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A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS
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1ª Edição
Copyright© Autor(es)
O conteúdo desta obra é de responsabilidade do(s) Autor(es),
proprietário(s) do Direito Autoral.
Capa Afra de Medeiros
Poiesis Editora 2018
Todos os direitos comerciais reservados pela Poiesis Editora, sendo
proibida qualquer reprodução de partes ou de todo o conteúdo dessa
publicação sem a autorização prévia da Editora.
APRESENTAÇÃO • 8
CONSIDERAÇÕES INICIAIS • 10
1 A ANÁLISE DE DISCURSO • 13
2 OS SENTIDOS NA FOTOGRAFIA • 18
3 OS SENTIDOS NO DOCUMENTÁRIO • 29
4 OS SENTIDOS NAS REVISTAS SEMANAIS • 44
5 OS SENTIDOS NOS MEMES • 66
6 OS SENTIDOS NAS INSCRIÇÕES URBANAS • 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS • 97
POSFÁCIO • 100
SOBRE O AUTOR • 102
APRESENTAÇÃO
O
professor e pesquisador Adriano Cruz nos oferece atra-
vés desta obra, que já se mostra perspicaz em seu título
Mídia e Discurso: a construção de sentidos, a oportunida-
de de adentrarmos na análise do discurso de abordagem francesa,
porém, com a marca dos pesquisadores brasileiros que seguiram
essa corrente, fundamentalmente a pesquisa de Eni Orlandi.
Este livro representa um “olhar para dentro” do próprio cami-
nhar e, ao mesmo tempo, uma mirada instigante enquanto à telha
discursiva em diversas esferas que priorizam discursos textuais e/
ou imagéticos.
O autor faz uma retrospectiva da sua própria pesquisa dis-
cursiva, considerando alguns dos textos que foram divulgados
durante os últimos anos em diversos espaços científicos. Apesar
de se apresentar, num primeiro momento, como um percurso ec-
lético, o livro tem uma coesão intrínseca ao evidenciar a ideologia
como uma teia que perpassa toda manifestação discursiva.
Cruz constrói uma trilha que atravessa diferentes paisagens
semióticas, materializadas neste trabalho, num olhar para a foto-
grafia, o documentário, as revistas semanais, os memes e as ins-
crições urbanas. A arriscada intenção de colocar linguagens di-
versas na mesma arena, ainda que separadas em capítulos, acaba
se transformando numa oportunidade para o leitor de vivenciar
o discurso como uma entidade dinâmica, dialógica e onipresente
nas mais diversas formas de expressão características da moderni-
dade multimodal na qual estamos imersos.
Um dos pontos mais contundentes da abordagem do autor é a
sensibilidade para vincular suas análises a questões que interagem
no nosso cotidiano, tais como: a representação de atores sociais
publicamente notórios, o caso de Lula e Marina Silva; a materia-
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Adriano Charles Silva Cruz
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Hans Belting
E
ste livro contém um conjunto de textos escritos entre 2008
e 2018, frutos de minhas pesquisas acadêmicas. Inseridos
em formato de livro, os textos sofreram modificações e
atualizações. Acredito que, nesse formato, produzem um efeito
de continuidade temática, as ideias se repetem e se atualizam nas
variações dos fenômenos e dos objetos.
O leitor verá que alguns temas perpassam as análises: a re-
tomada de discursos anteriores, os efeitos da memoria e da ide-
ologia e a construção de subjetividades. Pretendo demonstrar o
potencial analítico da teoria discursiva na análise de produtos da
mídia. Embora, desde os anos de 1980, ocorra um direcionamen-
to para análise de imagens, é comum as pessoas associarem a teo-
ria apenas à análise de textos verbais.
No primeiro capítulo, procuro apresentar os principais con-
ceitos discursivos mobilizados: discurso, ideologia, interdiscurso
e formação ideológica e discursiva. Tais conceitos não esgotam
o arsenal teórico da “disciplina”, em movimento e atualizações
constantes. Recomendo, para aqueles que quiserem uma intro-
dução mais detalhada, a leitura do livro Introdução à Análise de
Discurso, de Eni Orlandi e do meu A charge no governo Lula.
Nos capítulos seguintes, diferentes questões discursivas são
abordadas por meio da análise de objetos da mídia: a relação entre
invisibilidade e visibilidade na fotografia de Philip-Lorca diCor-
cia, a formação da identidade e da subjetividade no documentário
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Adriano Charles Silva Cruz
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Mídia e Discurso
12
1 A ANÁLISE DE DISCURSO
Michel Foucault
O
leitor já deve ter percebido que há inúmeras escolas ou
orientações de análise discursivas. A que trabalhamos foi
desenvolvida, na França, a partir dos estudos do filósofo
Michel Pêcheux (1938-1983) e do linguista Jean Dubois (1926-
2015), no final dos anos sessenta. Mas foi, no Brasil, com as pes-
quisas de Eni Orlandi (1942 -), que a Análise de Discurso (AD)
de linha franco-brasileira se consolidou e proporcionou ressigni-
ficações às matizes e formulações iniciais.
Em princípio, delimito o que seria “discurso”: ele não se res-
tringe a uma troca de informações ou a uma mensagem; esse con-
ceito possui uma dimensão não somente comunicativa ou ima-
gética, mas também ideológica. O discurso é um efeito de sentido
que brota do cruzamento entre história, sujeito e ideologia.
Assim, a teoria discursiva não esgota as análises no espaço das
imagens e textos, mas considera o contexto amplo denominado
de condições de produção, ou seja, o quadro sócio-histórico e ide-
ológico que está imbricado em todo o fazer humano. A ideologia1
13
Mídia e Discurso
relação do sujeito com a língua e com a história em sua relação necessária, para
que se signifique”. ORLANDI, Eni. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do
trabalho simbólico. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 48.
2 Pêcheux denomina o “primado teórico do outro sobre o mesmo”, ou seja, o
primado da interdiscursividade. PÊCHEUX, Michel. A Análise do Discurso:
três épocas. In: GADET, Françoise; HAK, Tony. (Org.). Por uma análise au-
tomática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas:
Unicamp, 2001, p. 315.
3 Segundo Orlandi, o interdiscurso é o “saber discursivo que torna possível
todo dizer e que retorna sob forma de pré-construído, o já dito que está na base
do dizível, sustentando cada tomada da palavra”. ORLANDI, Eni. Análise de
discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas: Pontes, 2007, p. 31. Se-
gundo Pêcheux, o interdiscurso ou memória discursiva “seria aquilo que, face
a um texto que surge como acontecimento a ler, vem estabelecer os ‘implícitos’
[...] de que sua leitura necessita: a condição do legível em relação ao próprio
legível”. PÊCHEUX, Michel. Papel da Memória. In: ACHARD, Pierre et. al.
Papel da memória. 2. ed. Campinas: Pontes, 2007, p. 52.
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Mídia e Discurso
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2 OS SENTIDOS NA FOTOGRAFIA11
A data faz parte da foto: não porque ela denote um estilo, mas
porque ela faz erguer a cabeça, oferece ao cálculo da vida, a
morte, a inexorável extinção das gerações: é possível que
Ernest, jovem, estudante fotografado em 1931 por Kertész,
ainda viva hoje em dia (mas onde? Como? Que romance!).
Sou o ponto de referência de qualquer fotografia, e é nisso
que ela me induz a me espantar, dirigindo-me a pergunta
fundamental: “por que será que vivo aqui e agora?”.
Roland Barthes
A
fotografia é uma das mais significativas expressões da cul-
tura ocidental. Durante anos, a relação com o referente foi
o paradigma que sustentou sua onipresença no cotidia-
no. Todavia, verifica-se uma crise e um tensionamento dessa sua
função indicial ou mimética da realidade a partir da “moderni-
dade líquida”. Fotógrafos refutam essa pretensão com trabalhos
destoantes do realismo, afastando-se do ideal de verossimilhança.
Imagens míticas, como as de Che Guevara, acompanham o
imaginário do homem apontando para a sua reprodução inces-
sante no atual estágio da modernidade. Por outro lado, a foto-
grafia compõe novos “lugares de memória” 12 que formarão os
quadros da “memória coletiva13” Nesse sentido, pululam imagens
que tangenciam a dor e apontam para outras alhures, num jogo
18
Adriano Charles Silva Cruz
14 O próprio diCorcia entra no debate: “Há, nas minhas fotografias, uma si-
tuação artificiosa que resulta de uma construção minha, em que uso estas e
outras pessoas para representar determinadas narrativas. O que daqui se infere,
portanto, é tão intenso quanto seria se nada construísse ou nada encenasse, e
me propusesse a uma reportagem de natureza documental”. DICORCIA, Phi-
lip-Lorca. Notícias recentes do sonho americano. Disponível em: http://5dias.
net/2004/04/30/noticias-recentes-do-sonho-americano-republicando-a-mi-
nha-entrevista-ao-fotógrafo-philip-lorca-dicorcia-a-pedido-do-ezequiel/.
Acesso em: 20 jun 2004.
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Mídia e Discurso
15 FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta. Ensaios para uma futura filosofia
da fotografia. São Paulo: Hucitec, 1985, p. 22.
16 DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campinas: Papirus, 2001, p. 27.
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Mídia e Discurso
não sentidos antes. A prova disso é que a foto foi somente publi-
cada seis anos depois do clique. Esse gap temporal foi necessá-
rio para a discursivização do revolucionário em mito, no qual as
imagens técnicas colaboraram de forma considerável. “Apesar do
Che ter negado a imagem de Cristo como ícone de sua vida [...]
essa imagem representa o destino aonde seus passos o conduzi-
ram, quando se transformou em um célebre christomimétés18 do
século XX” 19.
Figura 1: O guerrilheiro heroico, Alberto Korda, 1960.
Fonte: https://focusfoto.com.br/che-guevara/
18 “Um signo icônico de Cristo, uma figura quase divina, mas não por nature-
za e sim pela graça. Para adotar essa noção histórica à nossa época midiática
proponho o conceito de corpo icônico pela tecnologia midiática da imagem”.
ANDACHT, Fernando. Uma proposta analítica da imagem da celebridade na
mídia. Tecnologia e Sociedade. Curitiba, 2005, p. 127-150, p. 147.
19 Idem, p. 146.
20 PÊCHEUX, Michel. Análise automática do discurso. In: GADET, Françoise;
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Adriano Charles Silva Cruz
HAK, Tony. (Org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à
obra de Michel Pêcheux. Campinas: Unicamp, 2001.
21 BARTHES, Roland. A câmara clara. Lisboa: 70, p.119.
23
Mídia e Discurso
23 Idem.
24 FLORES, Victor. Questões emergentes das atuais negociações entre as cren-
ças da imagem analógica e da imagem digital. Disponível em http://www.por-
talseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/3434/ 2501.
Acesso em: 20 jan. 2018.
25 DiCORCIA, Philip-Lorca. Notícias recentes do sonho americano. Disponível
em: http://5dias.net/2004/04/30/noticias-recentes-do-sonho-americano-re-
publicando-a-minha-entrevista-ao-fotógrafo-philip-lorca-dicorcia-a-pedido-
do-ezequiel/. Acesso em: 20 jun. 2004
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antes que aquilo que se pode ver nestes trabalhos é uma repre-
sentação de várias tipologias, ou arquétipos, das classes baixas da
sociedade. Muitas destas pessoas provêm de famílias dissolvidas,
de instituições assistenciais ou de prisões” 26.
Ora, dessa forma, o olhar do fotógrafo se dirige ao cotidiano
americano e dá espaço a representação da “vida dos homens in-
fames27” em sua maioria, composta por prostitutos que trazem as
marcas de sua profissão inscritas na imagem: em cada foto há um
preço, registro do uso de seus corpos.
Figura 2: Catherine, 1980.
Fonte: https://www.moma.org/artists/7027?locale=pt&page=1&direction=
26 Idem.
27 FOUCAULT, Michel. La vida de los hombres infames. La Plata: Altamira,
1996.
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Fonte: https://www.moma.org/artists/7027?locale=pt&page=1&direction
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Figura 4: “Brent Booth; 21 years old; Des Moines, Iowa; $30”, diCorcia,
1990.
Fonte: https://www.moma.org/artists/7027?locale=pt&page=1&direction
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3 OS SENTIDOS NO DOCUMENTÁRIO33
Zygmunt Bauman
N
o capítulo anterior, observamos os efeitos de sentido em
imagens circunscritas no quadro fotográfico e na imo-
bilidade. Analiso, agora, as questões sobre identidade e
subjetividade à luz dos jogos da memória discursiva. E me dete-
nho sobre a articulação entre imagens e enunciados verbais.
A identidade está em crise, a solidez moderna se liquefez no
hibridismo contemporâneo. As grandes certezas e os fundamen-
tos sociais mais permanentes se dissolvem em uma época propícia
às transformações. E mais: as identidades, agora cambiantes, se
constroem a partir de uma perspectiva da visibilidade midiática.
Nos jogos de memória dos sujeitos e do aparato técnico constro-
em-se discursividades de si e do outro, ou seja, processos identitá-
rios. Ao rememorar acontecimentos, pensamentos, sentimentos e
emoções, os indivíduos vão se afirmando enquanto sujeitos sin-
gulares.
Tateando essa era de hipervisibilidade e espetacularização,
identifico no documentário contemporâneo pistas simbólicas
para se compreender a formação identitária por meio do discurso.
Elegi como norteador desta reflexão uma narrativa documen-
tal calcada no relato da vida de uma mulher, uma história encena-
da em frente às câmeras. O documentário brasileiro Elena (2012),
de Petra Costa, é marcado pelo hibridismo entre o real e o ficcio-
33 Uma versão desse texto foi publicada na revista Rebecca, Revista Brasileira
de Estudos de Cinema e Audiovisual.
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Mídia e Discurso
Identidades costuradas
A crise da identidade é um acontecimento da “modernidade lí-
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No emaranhado da memória
A identidade construída e encenada é produto relativo e provi-
sório da história de vida e das condições históricas e sociais. Em
frente às câmeras, os sujeitos ressignificam suas falas e produzem
discursividades distintas do cotidiano, seja pela exploração dos
recursos técnicos (closes, câmera na mão, imagens desfocadas, sa-
turação das cores, planos abertos, iluminação impressionista) ou
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4 OS SENTIDOS NAS REVISTAS SEMANAIS57
Guy Debord
D
epois do trágico acidente que vitimou o candidato à Pre-
sidência da República, Eduardo Campos, pelo Partido
Socialista Brasileiro (PSB), no dia 13 de agosto de 2014,
a então vice na chapa, Marina Silva (REDE), atrai os holofotes
midiáticos. Com a confirmação de seu nome como presidenciá-
vel, ela se torna capa de revista.
A partir desse acontecimento, delineio meu objetivo princi-
pal: analisar o processo de construção midiática da candidata da
“nova política”, nas três principais publicações semanais brasilei-
ras: revistas Época, Isto É e Veja, em agosto de 2014, quando Ma-
rina se tornava oficialmente candidata à Presidência.
As trilhas da história nos permitem perceber melhor a disputa
entre “formações ideológicas” distintas que se encontra em dis-
puta na “arena discursiva58” das reportagens. Em 2009, depois de
anos no Partido dos Trabalhadores (PT), Marina Silva se filia ao
Partido Verde (PV) e se candidata à Presidência da República pela
primeira vez em 2010. Considerada o grande destaque da eleição,
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68 FULTON, Helen Elizabeth et al. Narrative and media. New York: Cambrid-
ge University Press, 2005.
69 GUILHAUMOU, Jacques.; MALDIDIER, Denise; ROBIN, Regine. Discurso
e arquivo: experimentações em análise do discurso. Campinas: Editora da Uni-
camp, 2016, p. 29.
70 SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia?. 3. ed. São Paulo Loyola,
2011.
71 MCCOMBS, Maxwell E. A teoria da agenda: a mídia e a opinião pública.
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74 RIBEIRO, Aline; BOMBIG, Alberto. Até onde ela pode ir?. Época. Rio de
Janeiro: Globo, edição. 846, 25 agosto 2014, p. 26-31.
75 FUCS, José. Será que ela é amiga dos negócios? Época. Rio de Janeiro: Globo,
edição. 846, 25 agosto 2014, p. 33-34.
76 FUCS, José. Entrevista com Kátia Abreu. Época. Rio de Janeiro: Globo, edi-
ção. 846, 25 agosto 2014, p. 36-38.
77 Idem, p. 36.
78 PETY, André. No labirinto sonhático. VEJA. São Paulo: Abril, edição 2388,
27 agosto 2014, p. 66-67.
79 Idem, p. 67.
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98 RIBEIRO, Aline; BOMBIG, Alberto. Até onde ela pode ir? Época. Rio de
Janeiro: Globo, edição. 846, 25 agosto 2014, p. 30.
99 Idem.
100 Idem, p. 31.
101 FUCS, José. Será que ela é amiga dos negócios? Época. Rio de Janeiro: Glo-
bo, edição. 846, 25 agosto 2014., p. 33, grifos originais.
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106 RIBEIRO, Aline; BOMBIG, Alberto. Até onde ela pode ir? Época. Rio de
Janeiro: Globo, edição. 846, 25 agosto 2014.
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Toda essa contenda não cai bem a uma política que tem como es-
tratégia manter o tom emocional e se lançar como uma líder alheia
ao lamaçal partidário, encarnando assim as tão ansiadas mudanças.
[...] Afinal, ter o nome arrastado para o centro de uma disputa de
poder típica da velha política só vai fazer Marina soar como uma
candidata igual aos outros112.
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5 OS SENTIDOS NOS MEMES
Byung-Chul Han
N
o capítulo anterior, mostrei como as revistas semanais
desconstruíram a candidata Marina Silva. De maneira
análoga, uma teia de dizeres semelhantes foi tecida so-
bre o ex-presidente Lula (PT). Pretendo discutir essa discursivi-
zação negativa nos memes na internet.
Luiz Inácio Lula da Silva é dono de uma biografia cinema-
tográfica: criança pobre, nascido no sertão pernambucano, o ex-
metalúrgico, após um período de lutas no sindicato e na políti-
ca partidária, ocupou a Presidência da República por oito anos
(2003-2010), elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), por duas
vezes, e se tornou um dos políticos brasileiros mais conhecidos
no mundo.
As notícias de escândalos de corrupção envolvendo políticos,
de diversos partidos, e o enquadramento seletivo da mídia cons-
truíram uma imagem bem adversa do petista.
Em março de 2016, ex-presidente Lula foi submetido a um
mandado de condução coercitiva no âmbito da Operação Lava
Jato. Ele foi depor “sob vara” para prestar depoimento à Polícia
Federal, no Aeroporto de Congonhas/SP. O ex-presidente, por
sua vez, prometeu resistir e anunciou, em discurso após o depoi-
mento, na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo, que
seria novamente candidato à Presidência.
Lula fora acusado de obter propinas do esquema de corrup-
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127 Idem.
128 Quando se fala em vazamento seletivo, diz-se que há um favorecimento
para a negativação pública da imagem de políticos específicos, mais notada-
mente os pertencentes a partidos de esquerda.
129 PRADELLA, Thiago. Leia o manifesto dos Advogados que comparam
Lava Jato à inquisição. Disponível em: https://pradella.jusbrasil.com.br/noti-
cias/297190364/leia-o-manifesto-dos-advogados-que-comparam-lava-jato-a-
-inquisicao. Acesso em: 20 jul. 2018.
130 Idem.
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Fonte: https://bit.ly/2OJuJ2u
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rie da linguagem145”.
É com o auge da biologização que as deformidades humanas
serão identificadas e pesquisadas. Dessa forma, se reconhece que
tais monstros eram “horrivelmente humanos” 146. Esses corpos
transgressores foram incorporados a um saber médico-biológico
e os zoológicos humanos foram interditados.
Essa foi, para Courtine, uma mudança de sensibilidade147, pois
lá onde se via apenas monstruosidade se começou a perceber uma
enfermidade. A partir do discurso médico-jurídico era preciso
explicar as raízes patológicas e os desvios dos seres humanos. Em
síntese: identificar, corrigir e normatizar.
Entretanto, era preciso saciar o desejo de ver e contemplar os
seres abjetos. Relegado às imagens ficcionais, o “espetáculo da de-
formidade” tornou-se mediado pelo aparato técnico, cinema e a
TV. Frankenstein, Drácula, Freaks, King Kong, Medusas, imagens
partidas, os “outros” de nós mesmos. Essa estética da monstruosi-
dade também será retomada, via memória, em diversos produtos
da mídia: anúncios publicitários, memes, capas de revistas etc.
Em Os anormais148, Foucault buscará investigar a mudança da
transgressão monstruosa ao domínio da conduta, ou seja, a esfera
da justiça e do direito penal.
É nessa “sociedade disciplinar” que os indivíduos estarão
sujeitos à vigilância constante, os seus corpos e suas almas são
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Fonte: https://bit.ly/2DIyiVt
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Fonte: https://glo.bo/2xPj4ZH
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Fonte: https://bit.ly/2DIyiVt
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Fonte: https://bit.ly/2P1LSo8
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6 OS SENTIDOS NAS INSCRIÇÕES URBANAS
Luiz Beltrão
N
o capítulo anterior, identifiquei o papel da heteroge-
neidade discursiva na produção de sentidos nos memes.
Agora, mostro um processo comunicativo popular que,
embora, não esteja mediado pela tecnologia contemporânea é
um dos meios de manifestação dos sujeitos mais antigos da hu-
manidade: a inscrição mural.
Nesse sentido, a cidade é uma mídia (do latim medium, “meio”
ou “instrumento mediador”) na qual os autores podem escrever
seus textos e se posicionar discursivamente a partir de um macro-
contexto sócio-histórico. Por outro lado, podemos ampliar essa
compreensão e encarar a urbe como geradora/produtora de iden-
tidades.
De fato, o homem tem-se modificado em sua constituição sub-
jetiva ao habitar e conviver nesses territórios complexos. Desde a
década de 1950, os muros ganham destaque nas manifestações de
protesto de grupos sociais sem acesso à veiculação nos meios de
comunicação tradicionais (rádio, TV e impressos). Esse espaço
de politização urbana esteve associado à configuração política da-
quela geração em seu modus operandi do fazer político. Esse meio
de propagação de discursos políticos ainda mantém importância
ao lado de outros discursos ligados ao cotidiano.
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Fonte: http://effetpapillon.free.fr/depart1.htm
156 CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade. São Paulo: Contexto, 2003, p. 71.
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sociação).
Figura 17: Fachada de um muro em Loja, Equador.
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159 ORLANDI, Eni. Cidade dos sentidos. Campinas: Pontes, 2004, p. 104, gri-
fos da autora.
160 GARCIA, Afrânio. Tipos de discurso. Rio de Janeiro: O Autor, 2003, p. 10.
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161 Conforme defende ORLANDI, Eni. Cidade dos sentidos. Campinas: Pontes,
2004.
162 FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2004, p. 156, grifos do autor.
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164 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo:
Cortez, 2001, p. 59.
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lidade”167.
Submetidos à vigilância, a uma “tecnologia do poder”, con-
forme define Foucault168, as instituições militares incidem sobre
os corpos dos indivíduos, controlando seus gestos e suas ativida-
des. Dessa maneira, disciplinado, “o corpo humano entra numa
maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recom-
põe169”. Essa prática de poder dociliza os sujeitos e submete-os às
relações normativas.
Espera-se que as inscrições dos muros militares, tais como
as da escola de Otavalo, produzam efeitos de sentido educativos/
disciplinadores. Entretanto, os mecanismos de poder abrem es-
paço para as estratégias de resistência, conforme mostra a obra
foucaultiana.
As rupturas com as interdições foram capazes de se materiali-
zar em um acontecimento singular no corpus desta pesquisa.
Vemos uma fachada de um alojamento militar em Trujillo, no
interior do Peru. Chama-nos a atenção a expressão popular “ca-
rajo!” que nem sempre tem a conotação negativa do português,
mas ainda assim é considerada uma palavra à margem da escrita
do padrão culto. Diferentemente da língua portuguesa, o carajo
espanhol, com acento de exclamação, pode indicar uma boa sur-
presa, uma alegria ou mesmo ensejar o riso e o humor.
Foucault170 entende os enunciados inscritos num processo de
descontinuidade histórica. O movimento de regularidade e dis-
persão abre espaço para a noção de “acontecimento” como algo
que escapa à estrutura, irrompendo no solo da história.
167 FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 13. ed. São Paulo: Loyola, 2006,
p. 8-9.
168 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 30. ed. Petró-
polis: Vozes, 2005.
169 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 30. ed. Petró-
polis: Vozes, 2005, p. 127.
170 FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2004.
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Mídia e Discurso
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
análise dos discursos que circulam na sociedade pode
contribuir para entender os jogos de poder e resistência
que se encontram em disputa. É possível ainda identificar
os múltiplos processos de produção social dos sentidos, sempre
negociados a partir dos lugares de fala e de silêncio.
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Mídia e Discurso
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Adriano Charles Silva Cruz
identificações e contradições.
Se a comunicação nos anos sessenta ainda era calcada nos im-
pressos, hoje, é impensável não considerar a mediação das redes
sociais e das tecnologias móveis. De fato, a consolidação das tec-
nologias digitais e das novas formas de comunicação mediadas
pela internet reconfiguraram práticas sociais e discursivas e, tam-
bém, põe em destaque o papel dos receptores.
A capacidade de edição, produção e divulgação relativiza, em
certa medida, o poder da mídia massiva e abre a mirada para os
processos de reconfiguração das mensagens, sobretudo nas redes
sociais.
No Brasil, as culturas são híbridas, convivem o pós-moderno
e o arcaico. Nessas intrincadas fronteiras, surgem novas materia-
lidades, como os memes, ao lado das tradicionais imagens, como
as revistas e o cinema, e dos processos comunicacionais alternati-
vos, como os muros das cidades.
Entendo que é preciso observar os múltiplos processos de
discursivização, entre imagens, dizeres e não ditos no interior de
uma cultura midiatizada, em que todas as esferas sociais seguem
a lógica das mídias.
O discurso é fluido, pois as relações sociais são construídas
nos movimentos descontínuos da história. Assim, os sentidos são
também cambiantes, nos fios a fios da memória, se constrói a mo-
vência de discursos na liquidez da modernidade.
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POSFÁCIO
O
s enunciados. As linguagens. As manifestações e as ora-
ções. Nas instituições, nas representações e atores sociais,
nas subjetividades, nas políticas e nas culturas; como não
pensarmos nos discursos?
Mídia. Meios, suportes, mensagens e difusão. Como não pen-
sarmos nos discursos na mídia? Para nos auxiliarmos nessa tarefa
reflexiva, o livro do pesquisador e professor potiguar, Adriano
Charles Cruz, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, de-
monstra essa sempiterna necessidade de compreendermos a luz
da “construção de sentido”.
O pesquisador nos presenteia e nos atualiza com os notá-
veis pensadores no campo do discurso para interpretarmos essas
construções nos diversos suportes: fotografia, documentário, re-
vistas semanais, memes e muros das cidades, recortando, empi-
ricamente, e no rigor metodológico, exemplos que avançam no
entendimento da mensagem.
A publicação é uma ótima oportunidade para investigadores
no campo da Comunicação e dos Estudos da mídia, sobretudo,
alunos de graduação e pós-graduação que possuem na Análise de
Discurso (AD) uma das principais teorias, métodos e técnicas nos
seus trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses. Cruz,
especialista destacado na UFRN, lança seu olhar perscrutador e
astuto à emergência dos fenômenos atuais que cada vez mais es-
tão capturados e encadeados pelos discursos.
Muitas dessas afirmativas dos fenômenos expostos aqui, em
especial atenção às declarações nos muros das cidades latino-a-
mericanas por onde passou o pesquisador, nos remetem aos fun-
damentos de Luiz Beltrão que cita o cumprimento das expressões
folkcomunicacionais como meios informais de comunicação,
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Adriano Charles Silva Cruz
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SOBRE O AUTOR
É
graduado em Comunicação e especialista em Jornalismo
Econômico pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, mestre em Comunicação pela Universidade Fede-
ral de Pernambuco, doutor em Letras pela Universidade Federal
da Paraíba, com intercâmbio na Universidade de Paris X e na
Universidade Distrital Francisco José de Caldas (Colômbia). Re-
alizou estágio de pós-doutorado em Comunicação na Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Contato:
adrianocruzufrn@gmail.com
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