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1) De vez em quando, nas redes sociais, a gente se pega compartilhando notícias e) aponta para a recuperação da saúde mental graças

al graças à atividade artística


falsas, fotos modificadas, boatos de todo tipo. O problema é quando a matéria é
falsa. E, pior ainda, se é uma matéria falsa que não foi criada por motivos 3)
humorísticos ou literários (sim, considero o “jornalismo ficcional” uma interessante
forma de literatura), mas para prejudicar a imagem de algum partido ou de algum
político, não importa de que posição ou tendência. Inventa-se uma arbitrariedade ou
falcatrua, joga-se nas redes sociais e aguarda-se o resultado. Nesse caso, a
multiplicação da notícia falsa (que está sempre sujeita a ser denunciada
juridicamente como injúria, calúnia ou difamação) se dá em várias direções. Antes
de curtir, comentar ou compartilhar, procuro checar as fontes, ir aos links originais.
TAVARES, B.
No que diz respeito ao uso de recursos expressivos em diferentes linguagens, o
O texto expõe a preocupação de uma leitora de notícias on-line de que o cartum produz humor brincando com a:
compartilhamento de conteúdos falsos pode ter como consequência a
a) displicência natural das pessoas que navegam pela internet. a) caracterização da linguagem utilizada em uma esfera de comunicação específica.
b) desconstrução das relações entre jornalismo e literatura. b) deterioração do conhecimento científico na sociedade contemporânea.
c) impossibilidade de identificação da origem dos textos. c) impossibilidade de duas cobras conversarem sobre o universo.
d) disseminação de ações criminosas na internet. d) dificuldade inerente aos textos produzidos por cientistas.
e) obtenção de maior popularidade nas redes. e) complexidade da reflexão presente no diálogo.

2) Eu a conheci da primeira vez em que estive aqui. Parece-me que é 4) A mídia divulga à exaustão um padrão corporal determinado, padrão único,
esquizofrênica, caso crônico, doente há mais de vinte anos — não estou bem certa. branco, jovem, musculoso e, especialmente no caso do corpo feminino, magro.
Foi transferida para a Colônia Juliano Moreira e nunca mais a vi. […] À tarde, Pesquisas apontam para o fato de que esse padrão de beleza divulgado se aplica
quando ia lá, pedia-lhe para cantar a ária da Bohème, “Valsa da Musetta”. Dona apenas de 5 a 8% da população mundial. Especialmente no Brasil, onde a
Georgiana, recortada no meio do pátio, cantava — e era de doer o coração. As diversidade é uma característica marcante, a mídia no geral acaba por mostrar seu
dementes, descalças e rasgadas, paravam em surpresa, rindo bonito em silêncio, desprezo pela riqueza de tipos, de raças, pela própria mestiçagem, insistindo num
os rostos transformados. Outras, sentadas no chão úmido, avançavam as faces padrão único de beleza tanto para mulheres quanto para homens. MALDONADO,
inundadas de presença — elas que eram tão distantes. Os rostos fulgiam por
instantes, irisados e indestrutíveis. Me deixava imóvel, as lágrimas cegando-me. Em relação aos aspectos do padrão corporal dos brasileiros, compreende-se que
Dona Georgiana cantava: cheia de graça, os olhos azuis sorrindo, aquele passado esta população:
tão presente, ela que fora, ela que era, se elevando na limpidez das notas, minhas a) é caracterizada pela sua rica diversidade.
lágrimas descendo caladas, o pátio de mulheres existindo em dor e beleza. A b) possui, em sua maioria, mulheres obesas.
beleza terrífica que Puccini não alcançou: uma mulher descalça, suja, gasta, louca, c) está devidamente representada na grande mídia.
e as notas saindo-lhe em tragicidade difícil e bela demais — para existir fora de um d) tem padrão de beleza idêntico aos demais países.
hospício. CANÇADO, M. L. Hospício é Deus. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. e) é composta, na maioria, por pessoas brancas e magras.

O diário da autora, como interna de hospital psiquiátrico, configura um registro 5) 10 anos de “hashtag”: a ferramenta que mobiliza a internet
singular, fundamentado por uma percepção que A “hashtag”, ícone das redes sociais, celebrou em 2017 seus primeiros 10 anos de
a) atenua a realidade do sofrimento por meio da música. uso no acompanhamento dos grandes eventos mundiais com um efeito de
b) redimensiona a essência humana tocada pela sensibilidade. mobilização e expressão de emoção e humor. A palavra-chave precedida pelo
c) evidencia os efeitos dos maus-tratos sobre a imagem feminina. símbolo do jogo da velha foi popularizada pelo Twitter antes de ser incorporada por
d) transfigura o cotidiano da internação pelo poder de se emocionar. outras redes sociais. A invenção foi de Chris Messina, designer americano
especialista em redes sociais. Em 23 de agosto de 2007, o usuário intensivo do dos afazeres domésticos, dos filhos etc. Como dizer a essa pessoa que ela deve
Twitter propôs em um tuíte usar o jogo da velha para reagrupar mensagens sobre praticar exercícios, pois é importante para sua saúde? Como ela irá entender a
um mesmo assunto. Ele lançou, então, a primeira “hashtag” #barcamp sobre mensagem da importância do exercício físico? A probabilidade de essa pessoa
oficinas participativas dedicadas à inovação na web. O compartilhamento das praticar exercícios regularmente é significativamente menor que a de pessoas da
palavras-chaves — que já são citadas 125 milhões de vezes por dia no mundo — já classe média/alta que vivem outra realidade. Nesse caso, a abordagem individual
serviu de trampolim para mobilizações em massa. Alguns slogans que tiveram do problema tende a fazer com que a pessoa se sinta impotente em não conseguir
grande efeito mobilizador foram o #BlackLivesMatter (Vidas negras importam), após praticar exercícios e, consequentemente, culpada pelo fato de ser ou estar
a morte de vários cidadãos americanos negros pela polícia, e #OccupyWallStreet sedentária. FERREIRA, M. S. Aptidão física e saúde na educação física escolar:
(Ocupem Wall Street), referente ao movimento que acampou no coração de ampliando o enfoque. RBCE, n. 2,jan. 2001 (adaptado).
Manhattan para denunciar os abusos do capitalismo. AFP. Disponível em:
http://exame.abril.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017 (adaptado). O segundo texto, que propõe uma reflexão sobre o primeiro acerca do impacto de
mudanças no estilo de vida na saúde, apresenta uma visão
Ao descrever a história e os exemplos de utilização da hashtag, o texto evidencia a) medicalizada, que relaciona a prática de exercícios físicos por qualquer indivíduo
que: à promoção da saúde.
a) a incorporação desse recurso expressivo pela sociedade impossibilita a b) ampliada, que considera aspectos sociais intervenientes na prática de exercícios
manutenção de seu uso original. no cotidiano.
b) a incorporação desse recurso expressivo pela sociedade o flexibilizou e o c) crítica, que associa a interferência das tarefas da casa ao sedentarismo do
potencializou. indivíduo.
c) a incorporação pela sociedade caracterizou esse recurso expressivo de forma d) focalizada, que atribui ao indivíduo a responsabilidade pela prevenção de
definitiva. doenças.
d) esse recurso expressivo se tornou o principal meio de mobilização social pela e) geracional, que preconiza a representação do culto à jovialidade.
internet.
e) esse recurso expressivo preciso 7) Vó Clarissa deixou cair os talheres no prato, fazendo a porcelana estalar.
Joaquim, meu primo, continuava com o queixo suspenso, batendo com o garfo nos
ENEM 2018 lábios, esperando a resposta. Beatriz ecoou a palavra como pergunta, “o que é
6) Texto I lésbica?”. Eu fiquei muda. Joaquim sabia sobre mim e me entregaria para a vó e,
mais tarde, para toda a família. Senti um calor letal subir pelo meu pescoço e me
Disponível em: doer atrás das orelhas. Previ a cena: vó, a senhora é lésbica? Porque a Joana é. A
http://revistaiiqb.usac.edu.gt. vergonha estava na minha cara e me denunciava antes mesmo da delação. Apertei
Acesso em: 25 abr. 2018 os olhos e contraí o peito, esperando o tiro. […] […] Pensei na naturalidade com
(adaptado). que Taís e eu levávamos a nossa história. Pensei na minha insegurança de contar
TEXTO II isso à minha família, pensei em todos os colegas e professores que já sabiam,
Imaginemos um cidadão, fechei os olhos e vi a boca da minha vó e a boca da tia Carolina se tocando, apesar
residente na periferia de um de todos os impedimentos. Eu quis saber mais, eu quis saber tudo, mas não
grande centro urbano, que consegui perguntar. POLESSO, N. B. Vó, a senhora é lésbica? Amora. Porto
diariamente acorda às 5h para Alegre: Não Editora, 2015 (fragmento)
trabalhar, enfrenta em média 2
horas de transporte público, em A situação narrada revela uma tensão fundamentada na perspectiva do
geral lotado, para chegar às 8h a) conflito com os interesses de poder.
ao trabalho. Termina o b) silêncio em nome do equilíbrio familiar.
expediente às 17h e chega em c) medo instaurado pelas ameaças de punição.
casa às 19h para, aí sim, cuidar d) choque imposto pela distância entre as gerações.
e) apego aos protocolos de conduta segundo os gêneros. Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se
como elemento de patrimônio linguístico, especialmente por
8) O trabalho não era penoso: colar rótulos, meter vidros em caixa, etiquetá-las, a) ter mais de mil palavras conhecidas.
selá-las, envolvê-las em papel celofane, branco, verde, azul, conforme o produto, b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.
separá-las em dúzias… Era fastidioso. Para passar mais rapidamente as oito horas c) ser consolidado por objetos formais de registro.
havia o remédio: conversar. Era proibido, mas quem ia atrás de proibições? O d) ser utilizado por advogados em situações formais.
patrão vinha? Vinha o encarregado do serviço? Calavam o bico, aplicavam-se ao e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho.
trabalho. Mal viravam as costas, voltavam a taramelar. As mãos não paravam, as
línguas não paravam. Nessas conversas intermináveis, de linguagem solta e 10)
assuntos crus, Leniza se completou. Isabela, Afonsina, Idália, Jurete, Deolinda –
foram mestras. O mundo acabou de se desvendar. Leniza perdeu o tom ingênuo
que ainda podia ter. Ganhou um jogar de corpo que convida, um quebrar de olhos
que promete tudo, à toda, gratuitamente. Ficou mais quente. A própria inteligência
se transformou. Tornou-se mais aguda, mais trepidante. REBELO, M.A estrela
sobe. Rio de Janeiro. José Olympio, 2009.

O romance, de 1939, traz à cena tipos e situações que espelham o Rio de Janeiro
daquela década. No fragmento, o narrador delineia esse contexto centrado no
a) julgamento da mulher fora do espaço doméstico.
b) relato sobre as condições de trabalho no Estado Novo.
c) destaque a grupos populares na condição de protagonistas.
d) processo de inclusão do palavrão nos hábitos de linguagem.
e) vínculo entre as transformações urbanas e os papéis femininos.

9) “Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis. Disponível em: www.facebook.com/omeusegredinho.Acesso em: 9 dez. 2017
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade (adaptado)
“Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo Essa imagem ilustra a reação dos celíacos (pessoas sensíveis ao glúten) ao ler
teu picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja rótulos de alimentos sem glúten. Essas reações indicam que, em geral, os rótulos
alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis. Adepto do uso das desses produtos
expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que
eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus a) trazem informações explícitas sobre a presença do glúten.
colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter b) oferecem várias opções de sabor para esses consumidores.
cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na c) classificam o produto como adequado para o consumidor celíaco.
internet, tem até dicionário…”, comenta. O dicionário a que ele se refere é o d) influenciam o consumo de alimentos especiais para esses consumidores.
Aurélia, a dicionária da Ungua afíada, lançado no ano de 2006 e escrito pelo e) variam na forma de apresentação de informações relevantes para esse público.
jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1 300 verbetes revelando
o significado das palavras do pajubá. Não se sabe ao certo quando essa linguagem
surgiu, mas sabe-se que há claramente uma relação entre o pajubá e a cultura
africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial. Disponível em:
www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado)
A personagem opta pelo silêncio para que o equilíbrio familiar seja mantido, pois
tem receio do que vão fazer e falar, já que os protocolos de conduta segundo os
gêneros são muito fortes.
8) Alternativa E.
Resoluções comentadas O texto nos mostra a inserção das mulheres no mercado de trabalho, que ocorreu
1) Alternativa D. segundo uma mudança de cenário urbano: as mulheres podiam trabalhas nas
O texto deixa claro que a leitora considera o “jornalismo ficcional”, que é inventar fábricas. Essa mudança, de ambiente doméstico para ambientes fabris, também
notícias para fins humorísticos ou literários, válido, porém em seguida assinala que mudou o comportamento e os pensamentos das mulheres, como vemos em “Leniza
quando as notícias falsas não tem esse viés e só querem prejudicar algum partido perdeu o tom ingênuo que ainda podia ter.” e em “Ficou mais quente. A própria
ou algum político o crime se torna uma realidade. E essas notícias falsas são inteligência se transformou. Tornou-se mais aguda, mais trepidante.”
disseminadas e compartilhadas pelos usuários da internet, que não checam fontes 9) Alternativa C.
e veracidade. A razão do “Pajubá” ter status de dialeto foi por ele ter sido colocado em um
2) Alternativa B. dicionário, que chama Aurélia, dicionário da língua afiada. Esse registro confirma e
O texto é cheio de adjetivação e de sentimentalismo que redimensionam a tristeza consolida a existência.
das pacientes do hospício para uma humanidade. Vejamos: “As dementes, 10) Alternativa E.
descalças e rasgadas, paravam em surpresa, rindo bonito em silêncio, os rostos As informações do rótulo não são suficientes para orientar as pessoas celíacas
transformados.” (intolerantes ao glúten) sobre ingerir ou não determinado produto, apenas reforçam
3) Alternativa A. a importância do que pode ser escrito nas embalagens para que se tornam de fato
Sabemos que a linguagem se adapta segundo o meio que está inserida. É comum informativas. As múltiplas reações diante dos rótulos elucidam a variação com que
que questões mais específicas de alguma área se tornem inteligíveis para leigos. eles aparecem.
Esse é o caso do meio científico e, mais especificamente, dos físicos/astrônomos,
que lidam com conceitos sobre o universo.
4) Alternativa A.
Apesar da mídia divulgar como ideal estético e como padrão de beleza o indivíduo
homem, branco, jovem e musculoso (ou magro quando for um corpo feminino), a
realidade da população brasileira não é assim. Nossos corpos são múltiplos e
diversos.
5) Alternativa B
A utilização das hashtags possibilitou agrupar pessoas que falam sobre o mesmo
assunto, o que facilita a troca de informações. O símbolo de jogo da velha não
serve apenas para sinalizar as hashtags, mas atualmente a sociedade incorporou
esse símbolo e o potencializou, como uma ferramenta de seleção de assunto e
também de movimentos sociais.
6) Alternativa B.
Ao passo que o texto I prega a falta de exercício físico como “preguiça”, o texto II
demarca que não fazer exercícios físicos abrange muito mais do que querer ou não,
envolve questões sociais. No texto II temos a descrição de uma pessoa com rotina
exaustiva, além de trabalhar fora de casa tem que trabalhar em casa, e que por
essas questões não quer deixar de descansar para praticar exercícios físicos.
7) Alternativa B.

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