo para reavaliar gital e a realização de fotos e vídeos.
cada lembrança, refletindo sobre como esses pre- Quando realizados num palmtop, os apon-
conceitos poderiam interferir em sua observação. tamentos elaborados num software de bloco de
Essa reflexão pode ocorrer sistematicamente em notas podem ser sincronizados com um compu-
vários momentos da pesquisa, como durante o tador pessoal, copiados para um arquivo de edi-
processo de transformação dos apontamentos em tor de texto e complementados para se transfor-
notas de campos propriamente ditas, durante o marem em notas de campo. Além de facilitar sua
processo de hierarquização das asserções empíricas redação, ao permitir que se complemente o que
originadas das fontes de dados e durante a reda- foi anotado, em vez de passar a limpo tudo o
ção dos relatórios de pesquisa. que já foi escrito, a realização dos apontamentos
Fazem parte das lembranças não apenas num palmtop permite também que o pesquisador
as aulas observadas, mas também as situações leve facilmente todos eles de volta ao campo no
experienciadas fora do contexto da aula e até dia seguinte.
mesmo fora do espaço da escola, nas quais às Depois de elaboradas, as notas de cam-
vezes não é possível realizar sequer aponta- po podem ser transferidas do computador pes-
mentos. Muitos diálogos estabelecidos com os soal do pesquisador para seu palmtop. Assim, o
atores de campo na sala dos professores, nos pesquisador pode manter nele uma pasta com
corredores da escola, na cantina, no bar ou no todos os arquivos de apontamentos e outra
restaurante da esquina e no caminho de uma pasta com os arquivos de notas de campo. Em
escola a outra fornecem informações importan- alguns casos, uma consulta a elas no contexto
tes para o pesquisador. Além de informar o pesquisado auxilia na recuperação de algumas
pesquisador, essas situações informais têm gran- informações importantes para a realização dos
de importância na obtenção da solidariedade e apontamentos que nem sempre estão presentes
da camaradagem dos atores de campo, discu- nas lembranças do pesquisador.
tida anteriormente. Para evitar que todas essas Sempre que tem algum tempo no próprio
situações menos formais — mas não menos campo para transformar seus apontamentos em
importantes — fiquem submetidas apenas às notas, o pesquisador pode fazê-lo diretamente em
suas lembranças, o pesquisador pode utilizar seu palmtop e posteriormente salvá-las em seu
equipamentos que garantam algum registro computador pessoal. Isso pode ocorrer quando,
delas. Um gravador de voz digital é pequeno o por exemplo, é necessário permanecer na escola
suficiente para ser carregado no bolso do pes- sem observar aulas em função da falta de um
quisador o tempo todo e assegurar o registro da professor ou da dispensa dos alunos para a reali-
fala dos atores de campo mesmo em situações zação de outras atividades. Além disso, durante a
inusitadas — sempre com o consentimento dos análise dos dados coletados, os apontamentos e as
atores de campo. Uma pequena câmera foto- notas de campo realizados num palmtop podem

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ser consultados diretamente no mesmo computa- além de armazenadas no computador pessoal
dor pessoal no qual o pesquisador redige seu re- do pesquisador, podem ser levadas a campo em
latório ou artigo. Isso facilita a manipulação dos seu palmtop. As notas em campo em formato
dados, consultados sob a forma de janelas numa digital e as reflexões do pesquisador sobre elas
tela em vez de centenas de páginas distribuídas podem ser enviadas ao mundo todo em alguns
por diversos cadernos. Outra grande vantagem da segundos, não se restringindo à cidade nem
posse dos apontamentos em formato digital é sua mesmo ao país do pesquisador.
fácil reprodutibilidade, possibilitando a realização
de diferentes tipos de exames de seu conjunto Vídeos digitais da sala de aula
completo. O pesquisador pode salvar diferentes ver-
sões de um mesmo apontamento ou nota de cam- A utilização do palmtop para a elabora-
po para grifá-los, complementá-los e analisá-los de ção dos apontamentos propiciou todas as van-
formas distintas. tagens já descritas, especialmente permitir ao
A realização de apontamentos num palmtop pesquisador acompanhar o professor pela sala.
reproduz um dos problemas da escrita em blocos de Quando o pesquisador não pode se movimen-
papel: escrever com uma caneta na mão, seja ela tar pela sala por algum motivo relacionado à
uma caneta-tinteiro ou um stylus, exige que o pes- dinâmica da aula, mas também não deseja dei-
quisador desvie a atenção do que está sendo obser- xar de observar os detalhes de seus aconteci-
vado ou tome notas muito sintéticas. Uma forma de mentos, os apontamentos podem ser realizados
evitar esse problema é realizar os apontamentos num notebook que também receba o sinal de
num notebook, o que permite ao pesquisador digitar microcâmeras de vídeo.
o que está pensando sem desviar seu olhar do que Uma microcâmera pode ser estabelecida
ocorre na sala de aula. Entretanto, isso exige que no alto da tela do notebook, captando o pon-
o pesquisador permaneça fixo num ponto da sala to de vista do pesquisador — um plano geral da
para fazer as anotações, sem poder acompanhar sala vista do fundo e o som desse local. Outra
o professor pela sala. Um pesquisador que reali- microcâmera, sem fio, embutida nos óculos
ze seus apontamentos num notebook precisa de utilizados pelo professor observado, pode cap-
outros equipamentos digitais, para compensar sua tar seu ponto de vista (Zouinar, s/d).
imobilidade, como microcâmeras que transmitam A microcâmera também pode ser coloca-
para seu notebook imagens de outros ângulos da da num avental, especialmente adaptado para esse
sala que ele não consegue observar de onde está. fim, para captar as falas do professor observado
A facilidade de reprodução dos aponta- e as imagens e falas dos alunos próximos a ele.
mentos em formato digital permite também que A microcâmera sem fio precisa ficar posicionada
o pesquisador envie no mesmo dia seus apon- num pequeno bolso criado no alto do avental.
tamentos, notas de campo e reflexões sobre Ela pode ser alimentada por baterias recarregáveis
eles para outros membros de um mesmo gru- colocadas em outro bolso e ligadas a ela por
po de pesquisa. Isso substitui com agilidade cabos que passam por dentro do avental.
alguns dos papéis desempenhados pelas tradi- As imagens transmitidas por essas duas
cionais “cartas, relatórios e artigos” — letters, câmeras podem ser observadas pelo pesquisador
reports and papers — elaborados em campo, na tela do notebook, dividida com o editor de
criados para garantir que a interlocução de um texto em que são realizados os apontamentos.
pesquisador inserido num contexto com outros Os sons transmitidos por essas duas câmeras
que estão fora dele possa aguçar sua observa- podem ser monitorados pelo pesquisador por
ção sobre o que está ocorrendo (Sanjek, 1990). meio de um fone de ouvido ligado ao notebook.
As diversas mensagens de correio eletrônico Com esse recurso, além de acompanhar
resultantes desse processo de comunicação, as falas do professor e observar as expressões

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e falas dos alunos próximos a ele, a distância Uma terceira câmera pode ser empresta-
e em tempo real, o pesquisador pode gravar da aos atores de campo para que eles gravem
essas sons e imagens para consulta futura, cri- aulas que o pesquisador não pode observar –
ando um novo tipo de fonte de dados. Para por solicitação dos atores de campo ou por
isso, devem ser utilizados circuitos que permi- impedimento do próprio pesquisador. As ima-
tam editar e gravar essas imagens e sons no gens captadas por essa câmera, operada pelo
disco rígido do notebook e depois transferi-los próprio professor sem a presença do pesquisa-
para DVDs graváveis, onde ficarão armazenados. dor, constituem mais uma fonte de dados. Es-
As imagens e os sons captados pelas sas imagens e sons também podem ser armaze-
duas câmeras precisam ser injetados num cir- nadas pelo pesquisador em DVDs graváveis.
cuito seletor de áudio e vídeo, por meio do qual O uso de gravações em vídeo das aulas
o pesquisador escolhe durante a observação observadas exige alguns cuidados, por parte do
das aulas qual microfone e qual câmera terão pesquisador, relativos aos problemas éticos
seus sinais enviados para a gravação. Desse envolvidos no uso desse equipamento. As
seletor, as imagens e os sons escolhidos podem microcâmeras são muito associadas a espiona-
ser enviados para um circuito de captura de gem ou sistemas de segurança empresariais.
vídeo analógico que os digitaliza e os transfe- Para utilizá-las num contexto de pesquisa, é
re para o notebook , no qual são gravados preciso dissociá-las dessa imagem.
como arquivos digitais. Para facilitar a monta- As aulas podem ser gravadas somente
gem e desmontagem desses circuitos e sua quando os atores de campo estão absoluta-
transferência de uma sala de aula para outra, mente seguros de que o pesquisador pode
eles devem ser montados num recipiente que fazê-lo. Os atores de campo observados preci-
caiba na mochila do notebook. sam ser informados de que, sempre que dese-
As imagens de apenas uma das câmeras jarem, poderão solicitar, sem qualquer justifica-
podem ser gravadas de cada vez, mas o pesqui- tiva, que o pesquisador não grave uma aula
sador pode alterar a qualquer momento a câmera que esteja prestes a começar ou que apague
selecionada. Os sons dos dois microfones podem uma aula já gravada. Os alunos precisam ser
ser gravados ao mesmo tempo com a imagem informados de que ninguém além do pesquisa-
selecionada. Dependendo do acontecimento ob- dor verá essas imagens. Os diretores e coorde-
servado, o pesquisador pode optar por gravar os nadores pedagógicos precisam ser informados
sons captados pelos dois microfones ou apenas de que somente podem ter acesso às gravações
os sons captados pelo microfone melhor com a autorização dos professores observados
posicionado. Por exemplo, numa situação de tra- e depois que eles as vejam.
balho em grupos, podem ser gravados apenas os A principal ameaça ao rigor de uma pes-
sons captados pelo microfone presente nos óculos quisa interpretativa está relacionada à coleta de
ou no avental do professor. Os sons captados um volume inadequado de cenas portadoras de
pelo microfone estabelecido próximo ao pesqui- manifestações capazes de respaldar as principais
sador podem ser ignorados, pois captam apenas asserções criadas pelo pesquisador (Erickson,
o ruído incompreensível de vários grupos traba- 1985). No entanto, quando as aulas observadas
lhando. Já numa aula expositiva em que ocorre também são registradas em vídeo, alguns de
um diálogo entre o professor observado e um seus aspectos são revistos e reinterpretados pelo
aluno sentado no fundo da sala, mais próximo do pesquisador mesmo depois de deixado o con-
pesquisador do que do professor, podem ser gra- texto de campo. Isso garante que informações
vados os sons captados pelos dois microfones. não registradas nas notas de campo, por não
Isso permite que as falas do aluno, e não apenas chamarem a atenção do pesquisador naquele
as do professor, sejam gravadas com qualidade. momento, sejam recuperadas posteriormente.

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Um exemplo dessa complementaridade tecimentos menos frequentes, que normalmente
entre notas de campo e gravações em vídeo, e passam despercebidos durante a coleta de da-
de como isso pode evitar a coleta de um volu- dos, sejam retomados posteriormente na análi-
me inadequado de cenas portadoras de mani- se das gravações. Isso reduz a dependência do
festações capazes de respaldar as principais pesquisador em relação aos acontecimentos de
asserções, ocorreu numa pesquisa de campo aparência reiterada como suas melhores fontes
realizada pelos autores. Durante a realização de dados, pois existe a possibilidade de estudar
dos apontamentos de uma aula, o pesquisador de maneira bastante completa os acontecimen-
percebeu que os alunos de uma escola priva- tos pouco frequentes, passando várias vezes a
da referiam-se aos senhores de engenho na gravação correspondente.
segunda pessoa, identificando-se com eles. Apesar de limitarem algumas das ameaças
Nesse momento, lembrou-se de que observara ao rigor da pesquisa interpretativa, as gravações
os alunos de outra escola em situação seme- podem implicar outras. Segundo Frederick Erickson
lhante — numa escola estatal — e supôs que (1985), ao assistir a uma gravação, o pesquisador
eles se referiam aos senhores de engenho na não pode interferir no acontecimento gravado, não
terceira pessoa. Entretanto, o pesquisador não tendo a oportunidade de verificar as teorias que
tinha registrado essa informação em suas notas elabora mediante o recurso de pô-las à prova como
de campo, pois quando elas foram redigidas participante ativo das cenas observadas.
isso não lhe chamava a atenção. Revendo os Além disso, para entender os significados
vídeos das aulas, o pesquisador pôde retomar do material gravado, o pesquisador necessita de
a fala dos alunos e confirmar que eles realmen- informações contextuais que não aparecem na
te se referiam aos senhores de engenho na própria gravação. Quando esse contexto tem
terceira pessoa. A partir de então, criou a hipó- muita influência sobre o desenvolvimento das
tese de que essa poderia ser uma diferença sig- relações sociais dentro da aula, a ausência de um
nificativa entre o ensino de História numa es- marco contextual mais amplo pode invalidar a
cola estatal e numa escola privada e passou a análise. Para evitar essas duas limitações do uso
observar com mais atenção tal ocorrência. de gravações em vídeo como fontes de dados,
Outra ameaça ao rigor da pesquisa inter- é necessário combinar a observação participan-
pretativa, que a realização de gravações em vídeo te com a análise das gravações.
ajuda a evitar, é a tendência ao direcionamento da
observação e da amostra de dados. Essa tendên- Concluindo: metodologia e
cia pode provocar o destaque dos tipos de acon- tecnologia nas pesquisas de
tecimento que ocorrem com maior frequência, pois observação de sala de aula
são os que o pesquisador compreende mais com-
pletamente com o tempo. De acordo com O estranhamento do familiar, a conquis-
Frederick Erickson (1985), dadas as limitações ta da “solidariedade” e da “camaradagem” dos
sobre o que se pode contemplar com maior atores de campo e o estabelecimento de uma
atenção em cada experiência de observação, é certa diferença entre observação e interpretação
possível que o pesquisador tenda a centrar-se, são problemas enfrentados pelos observadores
quase desde o princípio, em alguma teoria que de sala de aula que podem ser minimizados pelo
está induzindo. Nesse caso, durante suas obser- uso de tecnologia digital em campo. O uso dessa
vações, prestará atenção sobre todos aqueles as- tecnologia, orientado por uma metodologia, não
pectos da ação que corroboram a teoria indu- apenas agiliza ou facilita o ofício do pesquisa-
zida, deixando de registrar outros aspectos que dor. O uso de palmtops, gravadores de áudio e
poderiam refutar essa teoria. Todavia, a realiza- câmeras fotográficas digitais, smartphones ,
ção de gravações em vídeo garante que os acon- microcâmeras sem fio, notebooks e editores de

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áudio e vídeo multiplica as possibilidades de cri- mas insolúveis. Essa autoconfrontação dos ato-
ação de tipos de fonte de dados e auxilia os res de campo com os registros da pesquisa
observadores de sala de aula a ampliar significa- amplia seus laços com o pesquisador e auxilia na
tivamente o rigor e a validade de seu trabalho. conquista da “solidariedade” e da “camarada-
Conforme afirmado anteriormente, o gem” desses atores.
estranhamento do familiar não é necessariamen- O estabelecimento de certa diferença en-
te uma condição de êxito das pesquisas de tre observação e interpretação também é facilita-
observação de sala de aula, mas a utilização de do pelo uso de equipamentos digitais, na medi-
equipamentos digitais nessas pesquisas pode da em que eles permitem ao pesquisador registrar
contribuir para o estranhamento quando o de múltiplas formas o que ele observa em cam-
pesquisador julgá-lo seja necessário em seu po. O uso dessa tecnologia permite uma observa-
trabalho. O registro de múltiplos ângulos dos ção mais refletida do que espontânea, focada
acontecimentos da aula e a possibilidade de também nos gestos, e não somente nos sentidos
rever infinitamente esses registros permite ao atribuídos a eles. As diversas possibilidades de
pesquisador estranhar algo que a familiaridade retomada do material elaborado e coletado di-
tornaria impossível de reflexão quando visto de gitalmente pelo pesquisador em campo permite
um único ângulo ou apenas uma vez. No entan- atribuir aos gestos um sentido diferente daque-
to, essa facilitação tecnológica não torna o le que seria atribuído no calor do campo. O uso
estranhamento do familiar uma condição de de equipamentos digitais permite ao pesquisa-
êxito da pesquisa de observação de sala de aula, dor a possibilidade de evitar juízos de valor
cuja metodologia define se o estranhamento é muito rígidos em campo, pois atribui um papel
realmente necessário. importante à reflexão efetuada fora dele e, com
A conquista da “solidariedade” e da “ca- isso, busca separar observação de interpretação.
maradagem” dos atores de campo pode ser faci- Essa tecnologia não garante nenhuma objetivi-
litada pelo uso de equipamentos digitais em cam- dade à interpretação do pesquisador, mas otimiza
po porque eles permitem registrar informações sua responsabilidade de aproximar-se constan-
mesmo nas situações mais informais, necessárias temente de seu objeto. Essa responsabilidade é
à criação de laços com os atores de campo. O necessária para evitar que a pesquisa de obser-
uso de tecnologia digital em campo também vação de sala de aula fique refém da autorida-
permite aos atores a observação de gravações de de do pesquisador e para permitir que essa
seus discursos e de outras de suas práticas, tan- pesquisa assuma como critérios de validade a
to para ajudá-los a solucionar problemas cotidi- apresentação de provas e a adequação de suas
anos quanto para esboçar um sentido aos proble- afirmações ao real.

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Recebido em 18.12.07
Aprovado em 23.11.08

Oldimar Cardoso, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, é pós-doutorando em História pela Universidade de
Augsburg (Alemanha) e pela Universidade de São Paulo.

Sonia Teresinha de Sousa Penin é professora titular e diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

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