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18 a 21 de outubro de 2022 – Avaré/SP

MEMES E PRÁTICAS DISCURSIVAS

Brian Augusto de Oliveira – Etec Fausto Mazzola – brian.oliveira3@etec.sp.gov.br


Henri Yudi Muniz Okuyama – Etec Fausto Mazzola – henri.okuyama@etec.sp.gov.br
Alexandre Robson Martines – UNESP – alexandre.martines@unesp.br

ÁREA: Comunicação

RESUMO:
O mimetismo sempre esteve presente nas nossas vidas. Desde os primórdios de
nossa origem , temos a habilidade de reproduzir o comportamento de outras espécies. E
isso possibilitou nossa evolução, facilitando nossa aprendizagem em atividades como: caça,
pesca, etc. Com o desenvolvimento da tecnologia os memes acabam se tornando comum
em nossas vidas. Memes são experiências que são compartilhadas e vai muito além de
subjetividades na internet. Portanto, eles são uma forma de aprendizagem. Deste modo,
esta pesquisa tem como objetivo discutir sobre o meme digital, que é de extrema
importância a discussão.

PALAVRAS-CHAVE: Meme; Multimodalidade; Análise do Discurso; Divulgação; e gênero.

1. INTRODUÇÃO.
O meme está inserido no dia a dia da sociedade, como explica Dawkins (1976, p.
330, apud, Souza, p. 7): “exemplos de memes são melodias, ideias, slogans, as modas no
vestuário”, pode- se dizer que na vida moderna a sociedade é rodeada de memes,
concluindo que o meme faz parte da cultura global. Nesse sentido, há uma relação entre o
processo social de criação e manipulação de símbolos e a capacidade de produzir
informações. Entretanto, especificamente, neste trabalho, a abordagem será sobre o meme
digital, aquele com que as pessoas fazem interações diariamente, seja dando um like,
compartilhando, seja comentando.
Seguindo as ideias de Bauman (2001), que, em sua obra Modernidade Líquida, diz
que o mundo moderno vive tempos líquidos, ou seja, tempos rápidos, o meme está
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adaptado à essa rapidez, pois seus signos verbais são curtos e de fácil entendimento.
Portanto, é de extrema importância a discussão sobre o meme, pois está presente no nosso
dia a dia, e que está sempre influenciando pessoas e pensamentos, embora seja um gênero
humorístico.
Por conseguinte, objetivou-se, neste trabalho, evidenciar a influência e a divulgação
do meme em discursos no contexto cotidiano, partindo de pressupostos de que o meme,
como gênero textual digital, é multimodal e apresenta vários signos referentes à enunciação
e à significação. Também há o objetivo de analisar e refletir sobre os significados (explícitos
ou explícitos), usando corpus de análise como base. Sobretudo propõe-se investigar os
gêneros e intertextualidades presentes e influentes nos memes.

2. MATERIAL E MÉTODOS
Aplicou-se uma metodologia qualitativa, de caráter exploratório, fundamentação
interdisciplinar, uma vez que não foi aplicada nenhuma pesquisa de campo ou análise de
dados quantitativos. Recorreu-se à pesquisa bibliográfica para fundamentação teórica do
tema explorado, sobretudo tendo como pilar principal a premissa de Dawkins (1976) no que
tange ao assunto da memética, com análise do conteúdo para que seja exposta
interligações deste assunto. obras para inquerir base de análises: Amoedo e Soares (2018);
Guerreiro e Soares (2016); Silva (2016); Souza (2013); Insfran e Chaves (2020). A partir das
obras de: Bakhtin (2003); Dawkins (1976); Fairclough (2001); Kress (2010); Limor Shifman
(2014); Zani (2003), foram definidos os conceitos aplicados aos memes. Os demais artigos
recolhidos foram usados para reforçar as ideias, são eles: Almeida (2018); Oliveira et al.
(2019).
Para recuperar os documentos foram usadas palavras chaves com as seguintes
temáticas: Meme; Multimodalidade; Análise do Discurso; Divulgação; e gênero, coletados do
Google Scholar como principal base de dados referências. Nesta plataforma, foram
recuperados 18 (dezoito) trabalhos, nos quais 14 (quatorze) foram selecionados para
utilização. Não houve a pretensão de limitar as datas. Já a Figura 1 e Figura 2 foram
resgatadas usando de palavra-chave “Meme Chris Rock e Will Smith” e “Meme Oscar 2022”,
na plataforma de pesquisa Google.
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3. O MEME
O meme veio academicamente como um termo na pesquisa do biólogo Richard
Dawkins, em 1976. Em seu livro O gene egoísta, o autor descreve meme como uma forma
de replicação cultural, funcionando para a cultura da mesma forma que os genes funcionam
para o biológico. Alguns memes possuem um gigantesco valor cultural, que estabelecem
vínculos. Os memes estão inseridos num ambiente entre a criação coletiva e individual,
escreve Almeida (2018).
Ao definir isso, Dawkins (1976) queria ressaltar o conceito do “darwinismo universal”.
Em base, os membros da progênie vão ser mais desenvolvidos do que a transição e estarão
mais bem preparados ao espaço em que a seleção é feita. Estes fundamentos estão
presente nos memes. O ponto mais importante da visão dos memes é que essa é
informação é copiada de uma pessoa a pessoa desde o início de quando os primeiros
homens começaram a imitar. A verdadeira imitação é replicar um novo comportamento ou
habilidade em outro ser.
Kress (2010, apud AMOÊDO; SOARES, 2018) aponta a Teoria da Multimodalidade,
que significados estão em situações, pessoais e impessoais, e os símbolos são de várias
formas e significados, existem de maneiras, devem ser vistos como ferramentas para o
significado dos textos.
A pesquisadora Limor Shifman (2014, apud OLIVEIRA et al., 2019) a autora
descreve um meme da Internet como vários recursos digitais que tem coisas em comum:
conteúdo, forma e/ou gesto, que são feitos com consciência uns dos outros e que são
espalhados, imitados e/ou transformados pelos usuários.

4. GÊNEROS TEXTUAIS
Para Bakhtin (2003), a linguagem é como vários símbolos vivendo em interações
entre os membros de uma comunidade organizada. Todos os símbolos, incluindo os
linguísticos, são derivados de consensos estabelecidos entre os membros de um
determinado grupo social. A consciência individual resulta de uma introjeção do social. Isso
porque, para Bakhtin (2003), o social não se opõe ao individual, mas sim ao natural. O
psiquismo individual, articulando-o e possibilitando sua expressão através da palavra ou de
quaisquer outros conjuntos simbólicos.
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Para Fairclough (2001), o uso da linguagem é uma declaração, uma espécie de


prática social que, dentre outras coisas, as pessoas estão envolvidas com seu trajeto de
vida como integrantes de uma sociedade. Desta forma, as práticas de linguagem são
definidas socialmente. Entretanto, ao procurar os códigos socialmente incluídos, os sujeitos
são contextos específicos, expandindo e mudando seus conceitos e criando, por sua vez, o
impacto no espaço social. Por isso, o código linguístico de uma comunidade não é algo
concreto, mas em constante evolução.

5. INTERTEXTUALIDADE
Diante dito, por Zani (2003, p. 8) “Os discursos modernos e pós-modernos tendem a
ser polifônicos e se relacionam com o presente e o passado, concebendo-se como uma
montagem que é alcançada por meio da fusão de elementos”, logo a Intertextualidade é a
junção ou sobreposição de outros elementos, que, em sua forma original, revelam-se
distintos, assim, na sua concepção final, adquire uma significação própria, usada para atingir
o objetivo da Intertextualidade. Conforme Guerreiro e Soares (2016), os memes são
elaborados a partir de uma imagem, que ilustra o cotidiano, geralmente são textos visuais
como: recorte de cenas de desenhos animados, cenas de filmes, entrevistas e cenas
engraçadas do dia a dia.
Ainda, “para que o enunciatário (leitor) interprete um meme, é necessário que ele
entenda as relações de signos verbais e não verbais (imagem)” (INSFRAN; CHAVES, 2020,
p. 5). Sobretudo, espera-se que o leitor já tenha conhecimento prévio sobre o assunto, a fim
de maior entendimento sobre o texto (INSFRAN; CHAVES, 2020).
Portanto, os memes são um gênero intertextual que utilizam de um signo visual, que
retrata de modo cômico e irônico situações dentro do presente, e até mesmo do passado.
Mediante à essa imagem, é sobreposto um texto verbal, conforme a visão do autor/ editor do
meme (SILVA, 2016). Ele pode ser compartilhado e replicado por terceiros, agindo como um
vírus, indo de cérebro para cérebro (DAWKINS, 1976), todavia durante processo de
transmissão, neste momento o meme estará sujeito “a mutações e à mistura contínuas”
(DAWKINS, 1976, p. 334).

6. ANÁLISE DO DISCURSO.
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A Análise do Discurso francesa nada mais é do que verificação de todas as


semioses, referências, modalidades e a intenção da enunciação. Para Souza (2013), as
bases metodológicas da Análise de Discurso Crítica (ADC) dão o suporte necessário para
que ocorra a interpretação das vozes do mundo real proferidas no ambiente virtual. Ainda na
ADC, “A análise textual está organizada em quatro aspectos acedentes: vocabulário,
gramática, coesão e estrutura textual” (AMOÊDO; SOARES, 2018, p. 9), compreende-se,
assim, que se deve analisar o gênero multimodal meme de forma tridimensional.
Como afirma Guerreiro e Soares (2016, p. 9): “É fato incontestável que a
multimodalidade está permanentemente enlaçada às Diversas práticas sociais [..]. A
Multimodalidade talvez seja a principal característica dos textos atuais, sobretudo os
Digitais”. Sendo assim, o meme, por conter em sua estrutura várias modalidades, incluindo a
Intertextualidade, que podem vir de diversas fontes, das mais variadas possível, a fim de
causar o humor.

7. ASPECTUALIZAÇÃO LINGUÍSTICA DOS GÊNEROS MANIFESTADOS NO MEME.


Considerando tudo o que foi dito, será analisado a Intertextualidade, a
multimodalidade, a estética visual e os processos de mutação do meme durante a sua
disseminação e reprodução.

Figura 01: meme Chris Rock e Will Smith

Fonte: www.google.com.br
Acessado em: 10 de setembro de 2022.

Como signo visual, é possível observar o ator Chris Rock sendo agredido por Will
Smith (no meio central da imagem), fato ocorrido durante a cerimônia do Oscar, na ocasião
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em questão, Chis Rock era o apresentador, e Will Smith era um dos convidados à
nomeação. No decorrer da comemoração, Chris Rock faz um comentário sobre a cabeça
raspada de Jada Smith, atual esposa de Will, ela que possui alopecia, doença que causa
queda de cabelos, após isso, Will Smith dá um tapa em Chris.
Supondo que o leitor já tenha conhecimento prévio desse fato, o autor utiliza da
imagem e faz uma sobreposição com signos verbais, na qual diz “um maluco odeia o Chris”,
nele é possível observar a Intertextualidade, uma vez que na escrita “um maluco” faz
referência ao programa de televisão nomeada de “O maluco no Pedaço” (1990-1996), no
qual Will Smith interpretava o personagem principal. Já na escrita “odeia o Chris” é possível
inferir a menção ao programa sitcom “Todo mundo Odeia o Chris” (2005-2009), este
programa de autoria do próprio Chis Rock, que conta a história de sua infância. Embora
sejam apresentados esses fatores intertextuais, é possível observar outra modalidade
intertextual, a fonte e as cores da legenda, que sobretudo faz alusão ao título de cada um
dos programas, com as mesmas fontes e cores.

Figura 02: Meme Chris Rock e Will Smith.

Fonte: www.google.com.br
Acessado em: 11 de setembro de 2022.

Ainda, na Figura 02, com a mesma imagem do fato ocorrido durante a premiação, é
possível observar a variação que o meme sofreu, quando comparado à Figura 01.
Entretanto o signo verbal sofrendo uma mutação, este que faz alusão ao cotidiano vivido
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pelo autor, que conforme é possível inferir: no mês, o autor se engana e pensa que iria
sobrar algum dinheiro, porém é afligido pelas dívidas, que o “agridem” desistimulando-o,
tanto que ele compara esse fato com tapa no rosto.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Portanto, pode-se concluir, com base nos objetivos que este projeto trouxe, uma
perspectiva sobre um gênero digital que todos convivem no cotidiano, o meme, não somente
analisando-o como possuinte de caracteres humorísticos, mas levando em conta também a
sua influência, a Intertextualidade, os signos e gêneros presentes nele.
Considerando o meme como multimodal, partindo desse pressuposto, foi investigado
nas mais diversas áreas e contextos na quais os signos estavam inseridos, sobretudo o que
eles representam em determinado contexto na sociedade em que o autor está inserido, seja
ela regional, estadual, seja até mesmo global. Não importa qual seja o contexto, o meme
será influenciado e isso ficará evidente se for analisado mais a fundo, porque o propósito do
meme, acima de tudo, é a divulgação, contudo é uma divulgação na qual o enunciatário
precisa estar inserido para que ocorra os efeitos de humor e intertextualidade.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
BAKHTIN, M. O problema dos gêneros dos discursos. In:______.Estética da criação
verbal.Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAUMANN, Z. Modernidade Líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar,
2001.
DAWKINS, R. O gene egoísta. Tradução de Rejane Rubino. São Paulo: Companhia das
Letras, 1976. P.N-M
DE AMOÊDO, R. S.; MACHADO SOARES, N. M. Transformações discursivas no contexto
digital: análise multissemiótica do gênero meme. PERcursos Linguísticos, [S. l.], v. 8, n.
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Acesso em: 15 set. 2022.
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Ed. UnB. 2001 [1992].
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multimodal para a construção de sentidos. Revista Texto Digital, Florianópolis, 2016.
INSFRAN, M. R.; CHAVE, A. S. Humor e crítica nos memes da pandemia de covid-19: uma
análise dialógica. Revista philologus, Rio de Janeiro, ano 2020, v. 26, n. 78, 29 dez. 2020.
Disponível em: https://www.revistaphilologus.org.br/index.php/rph/article/view/285. Acesso
em: 30 ago. 2022.
KRESS, G. Multimodality: a social approach to contemporary communication. Londres:
Routledge. 2010
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OLIVEIRA, K. E. DE J.; PORTO, C. DE M.; ALVES, A. L. Memes de redes sociais digitais


enquanto objetos de aprendizagem na Cibercultura: da viralização à educação. Acta
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Shifman, L. Memes in digital culture. Massachusetts, MA: MIT Press, 2014.
Silva, A. A. D. Memes virtuais: Gênero do discurso, dialogismo, polifonia e heterogeneidade
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SOUZA, C. F. de. Memes: formações discursivas que ecoam no ciberespaço. Revista
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