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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelação Cível Nº 1.0024.11.104212-3/001

<CABBCABCCBBACADDAAADAADCBBCAADBDAACA
ADDADAAAD>
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA – PRESUNÇÃO LEGAL – DECLARAÇÃO
LACÔNICA – SINAIS EXTERIORES DE RIQUEZA – ÔNUS DA PROVA
– CONDIÇÕES DO ART. 5º DA LEI 1.060/50. Tratando-se as custas
judiciais de matéria submetida à legislação tributária, a ela se aplica
as disposições constantes das isenções condicionadas, de modo
que na ausência de provas o indeferimento do pedido de assistência
judiciária gratuita em face das condições exteriores de riqueza, se
mostra legítimo e dentro das condições do art. 5º da Lei Federal
1.060/50, decisão que poderá ser modificada. No entanto, mesmo que
deferido o pedido, ainda assim não seria possível afastar o preparo
nesta instância em função recalcitrância do réu em provar as
condições para sua obtenção, aplicando-se o art. 13 da Lei Federal
1.060/50, que assenta a possibilidade do juiz exigir o depósito do
preparo quando vislumbre as condições para o pagamento.
INVENTÁRIO – PRIMEIRAS DECLARAÇÕES – ART. 993, IV, ‘G’, DO
CPC – NECESSIDADE DE DESCRIÇÃO DOS BENS MÓVEIS E DAS
AÇÕES JUDICIAIS EM QUE FIGURA O DE CUJUS COMO PARTE –
CASSAÇÃO DA SENTENÇA. Existindo direito patrimonial do de
cujus em discussão em ação judicial, bem como bens móveis de sua
propriedade, resta caracterizado o direito de ação a ser descrito nas
primeiras declarações prestadas no inventário, conforme previsão
expressa do art. 993, inc. IV, ‘b’ e ‘g’, do CPC. Provido em parte.
v.v.p. APELAÇÃO CÍVEL – PRELIMINAR – REJEIÇÃO – ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA – DEFERIMENTO - INVENTÁRIO – PRIMEIRAS
DECLARAÇÕES – ART. 993, IV, ‘G’, DO CPC – NECESSIDADE DE
DESCRIÇÃO DOS BENS MÓVEIS E DAS AÇÕES JUDICIAIS EM QUE
FIGURA O DE CUJUS COMO PARTE – CASSAÇÃO DA SENTENÇA.
- Para que a parte litigue sob os auspícios da assistência judiciária,
basta a afirmação de ser pobre no sentido legal, visto que dita
afirmação goza da presunção juris tantum de veracidade na
sistemática da Lei 1.060/50.
- Existindo direito patrimonial do de cujus em discussão em ação
judicial, bem como bens móveis de sua propriedade, resta
caracterizado o direito de ação a ser descrito nas primeiras
declarações prestadas no inventário, conforme previsão expressa do
art. 993, inc. IV, ‘b’ e ‘g’, do CPC.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.11.104212-3/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): DENISE
FURTADO FONSECA - APELADO(A)(S): ELBERTO FURTADO JUNIOR - INTERESSADO: ILZA MUNDIM
FURTADO ESPÓLIO DE, REPDO P/ INVTE ELBERTO FURTADO JUNIOR

ACÓRDÃO

Fl. 1/14
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelação Cível Nº 1.0024.11.104212-3/001

Vistos etc., acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata
dos julgamentos, em rejeitar a preliminar, à unanimidade, e, no mérito, dar
parcial provimento ao recurso, vencido, em parte, o Relator.

DES. ELIAS CAMILO SOBRINHO


RELATOR.

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Apelação Cível Nº 1.0024.11.104212-3/001

DES. ELIAS CAMILO SOBRINHO (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação contra a sentença de f.


271-273, integrada pela decisão dos embargos de declaração de f. 275-
276, que homologou “a partilha de fls. 175/179 destes autos de Inventário
do(s) bem(s) deixado(s) por ILZA MUNDIN FURTADO, atribuindo aos nela
contemplados os respectivos quinhões, salvo erro ou omissão e
ressalvados direitos de terceiros” (sic, f. 273).
Na peça recursal de f. 294-297, suscita a apelante
preliminar de nulidade da sentença vergastada e cerceamento de defesa,
por ausência de manifestação sobre o pleito de gratuidade de justiça
formulado, bem como em relação à impugnação ao esboço de partilha
apresentado, em especial no que diz respeito aos diversos bens móveis,
numerários existentes em contas de sua falecida mãe e direitos de ações
omitidos pelo inventariante, tanto nas primeiras declarações, como no
plano de partilha.
No mérito, insurge-se a recorrente em face da partilha
homologada pela sentença vergastada, que lhe é prejudicial, sustentando,
que, conforme amplamente por ela impugnado ao longo do feito, o
inventariante omitiu nas primeiras declarações e no plano de partilha, a
existência de diversos bens do de cujus, dentre os quais se incluem várias
ações judiciais em seu nome, valores depositados em suas contas
bancárias, além de diversos bens móveis que guarneciam a residência de
sua mãe, como objetos de arte e móveis antigos, cuja existência não foi
sequer negada pelo apelado.
Alega, ainda, ter a sentença deixado de observar a
existência de decisão judicial proferida nos autos da ação por ele
proposta visando a anulação do testamento deixado pela inventariada (nº
0024.11.343039-1), em que fora determinado o bloqueio de 25% (vinte e
cinco por cento) dos bens do espólio (f. 241-243), em violação à coisa
julgada.
Arremata pugnando pelo provimento do recurso, para
cassar o decisum vergastado.
Recebido o recurso, ofertou o apelado as contrarrazões
de f. 309-319, em infirmação óbvia.
Desnecessária a intervenção da Procuradoria-Geral de
Justiça.
Da Gratuidade de Justiça
Ab initio, tendo em vista a omissão da Primeira Instância
sobre o pedido de gratuidade de justiça formulado na exordial, pleito este
repisado nas razões recursais, passo à sua análise.
Acerca dos requisitos para a concessão da gratuidade
de justiça, reitero o posicionamento adotado - predominante na

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jurisprudência pátria, tratando-se de matéria também já pacificada nesta


Corte -, no sentido de que, cuidando-se de pessoa natural, para que
usufrua da benesse, basta ao requerente afirmar não poder arcar com as
custas e honorários advocatícios, para que ocorra, a seu favor, a
presunção relativa de sua condição de hipossuficiência financeira.
Logo, em regra, cabe à parte contrária, se entender
impertinente o benefício, impugná-lo pelo meio previsto no artigo 4º, § 2º,
da Lei 1.060/1950, e não o juiz, de ofício, o seu indeferimento, vez que é
presumida a veracidade do afirmado pelo requerente da benesse, até
prova em contrário hábil que o elida.
In casu, o pedido formulado embasou-se em declaração
expressa da necessidade da ora apelante (f. 17), nos termos do disposto
no artigo 4º da Lei n. 1.060/1950, razão pela qual era imperativa a
concessão da benesse.
No mesmo entendimento, colacionem-se decisões
reiteradas do Superior Tribunal de Justiça:
"Para que a parte obtenha o benefício da assistência
judiciária, basta a simples afirmação da sua pobreza, até
prova em contrário' (RSTJ 7/414; STF, RT 755/182)"
(Theotonio Negrão, Código de Processo Civil e legislação
processual em vigor, 34ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p.
1.142, nota 1c ao art. 4º da Lei 1.060/50).

"Em princípio, tem-se por suficiente a declaração da pessoa


física de que não tem meios para sustentar o processo sem
comprometer a subsistência própria ou da família.
Precedentes. Recurso conhecido e provido" (STJ, 4ª Turma,
REsp 472413-SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU
19.05.2003, p. 238).
Destarte, consoante se extrai da jurisprudência
dominante nos Tribunais superiores, constando dos autos a afirmação da
recorrente no sentido de que não possui condições financeiras suficientes
para arcar com as custas do processo, o pedido não pode ser de plano
negado.
Cabe esclarecer que, considerando que não se exige
estado de miséria absoluta para a concessão da justiça gratuita, mas
mera insuportabilidade de pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios, não há razão para o indeferimento do benefício
sob o fundamento de ter sido atribuído à recorrente no presente inventário
quinhão hereditário de grande monta, fundamento este que não permite
aferir, por si só, a condição financeira e ATUAL da parte, em especial por
sequer se ter notícia de suas despesas.
Destarte, não há mesmo razão para se negar à apelante
o benefício requerido, restando, portanto, afastada também, a alegação
de deserção.
Nestes termos, defiro a benesse da assistência
judiciária à apelante.

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Nestes termos, presentes os pressupostos de


admissibilidade, conheço do recurso, porque próprio, tempestivamente
aviado, devidamente processado, isento do preparo em razão da
gratuidade de justiça ora deferida.
Da Preliminar de Nulidade da Sentença
No que diz respeito à preliminar de nulidade da sentença
de primeiro grau, ao fundamento de ter sido proferida sem a análise da
impugnação ao esboço de partilha apresentado pela recorrente, em
especial no que diz respeito aos diversos bens móveis, numerários
existentes em contas de sua falecida mãe e direitos de ações omitidos
pelo inventariante, tanto nas primeiras declarações, como no plano de
partilha, com a devida vênia, verifica-se que tal assertiva se confunde com
o próprio mérito, devendo assim ser analisada.
Com tais considerações, rejeito a preliminar.
Mérito
Busca a apelante, através do presente recurso, a
reforma da decisão de primeiro grau, que homologou a partilha dos bens
deixados por sua mãe, Ilza Mundim Furtado, rejeitando,
consequentemente, as alegadas omissões existentes nas primeiras
declarações e no plano de partilha apresentado pelo inventariante, ora
apelado, conforme por ela argüido ao longo do feito, inclusive através da
impugnação ao plano de partilha de f. 224-226, que, cumpre ressaltar, ao
contrário do afirmado pelo recorrido, foi sim interposto dentro do prazo de
15 (quinze dias) estabelecido pelo juiz a quo, conforme despacho de f.
221, publicado em 06.07.2012 em relação à determinação, conforme
certidão de 223v.
Ab initio, cumpre ressaltar que assim dispõe art. 1000 do
CPC:
“Art. 1.000. Concluídas as citações, abrir-se-á vista às
partes, em cartório e pelo prazo comum de 10 (dez) dias,
para dizerem sobre as primeiras declarações. Cabe à parte:

I - argüir erros e omissões;

II - reclamar contra a nomeação do inventariante;

III - contestar a qualidade de quem foi incluído no título de


herdeiro.”
Ensina Hamilton de Moraes e Barros: “Abre o Código,
nesse passo, oportunidade para tríplice argüição: a qualidade do
inventariante, a qualidade de herdeiro e a ocorrência de erros ou
omissões nas afirmações do inventariante contidas nas suas primeiras
declarações” (in, ‘Comentários ao Código de Processo Civil’. vol. IX. Rio
de Janeiro: Forense, p. 203).
Assim, quanto à alegada omissão de bens e direitos pelo
inventariante quando das primeiras declarações e do plano de partilha
apresentado, de uma detida análise dos autos, tenho que razão assiste à
recorrente.

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Isso porque, in casu, verifica-se insurgir-se a recorrente


em razão da ausência de declaração de diversas ações judiciais em que
figura como parte o de cujos (f. 227-229), valores existentes em contas
correntes de sua titularidade, em que inclusive foram depositados valores
percebidos a título de aluguéis e restituição de imposto de renda, bem
como bens móveis (objetos de arte, móveis antigos, cristaleiras, etc) que
a falecida possuía em sua residência.
Destarte, sobre os bens a serem descritos nas primeiras
declarações, estabelece o art. 993 do CPC:
“Art. 993. Dentro de 20 (vinte) dias, contados da data em
que prestou o compromisso, fará o inventariante as
primeiras declarações, das quais se lavrará termo
circunstanciado. No termo, assinado pelo juiz, escrivão e
inventariante, serão exarados:

(...)

IV - a relação completa e individuada de todos os bens do


espólio e dos alheios que nele forem encontrados,
descrevendo-se:

a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente


local em que se encontram, extensão da área, limites,
confrontações, benfeitorias, origem dos títulos, números das
transcrições aquisitivas e ônus que os gravam;

b) os móveis, com os sinais característicos;

c) os semoventes, seu número, espécies, marcas e sinais


distintivos;

d) o dinheiro, as jóias, os objetos de ouro e prata, e as


pedras preciosas, declarando-se-lhes especificadamente a
qualidade, o peso e a importância;

e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, cotas e


títulos de sociedade, mencionando-se-lhes o número, o
valor e a data;

f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas,


títulos, origem da obrigação, bem como os nomes dos
credores e dos devedores;

g) direitos e ações;

h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.”


De fato, de uma simples leitura do mencionado
dispositivo legal, outra conclusão não se chega senão a de que, ao
contrário do afirmado, compondo os direitos patrimoniais decorrentes de
ações judiciais o patrimônio de uma pessoa, o mesmo se verificando em

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relação aos bens móveis, devem ser objeto de inventário, em razão de


seu falecimento, para fins de eventual partilha entre os herdeiros.
Neste sentido, em comentários ao referido dispositivo,
ensina Gerson Fischmann:
"Tão importante quanto a nominata dos herdeiros e cônjuge
supérstite, com o maior número de dados possíveis a
identificá-los, é a descrição, o mais ampla possível, dos
bens deixados pelo de cujus.

Preocupou-se o legislador em detalhar e indicar como


deverá proceder o inventariante na descrição dos bens, com
vistas não só a saber-se com segurança quais os que serão
objeto do inventário e da partilha como para viabilizar os
posteriores registros dos formais relativamente aos bens
que assim o exijam, como os imóveis. (...)

Direitos, pretensões e ações - Se o de cujus tinha direitos,


pretensões e ações em vida, ou se após a morte surgiram
direitos, pretensões e ações, cumpre ao inventariante
arrolá-los e, conforme o caso, exigir o cumprimento dos
mencionados direitos.

Vale lembrar que as ações e pretensões aqui referidas são


categorias do direito material, eis que a ação processual,
enquanto direito subjetivo público à tutela jurídica, é direito
que todos têm, de tal modo que não se transmite o que já
se possui e por todos é compartilhado.

Se o de cujus era titular de direito, mas encontrava


resistência em sua satisfação, as pretensões e ações de
direito material decorrentes integram o acervo hereditário,
por isso devem ser relacionadas pelo inventariante, como,
por exemplo, direito a receber escritura de aquisição de um
imóvel quitado ainda em vida do falecido, ensejando ação
de adjudicação compulsória, ou que venha a ser quitado
com recursos do espólio que passa a ser titular da referida
ação, direitos de crédito lato sensu por obrigações de fazer
ou não fazer, de dar, direito a receber dividendos de
sociedade anônima, direitos trabalhistas, pretensões de
caráter indenizatório etc." (in, Comentários ao Código de
Processo Civil, v. 14: dos procedimentos especiais, arts.
982 a 1.102c. São Paulo: RT, pág. 77 e 81).
Neste ponto, cumpre ressaltar que, em que pese a
alegação de que a recorrente, embora intimada para impugnar as
primeiras declarações, teria permanecido inerte, inexiste nos autos
qualquer intimação específica para que a apelante cumprisse tal
determinação, sendo certo ademais que, ao ser intimada para impugnar o
plano de partilha, o fez a tempo e modo, conforme se vê às f. 224-226.
Desta forma, havendo direito patrimonial do de cujus
pendente em ação judicial, conforme demonstrado às f. 227-229, resta
caracterizado o direito de ação a ser descrito nas primeiras declarações

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prestadas no inventário, repita-se, conforme previsão expressa do art.


993, inc. IV, ‘g’, do CPC, o que, entretanto, não se observou na hipótese.
De fato, o simples fato de se tratarem de bens ou direitos
ainda litigiosos não é suficiente para afastar a necessidade de inclusão
nas primeiras declarações, sendo certo, ainda, que, em sendo o caso,
assim como se verifica com os bens porventura sonegados, ficarão
sujeitos à sobrepartilha, nos termos do art. 1.040 do CPC, que assim
dispõe:
Art. 1.040. Ficam sujeitos à sobrepartilha os bens:

I – sonegados;

II = da herança que se descobrirem depois da partilha;

III - litigiosos, assim como os de liquidação difícil ou morosa;

(...).”
Neste sentido, Maria Helena Diniz leciona:
“A sobrepartilha ou partilha adicional vem a ser uma nova
partilha de bens que, por razões fáticas ou jurídicas, não
puderam ser divididos entre os titulares dos direitos
hereditários.

É uma outra partilha que sobrevém à partilha, correndo nos


mesmos autos, pondo um fim à indivisão, atendendo à
realidade dos fatos ou do direito, se:

(...)

b) o bem for litigioso (...), porque sua partilha será ato


puramente aleatório, sendo, portanto, conveniente ao
interesse público deixá-lo para a sobrepartilha;

(...)

Fácil é denotar que a finalidade desse instituto jurídico é a


de não retardar a partilha dos bens líquidos, certos e
presentes, com a apuração dos ilíquidos, remotos ou
litigiosos. Assim, os bens, que não forem partilhados, sê-lo-
ão em sobrepartilha, por ser conveniente à paz social e
familiar, ao desenvolvimento econômico e à ordem jurídica
pôr um termo às indivisões.” (in, Curso de Direito Civil
Brasileiro. Direito das Sucessões. 6º vol. São Paulo:
Saraiva, 2002, p.343-344)
Da mesma forma, sendo incontroversa a existência de
bens móveis de propriedade da falecida, em especial considerando-se ter
o próprio inventariante declarado tal fato nas primeiras declarações,
afirmando, entretanto, que ainda estariam sendo apurados, tenho também
restar configurada a sua omissão na espécie, o mesmo se verificando em

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relação aos valores existentes nas contas correntes de titularidade do de


cujus.
Destarte, tem-se como necessária a retificação das
primeiras declarações e do plano de partilha, com a inclusão das ações
judiciais nas quais figurava o de cujus como litigante quando de seu
falecimento, bem como dos bens móveis por ela deixados e valores
existentes nas contas corrente de sua titularidade, devendo, ademais, ser
observada quando da nova partilha, a decisão judicial de f. 241-243,
proferida nos autos da ação de anulação de testamento proposta pela ora
recorrente (nº 0024.11.343039-1), que determinou o bloqueio de 25%
(vinte e cinco por cento) dos bens do espólio até o julgamento final do dito
feito, o que, entretanto, foi desconsiderado pela sentença vergastada.
Com tais considerações, rejeito a preliminar suscitada,
e, no mérito, dou provimento ao recurso, concedendo os benefícios da
assistência judiciária à recorrente e cassando a sentença de primeiro
grau, para determinar o regular prosseguimento do inventário, com a
retificação das primeiras declarações e plano de partilha, nos termos da
fundamentação.
Custas recursais, ao final.

DES. JUDIMAR BIBER (REVISOR)

Sr. Presidente.

Em que pesem as ponderações do digno Relator


acerca das condições de assistência judiciária gratuita supostamente
não analisadas em 1º Grau, o que vejo da decisão de fls. 271 a 273
dos autos é que a digna Juíza indeferiu o pedido de assistência
judiciária gratuita quando da sentença ao argumento de que o espólio
possuía patrimônio vultoso e valor pecuniário disponível e à disposição
do Juízo.

Em que pese o fato de um dos herdeiros se insurgir


contra a sentença produzida, não vislumbrei como se pudesse,
diretamente nesta instância, deferir a pretensão, tal como propõe o
digno Relator, que na verdade parece não ter se atentado para o fato
de que o pedido de assistência judiciária produzida já fora objeto de
decisão.

Portanto, com base no art. 17 da Lei Federal 1.060/50,


conheço da apelação produzida porque própria e tempestiva.

No entanto, a pretensão de assistência judiciária


gratuita, não me parece resolvida porque após palmilhar os autos, não

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vislumbrei as condições de necessidade declinadas na lacônica


declaração de fls. 17 dos autos.

É que o próprio local declarado como de residência da


herdeira não suporta a condição de pobreza declinada, mormente em
se tratando de imóvel alugado, além de haver índicos de que seja a
requerente servidora pública licenciada, não se sabendo ao sequer as
condições familiares ou financeiras que dariam justificativa à pretensa
condição de pobreza que vem sendo deduzida de forma
indiscriminada.

Conforme venho sustentando alhures, a natureza


tributária das custas judiciais, não sustentaria a liberalidade com que
se vem tratando a matéria, em função da própria indisponibilidade dos
créditos tributários e sua repercussão no orçamento do Poder
Judiciário, que há muito se encontra em situação deficitária e carente
de recursos financeiros, sendo a forma de visão cega defendida por
muitos uma das razões pelas quais nosso orçamento vem esbarrando
nos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, durante
seguidos anos consecutivos.

Penso que a leniente visão acerca da presunção legal,


deveria ter algum ponto de contato com a realidade das coisas, sob
pena de afastarmos do próprio princípio da legalidade, tornado a
racionalidade necessária para o exercício da jurisdição, puro exercício
de retórica.

Sobre a natureza das custas judiciais, a posição


vinculante do Supremo Tribunal Federal que não deixa dúvida acerca
dos princípios que devem ser aplicados pelo Juízo:

CUSTAS E EMOLUMENTOS – NATUREZA


TRIBUTÁRIA – Declarada a inconstitucionalidade do
Provimento nº 9/97, da Corregedoria-Geral da Justiça do
Estado de Mato Grosso, que dispunha sobre fixação e
cobrança de emolumentos devidos pelos atos do serviço
notarial e de registro público no Estado. Tendo em vista a
orientação seguida pela jurisprudência do STF no sentido
de reconhecer a natureza tributária das custas e
emolumentos judiciais e extrajudiciais, o Tribunal
reconheceu a ofensa ao princípio da reserva legal (CF, art.
150, I) e a invasão da competência suplementar conferida à
Assembléia Legislativa estadual para a fixação de
emolumentos (CF, art. 24, § 2º: A competência da União
para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.). Precedentes citados: Rp
1.094/SP (RTJ 141/430); ADInMC 1.926/PE (DJU de
10.09.1999); ADInMC 1.378/ES (DJU de 30.05.1997);
ADInMC 1.444/PR (DJU de 29.08.1997). (STF – ADIn 1.709

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– MT – TP – Rel. Min. Maurício Corrêa – DJU 10.02.2000 –


Informativo nº 177 – 16.02.2000 – p. 1)

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


– L. 959, do Estado do Amapá, publicada no DOE de 30.12.
2006, que dispõe sobre custas judiciais e emolumentos de
serviços notariais e de registros públicos, cujo art. 47.
impugnado – determina que a "Lei entrará em vigor no dia
1º de janeiro de 2006": Procedência, em parte, para dar
interpretação conforme à Constituição ao dispositivos
questionado e declarar que, apesar de estar em vigor a
partir de 1º de janeiro de 2006, a eficácia dessa norma, em
relação aos dispositivos que aumentam ou instituem novas
custas e emolumentos, se iniciará somente após 90 dias da
sua publicação. II. Custas e emolumentos: Serventias
judiciais e extrajudiciais: Natureza jurídica. É da
jurisprudência do Tribunal que as custas e os emolumentos
judiciais ou extrajudiciais tem caráter tributário de taxa. III.
Lei tributária: Prazo nonagesimal. Uma vez que o caso trata
de taxas, devem observar-se as limitações constitucionais
ao poder de tributar, dentre essas, a prevista no art. 150, III,
c, com a redação dada pela EC 42/03 – prazo nonagesimal
para que a Lei Tributária se torne eficaz. (STF – ADI 3694 –
AP – TP – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – DJU 06.11.2006
– p. 30)
Neste contexto, a pretensão sustentada só teria
sustentação possível dentro do contexto das isenções condicionadas,
cujo deferimento, segue a determinação contida no art. 179 do Código
Tributário Nacional, que declina que a isenção, quando não concedida
em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da
autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado
faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos
requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão.

De outro lado, a própria natureza jurídica das custas,


colocaria a cobro a possibilidade de aplicação da Lei Federal 1.060/50
ao caso, já que o Código Tributário Nacional seria legislação
complementar de hierarquia superior e, muito embora entenda possível
o acatamento do pedido com base na presunção, se o Juízo determina
a prova que não é produzida pelo autor, não haveria motivo para a
reforma da decisão de indeferimento do pedido, tal como formulado.

Em que pesem as ponderações do ilustrado voto o


contexto do art. 5º da Lei Federal 1.060/50, com suas modificações
posteriores, sustenta a possibilidade de afastamento do pedido de
assistência judiciária gratuita, ao estabelecer que o juiz, se não tiver
fundadas razões para indeferir o pedido, deverá julgá-lo de plano,
motivando ou não o deferimento dentro do prazo de setenta e duas
horas.

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Não me ponho de acordo com a avaliação declinada


pelo culto Relator de que no caso dos autos devesse prevalecer a
presunção legal, mesmo porque, a assertiva foi lançada sem atentar
para o fato de que a declaração produzida é absolutamente lacônica
exatamente para obnubilar o seu conteúdo e foi por isso mesmo que
quando da revisão que produzi, após ser lançado o Relatório nos
autos, declinei a necessidade de diligências eu sugeri e que fora
negada pelo despacho de fls. 335 a fim de que pudéssemos tomar
conhecimento da real situação de fortuna da apelante.

E sugeri a diligência em função das condições do art.


179 do Código Tributário Nacional, porque a só ausência de provas
acerca das condicionantes da isenção tributária das custas, não
suportaria a conclusão trazida no ilustrado voto produzido, ao meu
desavisado espírito já que o próprio art. 5º, LXXIV, da Constituição
Federal é taxativo estabelecer o ônus da prova das condições de
necessidade para a obtenção da assistência judiciária ao próprio
pretendente, impondo, portanto, o ônus da prova ao próprio pleiteante,
de modo que muito embora possa a apelante obter a pretensão no
curso do processo, demonstrando as condições financeiras próprias e
de sua unidade familiar, declinando os rendimentos percebidos por
todos, bem como trazendo aos autos as declarações do imposto de
renda exigidas, ou, até mesmo provar alguma condição contingente
que sustentaria a própria impossibilidade declinada, a prova trazida a
estes autos, representada pela lacônica declaração trazida, não
sustenta qualquer espaço a afastar a decisão jurisdicional, antes pelo
contrário a justifica inteiramente.

Deixaria consignado que o próprio Superior Tribunal


de Justiça dá apoio ao despacho produzido, ao declinar:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL. RECURSO MANIFESTAMENTE
IMPROCEDENTE. MULTA. ART. 557, § 2º, DO CPC.
MANUTENÇÃO. PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO
RELATIVA. INDEFERIMENTO. POSSIBILIDADE. 1.
Mantém-se a multa do art. 557, § 2º, do CPC na hipótese
de manifesto descabimento da irresignação. 2. A
declaração de pobreza, objeto do pedido de assistência
judiciária gratuita, implica presunção relativa, que pode ser
afastada se o magistrado entender que há fundadas razões
para crer que o requerente não se encontra no estado de
miserabilidade declarado. 3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no Ag 1333936/MS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe
18/04/2011)

Fl. 12/14
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelação Cível Nº 1.0024.11.104212-3/001

RECURSO ESPECIAL. ASSISTÊNCIA


GRATUITA. INDEFERIMENTO DE PLANO.
POSSIBILIDADE. FUNDADAS RAZÕES. LEI 1.060/50,
ARTS. 4º E 5º. PRECEDENTE. RECURSO
DESACOLHIDO. - Pelo sistema legal vigente, faz jus a
parte aos benefícios da gratuidade, mediante simples
afirmação, na própria petição, de que não está em
condições de pagar as custas do processo e os honorários
de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família (Lei nº
1.060/50, art. 4º), ressalvado ao juiz, no entanto, indeferir a
pretensão se tiver fundadas razões para isso (art. 5º).
(REsp 96.054/RS, Rel. MIN. SALVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 15/10/1998, DJ
14/12/1998, p. 242)
Portanto, a pretensão, tal como deduzida, penso eu,
não se sustenta porque, de fato, há razões fundadas para o
indeferimento do pedido formulado, não havendo, ao meu desavisado
espírito, espaço para o próprio provimento desejado que, com os
documentos apresentados, se mostra manifestamente improcedente.

De outro lado, conquanto a digna Relatora proponha o


provimento da pretensão, ainda assim remanesceria o fato de que
muito embora pudesse a requerente obter assistência judiciária gratuita
não seria defensável o pretenso afastamento do preparo imposto pelo
digno juízo, já que o art. 13 da Lei Federal 1.060/50 é taxativo no
sentido de que mesmo que a parte esteja assistida pela gratuidade, se
puder atender, ainda que em parte, às despesas do processo, o juiz
mandará pagar as custas do processo.

O dispositivo legal parece ser literalmente ignorado


pela maior parte da magistratura que pouca reflexão produz em relação
às suas consequências, o que, no entanto, não sustenta o silêncio do
ilustrado voto acerca de tal condição, dada a afinidade com a própria
decisão produzida e o próprio princípio da legalidade, não havendo
espaço para o reconhecimento da isenção condicionada pretendida.

Neste contexto, ainda que deferida a pretensão


deduzida nesta instância, remanesceria o pagamento do preparo, em
função do módico valor das custas e o preparo nesta instância no valor
de aproximados R$150,00, que, até que se prove o contrário, está
dentro do alcance do apelante.

Quando à pretensão recursal no sentido de que se


anule a sentença produzida estou de pleno acordo como digno
Relator, nada tendo a acrescentar em relação ao ilustrado voto.

Diante do exposto, dou provimento parcial ao


recurso, apenas para cassar em parte a sentença de primeiro grau,
para determinar o regular prosseguimento do inventário, com a

Fl. 13/14
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelação Cível Nº 1.0024.11.104212-3/001

retificação das primeiras declarações e plano de partilha, mantendo, no


entanto, o indeferimento do pedido de assistência judiciária até que se
possa provar as condições de pobreza declinadas.

Custas e despesas processuais, ao final.

DES. JAIR VARÃO

Pemissa venia, adiro às razões aviadas pelo d. Des.


Revisor, divergindo do em. Relator.

SÚMULA: "REJEITARAM A PRELIMINAR, À


UNANIMIDADE, E, NO MÉRITO, DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO, VENCIDO, EM PARTE, O RELATOR"

Fl. 14/14

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