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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM - NITERÓI
CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

Danusa Corrêa Figueiró Peixoto

AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM: UMA UNIÃO


NECESSÁRIA PARA A EDUCAÇÃO

Niterói
Janeiro/2012
Danusa Corrêa Figueiró Peixoto

AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM: UMA UNIÃO


NECESSÁRIA PARA A EDUCAÇÃO

Monografia apresentada à
Universidade Candido Mendes
como parte dos requisitos para
conclusão do curso de Pós-
Graduação em Psicopedagogia,
sob orientação de Dayse Serra.

Niterói

Janeiro/2012
Danusa Corrêa Figueiró Peixoto

AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM: UMA UNIÃO


NECESSÁRIA PARA A EDUCAÇÃO

Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em


Psicopedagogia da Universidade Candido Mendes como parte
dos requisitos para a conclusão de curso.

Orientadora: Dayse Serra

Aprovada em..............de..........................................de 2012.

Banca Examinadora:

_________________________________________________

________________________________________________
Quanto ao amor... “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (...) Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes
é o amor.” (1 Coríntios 13: 7 e 13)

Dedico este trabalho, com muito amor, aos meus pais, Marilene e
Airton, meus primeiros educadores na “escola da vida”.

A todos os familiares, amigos e colegas, que me ajudaram de forma


direta e/ou indireta, torceram por mim e me impulsionaram a realizar
este sonho.

E ainda aos meus “amigos mais chegados que irmãos”, que


desejaram e intercederam a Deus por minha vitória, na busca por
uma vida nova a cada dia.

Agradeço em primeiro lugar a Deus que, com Sua infinita


misericórdia, me deu força, coragem e determinação; até aqui Ele
me sustentou e me conduziu ao alcance dessa vitória e realização
de mais um sonho em minha vida. A Ele toda a honra e toda a
glória!

Agradeço aos mestres desse curso e de todas as outras salas de


aulas pelas quais passei no decorrer de minha vida, que
disponibilizaram tempo, carinho e informações que vieram a
enriquecer ainda mais este trabalho.

Agradeço a todos: familiares, amigos, colegas e professores, que


de alguma maneira vieram a contribuir para com este trabalho.
“Wallon, psicólogo e educador, legou-nos muitas outras
lições. À nós, professores, duas são particularmente
importantes. Somos pessoas completas: com afeto,
cognição e movimento, e nos relacionamos com um aluno,
também pessoa completa, integral, com afeto, cognição e
movimento. Somos componentes privilegiados do meio do
nosso aluno.” (Almeida, 2000,p.86)
RESUMO

Neste Trabalho, fala-se da importância da afetividade na educação das


crianças. Logo no primeiro capítulo, define-se afetividade como um conjunto de
fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos
e paixões.

No segundo capítulo, cita-se e explica-se um pouco sobre a Teoria do


Afeto, de Henri Wallon, que tem como base a integração afetiva-cognitiva-
motora. Ele reconceitua o papel da afetividade no processo psíquico e sua
interferência no processo de ensino-aprendizagem. Também são apresentados
os estágios de desenvolvimento propostos por Wallon, e o papel da afetividade
em cada um deles. E ainda neste, cita-se brevemente algumas outras teorias
explicativas e seus representantes: Piaget, Vygotsky, Carl Rogers e Freud.

O capítulo três fala sobre a importância da família na educação das


crianças. Os pais são os primeiros educadores de seus filhos, são exemplos
que provavelmente serão seguidos por eles, sejam bons ou maus exemplos. Aí
entra a importância da afetividade na educação. Educar com amor é ensinar a
criança a amar, respeitar, ajudar, servir, viver e conviver em sociedade. Este
capítulo mostra que a base da relação pais e filhos deve ser o diálogo, porque
através dele há trocas importantes que alimentam o amor e a confiança.

O quarto capítulo mostra a importância da afetividade na escola, para


que o processo ensino-aprendizagem ocorra com sucesso. Mostra também que
finalmente a Educação Infantil assumiu o seu espaço na sociedade, se
responsabilizando pela educação de crianças até cinco anos. E ainda o papel
do profissional nesta área, e o desenvolvimento afetivo em sala de aula.

Palavras-Chaves: Educação, Afetividade, Aprendizagem, Criança


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8

1-ALGUMAS CONCEPÇÕES DE AFETIVIDADE.............................................11

1.1-Definições de afetividade, emoção, cognição, amor..............................13

2- ALGUMAS TEORIAS EXPLICATIVAS.........................................................19

2.1- A teoria do afeto segundo Wallon...........................................................19

2.1.1- Os estágios de desenvolvimento.........................................................20

2.1.2- O papel da afetividade nos diferentes estágios..................................23

2.2- Breves exposições de outras teorias explicativas................................24

2.2.1- A Teoria Psicogenética segundo Piaget..............................................24

2.2.2- A Teoria Sócio-Interacionista segundo Vygotsky..............................25

2.2.3- A Teoria “não-diretiva” segundo Carl Rogers....................................26

2.2.4- A Teoria Psicanalítica segundo Freud................................................27

3- A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO DAS


CRIANÇAS..........................................................................................................29

3.1-Pais, os primeiros educadores...................................................................32

3.2-Relação pais e filhos....................................................................................33

4- ESCOLA E AFETIVIDADE...............................................................................37

4.1- A Afetividade na Educação Infantil............................................................38

4.2- O papel do profissional de Educação Infantil...........................................41

4.3-Desenvolvimento afetivo na sala de aula...................................................44

CONCLUSÃO.......................................................................................................47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................49
8

INTRODUÇÃO

“O nascimento do pensamento é igual ao


nascimento de uma criança: tudo começa com um
ato de amor. Uma semente há de ser depositada no
ventre vazio. E a semente do pensamento é o
sonho.” (Rubem Alves)

Os educadores em geral, ou seja, pais (e/ou responsáveis) e


professores precisam, não só entender como se dá o desenvolvimento, mas
também como a cognição e a afetividade estão implicadas nesse processo. E
que a afetividade (um tipo de expressão do amor) ajuda o desenvolvimento da
cognição. É certo que se aprende melhor quando há algum vínculo afetivo
entre o ensinante e o aprendente.

A afetividade sempre esteve ligada à Educação, tanto que normalmente


o papel do educador era considerado pertinente à mulher (a mãe e depois a
professora), pois se acreditava que ela era mais ligada às questões da
afetividade. Hoje já se sabe que, não só a mãe, mas a família toda (a qual a
criança está inserida) tem papel essencial no crescimento e desenvolvimento
físico, cognitivo e emocional da criança. É na família, que a criança recebe (ou
pelo menos deveria receber) as primeiras informações, os primeiros ensinos,
enfim, a base da educação. É onde tudo começa...

Hoje ainda percebe-se, no dia a dia, a importância dos laços afetivos


durante todo o processo educacional. Por isso, muitas pesquisas são feitas
neste campo, com vista ao entendimento e compreensão da maneira pela qual
se relaciona a afetividade com a educação.

A emoção tem papel fundamental no processo de desenvolvimento


humano. Entende-se por emoção formas corporais de expressar o estado de
espírito da pessoa, manifestações como: frio na barriga, secura na boca, choro,
9

etc. O alicerce das emoções é construído de forma consciente ou inconsciente


através de palavras, gestos ou ações, transmitidos inicialmente pelos pais e
depois reforçados pelos demais adultos com quem a criança vier a conviver.
Lembrando-se de que antes mesmo de compreender as palavras, o bebê já
“sente” (desde seu nascimento), bem como crianças, jovens ou pessoas de
qualquer idade, que mesmo conhecendo as linguagens escrita e falada,
também “sentem”. Ou seja, os sentimentos fazem parte da vida humana, e não
podem ser ignorados, ao contrário, podem ser importantes aliados do processo
de ensino-aprendizagem.

Dentre os diversos motivos que justificam um estudo a respeito deste


assunto, destaca-se inicialmente o fato de que alguns problemas do cotidiano
escolar, como por exemplo: relação professor-aluno, dificuldades de
aprendizagem, problemas de desatenção, são muitas vezes levantados a partir
da temática da afetividade. Daí a importância deste estudo.

Com este, deseja-se também resgatar o valor da escola e sua condição


de alicerce da sociedade, que acontece (ou deveria acontecer) por meio da
intervenção afetiva de seus autores. Considerando assim, de fato, o afeto como
supremacia, capaz de constituir novas oportunidades para vincular-se
afetividade, aprendizagem e saber.

O ato de ser bom e amoroso resulta no afeto que, por sua vez, gera o
prazer de aprender e educar. Porém, a cada dia menos tempo os pais tem para
exercerem a educação afetiva. Por isso, a escola precisa afetar o aluno de
maneira que desperte nele o amor e o interesse. Além de ensinar também os
conceitos sobre família, cidadania, ética e demais valores humanos;
desenvolvendo não apenas habilidades acadêmicas, mas também as
emocionais que o ajudarão a lidar com perdas, fracassos, falhas, decepções e
até mesmo com o sucesso.

É necessário investir na pessoa do professor, principalmente na sua


formação contínua, considerando a sua experiência na escola, diante do aluno,
lugar em que se constitui professor. A este respeito:
10

“A formação psicológica dos professores não pode


ficar limitada aos livros. Deve ter referência perpétua
nas experiências pedagógicas que eles próprios
podem pessoalmente realizar.” (WALLON, 1975).

O ensinante deve criar um ambiente familiar-escolar em que


favoreçam o equilíbrio emocional, considerando e respeitando o aprendente
como um ser integral que além de um intelecto também possui sentimentos. É
necessário quebrar paradigmas, favorecendo e valorizando o aprendente como
ser humano que é, educando também seu “mundo interior” e não reduzindo
este à apenas racionalidade e memória.

“Essa educação do “mundo interior” é a única forma


de garantir que todos os propósitos institucionais e
humanos são atingidos. Garantir que as crianças, os
jovens e os adolescentes tenham condições de
iniciar essa construção essencial é o grande objetivo
de todos os educadores, sejam pais ou professores.”
(VOLKER, 2001, p. 1).

Portanto, devem-se trabalhar as questões do aprender e do não -


aprender, levando-se sempre em consideração o processo de construção do
conhecimento de cada um, seus ritmos, limites e demais individualidades.
Deve-se dar ênfase ao funcionamento cognitivo de cada indivíduo, mas
também levando em consideração as suas emoções. Sendo assim, conclui-se
que a aprendizagem não pode ser considerada de maneira isolada porque ela
faz parte conjuntamente do contexto familiar, social e afetivo do qual o sujeito
faz parte.
11

CAPÍTULO 1- ALGUMAS CONCEPÇÕES DE


AFETIVIDADE

“A criança que se sente amada, aceita e


valorizada tem tranquilidade para enfrentar os
desafios da aprendizagem, os limites e a rotina da
escola.” (A.D.).

A afetividade, presente em vários momentos de nossa vida, ou melhor,


em todo o nosso cotidiano, vem sempre acompanhada de algum tipo de
sentimento. Os pais são os primeiros educadores de seus filhos, são o espelho
inicial deles, e a afetividade tem um papel imprescindível nesta educação.
Educar com amor é ensinar a criança a amar, agir, respeitar, a viver..., tudo é
válido para a criança que está aprendendo a enxergar o mundo com os olhos
de seus pais, que devem ser olhos de amor. Portanto, não só os pais, como
também os professores, devem perceber a importância da afetividade em todo
o processo de educação, o que inclui também a relação ensinante X
aprendente.

É importante ver o aluno como ser individual, pensante, que constrói o


seu mundo e espaço, que conhece sua afetividade, suas percepções, sua
expressão, sua crítica, sua imaginação, seus sentidos... A afetividade no
ambiente escolar contribui eficazmente para o processo de ensino-
aprendizagem. É interessante lembrar que o professor não deve apenas
transmitir conhecimentos, mas também ouvir os alunos e ainda estabelecer
uma relação de troca para com eles. Deve dar-lhes a atenção devida e cuidar
para que aprendam a expressar-se, expondo opiniões, dando respostas e
fazendo opções pessoais.

A criança deve ser educada em casa e na escola simultaneamente, e


em ambas com a mesma finalidade: a formação do ser integral, ético,
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autônomo e feliz. Que seja capaz de pensar, compreender, aprender,


descobrir, criticar, opinar, tomar decisões, agir, buscar soluções, enfrentar as
dificuldades da vida, dialogar e conviver. E para isto, é preciso que lhe seja
transmitidos, desde sua vida intra-uterina os valores fundamentais para a
formação de caráter, que lhe servirão como um alicerce da vida, que nunca
haverão de se perder, pois mesmo que um dia, já adulta, venha se desviar
destes ensinamentos, mais cedo ou mais tarde, estes virão à sua memória e
serão resgatados...

A afetividade não se dá só pelo contato físico; discutir a capacidade do


aluno, elogiar seu trabalho, reconhecer seu esforço e motivá-lo sempre,
constituem formas cognitivas de ligação afetiva, mesmo mantendo-se o contato
corporal como manifestação de carinho.

A palavra afeto vem do latim affectur, e significa afetar, tocar; constitui o


elemento básico da afetividade.

“qualquer estado afetivo, agradável ou penoso,


ainda que vago, e que se manifesta por uma
descarga emocional física ou psíquica, imediata ou
adiada. O afeto traduz as emoções representadas e
corresponde às sensações”. (CASTRO, 2011, p.27).

A afetividade, por sua vez, se refere a ações e reações que


acontecem no interior do ser humano, mas interferem o seu exterior, ou seja,
sentimentos e emoções influenciam a mente. Ela e a inteligência são aspectos
indissociáveis, intimamente ligados e influenciados pela socialização. Isto
porque é através do que a criança vê nas relações entre as pessoas com quem
convive, que ela começa a criar dentro de si os sentimentos que seguidamente
serão manifestados por seus comportamentos.

A criança pode manifestar emoções negativas (como por exemplo, medo


ou raiva), ou emoções positivas (como amor e alegria), dependendo dos
estímulos que recebe em seu ambiente familiar, que é onde se dá o
relacionamento mais importante para sua formação emocional, cognitiva, social
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e afetiva - o relacionamento entre pais e filhos. A família é o alicerce da


formação do ser humano como um ser completo e individual.

A afetividade é necessária na formação de pessoas felizes, éticas,


seguras e capazes de conviver com o mundo que as cerca. No ambiente
escolar, além de dar carinho, é aproximar-se do aluno, saber ouvi-lo, valorizá-lo
e acreditar nele, dando abertura para a sua expressão. O olhar do professor
para o seu aluno é indispensável para a construção e o sucesso de sua
aprendizagem. Carinho faz parte da trajetória, é apenas o início do caminho.

É preciso uma proposta educacional na qual a escola entenda que da


mesma forma que os estudantes devem aprender a somar, a conhecer a
natureza e a se apropriar da escrita, é fundamental para suas vidas que
conheçam a si mesmo e a seus colegas, e as causas e conseqüências dos
conflitos cotidianos. Pois, trabalhando dessa maneira, por meio de situações
que solicitem a resolução de conflitos, a educação atinge o duplo objetivo de
preparar os alunos para a vida cotidiana, ao mesmo tempo em que não
fragmenta as dimensões cognitivas e afetivas no trabalho com as disciplinas
curriculares.

1.1- Definições de afetividade, emoção, cognição, amor

Segundo Amora (1999), afetividade é a base da vida psíquica, reúne todos


os estados de alma, todas as razões que mergulham no instinto e no
inconsciente. É graças à afetividade que nos ligamos aos outros, ao mundo e a
nós mesmos. É ela que dá aos nossos atos e pensamentos o encanto, a razão de
ser, o impulso vital. É o fundamento de nossa personalidade, o que temos de
mais íntimo.

Segundo o Dicionário Aurélio, é o conjunto de fenômenos psíquicos que se


manifestam sobre a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados
sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado
ou desagrado, de alegria ou tristeza. Já o Dicionário Brasileiro Globo diz que afeto
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é um sentimento de inclinação para alguém; simpatia; amizade; afeição; amor;


paixão; dedicado; afeiçoado; incumbido; submetido; entregue; pendente. (Do latim
affectu).

Saltini compara o processo educacional com o funcionamento de uma


fábrica (escola), por onde entra a matéria-prima (aluno), que passa por algumas
máquinas (professores) e é transformada em um novo produto - uma obra prima.
Mas para que isto aconteça é preciso a “energia” que coloca as máquinas em
produção, e esta “energia” tão necessária na “fábrica da educação” é o afeto.
Assim como, as máquinas não funcionam sem a energia e as matérias-primas
não são transformadas, da mesma forma não acontecem o pensamento nem a
aprendizagem sem o afeto e a emoção...

Emoção: É a exteriorização da afetividade, é sua expressão corporal,


motora. Tem um poder plástico, expressivo e contagioso; é o recurso de ligação
entre o orgânico e o social: estabelece os primeiros laços com o mundo humano
e, através deste, com o mundo físico e cultural.

Segundo o “modelo de Kort et al – Modelo Afetivo da Inter-relação entre


Emoções e Aprendizagem”, citado por Castro, existem cinco emoções básicas a
que chamam “Eixos”, onde pode estar a base do fracasso ou do sucesso no
processo de ensino-aprendizagem:

“– Ansiedade X Confiança: o aprendente sente ansiedade pelo medo de


não aprender; ou de confiança quando há segurança da capacidade de aprender;

- Aborrecimento X Fascínio: fica aborrecido quando o objeto do


aprendizado não lhe é interessante; mas quando o mesmo desperta o interesse,
há um fascínio natural por aprender;

- Frustração X Euforia: sente-se frustrado, incapaz de chegar ao ponto


desejado pelo educador; mas ao perceber-se capaz, é envolvido pela euforia da
descoberta;
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- Desânimo X Encorajamento: quando o desafio de um novo conceito é


exposto, o aprendente pode sentir-se incapaz e ficar desanimado, desistente; ou
ser encorajado, motivado para compreender o novo conceito;

- Terror X Encantamento: ao ser cobrado e não sentir-se eficiente, gera um


clima de terror em seu interior; mas quando o mesmo alcança o elevado grau de
compreensão, fica encantado com o prazer do processo de aprendizagem.”

Emoção é uma perturbação intensa da afetividade, pode ser agradável


(alegria, surpresa, simpatia, etc.) ou desagradável (medo, vergonha, cólera, etc.).
São numerosas as manifestações físicas: diminuição ou aceleração da respiração
e dos batimentos do coração, contrações dos pequenos vasos periféricos (os que
fazem se empalidecer), ou a dilatação dos mesmos (que fazem corar), mudanças
de estados elétricos da pele. Há também a emoção choque, onde a reação de um
organismo a um acontecimento imprevisto manifesta-se à consciência através de
reações psicofisiológicas intensas, como: rir, soluços, fúria, desmaio,
transpiração, paralisia dos membros, etc. Por fim, a emoção, embora seja uma
reação primitiva, tem por libertar o sujeito de suas tensões.

“se refere a um sentimento e seus pensamentos


distintos, estados psicológicos e biológicos e a uma
gama de tendências para agir. Há centenas de
emoções, juntamente com suas combinações,
variações, mutações e matizes. Na verdade, existem
mais sutilezas de emoções do que as palavras que
temos para defini-las” (GOLEMAN, Inteligência
Emocional, pg.304).

Cognição: Segundo o Dicionário Michaelis é o ato de adquirir um


conhecimento.

“Cognitivo remete, evidentemente, a conhecimento e


saber, e, principalmente, a compreender e aprender,
mas também a produzir.” (La Borderie, 1991).
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A palavra conhecer vem do latim cognoscere, no qual contém o sufixo


scere, que indica um começo, o que lembra a frase de Sartre: “Conhecer é nascer
com”. Conhecer significa ter conhecimento, idéia, noção ou informação de algo.
Já conhecimento, é usado também para designar o resultado da ação de
conhecer, é o ato ou o efeito de conhecer, pode ser uma idéia, uma noção,
informação ou até uma notícia.

Por sua vez, a palavra saber vem do latim sapere e significa, segundo o
Dicionário Michaelis, estar informado de, estar a par, ter conhecimento de.
Compreender ou perceber um fato, uma verdade. Ser capaz de distinguir ou de
dizer. Ser versado em. Estar habilitado para; ser capaz de. Compreender; poder
explicar. Soma de conhecimentos adquiridos; etc.

La Bordierie diz que o conhecimento surge como um “movimento de


consciência” com quatro etapas fundamentais:

• O conhecimento transmitido ou herdado: saber empírico


veiculado por intermédio de mitos e tabus.

• O conhecimento como “revelação” de origem divina: o


conhecimento vindo de uma “verdade” de essência exterior ao homem. O
pensamento provém da divindade, mas também permite ter acesso à sua
verdade (místicos, cabalistas, gnósticos...).

• O conhecimento pela razão: os filósofos apresentam o


conhecimento como exercício do pensamento de cada um, e ainda
articulam o conhecimento com a razão, que é acessível a cada indivíduo.

• O conhecimento por meio do acordo e do consenso: as


etapas do conhecimento científico são marcadas pelo consenso da
comunidade científica em torno de um paradigma comum admitido por
todos, e não como uma verdade imutável e definitiva.

A criança, nas etapas iniciais da sua vida, encontra-se em um estado de


deficiência que a impede de satisfazer por si mesma suas necessidades. Mas ela
está coberta de reações que chama a atenção das pessoas que a cercam. A
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participação do outro na formação da consciência se dá muito tardiamente, pois


esse processo ocorre ao longo dos primeiros seis ou sete anos de idade. Para
Piaget, a criança parte do altruísmo, passa pelo egocentrismo, para só então
perceber os outros como parceiros capazes de manter relações de reciprocidade,
com o objetivo comum de se alcançar a aprendizagem.

“A aprendizagem inclui a articulação entre o


conhecimento e o saber. O conhecimento, mundo dos
conceitos, constrói-se de forma impessoal enquanto
que o saber constrói-se a partir da relação com um
outro, de forma pessoal, por meio da experiência
vivida. Portanto, o vínculo entre ensinante (pais) e
aprendente (filho) é fundamental para aprendizagem.
Este vínculo dá-se de forma circular entre: ensinante e
aprendente – aprendente e ensinante dentro de um
espaço onde haja confiança, respeito e estima. Nas
situações de violência, o vínculo é patogênico. Sempre
a criança ou o adolescente pede afeto, estima, carinho
e atenção...” (WREGE, Família e Aprendizagem - uma
relação necessária, pg.83).

Amor: sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem,


sentimento de dedicação de um ser a outro ser, afeição, amizade, simpatia.
Segundo Daniel Goleman, amor é sinônimo de “aceitação, amizade, confiança,
afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape” (pg. 306). O Dicionário Brasileiro
Globo diz que se trata de uma “afeição profunda de uma pessoa a outra; objeto
dessa afeição; grande amizade; compaixão; caridade; paixão; entusiasmo, etc.”.
Mas não se pode falar em amor sem lembrar-se de um texto da Bíblia Sagrada
que descreve o amor como “o dom supremo”, e com tanta profundidade, exatidão
e excelência, encontrado em 1Coríntios, capítulo 13: “ Ainda que eu falasse a
língua dos homens, e dos anjos, e não tivesse amor , seria como o metal que soa
ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse
todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal
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que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que
distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não
trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não
busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a
injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque em parte conhecemos
e em parte profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é em parte,
será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com
as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então
veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como
também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor,
estes três; mas o maior deles é o amor.”

Finalizando estas definições, pode-se afirmar que pensar e sentir são


ações indissociáveis. Acredita-se que o conhecimento dos sentimentos e das
emoções requer ações cognitivas, da mesma forma que ações cognitivas
requerem a presença dos aspectos afetivos. No trabalho educativo diário não
existe aprendizagem meramente cognitiva ou racional, pois os alunos não podem
deixar os aspectos afetivos que compõem sua personalidade do lado de fora da
sala de aula.
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CAPÍTULO 2- ALGUMAS TEORIAS EXPLICATIVAS

Existem inúmeras teorias que buscam explicar o desenvolvimento


cognitivo, emocional, social e motor do ser humano, mas neste trabalho é dada
uma ênfase maior na teoria de Wallon, porque ele destaca a dimensão afetiva de
forma significativa na construção da pessoa e do conhecimento.

2.1- A Teoria do Afeto segundo Wallon

Henri Wallon nasceu em 15 de junho de1879, em Paris. Filho de Paul


Alexandre Joseph e neto de Henri Alexandre Wallon. Teve uma sólida formação
acadêmica em Medicina, Psiquiatria e Filosofia. Tornou-se bem conhecido por
seu trabalho científico sobre “Psicologia do Desenvolvimento”, devotado
principalmente à infância, em que assume uma postura interacionista. Por sua
formação, ocupou os postos mais altos no mundo universitário francês, em que
liderou uma intensa atividade de pesquisa.

A obra de Henri Wallon apresenta a idéia de que o processo de


aprendizagem é dialético, ou seja, não é formado por verdades absolutas, e sim
por várias direções e possibilidades. Ele propõe o estudo da pessoa completa,
tanto em relação ao seu caráter cognitivo, quanto ao caráter afetivo e motor. Para
ele, a cognição é importante, mas não mais importante que a afetividade ou a
motricidade.

Percebe-se então, que a base da teoria walloniana é a integração afetiva-


cognitiva-motora, o que possibilita uma reconceituação do papel da afetividade no
processo da vida psíquica e de como se expressa e como interfere no processo
ensino-aprendizagem. Wallon se apóia no materialismo dialético, fala sempre de
um indivíduo concreto, situado, inserido em seu meio cultural; leva a compreender
de uma forma mais ampla o aluno numa escola, numa comunidade, enfim,
características específicas a ser conhecidas pelo professor para dar um
direcionamento ao seu processo ensino-aprendizagem, tornando-o mais produtivo
e satisfatório, atendendo às necessidades, tanto do professor como do aluno,
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uma vez que esse processo só é compreensível quando concebido como uma
unidade.

Wallon mostra que a cognição está alicerçada em quatro categorias de


atividades cognitivas específicas, às quais deu o nome de ‘campos funcionais’ ou
‘domínios funcionais’. Estes compõem, segundo a sua teoria, o psiquismo
humano, formam um todo, um sistema regulador da vida mental. São eles:

Movimento: um dos primeiros a se desenvolver, serve de base para o


desenvolvimento dos demais. Acredita que tem grande importância no processo
de estruturação do pensamento, antes da aquisição da linguagem.

Inteligência: tem um significado bem específico, e está diretamente


relacionada a importantes atividades cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e
a linguagem.

Pessoa: é o campo funcional que coordena os demais, é também


responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do eu. E por
último e mais detalhado, segue a afetividade.

Afetividade: é a primeira forma de interação com o meio ambiente, a


primeira motivação para o movimento e a base para o desenvolvimento da
inteligência. Refere-se à capacidade do ser humano de ser afetado pelo mundo
externo e interno por meio de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou
desagradáveis. A teoria apresenta três momentos marcantes na evolução da
afetividade: emoção, sentimento e paixão. Os três resultam de fatores orgânicos e
sociais e correspondem a configurações diferentes e resultantes de sua
integração: nas emoções há o predomínio da ativação fisiológica; no sentimento
da ativação representacional; na paixão da ativação do autocontrole.

2.1.1- Os estágios de desenvolvimento

A teoria de Wallon propõe uma série de estágios de desenvolvimento, mas


não se limita ao aspecto cognitivo. Ele é mais flexível, e não acredita que estes
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estágios formem uma sequência linear e fixa, ou que um suprima o outro. Para
ele, o estágio posterior amplia e reforma os anteriores.

Na obra walloniana, o desenvolvimento é permeado de conflitos internos e


externos. Wallon deixa claro que é natural que, no desenvolvimento, ocorram
rupturas, retrocessos e reviravoltas. E estes conflitos são fenômenos geradores
de evolução.

Wallon afirma que os estágios se sucedem de maneira que momentos


afetivos sejam sucedidos por momentos cognitivos. Usualmente, períodos
afetivos ocorrem em períodos focados na construção do eu, enquanto estágios
com predominância cognitiva estão mais direcionados à construção do real e
compreensão do mundo físico. Este ciclo não é encerrado, mas perdura pela vida
toda, uma vez que a emoção sobrepõe-se à razão quando o indivíduo se depara
com o desconhecido. Assim, afetividade e cognição se revezam na dominância
dos estágios. Em outras palavras, em sua teoria o desenvolvimento da pessoa é
visto como uma construção progressiva em que fases se sucedem com
predominância alternadamente afetiva e cognitiva. A seguir, os estágios:

Estágio Impulsivo-Emocional: Acontece do nascimento até o


primeiro ano de vida. É um estágio predominantemente afetivo, onde as
emoções são o principal instrumento de interação com o meio. A relação
com o ambiente desenvolve, na criança, sentimentos intraceptivos e
fatores afetivos. A criança ainda não possui perícia motora, seus
movimentos são um tanto quanto desorientados, mas a contínua resposta
do ambiente ao seu movimento permite-lhe que passe da desordem
gestual às emoções diferenciadas.

Estágio Sensório-Motor e Projetivo: Vai até aproximadamente os


três anos de idade. É uma fase onde a inteligência predomina e o mundo
externo prevalece nos fenômenos cognitivos. A inteligência, nesse período,
é tradicionalmente dividida entre a inteligência prática, obtida pela
interação de objetos com o próprio corpo, e inteligência discursiva,
22

adquirida pela imitação e apropriação da linguagem. Nesse estágio é bem


comum que os pensamentos se projetam em atos motores.

Estágio do Personalismo: Vai até os seis anos de idade. É um


momento de predominância afetiva sobre o indivíduo. É um período crucial
para a formação da personalidade e da autoconsciência. Neste estágio, a
criança passa por uma crise negativista, ela se opõe sistematicamente ao
adulto. Por outro lado, também se verifica uma fase de imitação motora e
social.

Estágio Categorial: geralmente manifesta-se entre os seis e os


onze anos de idade. Classifica-se por um período de predominância da
inteligência sobre as emoções. A criança começa a desenvolver as
capacidades de memória e atenção voluntárias. Neste estágio se formam
as categorias mentais: conceitos abstratos e conceitos concretos. A criança
tem o seu poder de abstração da mente amplificado. Provavelmente seja
por isso que o raciocínio simbólico se consolida como ferramenta cognitiva.

Estágio da Adolescência: mais ou menos a partir dos onze ou


doze anos, começam as transformações físicas e psicológicas na criança.
É um estágio caracterizadamente afetivo, onde o indivíduo passa por uma
série de conflitos internos e externos. Seus grandes marcos são a busca
pela auto-afirmação e o desenvolvimento da sexualidade.

Em verdade, os estágios de desenvolvimento não se encerram na


adolescência. Para Wallon, o processo de aprendizagem sempre implica na
passagem por um novo estágio. O indivíduo diante de uma imperícia sofre
manifestações afetivas que o levam a um processo de adaptação, que resulta na
aquisição de perícia. Enfim, o processo dialético de desenvolvimento jamais se
encerra.

Conhecer aspectos teóricos do desenvolvimento afetivo e cognitivo é


fundamental para o educador preocupado com sua ação pedagógica. Entretanto,
muitas vezes, faltam outros elementos para subsidiar sua práxis, sobretudo para
poder desenvolver a afetividade de seus alunos.
23

2.1.2- O papel da afetividade nos diferentes estágios:

Conforme Wallon (1979), a dimensão temporal do desenvolvimento está


distribuída em estágios que expressam características da espécie e cujo conteúdo
é determinado histórica e culturalmente. O desenvolvimento do bebê ao adulto de
sua espécie, do ponto de vista afetivo, pode ser assim caracterizado:

Estágio impulsivo-emocional (0 a 1 ano) – a criança expressa sua


afetividade por meio de movimentos desordenados, em respostas a
sensibilidades corporais dos músculos, das vísceras e do mundo externo, para
satisfazer suas necessidades básicas.

Estágio sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos) – já dispondo da marcha e


da fala, a criança volta-se para o mundo externo, para o contato e a exploração
de objetos e pessoas de seu contexto.

Estágio personalismo (3 a 6 anos) – é a fase de se descobrir diferente das


outras crianças e do adulto. Esta compreende três fases: oposição, sedução e
imitação.

Estágio categorial (6 a 11 anos) – com a diferenciação mais nítida entre o


eu e o outro, há condições para a exploração mental do mundo externo, mediante
atividades cognitivas de agrupamento, classificação, categorização em vários
níveis de abstração.

Estágio puberdade e adolescência (11 anos em diante) – surge a


exploração de si mesmo, na busca de uma identidade autônoma, mediante
atividades de confronto, auto-afirmação, questionamento. O domínio de algumas
categorias de maior nível, como por exemplo, a de dimensão temporal, possibilita
a discriminação mais clara dos limites de sua autonomia e de sua dependência,
além de um debate sobre valores.

Idade adulta – apesar de todas as transformações anteriores, o adulto se


reconhece como o mesmo e único ser: reconhece suas necessidades,
possibilidades e limitações, seus sentimentos e valores, assume escolhas
24

conforme seus valores. Há um equilíbrio entre “estar centrado em si” e “estar


centrado no outro”.

Bem, como já foi citado anteriormente, afetividade refere-se à capacidade,


à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e interno por
meio de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis. E aqui,
foi possível perceber as suas particularidades em cada estágio definido por
Wallon, reconhecendo-se a importância do afeto em cada fase, imprescindível
para que haja aprendizagem, não só durante a vida escolar, mas por toda vida.

2.2- Breves exposições de outras teorias explicativas

Ao longo dos anos, muito se tem estudado e pesquisado acerca do


desenvolvimento cognitivo, como ele acontece, quais as suas ligações para/com o
desenvolvimento moral, social, emocional, enfim, o desenvolvimento humano
completo. E com isso, muitas teorias vêm surgindo... Algumas delas serão
resumidamente expostas a seguir.

2.2.1- A Teoria Psicogenética segundo Piaget

Esta teoria busca a dimensão biológica do processo de aprendizagem,


contudo também destaca o valor da afetividade para que este processo se realize
com sucesso. Descreve a conexão entre o afetivo e o cognitivo, fornecendo
subsídios para uma melhor compreensão do desenvolvimento humano.

Piaget relata que a afetividade constitui a força propulsora do


desenvolvimento, pois ela atribui valor às atividades, regulando a energia. Assim,
a vida afetiva e a vida intelectual são adaptações contínuas, paralelas e
interdependentes. Nesse sentido, a afetividade está presente no prazer, na dor,
na alegria, na tristeza, no sucesso ou insucesso, enfim, todos esses intervêm
como reguladores da ação da qual a inteligência determina a estrutura, sendo a
afetividade o motor do comportamento.
25

A afetividade, segundo Piaget, intervém no funcionamento da inteligência,


causando os comportamentos, podendo provocar acelerações ou atrasos no
desenvolvimento cognitivo. Ela é indissociável, irredutível e complementar à
inteligência. Portanto, ela influencia a aprendizagem e a construção de
conhecimento, mas está subordinada ao tipo de relação estabelecida, ou seja, na
medida em vínculos afetivos são criados, a afetividade orienta condutas em
relação aos sujeitos.

A afetividade estaria, de alguma forma, direcionada aos interesses


(motivação) do indivíduo e controlando a intensidade e quantidade de energia
desprendida em cada ato de conhecimento, em razão do valor que lhe é atribuído,
ou seja, os sentimentos que aquela atividade desperta no indivíduo.

Para ele, o desenvolvimento intelectual é considerado a partir de dois


componentes: um cognitivo e outro afetivo. Paralelo a isso, está o
desenvolvimento afetivo que inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências,
valores e emoção, de um modo geral.

2.2.2- A Teoria Sócio- Interacionista segundo Vygotsky

Para Vygotsky, psicólogo russo, o que nos torna humanos é a capacidade


de utilizar instrumentos simbólicos para complementar sua atividade, que tem
bases biológicas. A linguagem, por sua vez, age como construtora e propulsora
do pensamento. O aprendizado, de modo adequado, resulta em desenvolvimento
mental, movimentando também vários outros processos de desenvolvimento.
Assim, o pensamento é gerado pela motivação, isto é, pelos desejos,
necessidades, interesses e emoções.

Observa-se, então, que existem dois tipos de condições de aprendizagem:


as externas, referindo-se ao aspecto social e cultural em que o sujeito está
imerso; e as internas, ligadas ao corpo como organismo mediador da ação.

A preocupação de Vygotsky não era elaborar uma teoria de


desenvolvimento infantil. Ele recorreu à infância buscando explicar o
26

comportamento humano de um modo geral. Isto porque a criança está no centro


da pré-história do desenvolvimento cultural, por causa do uso de instrumentos e
da fala humana.

“Vygotsky concebe o homem como um ser que pensa,


raciocina, deduz e abstrai, mas também alguém que
sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza.”
(RÊGO, 1999, p. 120).

Por fim, Vygotsky propõe uma visão do homem como um sujeito social e
interativo, sendo que a criança inserida num grupo constrói seu conhecimento
com a ajuda do adulto. Para ele, a aprendizagem ocorre a partir de um intenso
processo de interação social, através do qual, o indivíduo vai internalizando os
instrumentos culturais, ou seja, as experiências vivenciadas com outras pessoas.

2.2.3- A Teoria “não-diretiva” segundo Carl Rogers

A pedagogia rogeriana está centrada no aluno, e é vulgarmente chamada


“não-diretiva”. Seu foco principal está no fato de considerar que os alunos
aprendem melhor, são mais assíduos, interessados, motivados e participativos,
são mais criativos e capazes de resolver problemas, quando os professores lhes
proporcionam um clima mais humano, seja relacional e/ou afetivo, além de um
ambiente de confiança.

Para Rogers, o professor deve ser o facilitador da aprendizagem, e o aluno


é quem sabe o que precisa e a direção que deve tomar. Ao professor cabe
apenas orientar de modo eficaz o aluno no seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento, deixando que este descubra e realize as suas potencialidades,
em seu processo de crescimento e auto-realização pessoal.

Rogers, entre outras profissões, atuou como psicólogo durante doze anos
junto às crianças delinqüentes enviadas pelos tribunais e serviços sociais,
realizando sessões de tratamento. A partir dessa experiência, ele chegou à
conclusão que “é só experienciando que se aprende”. Passou a perceber o erro
27

da autoridade por parte dos mestres, e que havia novos conhecimentos a serem
adquiridos, além daqueles propostos por eles. Chegou à conclusão que as
entrevistas tradicionais da psicanálise eram superficiais e sem resultados,
verificando que apenas as entrevistas mais naturais e menos informais, deixando
livre ao paciente a direção do movimento no processo terapêutico, eram
realmente eficazes.

Para Rogers, a pessoa é continuamente em transformação e construção,


nunca satisfeita nem plenamente realizada. Nunca deixa de ser movimento e
processo.

Numa concepção regeriana, ensinar não é comunicar certos


conhecimentos, assim como aprender não é fixar esses conhecimentos
veiculados. A única coisa que se aprende de modo a influenciar significativamente
o comportamento é a descoberta de si mesmo, ou seja, de algo descoberto pelo
próprio indivíduo. Numa aprendizagem dessas, há uma apropriação e assimilação
pessoal, assim, o indivíduo incorpora na sua própria experiência o que aprendeu
e descobriu. E isto tem impacto no seu comportamento, leva a mudanças e
melhorias, desenvolve a autoconfiança, a autonomia e a criatividade, e tudo isso
porque envolve toda a pessoa, seu intelecto e também emoção, E por isso é
considerada uma aprendizagem significativa, duradoura e eficaz.

2.2.4- A Teoria Psicanalítica segundo Freud

Para Freud, o conceito de afeto está ligado ao de pulsão. Este último,


segundo Freud, é o “conceito situado na fronteira entre o mental e o somático,
como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do
organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no
sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo.” (FREUD,
1915 – Br, 1974, p. 142).

Freud procura estabelecer uma relação entre os aspectos cognitivos e os


impulsos afetivos durante o desenvolvimento de cada indivíduo. Para ele, o
28

primeiro interesse de investigação da criança é sobre o seu lugar no mundo, o


que também está ligado à descoberta de seu sexo. Sua teoria afirma ainda que a
afetividade e os seus impulsos são o motor do desenvolvimento psicológico de
cada um. E a estes estão subordinados os próprios processos básicos, como a
intelectualização e a racionalização.

Segundo psicanálise, de um modo geral, a afetividade é o conjunto de


fenômenos psíquicos manifestados através das emoções ou sentimentos,
acompanhados de prazer ou dor, satisfação ou insatisfação, agrado ou
desagrado, tristeza ou alegria. O afeto, portanto, exprime qualquer estado afetivo,
seja ele agradável ou não, é a expressão da quantidade de energia pulsional e de
suas variações. Assim, na medida em que a pulsão se afasta da idéia e encontra
a expressão proporcional à sua quantidade, surgem então os afetos.

Para Freud, uma pulsão nunca pode tornar-se objeto da consciência, ao


contrário, um impulso pulsional é de uma representação inconsciente.

Quanto aos destinos do afeto, Freud, aponta três possibilidades: ou ele


permanece como é; ou é transformado num afeto qualitativamente diferente; ou é
suprimido, ou seja, impedido de se desenvolver, o que constitui a verdadeira
finalidade do recalcamento. Sendo que, após um processo de recalcamento, as
idéias inconscientes continuam a existir, porém, os afetos quando suprimidos
impedem o potencial de ser desenvolvido. Talvez aqui estivesse a resposta para
muitos dos problemas e dificuldades de aprendizagem...
29

CAPÍTULO 3 – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA


EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

“Se pensássemos no problema de


aprendizagem como derivado só do
organismo, ou só da inteligência, para seu
diagnóstico e cura, não haveria necessidade
de recorrer à família.”

Alicia Fernàndez

Antigamente, no Brasil - Colônia, marcado pela escravidão e produção


rural, as famílias eram extensas, patriarcais e os casamentos aconteciam com fins
econômicos. A clássica divisão de tarefas era o pai como provedor e a mãe
“rainha do lar”, responsável pelos afazeres domésticos e pela educação dos
filhos. O conceito de família era a união de pessoas aparentadas que viviam
juntas na mesma casa, geralmente era pai, mãe e filhos.

Porém, nas últimas décadas, este modelo tradicional de família teve


grandes alterações. As mulheres vêm ocupando espaços cada vez maiores no
mercado de trabalho, o que lhes garante a posição tão sonhada neste mundo
capitalista. Contudo, com tantas responsabilidades à parte, a mulher tem passado
muito tempo fora de casa, e assim acaba por abandonando a sua principal tarefa:
ser mãe e educar seus filhos nos caminhos em que devem andar, tal como diz um
provérbio bíblico: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando
envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22, verso 6).

A família deve garantir a sobrevivência e a proteção dos filhos,


independentemente de sua estrutura, é ela que deve proporcionar a construção
dos laços afetivos e suprir as necessidades do desenvolvimento integral da
pessoa. Ela tem papel importante na socialização e na educação, pois é onde se
30

iniciam as aprendizagens e os vínculos humanos. Ela é a matriz do


desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas.

Portanto, atualmente as famílias já não tem um padrão único, novas


configurações familiares estão surgindo... E é preciso que alguns profissionais,
principalmente da educação e da saúde emocional, observem e estudem com
mais carinho essas novas famílias que estão surgindo, para que possam dar
andamento aos seus trabalhos com a eficácia necessária.

É no contexto familiar que a criança inicia suas primeiras aprendizagens. É


onde ela aprende a sugar o seio da mãe, sentar, engatinhar, bater palminhas,
falar, andar, etc. E todas essas conquistas são presenciadas e estimuladas
primeiramente pela família (ou pelo menos deveriam).

É, portanto, este o papel da família, estimular a criança a crescer e


desenvolver-se de modo integral e saudável. Antes mesmo de entrar na escola, a
criança deveria receber seus primeiros estímulos em casa, tendo contato com
livros, jogos educativos, brinquedos de encaixe, massinha, tintas, músicas, enfim,
objetos que venham ajudá-la no desenvolvimento das habilidades motoras,
lingüísticas, musicais e lógicas. Se a família der o exemplo e estimular desde
cedo, colocando-a em contato constante com estes “objetos do conhecimento” é
certo, que desde cedo a criança também terá o prazer em ler, estudar e construir
o seu saber.

A família deve ajudar a criança a pensar com autonomia, desenvolver o


seu senso-crítico e seu raciocínio-lógico, autonomia para fazer suas escolhas
responsabilizando-se pelas conseqüências das mesmas, e também deve colocar
os limites necessários para a criança, na medida certa. É neste contexto que a
família “imprime suas marcas” na criança, moldando-a conforme os valores,
modelos de conduta e de comportamento que julga serem corretos. Na verdade, a
família educa a criança como seus exemplos.

Os pais são os primeiros desencadeadores da educação de seus


filhos, são “o espelho” inicial de suas vidas; seus exemplos serão seguidos,
31

sendo bons ou maus. Por isso a afetividade tem um papel muito importante
nesta educação.

Mas como fazer, se os valores que deveriam nortear a vida em


sociedade parecem cada vez mais esquecidos? Vive-se num tempo em que a
aparência vale mais do que toda a essência do ser humano, e a competição e
o individualismo regem os relacionamentos. Vale mais o ter do que o ser.

Acredita-se que as dificuldades, os conflitos, as guerras e a intolerância


são resultados da inversão de valores que predomina nas sociedades. Assim,
cabe aos pais, como os primeiros educadores, terem plena consciência do seu
papel e reavivar os sentimentos, valores e atitudes que poderão renovar a
confiança em dias melhores.

Educar com amor é ensinar a criança a amar, a ter atitudes positivas, a


viver em valores, tudo é válido para a criança que está aprendendo a conhecer
o mundo. Mas é importante saber que isto acontece através dos olhos dos
pais, ou seja, a criança grava toda imagem emitida, sendo ela negativa ou
positiva.

O corpo, a fala, os gestos, o olhar, o modo de se expressar e se


apresentar ao mundo... tudo é linguagem, tudo comunica, tudo compõe a
história que dia a dia o ser humano escreve sem se dar conta. É um complexo
sistema de comunicação que emite sinais e códigos, os quais originam
informações diversas, que muitas vezes fazem a diferença na vida de outrem.

Os pais devem ter consciência de que são os primeiros, os principais e


insubstituíveis educadores de seus filhos. Educar não é apenas ensinar a ler e
escrever, educar é participar ativamente da vida de seus filhos, orientá-los,
exortá-los quando preciso, acompanhar seu crescimento e desenvolvimento;
mas tudo isto deve ser feito em amor.
32

3.1- Pais, os primeiros educadores

É uma prática bastante comum os pais atribuírem a responsabilidade


de educar seus filhos aos professores, pelo simples fato de terem os
matriculado na escola. Muitos pensam que a obrigação de educar e ensinar
é do professor, e se o filho não aprende, a culpa está no professor.

Engano destes pais, pois a obrigação de educar e ensinar inicia-se


dentro da própria casa, em meio à própria família. Os primeiros professores
são os pais, e ensinar com amor, carinho, paciência e muito afeto é
imprescindível, pois o aprendizado se torna mais fácil, prazeroso e produtivo.

Pode-se dizer que os professores primários de uma criança são seus


próprios pais, pois é desde muito cedo que o aprendizado começa, muito
antes de entrar para escola. Alguns especialistas dizem que desde o ventre
a criança já aprende, pois ouve tudo, e até sente o que a mãe sente, seja
bom ou ruim, prazeroso ou angustiante.

A responsabilidade da educação inicial é inteiramente dos pais, e é


com eles que as crianças devem ter as primeiras noções de valores éticos e
morais, boas maneiras, hábitos e atitudes saudáveis, respeito, cordialidade,
responsabilidade, etc. Enfim, a família é a base da educação de uma
criança, e por isso deve participar ativamente da vida de seus pequeninos.
Tudo que uma criança sabe ou aprende, tem grande influência do ambiente
que a rodeia. Ela aprende tanto coisas boas quanto as más, depende de sua
vivência.

Portanto, é preciso que os pais tenham muito cuidado com suas


atitudes diante dos filhos. É preciso evitar qualquer tipo de violência (física
ou verbal) entre os pais, e também o próprio maltrato com os filhos, pois o
que a criança presencia é o que ela levará adiante achando que é o certo,
e provavelmente, se no futuro ela for pai ou mãe, agirá da mesma maneira.

A união familiar, o carinho, a paciência, o diálogo, tudo isso influencia


muito na educação afetiva da criança. Os pais devem demonstrar interesse
33

e zelo pelo que seus filhos fazem e aprendem, devem elogiar, orientar e
corrigir quando preciso, mas tudo deve ser feito com amor e afetividade.

Ao contrário do que pareça, os pais não precisam ser super-heróis,


nem serem ricos e darem muitos presentes, e não devem tão pouco, serem
ausentes. Antes, devem ser pais que amem e demonstrem o amor a seus
filhos, que valorizem as mínimas coisas que fazem juntos, e principalmente,
que sejam presentes.

3.2- A relação pais e filhos

A palavra “relação” está relacionada a vínculo, amizade, convivência


entre pessoas. Portanto, quando se fala em relação pais e filhos, refere-se a
uma troca de informações, convivência, intimidade, laço familiar... É preciso
que a base desta relação seja o diálogo, pois através dele há trocas
importantes que alimentam o amor e a confiança. A atenção ou apenas um
olhar que o pai dá para seu filho, é muito mais importante e satisfatório que
qualquer outro presente.

“Certa vez um filho de nove anos perguntou a seu


pai, que era médico, quanto que ele cobrava por
consulta, o pai disse-lhe o valor. Passando um
mês, o filho se aproximou do pai, tirou algumas
notas do bolso, esvaziou seu cofre de moedas e
disse-lhe com os olhos cheios de lágrimas: Pai faz
tempo que eu quero conversar com você, mas você
não tem tempo, consegui juntar o valor de uma
consulta. Você pode conversar comigo agora?”
(CURY, 2003, p. 25).

Às vezes, os pais têm uma profissão que exige muito deles, tendo
assim, uma vida cotidiana muito cheia e acelerada. Muitos, mal têm tempo
de trocar um olhar com seus filhos, pois saem para trabalhar muito cedo e os
34

filhos ainda estão dormindo, e por voltarem muito tarde, os encontram já na


cama. Para preencher este vazio, às vezes, os pais compram muitos
presentes para seus filhos, além de pagarem escolas particulares bem caras
para eles, na busca por um “alívio de consciência”, pois “pelo menos o
cuidado e a educação estas crianças estão tendo durante o dia, mesmo com
sua ausência”, pensam erroneamente os pais.

Ao invés de apenas darem bons presentes materiais, os pais devem


se esforçar para doarem-se mais aos seus filhos: contar suas histórias, seus
sonhos, angústias, alegrias, tristezas, experiências, aventuras..., enfim,
devem se humanizar, transformar a relação com os filhos numa aventura
prazerosa. Este hábito contribui para desenvolver nos filhos a auto-estima, o
autocontrole, a capacidade de trabalhar com perdas e frustrações, de
dialogar, de ouvir, ajuda-os a crescerem mais seguros e confiantes. É
fundamental para a formação da personalidade dos filhos, que os pais se
deixem conhecerem por eles, pois assim estará educando a emoção e
criando vínculos sólidos e profundos.

Não existem pressupostos teóricos que ensinem o modo correto de


se educar os filhos, e nunca vai existir, porque cada ser humano é um ser
completo e diferente dos demais, independente da idade, sexo, cor, raça,
credo, classe social, etc. Cada pessoa tem o seu jeito de ser particular,
diferente, e por isso, cada família pode apresentar o seu próprio estilo de
vida. Assim, os pais devem educar vigiando seus filhos, percebendo seus
interesses e necessidades.

Os pais devem ter o cuidado para não usar e abusar de lindas


palavras, poéticas e filosóficas para com seus filhos, e em contradição, agir
negativamente, dando péssimos exemplos. Cury fala sobre o fenômeno
RAM (registro automático da memória), e explica que todas as imagens
captadas, todos os pensamentos e emoções são automaticamente
registrados na memória, sendo eles positivos ou negativos. O mais grave é
que tudo que é registrado na memória, não pode mais ser apagado, apenas
reeditado através de novas experiências. Daí a importância dos pais terem
35

boas atitudes, para que seus filhos registrem uma boa imagem deles, e
tenham bons exemplos a seguirem futuramente.

É preciso que os pais dediquem mais tempo aos filhos, para


brincarem, passearem, dialogarem, se divertirem, compartilharem
conhecimentos e experiências. Devem também, participar da educação
escolar dos filhos, serem mais presentes e atuantes na vida deles. As
crianças também têm muitas coisas a ensinarem a seus pais, existe uma
reciprocidade, uma afetividade educativa em comum na relação pais e filhos.

Para se ter uma boa relação com seus filhos e educá-los de forma
integral, os pais devem seguir alguns passos importantes:

- Devem observá-los e ouvi-los, pelo menos de vez em quando. E se


o filho chamar, deve parar o que estiver fazendo e dar-lhe a devida atenção.
Se não for possível naquele momento, peça-lhe que aguarde e logo o
atenda. Os pais não podem deixar transparecer, em momento algum, que os
filhos estão sendo chatos e inconvenientes. Ao contrário, devem sempre
ouvi-los, mesmo que falem coisas bobas e sem sentido, é fundamental que
os pais parem e ouça-os até o fim e com atenção.

- Observar e sentir é poder ajudar em determinada situação, é


conhecer o olhar de uma criança, pode ser um olhar triste, alegre ou curioso.
O olhar diz tudo, e pode ajudar os pais a aprenderem a conhecer seus filhos.

- Devem pensar sempre nas melhores respostas para darem a seus


filhos, pois estes estão sempre atentos e em constante aprendizagem.

Portanto, são cinco passos importantes a serem seguidos: parar,


ouvir, agir, olhar e sentir. Estas ações, além de nortearem uma relação
sadia, também podem ajudar os pais a terem consciência do tipo de
formação que estão oferecendo a seus filhos. Estas cinco bases relacionais
partem de pais educadores e afetivos, passam para seus filhos, preparando-
os para enfrentarem o mundo que os rodeia.
36

Cada aprendizado tem o seu momento, cabe aos pais ensinarem aos
poucos e na hora certa, respeitando os limites de seus filhos, para
futuramente gerar uma educação produtiva. Mas para isto, é preciso que os
pais tenham zelo e paciência para ensinarem, lembrando-se de que estão
sendo espelhos para seus filhos, e seus ensinamentos e exemplos serão
seguidos.

A autoridade e os limites não devem ser impostos pelos pais, e sim


colocados de maneira sábia e afetiva. Eles devem também educar a
inteligência emocional de seus filhos, dando elogios, encorajando, tendo
atitudes afetuosas, contribuindo para o desenvolvimento da consciência
crítica, devem ensiná-los a pensar. Assim, estarão conquistando o carinho, a
confiança, a admiração e o respeito de seus filhos, que os registrarão com
grandeza, tornando-os agentes de mudanças.

“O diálogo é uma ferramenta educacional


insubstituível. Deve haver autoridade na relação pai-
filho, mas a verdadeira autoridade é conquistada
com inteligência e amor. Pais que beijam, elogiam e
estimulam seus filhos desde pequenos a pensar,
não correm o risco de perdê-los e de perder o
respeito deles” (CURY, 2003, p. 90).

É importante que os pais adquiram o hábito de dialogar com os filhos,


de “abrir o coração” com eles, pois assim estarão deixando registrada uma
boa imagem de sua personalidade, e melhor ainda, estarão conquistando o
amor, o respeito e a confiança de seus filhos. Assim, os filhos terão prazer
em procurar os pais, de estarem juntos, e os problemas e crises vindouras
não abalarão nem acabarão este lindo relacionamento, este alicerce. É
essencial que, no dia-a-dia, haja manifestações de afetividade entre pais e
filhos: toques, abraços, beijos, diálogo, choro, alegria, brincadeira, etc. Isto
nutre o relacionamento, o amor, o respeito, “estreita os laços”, aproxima.
37

CAPÍTULO 4- ESCOLA E AFETIVIDADE

“Não importa com que faixa etária trabalhe o


educador ou a educadora. O nosso é um
trabalho com gente, miúda, jovem ou adulta,
mas gente em permanente processo de
busca. Gente formando-se, mudando,
crescendo, reorientando-se, melhorando...”
(FREIRE, 1996, p.162).

A criança passa grande parte de sua vida na escola, em alguns


casos, chega a passar o dia inteiro na escola, indo para casa somente para
dormir, e muitas vezes nem se encontra com seus pais no seu dia-a-dia (o
que pode acarretar sérios problemas mais tarde...). Por isso, a escola deve
ser um ambiente cada vez mais aconchegante, atrativo, prazeroso, familiar,
e principalmente, seguro e afetivo.

É importante que o trabalho pedagógico esteja focado em três


âmbitos essenciais: o emocional, o cognitivo e o comportamental da criança,
o que exige também um espaço para todo o tipo de manifestação
expressiva, plástica, verbal, dramática, escrita, direta ou indireta,
estimulando a construção de si mesmo e depois da função simbólica para a
manipulação da realidade.

A escola é um espaço para aprender, é um espaço de construção do


conhecimento e também de socialização do saber. É onde a criança pode (e
deve) compartilhar as suas experiências e adquirir/desenvolver hábitos,
atitudes e valores como respeito, solidariedade, compaixão, etc. Lembrando
que em todas as culturas, a criança adquiri e modifica padrões de
comportamento, conhecimento e atitude por meio da observação e imitação
dos adultos, inclusive de seus professores.
38

O papel da escola não é apenas transmitir conteúdos e ensinar


conceitos, mas também ensinar procedimentos que ajudem a criança a
aprender, desenvolvendo a sua autonomia, independência, inteligência,
emoções e socialização, tornando-se um cidadão com identidade própria,
responsável e consciente.

No âmbito escolar encontram-se crianças com uma diversidade


incrível. São crianças de diferentes raças, credos, culturas, ambientes
familiares, aspectos econômicos, sociais e afetivos, com diferentes
pensamentos, hábitos, sonhos e expectativas de vida..., e cabe à escola
mediá-las e conduzi-las a bons relacionamentos e uma boa socialização. A
escola deve receber a todos, sem distinções, com amor, respeito, carinho e
muita afetividade, pois essa contribui para uma boa aprendizagem.

É importante que o professor seja consciente e reflexivo em suas


ações, apto a trabalhar com afetividade em sala de aula, podendo assim,
desenvolver o lado emocional no seu aluno, dando-lhe o direito de se
expressar e ser compreendido. Proporcionando assim, à formação de alunos
mais felizes, satisfeitos e interessados pelos estudos.

4.1- A Afetividade na Educação Infantil

A Educação Infantil é o início da vida escolar da criança, e envolve


simultaneamente dois processos: educar e cuidar. Nela, as crianças ainda são
muito novinhas e dependentes, e por isso, tem uma necessidade dobrada de
atenção, carinho e segurança, sem as quais dificilmente sobreviveriam. Por
outro lado também é preciso se conscientizar de que elas estão tendo seus
primeiros contatos com o mundo através das pessoas que as cercam. É por
isso que os adultos devem “se policiar”, evitando determinadas atitudes e
palavras diante das crianças, pois elas são “imitadoras” e costumam seguir os
exemplos que as rodeiam.
39

Porém, apesar de se saber da necessidade de um “cuidado” maior para


com esta faixa etária, nos últimos dez anos, a idéia de que a creche era um
local em que as crianças ficavam apenas para serem cuidadas, deu lugar a
uma nova visão. E hoje, até mesmo os pais que tem condições de manterem
seus filhos pequenos em casa, preferem enviá-los para a escola, por
acreditarem que é um espaço privilegiado de aprendizagem, desenvolvimento
e socialização.

Um dos maiores problemas encontrados na Educação Infantil, de um


modo geral, é a falta de equilíbrio e vínculo entre os focos de trabalho. Algumas
escolas têm o foco no trabalho educativo, outras têm o foco nos cuidados com
o bem-estar físico e as questões biológicas. Umas se preocupam apenas com
a “Educação”, os conteúdos curriculares; deixando de lado o colo e o afeto, que
são essenciais à constituição saudável da criança. O ideal seria encontrar o
equilíbrio entre os cuidados e a escolarização.
Os professores devem ser sensíveis ao carinho e ao acolhimento, mas
também devem entender que as crianças são competentes, ativas e capazes
de produzir cultura. Também é papel do profissional explicar aos pais sobre
esta dupla função da escola de Educação Infantil. Isso porque algumas famílias
estranham a escolarização e sentem falta do afeto e demais cuidados; outras
pensam diferente e querem que suas crianças tenham cadernos e atividades
de linguagem. É preciso deixar bem claro a necessidade de um equilíbrio entre
ambas as funções.
As crianças de Educação Infantil desde cedo são ativas, capazes de
fazer escolhas e tomarem decisões, por isso o professor deve oferecer
oportunidades que valorizem e explorem estas capacidades apresentadas.
Assim, conclui-se que um bom profissional não deve apenas gostar de
crianças, mas deve saber cuidar e educar. Precisa estar preparado para
imprevistos, ter noções de primeiros socorros e, principalmente entender como
se dá o desenvolvimento humano nessa época.
É necessário também, estabelecer uma rotina produtiva na escola, ou
seja, que garanta que ninguém fique parado à toa, e que seja capaz de unir os
cuidados com o ato de educar. Isto porque as crianças apresentam
40

dificuldades, interesses e necessidades que não podem ser ignorados, pelo


contrário, exigem maiores cuidados, como: necessidades biológicas, sono,
alimentação, higiene, questões afetivas, motoras, cognitivas, sociais e
emocionais.
Também deve haver maior preocupação e atenção para com o ambiente
e os recursos disponíveis na escola, além da organização do tempo. Sem
esquecer-se de que os pequeninos adquirem experiência e conhecimento
através da ação, do desafio, da exploração do espaço e dos objetos.
Precisa-se reconhecer a importância de uma integração entre escola e
família, pois esta parceria é o primeiro passo para a construção de uma escola
consciente do seu papel. Deve haver trocas de idéias e informações entre pais
e educadores, ambos refletindo sobre a prática pedagógica.
A mesma integração deve haver entre professor e aluno, pois quando o
educador se reconhece como aprendiz, ele cresce com seu aluno, e assim, a
Educação Infantil é aprimorada, competentemente, ocupa um lugar de
destaque na Educação Brasileira.
Enfim, a Educação Infantil não pode seguir o modelo de escola
fundamental: atividades com lápis e papel, alfabetização e numeralização
precoces, rigidez dos horários, rotinas repetitivas, etc. Ao contrário, deve
apresentar uma dimensão educativa com uma nova maneira de ver as crianças
nesta faixa etária, e vê-las como sujeitos que vivem um momento em que
predominam o sonho, a fantasia, a afetividade, a brincadeira, a subjetividade
em suas manifestações.
A Educação Infantil é o princípio da vida social da criança, é onde
começa também o desenvolvimento intelectual dela, porém não se pode
apresentar uma prática meramente intelectualista em sala de aula. Até porque,
segundo Wallon, o desenvolvimento cognitivo também precisa de condições
afetivas para obter bons resultados. Para ele, o afetivo e o cognitivo andam
lado a lado, devem permanecer em constante equilíbrio.
Wallon defende que a escola também é responsável pelo
desenvolvimento da personalidade infantil, e por isso deve se interessar por
tudo que diz respeito à criança, tanto as condições biológicas e psicológicas,
41

como também as condições materiais e sociais de sua existência, para então


poder promover um ambiente apropriado para a descoberta e desenvolvimento
de suas habilidades. Assim, se, por exemplo, uma criança for mal alimentada e
habitar num ambiente sujo, ela pode vir apresentar inércia, instabilidade,
agitação, problemas de atenção e fadiga.
Por isso, é importante lembrar que a escola exerce uma grande e
importante influência na vida da criança, e pode significar uma reviravolta ou
uma vitória sob seus problemas. Logo, a escola infantil deve considerar as
características individuais e as condições de vida de cada criança, para o
planejamento de suas atividades. Só assim, estas virão oportunizar um
crescimento e desenvolvimento sadios da criança, proporcionando também sua
formação como cidadão responsável, um ser humano completo e individual,
porém social e sociável, crítico e afetivo, que saiba lidar com suas emoções e
compreender as pessoas e o mundo que o cerca.
O afeto e a segurança na escola contribuem para uma boa
aprendizagem. Por isso a criança deve se apropriar cognitivamente e
afetivamente da escola, que por sua vez é responsável por recebê-la com
muito carinho. Portanto, as escolas infantis devem oferecer profissionais não
só qualificados, mas capacitados para acolher, amar, respeitar, orientar e
conduzir à construção de conhecimentos. Conquistando, assim alunos mais
produtivos, felizes e interessados nos estudos.

4.2- O papel do profissional de Educação Infantil

Antigamente, as creches no Brasil, desempenhavam um papel


assistencial e filantrópico, e sua principal função era apenas a de guardar e
proteger a criança. Porém, para o Estado era melhor promover uma maior
atenção à infância para contribuir para a diminuição das altas taxas de
mortalidade infantil. O esquema “sopão e banho” não exigia profissionais
especializados, e muitas vezes, os requisitos necessários eram apenas gostar
de crianças e saber cuidá-las fisicamente.
42

Conforme a sociedade foi evoluindo, estas exigências foram se


ampliando. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, ela passou a
exigir um local seguro e de qualidade para deixar seus filhos enquanto
trabalhava. Assim, o profissional da creche precisou a partir daí, também
compreender o papel materno para, de certa forma “substituir” a mãe. Uma
tarefa difícil e de cunho psicológico, pois nessa ótica, a criança da creche sofria
de carência afetiva devido ao abandono materno, e a professora deveria estar
preparada para suprir esta carência. Foi neste período que começaram a ser
chamadas de “tias”.
Com o passar dos tempos, a creche ganhou uma importância social, e
passou a ser vista como um espaço privilegiado para o desenvolvimento
infantil. Exigindo, então, uma estrutura e um funcionamento mais adequados,
bem como um profissional mais bem preparado, com um melhor nível de
conhecimento sobre o desenvolvimento infantil.
Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), a Educação Infantil passou a ser vista com outros olhares, e até os dias
de hoje ainda passa por um período de idéias e debates sobre a sua
importância e o seu papel na sociedade e na vida de cada criança. Passou a
reconhecer a importância das boas e enriquecedoras experiências que as
crianças precisam ter nessa etapa inicial da vida, pois são determinantes para
o desenvolvimento de suas competências e habilidades para o resto de suas
vidas. Daí, a importância do preparo e qualificação do profissional desta área.
Hoje, percebe-se que o professor de Educação Infantil precisa de uma
sólida formação básica, não apenas aquela advinda dos cursos normais ou de
pedagogia, mas também precisa de conhecimentos de história, de filosofia, de
antropologia, psicologia, enfim, todos que ofereçam os alicerces necessários
para que possa construir, compreender e confrontar ideologias. Também é
essencial que este profissional conheça as teorias de desenvolvimento e de
aprendizagem voltadas para as crianças.
Este professor precisa se comprometer com o bem-estar e o
desenvolvimento integral das crianças e com a qualidade de tudo que
apresenta a ela, fazendo uma relação indissociável entre o educar e cuidar.
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Precisa oferecer à criança o acolhimento, o carinho (e todas as expressões de


afetividade), a atenção, a segurança, o lugar para a emoção, para o gozo, para
o desenvolvimento da sensibilidade, não deixando de lado o desenvolvimento
das habilidades sociais, nem o domínio do espaço e do corpo, deve oportunizar
a curiosidade, o desafio e a investigação.
Enfim, o professor de Educação Infantil é um especialista, entre outros
aspectos, na formação de vínculos. Até porque está lidando com pessoas
muito pequeninas, indefesas e dependentes, que precisam de muitos cuidados,
pois estão aprendendo a se tornarem humanas. As interações e os cuidados
cotidianos são determinantes nas formas de se relacionar e construir vínculos,
e a criança só vai aprender a cuidar de si e dos outros se vivenciar estes
cuidados cotidianos de qualidade.
Wallon considera que o professor precisa ter conhecimento dos
problemas sociais de sua época, assumindo uma postura ativa e consciente
diante deles. Pois somente conhecendo os valores morais e relações sociais
da sua atualidade, poderá orientar seus alunos, desde cedo diante da realidade
da sociedade na qual estão inseridos. Já nos primeiros anos escolares, o
professor deve ser competente em preparar a criança para viver em
coletividade, incentivando o trabalho em grupo. Deve desenvolver sentimentos
nobres que permitam ao aluno atuar como cidadão na sociedade.
Alguns distúrbios ou algumas reações inadequadas das crianças podem
ter origem na severidade e rudez do professor. Estas atitudes são, muitas
vezes, os motivos da inibição ou recalque da criança em sala d e aula. Por isso
professor deve ajudar a criança a resolver seus complexos, para assim,
promover um interesse novo e uma conduta diferente e sadia.
Por outro lado, a família tem, muito antes da escola, o seu papel
fundamental de contribuição no desenvolvimento da criança, principalmente no
aspecto afetivo. Tanto que quando os problemas familiares não são bem
administrados diante das crianças, podem ter efeitos nocivos para o seu
desenvolvimento. As repreensões e punições corporais podem provocar nas
crianças, reações mais complexas de se tratarem. A relação que se estabelece
44

nos primeiros contatos com as crianças, já nos primeiros dias de vida, constitui
a base da sua afetividade, prolongando-se por toda vida.
A rebeldia dos alunos em sala de aula pode, muitas vezes, representar a
falta de carinho, atenção, afeto, carência de um amigo ou de alguém para
conversar e brincar. Às vezes não tem em casa o que precisam, e chegam à
escola e também não encontram, por isso suas manifestações de rebeldia e
agressividade. Nota-se aqui, a importância do papel do profissional de
Educação Infantil.
A falta de afeto pode dificultar a aprendizagem da criança, e são vários
os fatores que contribuem para isto: pode ser o abandono, a separação dos
pais, luto na família, um ambiente desfavorável à manifestação afetiva,
desatenção dos pais e professores e a desmotivação dos mesmos. Fica claro
que a criança precisa muito de cuidados especiais, atenção e afeto para seu
desenvolvimento pleno e saudável.

4.3- Desenvolvimento Afetivo em Sala de Aula


A afetividade e a inteligência são aspectos indissociáveis, intimamente
ligados e influenciados pela socialização. A afetividade é necessária na
formação de pessoas felizes, éticas, seguras, capazes de conviver com o
mundo que a cerca. Em sala de aula, ela é de fundamental importância para
que o processo de ensino-aprendizagem seja produtivo e eficaz.
É preciso que o professor se conscientize de seu verdadeiro papel, que
ele não é um mero “transmissor de conhecimentos”. Como diz Paulo Freire:

“Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas


criar as possibilidades para a sua própria produção ou
a sua construção.” (FREIRE, Pedagogia da Autonomia,
p.47)

O professor deve proporcionar o desenvolvimento da afetividade em sala


de aula, não apenas através do contato físico, do toque, mas também se
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aproximando do aluno, dando-lhe atenção, ouvindo-o, valorizando suas


opiniões, elogiando-o, estimulando-o, permitindo-lhe que se expresse e opine,
enfim, são muitas as formas de manifestações de afetividade em sala de aula,
e cabe ao professor estimulá-las e praticá-las. Até porque, o fortalecimento das
relações afetivas entre professor e aluno contribui para um melhor rendimento
escolar, e o carinho faz parte dessa trajetória, é apenas o começo do caminho.
Tanto o autoritarismo quanto a falta de autoridade, não favorecem a
criação de um clima participativo e reflexivo dentro da sala de aula, ao
contrário, podem gerar conflitos que contribuem para a não efetivação do
processo ensino-aprendizagem. A disciplina não deve ser imposta como um
adestramento, mas deve ser construída de forma natural e afetiva, atendendo à
necessidade de estruturação da relação pedagógica, da autonomia e da
construção do conhecimento.
“qualquer que seja a qualidade da prática
educativa, autoritária ou democrática, ela é
sempre diretiva. No momento, porém, em que o
educador ou a educadora interfere na capacidade
criadora, formuladora, indagadora do educando,
de forma restritiva, então a diretividade necessária
se converte em manipulação, em autoritarismo.”
(FREIRE, 2000, p.79)

A aprendizagem implica numa interação entre as pessoas, portanto na


relação professor-aluno deve, necessariamente, haver o afeto para que haja a
devida interação e, conseqüentemente, se dê a aprendizagem. A afetividade é
pressuposto básico para a construção do conhecimento cognitivo-afetivo, logo
o olhar do professor para o seu aluno é indispensável para a construção e o
sucesso de sua aprendizagem.
É importante que a relação afetiva professor-aluno seja estabelecida
desde muito cedo, logo na Educação Infantil, mas perdure por toda a vida
escolar. Pois além de proporcionar o desenvolvimento cognitivo-afetivo,
também proporciona o desenvolvimento psicológico, educando o emocional e
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assim ajudando o aluno a compreender, conviver e expressar seus


sentimentos. Também adquirindo o equilíbrio emocional necessário para se
viver em sociedade. Um emocional bem educado ajuda o ser humano a vencer
os obstáculos da vida, por mais difíceis que sejam.
A sala de aula é um espaço de grande valia para o aluno, pois é onde
passa grande parte de sua vida, e onde constrói a maioria dos conhecimentos
que carregará pro resto de sua vida. É onde ele precisa ser respeitado e
valorizado, tanto através do saber, como também através do afeto. Portanto, o
relacionamento professor-aluno deve ser carregado de carinho, com
demonstrações de afetividade, assim o professor mostra que realmente se
interessa pela criança e sua aprendizagem.
Quando se fala em afeto e aproximação, não se refere apenas a beijos e
abraços, mas sim em ajudar respeitosamente o aluno a crescer em suas
atitudes. Acreditar no aluno é uma forma de ajudá-lo, apostar na afetividade em
sala de aula é investir na formação de cidadãos, e logo, na edificação da
sociedade.

Sabe-se que desde bebê, a criança já demonstra expressões de


afetividade, que variam conforme influências do meio ao qual está inserida e
das pessoas que a cercam. Um exemplo dessas expressões é o sorriso, que
aparece quando outra pessoa influencia. Há, desde cedo a presença de
emoções bem diversificadas como alegria, medo, ira, etc. Portanto, já na
Educação Infantil é preciso um planejamento consciente da importância da
afetividade no dia-a-dia em sala de aula, para que a aprendizagem ocorra de
modo eficaz. Assim, cabe ao professor ter conhecimento, não só dos
conteúdos programáticos, mas também do processo cognitivo-afetivo. Deve
educar com muito afeto, respeitando diferenças, limitações e particularidades
de cada um. Deve educar o intelecto e o emocional, para a formação integral
do ser, capacitando-o para o exercício de sua cidadania consciente,
responsável e justa.
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CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho, fica evidente a importância da afetividade no


processo de ensino-aprendizagem. A idéia de que pensar e sentir são ações
indissociáveis ficou bem implícita. Percebe-se uma relação intrínseca entre os
processos cognitivos e afetivos no funcionamento psíquico humano. Assim
como o conhecimento dos sentimentos e das emoções requer ações
cognitivas, o contrário também acontece, as ações cognitivas pressupõem a
presença de aspectos afetivos.
Wallon foi um defensor e estudioso a cerca da dimensão afetiva. Ele
buscou compreender as emoções a partir da apreensão de suas funções,
atribuindo-lhes um papel central na evolução da consciência de si. Ele acredita
que as emoções são tanto psíquico e social, como também orgânico. Para ele,
inteligência e afetividade estão integradas, uma depende da outra, mas
também admite que ao longo do desenvolvimento humano, existem fases em
que predominam o afetivo, e em outras a inteligência.
Nas interações com o meio social e cultural, são criados sistemas
organizados de pensamentos, sentimentos e ações, que mantêm entre si certa
relação. Assim como a organização dos pensamentos influencia os
sentimentos, o sentir também configura a forma de pensar. O que confirma
mais uma vez que pensar e sentir são ações indissociáveis.
Por isso, chega-se à conclusão de que seria viável, no campo
educacional, que as escolas incorporassem em seu cotidiano estudos
sistematizados dos afetos e sentimentos, encarados também como objetos de
conhecimento. De fato, os conteúdos relacionados à vida pessoal e privada das
pessoas, podem e devem ser introduzidos na proposta educativa, perpassando
os conteúdos de Matemática, Línguas, Ciências, etc.
Portanto, os sentimentos, as emoções e os valores, devem ser
encarados como objetos de conhecimento, pois tomar consciência, expressar e
controlar os próprios sentimentos talvez seja um dos aspectos mais difíceis na
resolução de conflitos. Assim, a educação da afetividade pode levar as
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pessoas a se conhecerem e compreenderem melhor suas próprias emoções e


as das pessoas com quem interagem no dia-a-dia.
Com este tipo de proposta educacional, a escola entende que da mesma
forma que o educando aprende a somar, ler, escrever, conhecer a natureza,
etc., é fundamental para sua vida que conheça a si mesmo e a seus colegas,
que adquira um emocional educado e equilibrado. Assim, a escola possui um
duplo objetivo: preparar o educando para a vida cotidiana em sociedade, apto
para a resolução dos conflitos vindouros, e por outro lado, também não deve
fragmentar as dimensões cognitivas e afetivas no trabalho com as disciplinas
curriculares.
É preciso salientar também a importância da Educação Infantil como
sendo o princípio da vida escolar e social de uma criança. Há muito tempo já
deixou de ser um “depósito” onde as crianças são deixadas para os pais
trabalharem, ou um lugar aonde elas vão apenas para brincarem, se divertirem
e se distraírem. Educação Infantil é coisa séria e precisa ser valorizada e muito
bem planejada.
A educação de crianças até cinco anos requer atenção em dobro porque
elas são ainda muito pequeninas e dependentes, e cabe ao profissional de
Educação Infantil oferecer o devido equilíbrio em educar e cuidar. Este deve
apresentar manifestações de afetividade à criança a todo instante, para que ela
se sinta bem, segura e capaz, pois só assim o processo de ensino-
aprendizagem será produtivo e eficaz. A afetividade e a aprendizagem “andam
de mãos dadas”.
Diante de tudo isto, percebe-se uma nova e difícil tarefa ao educador,
que deve buscar novas teorias e abrir mão das verdades há muito
estabelecidas em sua mente a respeito das emoções e tudo o que envolve a
afetividade. Todos os educadores, sejam pais, professores ou outros
responsáveis, devem se preocupar mais com a educação afetiva das crianças,
pois o afeto estimula a aprendizagem. Trata-se de um desafio não só para o
professor, mas sim para a educação brasileira em sua totalidade, buscando-se
o combate ao “analfabetismo emocional” na sociedade contemporânea.
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