Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O presente texto revisa autores e estudos que aplicam a noção de 'Interação Social' aplicado
principalmente à pedagogia. A pesquisa bibliográfica tem por objetivo integrar abordagens opostas
como o comportamentalismo e as psicologias cognitivistas; e de inserir novas categorias como as de
'modo de interação' (da cibercultura de Levy) e de 'regimes de integração' (da semiótica de Landowski)
para pensar o universo pedagógico. O resultado desta revisão/atualização bibliográfica é a ampliação
teórica da discussão sobre aprendizado e ensino.
Palavras-chave: Interação Social1; Aprendizado2; Semiótica3;
INTERACTION LEARNING
Abstract: This text reviews authors and studies that apply the notion of 'Social Interaction' applied
mainly to pedagogy. Bibliographic research aims to integrate opposing approaches such as behaviorism
and cognitive psychologies; and to insert new categories such as 'mode of interaction' (from Levy's
cyberculture) and 'integration regimes' (from Landowski's semiotics) to think about the pedagogical
universe. The result of this bibliographic review / update is the theoretical expansion of the discussion
on learning and teaching.
Keywords: Social Interaction1; Learning2; Semiotics3;
1. Introdução
O que é uma interação? Max Weber foi o primeiro a definir ‘Interação Social’ como
sendo uma Ação Social mútua e recíproca entre dois (ou mais) atores ou sujeitos. A
interação é dita social não apenas por produzir significado, mas também por ser uma
prática social e se inscrever num contexto que influencia as ações.
Em oposição a noção de Interação Social, o termo ‘Relação Social’ aponta para trocas
sociais recorrentes de longo prazo. As ‘relações sociais’ são políticas, religiosas,
culturais. Em sociologia, as ‘relações’ são com atores coletivos e em contextos que
partem da sociedade como um todo para entender o detalhe; enquanto, a
antropologia, a psicologia social e outros olhares fazem o sentido oposto, vendo a
sociedade como um conjunto de interações recorrentes e de relações consolidadas.
Sendo assim, tanto para ótica do interacionismo simbólico como para pedagogia
socioconstrutivista, o objetivo principal da educação é aprender a se colocar no lugar
dos outros - tanto no desenvolvimento pessoal intersubjetivo como na perspectiva
intercultural. Essas abordagens, no entanto, são ainda muito mais propensas ao
aspecto cognitivo do aprendizado do que sua contextualização na dura realidade
comportamental.
3 Foucault (1987) apresenta a escola como uma instituição de confinamento da sociedade disciplinar, e,
assim como a fábrica e o hospital, funciona sob o design modelo da instituição penitenciária, o
panóptico, um regime de visibilidade em que o carcereiro vê todos os presos isolados. Essa centralidade
do poder em relação aos dominados pode ser vista na imagem do professor falante diante de uma sala
com filas de cadeiras de estudantes passivos. E o objetivo das instituições de confinamento é
adestramento dos corpos em relação aos desejos; é impor rotinas de vida uniformizadas, produzindo o
cotidiano como cultura. Nessa ótica, a escola é uma instituição de confinamento e disciplina. Mesmo
sem conhecerem a internet, Foucault e Deleuze (1998) decretaram que estamos saindo da sociedade de
disciplina para uma sociedade de controle “em redes a céu aberto”, baseada em cifras e senhas. Nesse
novo modelo, as instituições de confinamento tendem a desaparecer do ponto de vista territorial e/ou a
se transformar em novas organizações descentralizadas de interação à distância.
4 Outra visão crítica importante é a de Bourdieu (2014). Para ele, a escolar tem uma dupla função: a)
transmitir capital cultural entre as gerações e b) reproduzir e ampliar as desigualdades sociais entre as
classes. A escola manifesta uma ‘indiferença às diferenças’ no processo de transmissão do capital
cultural. Todos são tratados como ‘iguais’ embora sejam ‘diferentes’. Esse enquadramento simbólico de
todos à igualdade é um fator violento de desqualificação da maioria. A uniformização das diferenças é
uma violência simbólica. Ela é uma imposição dos dominantes diante da submissão voluntária dos
dominados. No caso da escola (pública e gratuita) francesa estudada, Bourdieu argumenta que
transmissão primária de capital cultural é feita dentro da família e que a educação escolar é uma
transmissão secundária que amplia o capital daqueles que os já detém e que desqualifica a maioria que
dele carece. Assim, ele reforça culturalmente uma desigualdade social já existente. A internet e a
telefonia móvel também promovem uma renovação ampliada desta injustiça. A transmissão de capital
cultural através do entorno familiar desempenha um papel básico em relação à transmissão secundária
através do entorno escolar, reforçando ainda mais a desigualdade social e cultural.
E o que significa aprender? É a capacidade de se adaptar criativamente às interações
de um sistema. Se adaptar criativamente significa ser resiliente, aceitando sem
conformação aos estímulos positivos e negativos a que se é submetido.
Aprender, assim, seria como lidamos com três tipos de interações: as interações
corporais, imediatas e concretas que ‘entram’ no observador distraído (pelo lado
direito do cérebro); as interações mentais e abstratas processadas com esforço e
concentração (pelo hemisfério esquerdo); e as interações musicais, audiovisuais ou
híbridas, capazes de combinar os dois aspectos anteriores.
A teoria sócio semiótica de Eric Landowski (2014) é formada por quatro regimes
distintos de interações: a) a programação ou operação (a interação sempre constante
e contínua, um algoritmo objetivo); b) a manipulação ou estratégia (a interação
inconstante e contínua em que a intencionalidade se superpõe ao causal, o efeito do
narrado sobre o vivido, por exemplo); c) a interação de ajuste (constante e
descontínua); e o fator imprevisível das interações (o aspecto inconstante e
descontínuo). Cada regime corresponde a uma lógica semiótica distinta. A
programação corresponde à regularidade. A manipulação é regida pela
intencionalidade. O ajustamento funciona por sensibilidade. E o acidente corresponde
à aleatoriedade.
Fonte: Internet
5. Aprendizado existencial
A teoria dos regimes de interação é interessante para pensar as relações sociais
do lado de dentro. Aqui a proposta é utilizada para pensar o aprendizado existencial e
a relação pedagógica através das interações. Como e o que aprendemos.
7 Em outra ocasião (GOMES, 2013) chamamos essas duas situações estruturais de ‘Capital’ e de
‘Inconsciente’ – colocando-as como epicentros da sociabilidade grupal. Assim, um grupo é (mais e
menos que) a soma dos seus componentes. O trabalho coletivo é mais que a soma dos trabalhos
individuais gerando um excedente, o resto que sobra do todo menos as partes (o Capital, que
passaremos a chamar de 'Dádiva'). Porém, o grupo também é menos que a soma das suas partes e
recalca as qualidades de seus componentes. A esse déficit inibido das partes através do todo, chamamos
'Dívida' (ou Inconsciente). A disputa pelo excedente simbólico do grupo e o recalque da energia psíquica
é representado pelo duplo regime de programação. Também define os papeis de Pastor (ou macho-alfa)
como gerente e representante do capital do grupo; de Lobo (ou xamâ) para elemento expressivo do
inconsciente do rebanho; e das Ovelhas, elementos passivos que oscilam entre os dois líderes para
controlá-los. Seguindo esses parametros, todos os grupos ou rebanhos, tem elementos que
desempenham essas funções. Na sala de aula também existem pastores, lobos e ovelhas reproduzindo
esse jogo interacional biológico. Seria interessante se cada indivíduo experimentasse todos os papeis.
“O homem nasce puro e é corrupido pela sociedade” – disse Rousseau. A
socialização, no entanto, que corrompe o homem não é o programa escolar, mas sim o
recalque do corpo, a depreciação cognitiva, a manipulação da inconsciência e o
sequestro da motivação. Se há algo errado com o ser humano (e há), trata-se da
existência do regime de manipulação.
7. Regime de ajustes
8. Interações de Risco
Referências bibliográficas
BOURDIEU. Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino.
Petrópolis: Vozes, 2014a.
BOURDIEU. Pierre. PASSERON, Jean-Claude. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora da UFSC,
2014b.
DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1998.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009
GOMES, Marcelo B. Em conflito - conhecimento e confrontação. Revista FAMECOS (Online). v.20, n.03; p.618-633.
2013. <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/12198/10788>.
_____ Imagem, palavra e música: mimese e diegesis em narrativas audiovisuais. Revista Estética. v.01, n. 18, art., 5
p.55 – 67,: 2019. <http://paineira.usp.br/estetica/Artigos/Jan_Jun_2019/Artigo05_Jan-Jun-2019 >
LANDOWSKI, Eric. Interações Arriscadas. Tradução de Luiza Helena Oliveira da Silva. – São Paulo: Estação das Letras
e Cores: Centro de Pesquisa Sociossemióticas, 2014.
LEVY, P. Tecnologias da Inteligência – o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34,
1993.
MEAD, George Herbert. Mind, Self, and Society. Ed: Charles W. Morris. University of Chicago Press: 1934
VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone
Edusp, 1988.