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A interlocução é conversa trocada entre duas ou mais pessoas; diálogo; é a premissa que
nos permite ESCOLHER aceitar que nos educamos enquanto educamos aos outros, que
aprendemos enquanto ensinamos e que ensinamos enquanto aprendemos.
Falar sobre a educação escolar (educação básica, mas que se estende para o ensino
superior) exige que façamos diversos recortes, entre eles:
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Texto da palestra proferida na Semana de Planejamento de 2020.1, do IFG - Câmpus Senador Canedo em 05/02/2020.
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Professor Adjunto da FEFD/UFG.
Percebam que os recortes não cessam. Esse processo de fazer recortes também pode ser
útil nos processos de pesquisa.
Quando a vida profissional exige mais do que caixinhas de conhecimento para que
haja formação humana das pessoas em nossas salas de aula.
Eduardo Galeano em um dos capítulos de seu livro “Nós dizemos não”, cita uma conhecida
fábula.
Certa vez três cegos encontravam-se certo dia diante de um elefante. O primeiro apalpa a
cauda do animal e conclui tratar-se de uma corda. O segundo, acariciando as patas, declara
que o objeto à frente seria uma coluna. O terceiro, apoiando-se no corpo do elefante, opina
tratar-se de uma parede. Terminada a narrativa, o escritor uruguaio define qual seria a moral
a ser dela subtraída:
“Assim estamos: cegos de nós, cegos do mundo. Desde que nascemos, somos treinados
para não ver mais que pedacinhos. A cultura dominante, cultura do desvínculo, quebra a
história passada como quebra a realidade presente; e proíbe que o quebra-cabeças seja
armado.” (GALEANO, 1990)
Multipla realidade
Que não cabe num só olhar
Assim é a interdisciplinaridade.
Que em valores culturais, politicos e de ideologias
Repleto de tal magia se fez na superação.
Na dinâmica renova
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NOLASCO A. et al. Poema da interdisciplinaridade como produto histórico. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
O tradicional é transformado
Fazendo a transição...
Do linear ao dialético,
Do simples ao complexo,
E no diálogo transparente se dá a reflexão.
Desta forma, uma ação recíproca entre disciplinas, ou de acordo com uma ordem –
promovendo um novo estado, uma outra qualidade e um resultado da ação que promova de
nível o tipo de formação oferecido aos estudantes.
Estamos em 2020, já rodamos 20% do século XXI e a pergunta que me faço é: Porque
insistimos com a interdisciplinaridade para pensarmos uma formação humana na
escola?
Seria a interdisciplinaridade uma necessidade ou uma opção? Se fosse necessidade, de
onde viria? (Será que vem da revista escola? Será que vem de alguma reportagem do globo
repórter? (Hoje você saberão onde moram, como vivem, quanto ganham e como se
relacionam aqueles professores que praticam a interdisciplinaridade) Será que vem dos
documentos oficiais do MEC que orientam flexibilidade, contextualização e
interdisciplinaridade, como estratégias para recompor a formação do homem para um novo
momento da produção capitalista? Ou será que vem do esgotamento das metodologias
de ensino, das didáticas, das conhecidas formas pedagógicas da escola,
reconhecendo que ensinar como antes, já não é possível pensando o tempo, o mundo e o
sujeito de hoje?)
Se fosse uma opção, quais alternativas teríamos para além da escola tradicional
(disciplinarmente mais rígida, pedagogicamente indisposta ao diálogo, historicamente co-
responsável pelo fenômeno do fracasso escolar brasileiro) para construirmos uma educação
de mais qualidade formativa, técnica, pedagógica e humana?
O contrário de uma educação fragmentada, pode sim ser uma educação interdisciplinar,
como pode ser uma educação cujos objetivos explicitam desprezo por uma educação com
sentidos e no lugar disso, valorizar uma educação qualquer focada em deixar o estudante
aprender sozinho sem direção pedagógica que deve ser feita pelo professor/professora.
Já no final dos anos de 1990, as concepções começam a dar lugar a outras formas de
pensar a aprendizagem e consequentemente, o ensino.
O que precisa ficar claro é que não se pode pensar na interdisciplinaridade como A forma de
trabalho que vai salvar a escola ou que seja a receita de sucesso, porque existem dois
riscos:
1) risco de se pensar numa espécie de interdisciplinaridade superficial, epidérmica;
2) risco de não haver condições de operacionalizar um projeto interdisciplinar que exige
organização coletiva. E organização coletiva depende muito, muito, muito, muito de
dois aspectos importantes: A) a compreensão, vontade, desejo, opção dos docentes;
B) questões e políticas administrativas regulatórias que interferem em cumprimento
de carga horária, no quantitativo de professores para a unidade de ensino.
3) risco de se embarcar numa moda de coisas diferentes e se perder sem saber pra
onde ir depois do primeiro passo.
Para isso, podemos até variar na moda, mas jamais abrir mão do modo. Modo aqui é
método, é projeto, é perspectiva de mundo e sociedade, é objetivo de formação humana.
Mas, precisamos avançar! Não basta saber como fazer. É preciso responder também:
PORQUÊ OU PARA QUÊ FAZEMOS DESSA FORMA?
Aqui precisamos alinhar as razões pelas quais pensamos e fazemos formação humana.
POR ISSO, é preciso perguntar a cada um de nós, o que tem a ver formação humana
com educação, com escola, com instituto federal?
A condição para pensar a educação das pessoas está vinculada a uma perspectiva de
formação humana, que se revela a partir da tendência formativa que se tem e da qual se
alimenta o processo educativo.
Existe um tipo de tendência formativa que quer uma educação que ensine menos a
pensar e mais a fazer ou a aprender pelo fazer ignorando o pensar. O apelo é por um
neo-pragmatismo.
Existem tendências formativas que QUER UMA EDUCAÇÃO SEM ARTE E SEM
MÚSICA.
Existem tendências formativas que QUER UMA EDUCAÇÃO SEM MOVIMENTO,
SEM CRIATIVIDADE E SEM QUESTIONAMENTO. SEM CORPO DE
PREFERÊNCIA.
Existem tendências formativas que QUER UMA EDUCAÇÃO SEM REFLEXÃO E
SEM ALEGRIA.
O que pode ou do que é capaz um indivíduo que não pensa ou pensa pouco ou pensa
errado?
Sabemos que esse tipo de indíviduo compõem uma massa acritica aprisionada num
invólucro de senso comum, de ideias da internet sem um mínimo crivo científico ou racional,
e que se coloca do LADO OPOSTO aos anos, décadas de estudos científicos realizados por
pessoas que investiram e investem suas vidas em laboratórios em nome da ciência, do
progresso, do desenvolvimento humano e das coisas.
PODEMOS E DEVEMOS QUESTIONAR TUDO, MAS IGNORAR OS ACÚMULOS
CIENTÍFICOS A PONTO DE ROUBAR EQUIPAMENTOS DE LABORATÓRIOS E
DESTRUIR AMOSTRAS BIOLÓGICAS, ORGÂNICAS E INORGÂNICAS QUE
DEMORARM DÉCADAS PARA SEREM CULTIVADAS EM NOME DE QUÊ OU DE
QUEM? (EXEMPLO Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio
de Janeiro)
A condição para pensar a formação humana está no tipo de tendência formativa que se
adota, se UNILATERAL, se MULTILATERAL ou, se OMNILATERAL.
Cada uma delas demanda como base de desenvolvimento uma lógica de sociabilidade. E o
que é sociabilidade?
Para uma tendência UNILATERAL de formação humana, a sociabilidade QUE TEM SIDO
pensada para o século XXI ensina que a exploração do capital sobre o trabalho é algo
naturalmente constituído (OU DETERMINADO POR ALGUMA DIVINDADE QUE
DETERMINA QUEM SERÁ SENHOR E QUEM SERÁ ESCRAVO, QUEM SERÁ PATRÃO
E QUEM SERÁ EMPREGADO), e que seu sucesso ou fracasso é unicamente decorrente do
seu esforço (de sua capacidade empreendedora e competitiva) e que é possível promover o
bem-comum com ações voluntárias, independentemente das condições socioeconômicas e
das relações de poder existentes. (MARTINS, 2009)
O que é certo e constatado sem grandes esforços é que cada geração aprende a viver no
mundo humano com as gerações que a precederam e a humanidade ergue-se sobre os
ombros da geração anterior, vivendo sempre num mundo organizado pela geração que os
precederam. (MARTINS, 2009)
Pensar um projeto de formação humana que seja coerente, ético-planetário, justo e inclusivo
para aqueles que demandam necessidades especiais de aprendizagem, que seja criativo,
que OBJETIVE o desenvolvimento da criatividade e que esteja comprometivo com a
aprendizagem ao invés da simples certificação, REQUER PERMANENTE REFLEXÃO E
REVISÃO TRANSFORMADORA DOS PILARES DA SOCIABILIDADE VIGENTE.
Por décadas e décadas nos deparamos com diversos contextos e situações em que o que
menos importava eram os sujeitos. Números, planilhas, estatísticas, índices, etc. (PATTO,
1995). Os estudos sobre a didática e o ensino nos ensinaram a responder as perguntas
clássicas do processo ensino aprendizagem:
Sabemos nós todos, que muitos dos nossos estudantes carregam consigo lacunas e
dificuldades das mais diversas E POR DIVERSAS razões e motivações.
PERCEBAM que as pessoas, todas elas podem ser o que quiser, fazer o que sonharem,
DESDE QUE, no início de suas vidas estejam garantidos os pilares basilares de uma
sociabilidade que respeita a humanidade e os DIREITOS INDIVIDUAIS UNIVERSAIS.
Sabemos nós todos, que a origem socio familiar NEM SEMPRE garante AO ESTUDANTE
uma razoável/boa auto-estima e uma razoável/boa auto-imagem de si mesmos. E isso não é
sinônimo de que a escola deva ser tornar uma agência psicológica de restauração de auto-
estima e auto-imagem. Mas, não é isso que nos cabe fazer em muitas vezes? Pensar e
propor práticas educativas cuja finalidade seja acolher, incluir e alavancar processos de
aprendizagem significativas?
As aprendizagens em todos os cursos que vocês desenvolvem, devem ser aprendizagens
significativas, pois elas potencializam a formação de profissionais que tem capacidade de
exercer a profissão com elementos formativos diferenciados, quando outros profissionais
tiveram uma formação pedagogicamente mais basilar, menos provocativa, menos reflexiva,
e mais pragmática.
É óbvio que em diversas profissões as exigências podem ser mais técnicas, mais
pragmáticas e disso não podemos fugir. Mas, também não podemos desconsiderar que há
espaço para mais que isso dentro de nós.
O que vislumbro como “OS SENTIDOS DA PRÁTICA DOCENTE”, como forma de enfrentar
e se possível, restabelecer os contextos de barbárie, coloca-nos como sujeitos MUITO MAIS
que importantes, mas como sujeitos IMPRESCINDÍVEIS em cenários de práticas educativas
dentro e fora da escola, no sentido de resgatar os sentidos e as sensibilidades que há no
SER HUMANO.
ESTÁ NAS MINHAS MÃOS QUANDO SAIO DA MINHA CASA E VENHO AQUI
CONVERSAR COM VOCÊS E COMPARTILHAR EM VOZ ALTA AS MINHAS IDÉIAS, OS
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REVISTA CULT/UOL 17/09/18 – Civilização ou barbárie?
MEUS SONHOS, AS MINHAS DÚVIDAS, OS MEUS MEDOS E AS MINHAS
EXPECTATIVAS.
E antes que alguém se ocupe de me questionar sobre, o que sobra para os professores
além de trabalhar, estudar, se qualificar, aprovar projetos de extensão e pesquisa, fazer
complementação de carga horária, preencher planilhas, fichas, formulários, etc etc etc.
Parece que temos um universo de afazeres e responsabilidades, que nos cansa e nos rouba
a energia vital. Parece não, temos tudo isso.
1º ) Partilho das inquietações que seus corações e mentes vivenciaram nesse tempo;
2º ) Partilho das indignações que possam ter frente aos gestores diretos e indiretos que
pautam as políticas administrativas, curriculares e de pessoal, porque eu também sou
servidor de uma instituição de ensino pública federal;
3º ) Não tenho a mim e a meus colegas como vilões do processo formativo, fazemos a partir
das condições dadas e as vezes, fazemos mais do que as condições dadas nos permite;
4º ) Entendo que não nos vemos como salvadores da pátria, dos estudantes, de suas
famílias ou da educação brasileira. Mas, advogo para mim e para os meus colegas docentes
e técnicos em geral, a defesa de que nosso trabalho está inserido entre poucos ou
pouquissimos, CUJA CARACTERÍSTICA DE PREMISSA possibilita QUE um ser humano,
“faça” outro ser, se tornar HUMANO. (aqui pondero que muitos de nós, no exercício de
buscar humanizar os processos, adoecemos)
5º ) Tudo eu entendo que pode e deve ser questionado, mas isso deve ser enaltecido.
6º ) Considerando tudo isso, me coloco, na esteira da busca para compreender como posso
ter uma auto-formação contextualizada na contramão de uma semi-formação e identifico que
quanto mais isolada e individualizada for as práticas formativas, menos ou mais distantes
estaremos de uma formação omnilateral.
É uma prática moderna de caráter inter/transdisciplinar, haja vista, ser um meio que exige
usar conceitos de diversas disciplinas como por exemplo: geografia, matemática, lingua
portuguesa, ciências e educação física.
É uma prática que pode ser revolucionária na escola, na medida em que exige dos
estudantes um comportamento intelectual, emocional e social que até então nunca a escola
lhe tinha cobrado ou mediado.
Nessa atividade, é possível identificarmos fundamentos que podem ser construídos para que
na formação de seus respectivos cursos técnicos integrados ao ensino médio de mecânica e
automação; no Proeja de Refrigeração e Climatização; e, na formação superior de
Engenharia de Produção, os alunos potencializem suas aprendizagens, ampliem sua visão
periférica de entendimento para além do prescrito e sejam motivados ao exercício do
pensar, tão caro para essa geração e que virão.