Conceito de Cidadania
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Cidadania não é um conceito natural, mas uma
categoria construída historicamente, possuindo por volta
de 2500 anos de desenvolvimento. O conceito
contemporaneamente se relaciona com a ideia de
dignidade humana, igualitarismo e com a convivência em
sociedade, todavia, não é possível pensar de forma mais
substancial o conceito sem entendermos que – como
qualquer outro – ele pode ser alvo de disputa, discussão e
conflito. Responder o que é cidadania pode levar ao
delineamento de concepções diferentes. Em suma, o
conceito de cidadania e o próprio fenômeno é
problemático e por isso mesmo alvo de disputas.
Considera-se, portanto, que o estudo da cidadania
deve ser feito em termos de uma dialética entre o social e o
político, como produto de uma luta travada por direitos
legítimos. O fenômeno da cidadania, nesta perspectiva, só
pode ser entendido com propriedade se for contextualizado
em uma abordagem que entende o conflito como o motor
das mudanças sociais e do desenvolvimento histórico. Há
sempre conflito, seja este de ideias e de busca pelo
consenso ou violento e promotor de rupturas sócio-
históricas.
A cidadania pode ser pensada como o exercício
dos direitos e deveres de um indivíduo em uma sociedade
politicamente organizada. Portanto, A cidadania tem como
fundamentos princípios morais e de convivência social. De
certa forma, o conceito sintetiza os direitos fundamentais
do indivíduo e a dignidade ontológica que desfruta o ser
humano por ser um ente de razão. Além disso, ele também
ressalta a corresponsabilidade social ao elencar que
devemos ser fomentadores da existência dos direitos a
todos, ter responsabilidade pela coletividade, cumprir as
normas coletivamente dadas e exercitarmos o
protagonismo político.
A cidadania moderna está ligada de modo íntimo
com o constitucionalismo, o qual é entendido pela teoria
política como uma técnica da liberdade, isto é, um sistema
de freios e contrapesos que asseguram o exercício dos
direitos e impedem a violação destes pelo Estado. É o
constitucionalismo e sua relação com o conceito de
democracia na modernidade que tornam a constituição
uma arma para encaminhar propostas mais igualitárias.
Neste sentido, a cidadania se apresenta como uma
prática social estratégica para a construção de uma
sociedade melhor, tendo como pressupostos a liberdade de
reivindicação, e o conhecimento que a cidadania deve se
estender cada vez mais a toda a população. Em suma, o
conceito encontra os ideais filosóficos de liberdade,
fraternidade e igualdade.
Todavia, apenas no iluminismo haverá um
engendramento desses valores ao conceito. Fatos
históricos importantes como a reforma protestante, a
ascensão burguesa e as revoluções sociais foram
fundamentais para que uma nova intelligentsia, disposta a
contestar os valores e as injustiças praticadas pelo clero e
pela nobreza surgisse. Por meio de uma nova
racionalidade se criticou o caráter estamental que o
conceito tomou na idade média, desenvolvendo-se assim
uma reflexão sobre a regulação das relações de poder,
garantindo aos cidadãos livre atuação civil, econômica e
política. Destaca-se que nesta construção de uma cidadania
burguesa as ideias de Locke foram fundamentais, pois,
associam o conceito de liberdade ao de propriedade
material. Surge também aqui o Direito Civil e também a
problemática dos direitos, a qual se mostra traço distintivo
entre a burguesia e o povo. Quando da luta por direitos,
principalmente políticos, ambos distanciavam-se,
prevalecendo os interesses da primeira.
De modo geral, o conceito contemporâneo de
cidadania encontra seu início no liberalismo político, que
deu os fundamentos filosóficos para a tripartição do poder
em três instâncias autônomas e equilibradas: o Executivo,
o Legislativo e o Judiciário.; a valorização do princípio da
legalidade: ninguém - nem o governante - pode se colocar
acima da lei e também o entendimento da garantia das
liberdades individuais de pensamento, crença, expressão,
reunião e ação, desde que não sejam prejudicados os
direitos de outros cidadãos. Estes pilares liberais, por sua
vez, tem o fundamento na reflexão kantiana que sustenta
uma concepção de lei moral, segundo a qual as relações
dos seres humanos entre si supõem a liberdade e uma
profunda consciência de dever.
Contemporaneamente, a cidadania pode ser
pensada como o próprio direito a vida em sentido pleno, o
que a partir das grandes guerras significa a valorização da
dignidade humana a partir do que ficou conhecido como
direitos humanos. Além dos direitos humanos, a cidadania
é pensada a partir de mais três outras esferas de direitos, os
quais atuam de forma interdependente para a constituição
dela, são eles: direitos civis que dizem respeito
basicamente ao direito de se dispor do pr6prio corpo,
locomoção, segurança; direitos políticos que dizem
respeito a deliberação do homem sobre sua vida, ao direito
de ter livre expressão de pensamento e prática politica, etc;
por fim direitos sociais que dizem respeito ao atendimento
das necessidades humanas básicas.
A cidadania, por fim, ainda pode ser pensada
como o relacionamento entre uma sociedade política e
seus membros e se dá na tensão entre a esfera pública –
isto é, o mundo comum onde tudo é de todos, o qual
implica respeito e responsabilidade e uma racionalização
capaz de levar em consideração formas, regras e normas
que viabilizem o uso e o acesso aquilo que está nessa
esfera. – e a esfera privada, que corresponde aos interesses
particulares dos indivíduos. Para se configurar plena,
verdadeiro triunfo sobre problemas sociais e manifestar
seu caráter de mobilização político-social, é necessário que
apresente cultura cívica e capital social. Sendo o primeiro
o consenso no modo de organização societário, confiança
nas instituições, tolerância e reconhecimento da diferença
e o segundo estoque de confiança e cooperação espontânea
existente em cada comunidade.
REFERÊNCIAS
FONTES, Breno Augusto Souto Maior. Redes, Práticas Associativas e Poder Local.
Curitiba: Editora Appris, 2011;
REZENDE FILHO, Cyro de Barros; CÂMARA NETO, Isnard de Albuquerque. A
evolução do conceito de cidadania.
http://www.unitau.br/scripts/prppg/humanas/download/aevolucao-N2-2001.pdf;
MANZINE COVRE, Maria de Lourdes o que é cidadania. Sao Paulo: Brasiliense,
2002.