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IFG - CÂMPUS SENADOR CANEDO

SEMANA DE PLANEJAMENTO E FORMAÇÃO

FORMAÇÃO HUMANA, INTERDISCIPLINARIEDADE E EDUCAÇÃO ESCOLAR 1.

Prof. Dr. Sérgio de Almeida Moura2

A forma mais próxima do nosso cotidiano conhecida sobre o desenvolvimento tecnológico,


sobretudo no campo das práticas sociais e das relações humanas, tem se traduzido pelas
interlocuções e interferências que as redes sociais estabelecem na vida cotidiana de todos
nós, e que tem também afetado direta e indiretamente a maneira como nós interagimos com
o mundo e com as outras pessoas; e que também tem afetado direta e indiretamente a
forma como nos vemos (se é que nos vemos), como nos ouvimos (se é que nos ouvimos),
como nos tocamos (se é que nos tocamos) e como nos formamos e educamos um ao outro.

A Interdisciplinaridade está presente em todos os lugares e quando penso e compartilho


isso, me convenço de que é preciso além de pensar e compartilhar as idéias, torna-se
necessário também fazê-las ser pensadas por outras pessoas para que assim, possa haver
interlocução.

A interlocução é conversa trocada entre duas ou mais pessoas; diálogo; é a premissa que
nos permite ESCOLHER aceitar que nos educamos enquanto educamos aos outros, que
aprendemos enquanto ensinamos e que ensinamos enquanto aprendemos.

Falar sobre a educação escolar (educação básica, mas que se estende para o ensino
superior) exige que façamos diversos recortes, entre eles:

De qual escola estamos falando?

De qual sujeito que frequenta essa escola?

De qual classe social?

Escola de qual tempo?

Escola com quais professores?

Escola com que tipo de pensamento sobre formação humana e interdisciplinaridade?

Escola do centro da cidade ou da “periferia”?

Escola diúrna ou noturna?

Escola de tempo integral ou escola de educação integral?

1
Texto da palestra proferida na Semana de Planejamento de 2020.1, do IFG - Câmpus Senador Canedo em 05/02/2020.
2
Professor Adjunto da FEFD/UFG.
Percebam que os recortes não cessam. Esse processo de fazer recortes também pode ser
útil nos processos de pesquisa.

Quando a vida profissional exige mais do que caixinhas de conhecimento para que
haja formação humana das pessoas em nossas salas de aula.

Eduardo Galeano em um dos capítulos de seu livro “Nós dizemos não”, cita uma conhecida
fábula.

Certa vez três cegos encontravam-se certo dia diante de um elefante. O primeiro apalpa a
cauda do animal e conclui tratar-se de uma corda. O segundo, acariciando as patas, declara
que o objeto à frente seria uma coluna. O terceiro, apoiando-se no corpo do elefante, opina
tratar-se de uma parede. Terminada a narrativa, o escritor uruguaio define qual seria a moral
a ser dela subtraída:

“Assim estamos: cegos de nós, cegos do mundo. Desde que nascemos, somos treinados
para não ver mais que pedacinhos. A cultura dominante, cultura do desvínculo, quebra a
história passada como quebra a realidade presente; e proíbe que o quebra-cabeças seja
armado.” (GALEANO, 1990)

Poema da interdisciplinaridade como produto histórico3

Multipla realidade
Que não cabe num só olhar
Assim é a interdisciplinaridade.
Que em valores culturais, politicos e de ideologias
Repleto de tal magia se fez na superação.

O isolado, agora agrupado é seu diferencial


Num protesto declarado ao modelo de exclusão
De uma visão retroativa
De um passado sem interação
Que limita, fere, pune...
Que maltrata, inibe e prende
Transformando a liberdade em simples enganação

Na dinâmica renova

Onde o velho é reciclado

3
NOLASCO A. et al. Poema da interdisciplinaridade como produto histórico. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
O tradicional é transformado
Fazendo a transição...
Do linear ao dialético,
Do simples ao complexo,
E no diálogo transparente se dá a reflexão.

O todo dividido em partes


E as partes que formam o todo
Comprendido no todo sem partes pela associação
E na relação teoria e prática, ensino e avaliação...
Meios e fins se englobam na ação-reflexão-ação.

Morre o paradigma fragmentador


E no desenvolvimento da humanidade,
Cabe ao homem buscar a ótica da diversidade
Na superação da visão dicotômica
Surge a ciência da mediação
Que vai do aprendiz ao saber
Transformando o aprendizado em ponto de satisfação

Mas não é justaposição que o faz interdisciplinar


E sim superação coletiva do método linear
Que revela as duas faces de uma mesma realidade
Expresso nas dimensões da interdisciplinaridade.

O termo interdisciplinaridade é composto por três termos:


1) inter – que significa ação recíproca, ação de A sobre B e de B sobre A;
2) disciplinar – termo que diz respeito à disciplina, do latim discere – aprender,
discipulus – aquele que aprende.
3) dade corresponde a qualidade, estado ou resultado da ação.

Desta forma, uma ação recíproca entre disciplinas, ou de acordo com uma ordem –
promovendo um novo estado, uma outra qualidade e um resultado da ação que promova de
nível o tipo de formação oferecido aos estudantes.

Estamos em 2020, já rodamos 20% do século XXI e a pergunta que me faço é: Porque
insistimos com a interdisciplinaridade para pensarmos uma formação humana na
escola?
Seria a interdisciplinaridade uma necessidade ou uma opção? Se fosse necessidade, de
onde viria? (Será que vem da revista escola? Será que vem de alguma reportagem do globo
repórter? (Hoje você saberão onde moram, como vivem, quanto ganham e como se
relacionam aqueles professores que praticam a interdisciplinaridade) Será que vem dos
documentos oficiais do MEC que orientam flexibilidade, contextualização e
interdisciplinaridade, como estratégias para recompor a formação do homem para um novo
momento da produção capitalista? Ou será que vem do esgotamento das metodologias
de ensino, das didáticas, das conhecidas formas pedagógicas da escola,
reconhecendo que ensinar como antes, já não é possível pensando o tempo, o mundo e o
sujeito de hoje?)

Se fosse uma opção, quais alternativas teríamos para além da escola tradicional
(disciplinarmente mais rígida, pedagogicamente indisposta ao diálogo, historicamente co-
responsável pelo fenômeno do fracasso escolar brasileiro) para construirmos uma educação
de mais qualidade formativa, técnica, pedagógica e humana?

O contrário de uma educação fragmentada, pode sim ser uma educação interdisciplinar,
como pode ser uma educação cujos objetivos explicitam desprezo por uma educação com
sentidos e no lugar disso, valorizar uma educação qualquer focada em deixar o estudante
aprender sozinho sem direção pedagógica que deve ser feita pelo professor/professora.

No século XX as concepções sobre aprendizagem que dominavam e que ainda na


atualidade nos valemos dessas concepções, dão conta de que o estudante seja criança,
adolescente, jovem ou adulto aprendia exclusivamente com o professor, com o livro didático
e/ou com a palmatória. Segundo Ivani Fazenda (1995), há três momentos distintos na
história da interdisciplinaridade. O primeiro, na década de 70, é o momento da definição; na
década de 80, a explicitação do método; na década de 90, a construção da teoria. Em
comum aos três momentos, a interdisciplinaridade apresenta a perplexidade diante da
fragmentação do conhecimento e um esforço por criar alternativas diante da racionalidade
herdada.

Já no final dos anos de 1990, as concepções começam a dar lugar a outras formas de
pensar a aprendizagem e consequentemente, o ensino.

É possível encontrar a defesa de que as crianças ou as pessoas na escola e fora dela:

- aprendem com diversas pessoas (não só o professor = crise identidade);


- aprendem com diversos mediadores (não só o livro didático);
- aprendem em diversos lugares;
- aprendem em tempos diferentes (tempo pedagógico de apreensão);
- aprendem sob diversas condições;
- aprendem sozinhas mediadas pela internet.

O que precisa ficar claro é que não se pode pensar na interdisciplinaridade como A forma de
trabalho que vai salvar a escola ou que seja a receita de sucesso, porque existem dois
riscos:
1) risco de se pensar numa espécie de interdisciplinaridade superficial, epidérmica;
2) risco de não haver condições de operacionalizar um projeto interdisciplinar que exige
organização coletiva. E organização coletiva depende muito, muito, muito, muito de
dois aspectos importantes: A) a compreensão, vontade, desejo, opção dos docentes;
B) questões e políticas administrativas regulatórias que interferem em cumprimento
de carga horária, no quantitativo de professores para a unidade de ensino.
3) risco de se embarcar numa moda de coisas diferentes e se perder sem saber pra
onde ir depois do primeiro passo.

Para isso, podemos até variar na moda, mas jamais abrir mão do modo. Modo aqui é
método, é projeto, é perspectiva de mundo e sociedade, é objetivo de formação humana.

Queremos formar bons Engenheiros? Bons Técnicos? Bons Aprendizes? (DESCULPEM-ME


A REDUNDÂNCIA)
Ótimo. Para isso, precisamos de conhecimento técnico-científico, pedagógico e social-
humano. Essa é uma tríade que aponta para possibilidades. Se articularmos essa tríade com
os objetivos, as metodologias, os conhecimentos que selecionamos para formar os
estudantes (currículo) e as concepções e as práticas de avaliação, poderemos atingir o
contrário de uma educação fragmentada e dividida em caixinhas disciplinares.

Porquê muitos fracassam ou muitos desânimam quando pensam em tentativas de um


trabalho mais coletivizado ou interdisciplinar?

E a resposta é que nem sempre as motivações e as razões de se fazer educação em nosso


país (marcado por desigualdades avassaladoras) são claras a todos os envolvidos. Mas,
também não podemos desconsiderar a parte que cabe a muitos de nós e à nossa categoria.
Que professoras e professores estamos todos submetidos a um potencial índice de
precarização do trabalho e adoecimento pelas políticas de sucateamento das instituições,
das carreiras, dos cortes de bolsas, do congelamento dos salários, dos cortes dos recursos
vinculados, etc. Não podemos ignorar que nunca antes, como na ultima década e na
atualidade, tantas professoras e professores adoeceram e adoecem mentalmente, ou
simplesmente, desanimaram diante de tantas investidas do governo federal, seus
interlocutores e simpatizantes.

Se um projeto pedagógico considerar minimamente os anseios das pessoas dentro de um


projeto histórico que tem como objetivo a emancipação humana, daí sim teremos um ponto
de partida honesto para diminuir as chances de fracasso de um trabalho dessa natureza.

Pensar sobre interdisciplinaridade, planejar baseado em ações pedagógicas curriculares


coletivas são aspectos do COMO FAZER. Como vocês fazem? Fazemos de forma
interdisciplinar. É forma que se visualiza na prática.

Mas, precisamos avançar! Não basta saber como fazer. É preciso responder também:
PORQUÊ OU PARA QUÊ FAZEMOS DESSA FORMA?

Aqui precisamos alinhar as razões pelas quais pensamos e fazemos formação humana.
POR ISSO, é preciso perguntar a cada um de nós, o que tem a ver formação humana
com educação, com escola, com instituto federal?

A condição para pensar a educação das pessoas está vinculada a uma perspectiva de
formação humana, que se revela a partir da tendência formativa que se tem e da qual se
alimenta o processo educativo.

Como identificar uma tendência formativa?

a) quando olhamos para as políticas educacionais de um país;

b) quando olhamos para as orientações econômicas dos organismos financeiros


internacionais como o BM e FMI;

c) quando estudamos o movimento dos reformadores empresariais interessados em


participar das definições de curriculo (REFORMA DO ENSINO MÉDIO E BNCC);

d) quando conhecemos as deliberações de gestores dos sistemas estaduais e municipais


que querem administrar e decidir quem pode e quem não pode, por exemplo, trabalhar com
crianças pequenas. (CASO DO MUNICÍPIO DE APARECIDA DE GOIÂNIA, perverso com
professoras e professores de Educação Física, mas perverso com as professoras
pedagogas que não se manifestaram publicamente ainda, porque suas funções estão
aumentando e não receberam absolutamente nada a mais por isso, sem falar que não tem
formação para trabalhar a educação corporal das crianças);

Existe um tipo de tendência formativa que quer uma educação que ensine menos a
pensar e mais a fazer ou a aprender pelo fazer ignorando o pensar. O apelo é por um
neo-pragmatismo.

 Existem tendências formativas que QUER UMA EDUCAÇÃO SEM ARTE E SEM
MÚSICA.
 Existem tendências formativas que QUER UMA EDUCAÇÃO SEM MOVIMENTO,
SEM CRIATIVIDADE E SEM QUESTIONAMENTO. SEM CORPO DE
PREFERÊNCIA.
 Existem tendências formativas que QUER UMA EDUCAÇÃO SEM REFLEXÃO E
SEM ALEGRIA.

O que pode ou do que é capaz um indivíduo que não pensa ou pensa pouco ou pensa
errado?
Sabemos que esse tipo de indíviduo compõem uma massa acritica aprisionada num
invólucro de senso comum, de ideias da internet sem um mínimo crivo científico ou racional,
e que se coloca do LADO OPOSTO aos anos, décadas de estudos científicos realizados por
pessoas que investiram e investem suas vidas em laboratórios em nome da ciência, do
progresso, do desenvolvimento humano e das coisas.
PODEMOS E DEVEMOS QUESTIONAR TUDO, MAS IGNORAR OS ACÚMULOS
CIENTÍFICOS A PONTO DE ROUBAR EQUIPAMENTOS DE LABORATÓRIOS E
DESTRUIR AMOSTRAS BIOLÓGICAS, ORGÂNICAS E INORGÂNICAS QUE
DEMORARM DÉCADAS PARA SEREM CULTIVADAS EM NOME DE QUÊ OU DE
QUEM? (EXEMPLO Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio
de Janeiro)

A condição para pensar a formação humana está no tipo de tendência formativa que se
adota, se UNILATERAL, se MULTILATERAL ou, se OMNILATERAL.
Cada uma delas demanda como base de desenvolvimento uma lógica de sociabilidade. E o
que é sociabilidade?

Em geral, SOCIABILIDADE é relacionada às análises sobre os modos de viver e de ser em


sociedade, em comunidades ou em pequenos grupos sociais. Historicamente, o conceito de
sociabilidade vem sendo disputado por diferentes correntes de pensamento presentes no
debate das ciências sociais. (MARTINS, 2009)

A sociabilidade é uma construção histórica produzida coletivamente, envolvendo relações de


poder e refletida em cada sujeito singular por diferentes mediações, expressando, assim, um
ordenamento mais ou menos comum sobre as formas de sentir/pensar/agir. (MARTINS,
2009)

Me atentarei a duas características das tendências formativas: UNILATERAL E


OMNILATERAL.

Para uma tendência UNILATERAL de formação humana, a sociabilidade QUE TEM SIDO
pensada para o século XXI ensina que a exploração do capital sobre o trabalho é algo
naturalmente constituído (OU DETERMINADO POR ALGUMA DIVINDADE QUE
DETERMINA QUEM SERÁ SENHOR E QUEM SERÁ ESCRAVO, QUEM SERÁ PATRÃO
E QUEM SERÁ EMPREGADO), e que seu sucesso ou fracasso é unicamente decorrente do
seu esforço (de sua capacidade empreendedora e competitiva) e que é possível promover o
bem-comum com ações voluntárias, independentemente das condições socioeconômicas e
das relações de poder existentes. (MARTINS, 2009)

A única possibilidade de reconhecer a individualização do sucesso ou fracasso na vida da


pessoa humana, seria se fosse real que todos os SERES HUMANOS tivessem e
exercessem seu direito de aprender, desenvolver seu direito inalienável a moradia, a
alimentação, a saúde básica, etc. (DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS - ART
5º DA CF 1988)
E SE EU NÃO ESTIVER ENGANADO ESSES DIREITOS NÃO ESTÃO NA GONDOLA
DOS MERCADOS AO ALCANCE DE QUALQUER UM.
Tais direitos fazem uma grande diferença na sala de aula, na apreensão dos conhecimentos,
na retenção dos conteúdos, na aprendizagem que DEVERIA distanciar O ESTUDANTE do
senso comum e o aproximar de uma OUTRA MENTALIDADE, de uma outra forma de ver o
mundo, a sociedade, as pessoas e as oportunidades de desenvolvimento e crescimento
social e laborativo.

E isso não é uma constatação do agora, mas histórica.

O que é certo e constatado sem grandes esforços é que cada geração aprende a viver no
mundo humano com as gerações que a precederam e a humanidade ergue-se sobre os
ombros da geração anterior, vivendo sempre num mundo organizado pela geração que os
precederam. (MARTINS, 2009)

PORTANTO, EM GRANDE MEDIDA, OS ESTUDANTES QUE TEM GRANDES DEFICTS


CULTURAIS, LINGUISTICOS, EMOCIONAIS, MATERIAIS, muito provavelmente, herdaram
de seus pais ou famílias que por sua vez, herdaram das gerações antecessoras e essa roda
gira para o passado para EXPLICAR E PROVAR QUE EXISTE UM PASSADO QUE NÃO
PASSOU.

Para uma tendência OMNILATERAL de formação humana, a sociabilidade vigente carece


de transformações. A primeira e mais adequada é o enfrentamento das desigualdades. Nós,
profissionais da educação enfrentamos diuturnamente o contexto das desigualdades
escolares que são DESDOBRAMENTOS das desigualdades sociais (econômicas, culturais,
etc).
Durante um século inteiro ou mais que isso, fomos (estudantes dos estratos mais
empobrecidos e da classe trabalhadora em geral) tratados como os únicos responsáveis por
aprender ou não aprender. Portanto, responsáveis pela APROVAÇÃO OU REPROVAÇÃO
ESCOLAR ao final de cada período letivo. (PATTO, 1995)

Pensar um projeto de formação humana que seja coerente, ético-planetário, justo e inclusivo
para aqueles que demandam necessidades especiais de aprendizagem, que seja criativo,
que OBJETIVE o desenvolvimento da criatividade e que esteja comprometivo com a
aprendizagem ao invés da simples certificação, REQUER PERMANENTE REFLEXÃO E
REVISÃO TRANSFORMADORA DOS PILARES DA SOCIABILIDADE VIGENTE.

QUAIS SERIAM OS CENÁRIOS POSSÍVEIS DE UM TIPO DE EDUCAÇÃO QUE NOS


PERMITA DESENVOLVER PRÁTICAS DE FORMAÇÃO HUMANA?

Por décadas e décadas nos deparamos com diversos contextos e situações em que o que
menos importava eram os sujeitos. Números, planilhas, estatísticas, índices, etc. (PATTO,
1995). Os estudos sobre a didática e o ensino nos ensinaram a responder as perguntas
clássicas do processo ensino aprendizagem:

Sabemos o que ensinamos?


Sabemos como ensinar?
Sabemos porque ensinamos?
Sabemos para quê ensinamos?
Sabemos avaliar o que ensinamos?

MAS SABEMOS SOBRE AQUELES A QUEM ENSINAMOS? CONHECEMOS ALGUMA


COISA DE SUAS VIDAS?

Sabemos nós todos, que muitos dos nossos estudantes carregam consigo lacunas e
dificuldades das mais diversas E POR DIVERSAS razões e motivações.

PERGUNTAS PRECISAM SER FEITAS AO PROCESSO DE FORMAÇÃO:

- quem precisa enxergar mais amplamente e mais longe;


- quem precisa ver fragmentos de um futuro em sonhos que ainda não foram sonhados;
- quem precisa acreditar em si mesmo;
- quem precisa aprender a olhar para dentro de si e encontrar um cidadão;
- quem precisa da oportunidade de pensar e de aprender a pensar;

PERCEBAM que UMA SOCIABILIDADE FUNDADA na OMNILATERALIDADE não se


sustenta sem que questionemos a realidade permanentemente. E QUE rejeitemos o que é
empurrado goela abaixo sem que se possa discordar ou questionar.

EDUCAMOS PARA QUE AS PESSOAS QUESTIONEM MAIS OU PARA QUE


RESPONDAM MAIS?

QUAL É A SUA APOSTA?


NO QUE VOCÊ ACREDITA?
E O QUE OU COMO VOCÊ ACHA QUE DEVERIA SER?
Consenso ou conflito, já diria Demerval Saviani.

PERCEBAM que pensar outra sociabilidade exige de mim, professor, e de vocês


professoras e professores, Técnicas e Técnicos, e dos futuros profissionais, que NÃO
ACEITEMOS AS COISAS COMO NATURAIS ou COMO DETERMINADAS SEJA POR
QUEM FOR?
Será que as práticas de formação que temos dão conta disso ou precisamos de outras
práticas de formação?

PERCEBAM que as pessoas, todas elas podem ser o que quiser, fazer o que sonharem,
DESDE QUE, no início de suas vidas estejam garantidos os pilares basilares de uma
sociabilidade que respeita a humanidade e os DIREITOS INDIVIDUAIS UNIVERSAIS.

Sabemos nós todos, que a origem socio familiar NEM SEMPRE garante AO ESTUDANTE
uma razoável/boa auto-estima e uma razoável/boa auto-imagem de si mesmos. E isso não é
sinônimo de que a escola deva ser tornar uma agência psicológica de restauração de auto-
estima e auto-imagem. Mas, não é isso que nos cabe fazer em muitas vezes? Pensar e
propor práticas educativas cuja finalidade seja acolher, incluir e alavancar processos de
aprendizagem significativas?
As aprendizagens em todos os cursos que vocês desenvolvem, devem ser aprendizagens
significativas, pois elas potencializam a formação de profissionais que tem capacidade de
exercer a profissão com elementos formativos diferenciados, quando outros profissionais
tiveram uma formação pedagogicamente mais basilar, menos provocativa, menos reflexiva,
e mais pragmática.
É óbvio que em diversas profissões as exigências podem ser mais técnicas, mais
pragmáticas e disso não podemos fugir. Mas, também não podemos desconsiderar que há
espaço para mais que isso dentro de nós.

EM QUE SENTIDO A EDUCAÇÃO CONTRIBUI PARA UM PROJETO DE FORMAÇÃO


HUMANA QUE CONTRAPONHA A BARBÁRIE? E ONDE ENTRAM AS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS ESPECÍFICAS, AS METODOLOGIAS DE ENSINO, AS DIDÁTICAS DE
CADA ÁREA DE CONHECIMENTO?

Primeiro, o que é a BARBÁRIE4? PODEMOS ACHAR QUE BARBÁRIE ESTÁ LONGE DE


NÓS PORQUE PODEMOS TER EM MENTE, atos, pensamentos, palavras, atitudes de
selvageria, de desumanização e de ignorar todo o humano que nos está contido.
Mas, é preciso lembrarmos que:
- Fazer piada com a dor do outro é barbárie.
- Fazer chacota com as características físicas do outro é barbárie.
- Tratar o outro com indiferença é barbárie.
- Maltratar alguém que é diferente, cuja diferença lhe causa situação de indefensibilidade, é
barbárie.
- O feminicídio é barbárie.
- O abuso sexual com ou sem estupro é barbárie.
- Violência doméstica é barbárie.
- O Assédio moral/sexual no trabalho, na faculdade, na escola, no parque, na igreja, no
sindicato, em qualquer que seja o lugar, é barbárie.

O que vislumbro como “OS SENTIDOS DA PRÁTICA DOCENTE”, como forma de enfrentar
e se possível, restabelecer os contextos de barbárie, coloca-nos como sujeitos MUITO MAIS
que importantes, mas como sujeitos IMPRESCINDÍVEIS em cenários de práticas educativas
dentro e fora da escola, no sentido de resgatar os sentidos e as sensibilidades que há no
SER HUMANO.

ESTÁ NAS MINHAS MÃOS QUANDO SAIO DA MINHA CASA E VENHO AQUI
CONVERSAR COM VOCÊS E COMPARTILHAR EM VOZ ALTA AS MINHAS IDÉIAS, OS

4
REVISTA CULT/UOL 17/09/18 – Civilização ou barbárie?
MEUS SONHOS, AS MINHAS DÚVIDAS, OS MEUS MEDOS E AS MINHAS
EXPECTATIVAS.

ESTÁ NAS MÃOS DOS DOCENTES DESSA INSTITUIÇÃO E DE TODAS AS OUTRAS


INSTITUIÇÕES A FORMA COMO FARÃO/FAREMOS AS DEVIDAS PROVOCAÇÕES NO
INTERIOR DE NOSSAS DISCIPLINAS E DOS CONTEÚDOS QUE ENSINAMOS.
ESTÁ NAS MÃOS DOS ESTUDANTES ENQUANTO ESTÃO EM PROCESSO DE
FORMAÇÃO, ACREDITAR QUE TODOS OS CONTEÚDOS, TODAS AS DISCUSSÕES,
TODAS AS REFLEXÕES PROMOVIDAS TEM UM PORQUÊ E QUE PRECISAM DA
ATENÇÃO.

E antes que alguém se ocupe de me questionar sobre, o que sobra para os professores
além de trabalhar, estudar, se qualificar, aprovar projetos de extensão e pesquisa, fazer
complementação de carga horária, preencher planilhas, fichas, formulários, etc etc etc.

Parece que temos um universo de afazeres e responsabilidades, que nos cansa e nos rouba
a energia vital. Parece não, temos tudo isso.

E porque eu venho aqui para em nome da reflexão sobre a formação humana, a


interdisciplinaridade e educação escolar, chamar a minha e a sua atenção para tantas
coisas?

1º ) Partilho das inquietações que seus corações e mentes vivenciaram nesse tempo;
2º ) Partilho das indignações que possam ter frente aos gestores diretos e indiretos que
pautam as políticas administrativas, curriculares e de pessoal, porque eu também sou
servidor de uma instituição de ensino pública federal;
3º ) Não tenho a mim e a meus colegas como vilões do processo formativo, fazemos a partir
das condições dadas e as vezes, fazemos mais do que as condições dadas nos permite;
4º ) Entendo que não nos vemos como salvadores da pátria, dos estudantes, de suas
famílias ou da educação brasileira. Mas, advogo para mim e para os meus colegas docentes
e técnicos em geral, a defesa de que nosso trabalho está inserido entre poucos ou
pouquissimos, CUJA CARACTERÍSTICA DE PREMISSA possibilita QUE um ser humano,
“faça” outro ser, se tornar HUMANO. (aqui pondero que muitos de nós, no exercício de
buscar humanizar os processos, adoecemos)
5º ) Tudo eu entendo que pode e deve ser questionado, mas isso deve ser enaltecido.
6º ) Considerando tudo isso, me coloco, na esteira da busca para compreender como posso
ter uma auto-formação contextualizada na contramão de uma semi-formação e identifico que
quanto mais isolada e individualizada for as práticas formativas, menos ou mais distantes
estaremos de uma formação omnilateral.

FINALIZAÇÃO COM UMA PROPOSTA DE SITUAÇÃO QUE PODE PROMOVER


PRÁTICAS OU INTENÇÕES INTERDISCIPLINARES E POTENCIALIZAM FORMAÇÃO
HUMANA NA ESCOLA.
Trata-se da Orientação, Corrida de Orientação ou Esporte de Orientação

É uma prática moderna de caráter inter/transdisciplinar, haja vista, ser um meio que exige
usar conceitos de diversas disciplinas como por exemplo: geografia, matemática, lingua
portuguesa, ciências e educação física.

É uma prática que pode ser revolucionária na escola, na medida em que exige dos
estudantes um comportamento intelectual, emocional e social que até então nunca a escola
lhe tinha cobrado ou mediado.

E ainda é possível identificar a presença de práticas de atitudes importantes, como saber


fazer escolhas e ser autônomo para desenvolver e manipular o mapa e obter os resultados.
Essas são características que promovem uma formação nas linhas de uma educação
integral, interdisciplinar.

Nessa atividade, é possível identificarmos fundamentos que podem ser construídos para que
na formação de seus respectivos cursos técnicos integrados ao ensino médio de mecânica e
automação; no Proeja de Refrigeração e Climatização; e, na formação superior de
Engenharia de Produção, os alunos potencializem suas aprendizagens, ampliem sua visão
periférica de entendimento para além do prescrito e sejam motivados ao exercício do
pensar, tão caro para essa geração e que virão.

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