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Universidade de Brasília - Faculdade de Comunicação

Pré-Projeto de TCC

Do riso ao ódio: A Transfobia Recreativa dos Memes

Discente:
Vitor Gabriel Ferreira da Rocha 17/0158179

BRASÍLIA

2022
1. Introdução

As redes sociais permitem aos sujeitos a interação com outros internautas


para além do diálogo por palavras, atualmente a dinamicidade comunicacional
através de imagens, vídeos e áudios, revelam inúmeras questões sociais por detrás
de cada compartilhamento. Os memes produzidos e compartilhados pelos usuários
do Twitter, são conhecidos como uma forma de expressar o humor, mas podem
evidenciar expressões particulares que são responsáveis pela desqualificação de
corpos, gêneros e sexualidades. Esse projeto tem como objetivo realizar uma
análise crítica dos memes de pessoas trans produzidos e compartilhados no Twitter,
com o intuito de refletir suas origens, implicações e significados.
Os memes é um fenômeno cultural que se estabeleceu na internet como uma
forma de comunicação, a partir da reconstrução excessiva, coletiva e cômica de
imagens, textos, vídeos entre outros, que se tornam virais. Entende-se que para
compreender o fenômeno dos memes, faz-se necessário entender a web 2.0,
tecnologia que proporcionou seu surgimento e, especialmente, a definição de
meme, que embora pareça ser de fácil compreensão entre os internautas, seu
entendimento pode ser utilizado para construção de sentidos além do humor.
O Brasil é o lugar mais violento do mundo para pessoas trans, o T da sigla
LGBT é sem dúvidas o que mais necessita de visibilidade, evidenciar pessoas trans
no âmbito acadêmico amplia o reconhecimento por parte da população, pesquisas
acadêmicas são de forte importância na construção do imaginário social e terá o
poder de trazer novas narrativas e evidenciar opressões que acontecem na internet.

2. Problema de Pesquisa
● Como a construção de sentidos dos memes vai além do humor?
● Como memes de pessoas trans são criados e quais são suas características?

3. Hipóteses
● Os memes mudaram a forma de se expressar nas redes sociais.
● Memes de pessoas trans em sua maioria são utilizados para disseminação
de humor ácido com características preconceituosas e sarcasticamente
ofensivas.
4. Objetivos

4.1 Geral

O objetivo deste projeto é expandir os conhecimentos a respeito da cultura


memética, em um universo que ultrapassa o mundo midiático até a vida de pessoas
trans. A análise dos memes e a explicitação de sentidos encontrados possuem força
de mostrar o verdadeiro sentido que os memes trazem, quais contextos estão
inseridos e quais são os impactos dos memes na vida dessas pessoas.

4.2 Específicos

● Evidenciar opressões na internet através dos memes.


● Investigar as ideologias culturais que os memes proporcionam (bordões,
costumes e hábitos).
● Explicitar os memes que são utilizados de maneira preconceituosa e humor
sarcástico.

5. Justificativa
O presente projeto visa ampliar o conhecimento da cultura memética e o
reconhecimento de pessoas trans. Tendo como hobby memes e fazendo parte da
comunidade lgbtqia +, realizar essa pesquisa também faz parte da minha vivência
na universidade.
Dentro do contexto mencionado acima, no trabalho de conclusão de curso
busco lançar um olhar atento e crítico para os memes do Twitter. A escolha
pesquisar sobre memes ocorreu devido à popularização dos grupos no Facebook
nos quais participo e vejo o quanto essas imagens são compartilhadas, além do fato
de que tais imagens promovem reflexões sociais ligadas aos corpos, gêneros e
sexualidades.
Nessa pesquisa tenho o compromisso de evidenciar pessoas trans,
possibilitando a representatividade e a possibilidade de protagonismo dessas
pessoas no âmbito acadêmico.
O Brasil é o quarto país com maior número de usuários da Internet no
mundo, ampliar a percepção de construção de sentidos dos memes vai muito além
dos objetivos específicos deste projeto. Os memes não são baseados apenas no
que se tornou viral e foi compartilhado muitas vezes, mas sim, o que se tornou viral
pode ser interpretado de diversas maneiras e contextos.

6. Referencial Teórico

6.1 Cibercultura e Memes


O termo meme foi criado fora do ambiente digital pelo biólogo Richard
Dawkins, sua teoria se baseia no princípio do "egoísmo genético" com a cultura.
Para Dawkins, o meme é fácil de replicar, já que assim como o gene, salta de corpo
para corpo, carregando informações. Os memes que vemos na internet, saltam de
cérebro para cérebro, que de maneira ampla, podemos chamar de imitação.
"Mimeme" provém de uma raiz grega adequada, mas quero
um monossílabo que soe um pouco como "gene". Espero que meus
amigos helenistas me perdoem se eu abreviar mimeme para meme.
Se servir como consolo, pode-se, alternativamente, pensar que a
palavra está relacionada à "memória", ou à palavra francesa même.
(DAWKINS, 1979, p. 112)
Dawkins propõe como exemplo mais amplo de meme, fenômenos culturais
gerais que envolvem replicações, comuns no cotidiano do ser humano, como;
“melodias, idéias, slogans, modas de vestuário, maneiras de fazer potes ou de
construir arcos” (1979, p. 112).
No final dos anos 90 e início dos anos 2000, com o grande avanço do acesso
a internet, o termo começa a ser utilizado para se referir às produções realizadas
nos ambientes digitais. No contexto da internet, o uso do termo abrange “ideias,
brincadeiras, jogos, piadas ou comportamentos que se espalham através de sua
replicação de forma viral” (FONTANELLA, 2009b, p. 8) e que são caracterizados,
pela repetição de um modelo formal básico, por meio de vídeos, frases, hashtags,
fotos com legendas, tirinhas, entre outros. Os memes, em sua maioria são
produzidos com baixa resolução e qualidade, com aspecto pixelado,distorcido e
intencionalmente desleixado, com uma aparente pretensão de provocar um efeito
caricato.
Para cibercultura, o termo refere-se a produtos que compartilham da mesma
estética, muita das vezes tosca, sarcástica e politicamente incorreta, que abriga a
produção, reprodução e o compartilhamento de criações textuais (imagéticas,
audiovisuais, verbais), fundamentadas em uma estética propositalmente descuidada
e compartilhada de maneira viral nas redes sociais (FONTANELLA, 2009a, p. 3).
Para Fontanella, existe um segundo momento na cibercultura, a Web 2.0. O
termo refere-se à segunda geração de serviços online que se dá a partir de 2004 e
caracteriza-se pela possibilidade e liberdade de divulgação para conteúdos criados,
editados e publicados pelos usuários das redes, com força ainda maior, pelas
diferentes formas de compartilhamento e organização de informações, além de
espaços específicos para a interação como grupos e fóruns para os participantes do
processo.
Memes não são necessariamente uma imagem ou vídeo. Podem ser jargões
do cotidiano, trocadilhos, músicas, expressões de ser e estar. Atualmente os memes
se tornaram uma nova maneira de se comunicar na internet. Na maioria das vezes
são utilizados como forma de se expressar e humor.

6.2 Comunicação e Identidade de Gênero


A comunicação e a internet ampliaram as possibilidades de interação entre as
pessoas e também proporcionam novas maneiras de disseminação cultural e social,
influindo nas nossas características de gênero. As redes sociais oferecem um leque
de possibilidades para pessoas que não se sentem representadas possam transitar
com mais liberdade e desvincular-se das normas do sistema heteronormativo e,
ainda, de descobrir na rede, pessoas com idéias afins e espaços com conteúdos
que lhes interessam.
O conservadorismo da sociedade reflete na própria comunidade, é muito
comum o preconceito interno dentro da comunidade LGBTQIA +, para alguns
segmentos que são minorias, estar em uma rede de pessoas nem sempre é sinal de
se sentir pertencente. De acordo com Mezan (1998), o preconceito é o agrupamento
de crenças, modos de agir e comportar que tem relação em distribuir a qualquer
indivíduo de qualquer grupo determinado composto por pessoas um significado
negativo, pelo simples motivo daquele ser pertencente a determinado grupo, as
peculiaridades em assunto são colocadas enquanto essenciais, como algo capaz de
definir o âmago desses grupos, então seguindo esse raciocínio é inevitável que isso
seja distribuído a todos os componentes do grupo.
No Brasil percebemos que o conhecimento sobre a diversidade de formas de
compreender “gênero” ainda é um assunto que precisa de mais visibilidade, visto
que é preciso debater sobre questões de vivência sobre o próprio meio, questões de
expressões e diferentes condições da vivência do gênero como a) Identidade: o que
caracteriza as pessoas transexuais e travestis; b) funcionalidade: representação
feita por crossdressers, drags queens, entre outros (JESUS, 2012).
Alguns estereótipos ainda levam as pessoas a não acreditarem que pessoas
transgêneros vivenciam todos os aspectos da sua humanidade, além daqueles que
possuem relação a sua identidade de gênero, que ele/a não possa ser nada além de
rotulado como “transsexual”. Sendo uma pessoa que possui raça, cor, classe social,
origem, religião, idade, uma bagagem de vivências, para além da sua condição
enquanto trans e/ou travesti (JESUS, 2012).
De acordo com Pedra (2018) as segregações fazem uma categorização dos
grupos sociais por diversos fatores sendo o gênero e sexualidade os principais
deles a serem olhados. Essa categorização faz com que aconteçam obstáculos nos
direitos fundamentais e para o que é necessário para uma qualidade de vida
positiva e autônoma, ofendendo assim o que os regimes democráticos orientam, no
momento em que são naturalizadas a divisão da população em classes (PEDRA,
2018).
A nossa sociedade é baseada na heteronormatividade e em pessoas cis
gêneros, desse modo os privilegios são distribuidos a quem atende as expectativas
da sociedade, se tornando muito mais oportuno para aqueles que se enquadram
nesse padrão. Esses privilégios passam despercebidos por pessoas
heteronormativas que independente da sua orientação sexual, possam praticar
segmentação social dentro da própria comunidade.

7. Metodologia
Para a pesquisa, a metodologia adotada será a análise de redes sociais para
examinar como se constroem e quais contextos estão inseridos os memes
compartilhados no Twitter. A análise de redes sociais,é uma metodologia de origem
multidisciplinar (psicologia, sociologia, antropologia) sendo possível a formalização
gráfica e quantitativa dos conceitos abstraídos a partir de propriedades e processos
característicos da realidade social.
A análise interpretativa realizada sobre esses memes será capaz de
demonstrar o quanto as imagens são potentes na produção de sentidos de quem as
lê. Dessa forma, irei coletar as imagens nos perfis; @acervopepita, @acervommes
e @afonsinhavideos, juntos somam mais de 152.437 mil seguidores no Twitter, a
escolha desses perfis ocorreu por serem os perfis mais populares dos memes de
pessoas trans da rede. A partir dos dados encontrados, será realizada uma
pesquisa quantitativa entre jovens de 18 a 30 anos sobre o uso dos memes no
Twitter.

8. Cronograma

ATIVIDADE MESES

Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

Leitura e
fichamento

Redação Teórica e
Revisão
Bibliográfica

Pré-Produção

Produção

Pós-Produção

Finalização

Revisão e
Formatação

Apresentação

9. Referências Bibliográficas

FONTANELLA, Fernando. O que vem de baixo nos atinge: intertextualidade,


reconhecimento e prazer na cultura digital trash. Trabalho apresentado no IX
Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente
do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Curitiba, 2009a.

DAWKINS, R. O gene egoísta. Tradução de Geraldo H. M. Florsheim. Belo


Horizonte: Itatiaia, 1979.

PEDRA, Caio. DIREITOS LGBT: A LGBTfobia estrutural na arena jurídica. Belo


Horizonte. 2018.
JESUS, Jaqueline. Orientações sobre a população transgênero: conceitos e termos,
Brasília - DF. Publicação: online, 2012
MEZAN, R. Tempo de muda: ensaios de psicanálise. São Paulo: Cia das Letras,
1998
______.O Digital Trash como Mainstream: Considerações sobre a difusão de
informações em redes sociais na Internet. In: Vinícius Andrade Pereira. (Org.).
Cultura Digital Trash: Linguagens, Comportamentos e Desafios. Rio de Janeiro:
E-papers, 2007b.

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