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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

Luna, Jairo Nogueira


L661l Leitura e produção de texto / Jairo Nogueira Luna. -Recife: UPE/NEAD,
2009.
97 p.: il. – (Letras).

ISBN 978-85-7856-014-0

1. Leitura 2. Produção de texto 3. 4. 5. Educação à distância I. Universidade


de Pernambuco, Núcleo de Educação a Distância II. Título

CDU 82.081
Universidade de Pernambuco - UPE
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NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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Romeu Santos
Susiane Santos
Coordenação de Suporte
Adonis Dutra
Afonso Bione
Prof. Jáuvaro Carneiro Leão

Edição 2009
Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010
Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664
5

Leitura
e
Produção
de Texto
Prof. Dr. Jairo Nogueira Luna
Carga Horária | 15 horas

Apresentação

Nos fascículos desta disciplina, pretende-se promover uma reflexão acerca da


Leitura, até compreendermos que “ler” é muito mais do que simplesmente de-
codificar letras, sílabas, palavras e orações. Buscaremos ligar a habilidade de ler
à capacidade de escrever, de modo que um bom escritor seja, antes de tudo, um
bom leitor do mundo. Nesse sentido, a disciplina de Leitura e Produção de Texto
pretende apresentar conceitos, exercitar práticas e levar o aluno a ler o mundo,
de modo que, também, possa paulatinamente construir e reconstruir leituras.
Fascículo 1 7

Leitura
e
Produção
de Texto
Prof. Dr. Jairo Nogueira Luna
Carga Horária | 15 horas

Objetivos Específicos
Leitura de texto poético e Leitura de texto em prosa;
Interpretação e relação intertextual do texto;
O paradigma literário: um texto tem sempre “link” para outros textos.

1. A Leitura de Texto Poético e a Intertextualidade

Nesta unidade, leremos um texto poético de Carlos Drummond de Andrade,


perceberemos como o poema faz referência a outro texto, e, em seguida, buscare-
mos compreender por que ocorre essa referência e, por último, em que medida a
compreensão dessa referência intertextual modifica a leitura do poema.

Textos Complementares
mond.com.br
http://www.carlosdrum o
contém entrevista com
– existe um vídeo que
poeta.

sia.jor.br/drumm.html
http://www.jornaldepoe mm ond .
s crít ico s sob re Dru
– contém poesias, artigo
asilei-
/Apostilas/LiteraturaBr Figura 1. Carlos Drummond de Andrade
http://www.jayrus.art.br mond_
sia_de_ 30/ Car los _Dr um
ra/Modernismo30/Poe
de_Andrade_poesia.htm mmond.
gia de poesias de Dru
– do nosso site, antolo
8 Fascículo 1

Texto 1: Infância costurando, o irmão pequeno dormindo e ele, po-


A Abgar Renault eta lembrando sua infância, se vê nesse continuum
temporal, lendo “a história de Robinson Crusoé”.
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo. O café preparado pela “preta velha”, a mãe que
Meu irmão pequeno dormia.
continua cosendo, mas que chama a atenção para
Eu sozinho menino entre mangueiras,
que o poeta, ainda criança, não quebre a harmonia
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais. do lugar ou sua quietude: “Psiu!”. Longe o pai con-
tinua no campo “campeando”.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu Então, Drummond conclui, num tom de saudosis-
chamava para o café. mo, que sua história era mais bonita do que a que
Café preto que nem a preta velha estava lendo, a de Robinson Crusoé.
café gostoso
café bom. Mas, por que ele chega a essa conclusão?
Minha mãe ficava sentada cosendo
Não haverá resposta possível, se o leitor não sou-
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino. ber qual é a história de Robison Crusoé. Esse é
Para o berço onde pousou um mosquito. um texto que exige do leitor um conhecimento
E dava um suspiro...que fundo! prévio de outro texto, de modo que então se pos-
sa compartilhar da conclusão final do poema, ou
Lá longe meu pai campeava refutá-la, se for o caso.
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história


era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
SAIBA MAIS!
lhar
Andrade soube traba
Carlos Drummond de rte in-
de infância como pa
suas reminiscências ran do no
a. Uma vez mo
tegrante de sua poesi as de Ita bir a tor -
lembranç
Rio de Janeiro, suas ite dis cu tir as pe c-
que pe rm
naram-se um tema nças
un ive rsa is do ho mem, como as lembra
tos tal , sa ud ad es
da terra na
da infância, saudades Dr um mo nd tra tou
s qu e
de familiares, aspecto s de
sen so crí tico e ag udeza, característica
com lei a ou tro po-
sse sentido,
Figura 2. ITABIRA: Rua de Itabira-MG, um grande poeta. Ne tem a, pro cu ran -
acerca do
cidade em que Carlos Drummond de ema de Drummond bo s:
diferenças entre am
Andrade passou sua infância. do as semelhanças e

Texto Complementar
a (Drum- Confidência do Itabirano
partes de Claro Enigm
Análise da Estrutura das
rnando Pes soa )
mond) e Mensagem (Fe sinade- Alguns anos vivi em Itabira
Jay ro Lun a – disponível em www.u
Por : Prof. Dr. Principalmente, nasci em Itabira.
letras.com.br Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calças.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
O Poema, no estilo modernista, em versos livres
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
(sem métrica) e sem esquemas de rimas (verso bran- comunicação.
co), traz um conjunto de lembranças da “infância”
do poeta, trabalhadas num processo criativo de A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
apreensão da realidade. O modo como o poeta se vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres
coloca no espaço familiar (pai, mãe, irmão), cada e sem horizontes.
um deles praticando uma ação eternizada no tem- E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
po pela lembrança: o pai andando a cavalo, a mãe É doce herança itabirana.
Fascículo 1 9

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:


este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de
Textos Complementares
/versao_1/cruso e/index.html
visitas; http://www.ufrgs.br/proin
livro de Defoe.
este orgulho, esta cabeça baixa... - contém trechos do
Tive ouro, tive gado, tive fazendas. in-
fantis/rob
ra.com.br/freebook/in
Hoje sou funcionário público. http://virtualbooks.ter
Itabira é apenas uma fotografia na parede. son_crusoe.htm
pleto.
Mas como dói! - existe o livro virtual com
(Carlos Drummond de Andrade)

Atividade Crítica/Reflexiva | Por que a Intertextualidade


vida no campo, de uma forma pacata, como a
descrita por Drummond em seu poema, pode Acontece quando há uma referência explícita ou
ser mais bonita que a aventura do náufrago implícita de um texto em outro. Também pode
Robinson Crusoé? Qual o sentido de beleza ocorrer com outras formas além do texto, música,
usado por Drummond? Use o FÓRUM TE- pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra
MÁTICO para debater essas questões! fizer alusão à outra, ocorre a intertextualidade.

Apresenta-se explicitamente, quando o autor infor-


ma o objeto de sua citação. Num texto científico,
2. Buscando entender a História de
por exemplo, o autor do texto citado é indicado; já
Robinson Crusoé a Partir de na forma implícita, a indicação é oculta. Por isso, é
Drummond importante para o leitor o conhecimento de mun-
do, um saber prévio, para reconhecer e identificar
Neste tópico, leremos sobre o romance de Da- quando há um diálogo entre os textos. A inter-
niel Defoe, em nossa viagem intertextual, como textualidade pode ocorrer, afirmando as mesmas
um link literário, em que a partir do poema de ideias da obra citada ou contestando-as. Há duas
Drummond, entramos em outro contexto, outra formas: a Paráfrase e a Paródia.
história. Ao voltarmos para a releitura do texto de
Drummond (Infância), teremos condições de dis- Paráfrase
cutir se o poeta cria uma relação de paródia ou de
paráfrase com a história de Robinson Crusoé. Na paráfrase, as palavras são mudadas, porém a
ideia do texto é confirmada pelo novo texto; a alu-
são ocorre para atualizar, reafirmar os sentidos ou
alguns sentidos do texto citado. É dizer, com ou-
tras palavras, o que já foi dito. Temos um exemplo
citado por Affonso Romano Sant’Anna em seu
livro “Paródia, paráfrase & Cia” (p. 23):

Texto Original

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.

(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).

Figura 3. ROBINSON_CRU-
SOÉ IMAGEM: Ilustração de Paráfrase
uma das edições do livro de
Daniel Defoe, A Vida e as Estra-
nhas Aventuras de Robinson Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Crusoé Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
10 Fascículo 1

Eu tão esquecido de minha terra... O nome Palmares, escrito com letra minúscu-
Ai terra que tem palmeiras la, substitui a palavra palmeiras; há um contexto
Onde canta o sabiá! histórico, social e racial neste texto. Palmares é o
quilombo liderado por
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”). Zumbi, foi dizimado em
1695. Há uma inversão
Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, do sentido do texto pri-
é muito utilizado como exemplo de paráfrase e de mitivo que foi substituí-
paródia; aqui o poeta Carlos Drummond de An- do pela crítica à escravi-
drade retoma o texto primitivo, conservando suas dão existente no Brasil.
ideias, não havendo mudança do sentido principal
do texto que é a saudade da terra natal.

Paródia
Figura 4a. Intertextualida-
de – Monalisa: Monalisa de
A paródia é uma forma de contestar ou ridiculari- Leonardo Da Vinci, célebre
zar outros textos; há uma ruptura com as ideologias obra do Renascimento Ita-
liano, ícone de inúmeras
impostas e, por isso, é objeto de interesse para os recriações na arte contem-
estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um porânea e na mídia.
choque de interpretação, a voz do texto original é
retomada para transformar seu sentido, levando o
Figura 4. Intertextualida-
leitor a uma reflexão crítica de suas verdades in- de – Bombril: exemplo de
contestadas anteriormente. Com esse processo, há paródia é a propaganda
uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e que faz referência à obra
prima de Leonardo Da
uma busca pela verdade real, concebida através do Vinci, Mona Lisa.
raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos
fazem uso contínuo dessa arte.
Textos Complementares
Frequentemente os discursos de políticos são abor- mares
wiki/Quilombo_dos_Pal
dados de maneira cômica e contestadora, provo- http://pt.wikipedia.org/
Palmares.
sobre o Quilombo dos
cando risos e também reflexão a respeito da de- - verbete da Wikipédia
magogia praticada pela classe dominante. Com
como elemento de
o mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, O autobiográfico po-
meiro caderno de
agora, uma paródia. vanguarda em pri
Andrade
esia de Oswald de el
gueira Luna – disponív
Texto Original Por: Prof. Dr. Jairo No
.br
em www.usinadeletras.com
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam Intertextualidade
Não gorjeiam como lá.
Por: Ivete Lara Camargos Walty e Maria Zilda Ferrei-
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).
ra Cury (disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/I/
intertextualidade.htm)
Paródia
Nesta unidade, tomamos conhecimento das relações
Minha terra tem palmares de intertextualidade entre textos. Usamos, para isso,
onde gorjeia o mar a leitura de um poema de Carlos Drummond de An-
os passarinhos daqui drade que faz referência ao personagem de Daniel De-
não cantam como os de lá.
foe, Robinson Crusoé. Conhecemos um pouco sobre
(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).
o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade e
um pouco sobre o romancista inglês do século XVIII,
Daniel Defoe. Como se pode notar na constituição da
Fascículo 1 11

própria palavra, intertextualidade significa relação en- 1. No texto 2, lê–se “Robinson Crusoé herda
tretextos. Considerando-se texto, num sentido lato, desta história o mito da solidão”. Neste as-
como um recorte significativo feito no processo inin- pecto, como foi a infância de Drummond?
terrupto de semiose cultural, isto é, na ampla rede de Havia solidão?
significações dos bens culturais, pode-se afirmar que a
intertextualidade é inerente à produção humana. O 2. Ainda, no texto 2, lê -se “O romance sim-
homem sempre lança mão do que já foi feito em seu boliza a luta do homem só contra a nature-
processo de produção simbólica. Falar em autonomia za, a reconstituição dos primeiros rudimen-
de um texto é, a rigor, improcedente, uma vez que ele tos da civilização humana, testemunhada
se caracteriza por ser um “momento” que se privilegia apenas por uma consciência e dependente
entre um início e um final escolhidos. Assim sendo, o de uma energia própria.” Neste aspecto,
texto, como objeto cultural, tem uma existência física como era a organização social da família
que pode ser apontada e delimitada: um filme, um de Drummond? Que elementos do poema
romance, um anúncio, uma música. Entretanto, esses fundamentam sua resposta?
objetos não estão ainda prontos, pois se destinam ao
olhar, à consciência e à recriação dos leitores. Cada 3. Sexta-feira, o companheiro nativo que Cru-
texto constitui uma proposta de significação que soé, náufrago, encontrou na ilha era o ele-
não está inteiramente construída. A significação mento humano que permitia ao herói uma
ocorre no jogo de olhares entre o texto e seu des- atitude de espelhamento (em que medida
tinatário. Este último é um interlocutor ativo no sou diferente do outro?) e de dominação
processo de significação, na medida em que par- (o europeu colonizador sobre o nativo co-
ticipa do jogo intertextual tanto quanto o autor. lonizado). Nesse aspecto, que elemento
A intertextualidade acontece tanto na produção familiar de Drummond permite uma com-
como na recepção da grande rede cultural, de que paração com a questão da dominação e da
todos participam. Filmes que retomam filmes, qua- colonização?
dros que dialogam com outros, propagandas que
se utilizam do discurso artístico, poemas escritos 4. No poema de Drummond, a leitura da obra
com versos alheios, romances que se apropriam de de Daniel Defoe teve um impacto sobre a
formas musicais, tudo isso são textos em diálogo consciência do leitor? E essa leitura, poste-
com outros textos: intertextualidade. riormente, permitiu ao poeta compreender a
realidade em que ele vivia? Comente.

SAIBA MAIS!
3. A Compreensão na Leitura
Atividade Crítica/Refl
exiva

al
RUM TEMÁTICO, qu Segundo Mary A. Kato, para que uma leitura se
Agora discuta, no FÓ s
a da importância da efetive como processo de comunicação e de aqui-
sua opinião acerc
para a compreensão sição e desenvolvimento de conhecimento, é pre-
relações intertextuais a
modo, parece que ciso considerar alguns fatores, como: a) o grau de
da leitura. De certo o as
tor ir descobri nd
necessidade de o lei um
maturidade do leitor, b) o nível de complexidade
is também implica
relações intertextua e
do texto, c) o objetivo da leitura, d) o grau de co-
e demanda pesquisa
esforço de leitura qu a?
nhecimento prévio do assunto trato, e) do estilo
nto. Você co nc ord
busca do conhecime individual do leitor. Nesses tópicos, discutiremos
esses aspectos com vistas ao entendimento do pro-
cesso de leitura.
Atividades de Leitura | Agora que você
leu os dois textos, pode traçar uma relação en- O processo de Comunicação ocorre quando o
tre ambos, em busca de melhor compreender emissor (ou codificador) emite uma mensagem (ou
porque Drummond conclui que sua infância sinal) ao receptor (ou decodificador) por meio de
foi mais bonita do que a história de Robinson de um canal (ou meio). O receptor interpretará a
Crusoé. Na busca dessa compreensão, é que mensagem que pode ter chegado até ele com al-
propomos que resolva as questões a seguir: gum tipo de barreira (ruído, bloqueio, filtragem) e,
12 Fascículo 1

a partir daí, dará o feedback ou resposta, comple- Linguagem não-verbal: as pessoas não se comuni-
tando o processo de comunicação. cam apenas por palavras. Os movimentos faciais
e corporais, os gestos, os olhares, a entoação são
também importantes: são os elementos não-verbais
da comunicação.

Os significados de determinados gestos e compor-


tamentos variam muito de uma cultura para outra
e de época para época.

A comunicação verbal é plenamente voluntária; o


comportamento não-verbal pode ser uma reação
Figura 5. leitura: observe o personagem involuntária ou um ato comunicativo propositado.
de Ziraldo, o Menino Maluquinho, sen-
tado numa poltrona de cinema, comen-
do pipoca e lendo o livro. O desenho
Alguns psicólogos (e.g. Armindo Freitas-Maga-
faz, então, uma analogia entre o ato de lhães, 2007) afirmam que os sinais não-verbais
ler e o de assistir a um filme. têm as funções específicas de regular e encadear as
interações sociais e de expressar emoções e atitudes
interpessoais.
Textos Complementares
lo, Ática,
da Informação. São Pau • expressão facial: não é fácil avaliar as emoções
EPSTEIN, Isaac. Teoria
2004. de alguém apenas a partir da sua expressão
cao fisionômica. Por vezes, os rostos transmitem
/wiki/Teoria_da_informa
http://pt.wikipedia.org espontaneamente os sentimentos, mas muitas
.
- verbete da Wikipédia pessoas tentam inibir a expressão emocional.
/teoriain-
anosso.nom.br/retorica
http://www.radames.m
• movimento dos olhos: desempenha um pa-
formacao.htm rmação.
ectos da teoria da info pel muito importante na comunicação. Um
- texto que discute asp
olhar fixo pode ser entendido como prova de
interesse, mas noutro contexto pode significar
O processo de Comunicação engloba ações e ameaça, provocação.
elementos abaixo discriminados. Desviar os olhos quando o emissor fala é uma
atitude que tanto pode transmitir a ideia de
Elementos da Comunicação: submissão como a de desinteresse.

• Codificar: transformar, num código conheci- • movimentos da cabeça: tendem a reforçar e


do, a intenção da comunicação ou elaborar sincronizar a emissão de mensagens.
um sistema de signos;
• postura e movimentos do corpo: os movi-
• Decodificar: decifrar a mensagem, opera- mentos corporais podem fornecer pistas mais
ção que depende do repertório (conjunto seguras do que a expressão facial para se de-
estruturado de informação) de cada pessoa; tectar determinados estados emocionais. Por
ex.: inferiores hierárquicos adotam posturas
• Feedback: corresponde à informação que o atenciosas e mais rígidas do que os seus supe-
emissor consegue obter e pela qual sabe se riores que tendem a mostrar-se descontraídos.
a sua mensagem foi captada pelo receptor.
• comportamentos não-verbais da voz: a entoação
Linguagem verbal: as dificuldades de comunica- (qualidade, velocidade e ritmo da voz) revela-se
ção ocorrem quando as palavras têm graus distin- importante no processo de comunicação. Uma
tos de abstração e variedade de sentido. O signifi- voz calma geralmente transmite mensagens mais
cado das palavras não está nelas mesmas, mas nas claras do que uma voz agitada.
pessoas (no repertório de cada um que lhe permite
decifrar e interpretar as palavras); • a aparência: a aparência de uma pessoa reflete
Fascículo 1 13

normalmente o tipo de imagem que ela gos- Síntese


taria de passar. Por meio de do vestuário,
penteado, maquilagem, apetrechos pesso- Neste tópico, estudamos como o ato de ler envolve
ais, postura, gestos, modo de falar, etc, as um processo de comunicação, que, por sua vez, se
pessoas criam uma projeção de como são liga à Teoria da Informação e que, ainda, a leitura
e de como gostariam de ser tratadas. As re- é um meio pelo qual criamos uma compreensão
lações interpessoais serão menos tensas, se a do mundo. Nesse sentido, a pedagogia, a aprendi-
pessoa fornecer aos outros a sua projeção parti- zagem do processo de leitura e a psicologia estão
cular e se os outros respeitarem essa projeção. ligadas no estudo e na análise do mesmo ato, apa-
rentemente simples para quem está acostumado a
Relacionamento Interpessoal ler e é um bom leitor, mas é, em verdade, uma ação
extremamente complexa e abstrata da civilização
• construção da identidade (ERIKSON, 1872). humana, talvez a sua ação mais humana que nos
• implica definir quem a pessoa é, quais são seus diferencie dos demais animais.
valores e qual direção deseja seguir pela vida.
(Fonte: Wikipédia).

SAIBA MAIS!
Obra citada: é
leitura por Elias Thom
Freit as-Maga- A sedutora história da stir qu an do
começa a exi
lhães, A. (2007). Saliba. Um livro só co-
o ab re. – texto em que Saliba
um leitor és da
A Psicologia tido da leitura atrav
menta acerca do sen a, dis po -
das Emoções: ista História Viv
história, artigo da rev
O Fascínio do nível em: to-
s/a_sedutora_his
.br/historiaviva/artigo
Rosto Huma- http://www2.uol.com
no. Porto: Edi- ria_da_leitura.html

ções Universi-
dade Fernando
Pessoa. Atividade Crítica/Reflexiva | Você já pen-
sou que temos diferentes estilos de leitura, isto
Figura 6. Lecture-Renoir: Nes- é, que cada pessoa tem um modo, ou um hábi-
se quadro de Renoir, notemos
como o ato de ler se transforma
to de ler diferente de outra, alguns gostam de
em texto pictórico para o qua- ler ouvindo música, outros no mais absoluto
dro impressionista. silêncio, uns leem com o marca-texto sempre
em mãos, outros ainda leem sem qualquer apa-
rato e em qualquer lugar. Discuta acerca das
necessidades de lugar e tempo para o ato de ler
Textos Complementares no FÓRUM TEMÁTICO da Sala Virtual da
preen-
/wiki/Pedagogia_da_com
http://pt.wikipedia.org Disciplina.
são_existencial
a
comenta acerca de um
- texto da Wikipédia que
ensão existencial.
pedagogia da compre
4. A Leitura Através da História
/2008/01/compre-
http://dererummundi.blogspot.com
enso-na-leitura.html Sempre se leu da mesma forma que o homem
contemporâneo lê hoje?
Este post escrito por João Boavida, Professor da
Os egípcios, por exemplo, usavam os hieróglifos.
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
Neste tópico, discutiremos diferentes processos
da Universidade de Coimbra, e publicado no
de leitura, ligados diretamente ao modo como a
Diário AS BEIRAS em 20/11/07 vem muito a
escrita se desenvolveu. Já notou como as línguas
propósito da recente polêmica sobre o ensino da
orientais têm um processo de escrita e de leitura
língua portuguesa do ensino básico, que, em bre-
completamente diferente do nosso, fundamentado
ve, será discutido na Assembleia da República.
nos ideogramas? E alguns povos que leem em sen-
14 Fascículo 1

tido inverso da linha ao nosso. Pois, então, neste desenrolado e lido, a utilização das duas mãos; o
tópico, discutiremos esses aspectos. Códex depositado em uma mesa pode ser lido sem
o auxílio das mãos, liberando-as para o exercício de
anotações. As mudanças, como se vê, eram signifi-
cativas: tornava-se possível a redução dos custos de
fabricação e, ao mesmo tempo em que se facilitava
a leitura, concedia-se ao leitor a oportunidade de
anotar, comparar e criticar o texto lido.

Com o Códex, criou-se a tipologia formal, abrindo


caminho para toda a padronização de formatos as-
sociada a gêneros e tipos de livro, normatização da
qual são herdeiras as formas atuais de editoração.

Nestes 18 séculos que nos separam da passagem


do Vólumen ao Códex, outras transformações
Figura 7. Leitura Hieroglífica: observe a es- significativas ocorreram no âmbito do livro e da
crita em sentido vertical e a utilização icô- leitura. A partir do século XIV, os impressores
nica (imagens) para compor a escrita nos passaram a se responsabilizar por todas as marcas,
hieróglifos egípcios antigos.
títulos, capítulos e cabeças de páginas, eliminando
a intervenção direta do corretor ou possuidor do li-
vro. A separação entre as palavras, o estabelecimen-
to de parágrafos, a numeração de capítulos, dentre
Textos Complementares outros, são adventos que irão interferir diretamen-
om.br/ideochineses.htm
http://www.joia-e-arte.c te na leitura e que tomarão possível a proliferação
uns ide-
rca do significado de alg
- texto que comenta ace de um leitor silencioso, que se vale apenas do olhar
abstratos.
ogramas de conceitos para apropriar-se do texto. Todo o aparato da lei-
tura que na Antiguidade era predominantemente
storiada-
a.com/ar tesliteratura/hi
http://www.suapesquis um ato sonoro e coletivo (voz alta) transforma-se
escrita.htm em um ato solitário.
História da Escrita.
- breve texto acerca da
O leitor silencioso, em geral, confunde-se com o
leitor extensivo, qual seja, aquele que tem, à sua
disposição, um número muito grande de títulos
A Evolução do Livro e da Leitura para se apropriar, comparar e fundar a partir de
seus comentários e novos textos. É o oposto do
O livro, como nós conhecemos hoje, surgiu no leitor intensivo, predominante em toda a Idade
Ocidente por volta do Século II D.C., fruto de Média, ou seja, um leitor que dispõe, apenas, de
uma revolução que representou a substituição do um pequeno número de livros e que faz da leitura
Vólumen pelo Códex, ou da forma de organizar desses textos um ato sagrado.
em rolos para a forma atual composta por cadernos
reunidos. Essa mudança não ocorreu de súbito, e O advento da imprensa de tipos móveis criou
as primeiras a aderirem foram as comunidades condições para que o leitor silencioso proliferasse
cristãs ainda no Século II. O mundo greco-romano por toda a Europa; uma verdadeira cultura letrada
relutará em assumi-lo. Só por volta do século V é desenvolveu-se, à medida que os originais se mul-
que haverá tanto Códex quanto rolos. tiplicavam e que a oferta de títulos aumentava ver-
tiginosamente. Enquanto a leitura em voz alta per-
Várias eram as vantagens da nova forma de supor- manecia forte nos meios populares, dedicando-se
te: a utilização dos dois lados do suporte, a reunião a um pequeno número de obras, em geral, roman-
de um número maior de textos em um único volu- ces, contos populares e poemas, a leitura com os
me, absorvendo o conteúdo de diversos rolos, a in- olhos se dedicava à mais ampla gama de assuntos,
dexação permitida pela paginação, a facilidade de em especial os científicos e filosóficos. Era, portan-
leitura; enquanto que o Vólumen exigia, para ser to, praticada por um seleto grupo de leitores.
Fascículo 1 15

No século XXI, proliferaram dezenas de novos mo- vencionais, inscritos na parte inferior da última
delos de suporte para leitura. Desta vez, tinha-se página e repetidos na página seguinte. O termo
a impressão de que voltaríamos ao passado. Sim, codex aureus designa um volume com letras dou-
porque o texto estava mais uma vez rolando em radas, gravadas em folhas pigmentadas com um
algo, desta vez, não através do Vólumen, mas pelo corante púrpura, o murex. Os espécimes existentes
Écran (tela do computador) e com a ajuda da barra datam dos séculos VIII e IX. No século XI, passou-
de rolagem. O texto eletrônico permite, de alguma se a marcar a continuidade dos cadernos, escreven-
forma, que possamos ler num suporte muito próxi- do, no fim da última página, a primeira palavra do
mo ao modelo do caderno, em termos de tamanho caderno seguinte. No século XIII, quase todos os
e peso, porém como se fosse em rolos. O Vólumen códices eram assinalados dessa forma, e, no século
levava os pensamentos ali escritos em uma unida- XVI, a prática se generalizou.
de. O caderno, tão moderno e tão sofisticado em
si, leva folhas presas, grampeadas ou costuradas. A partir do século XII, quando surgiram as univer-
sidades, e o pensamento ocidental experimentou
Da evolução do Vólumen ao Écran, passamos pelo uma completa renovação, a demanda de códices se
Códex e chegamos aos eBooks. multiplicou extraordinariamente e desenvolveu-se
uma nova indústria, que pouco devia à da época
Fonte: Revista Editor - trechos do artigo “O Livro Digital” romana. As cidades universitárias acolhiam todos
por José de Mello Jr. ANO 2 - Nº 8 - Fevereiro/Março 2000 os que participavam da fabricação dos livros, desde
copistas e encadernadores até comerciantes.

Embora as técnicas empregadas no século XII não


diferissem das antigas, os novos artesãos do livro,
agora reunidos em grêmios, rivalizavam entre si,
na excelência de seus trabalhos e formavam escolas
ligadas a alguma universidade ou país. As universi-
dades, por sua vez, não permitiam a circulação de
cópias de má qualidade e, em seus esforços para
proteger a pureza e a exatidão dos textos, obriga-
vam os stationarii, ou comerciantes de livros, a te-
rem exemplaria ou cópias-mestras autorizadas, das
Figura 8. escrita cuneiforme: observe a
quais não podiam se desfazer.
escrita cuneiforme dos assírios e babilô-
nios. Era assim chamada por utilizarem Nessa época e antes da invenção da imprensa, os
cunhas ou estiletes para sulcar as tabui-
nhas de argila com que escreviam. leitores podiam prover-se de livros, comprando-os
diretamente, nos stationarii ou encomendando-os
a um scriptor ou copista. Estes costumavam alugar
No Império Romano, desenvolveu-se uma inci- os cadernos aos livreiros, com preços determina-
piente indústria livreira. Os editores repartiam o dos pela universidade. O sistema de cadernos per-
papiro entre os librarii e os copistas, para os quais mitia que vários copistas trabalhassem na mesma
o texto era ditado. Depois de corrigidos por revi- obra, simultaneamente. Às universidades também
sores, os textos eram encadernados. Tornou-se in- se reservava o direito de inspecionar as exemplarias
tenso o comércio de rolos e códices nas chamadas em poder dos livreiros.
tabernae librariae.
Além desses livros de texto, que tinham certa difu-
Cedo, os primeiros mosteiros cristãos acolheram, são, no fim da Idade Média, as igrejas e os grandes
em sua estrutura, frades encarregados de prepa- magnatas costumavam encomendar a confecção de
rar as tintas e os pergaminhos, enquanto outros, luxuosos códices de grande valor artístico. Esses li-
chamados scriptores, copiavam os textos na sala vros já não eram realizados por copistas, mas sim,
conhecida como scriptorium. por calígrafos e ilustradores muito especializados.

Idade Média. A partir do século VII, passou-se a Foi também frequente a redação de códices sobre
assinalar o fim do caderno por meio de sinais con- pergaminhos anteriormente escritos e depois ras-
16 Fascículo 1

pados e apagados, os palimpsestos, que prolifera- Atividade Crítica/Reflexiva | Você já ob-


ram sobretudo nos séculos VII e VIII, devido à fal- servou os Ideogramas japoneses e chineses?
ta de pergaminhos virgens. Entre os palimpsestos Eles aparecem em capas de alguns cadernos,
mais famosos, destaca-se o da Biblioteca Vaticana como elemento figurativo, em xícaras, camise-
que contém o Da Republica, de Cícero. tas, toalhas. Já pensou no efeito plástico, isto é,
de figura que esses Ideogramas contêm. Discuta
A invenção da imprensa e o desenvolvimento do papel acerca do sentido figurativo, plástico das letras
como suporte para a escrita multiplicaram as possibili- no FÓRUM TEMÁTICO da Sala Virtual da
dades da edição de livros e acarretaram a decadência Disciplina.
dos códices. Durante o Renascimento, os estudiosos
do classicismo puseram, em moda, os códices escritos
com a chamada littera antiqua, muito apreciados pelos 5. Como Ler um Poema
colecionadores.
Modernista?
Fonte: http://www.ebookcult.com.br/ebookzine/codex.htm
Nova Enciclopédia Barsa Edição 2000 - ©Encyclopaedia Britannica do Análise Estrutural Formalista de Alguns
Brasil Ltda.
Poemas do Modernismo Brasileiro

O Modernismo brasileiro tem sido considerado


Textos Complementares
um momento de radicalidade em experimentação
/wiki/Códice
http://pt.wikipedia.org poética na literatura brasileira, como também tem
diferentes
a, com link para os
- verbete da Wikipédi sido visto como um momento de destruição, de
a.
códices da Paleografi nihilismo em relação aos padrões clássicos e par-
nasianos da literatura do século XIX.
/wiki/Paleografia
http://pt.wikipedia.org
acerca da Paleografia.
- verbete da Wikipédia

Neste tópico, apresentamos textos acerca das dife-


rentes formas de ler e escrever, tanto as formas anti-
gas quanto as contemporâneas, isto é, ainda em uso.
Mostramos os aspectos definidores do processo de
leitura, enquanto técnica ligada à forma de escrita.

SAIBA MAIS!
r/Paleo1.html
http://www.ingers.org.b Figura 9. Semana de 22: na foto, o grupo de Moder-
erca da importância
- Interessante texto ac nistas que organizou a Semana de Arte Moderna de
1992, em São Paulo. Em primeiro plano, agachado,
da Paleografia. s Oswald de Andrade.
erca da evolução da
Traz também link ac
ino.
letras no alfabeto lat
a,
ao que se tem notíci
Santo Agostinho foi, e rec on he ci-
ssoas qu
uma das primeiras pe
tica da leitura silen-
dame nte exe rci a a prá Textos Complementares
de Média e a Antigui-
ciosa. Durante a Ida
ia sempre com a voz, http://pt.wikipedia.org
/wiki/Niilismo
dade, a leitura se faz
Na leitura silenciosa, acerca do Nihilismo
mesmo estando só. - verbete da Wikipédia
a voz interna, mental,
o leitor imagina um
ras num sentido abs- ismo.htm
que articula as palav http://www2.fcsh.unl.p
t/edtl/verbetes/N/nihil
trato, imaginário. rca do significado do Nihilismo.
- Artigo interessante ace
Fascículo 1 17

Como observa Maria Eugênia Boaventura, essa ex-


perimentação radical modernista tinha mais pre-
tensões do que a simples provocação aos valores do Textos Complementares
passado literário: wiki/Cubismo
http://t.wikipedia.org/
Wik ipé dia acerca do Cubismo
- verbete da
Que outra intenção teriam os escritores de vanguarda para
/wiki/Futurismo
praticarem esse tipo de experimentação estética, além do http://pt.wikipedia.org
e da Wik ipé dia acerca do Futurismo.
efeito imediato de inovação e provocação, já assinalados? De - verbet
novo, tem-se uma resposta no conjunto da obra de Michel Bu-
tor, que demonstrou como a noção de literatura - expressão
de propriedade de um indivíduo - vai cedendo lugar à litera-
tura feita por todos e para todos. A abolição da fronteira dis-
A experimentação modernista fundamentava-se
cursiva textual (separação de tipos de discurso, problemas de
propriedade, direitos autorais) deve ser o passo inicial para a
também numa proposta de atualização da lite-
concretização da verdadeira intertextualidade. E a derrubada ratura com as modificações sociais as quais a
de outras barreiras mais amplas que as da literatura está pre- sociedade estava vivenciando desde o final do
liminarmente implicada, como adverte Leila Perrone-Moisés. império:
(BOAVENTURA: 1985, p. 132-133).
O Modernismo ressuscitou o texto com a dicção do povo,
Mário da Silva Brito também comenta acerca da na- abalando uma sintaxe, incorporando e modulando um
tureza desse espírito antagônico dos modernistas aos tipo de expressividade; vale dizer - uma dicção que é a
valores da literatura do século XIX: média global da língua geral brasileira. Esta fala-com-
portamento, como resultante de um viver nacional em
formação, é dinâmica no sentido de estar mais voltada
Os escritores moços de São Paulo adotam atitudes de antago- para a mensagem do que para o código. Isto é, no Mo-
nismo ao passado, ao realismo, às escolas romântica, parna- dernismo, a mensagem pressiona o código no sentido de
siana e regionalista e debatem, apoiados numa visão paulista reatualizá-lo constantemente em função das profundas
da realidade brasileira, o tema da formação racial do país. De transformações da vida brasileira (SALLES: 1974, p. 50).
permeio à polêmica propriamente dita, cuidam ainda de di-
vulgar os valores modernos, quer nacionais quer estrangeiros,
oferecendo ao público o conhecimento direto do que seja a
nova estética (BRITO: 1978, p. 215).

Do comentário de Mário da Silva Brito ainda pode-


mos depreender a questão geográfica cultural de que SAIBA MAIS!
o Modernismo de 22 está centralizado em São Paulo, derna de 22, realizada
A Semana de Arte Mo
iro de 1922, no Teatro
a cidade que mais progredia em termos de urbanida- entre 11 e 18 de fevere i-
, contou com a partic
de naquele início de industrialização do país. De sorte Municipal de São Paulo uite-
istas plásticos, arq
que a urbanidade efervescente, requerida pela estética pação de escritores, art
modernista, em razão de suas ligações com o Futu- tos e músicos.
rismo e o Cubismo, se fazia oferecer em São Paulo. renovar o ambiente
Seu objetivo era o de ita
cidade com “a perfe
Veja-se a esse respeito a primeira parte do romance Os artístico e cultural da no sso me io em
e há em
Condenados (Alma) de Oswald de Andrade ou ainda, demonstração do qu
ura, arquitetura, música e literatura sob
escult
o cenário em que se desenvolve a trama de Memórias samente atual”, como
o ponto de vista rigoro ja-
Sentimentais de João Mi- Paulistano a 29 de
informava o Correio
ramar (ainda Oswald) ou neiro de 1922.
a vinda do personagem da
arte brasileira, afina
herói de, Macunaíma A produção de uma sta s da Eu rop a,
ngua rdi
(Mário de Andrade) a São com as tendências va er na cio na l, era
r o ca rát
sem, contudo, perde -
Paulo em busca da mui- pir aç õe s qu e a Se ma
uma das gr an de s as
ar.
raquitã e o seu confronto na tin ha em div ulg
com o gigante Piaimã que
era o industrial Venceslau
Pietro Pietra.
Figura 10. Quadro de Alde-
mir Martins, Macunaíma.
18 Fascículo 1

Atividade Crítica/Reflexiva | A busca


constante da originalidade é um dos tópicos Textos Complementares
comuns da Arte Moderna e da Literatura Mo-
/wiki/Cultura_de_massa
derna, porém, tomando por base o que você http://pt.wikipedia.org
ssa.
acerca da Cultura de Ma
já aprendeu sobre Intertextualidade, em que - verbete da Wikipédia
medida a originalidade pode estar livre ou im- lienacao.
intertexto/jornalismo/a
pregnada de referências aos modelos do pas- http://br.geocities.com/
sado? Apresente sua opinião no FÓRUM TE- htm
a da cultura
visão como mediador
MÁTICO da Sala Virtual da Disciplina. - artigo acerca da tele
de massa.

6. Leitura de Poemas Modernistas Sistematização

Para Haroldo de Campos, a poesia modernista Alguns Processos de Composição


é fruto de uma contradição entre duas classes Poética Modernista
sociais, que, no início do século XX, disputavam
o poder: A musicalidade em Manuel Bandeira
(...) constitui-se num primeiro fator de instabilidade
Já comentamos em outro trabalho a questão da
que, paulatinamente, através do fenômeno da massifica-
ção, desenharia o conflito fundamental ‘entre as massas
forma aparentemente simples de alguns poemas
urbanas, sem estruturação definida e com liderança po- de Manuel Bandeira, um lirismo calcado em um
pulista, e a velha estrutura de poder que controla o Es- ritmo moderno de versos livres, lânguidos, que es-
tado’. Os esforços de atualização da linguagem literária, conde, ao que nos parece, um pensar e uma práxis
levados a cabo pelo Modernismo de 22, acusam, como das formas poéticas fundadas em complexas rela-
uma placa sensível, o configurar-se dessas contradições ções de ritmo, estrato fônico e figuras.
(CAMPOS: 1971, p. 12).
Manuel Bandeira, cuja poesia se iniciou entre lai-
Buscamos agora fazer uma breve, aliás brevíssi- vos de Simbolismo e Parnasianismo, logo se jun-
ma, análise de alguns poucos poemas modernis- tou à rebeldia dos mais jovens, como Mário de
tas, com vistas a demonstrar os elementos estru- Andrade e Oswald de Andrade. Em Libertinagem
turais composicionais que fundamentaram esse (1930), Mário de Andrade aponta em Bandeira a
processo de atualização da linguagem e, por con- ideia de que o poeta atingiu um estado de cristali-
seguinte, de quebra do padrão poético anterior. zação do ritmo poético moderno: “Ritmo de todos
os ângulos, incisivo, em versos espetados, entradas
bruscas, sentimento em lascas, gestos quadra-
dos, nenhuma ondulação” .

Notemos as qualificações usadas para definir


o ritmo de Bandeira: “ângulos, incisivo, espe-
tados, quadrados”, é como se Mário quisesse
nos chamar a atenção para a concretude do
ritmo; ele não fala do ritmo como um senti-
mento vago, subjetivo da sonoridade do poe-
ma, mas, de algo materializado, presente esta-
tística e fisicamente nas palavras dos versos.
Se, por exemplo, analisarmos o poema “Não
Figura 11. Haroldo de Campos em sua bibliocasa (este é mesmo um Sei Dançar”, o primeiro de Libertinagem, já
grande leitor, não?!)
podemos perceber de que fala Mário. O rit-
mo cristalizado em uma nova solução formal,
que não se fundamenta na tradição versificatória
clássica (métrica, acento tônico, etc.) mas, no do-
mínio de construções sintáticas originárias de um
Fascículo 1 19

falar popular cotidiano que inclui repetições, pa- Na última estrofe, as palavras “Ninguém”, “Nem”
ralelismos. e “Não” mantêm o ritmo por meio da articulação
de orações e frases que abrem, findando o poema
O início do poema: com o mote “Eu tomo alegria”, em que o verbo
tomar ressurge com sua força para encerrar o po-
“Uns tomam éter, outros cocaína. ema. Assim “Não sei Dançar” é, de certo modo, a
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. proposição de uma nova dança, um novo ritmo,
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria... que surge em oposição às regras versificatórias tra-
Abaixo Amiel! dicionais, em que o verso livre é mais uma contra-
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.”
dança do que a dança. A pluralidade de ritmos não
é o caos rítmico, mas, a aproximação da linguagem
Os dois primeiros versos nos propõem quatro ora-
poética à riqueza polifônica do falar da língua
ções centradas no verbo “tomar” em que os obje-
portuguesa.
tos (éter, cocaína, tristeza e alegria) criam uma rede
significante baseada num ritmo veloz e musical. A
Em “Poema do Beco” (Estrela da Manhã, 1936), a
oração adversativa do verso seguinte rompe o rit-
síntese rítmica é conseguida com um choque brus-
mo fundado nos versos anteriores; o grito excla-
co, um fim surpreendente num poema de dois ver-
mativo do verso seguinte desordena ainda mais a
sos, de caráter prosódico em que a expressão inter-
musicalidade, criando a surpresa e aumentando a
rogativa “Que importa?”, comum na fala popular,
vocalização do poema; o verso final da estrofe, ini-
é concluída com um verso iniciado em travessão,
ciado com uma conjunção aditiva, retoma o tom
que pela concisão e brevidade nos causa estranha-
do ritmo do terceiro verso.
mento: “-O que eu vejo é o beco”. Assim os termos
do verso anterior ficam ambiguizados, relativizados
Henri Fredéric Amiel, poeta e filósofo suíço do
entre a denotação e a conotação: “Glória”, “baía”,
século XIX, cuja principal obra é um “Diário Ín-
“paisagem”, “linha do horizonte”. Pode-se ver con-
timo”, é o alvo da crítica do modernista Manuel
cretamente a linha do horizonte na mancha das
Bandeira; assim também é criticada Maria
palavras
Bashkirtseff, pintora ucraniana, também
do poema
do século XIX, cujo diário escandalizou um
no papel,
pouco, em razão de suas confissões íntimas,
e o beco é
publicado postumamente.
a interrup-
ção dessa
Na estrofe seguinte, Manuel Bandeira re-
linha no
sume sua biografia, ou seu “diário íntimo”
segundo
em dois versos e busca o ritmo como so-
verso.
lução anarcotizante para a dura realidade:
“Sim, já perdi pai, mãe, irmãos. / Perdi a
saúde também. / É por isso que sinto como
ninguém o ritmo do jazz-band.” O verbo
perder substitui a função ritmo do verbo
Fig12 – Manuel Bandeira, poeta, em sua biblioteca
tomar na estrofe anterior, pela sua recorrên-
cia, pela organização das orações. A quarta
estrofe faz uso do diálogo em tom cotidiano e in-
formal para criar uma nova tensão rítmica: “Mis-
tura muito excelente de chás... / Esta foi açafata...
/ - Não foi arrumadeira. / E está dançando com Texto Complementar
o ex-prefeito municipal: / Tão Brasil!” Em que o verbete da Wi-
/wiki/Métrica_(poesia):
http://pt.wikipedia.org
verso ser fundamenta o ritmo da estrofe ao lado da tagem rítmica
to de metrificação, con
homonímia das palavras “esta”/”está”. O final da kipédia acerca do concei

estrofe (“Tão Brasil!”) servirá ainda para fechar a das sílabas do verso.
sétima estrofe, transformando-se num mote dentro
do poema, assim como o verso “Uns tomam éter,
outros cocaína”.
20 Fascículo 1

Assim, supomos que em Manuel Bandeira, é pos- A trova, para ser bem feita, tem de ter um
sível encontrar não só nesses dois exemplos mas ACHADO.
em vários poemas, essa tensão entre um ritmo Achado é algo diferente, uma surpresa, uma con-
criado da incorporação de construções sintáticas clusão no último verso.
simples, cotidianas, populares a um projeto de Adelmar Tavares diz : “Nem sempre com quatro
atualização do fazer poético. Não é por acaso que versos setissílabos, a gente consegue fazer a trova;
seu texto Itinerário de Pasárgada se nos mostra faz quatro versos, somente”.
como um dos melhores exemplos de definição Ou seja: não é trova, se não houver o achado.
do ritmo poético do verso livre, mostrando como
o Modernismo construiu um novo conjunto de Nota 1 - Comece a trova sempre com letra mai-
procedimentos rítmicos. úscula. A partir do segundo verso, utilize letra
minúscula, ao menos que a pontuação indique o
início de nova frase. Nesse caso, use a maiúscula
SAIBA MAIS! novamente. Aprenda a trovar, fazendo poesia de
qualidade.
Trova e Trovismo
ão iniciada por volta
do Nota 2 - “sílaba poética” é diferente de “sílaba
A trova é uma tradiç nç a. É du ran - gramatical”.
ença, na Fra
século XI d.C. em Pro ssa m a ser
as poesias pa As sílabas poéticas são contadas pelo SOM, pela
te este período que por
de mú sicas, o que perdurou emissão natural da voz.
acompanhadas an esc en tes
o inclusive rem Na contagem dos versos, o número de sílabas poé-
muito tempo, havend Lit era tur a de
ssa famosa
desta tradição em no ste bra sile iro .
ticas é contado somente até a última sílaba tônica.
a no Norde
Cordel, muito conhecid As restantes após a tônica são desprezadas.
meio
m seus trabalhos por
Os repentistas realiza s he pta ssí la- Ex: Hora de acender as lâmpadas.
pre com verso
de trovas, nem sem did a pre sen te
é esta a me
bos, mas geralmente Aqui há 10 sílabas gramaticais:
em seus repentes.
entes
de Cordel e os rep Ho/ra/ de/ a/cen/der/ as/ lâm/pa/das/
Embora a Literatura va s, os tro va-
ísticas de tro
apresentem caracter gru po esp ecí -
em em um Mas há 7 sílabas poéticas:
dores hoje se constitu jul ho , co me -
jo dia 18 de
fico de poetas, em cu r”.
Ho/ra/ de_a/cen/der/ as/ lâm/padas
eta Trovado
mora- se o “Dia do Po “lâm” é a última sílaba tônica do verso, e contamos
somente até ela.

Trova Ex: Veja o mar de Parati.

A trova tradicional é uma composição poética de qua- Aqui são 8 sílabas gramaticais, mas 7 sílabas poé-
tro versos de sete sílabas poéticas cada, em que o 1º ticas.
verso rima com o 3º, e o 2º verso, rima com o 4º.
Ve/ja_o/ mar/ de/ Pa/ra/ti/
Quando você foi embora
pensei que eu fosse morrer! “ti” é a última sílaba tônica do verso; contamos
Aprendi em boa hora: até ela.
nem todo amor faz viver! (Kathleen Lessa)
Ex:
Encontram-se em trovas mais antigas rimas: Eu/ vi/ mi/nha/ mãe /re/zan/do _________7
• do 1° verso com o 4° e do 2º verso com o 3º Aos/ pés/ da / Vir/gem/ Ma/ri/a _________7
• do 1º verso com o 2º e do 3º verso com o 4º. E/ra_u/ma/ San/ta_es/cu/tan/do __________7
O /que_ou/tra /San/ta/ di/zi/a _________7
Há ainda trovas em que se faz rima apenas do 1º
verso com o 3º, mas isso não é bem visto e nem Nota 3 - Elisão
sempre aceito em concursos. Quando uma palavra termina por vogal átona e
Fascículo 1 21

a seguinte começa por vogal ou ditongo, conta-se Atividade Crítica/Reflexiva | Você já


uma sílaba só. experimentou escrever um poema, seja em
verso medido ou livre? Escreva um poema e
Ex.: o coloque no FÓRUM TEMÁTICO da Sala
Ou/ vin/do_a /fa /la /do / ven/to. Virtual da Disciplina. Aproveite para fazer um
7 sílabas poéticas comentário crítico dos poemas dos colegas lá
postados.
Que/ro_u/ma /ca/sa/ no/ cam/po.
7 sílabas poéticas
7. A Musicalidade da
Nota 4 - Ditongos e Hiatos na Métrica
Poesia Moderna
Para atender à métrica, hiatos podem transfor-
mar-se em ditongos (Sinérese), e ditongos em A Musicalidade de Mário de Andrade
hiatos (Diérese).
Num belo ensaio, Antônio Manoel já havia nos
Ex: Su-a-ve por Sua-ve (3 sílabas viram 2) chamado a atenção para uma teoria musical da po-
Sau-da-de por Sa-u-da-de (3 sílabas viram 4) esia em Mário de Andrade. Seguindo um pouco
a trilha construída por Antônio Manoel, acredita-
A Trova é uma composição poética que deve obe- mos que, em vários
decer às seguintes características: poemas de Mário
de Andrade, existe
1. Ser uma quadra. Ter quatro versos. essa caracterização
2. Cada verso deve ter sete sílabas poéticas, ser do ritmo poético,
setessilábico. As sílabas são contadas pelo som. fundado num traba-
(sílabas poéticas) lho com construções
3. Ter sentido completo e independente. sintáticas, como se
elas fossem acordes
O tema desenvolvido deve “caber” dentro dos 4 para uma nova har-
únicos versos. A Trova difere dos versos da Litera- monia. Nesse âmbi-
tura de Cordel, na qual, em quadra ou sextilhas, o to, as reticências e
autor conta uma história que, no final, soma mais as exclamações têm Figura 13. retrado de Mário
de cem versos. papel fundamental, de Andrade, pintado por
Lasar Segall. Observe a ge-
uma vez que incor- ometrização do fundo e do
4. Ter rima. A rima poderá ser do primeiro verso poram o ritmo e o rosto, segundo conceitos do
com o terceiro e o segundo com o quarto, no silêncio como deter- Cubismo.
esquema ABAB, ou ainda, somente do segun- minantes da leitura.
do com o quarto, no esquema ABCB.

Segundo o escritor Jorge Amado: Texto Complementar


MÚSICA E POESIA DA COMUNI-
“Todo Trovador é poeta, mas nem todo poeta é trovador. A ENTRE DUAS ARTES
A RELAÇÃO COMPLEX
Nem todos poetas sabem metrificar, fazer o verso medido. CAÇÃO
Poeta para ser Poeta precisa saber metrificação, saber con- Maria Cristina Aguiar
da ESEV
tar o verso. “ Assistente do 1º Triênio
ativ as – Música
Arte e Expressões Cri /13.pdf
disponíve l em : www.ipv.pt/forumedia/6
Fontes: Texto em pdf,
www.geocities.com/clerioborges (Poeta Trovador Clério José Borges)
www.terradapoesia.cjb.net (Projeto Cultural ABRAVILI )
http://www.geocities.com/congressobrasileirodetrovadores/origem.
Em um poema como “O Trovador” (Paulicéia Des-
html vairada, 1922), podemos perceber isso. O poema
Kathleen Lessa se abre com uma sequência de palavras em que a
extensão (polissílabas) e a escassez de sílabas tôni-
cas criam um efeito musical lânguido, reforçado
22 Fascículo 1

pelos fonemas nasalisados e pela vogal “e”: “Sen- A máquina de escrever é a concretização desse novo
timentos em mim do asperamente / dos homens fazer poético, não é mais a pena, que dançava em
das primeiras eras... / As primaveras do sarcasmo volteios pelo papel, imprimindo na caligrafia de
/ intermitentemente no meu coração arlequinal... cada um a personalidade grafológica de seu autor;
/ Intermitentemente...” As reticências dão a ideia agora é a digitalização, os dedos do poeta, batendo
de continuidade dessa nasalização, que desaparece nas teclas, imprimem tipos, letras de forma mecâ-
no ar, até sumir em silêncio. Numa segunda parte nica, automática. O ritmo é mais veloz, mais baru-
do poema que se inicia com um “O” maiúsculo, lhento, mais urbano: “B D G Z, Remington. / Pra
fechado e redondo (“Outras vezes é um doente, todas as cartas da gente. / Eco mecânico / De sen-
um frio”) cujo verso também termina num “o” timentos rápidos batidos. / Pressa, muita pressa.”
contínuo que se fecha em “u”, reforçando a per- Assim como a poesia moderna busca incorporar a
cepção sonora desse frio doente. O som redondo “contribuição milionária de todos os erros” (parafra-
é referido no verso seguinte: “na minha alma do- seando Oswald) do falar cotidiano, da língua viva,
ente como um longo som redondo...” As exclama- também o erro na escrita é incorporado ao poema
ções de “Cantabona! Cantabona!” Tipo de sino, de forma que tal erro crie o momento de revelação
dos quais existe um no mosteiro de São Bento no das contradições: “A interjeição saiu com um ponto
centro de São Paulo e que quebra a languidez pela fora de lugar! / Minha comoção / se esqueceu de
surpresa, pelo imprevisto. O longo som redondo bater o retrocesso”. O poeta observa o novo sinal,
agora não é mais o do frio, mas a onomatopeia resultado do erro [|.] e analisa a nova forma: “Ficou
do sino (“Dlorom”), ressoando conjuntamente à um fio / Tal e qual uma lágrima que cai / E o ponto
nasalização e ao som redondo. final depois da lágrima”. A seguir, o poeta ironiza
o sentimento exposto na nova forma, ao dizer que
O poema termina com o verso solitário em que o “não tive lágrimas” e que “a máquina mentiu!”, uma
poeta se apresenta como “um tupi tangendo um vez que “sabes que sou muito alegre”.
alaúde!” Assim o poeta tupi utiliza um instrumen-
to que vem do Oriente, a música que sai daí não Por fim, o poeta diz fazer sua “assinatura manus-
é uma música oriental, mas, a música de um tupi. crita” na folha de papel, uma vez que é preciso
É a poesia moderna brasileira buscando seu ritmo, marcar sua personalidade no poema, uma vez que
não no aperfeiçoamento ou mesmo na cópia do a máquina de escrever pode reclamar co-autoria.
ritmo incorporado mas também na utilização do De certo modo, Mário de Andrade colocava, no
instrumento para um ritmo próprio, que se des- papel, a discussão que Marshal Mcluhan levou em
cobre na exploração da musicalidade da língua seu Galáxia de Gutenberg acerca da modificação
portuguesa. O trovador Mário de Andrade é assim da percepção humana na passagem da escrita ma-
esse tupi (homem das primeiras eras), que observa nuscrita para o texto impresso.
a musicalidade da nova língua (a portuguesa) e a
transforma em poesia. Em “III - [Pronomes Pessoais] de Remate de Males
(1930), a exploração rítmica do poema atinge, tal-
Em “Máquina de Escrever” (Losango Cáqui, 1926), vez, o seu ponto máximo no sentido de que esse
Mário de Andrade busca a exploração do ritmo ritmo musical se presentifica cada vez mais pela
poético agora na quebra e no corte contínuo dos incorporação de aspectos visuais no poema, na
versos, desenhando com recuos e enjambements quebra da linearidade cursiva pela exploração de
uma poesia que impõe um ritmo já pelo correr dos novas direções espaciais de leitura.
olhos, pelo espaço da folha de papel, ainda que
orientada pela ditadura da line- “Nunca em minuetes! Nunca em
aridade, mas tensionando essa furlanas!
linearidade ao máximo: ....................................EU
........................ELE
“Escrevendo com a mesma letra... ....................................TU
................Igualdade ................................NÓS
................Liberdade .............ELES
...........Fraternité, point. ............................... VÓS...
Figura 14. Máquina de escrever Re-
Unificação de todas as mãos...” mington. Você já datilografou numa Não paro.
máquina de escrever? Você sabe o Não paras.”
que é datilografia?
Fascículo 1 23

Atividade Crítica/Reflexiva | Você acha


Textos Complementares que, de fato, o computador veio substituir a
.br/and.html máquina de escrever? Você poderia reescrever
www.revista.agulha.nom
da poesia de
s e comentários acerca o poema de Mário de Andrade acerca da má-
- página com poema
Mário de Andrade quina de escrever, adaptando-o para o uso do
pc? Discuta ou apresente sua opinião e traba-
asileira/Mo-
/Apostilas/LiteraturaBr lho no FÓRUM TEMÁTICO da Sala Virtual
http://www.jayrus.ar t.br
Andrade_poesia.htm da Disciplina.
dernismo22/Mario_de_
mas de Mário
(Orfeu Spam) com poe
- página de nosso site
de Andrade.
8. O Ritmo Cinematográfico num
Assim, em Mário de Andrade, vemos a busca de Poema Modernista
um poeta em que a musicalidade moderna exigia a
exploração dos limites, não apenas gramaticais mas A Cinematografia de Oswald de Andrade
formais da palavra escrita e impressa. Aos supostos
erros gramaticais da fala popular, acrescenta-se a Oswald de Andrade é o mais radical dos poetas mo-
discussão da relação entre manuscrito e texto im- dernistas brasileiros. Suas experimentações com a
presso, entre espaço da página e sonoridade das forma do verso livre, com o ready made, com a
notas numa partitura musical. Mário de Andrade, paródia e a montagem o aproximam dos vanguar-
de certa forma, reinventava, no verso moderno distas europeus
brasileiro, a busca mallarmaica da música simbolis- mais radicais do
ta, só que agora num outro tom, numa nova escala Futurismo, do
e com novos instrumentos. Cubismo e mes-
mo do Dadaísmo.
O que nos parece
SAIBA MAIS! que mais difere o
m/marioandrade_menu
.asp ritmo do poema
http://www.releituras.co crô nica de
conté m um a oswaldiano para o
- visite essa página, -
e ac erc a da expressão popu ritmo de Manuel
Mário de Andrad um tre ch o:
” Leia aqui Bandeira e Mário
lar “Será o Benedito?
de Andrade é a
m. Só
Benedito fugiu de mi
Nos primeiros dias, me de ixava
mudança de foco
Figura 15. Retrato de Oswald de
de, quando eu
lá pelas horas da tar go za nd o essa da relação poesia/ Andrade por Tarsila do Amaral.
casa-grande ,
ficar na varanda da tar de s pa ulis- música para poe-
das nossas
tristeza sem motivo do ma ng uei- sia/cinema.
va na cerca
tas, o negrinho trepa s trin ta pa sso s
o terraço, un
rão que defrontava an do sem pre ,
rnas, me olh
além, e ficava, só pe zes so rri nd o Texto Complementar
gestos, às ve
decorando os meus ça - /wiki/Ready_made - ver
bete da wiki-
a fei ta, em que eu me esfor http://pt.wikipedia.org
para mim. Um nu ma
ea do me u ca va lo to de ready made.
va por prender a réd - pedia acerca do concei
m o laç o tra
ngueirão co
das argolas do ma de on de , me
saiu não sei
dicional, o negrinho e
as ign orâncias de praceano Em Oswald de Andrade, a imagem em movimento
olhou nas minh
não se conteve: é o que determina o ritmo do poema. Haroldo de
! Campos já observara isso no seu ensaio “Uma Poé-
o! Não é assim, moço
— Mas será o Benedit tica da Radicalidade” quando nos fala em “câmera
steza eye” e “visualidade e síntese”.
u o laço com uma pre
Pegou na rédea e de o e su pe rior.
olhou irô nic
serelepe. Depois me fab riq ue i um A paródia é um recurso poético, que já insere uma
sinar o laç o,
Pedi para ele me en as sim pr inc i-
grande, e renovação rítmica, uma vez que existe um original
desajeitamento muito rou me u mê s
em que du que possui uma forma e um ritmo, e, agora, no
piou uma camaradag
de férias. texto que o parodia, o ritmo também é objeto des-
24 Fascículo 1

sa paródia. A manutenção ou a alteração do ritmo o instante mínimo da cena. Assim em “relógio”)


do texto original implica um processo de crítica “As coisas são / as coisas vêm / As coisas vão /
do poema. Assim em “Meus Oito Anos”, Oswald As coisas”, o ritmo do pêndulo se presentifica na
mantém apenas fragmentos do ritmo original, re- construção do poema, e em “Amor” (“humor”)
criando-o numa forma mais breve, evidenciando, poema de uma só palavra, a simples alteração de
nessa brevidade, a velocidade da modificação da fonemas insere o texto, a troca de “a” por “(h)u”
paisagem do quintal com horizontes para um quin- já é uma teoria acerca
tal cercado de prédios. do amor, em tal bre-
vidade e síntese que
O ready made, recurso vindo do Dadaísmo, permi- nenhum romântico
te a Oswald recortar trechos da carta de Pero Vaz ousaria pensar, uma
Caminha, é a simples colocação de um título novo, vez que o romântico
o poema ressignifica todo o trecho cortado, como é o antissíntese, é o
em “Meninas da Gare”. exagero da expressão
subjetiva, e o amor
A enumeração como forma de montagem cinema- moderno é fotográfi-
Figura 16. cinema: A arte ci-
tográfica poética não tem sido observada, e nisso co, visual, flash. nematográfica faz uma leitura
fincamos nossas presentes palavras. De fato, enu- do mundo, em que a câmera é
olho, e é por meio desse olho
merações é o elemento de composição de alguns que vemos o mundo que o ci-
poemas de Oswald (“a Europa curvou-se ante o nema lê.
Brasil”, “Nova Iguaçu”, “Jogo do Bicho”, “Bibliote-
ca Nacional”). Mas não é simples enumeração que
se nos apresenta. O que Oswald faz é como um
flash, um fotograma de um aspecto, de uma cena
urbana definida, que ao apresentá-la como poesia, Textos Complementares
já de imediato se revela toda a contradição ineren- om/oandrade_bio.asp
http://www.releituras.c
te e potencial da realidade observada. Em “Biblio- de.
fia de Oswald de Andra
- texto contendo biogra
teca Nacional”, por exemplo, a enumeração de
alguns títulos de livros como se fosse nosso correr asileira/Mo-
/Apostilas/LiteraturaBr
http://www.jayrus.ar t.br
de olhos por uma estante de biblioteca, mas uma tm
DE_ANDRADE_poesia.h
dernismo22/OSWALD_
site, Orfeu
biblioteca caótica onde os assuntos se misturam, de Andrade em nosso
- poemas de Oswald
obras de autoajuda, best-seller, religião, jurídica e
Spam.
até um livro para se saber jogar no bicho. Assim,
em visualidade e síntese, Oswald nos apresenta um
poema que propõe uma leitura acerca do que se lê
e de como se lê no Brasil. Assim, para lermos um poema moderno, temos
que considerar não apenas o significado das pala-
Em “Nova Iguaçu”, a enumeração de dizeres de vras - o que aliás não se deve fazer com qualquer
anúncios e placas comerciais compõe um poema poema de qualquer escola - nem tampouco nos
em que a “Iguaçu” (nome indígena e personagem atermos ao verso livre ou branco como resultado
de poema épico de Magalhães) agora é reinven- de uma rebeldia - que até pode parecer gratuita, a
tada pela urbanidade de um Rio de Janeiro que, alguns - contra a norma e a forma clássica. Para ler
no poema de Magalhães, é resultado do martírio um poema modernista, é preciso também ler o que
do índio. A desumanização urbana é um lado do a forma do poema comunica, e o que ela comunica
progresso, mas, ao mesmo tempo, é a necessidade desenforma a informação do poema, tornando-a
veemente da sociedade brasileira a busca da urba- mais livre e rica, ao passo que aos olhos do poeta
nidade. O pecado é esse “no país sem pecados”. O modernista, a forma clássica da tradição poética
pecado é civilização que ruiu o paraíso edênico do -materializada no Parnasianismo - era uma forma
idealismo indianista romântico. Poema veloz, visu- que conformava o poeta à poesia inerte na forma.
al, como uma câmera que passeia pela paisagem ur-
bana, captando fragmentos, metonímias do Brasil.
A síntese como busca cinematográfica na poesia
de Oswald leva ao minimalismo plástico. O flash,
Fascículo 1 25

SAIBA MAIS! nsiste basicamente


tra ba lho de pós-produção, que co
gem cinematográfic a é um ado planejado na
O trabalho de monta pro du çã o, de mo do a alcançar o result
ados pela equipe de
em unir os planos film
pré-produção.
o captados fora de
ipa lm en te de longa-metragem, sã
ioria dos filmes, pri nc o o roteiro do filme,
Lembrando que a ma ser á, en tão , o de compreender tod
o trabalho do monta
do r , em um primeiro
ordem cronológica, tas pe lo as sis ten te de dileção) e, então s
dução (geralmente fei eiro e eliminar plano
ler as planilhas de pro em da ma ne ira co mo prevista pelo rot ap ós o
os planos em ord , ou seja,
corte, colocar todos Em um segundo corte
de ve m ir pa ra a ve rsão final do filme. sis ten te ou assistentes de
errados ou que não do rot eir o, o montador, o as -
cronológica da tra ma o ritmo e outras carac
filme estar em ordem na me nto do pro du to audiovisual, dand
r trabalham no afi
montagem e o direto s.
r considera necessária
terísticas que o direto
o cumprem apenas
ria co m os diretores, ou seja, nã
tes trabalham em pa rce artístico para ajudar
Montadores experien nic os : de ve m ter embasamento
somente conhecime nto s téc devem ser cortadas
ordem e não possui en tos e sel eçã o de sequências que
de melhores enqu ad ram ros sobre montagem
o diretor na escolha pla no s e cen as. Existem muitos liv i-
como na duraç ão de ei Eisenstein, que dir
ou adicionadas assim fam os os ne sta áre a é o cineasta Sergu
dos autores mais
cinematográfica. Um
e 1945.
giu filmes entre 1923
muitas vezes, é na
rad o, exi ge muita paciência, pois,
gem de um filme é de mo material ou erros de
O trabalho de monta e o mo nta dor notam a falta de
assistente de mo nta ge m m. A equipe de pro-
pós-produção que o alg um a for ma , na hora da montage a
vem ser resolvido s de el iniciar novamente
continuidade que de ne ssa fas e, e tor na -se, por isso, inviáv s, de ve
á desmontada problema
dução geralmente est ra resolver possíveis
du ran te a pó s-p rod ução. O montador, pa ad o. O montador e seu
captação de material qu e lhe é disponib iliz
ial ca pta do ar
edição mais o ma ter r (pt)) para solucion
usar os recursos de em pa rce ria co m o continuísta (anotado
bém trabalhar
assistente podem tam
ida de.
dúvidas de continu

Atividade Crítica/Reflexiva | Acerca da linguagem do cinema, o que você pensa que ocorre quan-
do um romance ou outra obra literária é adaptada para o cinema? Existe perda? Existem vantagens ?
Comente no FÓRUM TEMÁTICO da Sala Virtual da Disciplina.

Glossário
Códex - O Códex ou Códice surgiu no século I da era Informação -> Compreensão -> Comprometimento.
cristã, contendo textos escolares, relatos de viagens ou re- Segundo English, a melhor maneira de se avaliar a com-
gistros contábeis. Seu uso se multiplicou nos séculos II e III preensão de uma pessoa sobre as informações que lhe fo-
em consequência do incremento da demanda de livros e ram prestadas é perguntando:
da adoção do pergaminho, que no século IV substituiu o - o que você entendeu de tudo isso?
papiro. Nessa época, o códice substituiu definitivamente o
rolo e adquiriu a forma característica de livro. Formados A compreensão exige tempo. O pesquisador deve dispor
por vários cadernos, ou quaderni, os códices constavam de tempo para informar, explicar e permitir uma real inte-
de uma quantidade variável de fólios (folhas escritas dos ração com a pessoa que está sendo convidada a participar
dois lados). A numeração das páginas se fazia por fólios; do projeto de pesquisa. É importante encorajar que esta
o anverso era denominado fólio reto; o reverso, fólio verso pessoa pergunte a respeito dos procedimentos e interven-
ou simplesmente reverso. ções que irão ser realizadas. De acordo com o grau de
complexidade do projeto, pode ser necessário realizar mais
Compreensão - Compreensão, segundo Piaget, é o segun- de uma entrevista antes de obter o consentimento propria-
do estágio do conhecimento, que ocorre quando o indiví- mente dito.
duo se apropria da informação.
English DC. Bioethics: a clinical guide for medical students.
26 Fascículo 1

New York: Norton, 1994:33-5. Minimalismo - refere-se a uma série de movimentos ar-
tísticos e culturais que percorreram diversos momentos do
Cubismo - é um movimento artístico que ocorreu entre século XX e que se preocuparam em se exprimir através
1907 e 1914, tendo como principais fundadores Pablo Pi- de seus mais fundamentais elementos, especialmente nas
casso e Georges Braque. O Cubismo tratava as formas da artes visuais, no design e na música. Em outros campos da
natureza por meio de figuras geométricas, representando arte, o termo é usado para descrever as peças de Samuel
todas as partes de um objeto no mesmo plano. A represen- Beckett, os filmes de Robert Bresson, os contos de Raymond
tação do mundo passava a não ter nenhum compromisso Carver e, até mesmo, os projetos automobilísticos de Colin
com a aparência real das coisas. Chapman, entre outros.

Futurismo - é um movimento artístico e literário, que surgiu Musicalidade - chamamos de Musicalidade em poesia o
oficialmente em 20 de fevereiro de 1909 com a publicação ritmo, que pode ser marcado pela alternância de sílabas
do Manifesto Futurista, pelo poeta italiano Filippo Marinetti, no fortes e fracas, ou pelo andamento da leitura.
jornal francês Le Figaro. Os adeptos do movimento rejeitavam
o moralismo e o passado, e suas obras baseavam-se forte- Nihilismo - é a desvalorização e a morte do sentido, a au-
mente na velocidade e nos desenvolvimentos tecnológicos do sência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores
final do século XIX. Os primeiros futuristas europeus também tradicionais se depreciam, e os “princípios e critérios abso-
exaltavam a guerra e a violência. O Futurismo desenvolveu-se lutos dissolvem-se”. “Tudo é sacudido, posto radicalmente
em todas as artes e influenciou diversos artistas que depois em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades
fundaram outros movimentos modernistas. e dos valores tradicionais está despedaçada, e torna-se di-
fícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro”.
Hieróglifo - é um termo que junta duas palavras gregas:
ἱερός (hierós) “sagrado”, e γλύφειν (glýphein) “escrita”. De maneira bastante original, Pecoraro avalia o niilismo sob
Apenas os sacerdotes, membros da realeza, altos cargos, duas formas. Pode ser considerado como “um movimento
e escribas conheciam a arte de ler e escrever esses sinais “positivo” – quando através da crítica e do pelo desmasca-
“sagrados”. ramento nos revela a abissal ausência de cada fundamento,
verdade, critério absoluto e universal e, portanto, convoca-
A escrita hieroglífica constitui provavelmente o mais antigo nos diante da nossa própria liberdade e responsabilidade,
sistema organizado de escrita no mundo e era vocaciona- agora não mais garantidas nem sufocadas ou controladas
da principalmente para inscrições formais nas paredes de por nada”. Mas também pode ser considerado como “um
templos e túmulos. Com o tempo, evoluiu para formas mais movimento “negativo” – quando, nesta dinâmica, prevale-
simplificadas, como o hierático, uma variante mais cursiva, cem os traços destruidores e iconoclastas, como os do de-
que se podia pintar em papiros ou placas de barro e, ainda clínio, do ressentimento, da incapacidade de avançar, da
mais tarde, com a influência grega crescente no Oriente paralisia, do “tudo-vale” e do perigoso silogismo: se Deus (a
Próximo, a escrita evoluiu para o demótico, fase em que verdade e o princípio) está morto, então tudo é permitido”.
os hieróglifos iniciais ficaram bastante estilizados, havendo
mesmo a inclusão de alguns sinais gregos na escrita. Palmares (Quilombo dos) - o Quilombo dos Palmares
localizava-se na serra da Barriga, região hoje pertencente
Ideograma - (do grego ιδεω - ideia + γράμμα - ca- ao estado de Alagoas, no Brasil. Foi o mais emblemático
racter, letra) é um símbolo gráfico utilizado para repre- dos quilombos formados no período colonial, tendo resis-
sentar uma palavra ou conceito abstrato. tido por mais de um século, e o seu mito transformou-se
em moderno símbolo brasileiro da resistência do africano à
Os sistemas de escrita ideográficos originaram-se na escravatura, ainda que, paradoxalmente, tenha-se conhe-
Antiguidade, antes dos alfabetos e dos abjads. cimento do uso de escravos em muitos quilombos.

Como exemplos de escritas ideográficas, podemos citar Paráfrase - consiste em reescrever, com suas palavras,
os hieróglifos do antigo Egito, a escrita linear B desde a as ideias centrais de um texto. Consiste em um excelente
escrita maia, assim como os caracteres kanji utilizados exercício de redação, uma vez que desenvolve o poder de
em chinês e japonês. síntese, clareza e precisão vocabular. A paráfrase mantém
o sentido do texto original.
Intertextualidade - relação entre textos. Um texto citando
outro, de modo explícito (autor, obra, parágrafo, epígrafe) Paráfrase representa uma reescritura do texto original com
ou indiretamente (comentário acerca de...), mas de modo novas palavras sem que o sentido deste seja modificado.
que a compreensão do texto atual só se faz completa, na Assim, a paráfrase é uma reprodução da ideia do autor
medida em que se conhece o texto referido. A Paráfrase e a com as palavras do discente (aluno), utilizando-se de sinô-
Paródia são exemplos de aplicação intertextual assim como nimos, inversões de períodos, etc. Trata-se de reescrever o
é também a Tradução. texto original com as palavras do aluno, mas sem alterar
o sentido.
Massificação (cultura de massa) - chama-se cultura de
massa toda cultura produzida para a população em geral Paródia - trata-se de uma imitação, na maioria das ve-
— a despeito de heterogeneidades sociais, étnicas, etárias, zes cômica, de uma composição literária, (também exis-
sexuais ou psicológicas — e veiculada pelos meios de co- tem paródias de filmes e músicas), sendo, portanto, uma
municação de massa. Cultura de massa é toda manifesta- imitação que geralmente possui efeito cômico, utilizando
ção cultural produzida para o conjunto das camadas mais a ironia e o deboche. Ela geralmente é parecida com a
numerosas da população; o povo, o grande público. obra de origem e quase sempre tem sentidos diferentes.
Fascículo 1 27

Na literatura, a paródia é um processo de intertextualiza- mo e não se baseiam em critérios predefinidos, mas, em


ção, com a finalidade de desconstruir um texto. decisões que o poeta toma intuitivamente ou em normas
por ele criadas.
A paródia surge a partir de uma nova interpretação, da
recriação de uma obra já existente e, em geral, consa- Como exemplo, tem-se “Na Rua do Sabão” de Manuel
grada. Seu objetivo é adaptar a obra original a um novo Bandeira ou “Um boi vê os homens”, de Carlos Drummond
contexto, passando diferentes versões para um lado mais de Andrade.
despojado e aproveitando o sucesso da obra original
para passar um pouco de alegria. Versos livres não devem ser confundidos com versos bran-
cos, que são aqueles que apenas não fazem uso de rimas.
Ready made - nomeia a principal estratégia de fazer bici
cross do artista Marcel Duchamp. Essa estratégia refere-
se ao uso de objetos industrializados no âmbito da arte,
desprezando noções comuns à arte histórica, como estilo
ou manufatura do objeto de arte, e referindo sua produção Referências
primariamente à ideia.

Se se considera que a característica essencial do Dadaísmo ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra Com-
é a atitude antiarte, Duchamp será o dadaísta por excelên- pleta. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986.
cia. De fato, por volta de 1915, quando abandona a pintu-
ra, assume uma atitude de rompimento com o conceito de ANDRADE, Oswald de. Obras Completas: Po-
arte histórica, que caracteriza como “retiniana”, expressão
que remete, por um lado, à imediatez da imagem, e, por
esias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Bra-
outro, ao modelo de visão exteriorizado que caracteriza a sileira, 1971.
filosofia de Descartes, modelo que persiste ao longo dos
séculos XV, XVI e mesmo até o XIX com a invenção da Fo- BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.
tografia. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1983.

Robinson Crusoé - personagem do romance de Daniel BOAVENTURA, Maria Eugênia. A Vanguarda


Defoe, A Vida e as Estranhas Aventuras de Robinson Crusoé Antropofágica. São Paulo, Ática, col. Ensaios,
(1719). v. 114, 1985.
Ruído ( na comunicação) - o conceito de ruído surgiu
com a teoria da informação e logo se difundiu para outras BRITO, Mário da Silva. História do Modernismo
disciplinas, tais como a Acústica, a Cibernética, a Biologia, Brasileiro: 1/Antecedentes da Semana de Arte
a Eletrônica, a Computação e a Comunicação. Em comu- Moderna. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
nicação, ruído é todo fenômeno aleatório, que perturba 1978.
a transmissão correta das mensagens e que geralmente
procura-se eliminar ao máximo. CANTI, Monica; BENTES, Anna Christina. In-
tertextualidade: Diálogos Possíveis. São Paulo,
Classificação: Cortez, 2006.
• Ruído exógeno - refere-se às interferências externas ao
processo de comunicação, como outra mensagem. DEFOE, Daniel. Moll Flanders. São Paulo,
• Ruído endógeno - refere-se às interferências internas Nova Cultural, 2003. - Obra realista inspirada
do processo de comunicação, como perda de men- no romance picaresco espanhol, Moll Flanders:
sagem durante seu transporte ou má utilização do recria o mundo pitoresco dos aventureiros e
código. prostitutas do início do século XVIII. Com ini-
• Ruído de repertório - refere-se às interferências ocor- gualável mestria e riqueza de detalhes, Daniel
ridas diretamente na produção ou interpretação da Defoe conta a história de uma mulher que, ten-
mensagem, provocadas pelo repertório dos emissores do nascido na prisão, termina sua vida rica e
e receptores.
respeitada.
Trovador - na lírica medieval, era o artista de origem no-
bre do sul da França que, geralmente acompanhado de DEFOE, Daniel. Diário do Ano da Peste. Porto
instrumentos musicais, como o alaúde ou a cistre, compu- Alegre, LPM, 1992. - Publicado pela primeira
nha e entoava cantigas. vez em 1722, Defoe já praticava, sob a forma
de novela, um jornalismo que somente no sé-
Normalmente, os trovadores eram homens, mas houve culo XX assumirá suas características definitivas,
trovadoras (em provençal ou occitano trobairitz), também centradas na paixão pelo fato. Ocorrências
nobres. Suas correspondentes nas classes inferiores eram mais marcantes tanto públicas quanto privadas
as jogralesas (joglaresses em provençal).
registradas em Londres, durante a última grande
Verso livre - não possui restrição métrica nem em rima epidemia, em 1665.... praticamente impossível
nem nas estrofes. São versos introduzidos pelo Modernis- deixar de refletir sobre o que aqueles fatos têm
28 Fascículo 1

a ver com os nossos atuais: a AIDS, a dengue,


os surtos de meningite.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; CAVAL


LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura
do mundo. São Paulo: Ática, 1997.

______; ZILBERMAN, Regina. O Preço da Escri-


ta. São Paulo, Ática, 2005.

_________________. A Leitura Rarefeita: Leitura


e Livro no Brasil. São Paulo, Ática, 2002.

MANGUEL, Alberto. Uma História da Leitura.


São Paulo, Cia. das Letras, 1997.

MARTINS, Maria Helena. A Leitura. São Paulo,


Brasiliense, col. Primeiros Passos, 2001.

SALLES, Fritz Teixeira de. Das Razões do Mo-


dernismo. Brasília/Rio de Janeiro, ed. Brasí-
lia, 1974.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. O Gauche


no Tempo. São Paulo, Record, 1992.

TELES, Gilberto Mendonça. A Estilística da Re-


petição. Rio de Janeiro, José Olympio, 1970.
Fascículo 2 29

eLeitura
Produção
de Texto
Prof. Dr. Jairo Nogueira Luna
Carga Horária | 15 horas

• Tomas em consideração a trave no teu próprio olho?


(Mateus 7:1-3)

• Rios te correrão dos olhos, se chorares!


(Olavo Bilac)

• Um quarteirão de perucas para Clodovil Pereira.


(José Cândido Carvalho)

Objetivos Específicos

Expandir o conceito de Leitura;


Ler figuras de linguagem em Imagens;
Compreender aspectos da comunicação visual.

1. Problematização

Nesta unidade, veremos figuras de car-


tazes, propagandas, em que se utilizam
figuras de linguagem (metáfora, meto-
nímia, hipérbole, etc...) e buscaremos
entender como se processa a comuni-
cação visual com elementos de sentido
figurado. Observaremos como a leitura
das imagens é hoje uma necessidade
para a compreensão de inúmeras men-
sagens, muitas vezes, com aspectos su-
bliminares e ambíguos.

figura 17. hipérbole


30 Fascículo 2

Exemplos:

• Então, por que olhas para o argueiro no olho


do teu irmão, mas não tomas em consideração
a trave no teu próprio olho? (Mateus 7:1-3)
• Rios te correrão dos olhos, se chorares! (Olavo
Bilac)
• Um quarteirão de perucas para Clodovil Perei-
ra. (José Cândido Carvalho)
• Na chuva de cores
Da tarde que explode
A lagoa brilha
(Carlos Drummond de Andrade)

(fonte: Wikipédia)
Figura 18. Hipérbole 2: Observe a fi-
gura 18 e responda que elementos
da imagem podem ser caracterizados
como Hipérbole.
Texto Complementar
em
/wiki/Figura_de_linguag
http://pt.wikipedia.org figuras de
- verbete da Wikipédi
a com link par a vár ias
Textos Complementares
linguagem. /wiki/Publicidade
http://pt.wikipedia.org
acerca do slogan.
- verbete da Wikipédia
- site da ABAP
Sistematização om.br/wwwroot/abap
http://webserver.4me.c .
Agências de Publicidade
– Agência Brasileira de
A leitura de imagens (fotografias, cartazes,
propagandas)
Síntese
O sentido de Leitura mais amplo permite que com-
preendamos as mensagens transmitidas por fontes A função da mensagem publicitária é a de criar um
não verbais como formas de ler. Assim, cinema, mundo ideologicamente favorável e perfeito com a
televisão, outdoor, obra de arte plástica, símbolos, contribuição do produto a ser vendido. Devido a
música são meios de comunicação que podem se isso, essa mensagem trata a base informativa de for-
utilizar de elementos não verbais para sua comu- ma manipulada, objetivando transformar a consci-
nicação: imagem, nota musical, formas plásticas, ência do possível comprador.
impulsos elétricos, luz.
Em todos os casos, o possível comprador é o re-
Observemos algumas figuras a seguir. São cartazes ceptor virtual da mensagem, e o responsável pelo
de propaganda e atentemos como eles comuni- produto, o emissor.
cam, utilizando-se de figuras de linguagem visuais.
Para convencer o consumidor a realizar uma ação
Veja as mãos que seguram a bola de basquete pré-determinada (a ação de consumir o produto),
(fig.16). Anatomicamente são mãos de uma criança o out-door (segundo Carvalho, 2000, p. 16) utiliza
pequena ou de um bebê. Como pode ele alcançar formas simples, com elementos justapostos (men-
a cesta de basquete? Difícil já seria para ele segurar sagem escrita, foto do produto, slogan e/ou marca)
a bola, que é grande! O slogan do cartaz “Com para possibilitar a fácil compreensão da massa de
Nestlé Crescimento, o seu bebê vai marcar pon- consumidores. Esta seria, em tese, a forma como
tos...”, e a frase ao final do cartaz, sob a marca do se apresenta o discurso de publicidade em out-door.
produto “Nestlé Crescimento ajuda os miúdos a
ficarem graúdos”, promete um crescimento visível Entretanto, a busca cada vez mais acirrada pelo
além do normal para quem utilizar o produto. Nes- mercado consumidor e o fato de este mercado
te sentido, o que temos aqui é um exagero, figura estar se tornando cada vez mais crítico e exigente
conhecida como Hipérbole. fazem com que estas mensagens utilizem, cada vez
Fascículo 2 31

mais, recursos linguísticos e visuais como recursos Atividade Crítica/Reflexiva | Você, por
auxiliares ao discurso publicitário. Se antes bastava certo, já deve ter prestado atenção em alguma
apenas chamar atenção através da imagem e con- propaganda ou comercial de televisão que lhe
vencer através da mensagem escrita, hoje é necessá- tenha chamado a atenção pela criatividade.
rio cifrar mensagens embutidas em discursos apa- Você poderia comentar acerca de um caso des-
rentemente ingênuos (em publicidade, nenhum ses no FÓRUM TEMÁTICO da Sala Virtual
discurso é ingênuo). da Disciplina.

Não se contesta aqui a utilização da forma imagem


+ mensagem + slogan/marca, que, via de regra, 2. Metonímia e o Eixo
também é utilizada nos out-doors selecionados
para nossa análise. O que demonstraremos é que
Paradigmático
o discurso de publicidade em out-door tem mostra-
do uma sofisticação linguística na sua busca por Eixo Sintagmático/Eixo Paradigmático
captar a confiança e a credibilidade do mercado
consumidor. Na linguística de F. de Saussure, as relações sintag-
máticas opõem-se às relações associativas (Saussure
(Adaptado de: http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ8_08. não fala em relações paradigmáticas). Os linguistas
htm - texto de Letícia Queiroz de Moraes (FEUDUC/UERJ) estruturalistas propuseram a distinção entre eixo
sintagmático (eixo horizontal de relações de senti-
do entre as unidades da cadeia falada, que se dão
SAIBA MAIS! em presença) e eixo paradigmático (eixo vertical
sivo.
com propósito expres das relações virtuais entre as unidades comutá-
Hipérbole é exagero
veis, que se dão em ausência). No primeiro eixo,
abrem-se as relações que pertencem ao domínio da
fala, por exemplo, os elementos que constituem o

r
egacomício”, po
poesia é uma perfino” ou “m az ul,
ves, para quem a exemplo. A repe
tiç ão (m ar
ar- e associado
Thaís Nicoleti de Cam oduz ênfase.
a” ,
“Musa libérrim azul) também pr
ad a, o superlativo
go* à fala ilustr
e é ouvido no
Especial Para a Folh
a de
erudito rarament rtório de Guima-
o da ironia de No curioso repe
S. Paulo dia-a-dia. Foi alv gi stram-se formas
, que caracte- rães Rosa, re -
Machado de As sis ivas. Em “Cerca
ir emoções rsonagem de as mais invent
O desejo de exprim rizou José Dias, pe da -g ua rd a, ao s
por meio de pa lav ra s leva, por lo seu hábi- vam-nos anjos- suge-
o de ima- “D. Casmurro”, pe infinilhões”, o ne ol og ism o
vezes, à elabora çã “Jo sé Dias amava ande quantidad
e.
m o ex ce sso. O to de usá-lo: re a ideia de gr
gens que be ira Era um modo
ós ito ex pres- os superlativos.
exagero com prop numental às ou literário, a
e ch am am os de hi- de dar feição mo De uso cotidiano
sivo é o qu ve ndo, servir a a das figuras de
pérbole. ideias; não as ha hipérbole é um
prolongar as frase
s”. s expressivas da
linguagem mai n-
“Profundissimamen
te hipocon- belo efeito alca
me cau- de variedade língua. Veja o s no
dríaco,/ Es te am bie nte Manipulando gran çado por Viníciu
s de Morae
../ So be -me à de ên fase, os fa- Amor Total”: “E
sa repugnância. de recursos seu “Son et o do
an álo ga à descartar “mi- muito e amiúde
/
boca um a ân sia lantes tendem a de amar assim,
ânsia/ Que esca pa da bo ca de apientíssimo”, em teu corp o de
nutíssimo” ou “s
nheci- É que um dia
um card íac o.” Ne sse s co a “m iudinho” ou morrer de amar
dos Anjos dando lugar repente/ He i de
dos versos, Augusto do não a ad-
lançando a “sabidão”, quan mais do que pu
de”.
do rec ur so , “pra burro”
abusou
inusitadojetivos seguidos de
mão não só de um Ce rta perso-
ou “pra cachor
super- ro ”. de Camargo é
advérbio de riv ad o do
pe cto r é de scrita *Thaís Nicoleti guesa
“p ro fun nagem de
do” C. Lis de língua portu
lativo do adjetivo a “v elh a se quinha”. O consultora
um a co mparação como um a
como de a um adjetivo da Folh
algo extravagante. sufixo -inho preso ain da
ica mas
não só o intensif (fonte: http://vestib
ular.uol.com.br/ult
not/
ind ica qu e um pr es ta um to m afetivo. 8.jh tm)
O superlativo certa
lhe em resumos/ult2772
u2
i em alt o gr au
ser possu
m no estilo rpo da palavra,
característica. Comu stro Al- Alterando o co
grandiloquente de
Ca nimigo”, “su-
fazem- se “arquii
32 Fascículo 2

enunciado Estou a ler estão numa relação sintag- Estendendo o Conceito


mática; a segunda pertence ao domínio da língua,
por exemplo, leitura está em relação paradigmática Thomas Kuhn, (1922 - 1996) físico americano, cé-
com livro, leitor, ler, livraria, biblioteca, mas apenas lebre por suas contribuições à história e filosofia
um destes elementos pode ser válido no enuncia- da ciência, em especial do processo (revoluções)
do produzido. Neste caso, todas as palavras podem que leva à evolução do desenvolvimento científico,
ser comutáveis, dependendo do contexto e da na- designou como paradigmáticas as realizações cien-
tureza do enunciado. Assim, no enunciado Estou tíficas que geram modelos que, por período mais
a ler, podemos comutar os elementos estou a por ou menos longo e de modo mais ou menos explíci-
quero, detesto, vou, sei, etc., e o elemento ler pode to, orientam o desenvolvimento posterior das pes-
ser comutado por comer, escrever, correr, saltar, condu- quisas exclusivamente na busca da solução para os
zir, etc. Diz-se que todos estes elementos substituí- problemas por elas suscitados.
veis estão em relação paradigmática. Estas relações
sintagmáticas e paradigmáticas não se limitam ao Em seu livro “A estrutura das Revoluções Cientí-
nível lexical ou gramatical do signo, mas abrangem ficas”, apresenta a concepção de que “um paradig-
também o nível fonológico. ma é aquilo que os membros de uma comunidade
partilham e, inversamente, uma comunidade cien-
Bib.: Ferdinand de Saussure: Curso de Linguística Geral (Lisboa, 1971); tífica consiste em homens que partilham um para-
L. Hjelmslev: Prolégomènes à une théorie du langage (Paris, 1968); R. digma”, p. 219 e define “o estudo dos paradigmas
Jakobson: Essais de linguistique générale (1963).
como o que prepara basicamente o estudante para
ser membro da comunidade científica na qual atu-
ará mais tarde”, p. 31.

Hoisel, autor de um interessante ensaio ficcional,


que aborda como a ciência de 1998 haveria de se
encontrar em 2008, chama a atenção para o aspec-
to relativo da definição de paradigma, observando
que uma constelação de pressupostos e crenças,
escalas de valores, técnicas e conceitos comparti-
lhados pelos membros de uma determinada co-
munidade científica num determinado momento
histórico é simultaneamente um conjunto dos
procedimentos consagrados, capazes de condenar
e excluir indivíduos de suas comunidades de pares.
Figua 19. Metonímia: Na imagem a seguir, você até poderia
pensar na figura do exagero, a Hipérbole, pela grandiosidade
Mostra-nos como este paradigma pode ser compre-
do cenário e pela quantidade de pessoas, mas o que temos endido como um conjunto de vícios de pensamen-
de recurso na foto é a Metonímia, pois vendo parte da tor- to e bloqueios lógico-metafísicos que obrigam os
cida numa parte do estádio, supomos naturalmente que se
trata de uma partida de futebol. cientistas de uma determinada época a permanece-
rem confinados ao âmbito do que definiram como
seu universo de estudo e seu respectivo espectro de
conclusões admitidas como plausíveis.
Texto Complementar
eito.htm
t/edtl/verbetes/C/conc
http://www2.fcsh.unl.p Na comunicação 3, de seu livro “Anais de um sim-
ceito de Conceito.
- texto que analisa o con pósio imaginário”, Hoisel destaca ainda que uma
outra consequência da adoção irrestrita de um
Paradigma (do grego Parádeigma) literalmente paradigma é o estabelecimento de formas especí-
modelo, é a representação de um padrão a ser se- ficas de questionar a natureza, limitando e condi-
guido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, cionando previamente as respostas que esta nos
uma teoria, um conhecimento que origina o estu- fornecerá. Um alerta já nos foi dado pelo físico
do de um campo científico; uma realização cien- Heisenberg quando mostrou que nos experimen-
tífica com métodos e valores que são concebidos tos científicos o que vemos não é a natureza em si,
como modelo; uma referência inicial como base de mas, a natureza submetida ao nosso modo peculiar
modelo para estudos e pesquisas. de interrogá-la.
Fascículo 2 33

Quem com ferro fere... (ferro subs-


titui, aqui, espada)
• O lugar pela coisa:
Uma garrafa de Porto. (Porto é o
nome da cidade conotada com a be-
bida - mas não é a cidade que fica na
garrafa, mas sim a bebida.)
• O instrumento pela causa ativa:
Sou um bom garfo. (em substituição
de “alguém que come bastante”).
Figura 20. Observe as três imagens: nelas existe o recurso da Metonímia. • A coisa pela sua representação =
sinal pela coisa significada):
És a minha âncora. (em substituição de “segu-
Textos Complementares rança”).
luc idio /fd l/m eto nim ia.htm • Parte pelo todo:
.br/
http://users.hotlink.com
ímia com exe mp los . A mão empurrou o carrinho do bebê. (na ver-
- verbete sobre a Meton
dade, quem empurra o carrinho é a pessoa e
.org .br/ viii feli n/3 2.h tm não só a mão)
http://www.filologia
ímia: Am-
a Garcia (UERJ), Meton
- texto de Afrânio da Silv
análise dos
faz uma interessante
plitude e Precisão, que
SAIBA MAIS!
usos da Metonímia. tonímia,
caso especial de me
A sinédoque é um ica o tod o de um
lavra que ind
em que se troca a pa a pa rte dele.
Síntese ica apenas um
ser por outra que ind

Existem vários casos de uso da Metonímia; dentre • Exemplo: be ça [parte]
l cabeças. (ca
entre eles, destacamos: O rebanho tinha mi
-> animal [todo])
ral:
Formas de usos Ou o singular pelo plu
• Exemplo: rtal, imortaliza-se po
r
O homem, que é mo
• Efeito pela causa: meio de suas conquis
tas.
Sócrates tomou a morte. (O efeito é a morte, a nã o sup ort ou quatro invernos.
• A choupana
causa é o veneno.)
• Causa pelo efeito:
Por favor, não fume dentro de casa: sou alér- Atividade Crítica/Reflexiva | Discuta so-
gica a cigarro. (O cigarro é a causa: a fumaça, bre a importância do uso de figuras para efeito
o efeito. Podemos ser alérgicos à fumaça, mas expressivo e estético do texto no FÓRUM TE-
não, ao cigarro) MÁTICO da Sala Virtual da Disciplina.
• Marca pelo produto:
O meu irmãozinho adora danone.(Danone é a
marca de um iogurte; o menino gosta de iogurte)
3. A Ironia
• Autor pela obra:
Lemos Machado de Assis por interesse. (Nin-
Ironia é a afirmação de algo diferente do que se
guém, na verdade, lê o autor, mas, as obras
deseja comunicar, geralmente o contrário, na qual
dele em geral.)
o emissor deixa transparecer a contrariedade por
• Continente pelo conteúdo:
meio do contexto do discurso, ou através de algu-
Bebeu o cálice da salvação. (Ninguém engole
ma diferenciação editorial, ou entoativa ou gestu-
um cálice, mas, sim, a bebida que está nele.)
al. O que diferencia a ironia do enunciado falso
• Possuidor pelo possuído:
simples é a sinalização da contrariedade, geralmen-
Ir ao barbeiro. (O barbeiro trabalha na bar-
te sutil, através do contexto, edição, entoação ou
bearia, onde se vai de fato, ninguém vai a uma
gesto ou de outro sinal. A função da ironia geral-
pessoa, mas ao local onde ela está)
mente é crítica e impressionista.
• Matéria pelo objeto:
34 Fascículo 2

Textos Complementares
/wiki/Propaganda
http://pt.wikipedia.org
sobre a Propaganda.
- verbete da Wikipédia
/wiki/Propaganda
http://pt.wikipedia.org e a escola
relações entre a Ironia
- texto que analisa as
do Romantismo.

Síntese

Tipos de Ironia

Figura 21. Ironia: Note o pedinte, na miséria, o logotipo


do cartão de crédito na sua vasilha.
A maior parte das teorias de retórica distingue três
tipos de ironia: oral, dramática e de situação.

• A ironia oral é a disparidade entre a expres-


Texto Complementar
/ironia.htm são e a intenção: quando um locutor diz uma
anosso.nom.br/retorica
http://www.radames.m coisa mas pretende dizer outra coisa, ou então
a.
ponto de vista da Retóric
- texto sobre a Ironia do quando um significado literal é contrário para
atingir o efeito desejado.
Na figura 21, o pobre homem segura uma vasilha • A ironia dramática (ou sátira) é a disparidade
onde os doadores jogam seus trocados. Perceba que entre a expressão e a compreensão/cognição:
a vasilha velha tem o logotipo do cartão de uma quando uma palavra ou uma ação põe uma
conhecida marca de cartão de crédito. Poderíamos questão em jogo, e a plateia entende o signifi-
entender que o pedinte aceita, inclusive, cartão de cado da situação, mas a personagem não.
crédito! Ora, sabemos que um mendigo não teria • A ironia de situação é a disparidade existente
condições de ter um equipamento para desconto entre a intenção e o resultado: quando o re-
em cartão de crédito nem a empresa do cartão se sultado de uma ação é contrário ao desejo ou
prestaria a oferecer ao pedinte condições para tal. efeito esperado. Da mesma maneira, a ironia
Logo o que temos aqui é uma Ironia. A Ironia é infinita (cosmic irony) é a disparidade entre o
uma das figuras mais fortes para mostrar as contra- desejo humano e as duras realidades do mun-
dições da realidade, uma vez que ele mostra o con- do externo. Certas doutrinas afirmam que a
trário ou o avesso do que efetivamente se poderia ironia de situação e a ironia infinita não são
dizer. Assim, o mendigo com sua pobreza jamais ironias de todo.
poderá ter um cartão de crédito, mas aceita doa- Exemplos: Moça linda, bem tratada, três séculos
ções em cartão de crédito! Por outro lado, o poder de família, burra como uma porta: um amor! (Mário
de Andrade)
econômico seria tal que a própria pobreza se trans-
forma num ne-
gócio rentável. É também um estilo de lin-
Apenas para guagem caracterizado por
observação, a fi- subverter o símbolo que,
gura acima não a princípio, representa. A
é uma propa- ironia utiliza-se como uma
ganda oficial do forma de linguagem pré-es-
cartão de crédi- tabelecida para, a partir e
to, mas, um tra- de dentro dela, contestá-la.
balho criativo
com a intenção Foi utilizada por Sócrates,
de desmistificar na Grécia Antiga, como
a propaganda. ferramenta para fazer os
seus interlocutores entra-
Figura 22. Observando a figura, o que ele apresenta em termos rem em contradição, no
de Ironia?
seu método Socrático.
Fascículo 2 35

de poucos recursos financeiros” por “pobre”. O ter-


mo é de origem grega (euphemismos, “bem dizer”) e
SAIBA MAIS! desde sempre foi utilizado para designar as formas
de dissimulação de sentimentos desagradáveis, de
O Sarcasmo e a Ironia
pensamentos cruéis ou de palavras tabu, que se evi-
antigo σαρκασμός tam pelo recurso a uma linguagem mais amaviosa,
Sarcasmo (do grego ”
ázein”; Sarx=“carne sem se perder o sentido original de vista. De algu-
“sarkasmos” ou “Sark ”) de sig na
imar a carne ma forma, todas as literaturas de vanguarda ten-
Asmo= queimar “que te
io ou um a zombaria, intimamen dem a rejeitar o recurso ao eufemismo, pelo fato
um escárn o mo rda z qu a-
um int uit
ligado à ironia com e de o considerarem uma forma puritana de expres-
ferindo a sensibilidad
se cruel, muitas vezes ori ge m da pa la- são que quer fugir da representação fiel da realida-
ebe. A
da pessoa que o rec r-
á lig ad a ao fat o de muitas vezes mo de em todas as suas acentuações, sejam elas cruéis
vra est dir ige a
ando alguém se
dermos os lábios qu O sa rca sm o é ou agradáveis. Isso não significa que o seu oposto,
o mordaz.
nós com um sarcasm liza da na s art es o disfemismo, seja a forma preferida. Trata-se de
muito uti
uma figura de estilo u- um recurso de atenuação da expressão que pode
is e esc rita s, de sig nadamente na literat
ora vsk y foi um
dor Dostoye ser conseguido, combinando-se com outras figu-
ra e na oratória. Fyo re-
es rep res en tantes do uso deste ras: uma metáfora ou uma metonímia servem, por
dos grand co mo “o últ imo
ind o- o
curso estilístico, defin do exemplo, muitas vezes, para amenizar uma ideia
io das pessoas quan
modesto e puro refúg ad e inv ad em a repugnante ou cruel (diz-se Televisão de pobre é
vulgarid
o entrosamento e a buraco de fechadura. em vez de Os pobres não
alm as ”.
privacidade das suas
têm televisão). A dupla negativa amplamente utili-
rio
irônico ao comentá
Considera- se algo a pe sso a, de sig - zada em português ou a simples expressão de uma
por um
escrito ou oral feito qu e re- coisa negativa pelo seu lado positivo (litotes) são
o oposto daquilo
nando exatamente a
ten dia dizer. O sarcasmo e exemplos dos efeitos antitéticos que o eufemismo
almente se pre os , po de nd o
ente lig ad também privilegia, por vezes, como nas expressões
ironia estão estreitam ilo na
mo figuras de est “não ignoro que”, “não nego que”, “não esqueci”
ambos ser usados co
lite rat ura e não correspondem
retórica ou na r- (por “lembrei-me”), etc., fórmulas que entram em
nte se pretenderia afi
àquilo que supostame co nc eit os est á no qualquer discurso com intenção diplomática, para
est es
mar. A diferença entre -
o é sempre mais pican evitar ferir a susceptibilidade de quem se apresenta
fato de que o sarcasm to qu e a iro nia
r, enquan como interlocutor. Os puristas da língua tenderão
te e mais provocado m
a sim ple s co ntr adição voluntária, co a rejeitar essas redundâncias da linguagem.
é um
e feroz.
intuito menos áspero

Atividade Crítica/Reflexiva | De certo,


em algum momento de sua vida, você presen-
ciou alguma atitude irônica. Poderia comentar
acerca dele no FÓRUM TEMÁTICO da Sala
Virtual da Disciplina?

4. O Eufemismo e a Mensagem
Figura 23. Observe o cartaz acerca de um concurso
Eufemismo mundial para modelos 2007. Aqui podemos encontrar
elementos característicos do Eufemismo.

Figura de retórica que procede à substituição de


uma expressão rude ou desagradável por uma ou-
tra que amenize o discurso, embora sem alterar o Texto Complementar
sentido, por exemplo, “ir para outro mundo” ou
rg/wiki/Eufemismo
“Tirar Inês ao mundo determina” (Camões, Os http://pt.wikipedia.o
a sobre Eufemismo
Lusíadas, III, 123) em vez de “morrer” ou “pessoa - verbete da Wikipédi
36 Fascículo 2

Na figura 23, três jovens de corpo esguio, conforme Na infância, talvez o Eufemismo surja pela primei-
o modelo padrão de beleza contemporâneo, dan- ra vez na história da cegonha que terá vindo de Pa-
çam alegremente de costas para o leitor. Trata-se de ris e prossiga com a história da semente do pai no
uma chamada para o concurso de beleza realizado jardim da mãe. Tradução: O bebê veio da barriga
por uma marca de lingerie. O slogan da propagan- da mãe. O pai fez amor com a mãe. Simples!
da (“Show me your Sloggi – Mostre-me seu slog-
gi”); é uma mensagem que atenua, ou pelo menos, E agora que se percebe que o Eufemismo é uma
tenta a visão dos corpos das moças. Mostre-me seu atenuação da realidade, isto é, dizer o mesmo por
sloggi, indica também que todas as moças usam palavras mais suaves, já percebo: a sopa está ape-
essa marca de lingerie, mas, ao mostrar a lingerie, titosa/ a sopa está danada salgada; a sopa assim é
roupa íntima, está que faz bem/ está tão insossa que nem um balde
também mostran- cheio de sal salvava isto.
do sua intimidade
em público. Isso é Percebamos, então, qual será, na frase “este mi-
Eufemismo, quan- crorganismo pode provocar infecções em zonas pú-
do se tenta atenuar blicas, nomeadamente no interior e em redor do
a força expressiva orgão genital feminino”, o eufemismo...
da mensagem. No
caso, uma forma de
utilizar o sex appeal
das modelos como Figura 24. Observe a figura da
caixa de fósforos. Que elementos
elemento de valori- presentes nessa figura podemos SAIBA MAIS!
gerar
ão diária, podemos
zação da marca de considerar como característicos Na nossa comunicaç exp res sõ es ina de-
uso de
lingerie. do Eufemismo?
problemas através do oc uto r,
ofendemos o interl
quadas. Sem querer, tra ba lho e,
sagradável no
criamos um clima de
, um ini mi go para a vida toda.
quem sabe
ibuir
idado , podemos contr
Com um pouco de cu pa lav ra é uma
Texto Complementar para o inverso. Sabe
mos que a
str uir pe sso as,
e po de de
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Eufemismo energia poderosa qu s ete rna s.
nstruir amizade
sobre Eufemismo mas também pode co eis e
- verbete da Wikipédia lavras mais ag rad áv
A substituição de pa sã o de um a ide ia
r a exp res
polidas para suaviza ter-
da é tão im po rta nte que até existe um
pesa ism o.
guês: eufem
Todos nós já nos deparamos, havendo até pessoas mo para isso em Portu
ou
que incrivelmente dele se aperceberam, com um que alguém é “fofo”
Assim podemos dizer rdo e qu e é
er que é go
elaborado, por vezes rebuscado ou até forçado, Eu- “forte”, em vez de diz an do é ma gro .
sguio”, qu
femismo. E o que é o Eufemismo? - perguntam os “elegante” ou é “e essoa ob servado ra”
vira “p
leitores a quem a cultura pior precaveu. À falta de Nessa troca, o tímido so”.
“b om ouvinte”, e o medroso vira “cuidado
uma caneta no bolso da camisa e de um guarda- ou
Outros exemplos:
napo retirado de um qualquer café ou pastelaria,
so
torna-se mais difícil elucidar o que quer que seja, NERVOSO - Cuidado
, exc êntrico
ainda assim, tentemos. LOUCO - Criativo
- Cu rio so , av aliador
INDECISO
do r
EXPLOSIVO - Realiza
Na vida acadêmica, o Eufemismo nasce por vol- AFEMINADO - Delica
do
ta do 9º ano de escolaridade. Através da sátira de - Co mu nic ativo
BOATEIRO
Gil Vicente , encontramos o Arrais do Inferno que sua
nte é cada um criar a
mais não é que o Diabo, ele mesmo. As próprias Um exercício interessa qu e nã o se po de
ismos. O
“figuras de estilo”, grupo no qual se integra o Eu- própria lista de eufem ma irônica, po rque
o de for
fazer é usar o eufemism
femismo, mais não são para qualquer adolescente sitivo.
daí se perde o efeito po
que um Eufemismo, sendo com uma definição
tão agradável que se escondem Hipérboles e Metá-
foras, nomes tão difíceis para qualquer Bernardo,
Rodrigo ou Mariazinha.
Fascículo 2 37

Atividade Crítica/Reflexiva | Comente (mensurável por instrumentos) e o seu efeito per-


alguma situação em sua vida que você já sentiu cebido (relatado). Mais adiante,Wilhelm Wundt
necessidade de substituir palavras ou expres- fundou o primeiro laboratório de psicologia expe-
sões mais fortes por outras mais suaves, seja rimental em Leipzig, em 1875.
para não machucar ou incomodar alguém, seja
por algum outro motivo no FÓRUM TEMÁ- Na filosofia, a percepção e seu efeito no conhe-
TICO da Sala Virtual da Disciplina. cimento e aquisição de informações do mundo
é objeto de estudo da filosofia do conhecimento
ou epistemologia. Em geral, a percepção visual foi
5. Os Sentidos da Percepção base para diversas te-
orias científicas ou
e a Sinestesia
filosóficas. Newton
e Goethe estudaram
Em psicologia, neurociência e ciências cognitivas, a percepção de cores
percepção é a função cerebral que atribui signifi- e algumas escolas,
cado a estímulos sensoriais a partir de histórico como a Gestalt, sur-
de vivências passadas. Através da percepção, um gida no Século XIX e
indivíduo organiza e interpreta as suas impressões escolas mais recentes,
sensoriais para atribuir significado ao seu meio. como a fenomenolo-
Consiste na aquisição, interpretação, seleção e or- gia e o existencialis-
ganização das informações obtidas pelos sentidos. Figura 25. Sinestesia: Observe a
mo baseiam toda a relação entre cores e a ideia de
A percepção pode ser estudada do ponto de vista sua teoria na percep- sons no desenho.
estritamente biológico ou fisiológico, envolvendo ção do mundo.
estímulos elétricos evocados pelos estímulos nos
órgãos dos sentidos. Do ponto de vista psicológi-
co ou cognitivo, a percepção envolve, também, os Texto Complementar
processos mentais, a memória e outros aspectos r/lpa/index.asp
http://www.pmr.poli.usp.b USP que
que podem influenciar na interpretação dos dados de Percepção Avançada da
- página do Laboratório
imento de
percebidos. robótica para desenvolv
faz experimentos em
.
is sensíveis ao mundo
máquinas robóticas ma
Oestudo da percepção é um dos campos mais
antigos da pesquisa psicológica, e existem muitas
teorias quantitativas e qualitativas sobre os pro- Na figura 25, o ícone que indica a saída de som de
cessos fisiológicos e cognitivos envolvidos. Os pri- um alto-falante ou amplificador está ao lado de um
meiros a estudar com profundidade a percepção série de barras coloridas, partindo das cores mais
foram Hermann von Helmholtz, Gustav Theodor frias para as mais quentes. Desse modo, o sentido
Fechner e Ernst Heinrich Weber, A Lei de Weber- da visão (cores) está associado ao sentido da audi-
Fechner é uma das mais antigas relações quanti- ção (sons), isto é Sinestesia, ou seja uma relação
tativas da psicologia experimental e quantifica de troca de sentidos da percepção. Leia o artigo a
a relação entre a magnitude do estímulo físico seguir:

Fenômeno da Sinestesia
Auras a
Cientistas Britânicos Relacionam de
zes ao misticismo, po
s co rpo s hu ma no s, relacionada muitas ve
auras em volta do mistura dos sentidos
.
A visão de halos ou fen ôm eno da sinestesia ou
r um sim ple s
ser causada po ge de Londres, dirigi
da
e de pe sq uis ad ore s do University Colle no ti-
tada por uma equip psychology e
A hipótese foi levan ca do na rev ista bri tânica Cognitive Neuro
rd. O estudo foi publi
pelo doutor Jamie Wa Daily Telegraph.
eira pelo jornal The
ciado nesta quarta-f deres “extrasensoria
is”
irr ad iaç õe s lum ino sas foi associada a po de nis so . Ess e
capacidade de ve r algo de ve rda
Tradicionalmente, a ssu ir. Ag ora , os cie ntistas acham que há írit os , ma s po de estar
afirmam po dos esp
que certas pessoas nem com o mundo ” sons,
o tem a ve r co m “campos de energia” co m qu e alg umas pessoas “vejam
fenômeno nã os hu ma no s, faz en do
nfusão dos sentid
relacionado a uma co
ou “sa boreiem” formas.
“escutem” cores
38 Fascículo 2

reação a palavras
as qu e conhecem ou como
cas podem enxergar
cores em pe sso pessoas, mas são
As pessoas sinestési let em en erg ias ocultas emitidas pelas tânicos.
dio”. Essas cores nã
o ref são dos cientistas bri
como “amor” ou “ó pe sso a qu e vê a au ra, segundo a conclu
no cérebro da
criadas inteiramente iniciais G.W., que via
em , ide nti ficada apenas pelas mes
descreve o caso de
um a jov de bastar ouvir os no
Em seu estudo, Ward co ntr av a pe sso as conhecidas, a ponto bri a tod o o ca mp o
co mo az ul e vio leta quando en m a ap ari çã o de uma cor que co
co res voca va
sação. Os nomes pro lorida.
delas para ter essa sen sso as pa rec iam emanar uma aura co
de G. W. , e as tai s pe
de visão to, e “Han-
a, “Thomas” ao pre
era im ed iat am en te associada à cor ros co lor ia de vermelho,
Por exemplo, a palav
ra “Jamie” se div ert ia, tod o o cenário se o”
do a jovem ia a um
a fes ta e almente como “med
nah”, ao azul. Quan a, cer tas pa lav ras carregadas emocion
s. Segundo a pesquis
afirmam os cientista cromáticas.
de sencadeavam reações
e “ódio” também como rosa, laranja e
oç õe s po siti va s faz iam aparecer cores,
ente associadas a em rrom e cinza.
As palavras normalm tiv o pro vo ca va m co res, como preto, ma
avam algo nega
verde. Já as que evoc ha se interessado po
r
red ite ter po de res místicos e nunca ten ter est a in-
embora G.W. não ac cultura, esse fenômen
o poderia
Segundo Jamie Ward, iná ve l que em outro tipo de lta da cabeça, e isso é algo
en te im ag la em vo
esoterismo, é facilm pin tar am os sa nto s com uma auréo
s sempre
terpretação. Os artista
ito so bre o fenômeno criativo.
que diz mu cores.
percebia as letras em
ir Na bo ko v esc rev eu certa ocasião que Rim ba ud , sin est ésico
O escritor russo-am
ericano Vladim
alf ab eto esc rito pe lo francês Arthur
do
poema sobre as cores
Também é famoso o
por excelência. outros estudos
da du as mi l pe sso as é sinestésica. Mas
a em ca
uisas anteriores, um
De acordo com pesq ito ma ior de sse fenômeno.
ração mu
indicam uma prolife determinar
pa rtic ipa rem de um teste destinado a
convidou simples pe
destres pa ra condição associam
O cientista britânico tifi ca r se as pessoas com essa
ésicos sem saber. Tra
ta- se de cer outras pessoas fariam
se são ou não sinest ou ao s me sm os números, enquanto
ras
cores às mesmas let
sempre as mesmas
aç ão .
isto por adivinh em San Diego, acham
da Un ive rsidade da Califórnia ou
mo Vilayanur Rama ch an dra n, a, nas artes plásticas
Outros cientistas , co eta me nte à cri ati vidade, seja na poesi ain da na ba se da
á relacionada dir objetos pode est ar
que a sinestesia est ra rel ac ion ar so ns e
ído um pa sso
, nossa habilidade pa visão pode ter constitu
na literatura. Para ele ão en tre os sen tidos do ouvido e da
A rel aç
linguagem humana.
po rta nte pa ra a cri ação verbal.
im EFE
S/A.
o escrita da Agência EFE
o todo tipo de rep rodução sem autorizaçã
direitos reservados. É proibid
Agência EFE - Todos os

Síntese
Figura 26. Observe
o teclado na figura; é Embora já seja aceita como uma condição real e
uma maneira didática não apenas imaginação exagerada, a causa da sines-
de ensinar a localização
das notas musicais no tesia é desconhecida. Algumas hipóteses já foram
teclado, por meio de levantadas e compõem parte do campo de estudos
um artifício visual.
do assunto:

1. Supõe-se que todos os sentidos são interpre-


Textos Complementares tados de forma separada e protegida em regi-
esia-saiba-se-voc-
.com.br/2008/08/sinest
http://www.zootropole ões distintas do cérebro. Na sinestesia, haveria
sinestsico.html u de sinestesia em uma queda de uma ou mais destas barreiras,
teste para saber o gra
- apresenta um breve
fazendo com que os sinais dos órgãos senso-
seus sentidos.
8/03/sinestesia-o- riais chegassem a mais de uma área interpreta-
tivos.blogspot.com/200
http://neuronioshipera tiva, gerando respostas fora do comum.
tml
sabor-das-palavras-o.h
- site com informações acerca da Sinestesia. 2. Todos nasceríamos com essa condição, desta
ot.com/
forma o cérebro infantil seria sinestésico por
http://sinestesico.blogsp definição, mas nos primeiros meses ou anos
o à Sinestesia.
- blog dedicad
Fascículo 2 39

de vida passaria por um processo de especiali- 6. A Metáfora e a Comunicação


zação que levaria à conformação convencional
que conhecemos, os sinestésicos adultos conti-
Problematização
nuariam com as funções sensoriais mescladas
em algum nível.
Metáforas são muito antigas e muito comuns. Es-
3. Os sinais sensoriais chegam a várias áreas do
tamos cercados de metáforas. A metáfora é consti-
cérebro, mas algum tipo de “máscara” faz com
tuinte da própria linguagem, e poderíamos dizer
que apenas alguns sejam filtrados e interpre-
que todo signo é metáfora, quando transfere o sig-
tados por determinados setores cerebrais. A
nificado indizível do incognóscível para um objeto
sinestesia seria originada pela queda dessa
representativo. Notemos que as metáforas funcio-
“máscara”.
nam como substitutos para termos mais próprios,
óbvios ou costumeiros em dado contexto. Esse
Esta última hipótese tem base nos sintomas de
“funcionamento” da metáfora repete o mecanis-
quem é usuário de alucinógenos, como LSD e
mo da semiose em geral. Ou ainda, se o signo é
mescalina, cujos sintomas são semelhantes ao
uma coisa que representa outra, estando no lugar
da sinestesia, só que muito mais fortes e
de outra, o mesmo se dá na metáfora. Podemos
descontrolados.
distinguir semiose lato sensu de metáfora, analisan-
do os caminhos do entendimento. Na metáfora, o
Atividade Crítica/Reflexiva | Já aconte- entendimento é determinado, principalmente, por
ceu com você de alguma vez se enganar sobre
meio de associações idiossincráticas, evocativas, in-
algo que estivesse olhando? Algo que lhe pa-
ferenciais, lógico-relacionais ou, como sugere Um-
receu diferente do que realmente depois você
berto Eco, por ratio dificilis (raciocínio complexo).
verificou que era? Comente no FÓRUM TE-
Na semiose metafórica, o modo simbólico de sig-
MÁTICO da Sala Virtual da Disciplina.
nificação assume um importante papel mediador
entre inferências e associações. Todo termo meta-

SAIBA MAIS!

Inferência Inconsciente percep-


do estudo científico da
qu en tem en te cita do como o fundador te: visão é uma
Hermann von Helmho
ltz é fre a inconscien
a qu e a visão é um a forma de inferênci
sustentav de dados incompletos
.
ção visual. Helmholtz
riv ar um a int erp ret ação provável a partir
questão de de amente são assumido
s no
via s so bre o mu nd o: dois fatos que sabid tos de cim ae
sunções pré jetos são vis
Inferência requer as ua is é qu e a luz vem de cima e que ob ) lan ça ram
ormaçõe s vis erência fal ha
processamento de inf que o processo de inf
. O est ud o de ilu sõ es de óptica (casos em a vis ua l.
não, de baixo midas pelo sis tem
bre qu e tip o de inf ormações são presu
muita luz so mados “Estudos Bayes
ianos”
sci en te foi rec en tem ente retomada nos cha l exe cu ta algu-
A hipótese da inferênci
a incon o sistema visua
nte s de ssa ab ord ag em consideram que . Mo de los ba se-
de percepção visual.
Propone ulo sensorial
na , pa ra de riv ar um a percepção do estím a pe rce pç ão
a bayesia uais, tais co mo
ma forma de inferênci pa ra de scr ev er vários subsistemas vis an , La nd y &
sido usad os da em Mama ssi
ados nesta ideia têm Um a int rod ução pode ser encontra
profundid ad e.
de movimento e de
Maloney (20 02 ).

Teoria da Gestalt itas das hipóteses


s dé ca da s de 19 30 e 1940 levantou mu
lt em trabalhos da
A psicologia da Gesta almente.
los cientistas da visão atu
que são estudadas pe bem componentes
os est ud os sob re como as pessoas perce é
da Gestalt têm guiad o mponentes. Gestalt
As leis de organização co nju nto s, ao inv és de suas partes co há sei s
organizados ou essa teoria,
visuais como padrões gu raç ão ” ou “p ad rão”. De acordo com vis ua l.
que significa “confi s de acordo com a pe
rcepção
uma palavra alemã co mo nós agrupamos coisa
e de ter mi na m
fatores principais qu
40 Fascículo 2

fórico tem um caráter simbólico, ainda que sutil, uma sutil hipérbole, ao se dizer que em uma bolsa
oculto ou indireto. A peculiaridade da significação de mulher, cabem tantas coisas quanto em uma
por metaforização reside na eficácia desse recurso geladeira. Notemos que a palavra “refriggerador”
quando o objetivo é de enfatizar certos aspectos de com dois “gg” em vermelho indica tamanho extra
uma realidade, sintetizar, enaltecer, ou mesmo, or- grande, e a frase “cabe tanta coisa que você nem
namentar, simplesmente, um discurso, poetizar si- acredita” logo abaixo da foto da bolsa reforça tanto
tuações, seduzir pela o sentido metafórico quanto o
palavra. O efeito se hiperbólico.
opera pela evocação
de relações não vulga-
res entre o metafori-
Texto Complementar
wiki/Metáfora
zante e o metaforiza- http://pt.wikipedia.org/
dia acerca da
do. Com tal virtude - verbete da Wikipé
de eficácia, a metáfo- Metáfora.
ra está em toda parte:
na língua do povo, na
gênese de gírias, ne- Síntese
ologismos e ironias,
nos filmes e slogans e A mais famosa figura de lin-
imagens da publicida- guagem, a metáfora é, assim
de, nas manchetes do como a metonímia, uma figu-
dia- a- dia, nas artes ra de palavras - isto é, o efeito
em geral. Encontra- se dá pelo jogo de palavras que
mo-la em todas as se faz na frase.
linguagens: escrita,
falada, audiovisual. A metáfora consiste em retirar
Figura 27. Metáfora - 1
uma palavra de seu contexto
convencional (denotativo) e trans-
portá-la para um novo campo de sig-
Texto Complementar nificação (conotativa), por meio de
e da Wikipédia
wiki/Semiótica - verbet
http://pt.wikipedia.org/ uma comparação implícita, de uma
ncia dos signos.
acerca da Semiótica, ciê similaridade existente entre as duas:

• Buscava o coração do Brasil.


Sistematização Ora, o Brasil não possui o órgão biológico em
questão. Portanto, coração significa aí o centro
Na figura 27, temos a propaganda de uma geladei- vital, a essência, o âmago do país.
ra que promete muito espaço, capaz de guardar • Achamos a chave do problema.
muitas coisas, mas que por fora não é tão grande O problema não é nenhuma fechadura, mas
que possa incomodar. Antes da imagem da gela- para resolvê-lo (ou abri-lo), o elemento que se
deira, vemos uma bolsa de diz ter achado é tão necessário quanto uma
mulher. A mensagem, por- chave para abrir uma porta.
tanto, é que a geladeira em
questão cabe tanta coisa Catacrese
quanto uma bolsa de mu-
lher e ocupa tanto espaço
É uma variedade de metáfora natural da
quanto ela. Temos aqui
língua, de emprego corrente, que serve para
uma Metáfora, uma vez
suprir a inexistência de um nome específico
que entre a bolsa de mu-
para determinada coisa.
lher e a geladeira se estabe-
lece uma comparação de Figura 28. metáfora2: Observe
os chinelos e os pincéis coloca- • Nariz do avião, pé da mesa, boca da noite,
suas qualidades. Por outro dos de forma a sugerir por me-
dente de alho, embarcar no trem, etc.
lado, existe também aqui, taforização os dedos dos pés
Fascículo 2 41

SAIBA MAIS!
Metáfora e Matemática
Certos
iocínio matemático.
da s e en ten did as de acordo com um rac tid ão às cha-
ser explica to ar de exa
As metáforas podem an alo gia s, po rqu e emprestam um cer . O lin gu ista
muito dessa s enas relativa
pensadores gostam en te, ne sse s ca sos, tal exatidão é ap est iga da em
nas. Logic am podia ser inv
madas ciências huma sen vo lve r ess a ide ia. Para ele, a língua co ns tan tes e
dinamarquês Hjelmsle
v tentou de GRANDEZAS
na s pa lav ras e pro posições, aspectos ou
tinguindo,
termos algébricos, dis es.
mo no s sistemas de equaçõ
variáveis, tal co a de
metáforas como sistem
e filo so fia da lin gu agem, refere-se às an tes às que
Já Umberto Eco, em
Semiótica tações semelh
s - qu e po de ser representado com no s atr av és de
relações entre dois ou
três termo tender metáfora
co s de rel aç õe s e proporções. Para en res sa m sig ni-
s matemáti seguinte fato: metáf
oras exp
servem aos problema camente, partimos do
ord en ad o ma tem ati s, pro xim ida des, contingências,
um raciocínio eq uiv alê nc ias, pertinência vias
ficados ou funcionam
quando de sta ca m ociações podem ser ób
tum eir am en te nã o associados. Essas ass co mp lex o ou
tre termos cos simples quanto
enfim associações en en ten dim en to tanto um raciocínio
dem exigir do
ou insuspeitadas. Po is, segundo Eco).
do (ra tio simples e ratio dificil
mesmo refina das,
”, desnudadas, realça
FU NÇ ÃO de afi nidades “descobertas pa ra en ten der
elecem em ir quanto
Tais relações se estab ns tru çã o me taf óri ca. Tanto para constru orr ên cia da
das pela co o contexto de oc
evidenciadas, enfatiza o un ive rso sem ântico dos termos e rel aç ão me -
rio conhece r nam possíve l a
metáforas, é necessá e se eq uiv ale m em dado contexto, tor ca , ba sea da
simbólicos, qu ão matem áti
proposição. Valores gia com a representaç
ter mo s de lin gu ag em. Observe a analo
tafórica entre
e proporções:
na lógica das razões em matemática
a:b::c:d (a x d)
duto dos extremos
mo c est a pa ra d, significando que o pro
b assim co
LENDO: a está para EXEMPLO NÚMERIC
O:
dos meios (c x d). EM UAIS, PORÉM
é IGUAL ao pro du to
O E PR OP OR ÇÃ O. SÃO VALORES DESIG
DE RA ZÃ :
4 2:3::12:18 ESTA É
UMA RELAÇ ÃO OPORÇÃO. DE TO FA
HA NTE EM NA TUREZA (RAZÃO) E PR
ÃO SEMEL
EM ESTADO DE RELAÇ 2 x 18 = 3 x 12 = 36

na metáfora
4
:: TERMO 3 : TERMO
TERMO 1 : TERMO 2 em tor rentes
o ouro negro jorrava al (o
Na frase: No deserto, qu e a semântica dicionari
tra ns fer ên cia de sig nificados, posto pro pri ed ade
a clara sólido, não jor ra,
O exemplo mostra um e ou ro: 1º nã o é negro; 2º sendo á su bs ti-
) inform a qu que, no exemp lo, est
significado costumeiro e OU RO NEG RO é uma expressão en te ma is
, então , qu alidade us ua lm
de líquido. Percebe-se co ns titu i o su jei to. Considerando a qu
concreto qu e
tuindo o substantivo associada ao ouro, tem
os:

EM MATÉRIA SÓLIDA
ÔMICO ou RIQUEZA
OURO : VALOR ECON “JORRA”, LÍQUIDA
RO”: RIQUEZA QUE
:: QUALIDADE “NEG

crianças, a me- qualidade negro


ação, brincadeira de qualidade riqueza
Como numa adivinh zado é uma SÓLIDO termo metaforizado
ão: o termo metafori qualidade riqueza
táfora sugere a quest sma qualida- OURO
gra que possui a me líquido
matéria líquida e ne seja, petróleo. termo metaforizante
mica que o ouro, ou temática
de de riqueza econô o o aspecto do Figura 29. metáfora_ma
tróleo, se considerad
Ouro equivale a pe
duas substâncias.
valor pecuniário das
42 Fascículo 2

Atividade Crítica/Reflexiva | Indique com uma dimensão textual invulgarmente extensa;


aqui uma atividade para os alunos realizarem no por vezes, abrange a totalidade de uma obra lite-
contexto social, PROVOCANDO o aluno a co- rária: é o que acontece, por exemplo, no Auto da
laborar com o debate do tópico no FÓRUM TE- Barca do Inferno, de Gil Vicente.
MÁTICO da Sala Virtual da Disciplina.]
Nesse auto vicentino, a passagem da vida terrena
Preencha os quadrinhos das cruzadinhas a seguir: à vida depois da morte é alegoricamente represen-
tada pela passagem de um rio, para a qual estão
Cruzadinhas disponíveis duas barcas, a barca do paraíso e a
1 barca do inferno. As almas são metaforicamente
1 representadas por passageiros; o interrogatório a
2 que são submetidas representa o julgamento das
3 almas subsequente à morte; o destino de cada uma
4 das barcas prefigura a salvação ou a condenação
5 eternas. Embarcar numa ou noutra depende do
6 comportamento das almas na vida terrena, e esse
7 comportamento determina, portanto, o destino
8 das almas depois da morte.
9
Horizontais: Releia agora a alegoria da árvore utilizada pelo P.
1. Figura do exagero; Antônio Vieira num dos seus sermões.
2. Figura da substituição (parte pelo todo,
conteúdo pelo continente, etc...) (...) Uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem
3. Troca de sentidos, integração de sentidos folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há-de ser
da percepção; o sermão; há-de ter raízes fortes e sólidas, porque há-de ser
fundado no Evangelho; há-de ter um tronco, porque há-de
4. Por vezes, utilizada como sinônimo de
ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco
Idioma;
hão-de nascer diversos ramos, que são diversos discursos,
5. Figura da atenuação da força expressiva de mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes
uma mensagem; ramos não hão-de ser secos, senão cobertos de folhas, por-
6. Quando se diz o contrário do que realmen- que os discursos hão-de ser vestidos e ornados de palavras.
te se pretende dizer; Há-de ter esta árvore varas, que são a repressão dos vícios;
7. Estudo das normas e regras do “bem falar”; há-de ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo
8. Tipo especial de Metonímia; isto, há-de ter frutos, que é o fruto e o fim a que se há-de
9. Figura baseada num processo de comparação. ordenar o sermão (...). P. Antônio Vieira

Vertical: Este excerto é bem elucidativo da natureza da


1. Sistema organizado de sinais, código, todo sis- alegoria. Para mostrar, de forma mais expressiva,
tema de signos que serve para comunicação. como deve ser o sermão, o autor compara-o, nos
seus diversos elementos, com uma árvore e suas
partes constituintes.
7. A Leitura da Alegoria
Começa por estabelecer uma comparação genéri-
ca entre o sermão e a árvore: “Uma árvore tem
Problematização raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem
varas, tem flores, tem frutos. Assim há-de ser o
Sucessão de metáforas e/ou comparações através sermão (...)”. Um confronto do tipo “O sermão é
das quais realidades abstratas são concretizadas. como uma árvore” não alcançaria a expressividade
Por meio desta figura, uma realidade abstrata, e, que Vieira pretende. E, ao desdobrar a árvore nos
por isso, de mais difícil apreensão, é substituída seus constituintes (raízes, troncos, ramos...), abre o
por ou comparada com uma realidade mais con- caminho à alegoria, estabelecendo o paralelo entre
creta e, portanto, mais compreensível. cada deles e os elementos do sermão: [o sermão]
“há-de ter raízes (...); há-de ter um tronco (...); des-
Por esse motivo, a alegoria é uma figura de estilo te tronco hão-de nascer diversos ramos (...)”.
Fascículo 2 43

da nossa língua. O trigo do semeador, ainda que


caiu quatro vezes, só de três nasceu; para o sermão
vir nascendo, há-de ter três modos do cair: há-de
cair com queda, há-de cair com cadência, há-de
cair com caso. A queda é para as coisas, a cadência
para as palavras, o caso para a disposição. A queda
é para as coisas, porque hão-de vir bem trazidas e,
em seu lugar, hão-de ter queda; a cadência é para
as palavras, porque não hão-de ser escabrosas, nem
dissonantes, hão-de ter cadência; o caso é para a
disposição, porque há-de ser tão natural e tão de-
safectado que pareça caso e não estudo: Cecidit,
cecidit, cecidit.” (Sermão da Sexagésima, V, Obras Escolhidas,
vol.XI, Sá da Costa, Lisboa, 1954, p.222).

Figura 30. Alegoria da Pátria: Alegoria à Etimologicamente, o grego allegoría significa “di-
Pátria, às Artes, à Indústria, à Agricultura
e à História de Portugal da autoria de
zer o outro”, “dizer alguma coisa diferente do sen-
Acácio Lino. tido literal” e veio substituir, ao tempo de Plutarco
(c.46-120 d.C.), um termo mais antigo: hypónoia,
O valor expressivo da alegoria resulta, principal- que queria dizer “significação oculta” e que era
mente, do fato de tornar mais perceptíveis certas utilizado para interpretar, por exemplo, os mitos
características das realidades abstractas, relacionan- de Homero como personificações de princípios
do-as com outras, concretas. Neste caso, a natureza morais ou forças sobrenaturais, método que teve
do discurso oratório (sermão) torna-se mais visível como foi especialista Aristarco de Samotrácia
pela comparação com uma realidade concreta de (c.215-143 a.C.). A alegoria distingue-se do símbo-
todos conhecida, a árvore. lo pelo seu carácter moral e por tomar a realidade
representada elemento a elemento e não, no seu
No centro da composição, surge a Pátria, coroada conjunto. Muitas vezes definida como uma me-
por um anjo e entronizada (sem esboceto conhe- táfora ampliada, ou, como dizia Quintiliano, no
cido e apenas identificada pelos atributos); abaixo Institutio oratoria, uma “metáfora continuada que
desta, a Agricultura (com esboceto); à esquerda, a mostra uma coisa pelas palavras e outra pelo sen-
Pintura e a Arquitetura (sem esboceto conhecido, tido”, a alegoria é um dos recursos retóricos mais
mas identificáveis pelos atributos: paleta e compas- discutidos teoricamente ao longo dos tempos. A
so); em baixo, à esquerda, a Indústria (com esbo- mesma correlação é estabelecida por Cícero no De
ceto); em baixo, à direita, a História de Portugal Oratore, em que a alegoria é vista como um siste-
(com esboceto - por vezes, por desconhecimento da ma de metáforas. Uma forma de distinguir metáfo-
existência do estudo, tem sido identificada como a ra e alegoria é a proposta pelos retóricos antigos:
alegoria às Letras, por carregar um livro). a primeira considera apenas termos isolados; a
segunda amplia-se a expressões ou textos inteiros.

Texto Complementar Na tradição grega mais antiga, uma aplicação pos-


wiki/Alegoria
http://pt.wikipedia.org/ sível da proto-ideia de alegoria é o ensino dos pita-
.
- verbete da Wikipédia góricos, cujo sistema filosófico, apoiado em rela-
ções numéricas simbólicas, contém associações de
natureza alegórica. Tal acontece, por exemplo, na
Sistematização doutrina do dualismo essencial entre limite e ili-
mitado, que se funda na composição de dez pares
Alegoria de opostos, alguns alegóricos como Luz/Trevas e
Bom/Mau.
Aquilo que representa uma coisa para dar a ideia
de outra através de uma ilação moral. Um bom Regra geral, a alegoria reporta-se a uma história ou
exemplo em português é-nos apresentado pelo Pa- a uma situação que joga com sentidos duplos e fi-
dre Antônio Vieira: “Notai uma alegoria própria gurados, sem limites textuais (pode ocorrer num
44 Fascículo 2

simples poema como num romance inteiro), pelo A distinção fundamental entre a alegoria e o sím-
que também tem afinidades com a parábola e a bolo foi estabelecida durante o Romantismo, em
fábula. Seja o exemplo seguinte de uma fábula de Coleridge no Statesman’s Manual (1816 ) e em es-
Esopo: “O leão e a rã”: Certa vez, um leão, ao pecial com Goethe e Schlegel. Ao princípio de Sch-
passar perto de um pântano, ouviu uma rã coaxar legel, que defendia que toda a obra de arte devia
muito alto e com muita força. Dirigiu-se então na ser uma alegoria, começou Hegel por contrapor:
direção do som, supondo que ia encontrar um “Isso só será assim, se significar que toda a obra
animal grande e possante, correspondente ao ba- de arte deve representar uma ideia geral e implicar
rulho que fazia. Por isso, ao avançar, nem repa- uma significação verdadeira. Ora, pelo contrário, o
rou na pequena rã e pôs-lhe a pata em cima. “Vê que nós aqui designamos com o nome de alegoria
lá onde pões os pés!”, gritou a rã. O leão olhou, é um modo de representação secundária tanto no
admirado, e disse: “Se és assim tão pequena, por- conteúdo como na forma e só de um modo imper-
que é que fazes tanto barulho?” Se substituirmos feito corresponde ao conceito de arte.” (Estética,
a rã por “o Orgulho” e o leão por “o Poder”, trans- trad. de Álvaro Ribeiro e Orlando Vitorino, Gui-
formamos a fábula numa alegoria; se em vez da rã marães Eds., Lisboa, 1993, p. 226).
colocássemos “o Ministro Sem Pasta” e em vez do
leão “o Pai Severo”, teríamos uma parábola, que A discussão sobre as diferenças entre símbolo e
esconde personagens reais por detrás de uma más- alegoria continua no século XX, salientando-se as
cara alegórica. De notar que é usual, na alegoria o reflexões de Walter Benjamin, Martin Heidegger,
recurso a personificações ou prosopopeias, em es- Hans-Georg Gadamer e Paul de Man. Todos ten-
pecial de noções abstratas, prática muito comum, tam, de uma forma ou de outra, estabelecer a con-
sobretudo na literatura medieval. ciliação de ambos os conceitos, que está negada
pelos românticos.
A decifração de uma alegoria depende sempre de
uma leitura intertextual, que permita identificar Walter Benjamin, em Ursprung des deutschen
num sentido abstrato um sentido mais profundo, Trauerspiels (Origens do Drama Trágico Alemão,
sempre de caráter moral. Dizer que a alegoria é um 1928), traz a alegoria para o campo exclusivo da es-
desenvolvimento de uma fábula pode não ser sufi- tética. Partindo do sentido etimológico do termo,
ciente. Vejamos, por exemplo, o enigma da Esfinge Benjamin viu a alegoria como a revelação de uma
no mito de Édipo. A questão central é esta: «Qual é verdade oculta. Uma alegoria não representa as coi-
o ser que, tendo uma única voz, ora caminha com sas tal como elas são, mas pretende antes dar-nos
dois pés, ora com três, ou ainda com quatro, e que uma versão de como foram ou podem ser, por isso
é tanto mais fraco quantos mais pés tiver?» Quan- Benjamin se distancia da retórica clássica e assegu-
do Édipo chega a Tebas, resolve o enigma, respon- ra que a alegoria se encontra “entre as ideias como
dendo: «É o homem que engatinha a quatro patas as ruínas estão entre as coisas”. O filósofo alemão
enquanto é criança, caminha ereto nas suas duas distinguiu dois tipos de alegoria: a “cristã”, que se
pernas quando é jovem e se encosta a uma benga- atesta no drama barroco e que nos dá a visão da
la na velhice.», a Esfinge, derrotada, suicida-se. O finitude do homem na absurdidade do mundo, e a
desenvolvimento da fábula da Esfinge grega depen- “moderna”, atestada na obra de Baudelaire, coloca-
de de duas condições essenciais para se constituir da ao serviço da representação da degenerescência
como alegoria: não estar limitada a um fim didático, e da alienação humanas. É importante a distinção
como todas as fábulas (sem a conclusão do enigma, que Benjamin faz entre alegoria e símbolo, recupe-
a tragédia de Sófocles não poderia progredir); não rando a oposição romântica: a primeira, enquanto
jogar com a significação metafórica, isto é, não pro- revelação de uma verdade oculta - ou “uma verdade
duzir mais do que uma leitura do sentido abstraído, escondida sob bela mentira”, na célebre definição
porque é próprio da alegoria não fazer uso da am- de Dante, no Convívio -, é temporal e aparece como
biguidade ou da plurissignificação, sob pena de se um fragmento arrancado à totalidade do contexto
perder a ilação moral procurada. social; o símbolo é essencialmente orgânico. O exa-
me da relação entre o simbólico e o alegórico no
Até à Idade Média, inclusive, a alegoria serviu de Romantismo alemão será continuado por Lukács,
instrumento de defesa de teólogos que recorreram na sua Estética, em diálogo distanciado com Benja-
às interpretações alegóricas da Bíblia para supera- min, investigando o conceito de alegoria à luz de um
rem todas as dúvidas heréticas. dos paradigmas marxistas: a ideologia.
Fascículo 2 45

Heidegger estudou a natureza da obra de arte The Well Wrought Urn (1947), alegorizou todos
como sendo constitutiva de uma realidade alegó- os poemas que leu, de forma a transformá-los em
rico-simbólica indivisível: “A obra de arte é, com parábolas para a própria natureza da poesia; a cha-
efeito, uma coisa, uma coisa fabricada, mas ela diz mada crítica arquetípica defende, como o faz Nor-
ainda algo de diferente do que a simples coisa é, throp Frye em The Anatomy of Criticism (1957),
‘allo agoreuei’. A obra dá publicamente a conhecer que toda a análise literária deve ser alegórica.
outra coisa, revela-nos outra coisa: ela é alegoria.
À coisa fabricada reúne-se ainda, na obra de arte,
algo de outro. Reunir-se diz-se em grego symbal-
lein. A obra é símbolo.” (A Origem da Obra de
Arte, Edições 70, Lisboa, 1992, p.13). Na sua mag-
num opus, Wahreit und Methode (1960), Hans-
Georg Gadamer estabelece as semelhanças entre
alegoria e símbolo: ambos se referem a algo cujo
sentido não consiste na respectiva aparência exter-
na ou imagem acústica, mas numa significação que
os supera; em ambos, uma coisa quer dizer outra.
E conclui que a principal diferença reside no fato
de o símbolo se opor à alegoria da mesma forma
que a arte se opõe à não-arte.

Paul de Man reapreciou também o debate romântico Figura 31. Alegoria da Justiça: Beccafumi Domenico
(c. 1486-1551), il Mecarino. Alegoria da Justiça (1,610
sobre a alegoria e o símbolo e, em Allegories of x 1,510 m). Pintura a óleo sobre tela, localizada em
Reading (1979), apresentou as suas próprias leitu- Lille, Palais des Beaux-Arts
ras como alegorias, observando que o exemplo de
Rousseau pode contrariar o senso comum que vê o
Romantismo como a afirmação do símbolo em de-
trimento da alegoria. Paul de Man expõe a diferen-
ça entre ambos os termos desta forma: “Enquanto
o símbolo postula a possibilidade de uma identi-
dade ou identificação, a alegoria designa, acima
de tudo, uma distância em relação à sua própria
origem, e, renunciando à nostalgia e ao desejo de
coincidência, fixa a sua linguagem no vazio desta
diferença temporal.” (“The Rhetoric of Tempora-
lity”, in Blindness and Insight, 2 ed., Routledge,
Londres, 1989, p. 207).
Figura 32. Carro Alegórico: Observe o sentido alegórico
O próprio exercício da teoria e da crítica literária do carro.
se tem servido de processos alegóricos: Ruskin es-
creveu o tratado clássico Queen of the Air (1869),
em que define o mito como uma história alegórica; Textos Complementares
as obras de Freud e Jung fizeram escola na interpre- wiki/Estética
http://pt.wikipedia.org/
tação alegórica de sonhos e mitos; os doze volumes ipé dia sobre Estética
- verbete da Wik
goria.htm
do estudo comparado de religiões Golden Bough ano sso.nom.br/retorica/ale
http://www.radames.m
(1911-15), de James Frazer, fornece interpretações ia.
- página acerca da Alegor
alegóricas de mitos primitivos que se tornaram re-
ferências fundamentais no género; Walter Benja-
min, no ensaio “O narrador” (in Illuminationen, Síntese
1969), distingue alegoricamente dois tipos ideais
de narrador: o marujo que nos permite aproximar Uma alegoria é uma representação tal que transmi-
de lugares distantes e exóticos, e o velho camponês te um outro siginificado em adição ao significado
que conta histórias antigas; Cleanth Brooks, em literal do texto. Em outras palavras, é uma coisa
46 Fascículo 2

que é dita para dar a noção de outra, normalmente Atividade Crítica/Reflexiva | A alegoria da
por meio d’alguma ilação moral. Justiça, enquanto estátua da Justiça é representa-
da de olhos vendados e segurando uma balança e
É bastante fácil confundir a alegoria com a metáfo- uma espada. Você sabe por quê? Comente no FÓ-
ra, pois elas têm muitos pontos em comum. Para RUM TEMÁTICO da Sala Virtual da Disciplina.
melhor entender o que seja uma alegoria, podemos
citar alguns exemplos.
8. Leitura do Mundo
O mais conhecido exemplo de alegoria é provável
que seja O Mito da Caverna, de Platão. O autor Problematização
referia-se aos mitos e superstições de seus contem-
porâneos, comportamento que ficou representado Paulo Freire aponta
pela alegoria da caverna em que as pessoas ficariam leitura de mundo
presas e imóveis, sem jamais poder contemplar como um desvela-
diretamente o que acontecia fora dali. mento da realida-
de, na qual se retira
A Bíblia está repleta de alegorias, o próprio Cris- o véu que cobre os
to ensinava por meio delas. Mas, antes mesmo do nossos olhos e não
Novo Testamento, encontramos muitas alegorias, nos deixa ver as coi-
e muitos talvez considerem uma das mais belas a sas, com o objetivo Figura 33. Paulo Freire
que faz a comparação da história de Israel com o de poder conhecê-
crescimento de uma vinha no Salmo 80. las. Ele acrescenta que não basta apenas desvelar
a realidade, é necessário realizar um desvelamento
Os ditados populares são alegorias contextualizadas: crítico, ou seja, uma ação que homens e mulheres
devem exercer para retirar o véu (o que oculta) que
• “Água mole em pedra dura, tanto bate até não os deixa ver e analisar a veracidade das coisas,
que fura.” chegar ao profundo das coisas, conhecê-las, encon-
• “Mais vale um pássaro na mão que dois voando.” trar o que há em seu interior, operar sobre o que
• “Casa de ferreiro, espeto de pau.” se conhece para transformá-lo. Sendo assim, para
Freire um conhecimento crítico (desvelamento
Etimologicamente, o grego allegoría significa “di- crítico) exige a ação transformadora. A realidade
zer o outro”, “dizer alguma coisa diferente do sen- “não é só dado objetivo, o fato concreto, senão,
tido literal” (allos, “outro”, e agoreuein, “falar em também, a percepção que o homem tem dela”.
público”). A realidade objetiva é a
forma como as coisas são
SAIBA MAIS! sem véus nem superficia-
lidades.
Carro Alegórico
com destaques sobre
rro s qu e vã o contando o enredo
As alegorias sã o os ca fica mais alegre. Nos
fei tad o for o carro, mais o público i
elas. Quanto ma is en enredo, pois nada va
os , tam bé m, tem a ver os elementos do o.
carros alegóric enred
iver de acordo com o
valer se colocar carro
s bonitos, se não est Texto Complementar
s
torizado. As alegoria
po de ser mo vid o à tração animal ou mo gu ra e http://pt.wikipedia.org/
wiki/
Nenhum carro de lar
quenta centímetros
sar oito metros e cin é um tipo de Realidade
não podem ultrapas de altura. Um ca rro ale gó ric o
cen tím etr os - acerca
nove metros e oit en ta as vão em cima, desfi - verbete da Wikipédia
va les ca , em qu e normalmente as pesso re- Ala s
alegoria carna o de Carro Ab
iro ca rro ale gó ric o do desfile é chamad os po de m
da Realidade.
lando. O prime a. Os carros alegóric
me da escola de samb tes, como
e é ele que leva o no mente são utiliza do s mu ito s en fei
ho s e, ge ral
ser de diversos tam an 13 metros de altura
ior es ca rro s chegam a atingir até
plumas e brilho . Os ma judica a sua entrada
rim en to, o qu e ocasionalmente pre
e 60 metros de co mp rrados por pessoas
sfi le. Ess es ca rro s geralmente são empu
no local de de
atrás da alegoria.
que ficam embaixo ou
Fascículo 2 47

Sistematização educando sujeito histórico. Ivo viu a uva e não viu a


ave que, de cima, enxerga a parreira e não vê a uva.
Leitura de Mundo O que Ivo vê é diferente do que vê a ave. Assim,
Paulo Freire ensinou a Ivo um princípio fundamen-
Frei Betto tal da epistemologia: a cabeça pensa onde os pés
pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica
“Ivo viu a uva”, ensinavam os manuais de alfabe- do opressor ou pela ótica do oprimido. Resulta em
tização. Mas o professor Paulo Freire, com o seu uma leitura tão diferente uma da outra como entre
método de alfabetizar conscientizando, fez adultos a visão Ptolomeu, ao observar o sistema solar com
e crianças, no Brasil e na Guiné-Bissau, na Índia e os pés na Terra, e a de Copérnico, ao imaginar-se
na Nicarágua, descobrirem que Ivo não viu apenas com os pés no Sol.
com os olhos. Viu também com a mente e se per-
guntou se uva é natureza ou cultura. Agora Ivo vê a uva, a parreira e todas as relações
sociais que fazem do fruto festa no cálice de vinho,
Ivo viu que a fruta não resulta do trabalho huma- mas já não vê Paulo Freire, que mergulhou no
no. É Criação, é natureza. Paulo Freire ensinou a Amor, na manhã de 2 de maio de 1997. Deixou-
Ivo que semear uva é ação humana na e sobre a nos uma obra inestimável e um testemunho admi-
natureza. É a mão, multiferramenta, despertando rável de competência e coerência.
as potencialidades do fruto. Assim como o próprio
ser humano foi semeado pela natureza em anos e Paulo deveria estar em Cuba, onde receberia o tí-
anos de evolução do Cosmo. tulo de Doutor Honoris Causa, da Universidade
de Havana. Ao sentir dolorido seu coração que
Colher a uva, esmagá-la e transformá-la em vinho tanto amou, pe-
é cultura, assinalou Paulo Freire. O trabalho hu- diu que eu fosse
maniza a natureza e, ao realizá-lo, o homem e a representá-lo. De
mulher se humanizam. Trabalho que instaura o nó passagem mar-
de relações, a vida social. Graças ao professor, que cada para Israel,
iniciou sua pedagogia revolucionária com trabalha- não me foi pos-
dores do Sesi de Pernambuco, Ivo viu também que sível atendê-lo.
a uva é colhida por bóia-frias, que ganham pouco Contudo, antes
comercializada por atravessadores, que ganham de embarcar fui
melhor. rezar com Nita,
sua mulher, e os
Ivo aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda filhos em torno
saber ler, ele não é uma pessoa ignorante. Antes de seu semblante
de aprender as letras, Ivo sabia erguer uma casa, tranquilo: Paulo
Figura 34. alunos lendo na sala de
tijolo a tijolo. O médico, o advogado ou o dentis- leitura da escola. via Deus.
ta, com todo o seu estudo, não era capaz de cons-
truir como Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo que não
existe ninguém mais culto do que o outro, existem
culturas paralelas, distintas, que se complementam Textos Complementares
lf/9/10.htm
na vida social. www.filologia.org.br/ixcn
leitura de mundo.
- bom artigo acerca da
Ivo viu a uva, e Paulo Freire mostrou-lhe os cachos,
oes_orais/
.org.br/pdf/comunicac
a parreira, a plantação inteira. Ensinou a Ivo que a http://www.paulofreire
LTI CU LTU -
MU ND O% 20 E% 20 MU
leitura de um texto é tanto melhor compreendida LEI TU RA %2 0D E% 20
BR E% 20 A% 20
ES CO L A% 20 SO
quanto mais se insere o texto no contexto do autor RA LIS MO %2 0N A% 20
IANA.pdf
e do leitor. É dessa relação dialógica entre texto e %C3%93TICA%20FREIR
de mundo.
a questão da leitura
contexto que o autor e do leitor se compreendem. – artigo em pdf, sobre
as principais
E (resumo). Apresente
É dessa relação dialógica entre texto e contexto que [Digite aqui a SÍNTES
na rea lização das
rdados, auxiliando
Ivo extrai o pretexto para agir. No início e no fim do ideias e conceitos abo
em no final do capítulo.]
aprendizado, é a práxis de Ivo que importa. Práxis- atividades de aprendizag
teoria-práxis, num processo indutivo que torna o
48 Fascículo 2

SAIBA MAIS!
Ato de Ler por Paulo Freire
A Importância do
sta não possa pres-
ra, da í qu e a posterior leitura de
precede a leitura da
pa lav dinamicamente. A
A leitura do mundo gu ag em e rea lidade se prendem
de da leitura daquele
. Lin das relações entre
cindir da continuida su a lei tur a crí tica implica a percepção e
to a ser alcançada po
r me sentir levado —
compreensão do tex so bre a im po rtâ nc ia do ato de ler, em mó ria ,
Ao ensaiar escrever minha prática, guard
ados na me
o texto e o contexto. s fun da me nta is de cid ad e,
a “reler ” momento a adolescência, de mi
nha mo
até gostosamente — s de mi nha infância, de minh o.
s ma is rem ota co ns titu ind
desde as experiência veio em mim
crí tica da im po rtâ ncia do ato de ler se
ão
em que a compreens
e o ato de ler se
tân cia ” do s dif ere ntes momentos em qu
e texto, ia “tomando
dis pequeno mundo em
Ao ir escrevendo est me iro , a “le itura” do mundo, do
experiência existenc ial . Pri escolarização, foi a
veio dando na minha ra qu e ne m sem pre , ao longo de minha
is, a leitura da palav
que me movia; depo
ndo”.
leitura da “palavramu
dos pássaros — o do
co nte xto se encarnavam no canto
vras”, as “letras” da
qu ele nça das copas das ár-
Os “textos”, as “pala o do be m- te- vi, o do sabiá; na da
ro-caminho-quem -ve m, pagos; as águas da
sanhaçu, o do olha-p cia va m tem pe stades, trovões, relâm
tes ventanias que an un s”, as “palavras”, as
vores sopradas por for oa s, ilh as , rios, riachos. Os “texto
geografia, inventan do lag vens do céu, nas suas
chuva brincando de bé m no as so bio do vento, nas nu s
xto se encarnava m tam eiro das flores — da
“letras” daquele conte s fol ha ge ns , na for ma das folhas, no ch co res de
entos; na cor da tos. Na tonalidade dif
erente de
cores, nos seus movim ores, na casca dos fru
no co rpo da s árv o ve rde da manga-espada
rosas, dos jasmins —, rde da ma ng a-espada verde, is
momentos distintos : o ve negras da manga ma
um mesmo fruto em sm a ma ng a am ad urecendo, as pintas à no ssa
esverdeado da me ncia
inchada; o amarelo- do fruto, a sua resistê
aç ão en tre est as co res, o desenvolvimento e ve nd o faz er, aprendi
rel que eu, fazen do
além de madura. A po , po ssi ve lm en te,
gosto. Foi nesse tem
manipulação e o seu
de amolegar.
a significação da ação

Atividade Crítica/Reflexiva | Após essas nossas leituras, exercícios, comentários, você modificou
ou aprendeu alguma coisa que somou ao seu modo de entender o significado das palavras “Leitura” e
“Realidade”? Comente no FÓRUM TEMÁTICO da Sala Virtual da Disciplina.

GLOSSÁRIO

Enunciado - O conceito de enunciado já evocou grande po- Estética - (do grego αισθητική ou aisthésis: percepção,
lêmica no decorrer do último século. Alguns estudiosos, como sensação) é um ramo da filosofia que tem por objeto o
Saussure (1974), tomaram a decisão de não abarcá-lo em estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela
toda a sua complexidade, focando suas atenções nos aspec- estuda o julgamento e a percepção do que é considerado
tos formais da língua. Outros (Bakhtin, 1974, por exemplo) belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos
aceitaram o desafio e promoveram um conceito de enunciado bem como as diferentes formas de arte e do trabalho artís-
que valoriza suas características composicionais e a extensão tico; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre
do seu volume – o discurso. A construção de uma disciplina matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética tam-
com foco no enunciado permitiu, portanto, o aparecimento de bém pode ocupar-se da privação da beleza, ou seja, o que
visões críticas e polêmicas sobre o tema. Diferentes perspec- pode ser considerado feio, ou até mesmo, ridículo.
tivas foram concebidas e, como consequência, abordagens
contrastivas para o seu estudo foram desenvolvidas. Eufemismo - é a atenuação ou suavização de ideias conside-
radas desagradáveis, cruéis, imorais, obscenas ou ofensivas.
Esboceto - substantivo masculino - esboço de pequeno Exemplos:
tamanho.
• Ele entregou a alma a Deus. (Em lugar de: Ele morreu)
Fascículo 2 49

• Nos fizeram varrer calçadas, limpar o que faz todo o Honoris Causa - abreviado como h.c. (em português:
cão... (Em lugar de fezes) causa nobre), é um título honorífico concedido a uma per-
• Ela é minha ajudante (Em lugar de empregada do- sonalidade que tenha contribuído com os preceitos de uma
méstica) instituição oficial de ensino , não pertencente a seu quadro
• “...Trata-se de um usurpador do bem alheio...” (Em funcional.
lugar de ladrão)
Ironia - é um instrumento de literatura ou de retórica que
Existencialismo - é uma corrente filosófica e literária que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, dei-
surgiu nos séculos XIX e XX. O existencialismo tem por base xando entender uma distância intencional entre aquilo que
a afirmação dos ideais de liberdade, responsabilidade e dizemos e aquilo que realmente pensamos. Na Literatura,
subjetividade do ser humano, o qual, segundo o pensa- a ironia é a arte de gozar com alguém ou de alguma coi-
mento filosófico, tem livre-arbítrio e deve utilizar a razão sa, com vistas a obter uma reação do leitor, ouvinte ou
para fazer as melhores escolhas. interlocutor.

A essência do existencialismo procura analisar o homem Ela pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo
como indivíduo, sendo que este faz sua própria existência. de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o
Percebe-se ,assim, a preocupação em explicar o sentido locutor descreve a realidade com termos aparentemente
das vidas humanas de uma forma subjetiva, ao invés de se valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia
preocupar com verdades científicas relativas ao universo, convida o leitor ou o ouvinte a ser ativo durante a leitura,
que fora o centro de outras correntes filosóficas. para refletir sobre o tema e escolher uma determinada po-
sição. O termo Ironia Socrática, levantado por Aristóteles,
O existencialismo foi inspirado nas obras de Arthur Scho- refere-se ao método socrático. Nesse caso, não se trata de
penhauer, Søren Kierkegaard, Fiódor Dostoievski, Friedrich ironia no sentido moderno da palavra.
Nietzsche, Edmund Husserl e Martin Heidegger, difundido
principalmente através das obras de Jean-Paul Sartre e Si- Metáfora - é a figura de palavra em que um termo
mone de Beauvoir. substitui outro em vista de uma relação de semelhança
entre os elementos que esses termos designam. Essa
Tal corrente de pensamento teve influências da religião, uma semelhança é resultado da imaginação, da subjetivida-
vez que muitos filósofos eram cristãos. Pascal e Kierkegaard de de quem cria a metáfora. A metáfora também pode
eram cristãos dedicados. Nietzsche também acreditava, de ser entendida como uma comparação abreviada, em
certa forma, na existência de um Criador. O existencialismo que o conectivo comparativo não está expresso, mas,
pautado na religião afirmava que a fé defende o indivíduo e subentendido.
guia as decisões com um conjunto rigoroso de regras.
Na comparação metafórica (ou símile), um elemento A é
Para os filósofos existencialistas contemporâneos, comparado a um elemento B por meio de um conectivo
a existência humana é vista como algo muito rico e comparativo (como, assim como, que nem, qual, feito etc.).
complexo, por isso é impossível ser enquadrada em
sistematizações abstratas. Muitas vezes a comparação metafórica traz expressa, no
próprio enunciado, a qualidade comum aos dois elementos:
Fenomenologia - nascida na segunda metade do século Esta criança é forte como um touro.
XIX, a partir das análises de Franz Brentano sobre a inten-
cionalidade da consciência humana, trata de descrever, Elemento A Qualidade comum ao conectivo elemento B.
compreender e interpretar os fenômenos que se apresen- Já na metáfora, a qualidade comum e o conectivo com-
tam à percepção. Propõe a extinção da separação entre parativo não são expressos, e a semelhança entre os
“sujeito” e “objeto” (opondo-se ao pensamento positivista elementos A e B passa a ser puramente mental.
do século XIX) e examina a realidade a partir da perspectiva
de primeira pessoa. Do ponto de vista lógico, a criança é uma criança, e um
touro é um touro. Uma criança jamais será um touro. Mas
Gestalt - a Psicologia da forma, Psicologia da Gestalt, a criança teria a sua força comparada à de um touro.
Gestaltismo ou simplesmente Gestalt é uma teoria da psi-
cologia, que considera os fenômenos psicológicos como Veja o exemplo:
um conjunto autônomo, indivisível e articulado na sua “O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais”. (Carlos
configuração, organização e lei interna. A teoria foi criada Drummond de Andrade)
pelos psicólogos alemães Max Wertheimer (1880-1943),
Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), A associação do tempo a uma cadeira ao sol é puramente
nos princípios do século XX. Funda-se na ideia de que o subjetiva. Cabe ao leitor completar o sentido de tal asso-
todo é mais do que a simples soma de suas partes. ciação a partir da sua sensibilidade, da sua experiência.
Essa metáfora, portanto, pode ser compreendida das mais
Hipérbole - em retórica, ocorre hipérbole quando há exa- diferentes formas. Isso não quer dizer que ela possa ser in-
gero numa ideia expressa, de modo a acentuar, de for- terpretada de qualquer jeito, mas que a compreensão dela
ma dramática, aquilo que se quer dizer, transmitindo uma é flexível, ampla.
imagem inesquecível. É frequente na linguagem corrente,
como quando dizemos: “Já te avisei mais de mil vezes para Observe a transformação de comparações metafóricas (ou
não voltares a falar-me alto!”. símiles) em metáforas:
50 Fascículo 2

• O Sr. Vivaldo é esperto como uma raposa. (compara- quem cria a metáfora, estabelecendo uma outra lógica, a
ção metafórica) lógica da sensibilidade.
• O Sr. Vivaldo é uma raposa. (metáfora)
• A vida é fugaz como chuva de verão. (comparação Metonímia - chama-se de metonímia ou transnominação
metafórica) uma figura de linguagem que consiste no emprego de um
• A vida é chuva de verão. (metáfora) termo por outro, dada a relação de semelhança ou a pos-
sibilidade de associação entre eles.
Nesse último exemplo, o elemento A (as mangueiras estão
sendo comparadas ao elemento B (intermináveis serpen- Propaganda - é um modo específico de se apresentar
tes), pois há uma semelhança no modo como ambos se uma informação, com o objetivo de servir a uma agen-
põem em relação ao chão. Os galhos da mangueira, por da. Mesmo que a mensagem traga informação verdadeira,
serem baixos e tortuosos, lembram intermináveis serpentes. é possível que esta seja partidária, não apresentando um
quadro completo e balanceado do objeto em questão. Seu
Na linguagem cotidiana, deparamo-nos com inúmeras ex- uso primário advém de contexto político, referindo-se ge-
pressões, como: ralmente aos esforços patrocinados por governos e partidos
políticos. Uma manipulação semelhante de informações é
• cheque-borracha bem conhecida, a publicidade, mas normalmente não é
• cheque-caubói chamada de propaganda, ao menos, no sentido mencio-
• voto-camarão nado acima.
• manga-espada
• manga-coração-de-boi O CENP, Conselho Executivo de Normas Padrão, um dos
órgãos que normatiza a atividade publicitária no Brasil,
Nos exemplos já vistos, fica bastante claro o porquê da considera publicidade como sinônimo de propaganda.
existência de metáforas. Diante de fatos e coisas novas, que Esta confusão entre os termos propaganda e publicidade
não fazem parte da sua experiência, o homem tem a ten- no Brasil ocorre por um problema de tradução dos originais
dência de associar esses fatos e essas coisas a outros fatos de outros idiomas, especificamente os da língua inglesa.
e coisas que ele já conhece. Em vez de criar um novo nome As traduções dentro da área de negócios, administração e
para o peixe, ele o associa a um objeto da sua experiência marketing utilizam propaganda para o termo em inglês ad-
(espada) e passa a denominá-lo peixe-espada. O mesmo vertising e publicidade, para o termo em inglês publicity. As
acontece com peixe-boi, peixe-zebra, peixe-pedra, etc. (Se traduções dentro da área de comunicação social utilizam
quiser fazer uma experiência, abra o dicionário na palavra propaganda para o termo em inglês publicity e publicidade
“peixe” e verá quantas expressões são formadas a partir para o termo em inglês advertising. No caso do CENP, a
desse processo). distinção entre os vocábulos é irrelevante, pois a entidade
cuida tão-somente das relações comerciais entre anuncian-
Muitos verbos também são utilizados no sentido metafó- tes, agências e veículos. Assim definido o âmbito de sua
rico. Quando dizemos que determinada pessoa “é difícil atuação, torna-se óbvio que ela trata da propaganda co-
de engolir”, não estamos cogitando a possibilidade de mercial e emprega a locução como sinônimo de publicida-
colocar essa pessoa estômago adentro. Associamos o ato de (“advertising”). O termo propaganda é usado quando
de engolir (ingerir algo, colocar algo para dentro) ao ato a veiculação na mídia é paga,; já publicidade refere-se à
de aceitar, suportar, aguentar, em suma, conviver. Alguns veiculação espontânea.
outros exemplos:
Realidade - (do latim realitas isto é, “coisa”) significa em
• A vergonha queimava-lhe o rosto. uso comum “tudo o que existe”. Em seu sentido mais livre,
• As suas palavras cortaram o silêncio. o termo inclui tudo o que é, seja ou não perceptível, aces-
• O relógio pingava as horas, uma a uma, vagarosa- sível ou entendido pela ciência, filosofia ou qualquer outro
mente. sistema de análise.
• Ela se levantou e fuzilou-me com o olhar.
• Meu coração ruminava o ódio. Realidade significa a propriedade do que é real. Aquilo que
é, que existe. O atributo do existente.
Até agora, vimos apenas casos de palavras que assumiam
um sentido metafórico. No entanto, existem expressões O real é tido como aquilo que existe fora da mente ou
inteiras (e até textos inteiros) que têm sentido metafórico, dentro dela também. A ilusão, a imaginação, embora
como: não esteja expressa na realidade tangível extra-mentis,
existe ontologicamente, onticamente* (relativa ao ente -
• ter o rei na barriga: ser orgulhoso, metido vide Heidegger in “Ser e tempo”)*, ou seja: intramentis.
• saltar de banda: cair fora, omitir-se E é portanto real, embora possa ser ou não ilusória. A
• pôr minhocas na cabeça: pensar em bobagens, pen- ilusão quando existente é real e verdadeira em si mesma.
sar em tolices Ela não nega sua natureza. Ela diz, sim, a si mesma. A
• dar um sorriso amarelo: sorrir sem graça realidade interna ao ser, seu mundo das ideias, embora
• tudo azul: tudo bem na qualidade de ens fictionis intra mentis (ipsis literis, in
• ir para o olho da rua: ser despedido, ser mandado “Proslogion” de Anselmo de Aosta - argumento ontológi-
embora co), ou seja, enquanto ente fictício, imaginário, idealiza-
do no sentido de tornar-se ideia, e ser ideia, pode - ou
Como se pode perceber, a metáfora afasta-se do raciocínio não - ser existente e real também no mundo externo. O
lógico, objetivo. A associação depende da subjetividade de que não nega a realidade da sua existência enquanto
Fascículo 2 51

ente imaginário, idealizado. Sex Appeal - Apelo sexual refere-se à técnica utilizada
muitas vezes em publicidade de valorizar o corpo, seja
Quanto ao externo - o fato de poder ser percebido só pela feminino, seja masculino, da (do) modelo, para relacioná-
mente - torna-se sinônimo de interpretação da realidade, lo com algum produto ou marca. Ultimamente tem sido
de uma aproximação com a verdade. A relação íntima en- muito comum nas propagandas de cerveja, em que se
tre realidade e verdade, o modo como a mente interpreta a associa a bebida com uma moça loira, linda e de roupas
realidade, é uma polêmica antiga. O problema, na cultura bem sensuais. O Sex appeal é um forma de sedução.
ocidental, surge com as teorias de Platão e Aristóteles sobre
a natureza do real (o idealismo e o realismo). No cerne do Sinestesia - (do grego συναισθησία, συν- (syn-) “união”
problema, está presente a questão da imagem (a represen- ou “junção” e -αισθησία (-esthesia) “sensação”) é a rela-
tação sensível do objeto) e a da ideia (o sentido do objeto, ção de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto
a sua interpretação mental). com o cheiro ou a visão com o olfato. O termo é usado
para descrever uma figura de linguagem e uma série de
Em senso comum, realidade significa o ajuste que fazemos fenômenos provocados por uma condição neurológica.
entre a imagem e a ideia da coisa, entre verdade e veros-
similhança. O problema da realidade é matéria presente
em todas as ciências e, com particular importância, nas Figura de linguagem
ciências que têm como objeto de estudo o próprio homem: a
antropologia cultural e todas as que nela estão implicadas : Sinestesia é uma figura de estilo ou semântica, que rela-
a filosofia, a psicologia, a semiologia e muitas outras, além ciona planos sensoriais diferentes. Tal como a metáfora ou
das técnicas e das artes visuais. a comparação por símile, são relacionadas entidades de
universos distintos.
Na interpretação ou representação do real, (verdade sub-
jetiva ou crença), a realidade está sujeita ao campo das Exemplos de sinestesias:
escolhas, isto é, determinamos parte do que consideramos
ser um fato, ato ou uma possibilidade, algo adquirido a • Indefiníveis músicas (audição), supremas harmonias
partir dos sentidos e do conhecimento adquirido. Dessa de cor (visão) e de perfume (olfato).
forma, a construção das coisas e as nossas relações de- • Horas do ocaso, trêmulas, extremas, requiem do Sol
pendem de um intrincado contexto, que, ao longo da que a dor da luz resume.
existência, cria a lente entre a aprendizagem e o desejo: • “Os carinhos (tato) de Godofredo não tinham mais
o que vamos aceitar como real? o gosto (paladar) dos primeiros tempos.” (Autran
Dourado)
A verdade (subjetiva) pode, às vezes, estar próxima da reali- • “O brilho macio do cetim.” (visão + tato)
dade, mas depende das situações, contextos, das premissas • “O doce afago materno.” (paladar + tato)
de pensamento, tendo de criar dúvidas reflexivas. Às vezes, • “Verde azedo.” (visão + paladar)
aquilo que observamos está preso a escolhas que são mais • “Aroma gritante.” (olfato + audição)
um conjunto de normas ou e sim, do que evidências. • “O delicioso aroma do amor” (paladar + olfato)
• “Beleza áspera” (visão + tato)
Semiose - dentro da ciência dos signos (Semiologia; Semi-
ótica), semiose foi o termo introduzido por Charles Sanders Slogan - um slogan ou frase de efeito é uma frase de
Peirce para designar o processo de significação, a produ- fácil memorização utilizada em contexto político, religioso
ção de significados. ou comercial como uma expressão repetitiva de uma ideia
ou propósito.
Peirce e Saussure estavam interessados em linguística, a
qual examina a estrutura e o processo da linguagem. Reco- Um slogan político geralmente expressa um objetivo ou
nhecendo, entretanto, que a linguagem é diferente ou mais alvo (“Trabalhadores do mundo, uni-vos!”), enquanto um
abrangente que a fala, desenvolveram a ideia de semioses slogan publicitário é mais frequentemente usado como
para relacionar linguagem com outros sistemas de signos, uma identificação de fácil memorização, agregando um
sejam estes de natureza humana ou não. valor único à empresa, produto ou serviço, sendo esse va-
lor concreto ou não (“A número 1”).
Hoje, não há acordo doutrinário quanto à direção da
relação de causa e efeito. Uma escola de pensamento Slogans variam do escrito ao visual, do cantado ao vulgar.
considera a linguagem o protótipo da semiótica, e seu Quase sempre sua natureza simples e retórica deixa pouco
estudo iluminaria princípios aplicáveis a outros sistemas espaço para detalhes e, como tal, servem talvez mais a
de signos. A escola oposta defende a existência de um uma expressão social de propósito unificado do que uma
sistema meta-signo, sendo a linguagem simplesmente projeção para uma pretendida audiência.
um dos vários códigos para significação comunicante,
citando como exemplo os meios pelos quais as crianças Slogans são atrativos, particularmente na era moderna, de
aprendem sobre seu ambiente mesmo antes de domina- bombardeios informacionais de numerosas fontes da mídia.
rem uma linguagem. “Slogan” vem de sluagh-ghairm (se pronuncia slogorm), do
Qualquer que seja o ponto de vista, uma preliminar de- gaélico-escocês para “grito de guerra” , como no filme co-
finição da semiose é qualquer ação ou influência para nhecido Coração Valente.
sentido comunicante pelo estabelecimento de relações
entre signos que podem ser interpretados por qualquer
audiência.
52 Fascículo 2

Referências

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ensão e fundamentação teórica do conceito
de ‘alegoria literária’ ”, Colóquio-Letras, 79
(1984).
Fascículo 3 55

Leitura
e
Produção
de Texto
Prof. Dr. Jairo Nogueira Luna
Carga Horária | 15 horas

Objetivos Específicos

Tipologia Textual: Narração e Descrição Ler figuras de linguagem em


Imagens;
Tipologia Textual: Dissertação e a Dissertação acadêmica;
O Diálogo e a Injunção.

1. Tipologia Textual

Tudo o que se escreve recebe o nome genérico de redação ou composição textual.


Basicamente, existem três tipos de redação: narração (base em fatos), descrição
(base em caracterização) e dissertação (base em argumentação). Mas considere-
mos, ainda, a existência do Diálogo, da Entrevista e da Injunção. Cada um desses
tipos redacionais mantém suas peculiaridades e características.

Descrição

Tipo de texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa,
um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é
o adjetivo devido a sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata,
pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade
e posterioridade.
56 Fascículo 3

Narração portamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples.


Os verbos são, na sua maioria, empregados no
Modalidade textual em que se conta um fato, fictí- modo imperativo. Há também o uso do futuro do
cio ou não, que ocorreu num determinado tempo presente.
e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a
objetos do mundo real. Há uma relação de anterio- Diálogo
ridade e posterioridade. O tempo verbal predomi-
nante é o passado. Estamos cercados de narrações Materializa o intercâmbio entre personagens. Pode
desde as que nos contam histórias infantis, como conter marcas da linguagem oral, como pausas e
o Chapeuzinho Vermelho ou a Bela Adormecida, retomadas.
até as picantes piadas do cotidiano.
Entrevista
Dissertação
É um colóquio entre pessoas em local combinado,
Estilo de texto com posicionamentos pessoais e ex- para obtenção de esclarecimentos, avaliações, opi-
posição de ideias. Tem por base a argumentação, niões etc.
apresentada de forma lógica e coerente, a fim de
defender um ponto de vista. • No jornalismo é a coleta de declarações toma-
das por jornalista(s) para divulgação através
Estrutura Básica: dos meios de comunicação
Derivação: por metonímia - as declarações as-
1. apresentação da ideia principal; sim coligidas.
2. argumentos;
3. conclusão. Neste tópico, vimos
que a Tipologia
Utiliza verbos na 1ª e na 3ª pessoa do presente do textual busca com-
indicativo. É a modalidade mais exigida nos con- preender as caracte-
cursos em geral, por promover uma espécie de rísticas que definem
“raio-X” do candidato no que toca às suas opini- os principais tipos
ões. Nesse sentido, exige dos candidatos mais cui- de texto, a saber:
dado em relação às colocações, pois também revela Narração, descri-
um pouco do seu temperamento, uma espécie de ção, dissertação,
Figura 35. Tipologia Textual
psicotécnico. Tipologia Argumentativa. injunção, diálogo e
entrevista. Agora es-
Exposição tudaremos cada um
dos tipos com suas características.
Apresenta informações sobre assuntos, expõe
ideias; explica, avalia, reflete.
Textos Complementares
Estrutura Básica:
wiki/Tipologia_textual
http://pt.wikipedia.org/
l.
acerca da tipologia textua
1. ideia principal; - verbete da wikipédia

2. desenvolvimento; ipologia-textual.html
logspot.com/2008/04/t
3. conclusão. http://textuariosocial.b
logia textual e das
cussão e análise da tipo
- blog criado para dis
.
características dos textos
Faz uso de linguagem clara, objetiva e impessoal. A
maioria dos verbos está no presente do indicativo. iewtopic.php?t=35&
.com/letsspeakenglis/v
http://www.phpbbserver
df701e030d&mforu
61a3ef3880646f8ac35df
view=previous&sid=5
Injunção
m=letsspeakenglis
uais entre tipolo-
rca das diferenças conceit
– interessante artigo ace
escolar.
Indica como realizar uma ação; aconselha. É tam- s aplicações no ensino
gia e gênero textual e sua
bém utilizado para predizer acontecimentos e com-
Fascículo 3 57

SAIBA MAIS! signar uma espécie


de
um ter mo qu e de ve ser usado para de os tip os tex -
ologia Textual é o. Em geral,
Para Marcuschi, Tip la na tur eza lin gu ísti ca de sua composiçã ale s, 19 90 ;
te definida pe o e injunção (Sw
sequência teoricamen ção , arg um en taç ão , exposição, descriçã sig na r um a
egorias narra ado para de
tuais abrangem as cat Tipologia Textual é us
nc ka rt, 19 99 ). Se gundo ele, o termo de su a composição (aspe
ctos
Adam, 1990; Bro de fin ida pe la na tur eza linguística
teoricamente
espécie de sequência s lógicas) (p. 22).
tem pos verbais, relaçõe
lexicais, sintáticos, os
terializados encontrad
co mo um a no çã o vaga para os textos ma úd os , pro -
ido pelo autor idas pelos conte
Gênero Textual é defin rac ter ísti ca s só cio -comunicativas defin
apresentam ca
no dia-a-dia e que característica.
is, estilo e composição
priedades funciona a ma-
do de interação, um
mo aq uil o qu e po de instaurar um mo seg un do o
gia Textual co ivas pode m,
Travaglia define Tipolo ect iva s qu e po de m variar. Essas perspect on tec er, ou
, segundo persp anto ao fazer/ ac
neira de interlocução tex to em rel aç ão ao objeto do dizer qu a pe rsp ect iva
produtor do ser possível
autor, estar ligadas ao ão destes no tempo
e/ou no espaço. Pode da
e qu an to à ins erç tor com o alguém que concor
conhecer/saber, ag em qu e o me sm o faz do recep o rec ep tor
dada pela im produtor vê
do produtor do texto ormação, quando o
e ele diz . Su rge , ass im, o discurso da transf tor co mo alguém que concord
a
ou não com o qu co m ele . Se o pro dutor vir o recep a pe rsp ect iva
o concorda , na opinião de Trava
glia, um
como alguém que nã dade. Tem-se ainda
dis cu rso da cu mp lici a for ma , é possível encontrar a
com ele, surge o tec ipa çã o no dizer. Da mesm a das
texto faz um a an Resumindo, cada um
em que o produtor do nic ati va de co mp rometimento ou não. iva faz sur gir
la atitude comu meira perspect
perspectiva dada pe tor ge rar á um tip o de texto. Assim, a pri e su rja o tip o
tadas pelo au iva faz com qu
perspectivas apresen un çã o e na rra çã o. A segunda perspect A do co mp ro-
sertação, inj ditivo.
os tipos descrição, dis faz surgir o tipo pre
icto sen su. A pe rsp ectiva da antecipação ) e do mundo narrado (nã
o
argumentativo str do (comprometime nto
mu nd o co me nta , de ma ne ira
m a textos do quadrados
metimento dá orige o narrado seriam en
) (W eir inc h, 19 68 ). Os textos do mund dis ser taç ão.
comprometimento mu ndo comentado ficari
am no tipo
rra çã o. Já os do
geral, no tipo na ra ele,
o social específica. Pa
l se ca rac ter iza po r exercer uma funçã er qu e, intuiti-
Gênero Textua pelos usuários. Isso
equivale diz
Travaglia diz que o da s e viv en cia da s co m a fun ção
estas funções sociais
são pressenti ção, de acordo
ar em mo me nto s específicos de intera act erí stic as qu e
e gênero us resentar car
vamente, sabemos qu er um e-m ail , sa be mos que ele pode ap am igo nã o é
social dele. Quando
vamos escrev e-mail para um
ma ne ira dif ere nte . Assim, escrever um um co nc urs o
ncione” de ações sobre
farão com que ele “fu pa ra um a un ive rsi dade, pedindo inform
er um e-mail
o mesmo que escrev
público, por exe mp lo.
gia Textu-
ele diferencia Tipolo
gê ne ro um a fun çã o social. Parece que ind ep endente
vaglia dá ao s todo texto,
Observamos que Tra
ssa “q ua lid ad e” qu e o gênero possui. Ma
l a partir de
al de Gênero Textua ção social qualquer?
ou tip o, não exerce uma fun
de seu gênero los que
ção social. Os exemp
los de gê ne ros , ma s não ressalta sua fun co nd om ínio,
alguns exemp a, reunião de
Marcuschi apresenta rom an ce, po esi a, bilhete, aula expositiv
ma, sermão,
ele traz são telefone
etc. ção
sua opinião, seria a fun
mp los de gêne ros como mostra o que, na (to do s com a
Já Travaglia não só tra
z alguns exe o, informe, citação
: av iso, com un icado, edital, informaçã entra riam ne ssa
a cada um e-mail
social básica comum rtamente a carta e o
dar con hecim en to de algo a alguém). Ce de uma carta, e-mail ou ofício
.
função social de ser dado sob a forma
e o av iso po de ab aixo ass ina do
sideração qu memorial, o requerim
ento, o
lista, levando em con entando a petição, o
mp lificando ap res
Ele continua exe
de pedir, solicitar).
(com a função social
58 Fascículo 3

Atividade/Fórum | Você já deve ter feito todo. Mas os textos que não pertencem ao campo
muitas redações na sua vida escolar e escrito da ficção não são considerados narração, pois esta
muitas cartas e outros textos. Comente acerca não tem como objetivo envolver o leitor pela tra-
daquele tipo de texto em que você mais se sente ma, pelo conflito.
à vontade e sobre aquele que você mais tem di-
ficuldades no Fórum Temático da Disciplina. Podemos dizer que, nesses relatos, há narrativida-
de, que quer dizer, o modo de ser da narração.

2. A Narração Os Elementos da Narrativa

Neste tópico, estudaremos as características da Os elementos que compõem a narrativa são:


Narração. O Contar histórias é uma das atividades
mais antigas do uso da palavra. Literatura e religião • Foco narrativo (1a e 3a pessoa);
têm seus principais textos fundamentados nesse • Personagens (protagonista, antagonista e coad-
tipo de texto. juvante);
• Narrador (narrador-personagem, narrador-
A narração consiste em arranjar uma sequência de observador).
fatos, na qual os personagens se movimentam num • Tempo (cronológico e psicológico);
determinado espaço, à medida que o tempo passa. • Espaço.

O texto narrativo é baseado na ação que envolve


personagens, tempo, espaço e conflito. Seus ele-
mentos são: narrador, enredo, personagens, espa-
ço e tempo.

Dessa forma, o texto narrativo apresenta uma de-


terminada estrutura:
Esquematizando temos:

• Apresentação;
• Complicação ou desenvolvimento; Figura 36. A leitura é uma atividade, que resiste às
• Clímax; mais duras condições assim como a Narração.

• Desfecho.

Protagonistas e Antagonistas Leitura de Texto Narrativo

A narrativa é centrada num conflito vivido pelos Conto de Natal


Stanislaw Ponte Preta
personagens. Diante disso, a importância dos per-
(Sérgio Porto)
sonagens na construção do texto é evidente.
Era um Papai-Noel mais subdesenvolvido do que - di-
Podemos dizer que existe um protagonista (perso- gamos - o Piauí. Uma barba mixuruquíssima, rala,
nagem principal) e um antagonista (personagem encardida, que ele acabou por puxar para debaixo do
que atua contra o protagonista, impedindo-o de queixo, na esperança de diminuir o calor.
alcançar seus objetivos). Há também os adjuvantes
ou coadjuvantes; esses são personagens secundá- Sim, porque fazia calor.
rios que também exercem papéis fundamentais na
história. A calçada refletia por debaixo das calças dos transeun-
tes o seu bafo quente, o que ocorria também por de-
baixo das saias das passantes, mas esta imagem é mais
Narração e Narratividade refrescante e talvez não dê ao leitor a ideia do calor que
fazia. A turba ignara, ia e vinha carregada de embru-
Em nosso cotidiano, encontramos textos narra- lhos, vítima da desonestidade dos comerciantes, mas,
tivos; contamos e/ou ouvimos histórias o tempo ávida de comprar presentinhos.
Fascículo 3 59

E o Papai Noel avacalhado ali na esquina, badalando.


Era um sininho de som fino, que ele badalava meio
sem jeito, como se estivesse disfarçando alguma coisa SAIBA MAIS!
sem aquela dignidade de badalar de sino dos verdadei- em
stuma se apresentar
ros Papais-Noéis. A narrativa literária co ve r-
pode ser também em
forma de prosa, mas de -
eiros). Se tivermos de
Também a roupa era mixa! A blusa não tinha aque- sos (Epopéia, Romanc nd o
de forma sucinta, cita
la vermelhidão dos Papais-Noéis de capa de revistas. finir o texto narrativo é um
que o texto narrativo
Nunquinha Madalena. Era cor-de-rosa, daquele cor- Carlos Reis, diremos jeti-
zação, uma atitude ob
de-rosa das camisas que usam componentes de blocos processo de exteriori
sividade.
de sujo, no Carnaval carioca. Isto, inclusive, talvez fos- va e baseada na suces
se verdade: aquele Papai-Noel era tão vagabundo que r-
do estruturalismo, su
era bem possível que tivesse aproveitado o uniforme No século XX, a partir na r-
teoria semiótica da
do Carnaval anterior para o Natal. girá uma espécie de ud ar
ia), que propõe est
rativa (ou narratolog ntos,
geral (romances, co
Tia Zulmira, protegida pela sombra de uma marquise, a narratividade em nç ões,
mitos, anedotas, ca
aguardava condução e observava o Papai Noel. Obser- filmes, espetáculos, lan d
cabeçados por Ro
vava, por exemplo, que o Papai-Noel usava tênis (bossa músicas, vídeos). En ntr ar
os pretendem enco
nova natalina), observava que o Papai-Noel não fazia Barthes, esses estud me-
narrativa, mais ou
anúncio de coisa nenhuma, ao contrário de seus co- uma “gramática” da fal a. É
encontrara para a
leguinhas de outras esquinas, que traziam, às costas nos como Saussure tur ae
m as fichas de lei
grandes, cartazes coloridos com os nomes das lojas da a partir daí que surge tes , as
narrador, os actan
cidade. os estudos sobre o esc ola ,
de determinada
estratégias narrativas
A velha, num lampejo, percebeu tudo. Viu logo que, entre outros.
naquele Papai-Noel, tinha truque. E, apenas para con- tiva,
e no estudo da narra
firmar a sua teoria, abriu a bolsa, retirou um pedaço Roland Barthes, mestr em to-
tiva está presente
de papel e escreveu: afirma que “a narra tod as
os os lugares, em
dos os tempos, em tod his tór ia
ça com a própria
— 500 cruzeiros no grupo do gato — 1.675 pelos sete as sociedades, come do na r-
) é fruto do gênio
lados... NCr$ 200,00 — centena 463 (invertido) . . . da humanidade. (... na rra ti-
mum com outras
NCr$ 150,00. rador ou possui em co
ess ível à análise”.
vas, uma estrutura ac
Enrolou o papelzinho no dinheiro correspondente e,
saindo de debaixo da marquise, passou disfarçadamen-
te pelo Papai-Noel e espalmou, na sua mão, a fezinha.
Papai Noel apanhou tudo e disse baixinho:

— Obrigado, minha senhora. Um bom Natal para a


senhora também.

Texto extraído do livro “Dez em Humor”, Atividade/Fórum | Uma das ações mais
Editora Expressão e Cultura - Rio de Janeiro, 1968, pág. 50. prazerosas entre amigos é contar piadas. De
fato, toda piada é uma breve narração, cuja fi-
nalidade é a de provocar o riso, daí seu estilo
ser cômico. Conte alguma piada que você ache
boa na página do fórum temático. Observe que
Textos Complementares sua piada não deve conter palavrões nem ter
-com-
om.br/redacao/narracao
http://www.algosobre.c conotação preconceituosa!
exemplos.html
s sobre a Narração.
- página com informaçõe

wiki/Narração
http://pt.wikipedia.org/
rrativo em
a acerca do Modo Na
- verbete da Wikipédi
Literatura.
60 Fascículo 3

3. A Descrição

A ação descritiva é fundamental para o pensamen-


to humano; se, muitas vezes, se diz que uma ima-
gem vale mais que mil palavras, também é fato que
uma palavra comporta mil imagens. O pensador
alemão Lessing escreveu acerca das diferenças en-
tre a imagem nas artes plásticas e a palavra na poe-
sia. Neste tópico, estudaremos as características do
texto descritivo.

Uma descrição consiste em uma enumeração de Figura 37. Você pode descrever a imagem?
parâmetros quantitativos e qualitativos os quais
buscam fornecer uma definição de alguma coisa.
Uma descrição completa inclui distinções sutis, No terreno objetivo, temos as informações (dados
úteis para distinguir uma coisa de outra. do conhecimento do autor do texto: livro compra-
do em Lisboa), as caracterizações (dados que estão
Descrição - caracteriza-se por ser um “retrato ver- no objeto de descrição: livro vermelho). Já no sub-
bal” de pessoas, objetos, animais, sentimentos, jetivo, estão as qualificações (impressões subjetivas
cenas ou ambientes. Entretanto, uma descrição sobre o ser ou objeto: livro interessante). O ideal é
não se resume à enumeração pura e simples. O que uma descrição possa fundir a objetividade, ne-
essencial é saber captar o traço distintivo, particu- cessária para a “pintura” ser a mais verídica possí-
lar, o que diferencia aquele elemento descrito de vel, e a subjetividade, que torna o texto bem mais
todos os demais de sua espécie. Os elementos mais interessante e agradável. Sendo assim, a descrição
importantes no processo de caracterização são os deve ir além do simples “retrato”, deve apresentar
adjetivos e as locuções adjetivas. Dessa maneira, é também uma interpretação do autor a respeito da-
possível construir a caracterização tanto no sentido quilo que descreve.
denotativo quanto no conotativo, como forma de
enriquecimento do texto. Enquanto uma narração
faz progredir uma história, a descrição consiste
justamente em interrompê-la, detendo-se em um
personagem, um objeto, um lugar, etc.
Textos Complementares
A qualificação constitui a parte principal de uma html
m.br/redacao/descricao.
descrição. Qualificar o elemento descrito é dar-lhe http://www.algosobre.co
rca da descrição
características, apresentar um julgamento sobre - página com tópicos ace
ele. A qualificação pode estar no campo objetivo o-com-exem-
om.br/redacao/descrica
ou no subjetivo. Uma forma muito comum de qua- http://www.algosobre.c
lificação é a analogia, isto é, a aproximação pelo plos.html
ções da pági-
complementa as informa
pensamento de dois elementos que pertencem - do mesmo site acima,
los.
a domínios distintos. Pode ser feita por meio de na anterior com exemp

comparações ou metáforas.

Descrição Subjetiva X Descrição Objetiva

• Objetiva - quando o objeto ou ser são narrados


ou apresentados como realmente são fisica-
mente na realidade.
• Subjetiva - quando há interferência da emo-
ção, ou seja, quando o objeto ou ser são trans-
figurados pela emoção do autor.
Fascículo 3 61

SAIBA MAIS!

O Ponto de Vista
o que vamos
os pa ra me lho r ob servar o ser ou o objet
posição que escolhem e, ou seja,
O Ponto de vista é a é fundamental a atitud
na s de scr içõ es, alé m da posição física, ev er. O ponto de
descrever. No entanto, e vamos descr
ica qu e tem os co m relação àquilo qu exp res siv os (voca-
lóg ndo os recursos
a predisposição psico ac ab ará de ter mi na
ico) que adotarmos
vista (físico e psicológ os na descrição.
io, fig ura s, tip o de frase) que utilizarem
bulár
devem ser
ão dos detalhes, que
va i de ter mi na r a ordem da apresentaç a ob ra Co munica-
O ponto de vista físico Garcia, em su
va me nte . Ob ser ve o que diz Othon M.
ssi
apresentados progre
pro sa mo de rna p. 217:
ção em
um só período.
tar tod os os de talhes acumulados em
boa norma apres en focalizadas e
Nunca é, por exemplo, tor po uc o a po uc o, verificando as partes
o, oferecê-los ao lei
Deve-se, ao contrári
erligando-as.
associando-as ou int
visão geral e
lo, po de mo s, ini cia lmente, passar uma
a pessoa, por exemp nariz, sua boca,
Na descrição de um s de tal he s: co mo são seus olhos, seu
-se dela, a visão do sprezo, desespero...),
etc.
depois, aproximando ela (in quietação, ironia, de
e so rri so rev
seu sorriso, o que ess
as ao leitor
ual, sejam transmitid
os , é im po rta nte qu e, além da imagem vis as au dit iva s (o som
Na descrição de objet tát eis (o ob jet o é liso ou áspero?),
soriais, como as algum cheiro?).
outras referências sen ), as olf ativas (o objeto exala
ou ag ud o?
que ele emite é grave
s (como uma
um a pra ia, po r exe mplo) ou de ambiente
gens (uma planície, geral. É preciso
A descrição de paisa m nã o de ve m se limitar a uma visão
-- as cenas -- també , numa paisa-
sala, um escritório) rce bid o, ap en as , pe la visão. Certamente
s, e isso não é pe transmitidos ao
ressaltar seus detalhe çõ es tér mi ca s, ch eir os, que deverão ser
verá ruídos, sensa ografia. Também
gem ou ambiente, ha me nu ma fria e pouco expressiva fot
descrição se trans for portanto, fun-
leitor, evitando que a s, an im ais ou co isa s que lhe dão vida. É,
a pessoas, vulto
poderão integrar a cen
es elementos.
damental destacar ess

Leitura de Texto Narrativo “Olha, é pontuda, certo?”


“O quê, cavalheiro?”
Comunicação “Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende?
(Luís Fernando Veríssimo)
Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto
de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encai-
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo me- xe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é
nos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se en- mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como
trando numa loja para comprar um... um... como é é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra
mesmo o nome? ponta, a pontuda, de sorte que o negócio, entende,
“Posso ajudá-lo, cavalheiro?” fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha.
“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...” Entende?”
“Pois não?” “Infelizmente, cavalheiro...”
“Um... como é mesmo o nome?” “Ora, você sabe do que eu estou falando.”
“Sim?” “Estou me esforçando, mas...”
“Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra “Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo
me escapou por completo. É uma coisa simples, conhe- numa ponta, certo?”
cidíssima.” “Se o senhor diz, cavalheiro.”
“Sim senhor.” “Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é
“O senhor vai dar risada quando souber.” pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa,
“Sim senhor.” isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.”
62 Fascículo 3

“Sim senhor. Pontudo numa ponta.” Atividade/Fórum | Na página do fórum


“Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?” temático, tente fazer a descrição da figura abai-
“Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Ten- xo. Observe também as descrições feitas pelos
te descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha demais participantes do fórum, compare com
para nós?”
a sua, observe as diferenças de opinião e os
“Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça
saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.”
diferentes modos e estilos assim como os dife-
“Sinto muito.” rentes pontos de vista:
“Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade,
estou muito bem de vida. Não sou um débil mental.
Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me es-
queci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O
desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho
algum problema com os números mais complicados,
claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascu-
nho antes. Mas não sou um débil mental, como você
está pensando.”
“Eu não estou pensando nada, cavalheiro.”
“Chame o gerente.”
“Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que
chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor
quer, é feito do quê?”
“É de, sei lá. De metal.”
“Muito bem. De metal. Ela se move?”
“Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas Figura 38. Salvador Dali, Dream Provoked
by the Flight of a Bumble Bee
minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na
ponta, assim.”
“Tem mais de uma peça? Já vem montado?”
“É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.”
“Francamente...”
4. A Dissertação
“Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, as-
sim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra vol- A Dissertação é o tipo de texto que possui uma
ta e clique, encaixa.” aparente complexidade maior em razão do grau
“Ah, tem clique. É elétrico.” de abstração e de articulação do pensamento que
“Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.” é preciso fazer, uma vez que ele dá origem à for-
“Já sei!”
mulação de conceitos, ideias, relações de causa e
“Ótimo!”
“O senhor quer uma antena externa de televisão.”
consequência. Neste tópico, estudaremos as carac-
“Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo...” terísticas da Dissertação.
“Tentemos por outro lado. Para o que serve?”
“Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pon- É um estudo teórico de natureza reflexiva, que
tuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por consiste na ordenação de ideias sobre um deter-
aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes minado tema. A característica básica da disserta-
de uma coisa.” ção é o cunho reflexivo-teórico. Dissertar é deba-
“Certo. Esse instrumento que o senhor procura fun- ter, discutir, questionar, expressar ponto de vista,
ciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de qualquer que seja. É desenvolver um raciocínio,
segurança e...”
desenvolver argumentos que fundamentem posi-
“Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!”
“Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coi-
ções. É polemizar, inclusive, com opiniões e com
sa enorme, cavalheiro!” argumentos contrários aos nossos. É estabelecer
“É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um... um... relações de causa e consequência, é dar exemplos,
Como é mesmo o nome?” é tirar conclusões, é apresentar um texto com orga-
... nização lógica das ideias.

(Fonte: VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comunicação. In: PARA gostar de A dissertação, geralmente, é feita em final de curso
ler, v.7. 3.ed. São Paulo: Ática, 1982. p. 35-37.) ) de pós-graduação, stricto sensu em nível de mestra-
do, com a finalidade de treinar os estudantes no
domínio do assunto abordado e como forma de
Fascículo 3 63

iniciação à pesquisa mais ampla. Leitura de Texto Dissertativo

Na monografia (dissertação), para a obtenção do O que é a filosofia?


grau de mestre, além da revisão da literatura, é preci-
so dominar o conhecimento do método de pesqui- A filosofia surge na Grécia Antiga como uma ativi-
sa e informar a metodologia utilizada na pesquisa. dade especial do homem sábio, o amigo do saber
(filo + sophia = amor à sabedoria). Desde então, inú-
meras foram as tentativas de definir exatamente o
Dissertação científica, ou simplesmente exercita- que procura e o que faz um filósofo. Todos reco-
ção, é o trabalho feito nos moldes da tese, com a nhecem a sua importância e a imensa utilidade,
peculiaridade de ser ainda uma tese inicial ou em são porém imprecisos e divergem em relação a de-
miniatura. terminar qual a sua verdadeira ciência. Aristóteles,
discípulo de Platão e fundador do Liceu, uma es-
A dissertação tem ainda finalidade didática, uma cola voltada para o saber e a ciência que ele insta-
vez que constitui o grande treinamento para a tese lou em Atenas no século IV a.C., fez uma das mais
propriamente dita. claras exposições sobre as qualidades da filosofia.

Chama-se memória A principal característica que Aristóteles vê num


a dissertação sobre filósofo é que ele não é um especialista. O sophós,
assunto científico, o sábio, é um conhecedor de todas as coisas, sem
possuir uma ciência específica. O seu olhar derra-
literário ou artísti-
ma-se pelo mundo, sua curiosidade insaciável o faz
co, destinada a ser
investigar tanto os mistérios do cosmo e da physis,
apresentada ao go- a natureza, como as que dizem respeito ao homem
verno, a uma corpo- e à sociedade. No fundo, o filósofo é um desvela-
ração ou academia. dor, alguém que afasta o véu daquilo que está a
Figura 39. Escrever uma dis- encobrir os nossos olhos e procura mostrar os ob-
A dissertação con- sertação envolve alto grau de jetos na sua forma e posição original, agindo como
siste na explanação pensamento abstrativo alguém que encontra uma estátua jogada no fundo
ou discussão de do mar coberta de musgo e algas, e gradativamen-
conceitos ou ideias. Ela pode ser expositiva ou te, afastando-as uma a uma, vem a revelar-nos a sua
argumentativa. bela forma e esplendor (a verdade entre os gregos
está associada ao belo).
Na dissertação expositiva, o autor apresenta uma
ideia, uma doutrina e expõe o que ele ou outros O que distingue o sábio é que ele tem o conhe-
cimento das coisas mais difíceis. Entender que o
pensam sobre o tema ou assunto. Geralmente faz
fogo queima ou que a chuva molha é algo comum
a amplificação da ideia central, demonstrando sua
a qualquer um, pois sentir, ter sensações é algo uni-
natureza, antecedentes, causas próximas ou remo- versal entre os homens, mas possuir as noções mais
tas, consequências ou exemplos. exatas das causas últimas e ser capaz de dar conta
delas, transmitindo-as pelo ensino, é um apanágio,
Na dissertação argumentativa, o autor quer pro- uma virtude do homem sábio. Ele também se dis-
var a veracidade ou falsidade de ideias; pretende tingue do teólogo, na medida em que o seu objeti-
convencer o leitor ou ouvinte, dirige-se à sua inteli- vo é o de atingir a verdade e não forjar um dogma
gência através de argumentos, de provas evidentes, (algo que não se pode discutir ou questionar).
de testemunhas.
Em seguida, em decorrência lógica do que foi dito,
Se a dissertação é objetiva, o tratamento dado ao a filosofia para Aristóteles é, por assim dizer, a
texto é impessoal, com argumentação lógica, par- mãe de todas as ciências, porque ninguém impõe
tindo de elementos gerais e indo para os particula- critérios a ela. Ao contrário, se existem regras, se
existem parâmetros para chegar a algo específico é
res. Na dissertação subjetiva, o autor dirige-se não
a filosofia quem os estabelece, pois é do dedutivo,
só à inteligência, mas também, de modo pessoal, do geral, que partem as linhas orientadoras que
aos sentimentos de quem ele pretende convencer. guiam a mente do homem em direção a um deter-
Além da emoção, às vezes, há ironia, sarcasmo, ridículo. minado conhecimento.
São partes importantes da dissertação: a introdu-
ção, o desenvolvimento e a conclusão. Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/filosofia.htm
64 Fascículo 3

Atividade/Fórum | Na página do fórum te-


mático da disciplina, apresente sua argumenta-
Textos Complementares ção acerca da seguinte pergunta:
html
.br/redacao/dissertacao.
http://www.algosobre.com sertar”. - Qual a importância da pesquisa para o desen-
ificado do verbo “dis
- página acerca do sign
volvimento de uma boa dissertação?
m/redacao/dissertacao
http://www.infoescola.co
ção.
- página acerca da disserta
1/DICAS-PA-
lar.com.br/articles/1396/ 5. A Dissertação Acadêmica
http://www.mundovestibu aacute gina1.html
CAO-DISSERTATIVA/P
RA-UMA-OTIMA-REDA a vestibu landos , esclarecen-
dicas par
- página que pretende dar dis ser tati va.
s de uma redação
do os principais tópico Neste tópico, abordamos as características da Dis-
sertação Acadêmica, ou seja, dos trabalhos mo-
nográficos, dissertações e teses produzidas nas
Universidades e Faculdades como resultados de
SAIBA MAIS! pesquisa, sendo elas indispensáveis para a obten-
o pa-
, apenas, preencher ção dos graus de mestre e doutor, e, em muitos
Escrever não significa titu i num
bém não se cons casos, também são exigências para a obtenção dos
pel com frases mas tam s op era ções
ssupõe simple
martírio. Um texto pre á o pla ne jam en to. graus de bacharel, licenciado ou especialista.
quais est
anteriores, entre as
reda- A Dissertação acadêmica é um trabalho escrito de
e uma proposta de
Assim que se receb o as su nto vê mà
ias sobr e considerável extensão sobre um tema pré-definido,
ção, uma série de ide os os pe ns am en tos
istrar tod normalmente para fins acadêmicos. Originalmen-
cabeça. Deve-se reg s, um ca so
ações, opiniõe
no papel. Fatos, inform de ve ser an ota do te, a dissertação (do lat. dissertatione(m) dizia respei-
rua, tudo
que aconteceu na sua ção, to a uma discussão, debate ou tratado sobre um
de esquema . Não deve ser preocupa
em forma
ão dessas ideias. determinado tema. É ainda a partir desta tradição
nessa fase, a ordenaç
ias,
que alguns escritores portugueses até ao Romantis-
nominada fluxo de ide
Essa primeira fase, de aç ão. mo escreveram dissertações. O árcade Correia Gar-
a execução da red
é fundamental para sej am uti li- ção, por exemplo, legou-nos três textos de reflexão
das talvez nem
Muitas ideias anota tra s ide ias po de m que receberam o nome de “dissertação”, sendo a
anto ou
zadas depois, enqu
“Dissertação Terceira” a mais conhecida («Sobre
surgir adiante.
nada. ser o principal preceito para formar um bom poeta
não vão aparecer do
É claro que as ideias ert óri o de op ini ões, procurar e seguir somente a imitação dos melhores
um rep
Elas fazem parte de os to tod os autores da Antiguidade», 1757). Hoje, aceita-se que
que se está exp
fatos, informações a qualquer trabalho escolar executado segundo prin-
os dias.
cípios científicos de rigor de investigação e de reda-
ideias,
nto desordenado de
Partindo desse conju de ag rup á-las ção pode constituir uma dissertação, trabalho que
possibilidade
pode-se perceber a Um a div isã o pos- persegue sempre o objetivo de aprofundar uma
elhanças.
segundo certas sem luç ões. ideia precisa de que se partiu. O termo confunde-
, consequências e so
sível seria em causas
se com outros familiares como tese e monografia.
o tema
de ideias: relacionar
Dica para captação br as ile ira atu al e Atualmente se distingue entre dissertação de mes-
cieda de
proposto com a so gu me nto trado e tese de doutoramento, porém sem escla-
or quê” a cada ar
fazer a pergunta “p um a ref lex ão recer a terminologia. (Deve-se notar que a mesma
promover
levantado, a fim de nto . distinção é feita nas universidades anglófonas, mas
e o as su
mais profunda sobr
de:
no sentido contrário, reservando-se o termo disser-
r, não se deve esquecer
Lembrar que, ao redigi tação para os trabalhos de maior fôlego como o
ias, frases, palavras
, trabalho escrito para obtenção do grau de PhD.)
• anotar todas as ide o tem a; Fica subentendido que a distinção entre disserta-
rem sobre
sensações que surgi ;
a sel eçã o da s ideias que surgiram ção e tese reside sobretudo na extensão física e na
• fazer um est rut urando-o
ra o texto,
• pensar num plano pa ; profundidade da investigação do texto a escrever: a
volvimento e conclusão
em introdução, desen al, a gra fia da s dissertação de mestrado é, norma geral, mais curta
ao fin
• revisar no rascunho, ses e a eu fon ia (cerca de 150 páginas, em média) e não pretende
da s fra
palavras, a pontuação ção
assim como a adequa tratar o assunto até à exaustão; a tese é, norma ge-
das palavras usadas,
vocabular ao contexto. ral, de grande extensão (pelo menos mais de 250
Fascículo 3 65

páginas, em média) e procura tratar um assunto de 2. O prefácio. Uma dissertação ou tese acadêmi-
forma quase exaustiva. Contudo, podemos natu- ca é composta por várias partes, umas obriga-
ralmente falar de dissertação para trabalhos de re- tórias (como o índice), outras facultativas. O
duzidas dimensões, desde um comentário de texto prefácio é uma das partes facultativas. Pode en-
a um trabalho de licenciatura (normalmente den- cerrar a história e as incidências da elaboração
tro do limite de algumas dezenas de páginas). A da dissertação/tese, a motivação do autor para
monografia tornou-se sinônima de tese e de disser- a investigação realizada, as condições em que
tação no sentido acadêmico dos trabalhos univer- tal investigação foi desenvolvida e as etapas
sitários, embora a sua semântica aponte também mais relevantes para a sua consecução.
para outros caminhos. 3. O preâmbulo. É uma parte facultativa da res-
ponsabilidade do autor da dissertação ou tese.
Uma dissertação acadêmica obedece a regras espe- Se coexistir com a introdução, reserva-se para
cíficas, existindo hoje uma imensa literatura de re- uma apresentação sumária dos objetivos da
ferência para ajudar a redação e composição formal obra e sua fundamentação.
da dissertação. Certas instituições impõem regras 4. O corpo principal. Trata-se do desenvolvimen-
especiais de acordo com os princípios e os objeti- to da investigação e da reflexão crítica sobre o
vos aí definidos. Uma dissertação acadêmica pu- tema a que o autor se propõe tratar.
blicada deve ser tratada como um livro em termos 5. A conclusão. Todo trabalho de natureza cien-
de referência bibliográfica, destacando o título em tífica inclui as principais conclusões da inves-
itálico, por exemplo, Carlos Silva: Guerra Junqueiro: tigação realizada. Nelas se incluem não só as
A Gênese de um Poeta, Faculdade de Letras, Uni- observações críticas finais julgadas pertinen-
versidade de Portugal, 1999. Caso a dissertação ou tes como também uma eventual orientação
a tese não sejam publicadas, a referência apenas do leitor para a possibilidade de ulteriores
utiliza as aspas: Carlos Silva: «Guerra Junqueiro: investigações.
A Gênese de um Poeta», Faculdade de Letras, Uni- 6. O posfácio. É uma parte facultativa pós-textu-
versidade de Portugal, 1999. Normalmente, e em al que pode servir para acrescentar um dado
particular nas teses de doutoramento, o autor de novo na investigação realizada, quando e só
uma tese acadêmica deve produzir um abstract quando as circunstâncias não permitiram a
(cerca de 300 palavras), que acompanha a disser- sua inclusão no corpo principal do texto.
tação e é enviado para uma instituição (UMI) que 7. As notas. São complementos do texto princi-
edita regularmente o Dissertation Abstracts Inter- pal. Podem constituir-se em comentário, escla-
national (1ªed., 1987). Esta base de dados multidis- recimento ou simples citação em pé de página
ciplinar inclui mais de um milhão de títulos desde (preferencialmente) ou no final de um texto
1861 até hoje e está disponível on line. É atualizada (prática habitual, sobretudo em livros de ex-
mensalmente. pressão inglesa). Como comentário, introdu-
zem ou complementam criticamente um aspec-
Podemos sintetizar as regras de composição de to particular relevado no texto, cuja discussão
uma dissertação da seguinte forma: é aí deixada em aberto. Como esclarecimento,
limitam-se a dar
1. O título. A escolha do título de uma disserta- uma breve ex-
ção ou tese, tal como a escolha de um título plicação sobre a
de um livro, não deve ser menosprezada, pois natureza do tex-
pode contribuir para a correta compreensão da to ou autor cita-
obra em questão ou para o êxito do trabalho. do, informações
Ao nível da pesquisa bibliográfica, durante úteis para uma
uma pesquisa específica, podemos ver a impor- pesquisa paralela
Figura 40. Exemplares de teses.
tância que um título tem para a compreensão ou posterior, ou
de uma dada obra. Analise, por exemplo, um correções de por-
título como Os Lusíadas ou Auto da Barca do menor. Como citação, referem à obra ou obras
Inferno. Num fichário de biblioteca, é possível que serviram de fonte ao autor. São, portanto,
não só encontrar um livro pelo seu índice de partes facultativas, mas muitas vezes de leitu-
títulos mas também pelo índice de autores e ra indispensável para a total compreensão de
pelo índice de assuntos. uma dissertação ou tese.
66 Fascículo 3

8. As citações. Tanto quanto possível, não se lido dos autores. Em bibliografias extensas, é
deve evitar sobrecarregar um texto com cita- costume fazer-se uma divisão temática, de acor-
ções marginais. Como princípio geral, acon- do com a especificidade do trabalho científico
selha-se a trabalhar sempre os textos em pri- desenvolvido.
meira mão, recusando a citação em segunda 10. O estilo. Quando procuramos educar o nosso
ou terceira mãos. Escolher uma boa citação, próprio estilo de escrita, a melhor solução não
saber quando é que é adequado inseri-la e que passa pelo armazenamento de palavras novas
extensão deve ter pode ser mais difícil do que e/ou difíceis. Geralmente, a procura de um es-
parece à primeira vista. As citações em inglês, tilo de grande erudição conduz a um trabalho
francês, espanhol ou italiano ocorrem muitas só legível pelo seu próprio autor. Pelo contrá-
vezes (e tal é aceitável) na língua original, em- rio, a excessiva vulgarização e padronização do
bora se possa optar por traduzi-las em nota. discurso pode levar a um texto impessoal, inca-
Parte-se do princípio universal que quer o seu racterístico e inaceitável para um estudante de
autor quer todos os potenciais leitores de um Letras. O uso de terminologia específica deve
livro científico têm a obrigação de ler qual- ser ponderado com rigor, adequado às circuns-
quer texto nessas línguas. É importante não tâncias e devidamente justificado.
deixar nunca uma citação incompleta (sem
autor, sem fonte, sem página, etc.). Todas as
afirmações diretas devem ser documentadas, Textos Complementares
remetendo para as fontes. Em nenhum caso, http://www.teses.usp.br P.
es e dissertações da US
admite-se que o estudante omita as fontes que – banco de dados de tes
azer_tese.ppt
/ser212/aula3-como_f
utilizou, incorrendo, se o fizer, em fraude. So- www.dpi.inpe.br/cursos ível nesse endereço
erpoint, dispon
brecarregar o texto com citações alheias pode - apresentação em pow o fazer uma tese.
icas de com
acerca de instruções bás
vir a dar num texto incaracterístico. Um bom
texto de análise literária, por exemplo, não se
mede pelo número de citações mas pela opor-
tunidade e importância das referências. SAIBA MAIS!
9. A bibliografia. Uma dissertação, uma tese ão?
O Que é Pós-Graduaç
universitária, um livro técnico contêm (ou dois
uação funciona com
devem conter) sempre uma bibliografia, isto No Brasil, a Pós-Grad su.
sensu e stricto sen
é, o conjunto de textos e/ou livros que efe- tipos de ensino: lato
tivamente contribuíram para a investigação o profissional para me
lhor
O lato sensu capacita atu ali-
que foi necessário realizar para produzir uma e, pois possibilita
executar sua atividad nto s em de-
obra. Uma bibliografia é uma lista de obras s conhecime
zar e aprofundar seu fis sã o. Se qu ise r
sua pro
ordenadas alfabeticamente pelos apelidos dos terminada área da um
rior, o aluno realiza
autores ou então ordenadas cronologicamente atuar no ensino supe -
duz um trabalho final, a mo
por ano de edição (mais raro). Uma referência complemento e pro çã o str ict o sen su,
radua
nografia. Já na pós-g ira
bibliográfica é apenas um registro isolado de fis sio na l qu e pre tende seguir carre
o pro uis a po de
uma obra. Quando fazemos um trabalho de lhar com pesq
universitária ou traba nci a, Do uto rad o.
na sequê
investigação, quando estudamos a obra de um optar pelo Mestrado e,
autor, quando fazemos um comentário literá- forma o profissiona
l para
rio, consultamos livros de dois tipos: àqueles Esse nível de curso r a ati vid ade
rior e inicia
atuar no ensino supe mo tra ba lho fin al,
sobre os quais trabalhamos diretamente, sobre or. Co
de cientista-pesquisad ão no Me strado
dis ser taç
os quais estamos a emitir uma opinião críti- o aluno realiza uma
rado.
ca e que são a base do nosso estudo damos o ou uma tese no Douto
nome de bibliografia ativa; àquelas obras que
nos ajudaram a fazer o nosso trabalho damos 11. A expressão escrita. A correção do texto cien-
o nome de bibliografia passiva (geralmen- tífico passa também pelo estilo adotado e tam-
te de maior extensão em relação à anterior). bém pela correção ortográfica.
Existem duas formas universais de apresentar
uma bibliografia: ou arrumamos os títulos por Atividade/Fórum | Discuta, na página do
ordem cronológica, desde o mais antigo até o fórum temático da disciplina, quais suas preten-
mais recente, ou por ordem alfabética do ape- sões em termos de carreira acadêmica.
Fascículo 3 67

6 . O Diálogo desenvolve, os elementos mudam muito ou pouco,


e o sentido de uma frase pronunciada por alguém
Neste tópico, falaremos acerca do conceito de Di- no começo do diálogo pode ser ou não ser o mes-
álogo enquanto tipo de texto escrito, diferindo em mo para ele (ou para seu interlocutor) após umas
termos de meio e algumas características do diálogo quantas páginas de conversação. É por isso que
enquanto texto Platão tem suas ressalvas à lógica formal. A lógica
oralizado (con- formal se baseia sobre a suposição que proposições
versa). Acredi- podem ser destacadas de seu contexto pragmático,
tamos que você conjugadas umas com outras, comparadas entre si
compreenderá e assim produzirem novas proposições. Mas num
mais a fundo o diálogo, como na vida real, palavras não mantêm
sentido do “diá- seu sentido de um sujeito a outro, e o mesmo sujei-
logo” para o de- to, em tempos diversos, pode usar a mesma palavra
senvolvimento de modo ligeiramente – ou mesmo totalmente –
da dialética e do diverso. Nesse sentido, importa ressaltar que não
Figura 41. Um diálogo... temos nos diálogos um porta-voz de Platão, mes-
pensamento.
mo Sócrates, não é, de maneira unívoca, Platão.
O Diálogo é, em literatura, um gênero textual, e Assim, também nos diálogos médios e tardios, a
não propriamente um tipo de texto. Porém, o de- discussão é sempre contextual, e tem de ser lida de
senvolvimento da Narratologia, do romance e dos tal modo: tudo que é dito deve ser tomado como
textos dramáticos, deu ao diálogo outra extensão, pronunciamentos em seus contextos, inseparáveis
uma vez que sendo parte importante das narrati- de quem os pronuncia.
vas, também pode ser utilizado como texto para
exposição de conceitos (dissertação). Será, então, que tudo é incerto nos
diálogos de Platão?
Com efeito, Platão considerava o diálogo o gênero Não haverá nenhuma doutrina, nenhum pro-
literário ideal superando a poesia, tendo em vista nunciamento, nenhuma posição que possamos
a sua preocupação e o seu conceito de verdade. O tomar como sendo em toda seriedade
Diálogo é assim, tanto um tipo de texto quanto de Platão ou de Sócrates?
um gênero. Se falamos de uma obra como Diálo- Não teremos pé em lugar nenhum, nenhum
gos de Platão, ou Diálogo acerca da conversão do ponto de partida, nada em que nos possamos
gentio, do Padre Manuel da Nóbrega, falamos de fiar, que não sejamos forçados, mais tarde, a
gênero, porém, se queremos nos referir aos diálo- revisar, sob a pressão desse movimento?
gos entre personagens numa obra, esse diálogo é
um tipo de texto. O texto de uma peça de teatro é Pergunte a qualquer escritor. Ele certamente dirá
dominado pelas características do diálogo, uma vez que o diálogo é a alma do texto de ficção. Da
que se destacam as conversas entre as personagens, mesma forma que as conversas é que dão vida às
ficando as ações e descrições situadas no âmbito relações entre as pessoas, no cotidiano. Claro, os
das rubricas. personagens agem, e essas ações podem ser narra-
das ou descritas. Mas, com os diálogos, as ações e,
Platão escreveu somente diálogos (exceto a Sétima por extensão, as tramas em que estão envolvidos
Carta, talvez a única autêntica). Ele nunca fala nos ganham brilho, agilidade e uma camada de infor-
diálogos em seu próprio nome e se refere a si mes- mações suplementares sobre ele e a situação que
mo só três vezes (na Apologia e no Fédon). Platão está sendo narrada.
poderia, no entanto, ter escrito tratados filosóficos.
Os Diálogos de Platão se desenrolam em situações Pode até se dizer que não há conto ou romance
dramáticas muito precisas, e o cenário é absoluta- sem alguma forma de diálogo. Como os escritores
mente indispensável para a compreensão do que consagrados podem confirmar, o bom diálogo é
acontece em cada diálogo. Um diálogo, como uma uma das ferramentas literárias mais fáceis de domi-
peça de teatro, avança, passo a passo e deve ser lido nar. Afinal, todo mundo fala e se comunica, basta
sequencialmente, na ordem em que ele se desenro- caprichar. Mas é preciso cuidado ao usá-lo. Se um
la a nossa frente. Como num drama, a situação se bom diálogo até salva um mau texto de ficção do
desastre completo, um diálogo medíocre pode arrui-
68 Fascículo 3

nar uma boa história. pronome pessoal ou não.

Os manuais mostram que há duas formas de ex- “O Jorge vai para Santos”, disse.
pressar a fala dos personagens. Uma é o discurso
direto, quando o escritor exibe os personagens Trata-se de uma ajudazinha do escritor para o
dialogando, reproduzindo suas conversas. Outra é leitor. E qualquer leitor mediano já está condi-
o discurso indireto, quando o narrador dá a co- cionado a passar por esse recurso sem tropeçar
nhecer, com suas palavras, o que os personagens nele. O cérebro registra o que o personagem dis-
conversam ou ponderam intimamente. se, mas praticamente não “vê” o tal do penduri-
calho. É preciso tomar cuidado para não abusar,
Aqui um exemplo de discurso direto, de uma crô- pois, se muito repetido em trechos próximos do
nica de Luís Fernando Veríssimo: texto, ele perde a invisibilidade e começa a ficar
mais importante que o resto.
“— Tente relaxar...
— Desculpe. É que tem uma parte de mim que, enten- Há umas convenções quanto a isso. Por exemplo:
de? Fica de fora, distanciada, assistindo a tudo. Uma “Faça isso”, mandou, “pode ser o certo.” (Depois
parte que não consegue se entregar... do verbo-penduricalho, você continua a frase com
— Eu entendo.
letra minúscula. A não ser que haja um substanti-
— É como se fosse uma terceira pessoa na cama.
— Certo. É o seu superego. O meu também está aqui. vo ou nome próprio: “Faça isso”, mandou, “João
— O seu também? acha que é o certo.” Se você, entretanto, quiser
— Claro. Todo mundo tem um. O negócio é aprender destacar a segunda frase, ela começa com maiúscu-
a conviver com ele. la, graças ao ponto final na primeira: “Faça isso”,
— Se ele ao menos fechasse os olhos!” mandou. “Pode ser o certo”.

Que, em discurso indireto, seria algo mais ou me- A Verossimilhança


nos assim:
Para ser eficiente, o diálogo tem de ser verossímil
Ele sugeriu que ela tentasse relaxar. Ao que ouviu em res-
tanto quanto os personagens. Isso quer dizer que,
posta que havia uma parte dela que ficava de fora, distan-
ciada, assistindo a tudo. E acrescentou, ainda, que era uma como na vida real, cada pessoa tem um modo de
parte que não conseguia se entregar... falar. A não ser que seja um personagem disfarça-
do, um lixeiro não convencerá falando como um
O Uso de Travessões e Aspas físico nuclear. Como um dos papéis do diálogo é
proporcionar informações sobre o personagem ou
Luís Fernando Veríssimo usa travessões para in- a ação, ele tem de ser adequado. Os personagens
dicar ao leitor que se trata de um diálogo. Há es- também não podem errar o tom. Há situações em
critores que preferem indicar o diálogo abrindo que as conversas têm de ser formais e outras em
e fechando aspas. Outros colocam as frases dos que a informalidade é obrigatória. Da mesma for-
personagens no meio do texto, sem alertar o lei- ma, usar gíria exige personagens ou situações que
tor que se trata de diálogo. Veríssimo evita isso, sejam adequados a isso.
sobretudo porque no seu texto, não há possibi-
lidade de confundir-se quem está falando — são Os escritores usam recursos para insinuar o que
só dois os interlocutores, um falando a cada vez, não está sendo dito, sobretudo para reforçar as
e há o uso de penduricalhos que costumam vir emoções dos personagens. Assim, um sujeito rai-
coladinhos aos diálogos, especialmente quando voso fecha os punhos, aperta os olhos; um nervoso
há vários personagens falando. Eles são verbos, fica andando sem parar, coça-se; o mentiroso não
como “dizer”, “afirmar”, “ponderar”, “concor- encara os outros etc. São recursos, mas devem ser
dar”, “acrescentar”, entre outros. apreciados com moderação. No setor das emoções,
é comum ver que, quando o personagem está es-
“O Jorge falou que vai para Santos”, disse ela. Ou tressado, em crise, as frases são mais curtas, cheias
“O Carlos também está indo”, acrescentamos, de verbos vigorosos, parágrafos rápidos e diálogos
numa só voz. ágeis. O leitor fareja a tensão e a urgência até lê
mais depressa. Nos momentos de calma e ternura,
O mais comum é o escritor usar o verbo dizer, com os personagens falam bastante, discutem consigo
Fascículo 3 69

mesmos. O texto reduz o ritmo da tensão. e provocar uma empatia do leitor com tal ou tal
personagem. No diálogo, em geral, não há espaço
A Informação do Diálogo para se ficar dizendo abobrinhas ou jogando con-
versa fora, sob pena de o leitor jogar o livro fora. É
É preciso ter cuidado ao embutir informações nos sempre bom lembrar que uma função do diálogo é
diálogos. O recurso tem de ser usado em doses pe- levar a ação adiante, acrescentar um conflito, mos-
quenas. Nada mais chato do que ler meia página trar algo de novo sobre um personagem.
de informações que vêm da boca de um persona-
gem, narrando fatos do passado ou explicando
alguma coisa.

Uma situação clichê dessas é a do vilão que, depois


de amarrar o herói, explica minuciosamente o seu
plano de conquistar o mundo, até que o mocinho
consiga livrar-se. Lembre-se de James Bond preso
pelo Dr. No Goldfinger.

Na leitura dos livros de 007, isso sempre atra-


palha a ação, dá aquela tentação de pular para
a frente no livro. É uma coisa que só vale para
quadrinhos ou paródias.
Textos Complementares
TEI RO _
Basta pensar um pouco no cotidiano, em que essas /in gle s/g rad uac ao /RO
ww w.f flch .us p.b r/d lm
informações são brevemente mencionadas, já que ANALISE.pdf ticas bási-
apresenta as caracterís
elas fazem parte do repertório de quem conversa, - arquivo em pdf que exp licando
tico (peça de tea tro ),
ou nem são referidas, a não ser que se trate de uma cas de um texto dramá
os, as rubrica s, etc .
aula ou palestra. como colocar os diálog
TEI RO _
/in gle s/g rad uac ao /RO
ww w.f flch .us p.b r/d lm
A Audição do Diálogo Escrito
ANALISE.pdf erísticas
enta acerca das caract
- arquivo em pdf que com
Para ajudar um bom diálogo, é interessante ouvir (roteiro).
do texto de telenovela
pessoas de várias origens e modos de vida diferen-
tes, para usar como base. Ler para ver como bons
autores trataram dos diálogos é recomendável, mas
cuidado.

Grandes mestres da literatura, por melhores que


sejam, muitas vezes ficaram fora de moda ou data-
dos no jeito que construíram seus diálogos.

Machado de Assis, por exemplo, um mestre do di-


álogo nos seus livros, hoje é um veneno para imi-
tadores. Não tem nada a ver com o jeito de falar
atual, a não ser que seu livro aconteça em tempos
machadianos. E, mesmo assim, corre o risco de vi-
rar paródia.

Os diálogos não devem ser uma cópia exata das


conversas da realidade. O escritor pode usar a vida
real como essência, mas terá de filtrar o que se-
ria uma conversa, para obter um diálogo. Usará
só o fundamental para o diálogo ser ágil, eficiente
70 Fascículo 3

SAIBA MAIS!
e Indireto
Discurso Direto
nagem
As falas de um perso curso direto ou do
a fal a da s pe rso na gens por meio do dis
entar
narrador pode apres
Em uma narrativa, o
discurso indireto. curso
. Para construir o dis
m po r me io de suas próprias palavras
hecemos a persona ge ou verbos dic di.
en
No discurso direto, con , qu e cha ma mo s de verbos “de dizer”
são e certos verbos esp
eci ais rar, exclamar e
direto, usamos o traves er, res po nd er, ret rucar, indagar, decla
s falar, diz
rbos dicendi os verbo
São exemplos de ve
assim por diante. amos sabendo do so
frimento e
“V ida s Se ca s”, de Graciliano Ramos, fic o.
m do romance forma como ele se dir
ige ao filh
Na seguinte passage tag onista, por meio da
Fa bia no , o pro
da rudeza de pôs-se a chorar, sen
tou-se
ram , su mi ram -se . O menino mais velho
imaram- se, recua
“Os juazeiros aprox
no chão. i.”
diabo, gritou-lhe o pa
- Anda, condenado do ta-
suas palavras indire
qu e a pe rso na ge m disse. Conhecemos
o
o narrador “conta”
No discurso indireto, ad a ac im a ficaria assim:
me nc ion
mente. A passagem
.”
condenado do diabo
tou -lh e qu e an da sse, chamando-o de
“O pai gri ireto livre. Nesse
rso na ge ns dizem. É o discurso ind
ra forma de conhece
ro qu e as pe dicendi ou travessão.
Há, ainda, uma tercei ra o dir eto , sem usar nenhum verbo caracterizar
na rra do r pa ssa do discurso indire to pa
rra do r usa o dis cur so indireto livre para
caso , o as Secas, o na
tra passagem de Vid
Por exemplo, numa ou
Tomé:
a personagem de seu livros, mas não sabia
mandar:
est rag av a os olh os em cima de jornais e ue las ma ne ira s. Mas
lan de ira falava bem, o po vo censurava aq
“S eu Tom é da bo o po r ser co rtê s. Até
um homem remediad
pedia. Esquisitice de Qu em dis se qu e não obedeciam?”
. Ah !
todos obedeciam a ele sobre a questão.
rra do r, e, sim , da pe rsonagem, pensando
o é do na
e a última reflexão nã
Podemos observar qu

Atividade/Fórum | O diálogo é fundamen- • Rubrica: filosofia.


tal para o desenvolvimento do pensamento No aristotelismo, raciocínio lógico que,
humano, uma vez que existe a possibilidade da embora coerente em seu encadeamento in-
troca de ideias entre os atuantes do diálogo. terno, está fundamentado em ideias apenas
Nesse sentido, é que se usa o termo dialética, prováveis, e por esta razão traz sempre, em
emprestado da filosofia. O dicionário traz a se- seu âmago, a possibilidade de sofrer uma
guinte definição de dialética: refutação.

substantivo feminino • Rubrica: filosofia.


No kantismo, raciocínio fundado em uma
1. Rubrica: filosofia. ilusão natural e inevitável da razão, que
Em sentido bastante genérico, oposição, por isso permanece no pensamento, mesmo
conflito originado pela contradição entre quando envolvido em contradições ou sub-
princípios teóricos ou fenômenos empíricos. metido à refutação.
Obs.: cf. dialética transcendental
• Rubrica: filosofia.
No platonismo, processo de diálogo, de- • Rubrica: filosofia.
bate entre interlocutores comprometidos No hegelianismo, lei que caracteriza a re-
profundamente com a busca da verdade, alidade como um movimento incessante
por meio do qual a alma se eleva gradati- e contraditório, condensável em três mo-
vamente das aparências sensíveis às realida- mentos sucessivos (tese, antítese e síntese)
des inteligíveis ou ideias. que se manifestam simultaneamente em to-
Fascículo 3 71

dos os pensamentos humanos e em todos manter uma conversa com os entrevistados num
os fenômenos do mundo material. ambiente agradável. Aqui ficam algumas dicas para
uma entrevista de sucesso:
• Rubrica: filosofia.
No marxismo, versão materialista da dialé- • Prepare uma entrevista no contexto apropria-
tica hegeliana aplicada ao movimento e às do, e tome nota para que isso sirva como re-
contradições de origem econômica na his- ferência no decorrer da entrevista. Faça uma
tória da humanidade. revisão nas questões e coloque nos momentos
que antecedem a entrevista.
2. Derivação: sentido figurado (da acp. 1.1).
Uso: pejorativo. • Antes da entrevista, faça uma pesquisa acer-
Na arte, modo de discutir por meio de ra- ca da pessoa a ser entrevistada, seu currículo,
ciocínios especiosos e vazios. seus trabalhos. Não mace a pessoa a ser entre-
vistada com perguntas que poderia facilmente
Com base no que foi aqui exposto sobre o di- saber a resposta a priori. Ainda assim, pode
álogo e com a definição de dicionário do que confirmar brevemente essas respostas, dando
é dialética, comente qual a importância da dia- a mostrar o seu interesse e conhecimento da
lética para o desenvolvimento do pensamento. pessoa em questão.

• Anote as respostas no seu bloco de notas durante


7. A Entrevista e a Injunção a entrevista. (Não tente capturar a informação
de forma eletrônica nesta fase!)
Neste tópico, comentaremos acerca das caracterís-
ticas da entrevista e da injunção. Por sua caracte- • Consulte as notas da estrutura da entrevista
rística própria, a entrevista tem muito de diálogo; no decorrer desta. Assim, terá a certeza de que
quanto à injunção, ela parece mais próxima da está a fazer as perguntas corretas e que não se
linguagem dos editais, decretos, leis e normas, por- está a desviar dos objetivos definidos.
tanto, da linguagem jurídica.
• Discuta os problemas com o entrevistado.
A Entrevista Esclareça situações que possa observar no
ambiente. Faça sugestões e observações basea-
das em conhecimento teórico e familiarização
com outros sistemas.

O sentido da entrevista não deve ser demasiado


restritivo. Depois de estabelecida uma ligação po-
sitiva com o entrevistado, é normal que a entrevis-
ta acabe por entrar numa dinâmica própria. Por
vezes, o entrevistado pode começar a entrar em
grande detalhe acerca das inúmeras dificuldades
e problemas da situação em que se encontra. Isto
é exatamente o comportamento que procura. Se
tal acontecer, não interrompa o fio de diálogo ao
Figura 42. Jô Soares entrevistando um convidado
interpor uma nova questão. Em vez disso, tome
Na entrevista, é de suma importância saber ouvir. nota rapidamente do máximo que conseguir, dei-
Com alguma preparação, uma estrutura de entre- xando o entrevistado dizer tudo o que pretende.
vista bem definida e com os objetivos delineados, Faça perguntas relacionadas com a informação que
qualquer membro de uma equipe de trabalho pode acabou de obter, tentando aprofundar o tema, pois
realizar a tarefa de entrevistar alguém de forma cor- esta é uma forma de ir de encontro aos aspectos
reta e com bons resultados. Ainda assim, deve ser mais inovadores e originais da entrevista. Quando
dada preferência a membros da equipe com mais o tema se extinguir, então sim, deve voltar à sequ-
aptidões de interação social e com vontade para ência definida para a entrevista. Não há qualquer
problema em desviar-se um pouco do contexto
72 Fascículo 3

SAIBA MAIS!
da entrevista, desde que mantenha, em mente, os Programas de
A Evolução do Design
dos
objetivos que traçou para a entrevista. Após algu- s.
mas entrevistas (bastam até duas ou três para tal Entrevista de Jô Soare
ser notado), o entrevistador vai concluir que ob- , 2008
Publicado Agosto 11 e Meia,
teve valioso conhecimento acerca do domínio do no SBT, o Jô Soares Onze
Em 1988, estreava, nte no s fam o so s talk
integralme
problema e vai ter uma melhor compreensão do baseado quase que te Show
fim de noite como o “La
problema a ser trabalhado e das opiniões do en- shows americanos de t Sh ow with
” ou o “The Tonigh
trevistado acerca do conhecimento que ele possui. with David Letterman s pri nc ipa is dif ere n-
te uma da
Jay Leno“. Inicialmen no âm bit o
Para além disso, o entrevistador consegue fazer um mato original estava
ças em relação ao for a seu s co nv i-
apanhado das necessidades chave da entrevista. O e David entrevistav
visual. Enquanto qu s da cidade
s co m imagens noturna
entrevistador deve ter sempre em mente que este dados em fundo Jô So are s optou por
dução de
método deve basear-se numa troca de informação de Manhattan, a pro nimalista.
agem visual mais mi
mútua entre entrevistador e entrevistado. empregar uma lingu ita ria me nte por
mpostos major
Os cenários eram co as nu an ces de luz.
com algum
um fundo azul, claro
A Injunção que ini-
aplicado na vinheta
O mesmo conceito era de sp ert ad or estili-
bloco. Um
ciava e fechava cada for ma s e
Texto Injuntivo em sua maioria com
zado era construído o ao s fam o-
iam uma associaçã
cores básicas que faz ssi ly Ka nd ins ky, da
listas de Wa
O texto injuntivo incita ao cumprimento escrupuloso de sos estudos funciona a a esse
let ter ing Jô Soares se integrav
Bauhaus. O Me ia” não
diferentes etapas, cronologicamente ordenadas, de execu- e a frase “Onze e
objeto, enquanto qu po nte iro s locali-
ção de uma ação. entada pelos
existia. Ela era repres
”.
zados sobre a letra “O
1. parte: descrição dos materiais e circunstâncias mente mos-
nos populares obvia
que presidem ao ponto de partida da realiza- Essas referências me um pú bli co mais eli-
issora por
travam a busca da em parte acon-
ção da ação. o, o que acabou em
tizado e diferenciad
2. parte: enumeração de procedimentos ( podem tecendo.
ser indicados os limites temporais a ter em
conta no desenvolvimento de algum procedi-
mento). Estudos de Cor e Forma de Kandinsky,
da Bauhaus
A Conjugação verbal na Injunção:
Contudo, a influência do formato americano e da
• 3 pessoa do conjuntivo (forma supletiva do
ª estética futurista tridimensional de Hans Donner
Modo Imperativo): foram mais fortes, e o Jô Soares Onze e Meia aca-
“Coloque a tampa e, a seguir, pressione.” bou incorporando elementos de ambos. Em 1997,
graças à computação gráfica, a abertura ganhou
• Presente do Indicativo com sujeito indeter- uma simulação de viagem aérea noturna sobre uma
minado: cidade virtual extremamente iluminada, com inser-
“Coloca-se a tampa e, a seguir, pressiona-se.” ções das imagens do apresentador em luminosos e
na televisão dentro dos apartamentos. A assinatura
• Infinitivo: recebeu também uma repaginada, ganhando um
“Colocar a tampa e, a seguir, pressionar.” brilho metalizado e movimentos mais rápidos que
exploravam, ainda mais, as três dimensões. Além
disso, o cenário recebeu mais cores, acompanhan-
Textos Complementares do a identidade da marca, além de uma cidade es-
miotica/es/eSSe3/2007 tilizada ao fundo, construído apenas com formas
www.fflch.usp.br/dl/se e do
uivo em pdf que discut brancas sobre o fundo azul, agora mais escuro.
- eSSe3.C.MEN.pdf - arq s dos textos
iótica as caracterís tica
ponto de vista da sem
injuntivos. Em 1999, assim como toda a programação do SBT,
trevista.jhtm
.br/empregos/dicas/en
http://noticias.uol.com a entrevista
a abertura recebeu elementos mais icônicos e efei-
o se preparar par a um
- matéria acerca de com tos visuais mais rebuscados, como luzes e brilhos,
de emprego. -entrevista- tornando-a, ainda, mais popular. O relógio ganhou
spot.com/2007/11/veja
http://arquivoetc.blog ta Jô Soares peças de corda, e o fundo recebeu nuvens. Além
a entrevista o humoris
j-soares.html - revista Vej
Fascículo 3 73

disso, devido ao grande destaque musical dado ao Evolução dos Cenários


programa, os instrumentos musicais do Quinte-
to apareciam sobrevoando a cidade e ajudando a Em 2005, vinheta e cenários foram levemente atu-
compor a trilha sonora. alizados. A marca ficou mais brilhosa, e via-se uma
cidade refletida nela. Já o formato do símbolo da
Nesse momento, outra novidade aparecia nos en- emissora na lente da abertura foi trocado pelo da
cerramentos e aberturas de cada bloco. Juntamente marca do programa.
com a marca, era apresentada uma imagem de algu-
ma cidade brasileira durante a noite. Diferente do Três anos depois, juntamente com a nova progra-
Late Show que costuma focar seu programa na cida- mação, as mudanças na identidade visual da Rede
de de Manhattam, fica demonstrado o interesse do Globo e a inauguração da televisão digital, o talk
programa nacional em não restringir uma eventual show apresentou uma nova vinheta. Mesmo seme-
associação somente com a vida noturna paulistana. lhante à anterior, ela deu mais destaque à Lua com
seu tamanho agigantado, ao Sexteto e à torre colo-
Depois de mais de 10 anos no Sistema Brasileiro de rida de transmissão da tevê digital, projetada por
Televisão, Jô Soares e boa parte de sua equipe pas- Hans Donner, que também está presente no cená-
saram, no ano 2000, a fazer parte da programação rio. Já a assinatura perdeu um pouco dos reflexos
da Rede Globo. Mesmo contanto com um melhor e brilhos, conferindo um pouco mais de limpeza
aparato técnico, o “Programa do Jô”, como passou visual, acompanhando, assim, a nova estética do
a ser chamado, não mostrou mudanças profundas. próprio canal.
As cidades continuaram sendo apresentadas na en-
trada e saída dos intervalos comerciais. Até os mes- Fonte: http://televisual.wordpress.com/2008/08/11/a-evolucao-do-

mos elementos da última vinheta do SBT foram design-dos-programas-de-entrevistas-de-jo-soares/

mantidos, mas com algumas diferenças.

O programa, aliás, se aproximou ainda mais do mo- 8. Redação


delo americano. O cenário, ao contrário do mini-
malismo do final década de 80, contou com painéis Neste tópico, discutiremos a redação, enquanto
com fotos noturnas da cidade de São Paulo. texto a ser produzido pelo aluno, as circunstâncias
e o contexto para produção de uma redação em
Ao invés do vermelho, azul e amarelo, as cores em- sala de aula. Bem como as questões relativas à lei-
pregadas desta vez foram predominantemente o pre- tura e à avaliação da redação.
to e o dourado, trazendo um pouca mais de sofistica-
ção. A nova assinatura, agora dourada, contou com Quem nunca recebeu uma redação (escolar ou
uma lua real e um fundo de um céu estrelado. Os não) vazia de significado e que, ao terminar
elementos virtuais, como a cidade e os instrumentos a leitura, não foi capaz de entender o que
musicais flutuantes, foram substituídos por cenas o autor quis dizer?
reais, embalados por
um novo jazz, como Você, que presumiu que
trilha sonora. Tudo os alunos soubessem se
isso sob uma lente expressar por texto, agora
de aumento com o tomou esse susto. Recebeu
formato do símbolo um monte de palavras no
da Rede Globo que papel.
ampliava os detalhes
por onde ela passava Como fazer o estudan-
(que foi aplicado nas te recuperar/adquirir a
vinhetas institucio- capacidade de discursar
nais e por um curto pela escrita?
período nas aber-
turas das principais Vamos pensar nos grandes
atrações da casa). escritores. Camões pediu
Figura 43. Cenários do Jô às ninfas do rio Tejo (as
74 Fascículo 3

Tágides) que elas o ajudassem na empreitada de


cantar as glórias de seu povo. “Cantando espalha-
rei por toda parte/Se
a tanto me ajudar o Textos Complementares
o.pdf
icoes/v3n2/H_Conceica
engenho e arte”, dis- rle.ucpel.tche.br/php/ed gicos e didáticos
cute aspectos pedagó
se o poeta no Canto I – arquivo em pdf que dis
de Os Lusíadas. Arte da redação na escola.

não é todos que po- 029.html


.br/anais/anais III CNLF2
http://www.filologia.org ace rca da argu-
dem, mas engenho Marísia Carneiro (UE RJ)
– excelente artigo de
é pra quem quer. redação escolar.
mentação em textos de
Escrever é um traba-
lho duro de revisão,
Figura 44. Escrevendo uma
reescrita, reestrutura- redação
ção de texto. É incrí-
vel como ainda tem SAIBA MAIS!
gente que pensa que escrever é APENAS sentar-se Ca-
escolar, escrita por
Leia essa redação ha sid o
diante de uma folha de papel e “deixar a imagina- ra, Cazuza ten
zuza em 1971. Embo r, é fat o qu e
ção solta”. e composito
um grande letrista zu za ap res en ta
nino Ca
a redação do me ndo
um a vis ão ing ênua acerca do mu
Hoje, o principal problema apresentado em reda- ainda eri ca no s,
s business am
ções escolares pode ser resumido assim: o aluno musical e dos show à pa rti cip aç ão
e tange
notadamente no qu
não sabe pensar o texto como uma conversa. E o dos em pr es ár ios .
erro está no modo que a redação foi um dia intro- s
dar as tradicionais música
duzida em sua vida. A música rock veio mu ma is livr e
para uma música
dos homens de negócios -
. A mú sica rock ref lete um com
Quem nunca ouviu a professora orientar a divi- e sem preconceitos , ma s na
a alguns destru tivo
são da redação “Introdução/Desenvolvimento/ portamento erótico, par es-
ape nas um meio de desabar as
Conclusão”? minha opinião é até ma is ou
ana popular
truturas. A música americ
pre sa aos empresários, homens
menos 1960 estava da
Sem explicar o porquê da famosa fórmula, as re- avam toda a publicidade
de negócios que comand art ista s, e
gras tornaram-se engessadoras da produtividade. mandavam nos
TV, que mandavam e des pos ito res .
ística para os com
isso não dava liberdade art ção de som
a nova concep
Seria mais fácil mostrar ao aluno que a redação é A música rock trouxe um
discurso, conversa, é necessário apresentar uma e música.
ideia e debatê-la com o leitor. E para isso, é preciso
reescrever, muitas vezes, um texto, ter [algum] co-
nhecimento no assunto debatido, lê-lo em voz alta,
apresentar para que outra pessoa o leia e aponte o
que não ficou claro. No final das contas, ensinar Atividade/Fórum | Comente, no fórum te-
o aluno a argumentar é o mesmo que ensiná-lo a mático da disciplina, como foi para você a ativi-
PENSAR! dade de escrever uma redação na sua vida escolar.

E olha que tem gente que perde tempo pensando


que o “miguxês*” é o maior problema das nossas
redações. (*miguxês - linguagem usada para co-
municação informal em chats, orkut, bilhetinhos;
escrita que utiliza sons da língua portuguesa. ex.
“miguxo amu todos vo6! beijaum! s2″.)
Fascículo 3 75

Glossário

Argumentação - substantivo feminino us. no pl.)


1. arte, ato ou efeito de argumentar 15. Rubrica: direito falimentar.
2. Derivação: por extensão de sentido. fase inicial do processo falimentar onde são apurados
troca de palavras em controvérsia, disputa; discussão os bens, direitos e obrigações do falido
3. Rubrica: termo jurídico. 16. Rubrica: direito administrativo.
conjunto de ideias, fatos que constituem os argumen- ato através do qual um órgão da administração pública
tos que levam ao convencimento ou conclusão de faz esclarecimentos sobre o processo administrativo
(algo ou alguém) 17. Rubrica: direito processual.
4. Rubrica: literatura, estilística. conjunto de dados fornecidos pela autoridade impetra-
no desenvolvimento do discurso, corresponde aos re- da no habeas corpus sobre o fato que se quer qualificar
cursos lógicos, como silogismos, paradoxos etc. ger. como abusivo
acompanhados de exemplos, que induzem à aceita- 18. Rubrica: termo de garimpo.
ção de uma tese e à conclusão geral e final. sinal de possível existência de diamantes nas ad-
jacências, dado pela presença de satélites (‘minerais’)
Informação - substantivo feminino
ato ou efeito de informar(-se) Memórias - chama-se memórias ao gênero de literatura em
1. comunicação ou recepção de um conhecimento ou que o narrador conta fatos da sua vida. É tipicamente um
juízo gênero do modo narrativo, assim como a novela e o conto,
2. o conhecimento obtido por meio de investigação ou porém essa classificação é predominantemente atribuída a
instrução; esclarecimento, explicação, indicação, co- histórias verídicas ou baseadas em fatos reais. Diferencia-
municação, informe se da biografia, pois não se prende a contar a vida de
3. acontecimento ou fato de interesse geral tornado do alguém em particular, mas, sim, narrar as suas lembranças.
conhecimento público ao ser divulgado pelos meios
de comunicação; notícia Personagem - substantivo de dois gêneros
4. em âmbito burocrático, esclarecimento processual 1. pessoa que é objeto de atenção por suas qualidades,
dado geralmente por funcionário de apoio à autori- posição social ou por circunstâncias;
dade competente na solução ou despacho de requeri- 2. papel representado por um ator ou atriz a partir de
mento, comunicação etc. figura humana fictícia criada por um autor;
5. informe escrito; relatório 3. Derivação: por extensão de sentido: figura humana
6. conjunto de atividades que têm por objetivo a coleta, imaginada pelos autores de obras de ficção.
o tratamento e a difusão de notícias junto ao público. • Derivação: por extensão de sentido.
Ex.: liberdade de i. Figura humana representada em várias formas
7. conjunto de conhecimentos reunidos sobre determina- de arte.
do assunto. Ex.: o principal personagem do quadro é um
Ex.: a informação existente sobre a nova doença é in- pastor de longas barbas
suficiente. 4. Derivação: por extensão de sentido
8. elemento ou sistema capaz de ser transmitido por um O homem definido por seu papel social ou comporta-
sinal ou combinação de sinais pertencentes a um re- mento.
pertório finito
9. Rubrica: comércio. Subjetividade - substantivo feminino
opinião ou parecer que contém dados sobre uma pes- 1. característica do que é subjetivo
soa física ou sobre a evolução de uma pessoa jurí- 2. domínio do que é subjetivo
dica. 3. rubrica: filosofia.
Ex.: revelaram-se boas as informações sobre o realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser hu-
fornecedor mano, passível de manifestar-se simultaneamente nos
10. Rubrica: comunicação. âmbitos individual e coletivo e comprometida com a
quantidade numérica que mede a incerteza do resul- apropriação intelectual dos objetos externos.
tado de um experimento a realizar-se; medida quanti- Obs.: p.opos. a objetividade
tativa do conteúdo da informação
11. Rubrica: informática. Tese - Documento que representa o resultado de um tra-
mensagem suscetível de ser tratada pelos meios infor- balho experimental ou exposição de um estudo científico
máticos; conteúdo dessa mensagem de tema único e bem delimitado, essencial para a obtenção
12. Rubrica: informática. do grau de doutor, livre-docente ou professor titular. Deve
interpretação ou significado dos dados revelar a capacidade de seu autor em incrementar a área
13. Rubrica: informática. de estudo que foi alvo de suas investigações, constituindo-
produto do processamento de dados se em real contribuição para a especialidade em questão.
14. Rubrica: termo militar. Regionalismo: Brasil. Seus itens basilares são: revisão de literatura, metodolo-
conjunto de informes (documentos ou observações) já gia utilizada, rigor na argumentação e apresentação de
analisados, integrados e interpretados, que habilita provas, profundidade de ideias e avanço dos estudos na
um comandante a tomar decisões seguras relativas a área. Um fator que caracteriza a tese é a originalidade. É
uma linha de ação e à conduta da manobra (mais elaborada sob a coordenação de um orientador.
76 Fascículo 3

A tese deve revelar a capacidade do pesquisador em sis- LESSING, Gottlob Efraim. Laocoonte ou Sobre
tematizar o conhecimento, revelando a capacidade do
doutorando em fornecer uma contribuição para a ciência,
as fronteiras da Pintura e da Poesia. São Paulo,
primando pela originalidade. Iluminuras, 1998.

Verossimilhança - substantivo feminino MARCUSCHI, L. A. (2002). “Gêneros textuais:


1. qualidade do que é verossímil ou verossimilhante definição e funcionalidade” In DIONÍSIO, Â. et
2. Rubrica: literatura. al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro:
ligação, nexo ou harmonia entre fatos, ideias etc. Lucerna.
numa obra literária, ainda que os elementos imagi-
nosos ou fantásticos sejam determinantes no texto; ORLANDI, E. Discurso e leitura. Campinas:
coerência.
Unicamp, 1993.

SAMPSON. G. Sistemas de escrita: tipologia,


história e psicologia. São Paulo: Ática, 1996.
Referências
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São
Paulo, Ática, 1993.
ADAM, J. M. (1990). Élements de linguistique
textuelle. Theorie et pratique de l’analyse. Liè- SWALES, J. M. (1990). Genre analysis. English
ge, Mardaga. in academic and research settings. Cambridge:
Cambridge University Press.
AUROUX, S. A escrita. In: _____ . A filosofia da
linguagem. Campinas: Unicamp, 1998. TRAVAGLIA, L. C. (1991). Um estudo textual-
discursivo do verbo no português. Campinas,
BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de Tese de Doutorado / IEL / UNICAMP, 1991.
estética. São Paulo: Unesp, 1993. 330 + 124 pp..

BARTHES, Roland. O prazer do texto. Lisboa: WALTHER-BENSE, Elisabeth. Teoria Geral dos
Edições 70, 1974. Signos. São Paulo, Perspectiva, 2000.

BRONCKART, J.-P. (1999). Atividades de lingua-


gem, textos e discursos. Por um interacionismo
sócio-discursivo. São Paulo: Editora da PUC/SP.

CHARTIER, Anne-Marie e HÉBRARD, Jean. Dis-


cursos sobre a Leitura - 1880-1980. São Pau-
lo: Ática, 1995.

FERRERO, Emília. Os processos de leitura e es-


crita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

FREIRE, P. A importância do ato de ler. São Pau-


lo: Cortez, 1997.

GARCIA, Luiz. Manual de Redação e Estilo de


O Globo. Rio de Janeiro, editora Globo, 2006.

GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São


Paulo: Martins Fontes, 1994.

KOCH, I. e TRAVAGLIA, L.C. Texto e coerência.


4 ed. São Paulo: Cortez, 1995.

KRAMER, Sonia. Por entre as pedras: arma e


sonho na escola. São Paulo: Ática, 1993.

LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo,


Ática, 2001.
Fascículo 4 77

Leitura
e
Produção
de Texto
Prof. Dr. Jairo Nogueira Luna
Carga Horária | 15 horas

Objetivos Específicos

O Conhecimento Linguístico;
Referenciação e progressão referencial;
Sequenciação textual

1. O Conhecimento Linguístico no Processo de Leitura:


Coesão e Coerência

O conhecimento linguístico abrange o conhecimento gramatical e o lexical. Ba-


seados nesse tipo de conhecimento, podemos compreender: a organização do
material linguístico na superfície textual; o uso de meios coesivos para efetuar
a remissão ou sequenciação textual; a seleção textual adequada ao tema ou aos
modelos ativados.

Na construção de um texto, assim como na fala, usamos mecanismos para garan-


tir ao interlocutor a compreensão do que se lê/diz.
Esses mecanismos linguísticos que estabelecem a conectividade e a retomada do
que foi escrito/dito são os referentes textuais e buscam garantir a coesão textual
para que haja coerência, não só entre os elementos que compõem a oração mas
também entre a sequência de orações dentro do texto.

Essa coesão também pode, muitas vezes, ocorrer de modo implícito, baseado em
conhecimentos anteriores que os participantes do processo têm com o tema.
78 Fascículo 4

Por exemplo, o uso de uma determinada sigla, que haja uma unidade, ou seja, que essas frases estejam
para o público a quem se dirige deveria ser de co- coesas e coerentes, formando o texto.
nhecimento geral, evita que se lance mão de repe-
tições inúteis. Além disso, relembre-se de que, por coesão, enten-
de-se ligação, relação, nexo entre os elementos que
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha compõem a estrutura textual.
imaginária - composta de termos e expressões - que
une os diversos elementos do texto e busca estabe- Há diversas formas de se garantir a coesão entre
lecer relações de sentido entre eles. os elementos de uma frase ou de um texto:

1. Substituição de palavras com o emprego de si-


nônimos ou de palavras ou expressões de mes-
mo campo associativo.
2. Nominalização – emprego alternativo entre
um verbo, o substantivo ou o adjetivo corres-
pondente (desgastar/desgaste/desgastante).
3. Repetição na ligação semântica dos termos,
empregada como recurso estilístico de inten-
ção articulatória e não, uma redundância - re-
sultado da pobreza de vocabulário. Por exem-
plo, “Grande no pensamento, grande na ação,
grande na glória, grande no infortúnio, ele
morreu desconhecido e só.” (Rocha Lima)
4. Uso de hipônimos – relação que se estabelece
com base na maior especificidade do significa-
do de um deles. Por exemplo, mesa (mais espe-
Figura 45. A coesão dá sentido ao texto. cífico) e móvel (mais genérico).
5. Emprego de hiperônimos - relações de um ter-
Dessa forma, com o emprego de diferentes proce- mo de sentido mais amplo com outros de sen-
dimentos, sejam lexicais (repetição, substituição, tido mais específico. Por exemplo, felino está
associação), sejam gramaticais (emprego de prono- numa relação de hiperonímia com gato.
mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se 6. Substitutos universais, como os verbos vicá-
frases, orações, períodos, que irão apresentar o rios (ex.: Necessito viajar, porém só o farei no
contexto – decorre, daí, a coerência textual. ano vindouro). A coesão apoiada na gramáti-
ca ocorre no uso de conectivos, como certos
Um texto incoerente é o que carece de sentido ou pronomes, certos advérbios e certas expressões
o apresenta de forma contraditória. Muitas vezes, adverbiais, conjunções, elipses, entre outros.
essa incoerência é resultado do mau uso daqueles
elementos de coesão textual. Na organização de pe- A elipse se justifica quando, ao remeter a um enun-
ríodos e de parágrafos, um erro no emprego dos ciado anterior, a palavra elidida é facilmente iden-
mecanismos gramaticais e lexicais prejudica o en- tificável (Ex.: O jovem recolheu-se cedo. ... Sabia
tendimento do texto. Construído com os elemen- que ia necessitar de todas as suas forças. O termo o
tos corretos, confere-se a ele uma unidade formal. jovem deixa de ser repetido e, assim, se estabelece
a relação entre as duas orações.).
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara (1), “o
enunciado não se constrói com um amontoado Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro-
de palavras e orações. Elas se organizam segundo priedade de fazer referência ao contexto situacional
princípios gerais de dependência e independência ou ao próprio discurso. Exercem, por excelência,
sintática e semântica, recobertos por unidades me- essa função de progressão textual, dada sua carac-
lódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”. terística: são elementos que não significam, apenas
indicam, remetem aos componentes da situação
Desta lição, extrai-se que não se deve escrever fra- comunicativa. Já os componentes concentram em si
ses ou textos desconexos – é imprescindível que a significação.
Fascículo 4 79

Elisa Guimarães (2) nos ensina a esse respeito: bui de forma desigual: são, sobretudo, os jovens
pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24
Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os anos, que têm pago com a própria vida o preço da
participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstra- escalada da violência no Brasil.
tivos, certas locuções prepositivas e adverbiais bem como
os advérbios de tempo referenciam o momento da enun- (Adaptado de http:// www.brasil.gov.br/acoes.htm)
ciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou
posterioridade.
a) 1 – Tanto é assim que
b) 2 – Lamentavelmente
Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ulti-
mamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de
c) 3 – ou seja
(pretérito); de agora em diante, no próximo ano, depois d) 4 – Simultaneamente
de (futuro). e) 5 – Se bem que

Esse conceito será de grande valia quando tratar- Comentário


mos do uso dos pronomes demonstrativos.
Somente a coesão, contudo, não é suficiente para As lacunas no texto ocultam palavras e expressões
que haja sentido no texto; esse é o papel da co- que atuam como conectores – ligam orações esta-
erência, e coerência se relaciona intimamente a belecendo relações semânticas entre os períodos.
contexto. A banca sugere algumas opções de preenchimento.

Como nosso intuito nesta página é o de apresentar Dessas, a única que não atende ao solicitado é a de
conceitos, sem aprofundá-los em demasia, bastam- número 5, uma vez que a expressão “Se bem que”
nos essas informações. Vejamos como o examinador deveria introduzir uma oração de valor concessi-
tem abordado o assunto. vo, estabelecendo, assim, ideia contrária à que foi
apresentada, até então, pelo texto.
Prova AFTN/RN 2005
Verifica-se, contudo, que o que se segue ratifica as
Assinale a opção em que a estrutura sugerida para informações anteriores ao fornecer dados comple-
preenchimento da lacuna correspondente provoca mentares às estatísticas sobre homicídios. Sendo
defeito de coesão e incoerência nos sentidos do aceita a sugestão da banca, a coerência textual seria
texto. prejudicada. Por isso, o gabarito é a opção E.

A violência no país há muito ultrapassou todos os


limites. ___1___ dados recentes mostram o Brasil
como um dos países mais violentos do mundo, le-
vando-se em conta o risco de morte por homicídio.

Em 1980, tínhamos uma média de, aproximada-


mente, doze homicídios por cem mil habitantes. Textos Complementares
htm
___2___, nas duas décadas seguintes, o grau de a.com/redacao/coesao.
http://www.brasilescol s ou de tran-
a de pal avr as coe siva
violência intencional aumentou, chegando a mais - página que traz list
do que o dobro do índice verificado em 1980 – sição.
121,6% –, ___3___, ao final dos anos 90 foi su- .htm
com/porredacao/coesao
perado o patamar de 25 homicídios por cem mil http://www.coladaweb. rca da coesão
boas informações ace
habitantes. ___4___, o PIB por pessoa em idade - página que contém
textual.
de trabalho decresceu 26,4%, isto é, em média, a
cada queda de 1% do PIB, a violência crescia mais
do que 5% entre os anos 1980 e 1990.

Estudos do Banco Interamericano de Desenvolvi-


mento mostram que os custos da violência consu-
miram, apenas no setor saúde, 1,9% do PIB entre
1996 e 1997. ___5___ a vitimização letal se distri-
80 Fascículo 4

SAIBA MAIS!
Provas de Vestibular
Pérolas das
eiro e de São Paulo,
colhidos em 2001 e
era is do Rio de Jan
es fed
vestibular de faculdad
Trechos das provas do
2002.
o o oxigênio.”
nado por ter inventad
“Lavoisier foi guilhoti s ao cérebro.”
mite ideias luminosa
“O nervo ótico trans ar. ”
sa quantidade de
“O vento é uma imen to de terras não cultivadas
.”
er melhor.”
“O terremoto é um pe
queno movim en
erá ria pa ra qu e os mortos pudessem viv
lve ram a art e fun
desenvo
“Os egípcios antigos cia grega.”
nc ipa l ditador da democra ia de necessidades.”
“Péri cle s foi o pri
nd o é a superabundânc o d’água.”
nta l do ter cei ro mu s se afogavam dentr
“O problema fun da me
s séc ulo s, nu ma ép oca em que os peixe
há muito
“O petróleo apareceu
ipa l fun çã o da raiz é se enterrar.”
“A princ ntela.”
te ve m perdendo muita clie
“A igreja ultimamen s.”
lor e turista
“O sol nos dá luz, ca bico.” r em um metro da un
idade de
têm na bo ca um dente chamado qu e se tem que realiza
“As aves sig nif ica a for ça
é do Newton, que
“A unidade de força
o co ntrário.”
tempo, no sentid a confuso.”
tod a na rra çã o em prosa de um tem
“Lenda é
que toca.”
“A harpa é uma asa Marco Polo.” .”
trazida da China por comem por duas vezes
“A febre amarela foi
do s ou tro s an im ais porque o que comem,
tinguem r dia.”
“Os ruminantes se dis funcionar 24 horas po
raç ão é o ún ico órg ão que não deixa de be r, só so bre viv e se for empalhado.”
“O co tem ág ua pa ra be
irracional não
“Quando um animal
iste em dormir ao contrário.”
“A insônia co ns ifícios verticais.” romances e os realist
as nos
etu ra gó tica se no tabilizou por fazer ed os românticos escrevem
“A arquit Re ali sm o é qu e
Romantismo e o
“A diferença entre o
est á a situação do país.”
mostram como
ito alto e magro.”
“O Chile é um país mu cado original.” venenavam.”
tism o é um a esp éci e de detergente do pe e os qu e nã o est avam de acordo se en
“O ba bem po rqu
cia funcionava muito
“Na Grécia a democra de um a ep op éia .”
meço
“A prosopopéia é o co res pir am co mo podem.”
d’á gu a
“Os crustáceos fora r só respirarem a no
ite.”
guem dos animais po
“As plantas se distin s pe lo co rpo .”
manos nascem unido de de cuspir.”
“Os hermafroditas hu ba lha m qu an do a gente tem vonta
nd ula s sa liv are s só tra nã o ve mo s.”
“As glâ s ver o que
fé é um a gra ça atr avés da qual podemo an tes da Me so potamia.”
“A am os primitivos habit
de lta s for das.”
“Os estuários e os s fábricas desco eci nh
ivo da So cie da de Anônima é ter muita co let iva .”
“O objet à enfermidade
l assegura o direito
“A Previdência Socia
“O Ateísmo é uma rel
igião anôn im a.” r de três minutos.”
res pir aç ão sem ar que não deve passa
“A respiração anaerób
ia é a de de tempo.”
e de ca lor ias arm azenadas numa unida
ad
“O calor é a quantid o era injusto.” o após manter rela-
a Justiça, todo mund fridas por um indivídu
“Antes de ser criada icaçõ es mo rfo lóg ica s so
undário são as modif
“Caracter sexual sec
ções sexuais.” ulado.”
de morto, foi decapit
“Tiradentes, depois cei ”.
Resposta a uma pergu
nta: “Não pirineus etc.”
, de sta ca m- se os aztecas, os incas, os s nossos dias).”
“Entres os índios de
Améri ca
dia , Mo de rna e Mo mentânea (esta, a do
em 4: Antiga, Mé
“A História se divide rtas eram sacrificadas
.”
cri an ças que nasciam mo en tendo nada”.
“Em Esparta as iza çã o? ”: “N ão
à pe rgu nta “Q ue entende por helen tem po for am se sifilizando.”
Resposta mu ito atr az ados mas com o se conheciam na hora
h.”
“No começo os índios
era m
s era m fei tos ‘no escuro’ e os noivos só
tais os casame nto da marinha .”
“Entre os povos orien fortalecer o exército lo, com os di-
ve rno pre cis ou co ntratar oficiais para a est átu a, tira ndo uma folha do pre
“Então o go na Ale ma nh a um
Gutenberg, fizeram
“Em homenagem a ianos.”
nada’.” extremamente vegetar
zeres: ‘E a luz foi ilu mi
de pe nd ia do ca fé e de outros produtos
o Brasil só
“No tempo colonial
al de Po rtu ga l é Luiz Boa.”
“A capit ici.”
s Est ados Unidos é o Minin
“O principal rio no ho me m em qu e vivemos.”
estuda o
“A Geografia Humana
Fascículo 4 81

uva.”
muito aguado pela ch ferro cimentadas.”
“O Brasil é um país de 10 0.0 00 Km de estradas de
“Na América do No rte tem ma is on de desce decente.”
l; on de ele na sce é o nascente e
o So
“Oceano é onde nasce pública do Minicana.”
éri ca Ce ntr al há países como a Re
“N a Am s no mundo.”
netas mais conhecido
“A Terra é um dos pla a noite.”
vem para esclarecer os Unidos.”
“As constelações ser éri ca do No rte são Argentina e Estad
da Am
“As principais cidades ando tem flores é pri
-
ssoas tangarelas.” faz calor é verão; qu
“Expansivas são as pe frio é inv ern o; qu an do
é assim: quando faz
“O clima de São Paulo e quando chove é inu
ndação.” ora e está na
an do tem fru tas é ou ton o
tro s 5 eu sa bia mas como esqueci ag a
mave ra; qu
Mercúrio, Venus, Ter
ra, Marte. Os ou aixar a nota por caus
“Os plantetas são 9: eu lem bra r, va i? (e espero que não vai ab
r
va, o sr. não vai espera
hora de entregar a pro
disso).”

Atividade/Fórum | Comente, no fórum te- Veja o exemplo:


mático, quais seriam as causas das redações de “As crianças estão morrendo de fome por causa da
vestibulares servirem, muitas vezes, de fonte riqueza do país.”
para demonstração de exemplos de falta de “Adoro sanduíche porque engorda.”
coesão, coerência e de conhecimento, uma
vez que os vestibulandos devem ser jovens que As frases acima são contraditórias, não apresentam
concluíram o ensino fundamental e médio e, informações claras, portanto são incoerentes.
portanto, supõe-se que tenham condições de
escrever razoavelmente bem. A construção textual deve ser a construção de um
todo compreensível aos olhos do leitor. A coerên-
cia textual é o instrumento que o autor vai usar
para conseguir encaixar as “peças” do texto e dar
2. Coerência um sentido completo a ele.
Neste tópico, demonstraremos a importância da Cada palavra tem seu sentido individual; quando
coerência, que, ao lado da coesão, são elementos elas se relacionam, elas montam um outro sentido.
fundamentais para a estruturação significativa e O mesmo raciocínio vale para as frases, os parágra-
semântica do texto. fos e até os textos. Cada um desses elementos tem
um sentido individual e um tipo de relacionamen-
Um texto pode ser incoerente em ou para determi- to com os demais. Caso estas relações sejam feitas
nada situação, se seu autor não consegue inferir da maneira correta, obteremos uma mensagem,
um sentido ou uma ideia por meio da articulação um conteúdo semântico compreensível.
de suas frases e parágrafos e por meio de recursos
linguísticos (pontuação, vocabulário, etc.). O texto é escrito com uma intencionalidade, de
modo que ele tem uma repercussão sobre o leitor,
A coerência textual é a relação lógica entre as muitas vezes proposital.
ideias, pois essas devem se complementar; é o
resultado da não-contradição entre as partes
do texto.

A coerência de um texto inclui fatores, como


o conhecimento que o produtor e o receptor
têm do assunto abordado no texto, conheci-
mento de mundo, o conhecimento que esses
têm da língua que usam e a intertextualidade
entre o texto e os textos anteriores que tratam
do mesmo assunto.

Pode-se concluir que texto coerente é aquele


no qual é possível estabelecer sentido, é enten-
dido como um princípio de interpretabilidade.
Figura 46. A falta de coerência compromete o texto
82 Fascículo 4

Em uma redação, para que a coerência ocorra, as


ideias devem se completar. Uma deve ser a conti- Texto Complementar
o
nuação da outra. Caso não ocorra uma concate- /wiki/Coerência_e_Coesã
http://pt.wikipedia.org cia .
nação de ideias entre as frases, elas acabarão por sobre coesão e coe rên
- verbete da Wikipédia
se contradizer ou por quebrar uma linha de racio-
cínio. Quando isso acontece, dizemos que houve
uma quebra de coerência textual.
SAIBA MAIS!
A coerência é um resultado da não contradição en-
tre as partes do texto e do texto com relação ao mun-
do. Ela é também auxiliada pela coesão textual, isto
é, a compreensão de um texto é melhor capturada
com o auxílio de conectivos, preposições, etc.

Vejamos alguns exemplos de falta de coerência textual.

“No verão passado, quando estivemos na capital do Cea-


rá Fortaleza, não pudemos aproveitar a praia, pois o frio
era tanto que chegou a nevar”

“Estão derrubando muitas árvores e por isso a floresta


consegue sobreviver.”

“Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá


cantar” que
as duas figuras; o
Observe atentamente é jus tam en te um a
cômi co
“Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo” elas apresentam de de exp li-
erência. Você po
questão de falta de co a
fal ta de coerência em cada um
car qual é essa
“Podemos notar claramente que a falta de recursos para
das figuras?
a escola pública é um problema no país. O governo pro-
meteu e cumpriu: trouxe várias melhorias na educação
e fez com que os alunos que estavam fora da escola vol- Atividade/Fórum | Observe o quadrinho
tassem a frequentá-la. Isso trouxe várias melhoras para abaixo, comente acerca do efeito cômico, cau-
o país.” sado pela falta de entendimento das duas ve-
lhinhas acerca do processo automático da má-
A falta de coerência em um texto é facilmente de- quina de caixa eletrônico; por outro lado, essa
tectada por um falante da língua, mas não é tão falta de entendimento também foi causada por
simples notá-la quando é você quem escreve. A coe- uma ambiguidade.
rência é a correspondência entre as ideias do texto
de forma lógica.

Quando o entendimento de determinado texto é


comprometido, imediatamente alguém pode afir-
mar que ele está incoerente. Na maioria das vezes,
esta pessoa está certa ao fazer esta afirmação, mas
não podemos achar que as dificuldades de organi-
zação das ideias se resumem à coerência ou à co-
esão. É certo que elas facilitam bastante esse pro-
cesso, mas não são suficientes para resolver todos
os problemas. O que nos resta é nos atualizarmos
constantemente para podermos ter um maior do-
mínio do processo de produção textual.
Figura 47. Existe aqui falta de coerência?
Fascículo 4 83

3. Referenciação dendo da posição tanto da luz quanto do objeto


iluminado, assim como a língua depende de vários
Neste tópico, abordaremos a referenciação textual, fatores sócio-histórico-culturais.
demonstrando sua importância para a boa estrutu-
ração do texto. Você sabe o que é referenciação? Conhecer todos os elementos formais da língua
não garante o sucesso do processo de referencia-
A referência não pode ser vista apenas como um ção. Um mesmo enunciado produzido com os
produto da língua; na verdade, ela faz parte do mesmos elementos formais pode ter inúmeras e
complexo processo de interação entre sujeitos en- diferenciadas interpretações, tomando por base,
volvidos nas atividades enunciativas. Tal processo apenas, o contexto enunciativo de cada um deles.
interacional é sempre seguramente controlado pe-
los participantes, que conduzem a construção de Para que esses diferentes enunciados possam ser
uma referência em comum entre eles, para isso corretamente interpretados em seus contextos
sendo fundamental fatores, como a cognição e a enunciativos, muitos outros conhecimentos de-
contextualização, entre outros. vem ser compartilhados pelos interlocutores, e
todos os envolvidos devem pressupor ou fornecer
Tal referência se apresenta como um “objeto de tais conhecimentos.
discurso” e não precisa ser necessariamente corres-
pondente a um “objeto do mundo” já existente. A “interpretação correta” como equivalente de
Não é função da referência ser um “espelho do “interpretação pretendida pelo enunciador” só
mundo”, uma imagem perfeita de algo já existente, poderá ser garantida, se ambos os interlocutores
pois está mais relacionada à intenção dos falantes compartilharem previamente uma gama de conhe-
que a constroem do que aos elementos da língua cimentos ou se estes forem construídos colaborati-
utilizados para isso. vamente durante o processo de interação.

Ver a referência unicamente como um item lexical, A referência nunca pode ser tratada como algo ex-
ou seja, como uma “convenção linguística” estáti- terno ou desconectado à interação e ao contexto
ca, invariável é descartar todos os fatores que, na situacional, pois são esses fatores, entre outros, que
realidade, a tornam possível para a criação de uma delimitam e determinam a construção de seus refe-
significação comum entre os sujeitos envolvidos na rentes e sentidos.
situação de comunicação, como, por exemplo, o
contexto e a interação. Para que a interação pela língua aconteça, os in-
terlocutores precisam ter muito mais do que ape-
Esta visão de língua(gem) desconsidera toda e qual- nas os elementos formais da língua em comum.
quer influência que o contexto possa exercer no É preciso ter a interação no âmbito da cultura,
ato da comunicação, limitando a língua a um ins- determinadas crenças, valores e, principalmente, o
trumento formal, autônomo e independente, ten- contexto situacional e alguns conhecimentos pré-
do por base, apenas, os conhecimentos estruturais vios. Todos são essenciais para a construção mútua
e gerativistas da língua estudada. dos referentes e sentidos.

O uso da língua é ação conjunta e coordenada, na Além de terem es-


qual os sujeitos envolvidos se dispõem a colaborar ses fatores em co-
mutuamente, para a construção do sentido deseja- mum, é necessário
do. Os enunciados produzidos sempre estarão defi- também que todos
nidos e determinados pelos contextos de produção os participantes
em que estão inseridos. pressuponham a
posse de tais co-
Em “língua como espelho”, trata-se de entendê-la nhecimentos pelos
como representação exata do mundo, um reflexo Figura 48. A referenciação permite
outros interlocuto-
tal e qual e, portanto, ligado à visão de “produto” a recorrência para a memória. res, para que não
pronto e imutável já mencionado acima, enquan- haja explicações
to em “língua como lâmpada”, tem-se a ação da desnecessárias na tentativa de construir um refe-
luz sobre o mundo, não estática e variante, depen- rente que já existe para ambos.
84 Fascículo 4

A língua é necessária para a interação/comunica- Portanto, “referir” é muito mais do que simples-
ção, mas não é suficientemente autônoma para mente indicar objetos do mundo, tal e qual eles
garantir isso, assim como os outros fatores, se con- são aos nossos olhos. A linguagem não é uma imi-
siderados isoladamente, também não o são. É o tação da realidade nem tem a intenção de ser.
conjunto desses vários fatores que importa, pois
apenas conhecimento da língua, contexto e conhe-
cimentos prévios não realizam o processo sozinhos. Texto Complementar
/di scu rso _
e.c l/E dit ori al/ lib ros
ww w.f ilo sof ia. uc hil
Não sendo a língua suficiente para garantir o su- cambio/14Franci.pdf aspectos da
cesso da interação/comunicação, assim ela tam- analisa e exemplifica
- arquivo em pdf que
bém não é suficiente para o processo de referen- referenciação textual.
ciação. É preciso, além de conhecer a língua, saber
utilizá-la no processo de interação/comunicação,
associando-a aos conhecimentos social, situacional SAIBA MAIS!
A pri-
ta de duas maneiras.
e de mundo, etc. Anáfora pode ser vis qu e a
tradicional, enquanto
meira é uma visão
is recente.
É esse amálgama de conhecimentos e fatores que outra é uma visão ma
mo
torna possível, por exemplo, a compreensão de a retomada de um ter
Pela visão tradicional, nd o, as-
metáforas, metonímias, analogias, associações e no discurso, mante
já está introduzida co m o me sm o
referencial
outras figuras que não se esgotam na língua. sim, uma identidade fra se: “U m ve ad o
lo, na
referente. Por exemp pa lav ras
cerrada moita”, as
escondeu- se numa o veado
Não há como garantir com total certeza que uma om ar “um veado” são:
que poderiam ret
mensagem seja perfeitamente compreendida (de ou ele.
acordo com a intenção do enunciador), pois são reto-
te, o referente pode
muitas as variantes do que estamos chamando de Pela visão mais recen av ali ar um a pa-
gorizar ou
“conhecimento compartilhado” que tanto afetam mar, ampliar, recate
lavra.
e determinam o “jogo da linguagem”.
fenô-
estudada como um
A anáfora vem sendo ial e nã o co mo um
inferenc
A única maneira de evitar o “paradoxo do conhe- meno de natureza ial (M ar-
clonagem referenc
cimento comum”, ou seja, o problema de saber se simples processo de nã o é um sim -
Ou seja, ela
o seu interlocutor tem todos os referentes necessá- cuschi, 2000 a, p.3). cia lid ad e.
rreferen
ples fenômeno de co
rios para compreender o sentido do seu enuncia-
do, é conduzir esse processo por diversos caminhos Por exemplo: deu um
o no jardim e acen
que levem o participante a obter ou relacionar os Ele jogou seu cigarr
conhecimentos prévios necessários. outro.
nte di-
tro” constrói um refere
A expressão “um ou mi na l an ter ior. Há
Os conhecimentos comuns ou compartilhados por grupo no
ferente daquele do ica l.
s uma relação lex
si sós também não dão conta do processo de refe- somente entre ambo
renciação; eles são fatores que participam da cons- expressão que, no tex
to, se
Assim, anáfora é a co nteú-
trução de sentidos dos novos referentes, dentro de ressões, enunciados,
reporta a outras exp nte ma nten-
um quadro muito mais amplo de variantes. o necessariame
dos ou contextos, nã qu e nã o só co ntri-
erencial,
do a identidade ref ial mas
de tópica e referenc
Todos os fatores envolvidos no processo de inte- bui para a continuida do s ob jet os
recategorização
ração/comunicação só funcionam dentro do con- também promove a vis ta do loc uto r e
pontos de
dos discursos, indica dis cu rso .
junto, e nenhum deles pode ser estudado isolada- me nte o
orienta argumentativa
mente como sendo o único ou principal.
Pronominalização
O que importa não é a quantidade de conheci- repeti-
mes evita que haja
mentos que os sujeitos envolvidos no processo de O emprego de prono ntr ibu em para a
também co
interação compartilham, mas sim, a maneira como ções num texto. Eles
texto.
estruturação de um
fazem isso, selecionando e combinando tais co-
citado
oma um referente já
nhecimentos dentro de estratégias definidas para A correferenciação ret
atingir o objetivo de construir o sentido esperado. no texto.
Fascículo 4 85

(merônimo).
no vo rte do currículo.
çã o im pla nta um Ex: A disciplina é pa
A nã o co rre fer en cia
re fer en te. nomi-
s nominais (anáfora Anáfora Resumidora
As formas referenciai , ori en-
zam, recategorizam
nal/lexical) categori lizado condensa um
a ex-
tam a argumentação
. Quando o termo uti gru po no-
não retoma um
curso. tensão do discurso, ior pa rtic ula r, ma s
em do gênero do dis minal ou um segme
nto anter
As escolhas depend olh as lexi- o conteúdo de uma
fra se, de
fazem-se as esc condensa e resume
De acordo com este, co mp ort am en to tod o um fra gm en to de texto
os tipos de um parágrafo ou de
cais, e são apontados gata foi atropelada
por um
linguístico. anterior. Ex: Nossa he tra ço s.
deixou-l
Det+ nome (modific
adores) carro. Esse acidente
orre a
uma notícia, não oc A anáfora: para trás
do texto.
Quando o texto for rca sub- do texto.
ivo possui uma ma Catáfora: pa ra fre nte
adjetivação. O adjet texto.
jetiva. de e o Exófora: para fora do
discursiva: o que po
Forcaut – formação a mais. Ela aponta pa
ra de-
que deve ser dito. A endófora não se us
es.
terminadas realidad ra e da
mi na r pro ces so s é um caráter da anáfo
No
A Catáfora catáfora. lmente
ocor- de palavras funciona
uíssimo estudado. Ela Inexiste uma classe
É um fenômeno pouq unda rica.
lícito ap are ce em seg definida como anafó
re quando o sujeito exp ord em no rm alm ente
ndo à
posição, não obedece tem a e de-
meiro aparece o
utilizada, em que pri Atividade/Fórum | A Anáfora é também
s.
pois os seus referente .
do a vi, Má rci a estava com pressa uma figura utilizada com relativa constância
Ex: Quan
na poesia. Encontre exemplos de utilização de
Anáfora por Sinonímia anáfora na poesia e comente na página do fó-
o qual rum temático da disciplina.
vo termo/expressão
Implica utilizar um no ser rec up erado
dado, por
é considerado como /ex pre ssã o. O que
termo
como sinônimo de um ed ade
sinônimo é a propri 4. Nominalização
dará a condição de uti liza do s,
entre os pares
de simetria existente de pro pri ed ad es
ocidade
devendo haver recipr vão Neste tópico, falaremos da Nominalização, proces-
tica s. Há gra us de sinonímias que
semân um a qu as e-
uestionável)até so através do qual podemos usar um substantivo,
desde a absoluta(inq
ável). fazendo referência a um verbo anteriormente ex-
sinonímia (inquestion
Por exemp lo: presso no texto. Vamos ver como isso funciona?
Enxuguei a louça. A nominalização é um recurso coesivo dos mais
Sequei a louça. usados entre as estratégias de remissão e progres-
Hiponímia são textual. Seja o exemplo:
Anáfora por
ação de
exercem entre si rel • Dois menores invadiram ontem à tarde uma
Os pares utilizados ou maior
um termo é menor
hierarquia, quando nu ma classe casa em Cariacica, onde se realizava uma festa
ando se inclui
do que o outro, qu rdi na do he rda ca- de aniversário e roubaram vários pertences das
mo subo
maior, e apenas o ter NO S é
rordenado. x: UNISI pessoas presentes. A invasão provocou tanto
racterísticas do supe na do - hip ô-
Termos subordi tumulto que ninguém teve a iniciativa de cha-
uma Universidade.
nimo - UNISI NO S. rsi- mar a polícia para investigar o roubo.
- hiperônimo - Unive
Termo superordenado
dade. nte à Veja-se que a invasão retoma a proposição centrada
ão lexical corresponde
A hiponímia é a relaç .
em ou tra no verbo invadir, e o roubo retoma a proposição
inclusão de uma classe
centrada no verbo roubar. Nesse contexto, cada
Anáfora por Meronímia uma das formas nominais anafóricas, retomando
seada uma informação já explicitada, constitui um novo
anáfora nominal ba
Caso particular de im o) e parte tópico, sobre o qual se assenta a progressão textu-
tre todo (holôn
em uma relação en al. Este uso é corrente nos discursos jornalísticos,
tanto nas notícias quanto nos editoriais e artigos
86 Fascículo 4

de opinião. Entretanto, mais do que um instru- nita dos discursos. Admitindo essa dialogia, vários
mento de progressão referencial, a nominalização estudiosos têm associado esse já-dito à noção de
é uma estratégia de referenciação e de textualiza- pressuposição, de interdiscurso, ou de memória
ção ancorada na memória discursiva, esta pressu- discursiva. Segundo Ducrot, para tratar adequa-
postamente partilhada pelos interlocutores. Como damente a argumentação, é preciso admitir que
estratégia de textualização, retoma e trabalha ou- o sujeito da enunciação fala sempre a partir de
tros discursos, criando, com isso, a imagem de um um “lugar comum” argumentativo (de um topos),
continuum discursivo. onde um sistema comum de crenças é partilhado.
É a partir desse “lugar comum” que se constroem
E não foi difícil encontrar, tanto nos editoriais os discursos. Passar um conteúdo sob a forma de
quanto nos artigos de opinião examinados, “en- pressuposição é, portanto, uma estratégia eficaz na
cabeçamentos” definidos, que apontam para um formação de opinião.
discurso anterior, pressuposto:
Para fazer um contraponto, vamos tomar o primei-
• Repercute intensamente a visita que o presi- ro enunciado do editorial de A Gazeta, de 21 de
dente Luiz Inácio Lula da Silva fez na quin- outubro de 2004: O Brasil fracassa em combater a
ta-feira ao Espírito Santo. (26-02-2005) corrupção. Esse modo de veicular o conteúdo dá à
forma verbal fracassa o estatuto de informação da
• O aumento da carga tributária brasileira, opinião defendida pelo jornal no evento da produ-
que o Governo tantas vezes negou, agora é ção do editorial. Diferente seria, se a formulação
reconhecido oficialmente. (14-03-2005) tivesse sido: É evidente o fracasso do Brasil em
combater a corrupção. Nessa recontextualização,
• O falecimento de João Paulo II significa a forma nominal o fracasso do Brasil já pressupõe
para a humanidade a perda de um de seus que o Brasil fracassa, tomando essa imagem de fra-
maiores líderes, em todos os tempos. (03-04- casso como já conhecida, veiculada publicamente.
2005) O modalizador é evidente, marca o engajamento
do jornal na existência dessa imagem, o seu grau
• A escolha do novo papa é uma resposta a de crença nesse discurso de fracasso, de conheci-
problemas enfrentados pela Igreja Católica mento público, que vem de outro lugar.
na Europa, disse ontem o Arcebispo de Vitó-
ria, dom Luis Mancilha Vilela. (20-04-2005) Na perspectiva textual-discursiva, que assumimos
aqui, nominalizar um predicado é, numa retoma-
Do ponto de vista semântico, a nominalização vei- da anafórica, pressupô-lo como conhecido do in-
cula um conteúdo pressuposto, subjacente (e “exte- terlocutor e, a partir desse pressuposto, acrescentar
rior”) ao que é dito no evento enunciativo. Assim, uma informação nova. É o que explica a diferença
a morte do papa pressupõe que o papa morreu; de estruturação entre A e B, a seguir:
a queda do dólar pressupõe que o dólar caiu ou
está caindo; a denúncia de corrupção pressupõe A. O coordenador da campanha distribuiu mesadas
que alguém denunciou a existência de corrupção; aos parlamentares da base aliada, e isso foi altamen-
a reação do presidente pressupõe que o presidente te criticado pelos membros da CPMI.
reagiu de algum modo. Pressupor, no sentido aqui
defendido, é apontar para um discurso anterior, B. A distribuição de mesadas pelo coordenador
que se inscreve no evento enunciativo como um da campanha aos parlamentares da base aliada
preconstruído (Henry, 1992). A ilusão de objetivi- foi altamente criticada pelos membros da CPMI.
dade referencial, advinda dessa estratégia, decorre
exatamente do fato de que os referentes (resultan- Em A, temos duas unidades de comunicação, pos-
tes do processo de nominalização) foram construí- tas em sequência. Primeiramente, o ato de distri-
dos fora, em um discurso anterior, de responsabi- buir mesadas é informado ao locutor; a seguir, é
lidade pública. acrescentada uma informação nova (um comentá-
rio) sobre esse primeiro ato. Em B, temos apenas
Ora, dentro da concepção Bakthiniana de dialo- uma unidade de comunicação. Nesse caso, a distri-
gismo, todo enunciado é uma resposta a um já- buição de mesadas ... é um conteúdo pressupos-
dito, com o qual entra em relação na cadeia infi- to que já faz parte da memória textual do leitor; a
Fascículo 4 87

informação nova é o comentário de que tal ação Textos Complementares


foi altamente criticada pelos membros da CPMI. .br/soletras/12/07.htm
http://www.filologia.org Hilda de Oliveira
Essa mesma análise proposta para B pode ser apli- da Nominalização, de
- Bom artigo acerca
cada a C, logo abaixo: Olímpio (UFES)
_g/textos/002.htm
.br/desletras/hist/2006
C. A queda no índice de aprovação ao de- http://www.faccar.com , de Paula Tatia-
alização na Publicidade
sempenho do presidente da República reflete - artigo acerca da Nomin BARALDO (UEL/
/CNPq), Cecília Contani
equívocos do Governo na condução insatisfató- na da SILVA (UEL/PIBIC )
OLIVEIRA (Orientadora
ria de problemas. (20-04-2005, p. 3). IC) e Esther Gomes de

O conteúdo presente
IBA MAIS!
na construção no- SA
minal destacada é, Sumarização de Docum
entos

aqui também, toma- s é tarefa que trata da


rização de documento
do como conhecido, Suma ão da massa textual, a fim de se obterem
reduç quando
como pressuposto; ganhos significativos em desempenho, nh ecida
bé m co
a informação nova é da busca por informação útil. Tam a tar efa
umos, est
encadeada a esse pres- por criação automática de res ade de se elimi-
a necessid
suposto, esse “já–dito impõe como desafio quanto possível, entretanto,
do s tan to
em outro lugar”. Nes- narem dao os significados-chave do texto.
mantend
se caso, o enuncia-
classifi-
cumentos pode ser
Figura 49. Nominalização do, encabeçado pela A Sumarização de do pro ces so de criação,
eza do
construção nominal cada quanto à natur
nfo rm e de scr ito ab aixo:
definida, é, todo ele, caracterizado como comen- co
tário, tendo, na sua estruturação, a combinação de ação au-
r Abstração - é a cri
• Sumarização po de for ma simi-
conteúdos de status informacional diferente: um tomática de resumos
realiza da
ho me m. Da do um texto,
conteúdo comentado (de conhecimento público) lar àquela feita pelo dim ento
partir do enten
e o comentário feito, de teor avaliativo (informa- o resumo é criado a a inc lus ão de
ente com
ção nova), numa dialogia entre o já-dito e um dizer, do leitor, possivelm no va s pa lav ras ,
sej a,
no va informação, ou lex ida de ,
ou melhor, numa relação entre o interdiscurso e Devido à comp
sentenças e estilos. pre ter ida em
o intradiscurso, dentro de um processo discursivo stração foi
a sumarização por ab
virtualmente infinito. Tal conclusão pode ser de- ou tro s mé tod os.
favor de
preendida, sem dificuldade, dos enunciados que a con-
r Extração - esta técnic
acabamos de comentar. Detalhando melhor essa • Sumarização po me io da
de resumos por
direção de análise, vamos tomar ainda um enun- centra-se na criação os pri nc ipais
s e parágraf
seleção de sentença am en te do texto
ciado que, nos últimos tempos, tem rondado a dos int eir
e importantes, copia a de im po rtâ ncia
me did
memória discursiva da maioria dos brasileiros: “A original. Baseia- se na da ide nti-
texto por meio
existência de corrupção no congresso prejudica a das palavras de um Em mé dia , ap e-
medida.
imagem do país”. ficação por alguma eit ad os pa ra a
texto sã o ap rov
nas 20% de um que
m esta técnica. Para
criação do resumo co ne ces sá rio , ou-
• Informação de conhecimento público: existe o efeito
o resumo possa ter icio na da s, co mo
m ser ad
corrupção no congresso. tras heurísticas pode um do -
tença dentro de
a identificação da sen he cim en to de
o, recon
cumento ou parágraf i-
• Informação nova: prejudica a imagem do país. co nc lus iva s (“portanto”, “definit
palavras o, de
o”) ou, até mesm
vamente”, “resumind
Essa estratégia de nominalizar um evento (colo- nc lus iva s (“Minha dissertação
construções co ão
”). Outra classificaç
cando-o na posição de nome com função remissi- de mestrado é sobre à fin ali dade e
res pe ito
va) faz dele o objeto de um olhar a partir de uma para os resumos diz po-
criados. Os resumos
ao uso dos resumos os:
perspectiva pessoal (ou sócio-ideológica) do enun- de dois tip
dem ser, basicamente,
ciador, que quer engajar o leitor no seu ponto de
la
vista (ou no ponto de vista de um grupo) a respeito - caracterizam-se pe
• Resumos Indicativos nim o de infor
com o mí
de uma verdade pública, já sabida e admitida pelos formação do resumo
interlocutores.
88 Fascículo 4

tor
ra que, ao lê-lo, o lei
mação necessária, pa to origin al O editorial jornalístico é (por sua natureza efême-
ou não o tex
decida por também ler
ra e circunstancial) um gênero discursivo, que se
por completo. s
tes de jornal, resenha presta muito bem ao uso da estratégia de nominali-
Exemplos são manche
de filmes.
de livros e sinopses zação e, particularmente, desses “encabeçamentos”
, anafóricos. Ora, por sua própria função, o edito-
s - em contrapartida
• Resumos Informativo nã o tem a in- rial comenta fatos já veiculados e, em geral, muito
o, o leitor
neste tipo de resum leto,
de ler o do cu mento original comp recentes, de modo que o redator (representante do
tenção ne ces-
toda informação jornal) os pressupõe conhecidos do leitor. Aliás,
limitando- se a obter o.
prio resum
sária a partir do pró parece ser aceitável a hipótese de que é a memória
utiliza discursiva do leitor que encaminha o editorialista
ão, normalmente, se
A tarefa de Sumarizaç seu ob jetivo: na escolha de sua estratégia. Se este entende que
s para cumprir
de outras duas tarefa pro ble ma de de- vai passar ao leitor uma informação nova, ainda
rização. O
classificação e cluste o ser á
sentença ou parágraf não situada na sua memória discursiva, natural-
cidir se determinada rpr eta do a
pode ser reinte
incluído no resumo ça s. Ou tra ab or- mente não a veiculará sob a forma de informação
de senten
partir da classificação ças dada. Primeiro, ela será introduzida como infor-
a ide nti fic aç ão de grupos de senten
dagem é à clu ste - mação nova e só depois poderá ser comentada.
da em conjunto
e parágrafos, realiza sin ôn im os de
em agrupar É o que podemos constatar nos exemplos que se
rização, que consiste mpos
tex to co m vistas a definir os ca seguem, em que as formas destacadas introduzem
palavras do
s.
semânticos utilizado um referente novo:
sistema
lientar que em um
Finalmente, cabe sa umos de
tos, a criação de res Um choque ocorrido, na Av. Beira Mar, on-
de Mineração de Tex a aju star o
ada, de forma tem de tarde, tumultuou o trânsito por mais
textos é sempre desej lha da . Ist o ace-
textual traba
tamanho da massa de duas horas.
mo a Indexação.
lera várias etapas, co
Uma manifestação de estudantes, na entrada
da UFES, ontem de manhã, provocou uma rea-
Atividade/Fórum | Discuta, na sala do fó- ção violenta da polícia.
rum temático da disciplina, se o uso da nomi-
nalização é importante e em qual contexto ele Uma decisão pessoal do presidente da República,
se faz mais útil. tomada na reunião da coordenação política do Go-
verno, impediu que a educação fosse castigada pelo
rigor da política fiscal. (04-05-2005)
5. Nominalização – Parte II
Se, ao contrário, o redator supõe que os fatos a
Neste tópico, aprofundaremos nosso estudo acerca da serem comentados estão na memória do leitor, es-
Nominalização como recurso de estruturação textual. tes são tomados como pressupostos e comentados
diretamente. Daí, o uso de construções nominais
Para situar nossas colocações, vamos lembrar que definidas (veiculando informações pressupostas)
o propósito do editorial não é o de informar fatos, ser, como já salientamos, uma estratégia bastante
eventos ou propriedades (à maneira de uma narrati- frequente no “encabeçamento” de editoriais.
va); é, antes, refletir, fazendo julgamentos de valor,
sobre esses fatos, eventos e propriedades (na maioria Se aplicarmos aos referidos enunciados (em foco
das vezes, já veiculados no próprio jornal), expres- na seção anterior) os testes de interrogação, negação
sando um ponto de vista, favorável ou desfavorável. e encadeamento, propostos por Ducrot (1984), o
pressuposto permanece; só a informação nova será
Daí o conteúdo comentado recuar para a posição atingida nessa recontextualização.
de nome, deixando livre a posição de predicado
para ser preenchida por um verbo de opinião ou Retomemos, para isso, um dos exemplos já focali-
de argumentação do tipo: provar, confirmar, sig- zados:
nificar, implicar, convir, surpreender, interessar,
merecer, ser útil, ser justo, ser fácil, ser difícil, ser A escolha do novo papa é uma resposta a pro-
possível, ser provável, ser lamentável, ser válido, blemas enfrentados pela Igreja Católica na Eu-
ser estranho .... ropa, disse ontem o Arcebispo de Vitória, dom
Fascículo 4 89

Luis Mancilha Vilela. (20-04-2005) com vestígios de uma enunciação anterior, em ter-
mos de linguagem, e não de mundo. É isso que se
Aplicando aí o teste da interrogação: “A escolha evidencia no enunciado seguinte, em que a cons-
do novo papa é uma resposta a problemas enfren- trução nominal (a reunião de governadores,...),
tados pela Igreja Católica na Europa?...” embora se refira a uma ação a ser realizada no futu-
ro, já foi veiculada na mídia.
Aplicando agora o teste da negação: “A escolha do
novo papa não é uma resposta a problemas enfren- A reunião de governadores, marcada para ter-
tados pela Igreja Católica na Europa, ...” ça-feira próxima, na residência oficial da Praia
da Costa, será importante para o Espírito Santo
Nos dois contextos (interrogativo e negativo), a es- (04-10-96).
colha do novo papa é um conteúdo que se man-
tém verdadeiro, pressuposto. Quanto ao teste de O predicado nominalizado, tomado como de co-
encadeamento, o próprio texto (de onde o referido nhecimento geral, não precisa ser justificado. Não
enunciado foi destacado) mostra que o sequencia- é sobre ele que se dá o encadeamento sequencial
mento do conteúdo na progressão textual ocorre do texto, a sua continuidade argumentativa. Ali-
sobre a informação nova. O pressuposto é apenas ás, ele não está em discussão, sendo, na verdade,
um quadro de referência, que faz parte de um acor- o ponto de partida sobre o qual recai o comen-
do enunciativo. tário. Segundo Ducrot, pressupor um conteúdo é
apresentá-lo como devendo ser mantido em todo
o discurso subsequente, que deve ser encadeado
sobre o posto e não, sobre o pressuposto. Se o
posto é a informação nova; se o subentendido é o
que o interlocutor pode concluir; o pressuposto é
um conteúdo partilhado, tomado como já sabido,
que cria uma espécie de cumplicidade entre os in-
terlocutores. É nesse sentido que a nominalização
é uma estratégia argumentativa, um jogo sobre a
imagem do referente, tomada como uma infor-
mação partilhada, aceita como evidente, uma vez
que pertence a um “já-dito”, não sendo de respon-
sabilidade exclusiva do interlocutor. Aliás, pode
ocorrer de o editorialista, por meio de aspas (ou de
outro expediente), explicitar seu afastamento dessa
enunciação anterior.
Figura 50. O redator

6. Expressões Nominais Referenciais


A escolha do novo papa é uma resposta à Euro-
pa, disse ontem o Arcebispo de Vitória, dom Luis
Neste tópico, buscaremos exemplos e contextuali-
Mancilha Vilela. Ele afirma que o cardeal alemão
zações acerca do uso da referenciação e da nomi-
Joseph Ratzinger, eleito ontem papa Bento XVI,
nalização.
terá que dar respostas firmes a críticas à Igreja, de-
correntes do crescente contato de europeus com
outras crenças... (20-04-05) Formas Referenciais Nominais
(Revendo Alguns Conceitos)
Vale salientar que os conteúdos pressupostos não
se referem obrigatoriamente a fatos ou eventos efe- Anáfora - é a repetição de uma palavra a espaços
tivamente realizados, mas, a fatos ou eventos textu- regulares durante o texto, ou seja, é o termo que re-
alizados, informados, enunciados (no sentido de toma um termo ou expressão anterior, mantendo a
inscritos na história). Mas não é de tempo crono- identidade referencial.
lógico que se trata. Trata-se de um tempo interno
à própria enunciação, de uma enunciação presente Nos dias de hoje, já se sabe que a anáfora pode
90 Fascículo 4

acrescentar um sentido (que pode resumir um pro-


cesso). As anáforas podem acontecer por:

• Sinonímia - é a relação que se estabelece entre


duas palavras ou mais que apresentam signifi-
cados iguais ou semelhantes, são os sinônimos.
Embora na língua geral, o fenômeno da sino-
nímia total não ocorra, na área técnica, ele é
mais frequente do que se imagina. A identifica-
ção dos sinônimos acontece durante a análise
e sistematização dos conceitos. É mais correto
identificá-los como termos equivalentes. Exem-
plo: Antídoto e Contraveneno. Antídoto use
Contraveneno. Contraveneno Use Antídoto. Figura 51. Quadro de Norman Rockwell

O que não podemos deixar de lembrar é que, mui-


tas vezes, um termo vai ser sinônimo de outro so- A anáfora associativa pode funcionar, porque se
mente dentro de um determinado contexto, fora pressupõe que o leitor tenha, em sua memória,
dele não o será. a representação da imagem de ‘casa’ que possui
como componentes (teto, paredes, janelas, ve-
• Hiponímia - relação semântica de inclusão no nezianas) bem como uma representação do que
sentido parte/todo. Assim, o significado de é ‘comprar uma casa’ o que justifica expressões
“laranja” está em relação de inclusão com o de como ‘o antigo proprietário’. Tais representações
“cítrico”, que, por sua vez, está em relação de misturam estreitamente as competências lexical
inclusão com o de “fruta”. Por isso, o signifi- e enciclopédica, isto é, a associação entre esses
cado de “laranja” é hipônimo do de “cítrico”, grupos nominais repousa sobre os conhecimen-
que é hipônimo do de “fruta”. “Boca” é hipô- tos semânticos armazenados no léxico ou sobre
nimo de “cabeça”, que é hipônimo de “cor- conhecimentos de mundo compartilhados pela
po”. “Rosa” é hipônimo de “vermelho”, que comunidade linguística.
é hipônimo de “cor”. Em resumo, hiponímia
é a relação de inclusão de uma unidade signi- Rotulação ou anáfora resumidora: são retomadas
ficativa em outra. Em termos lógicos, pode-se referenciais dadas pelo encapsulamento de uma
dizer que essa relação é “assimétrica”, pois ela extensão do discurso. Esse tipo de anáfora não re-
só funciona num sentido, o da parte em di- toma um grupo nominal ou um segmento anterior
reção ao todo. É por isso que é verdadeira a particular, mas condensa e resume o conteúdo de
afirmativa de que “toda laranja é fruta”, mas uma frase, de um parágrafo ou de todo um frag-
não a de que “toda fruta é laranja”. mento do texto anterior.

O oposto de hiponímia é a hiperonímia, que tam- A anáfora resumidora empacota uma extensão do
bém é uma relação de inclusão de significados, discurso, e, embora não seja uma repetição ou um
mas no sentido todo/parte. Assim, o significado sinônimo de nenhum precedente, apresenta-se
de “fruta” é hiperônimo do de “cítrico”, que é hi- como um equivalente.
perônimo do de “laranja”.
Ela toma frequentemente a forma de nominaliza-
• Meronímia ou metonímia (anáfora associati- ção. O grupo nominal anafórico pode conter um
va) - é a substituição de um nome por outro nome formado a partir de um verbo ou de um ad-
em virtude de haver entre eles algum relaciona- jetivo, que não figuram necessariamente no con-
mento. Ela é a relação contrária e nem sempre texto anterior. Esse tipo de anáfora tem uma clara
é transitiva. Transitividade neste caso é a pro- função de mudar ou de promover alteração dentro
priedade que uma relação tem de, quando há de um tópico, colocando uma informação nova
três termos relacionados (A, B e C), o elemento dentro de um esquema dado.
C está contido em A como parte essencial.
Fascículo 4 91

Este é o método pelo qual o locutor impõe indi- 7. Sequenciação Textual


retamente algumas avaliações particulares, fazendo
com que o leitor chegue à conclusão por ele visada. Neste tópico, discutiremos a questão da sequencia-
ção textual para a estrutura do texto.

Chamam-se sequenciação textual os diversos tipos


Texto Complementar
.php/fale/ de atividades realizadas pelo produtor para fazer o
as.pucrs.br/ojs/index
http://revistaseletronic texto progredir, mantendo o fio discursivo. Uma
894
article/viewFile/2420/1 encapsu- das atividades mais recorrentes é o uso do parale-
Fur lan etto Graeff acerca do
- artigo de Telisa lismo sintático.
lamento textual.

Denomina-se paralelismo sintático um encadea-


mento de funções sintáticas idênticas ou um enca-
deamento de orações de valores sintáticos iguais.
SAIBA MAIS! Orações que se apresentam com a mesma estrutu-
a palavra que apre-
ra sintática externa, ao ligarem-se umas às outras
Hiperônimo - é um
mais abrangente do em processo no qual não se permite estabelecer
senta um significado
imo (vocabulário de maior relevância de uma sobre a outra, criam um
que o do seu hipôn
sentido mais específic
o). processo de ligação por coordenação. Diz-se que
estão formando um paralelismo sintático.
as palavras doença
É o que acontece com ,
hiperônimo de gripe Paralelismos Frequentes
e gripe – doença é nté m o sig -
icado co
porque em seu signif
do de gri pe e o significado de mais
nifica
, como dengue, ma- • e, nem
uma série de palavras
conclui que gripe é Ele conseguiu transformar-se no Ministro das Re-
lária, câncer. Então se
. A relação existente
hipônimo de doença lações Exteriores e no homem forte do governo.
hipônimo é funda-
entre hiperônimo e Não adianta invadir a Bolívia nem romper o
o textual.
mental para a coesã contrato do gás.
iados chegam dia-
Ex: Grupos de refug
ca stigado pela seca.
riamente do sertão
, maltrapilhas, des-
São pessoas famintas
truídas.
essoas” é um hipe-
Note que a palavra “p
fugiados”, uma vez
rônimo da palavra “re
enta um significado
que “pessoas” apres -
e seu hipônimo “re
mais abrangente qu
fugiados”.

Atividade/Fórum | Analise a imagem dos


cartazes ao lado, comentando, no fórum te-
mático da disciplina, as relações de nomina-
lização, referenciação e encapsulamento que
ocorreram.

Figura 52. Observe os cartazes e veja a proposta do


fórum temático.
92 Fascículo 4

• não só... mas também Paralelismo nas Construções


O projeto não só será aprovado, mas também
posto em prática imediatamente. 1. Ricardo estava aborrecido por ter perdido a
hora do teste e porque seu pai não o esperou.
• mas Correção:
Não estou descontente com seu desempenho, Ricardo estava aborrecido por ter perdido a
mas com sua arrogância. hora do teste e por seu pai não tê-lo esperado.
Ricardo estava aborrecido porque perdeu a
• ou hora do teste e porque seu pai não o esperou.
O governo ou se torna racional ou se destrói
de vez. “ Maria Rita, ou ‘seja amiga dos alunos 2. Manda-me notícias de minha prima Isoldina
ou’ perca o emprego.” e se meu pai resolveu aquele problema que o
atormentava.
• tanto... quanto Correção:
Estávamos questionando tanto seu modo de ver Manda-me notícias de minha prima Isoldina e
os problemas quanto sua forma de solucioná-los. descobre se meu pai resolveu aquele problema
[thiago muniz] que o atormentava.

• isto é, ou seja Paralelismo Semântico


Você deveria estar preocupado com seu futu-
ro, isto é, com sua sobrevivência. 1. Meu pai pratica tênis e faz um ótimo churrasco.
Correção:
A mãe pediu para a menina ir ao supermercado e Meu pai tem duas paixões: praticar tênis e
que, na volta, passasse na farmácia. fazer churrasco.

Se você prestou atenção à frase, percebeu que 2. Ela possui lindos cabelos loiros, um corpo
existe um problema na sua construção. Por quê? fantástico e muita simpatia.
Vamos analisá-la. Correção:
Ela possui lindos cabelos loiros, um corpo
A oração para a menina ir ao supermercado é re- fantástico e é muito simpática.
duzida de infinitivo; a oração que, na volta, passas-
se na farmácia é uma oração desenvolvida.

Tal estrutura apresenta incorreção, pois orações co-


ordenadas entre si devem apresentar a mesma es-
trutura gramatical, ou seja, deve haver paralelismo.

Veja como fica a frase, respeitando-se o paralelismo:

• A mãe pediu para a menina ir ao supermerca-


do e, à volta, passar na farmácia.
Fiigura 53. O Paralelismo é um conceito também
geométrico e arquitetônico.
Segundo as regras da norma culta, não se pode co-
ordenar frases que não comportem constituintes
do mesmo tipo. Textos Complementares
es_koch.
emico.com.br/024/24r
http://www.espacoacad
O paralelismo dá clareza à frase ao apresentar es- htm os do Texto,
truturas idênticas, pois para ideias similares devem svendando os Segred
- resenha do livro De Maria Alves
enha feita por Cle usa
corresponder formas verbais similares. de Ingedore V. Koch, res
de Matos.
do.nom.br/texto.
http://www.cezar.azeve
id=452
php?tipo=miscelania&
s de Azevedo.
- texto de Karin E. Ree
Fascículo 4 93

Atividade/Fórum | Comente em que medi- Entropia da Informação


da o uso de paralelismos pode ajudar na com-
preensão do texto. Sugerimos ler o Sermão da No processo de desenvolvimento de uma teoria da
Sexagésima do Padre Antônio Vieira e atentar comunicação que pudesse ser aplicada por enge-
para o uso de paralelismos que ali se faz. nheiros eletricistas para projetar sistemas de teleco-
municação melhores, Shannon definiu uma medi-
da chamada de entropia, representada por:
8. Teoria da Informação

Neste tópico, apresentaremos sinteticamente a


TI (Teoria da Informação) e como ela permite
compreender melhor os aspectos relativos à or-
onde log é o logaritmo na base 2, que determina
ganização textual.
o grau de caoticidade da distribuição de probabili-
dade pi e pode ser usada para determinar a capa-
Teoria da Informação
cidade do canal necessária para transmitir a infor-
mação.
A Teoria da informação ou Teoria matemática
da comunicação é um ramo da teoria da proba- A medida de entropia de Shannon passou a ser
bilidade e da matemática estatística, que lida com considerada como uma medida da informação
sistemas de comunicação, transmissão de dados, contida numa mensagem, em oposição à parte da
criptografia, codificação, teoria do ruído, correção mensagem que é estritamente determinada (por-
de erros, compressão de dados, etc. Ela não deve tanto previsível) por estruturas inerentes, como,
ser confundida com tecnologia da informação e por exemplo, a redundância da estrutura das lin-
biblioteconomia. guagens ou das propriedades estatísticas de uma
linguagem, relacionadas às frequências de ocor-
Claude E. Shannon (1916-2001) é conhecido rência de diferentes letras (monemas) ou de pares,
como “o pai da teoria da informação”. Sua teoria trios, (fonemas) etc., de palavras.
foi a primeira a considerar comunicação como um
problema matemático rigorosamente embasado na A entropia como definida por Shannon está in-
estatística e deu aos engenheiros da comunicação timamente relacionada à entropia definida por
um modo de determinar a capacidade de um canal físicos. Boltzmann e Gibbs fizeram um trabalho
de comunicação em termos de ocorrência de bits. considerável sobre termodinâmica estatística. Este
A teoria não se preocupa com a semântica dos da- trabalho foi a inspiração para se adotar o termo en-
dos, mas pode envolver aspectos relacionados com tropia em teoria da informação. Há uma profunda
a perda de informação na compressão e na trans- relação entre entropia nos sentidos termodinâmi-
missão de mensagens com ruído no canal. co e informacional. Por exemplo, o demônio de
Maxwell necessita de informações para reverter a
É geralmente aceito que a moderna disciplina da entropia termodinâmica, e a obtenção dessas in-
teoria da informação começou com duas publica- formações equilibra exatamente o ganho termodi-
ções: a do artigo científico de Shannon, intitulado nâmico que o demônio alcançaria de outro modo.
Teoria Matemática da Comunicação (“A Mathe-
matical Theory of Communication”), no Bell Outras medidas de informação úteis incluem in-
System Technical Journal, em julho e outubro de formação mútua, que é uma medida da correlação
1948; e do livro de Shannon em co-autoria com entre dois conjuntos de eventos.
o também engenheiro estadunidense Warren We-
aver (1894-1978), intitulado Teoria Matemática Informação mútua está relacionada de forma mui-
da Comunicação (The Mathematical Theory of to próxima, com testes estatísticos, como o teste de
Communication), contendo reimpressões do arti- razão logarítmica e o teste Chi-square.
go científico anterior de forma acessível também
a não-especialistas - isto popularizou os conceitos. A teoria da informação de Shannon é apropriada
para medir incerteza sobre um espaço desorde-
nado. Uma medida alternativa de informação foi
94 Fascículo 4

criada por Fisher para medir incerteza sobre um espaço ordenado. Por exemplo, a informação de Shannon
é usada sobre um espaço de letras do alfabeto, já que letras não têm ‘distâncias’ entre elas. Para informação
sobre valores de parâmetros contínuos, como as alturas de pessoas, a informação de Fisher é usada, já que
tamanhos estimados têm uma distância bem definida.

Diferenças na informação de Shannon correspondem a um caso especial da distância de Kullback-Leibler


da estatística Bayesiana, uma medida de distância entre distribuições de probabilidade a priori e a poste-
riori.

Andrei Nikolaevich Kolmogorov introduziu uma medida de informação que é baseada no menor algorit-
mo que pode computá-la.

Texto Complementar
ia-d a-informacao
om/comunicacao/teor
http://www.infoescola.c
rca da TI.
- texto explicativo ace

SAIBA MAIS! bie nte de engenharia e


serve para solucionar
da nu m am ior pre-
Teoria da Informação
foi desen vo lvi informação. Sua ma
mu nic aç ão rel ati vos à transmissão de nc ípi o, isto int eressa
tel eco pri
problemas técnicos de ma is eco no mi ca me nte possível. Em sen volvi-
informação o ibuir para o de
ocupação é transmitir mo a Teo ria da Inf ormação pode contr ou tra s áreas
rgunta: co e aconteceu em
à Retórica. Então a pe ssa mo s res po nder, analisando o qu
Talve z po
mento da Retórica?
do co nh eci me nto .
ria da
as conclusões da Teo
e inú me ras ten tat ivas de transplantar sid o co nc eb ida. A
houv quais não havia
Desde que foi criada, me nto , pa ra as de
tras áreas do conh eci pois foi o result o ad
Informação para ou , res ult ou em rej eição pelo paciente, . Su rgi ram
ntes, porém ação utiliza
maioria dos transpla e a Teoria da Inform
ila çã o ma l dig eri da dos conceitos qu ciê nc ia, sim ple smente porque eram
uma assim ca s qu e ga nh aram status de
se cô mi los:
afirmações absurda ação. Alguns exemp
os da Teoria da Inform
citadas como resultad
vo.
termo, mais informati
• Quanto mais raro um redunda nte s. aso, 55% de suas
• As línguas naturaistursãalo tem redundância de 55%, pode-se excluir, ao ac
• Se uma língua na tivas sem perda do conteúdo.
unidades significa ormação nenhuma.
previsível não traz inf ia natural para a de
• Um a me ns ag em
ca os . É o ca mi nh o inverso da tendênc
anização do
• Informação é a org o princípio da entropia
. a.
, qu e é babilidades de escolh
sorga niz aç ão
da pre vis ibi lid ad e, é a redução das pro orm ati vo .
uç ão va lor inf
• Informação é a red a de novidade de uma mensagem, maior seu
• Quanto maior a tax o espe-
nhecimento do sentid
era do s ac im a, sã o oriundos do desco da Inf orm aç ão , que
enum têm na Teoria
Absurdos, como os red un dâ nc ia e ruí do
os informação,
cífico que os conceit do comum desses ter
mos.
ide rav elmente do significa
divergem cons fic os .
esses sentidos especí
Analisemos a seguir

Teoria da Informação
1. Informação Para a
dução para um
an tid ad e de significante após a tra
ria, é vista como a qu consumido em cada
Informação, nessa teo ão qu er qu antificar o significante sua
Teoria da Inf orm aç o são transmitidas na
código otimizado. A aç ão co ns ide ra que as mensagens nã mi za da , na qu al
da Inf orm agem artificial oti
mensagem. A Teoria as pa ra um a lin gu sig no s
disso, são traduzid ro binário. Nessa tra
dução, aos
forma original. Antes so cia do a um nú me s ma is rar os
o original é as de menos dígitos. Ao
s signo
cada signo do códig i um número binário
is co mu ns se atr ibu na tur al pa ra se economizar tempo
originais ma ári os co m ma is dígitos. Isso é . Se forem repre-
ros bin quentes no dis cu rso
atribuem-se os núme sã o ma is fre
os signos mais co mu ns po de transmissão. Já
de transmissão, pois os de me no s díg ito s, gastarão menos tem
binári
sentados por números
Fascículo 4 95

m pouco,
extensos, por ocorrere
res en tad os po r nú meros binários mais
os raros, que são rep o.
nomia da transmissã
não prejudicam a eco de dígitos
modo, é o número
pa ra a Teo ria de Informação, grosso pa ra um a lin guagem
ão mitida, traduzid a
Em síntese, informaç cis a pa ra ser tra ns
mensagem pre
binários de que uma
binária otimi za da .
vos, quer- se di-
e sig no s rar os são mais informati
ação, quando se diz qu por números binários
Na Teoria da Inform ns mi ssã o, ele s são representados o tem
zer que na linguagem
artificial de tra transmitidos. Isto nã
ma is inf orm aç ão , mais bits, para serem aç ão hu ma na . Não
omem os na comunic
mais extensos e cons do s sig no s rar
a ver com a eficiê nc ia o como signif do.
ica
absolutamente nada orm ati vo s, qu an do se entende informaçã
am mais inf
quer dizer que eles sej

Teoria da Informação
2. Redundância Para
a
rac-
ideal, que teria as ca
mp ara os có dig os reais com um código sig no tem um a
A Teoria da Informaç
ão co o real, cada
ra a eco no mi a de transmissão. No códig o ide al, su po sto pe la
terísticas perfeitas pa códig
arecer no discurso. No discurso,
nte dos demais de ap numa estatística do
probabilidade difere no s sã o eq uip rov áv eis , qu er diz er,
a co mp aração
Teoria da Informação
, os sig dância é um
o nú me ro de ve zes . O conceito de redun ios de tra ns mi ssão.
sm à economia de me
todos ocorrem o me no qu e diz res pe ito a po r um
o código ideal ncia avaliad
entre o código real e a má xim a. O có dig o real terá uma eficiê o rea l e o ideal
economi entre o códig
O código ideal é de dig o ide al. A dif erença de eficiência
ao có
percentual em relação o.
qu e ch am am os de redundância do códig
é o ação,
do a Teoria da Inform
có dig o tem red un dância de 55%, segun de ap en as 45 % do
Quando se afirma qu
e um nsmissão é
pe nh o no toc an te à economia de tra
sem
significa que seu de código ideal.
só se alcança com um
máximo teórico, que undân-
que um código com red
qu e uti liza mo s ne ste site, pode-se dizer rea liza çã o eco nômica
Partindo dos conceitos me nto s qu e os necessários à
nte, possui ma is ele % de seus sig s semno
cia de 55% é abunda rm ar, po rém , qu e é possível eliminar 55
pode afi
dos discursos. Não se redundância.
ete r o sen tid o, po is abundância não é
comprom

Teoria da Informação
3. Ruído Para a
informação emitida
e
é a dif ere nç a en tre a quantidade de do su pre ssi vo
ação, ruído mos por ruí
Na Teoria da Inform ção do que entende
ida . Ist o co rre sp on de a uma quantifica
a receb
neste site.

Atividade/Fórum | Discuta em que medida aspectos relativos à coesão, à coerência, aos processos
de sinonímia, de anáfora podem se transformar em elementos facilitadores ou dificultadores da
compreensão de um texto.
96 Fascículo 4

Glossário

Algoritmo - substantivo masculino Figura que consiste em construir uma reflexão sob a
1. Rubrica: aritmética. Diacronismo: obsoleto. forma de diálogo, com perguntas a que o próprio au-
sistema de numeração decimal assimilado dos árabes tor responde, ou em reproduzir em diálogo as ideias e
2. (c1894)Rubrica: matemática. os sentimentos dos personagens
sequência finita de regras, raciocínios ou operações
que, aplicada a um número finito de dados, permite Elipse - substantivo feminino
solucionar classes semelhantes de problemas (p.ex.: 1. Rubrica: geometria.
algoritmo para a extração de uma raiz cúbica) Lugar geométrico dos pontos de um plano, cujas
2.1 processo de cálculo; encadeamento das ações distâncias a dois pontos fixos desse plano têm soma
necessárias ao cumprimento de uma tarefa; processo constante; interseção de um cone circular reto e um
efetivo, que produz uma solução para um problema plano que corta todas as suas geratrizes.
num número finito de etapas 2. Rubrica: gramática, linguística.
Ex.: o a. que permite obter o seno de x com uma certa Em um enunciado, supressão de um termo que pode
precisão ser facilmente subentendido pelo contexto linguístico
3. Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: gramáti- ou pela situação (p.ex.: meu livro não está aqui, [ele]
ca generativa, matemática. sumiu!)
mecanismo que utiliza representações análogas para Obs.: cf. zeugma
resolver problemas ou atingir um fim, noutros campos
do raciocínio e da lógica Encapsulamento - esta é uma função própria particular-
Ex.: pode-se considerar a gramática como um a., na mente das nominalizações que, conforme abordado, su-
construção das frases marizam as informações contidas em segmentos preceden-
4. Rubrica: informática. tes de texto (informações – suporte), encapsulando-as sob a
conjunto das regras e procedimentos lógicos perfeita- forma de uma expressão nominal, isto é, transformando-as
mente definidos que levam à solução de um problema em objetos-de-discurso.
em um número finito de etapas.
Etimologia - do antr. ár. al-Khuwarizmi (matemático ár. do
Bits - medida de informação que corresponde a uma res- sIX) formou-se o ár. al-Khuwarizmi ‘numeração decimal em
posta sim ou não, ou ao sinal aceso ou apagado, ou em arábicos’ que passou ao lat. medieval algorismus com infl.
informática, ao 1 ou ao zero. do gr. arithmós ‘número’; ver algarismo; f.hist. 1871 algo-
rithmo.
Coordenação - substantivo feminino
1. ato ou efeito de coordenar(-se) Interação - substantivo feminino
2. ato de conjugar, concatenar um conjunto de elemen- 1. influência mútua de órgãos ou organismos inter-rela-
tos, de atividades etc. cionados
Ex.: a c. entre os diversos setores de uma empresa Ex.: <i. do coração e dos pulmões> <i. do indivíduo
3. estado daquilo que está coordenado com a sociedade a que pertence>
Ex.: esforços infrutíferos por falta de c. 2. ação recíproca de dois ou mais corpos
4. gerência de determinado projeto, setor etc. 3. atividade ou trabalho compartilhado, em que existem
5. atividade do sistema nervoso central que regula o sin- trocas e influências recíprocas
cronismo da contração e do relaxamento muscular 4. comunicação entre pessoas que convivem; diálogo,
nos movimentos complexos trato, contato
6. Rubrica: gramática. 5. intervenção e controle, feitos pelo usuário, do curso
processo ou construção em que unidades linguísti- das atividades num programa de computador, num
cas (palavras, sintagmas, frases, períodos) de função CD-ROM etc.
equivalente são ligadas numa sequência; os termos 6. Rubrica: estatística.
coordenados podem ser justapostos e, na escrita, se- medida de quanto o efeito de uma certa variável so-
parados por vírgula (p.ex.: sala ampla, confortável) ou bre outra é determinado pelos valores de uma ou mais
ligados por conjunção coordenativa (p. ex.: sala am- variáveis diferentes [Este fenômeno faz com que a res-
pla e confortável) posta à aplicação de dois tratamentos não seja a mera
7. Rubrica: linguística estrutural. soma das respostas a cada tratamento.]
relação entre os componentes de uma construção en- 7. Rubrica: física.
docêntrica que apresentam as mesmas propriedades qualquer processo em que o estado de uma partícula
sintáticas; assim, na frase o rapaz e a moça chegaram, sofre alteração por efeito da ação de outra partícula
tem-se um sintagma nominal endocêntrico por coor- ou de um campo
denação, uma vez que seus componentes, o rapaz, 8. Rubrica: sociologia.
a moça, podem aparecer separadamente no mesmo conjunto das ações e relações entre os membros de
tipo de construção. um grupo ou entre grupos de uma comunidade

Dialogismo - substantivo masculino Lógica - substantivo feminino


1. arte de dialogar 1. Rubrica: filosofia.
2. Rubrica: estilística, retórica. Diacronismo: antigo. Parte da filosofia que trata das formas do pensamento
Fascículo 4 97

em geral (dedução, indução, hipótese, inferência etc.) GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São
e das operações intelectuais que visam à determina-
ção do que é verdadeiro ou não
Paulo: Martins Fontes, 1994.
2. Derivação: por metonímia.
Tratado, compêndio de lógica KOCH, I.;TRAVAGLIA, L.C. Texto e coerência. 4
3. Derivação: por metonímia. ed. São Paulo: Cortez, 1995.
Qualquer exemplar de um desses tratados
4. Derivação: por extensão de sentido (da acp. 1). KOCH, I.V.; ELIAS, V.M. Ler e Compreender os
Maneira rigorosa de raciocinar Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto, 2006.
Ex.: l. implacável
5. Derivação: por extensão de sentido. MEURER, J. L. & MOTTA-ROTH, Desiree. Gê-
Forma por meio da qual costuma raciocinar uma pes-
soa ou um grupo de pessoas ligadas por um fato de
neros Textuais e Práticas Discursivas. São Paulo:
ordem social, psíquica, geográfica etc. Edusc, 2000.
Ex.: <a l. da criança> <a l. do louco> <a l. do por-
tuguês> MOLES, Abraham. Teoria da Informação e da
6. Derivação: por extensão de sentido. Percepção Estética. Rio de Janeiro, Tempo Bra-
Maneira por que necessariamente se encadeiam os sileiro, 1974.
acontecimentos, as coisas ou os elementos de
natureza efetiva. ORLANDI, E. Discurso e leitura. Campinas:
Ex.: <a l. desse mundo> <a l. das paixões> Unicamp, 1993.
7. Coerência, fundamento
Ex.: falta de l.
7.1 Derivação: por extensão de sentido. SAMPSON. G. Sistemas de escrita: tipologia,
Encadeamento coerente de alguma coisa que obedece história e psicologia. São Paulo: Ática, 1996.
a certas convenções ou regras
Ex.: <a l. do discurso musical> <a l. do contra- SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São
ponto> Paulo: Ática, 1993.
8. Rubrica: informática.
Organização e planejamento das instruções, asserti- WALTHER-BENSE, Elisabeth. Teoria Geral dos
vas etc. em um algoritmo, a fim de viabilizar a implan- Signos. São Paulo: Perspectiva, 2000.
tação de um programa

Semântica - substantivo feminino


1. Rubrica: linguística.
Ramo da linguística que se ocupa do estudo da signi-
ficação como parte dos sistemas das línguas naturais;
pode ser abordado sincrônica ou diacronicamente.
2. Rubrica: linguística.
Num sistema linguístico, o componente do sentido
das palavras e da interpretação das sentenças e dos
enunciados.
3. Rubrica: linguística.
O significado das palavras, por oposição à sua forma.
4. Rubrica: filosofia, lógica.
Teoria abstrata da significação ou da relação entre os
signos e seus referentes (em oposição à sintaxe e à
pragmática), constituindo com estas uma semiótica.
5. Rubrica: filologia.
Ciência que estuda a evolução do significado das
palavras e de outros símbolos que servem à comuni-
cação humana; semiologia.

Referências

EPSTEIN, Isaac. Teoria da Informação. São Pau-


lo, Ática, 2000.

FREIRE, P. A importância do ato de ler. São Pau-


lo: Cortez, 1997.

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