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Motricidade © Edições Desafio Singular

2018, vol. 14, n. S1, pp. 254-262 SINErGIA II

Esporte Paralímpico e possíveis fatores determinantes do


desempenho esportivo: estudo de caso
Paralympic sport and possible determinants of sports performance: a case
study
Rafaela Bertoldi1*, Tuany D. Begossi1, Beatriz D. Schmitt1, Janice Z. Mazo1
ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

RESUMO
O estudo objetivou investigar os fatores que podem determinar o desempenho esportivo de uma atleta
brasileira da modalidade de remo paralímpico. Esta pesquisa caracteriza-se como uma investivação
qualitativa de caráter descritivo do tipo estudo de caso. Para tanto, utilizou-se uma entrevista
semiestruturada, posteriormente analisada quanto ao conteúdo. A entrevista foi transcrita literalmente e o
material submetido à análise qualitativa de conteúdo. Os resultados evidenciam a presença de diferentes
fatores que podem determinar o desempenho esportivo de uma atleta paralímpica, tais como: iniciação
esportiva, motivação à prática do remo, treinamento físico, preparação psicológica e o relacionamento com
a equipe. Conclui-se que, determinados fatores podem contribuirem para o desenvolvimento esportivo de
uma atleta paralímpica de alto rendimento.
Palavras-chave: esporte paralímpico, remo, psicologia do esporte.

ABSTRACT
The study aimed to investigate the factors that can determine the sporting performance of a Brazilian athlete
of the paralympic rowing modality. This research is characterized as a qualitative characterization of
descriptive character of the case study type. For that, a semi-structured interview was used, later analyzed
as to the content. The interview was transcribed literally and the material submitted to the qualitative
content analysis. The results evidenced the presence of different factors that can determine the athletic
performance of a paralympic athlete, such as: sports initiation, rowing motivation, physical training, mental
preparation and relationship with the team. It is concluded that, certain factors may contribute to the
athletic development of a high-performance Paralympic athlete.
Keywords: paralympic sport, rowing, sport psychology.

INTRODUÇÃO Matos, Cruz & Almeida, 2011; Weinberg &


O esporte paralímpico (EP) contempla um Gould, 2008).
conjunto de modalidades esportivas que integram Atualmente, no contexto esportivo
o programa dos Jogos Paralímpicos (JP) paralímpico, onde as diferenças entre os atletas
(Borgmann & Almeida, 2015; Goodwin et al. são cada vez mais reduzidas no que concerne à
2009; Marques et al., 2009; Marques, Gutierrez & preparação física, técnica e tática, os aspectos
Almeida, 2012; Silva et al., 2013). Tanto no psicológicos mostram-se fundamentais na busca
âmbito nacional como internacional o EP tem por melhores resultados esportivos. Isto se
agregado muitos atletas e tem se desenvolvido de sobrevém, principalmente, no esporte de alto
forma expressiva durante as últimas décadas. rendimento, uma vez que, neste campo da prática
Atrelado ao processo de expansão do EP busca-se esportiva, a diferença entre a vitória e a derrota
o desempenho esportivo dos atletas nas mais acontece por milésimos de segundo (Bodas,
diversas modalidades esportivas, incluindo o Lázaro & Fernandes, 2004). O sucesso no esporte
remo paralímpico (Lepore, 2004; Samulski, 2009; decorre, sobretudo, da capacidade do atleta em

1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
* Autor correspondente: Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (ESEFID). Rua Felizardo, n. 750, Jardim
Botânico, Porto Alegre, RS. E-mail: rafaelapsicologia@hotmail.com
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controlar os fatores associados ao seu resultados desse estudo não podem ser
desempenho e, assim competir em seu melhor generalizados.
nível, potencializando e explorando ao máximo as
suas capacidades (Bodas, Lázaro, & Fernandes, Participantes
2004). Dentre esses fatores se destacam a Participou deste estudo de caso uma atleta
genética, a dieta, as habilidades e as capacidades brasileira da modalidade paralímpica de remo
físicas, a preparação física, a técnica e a tática, adaptado (classe TA). Na classe TA (grupamento
além dos aspectos psicológicos (Gorla et al., funcional utilizando o tronco e braços) o barco
2017; Miloski et al., 2014; Machado & Teoldo, utilizado é o double skiff, com tripulação mista
2016). (homem e mulher). A referida atleta foi
Dentre as modalidades paralímpicas convidada para fins desse estudo por ter
evidenciamos a prática esportiva do remo participado de três edições de JP: no ano de 2008
paralímpico (Lepore, 2004), a qual fora incluída em Pequim (China) e no ano de 2012 em Londres
no programa dos JP de Pequim, realizados no ano (Inglaterra) e no ano de 2016 no Rio de Janeiro
de 2008. Em razão de sua inserção tardia em JP, a (Brasil). Além disso, é medalhista paralímpica e
competição de remo foi tida durante um longo considerada a melhor atleta brasileira da sua
período como a mais recente a ser disputada modalidade.
(Greguol et al., 2011). Esta modalidade apresenta
desafios específicos a seus adeptos, tais como a Instrumentos e Procedimentos
constante insegurança do barco em meio à água, A coleta de dados deu-se através da realização
a posição corporal adotada no interior do de uma entrevista com a atleta. Para tanto foi
equipamento, além da preparação física elaborado um roteiro semiestruturado,
extenuante. Para além destas características, abordando os seguintes temas: um breve
destacamos a importância dos fatores histórico da vida da participante, seu percurso
psicológicos, físicos, técnicos e sociais associados como atleta, desde a iniciação esportiva até o
ao desempenho do (a) atleta. Diante disso, o momento atual, as experiências esportivas
objetivo do presente estudo é investigar os fatores consideradas mais relevantes para sua formação
que podem determinar o desempenho esportivo como atleta profissional e a sua preparação para
de uma atleta brasileira da modalidade de remo as competições. O roteiro da entrevista foi
paralímpico. submetido a apreciação de pesquisadores mestres
e doutores que integram o grupo de pesquisa de
MÉTODO uma universidade pública brasileira, e a
A pesquisa se caracteriza como uma entrevista foi executada por uma profissional com
investigação qualitativa de caráter descritivo do titulação de doutora.
tipo estudo de caso, desenvolvida por meio da A atleta foi contatada por telefone e a
realização e, ato continuo, transcrição da entrevista individual foi agendada conforme
entrevista com roteiro estruturado. É oportuno disponibilidade da participante. A entrevista foi
salientar que a transcrição da entrevista foi gravada e ocorreu no local de treinamento da
submetida à análise qualitativa de conteúdo atleta, clube de remo, com duração de
(Bardin, 2000). aproximadamente uma hora. A entrevista foi
Acrescenta-se que, o estudo de caso responde transcrita literalmente e o material submetido à
questões de “como” e “por que” sobre análise qualitativa de conteúdo (Bardin, 2000).
acontecimentos contemporâneos, mas sem Em seguida procedeu-se a leitura sucessiva da
manipular comportamentos relevantes, conforme entrevista transcrita, identificando-se passagens
preconiza Yin (2001). Já Gonsalves (2007) revelatórias nos relatos da atleta que eram
complementa que o estudo de caso privilegia um pertinentes ao objetivo da pesquisa, as quais
caso particular analisado de forma minuciosa, foram organizadas em categorias temáticas
considerado o suficiente para analisar o definidas a posteriori.
fenômeno. Devido a essas características, os
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Cabe ressaltar que o presente estudo faz parte Neste sentido, o relato da participante está em
de uma pesquisa mais ampla sobre as memórias consonância com a literatura, visto que, a
do esporte paralímpico no Brasil. Este estudo foi possibilidade de envolvimento em distintas
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da práticas esportivas durante a infância, pode ser
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob importante para a aquisição e desenvolvimento de
o número de protocolo 27331. A participante foi diversas habilidades motoras, as quais,
informada sobre os objetivos do estudo e assinou possivelmente serão utilizadas no cotidiano, seja
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em atividades esportivas de lazer ou de alto
previamente ao início de sua participação, sendo rendimento esportivo (Gallahue & Ozmun,
todos os cuidados éticos observados. 2005). Para além desta questão, o trecho da
entrevista acima destacado nos permite dialogar
RESULTADOS E DISCUSSÃO também com Harter (2012), a qual aponta que
A análise das informações permitiu investigar indivíduos que adquirem uma boa base motora
os fatores que podem determinar o desempenho durante a infância e adolescência conseguem
esportivo de uma atleta brasileira da modalidade construir um autoconceito relacionado às práticas
de remo paralímpico em JP. A seguir são esportivas tornando-se, desta forma, mais
apresentados os resultados e a discussão das seguras e preparadas para superar as adversidades
informações dispostas nas referidas categorias. e desafios do esporte e da vida.
Neste sentido, tornou-se notório através do
a) Iniciação Esportiva depoimento oral que, mesmo após o acidente de
A participante relatou que a escola foi o local trânsito que lhe causou a deficiência física,
onde teve a oportunidade de conhecer diferentes permaneceu praticando esportes. Ao contrário
esportes. Desta forma, mencionou como se deu a disso, a participante viu justamente na prática
sua inserção no contexto esportivo, evidenciando esportiva uma nova oportunidade para a
suas distintas experiências: “Eu comecei na construção da percepção da identidade de atleta
escola, com todas as modalidades. Fui atleta de ao invés da identidade de “pessoa deficiente”.
competição de vôlei e de judô até os meus 18 Esta capacidade de adaptação da atleta foi
anos” (Atleta). possível, dentre outros motivos, pela sua
Anos depois, a atleta sofreu um acidente de percepção de competência (Spessato, Gabbard &
trânsito e, após muitas cirurgias e um longo Valentini, 2013). A competência percebida é tida
período de recuperação “busquei continuar em como a capacidade do indivíduo de avaliar suas
alguma atividade física [...]. Quando eu sofri o próprias competências e habilidades nos
acidente [...] a primeira ideia que eu tive foi domínios sociais e motores (Harter, 1999). Desta
natação, porque era o que eu conhecia” (Atleta). forma, sabe-se que baixos níveis de percepção de
Nesse percurso, relata que foi “apresentada para competência podem influenciar negativamente na
o remo e, como eu sou filha de pescador, criada prática esportiva, enquanto que altos níveis de
no mar, surfava, tinha muito contato com vários percepção podem ser determinantes para o
tipos de embarcação e velejava, eu já sai um passo engajamento em atividades esportivas (Holfelder
na frente (Atleta). Logo, sua aproximação com os & Schott, 2014).
esportes ocorreu desde a infância. Contudo,
começou a praticar a modalidade de remo b) Motivação à Prática do Remo
paralímpico após a aquisição da deficiência física, Durante seu depoimento oral, a participante
especificamente no ano de 2006. E segue mencionou que nas primeiras experiências em
praticando a modalidade esportiva até a competições, já conseguiu atingir resultados na
atualidade, tendo participado dos JP de Pequim modalidade, servindo como motivação. Desta
(China), Londres (Inglaterra) e Rio de Janeiro forma, para além da afinidade com a modalidade,
(Brasil) nos anos 2008, 2012 e 2016 a atleta fez de suas conquistas iniciais um
respectivamente. estímulo positivo para dedicar-se ainda mais aos
treinamentos e, consequentemente, à busca por
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melhores resultados, conforme indica o trecho do do remo adaptado. Neste sentido, Magill (2011)
depoimento:. explica que a motivação determina as causas de
um comportamento. Para Samulski e Samulski &
“Em março de 2006 [...] acabei sendo Noce (2002), a motivação consiste na totalidade
apresentada para o remo e foi paixão à de fatores que determinam a atualização de
primeira vista. O técnico quando eu cheguei formas de comportamento dirigidas a um
me apresentou e eu fui dar as primeiras
determinado objetivo. Ainda, a motivação se
remadas. Foi muito fácil para mim. Em
refere a um estado emocional que desperta
menos de uma semana eu já estava remando
na água, enquanto que, algumas pessoas
interesse ou desinteresse e pode ser intrínseca
levam meses ou um mês para poder estar (resulta da própria vontade do indivíduo) ou
remando sozinhas na água. Então, eu extrínseca (resulta de fatores externos ao
desenvolvi muito rápido” (Atleta). indivíduo).
Por meio da análise dos trechos evidenciados,
Embora com pouco tempo de treinamento, os constatou-se que a atleta está intrinsecamente
resultados da atleta em competições aparecem motivada. Em decorrência desse fator, envolve-se
rapidamente, em cinco meses após começar a em uma atividade para sentir-se eficiente e
dedicar-se ao remo adaptado já participou de uma competente, ou mesmo pelo prazer e pela
competição internacional. Sua primeira satisfação do processo de conhecimento da
participação em campeonatos ocorreu em 2006 e modalidade (Ryan & Deci, 2000). Desta forma,
obteve o oitavo lugar, na Inglaterra. No ano ressalta-se que comportamentos intrinsecamente
seguinte, consagrou-se campeã mundial motivados estão associados com o bem estar
juntamente com outro atleta, no Campeonato psicológico, interesse, alegria e/ou a disposições
Mundial de Remo Paralímpico realizado na à tarefa.
Alemanha. Na ocasião conquistou a classificação Salienta-se que pessoas altamente motivadas
para os JP de Pequim, realizados no ano de 2008. apresentam maior dedicação à tarefa e disposição
Desde os JP de 2008, onde foi medalhista de para praticá-la por mais tempo (Schimdt &
bronze, as conquistas se sucederam. Durante sua Wrisberg, 2001). Boas, Bim, e Barian (2003)
entrevista a atleta mencionou cada uma delas: em acrescentam que pessoas com deficiência
2009 foi vice-campeã na Polônia; em 2010 obteve possuem variadas motivações, as quais podem
o quarto lugar no Campeonato Mundial da Nova estar relacionadas a fatores intrínsecos ou
Zelândia; em 2012 o oitavo lugar nas extrínsecos. Outro aspecto que deve ser
Paralimpíadas de Londres; em 2014, medalha de mencionado é o fato de que a motivação
bronze, no Campeonato Mundial na Holanda. A intrínseca é significativamente determinante para
sequência de participações em competições a permanência em atividades físicas, conforme
internacionais foi interrompida por lesões em preconizam Ryan e colaboradores (1997), Reed e
2011 e 2013. Todavia, a atleta participou de Cox (2007), Standage, Sebire, e Loney (2008).
outras competições e teve “resultados bem Autores tem subdividido a motivação
importantes, de pódio” (Atleta). intrínseca em três tipos: "para saber", "para
A partir dos trechos supracitados é possível realizar" e "para experiência" (Ryan & Deci,
perceber a inserção da atleta na prática do remo 2000). A motivação intrínseca “para saber”
paralímpico no âmbito do alto rendimento refere-se ao exercício de uma atividade para a
esportivo, no cenário do esporte paralímpico. satisfação, obtida ao mesmo habilidade ou tentar
Essa evidência corrobora com os resultados uma nova tarefa. A motivação intrínseca “para
obtidos no estudo de Brazuna & Mauerberg- realizar” vincula-se ao exercício de uma atividade
deCastro (2001) onde os autores mencionam a para a satisfação, obtida durante a tentativa de
possibilidade de atletas conquistarem status alcançar um novo nível de habilidade ou
internacional no esporte paralímpico, de seis desempenho. A motivação intrínseca “para
meses a dois anos. Além disso, notam-se experiência” exerce uma atividade para a
aspectos relacionados à motivação para a prática apreciação sensorial. Esta motivação, por sua vez,
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é alcançada quando um indivíduo atinge certo relação ao seu preparo físico. Este
grau de proficiência e, como resultado, a atividade acompanhamento detalhado das condições do (a)
proporciona experiências estimulantes positivas, atleta pode auxiliar na melhora dos níveis de
incluindo diversão e emoção (Vallerand & Losier, desempenho na modalidade e, sobretudo, na
1999). Atletas com deficiência física, como é o prevenção de lesões.
caso da atleta entrevistada nesta pesquisa, O equilíbrio com relação ao treinamento físico
tendem a relatar e a apresentar altos níveis de também foi destacado em depoimento pela atleta.
motivação intrínseca (Banack et al., 2011). Sendo Desta forma, ressalta-se corroborando com a
assim, é possível perceber que o sentimento de literatura, que o equilíbrio entre o volume e a
competência e de valorização despertados por intensidade de treinamento, deve considerar o
meio do desempenho esportivo e do princípio da individualidade de cada atleta (Silva,
reconhecimento são aspectos altamente Vital, & Mello, 2016). De tal modo, dentre as
motivadores. No caso da atleta entrevistada a especificidades ratificadas, podemos destacar os
motivação para a prática, de maneira geral, marcadores psicológicos, os quais podem ser
permanece presente desde sua inserção no obtidos através do monitoramento de sinais que
esporte paralímpico em meados de 2006, até os o atleta apresenta, tais como as variações de
JP do Rio de Janeiro em 2016. humor (Boarretto, 2015). Alterações no
temperamento do atleta, por exemplo, estão
c) Treinamento Físico frequentemente relacionados a marcadores
No decorrer do depoimento da participante, a fisiológicos e bioquímicos, ou seja, se as cargas de
questão do treinamento físico foi bastante treinamento juntamente com as respostas de
enfatizada. “O treinamento físico machuca muito. humor forem monitoradas, tornam-se
Nós saímos com a mão muito machucada, como mecanismos de prevenção potencial de lesões
se fosse uma atleta de argola da ginástica, porque (Greguol, 2011).
saímos, realmente, com a mão rasgada, e tem que Nesta direção, a preparação psicológica é tida
cuidar muito a postura” (Atleta). Em razão desta como de extrema importância para o
característica, a atleta relatou que, por diversas desenvolvimento do atleta, especialmente no caso
vezes, ao final de uma sessão de treinamento, do presente estudo, uma vez que, o EP brasileiro
suas mãos estavam muito feridas. Além disso, vem se destacando em âmbito mundial nos
comentou que o treinamento “dá muito problema últimos anos (Marques et al., 2013). Desta forma,
nas costas, lombar, ombros”. (Atleta). Dentre a compreensão das variáveis psicológicas dos
outras especificidades mencionadas, destacamos atletas, juntamente à preparação física
a narrativa com relação aos elevados níveis de propriamente dita, pode ser fundamental para
intensidade e força durante os treinamentos do que treinadores e demais profissionais se atentem
remo paralímpico. “Tem que cuidar muito, fazer e, especialmente, utilizem os dados coletados
uma preparação física com muito peso, muita como forma de motivar seus atletas rumo ao
carga e força, para quando você for para água não alcance de resultados positives (Greguol, 2011).
se machucar e não ter uma lesão, uma tendinite, Diante do exposto, tornou-se perceptível que
algo assim, mais complicado” (Atleta). as variáveis do treinamento de alto rendimento de
Através da análise do trecho destacado acima uma atleta paralímpico estão intrinsecamente
podemos aferir que a atleta, mais que vivenciar o articuladas. Assim, o (a) atleta, após a inserção
treinamento físico da modalidade de remo no esporte de alto rendimento precisa aprender a
paralímpico, parece ter conhecimento sobre os lidar com um novo estilo de vida marcado, na
cuidados necessários, os quais são intrínsecos a maioria das vezes, por rotinas rigorosas de
ele. Desta forma, em conformidade com Silva, treinamento e competições (Benfica, 2012).
Vital, e Mello (2016), destacamos a importância
de se haver um monitoramento, assim como, d) Preparação Psicológica
avaliações periódicas, por parte dos profissionais A atleta entrevistada mencionou que um dos
envolvidos com a preparação do atleta, com pontos mais relevantes observados durante o
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treinamento era a preparação psicológica. contribuição de forma sistemática para o


Segundo a atleta, “O trabalho psicológico deve desenvolvimento dos atletas.
existir não só na preparação para alguma
competição, mas também como forma do atleta e) Relacionamento com a Equipe
não se desvincular do foco durante a permanência Dentre os fatores que podem influenciar de
dele no período que antecede uma competição” modo significativo o desempenho de atletas
(Atleta). Estudos evidenciam que a preparação durante o período de preparação e,
psicológica auxilia o atleta a lidar com situações principalmente, durante um evento competitivo,
de estresse durante o tempo de treinamento e de destaca-se o modo como estão estabelecidas as
competição (Rúbio, 2000; Samulski, 2009; relações dentro da equipe esportiva (Carron &
Weinberg & Gould, 2008). Acerca deste aspecto, Brawley, 2000; Valle et al., 2008; Weinberg &
destaca-se o fragmento abaixo, o qual evidencia Gould, 2008). Para Valle e colaboradores (2008,
na narrativa da atleta, o relato sobre um evento p.3), “um grupo não é um mero somatório de
estressor: indivíduos, mas se constituiu como uma nova
identidade, com funcionamento específico,
“Quando você está no último minuto de prova, comportando-se como uma totalidade”. De tal
você já está no anaeróbio há muito tempo, modo, embora o fator individual esteja contido no
então, se tu não tiveres certo controle da força e grupo, esse se apresenta de modo distinto,
da respiração, já começas a ter uma
apresentando uma identificação única, a qual se
“descoordenação” motora. Não são poucos os
relaciona, sobretudo, ao objetivo que une os
casos de pessoas que desmaiam no final de uma
sujeitos.
prova, ou que já passam mal e que tem
indisposição estomacal e outros sintomas assim Em sua narrative, a atleta deu destaque a
[...]. É desesperador mesmo e é para todo especificidades que compreendem o
mundo, não é só para quem chega em primeiro” relacionamento com a equipe. Segundo ela, “o
(Atleta). principal adversário para mim sempre foi a
organização da equipe. O chefe da equipe e, quem
Percebe-se por meio do relato da atleta que a coordena a política para o atleta” (Atleta).
preparação psicológica é fundamental para um Acrescenta ainda que a relação da equipe pode ser
bom desempenho esportivo. O seu depoimento primordial na obtenção de resultados positivos, o
sugere que esse aspecto pode influenciar que corrobora com os achados na literatura
diretamente na obtenção de melhores resultados, (Carron & Brawley, 2000; Valle et al., 2008;
uma vez que para ela, a preparação psicológica se Weinberg & Gould, 2008). Ao tratar deste tema
faz necessária, especialmente, nos segundos durante a entrevista, a atleta recordou-se de uma
finais de uma competição. Aliado a isso, estudos palestra onde o assunto foi debatido e refletiu: “o
ainda evidenciam que o treinamento psicológico meu adversário ele não é o meu inimigo, ele não
pode auxiliar os desportistas a melhorarem seu traz problemas para mim, porque eu não convivo
desempenho, bem como a encontrar os estados com ele diariamente; às vezes, o que traz
psicológicos excelentes para renderem ao problemas é o relacionamento entre os atletas no
máximo suas potencialidades (Bodas, Lázaro & barco” (Atleta, 2015). O relato evidenciado acima
Fernandes, 2004). está relacionado a um episódio ocorrido com a
De acordo com Weinberg e Willians (2006) o atleta durante os JP de Pequim, realizados no ano
treinamento das habilidades psicológicas auxilia de 2008. Conforme explanado pela entrevistada,
o atleta, na busca pelo seu melhor rendimento, na referida competição:
pois integra a formação física e mental para
promover uma excelente prática diante de “Nós tínhamos os melhores tempos. Nós
situações competitivas e de treinamentos. Além éramos os mais fortes, tendo sido comprovado
disso, pode promover “ganhos” de longo prazo, com os nossos tempos, com dados. Mas, em
razão da questão comportamental, questão
assegurando que a cada treino haja uma
cultural de ser um homem, de ser uma mulher,
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a voz passiva e a voz ativa, o ritmo de remada pesquisa, esses possíveis fatores que podem
[...] estes pequenos detalhes é que vão fazendo determinar o rendimento esportivo são: a
a diferença” (Atleta). iniciação esportiva, a motivação à prática do
remo, o treinamento físico, a preparação
Outro aspecto mencionado pela atleta e que psicológica; e o relacionamento com a equipe.
está vinculado à questão do relacionamento com Tais fatores são importantes para o
a equipe diz respeito às lideranças, tanto aquelas desenvolvimento de um (a) atleta paralimpico (a)
exercidas pelos próprios esportistas, como pelos de alto rendimento. A conquista de um
membros da comissão técnica. De acordo com a desempenho esportivo superior é o resultado da
atleta, o chefe da equipe tem um papel conjunção desses fatores que proporcionam
preponderante nisso também, porque, o atleta condições favoráveis para que o atleta
esta ali no meio, precisa de uma orientação, paralímpico possa se aprimonar constantemente
especialmente, a questão técnica, mas também, para a busca de melhores resultados.
na parte de inteligência emocional” (Atleta). De Tendo em vista que a pesquisa foi realizada
modo semelhante, Valle et al. (2008) destacam o com amostra intencional e que envolveu um
quão complexa e, ao mesmo tempo primordial é estudo de caso, os resultados não permitem fazer
a interação entre o técnico e seus atletas. inferências, tampouco generalizações.
A partir do evidenciado por meio da entrevista Entretanto, pela lacuna existente na literatura
da atleta e dos próprios estudos analisados foi sobre o EP e os fatores que influenciam o
possível refletir acerca da coesão de uma equipe desempenho esportivo dos atletas, os resultados
como um fenômeno multidimensional, que inclui encontrados oportunizaram um melhor
ambos os componentes sociais e de tarefas, tanto entendimento acerca da influência de diversos
em nível individual como de equipe (Carron & fatores no desempenho esportivo de uma atleta
Brawley, 2000; Weinberg & Gould, 2008). A paralímpica em particular.
coesão social se refere ao nível em que os Sugere-se que mais estudos sejam realizados
integrantes de uma equipe interagem uns com os envolvendo um maior número de atletas
outros para progredir nas relações interpessoais e paralímpicos e que, além disso, dediquem-se a
satisfazer as demandas de pertencimento social. analisar o sexo, e/ou diferentes grupos etários,
Já a tarefa relaciona-se ao estágio em que os bem como, suas influências em distintas
membros de uma equipe permanecem unidos modalidades esportivas. Tais estudos
para atingir metas associadas ao desempenho contribuiriam de maneira expressiva para a
comum (Carron, Eys, & Burke, 2007). produção do conhecimento, além de
Para além desses pontos foi possível verificar apresentarem diferentes possibilidades de
no depoimento da participante que, o gênero é intervenção o que, por sua vez, acrescentaria e
um moderador da coesão de equipe. Arrow et al. asseguraria a participação efetiva dos atletas no
(2004) evidenciam que, especificamente, homens esporte de alto rendimento.
e mulheres diferem na orientação para a tarefa e
tendem a responder de forma diferente a um
determinado estilo de treinamento. Desta forma, Agradecimentos:
Observatório do Esporte Paralímpico Brasileiro
diferentes respostas podem, potencialmente,
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
levar a uma série de comportamentos e e Tecnológico – CNPq.
percepções entre os sujeitos, que por sua vez,
influenciam o desempenho da equipe.
Conflito de Interesses:
CONCLUSÕES Nada a declarar.
O estudo investigou os fatores que podem
determinar o desempenho esportivo de uma Financiamento:
atleta brasileira da modalidade de remo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq.
paralímpico. E, de acordo com os dados da
Fatores que influenciam no desempenho esportivo paralímpico| 261

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